31.8.10

Rio Ave - Porto: Análise e números

ver comentários...
Sem descarrilar. O Porto segue o seu caminho dentro dos mesmos eixos, mantendo a sua orientação em bases tão objectivas quanto possível. Não troca o controlo por uma ambição mais dominadora, e privilegia a precaução nos riscos assumidos enquanto espera pacientemente pelo seu momento ofensivo. Afinal, a diferença individual é sempre suficiente para acreditar que, em 90 minutos, haverá pelo menos 1 lance em que essa diferença possa ser espelhada. Para o nível do campeonato pode perfeitamente chegar, mas não podemos ser hipócritas ao ponto de dizer que o Porto deste ano “está melhor”. Pelo menos para já, não está. Continuo à espera desse indicador que marque a diferença em relação ao passado recente e pode até ser que ele chegue na situação em que falta testar a equipa: o teste de “stress”.

Notas colectivas
Carlos Brito queixou-se da sua equipa e tem razões para isso. O Rio Ave permitiu demasiada liberdade à construção portista durante boa parte do primeiro tempo. Deu-lhe tempo e espaço para pensar e isso começou por condicionar as aspirações do Rio Ave no jogo. A facilidade com que Fernando se tornou no elemento mais influente do jogo é o espelho dessa imprudência.

Ainda assim, nunca o Porto encurralou o Rio Ave e nunca teve um período em que conseguisse grande ascendente junto da baliza contrária. O jogo acabou por se decidir naquilo em que, pelo menos para já, o Porto de Villas Boas parece apostar tudo: na concentração e no talento individual. Foi assim no primeiro golo, em que a bola podia ter sido aliviada e acabou perdida na lateral da área. E foi assim também no segundo, em que uma perda de bola se transformou num ataque rápido e bem conduzido pelos jogadores portistas. Fora isso, e em boa verdade, poucos mais motivos houve para justificar a vantagem portista. Mas também não era preciso.

Para já – e repito a ideia – este Porto sabe o que quer dos jogos e esse é o seu grande mérito. Mas, para já também, não é uma equipa que mereça grandes elogios. A importância da componente individual é enorme e talvez seja aí onde o trabalho de Villas Boas mais deva ser destacado. No rendimento que tem tirado de unidades fundamentais como Hulk e Belluschi. É verdade que com esse “poder de fogo” o que existe pode chegar para o objectivo interno, mas também é verdade que não se vê uma equipa particularmente entusiasmante em nenhum aspecto. Sem bola, prefere isolar Falcao e fazer dele o “leme” do pressing, em vez de arriscar mais em termos de agressividade sobre a saída de bola contrária. Em organização, há uma boa circulação, mas nada que mereça, para já, particular adjectivação.

Este Porto está a ganhar e pode até continuar a fazê-lo, mas, pessoalmente, continuo à espera de mais...

Notas individuais
Começo por Falcao. Na verdade este seria um assunto mais próprio para a análise colectiva porque o “apagão” da Falcao tem muito mais a ver com o isolamento a que é sujeito, do que com a uma responsabilidade do próprio. Sem bola, tem uma missão importante, que é de orientar o pressing, mas a sua agressividade não serve de muito em organização defensiva porque está demasiado isolado para poder ambicionar recuperações. Talvez seja um desperdício mas é, ainda assim, uma opção colectiva legítima. A maior critica que tenho a fazer – e outra vez! – é para o pouco uso do jogador nas acções ofensivas. Falcao não serve de referência para as primeiras bolas e é pouco solicitado em apoios frontais. A sua função é esperar pelo momento da finalização que, como foi o caso do jogo dos “Arcos”, pode nem chegar. É pena porque é um grande jogador e um jogador para muito mais do que isto.

Depois Belluschi. Está visto que Belluschi é muito mais do que um criativo. A sua capacidade de trabalho nunca foi elogiada, mas uma análise rigorosa e contínua dos jogos mostra-nos que é neste aspecto um dos elementos mais valiosos da equipa. Espantoso! Assim fica fácil ser sempre um dos melhores. Como já disse, arriscar-se seriamente a ser uma das grandes figuras da liga. Só lhe falta trabalhar um pouco o critério de passe em determinadas situações, porque de resto está um jogador enorme.

Quero também abordar o caso de Moutinho. Um pouco ao contrário de Belluschi, tem sido com alguma desilusão que tenho assistido às suas primeiras exibições. Não tenho uma análise comparativa com os seus tempos de Sporting, mas para já Moutinho é um jogador útil e certo, mas... apenas isso. Não desequilibra e sobretudo não tem uma grande participação em termos de eficácia no trabalho colectivo. Não dá para dizer que está a jogar mal – nunca dá! – mas esperava mais dele em termos de influência.



Ler tudo»

ler tudo >>

A confiança do leão e o sinal de Hleb

ver comentários...
- Nunca vi uma boa equipa sem confiança, escrevi-o há dias. A importância do factor psicológico espelha-se bem naquilo que o Sporting fez na Figueira. Sem me antecipar à análise do jogo e não entrando em qualquer juízo qualitativo, tenho de constatar que pela primeira vez o Sporting construiu uma vitória mantendo um controlo contínuo da partida. Agora, faça-se um exercício teórico... E se o jogo da Mata Real tivesse corrido bem, e hoje esta mesma equipa tivesse 9 pontos? Seria unanimemente reconhecido como um forte candidato, isso é certo. Quanto às suas possibilidades reais de chegar ao título, com mais ou menos 3 pontos, não seriam muito diferentes das que tem hoje. É que o problema presente do Sporting 10/11 não se esgota em estados de alma, mesmo sendo estes relevantes.

- Entretanto, Hleb fugiu. Por cá continuamos a achar estranho que jogadores troquem o nosso meio da tabela pelo topo de ligas cipriotas e, ao mesmo tempo, que outros, noutro patamar, prefiram o meio da tabela de ligas mais fortes ao nosso topo. Mais do que uma contradição, é um estado de negação. Prefere-se pensar que todos os que não nos escolhem, cometem um erro. Será? Obviamente que não. A verdade é que enquanto nos entretemos com as nossas peripécias internas, estamos a perder terreno no panorama global do futebol europeu. Todos.

ler tudo >>

30.8.10

Benfica - Setubal: Análise e números

ver comentários...
O jogo ficou marcado por um momento. O penalti e expulsão podiam ter lançado a partida para bases inesperadas e, mesmo depois da defesa de Roberto, essa era uma hipótese plausível. O curioso, porém, é que esse climax emocional acabou, afinal, por condicionar a emotividade do que se viu a seguir. Talvez o Setúbal tenha sido apanhado de surpresa pelo novo paradigma que o jogo lhe propôs. Estaria à espera de ter muito espaço e pouca bola e não o contrário. O mais interessante, porém, foi a reacção do Benfica. De repente deixou de ser uma equipa impulsiva para se tornar mais racional. Controlou os espaços, aplicou a sua agressividade em zonas mais baixas e deu mais valor à bola e menos à explosão. Com um pouco de eficácia, o jogo tornou-se um passeio.

Notas colectivas
Pessoalmente, sou um apreciador da mentalidade subjacente ao modelo de Jesus. Tem uma obsessão pela bola, mas não pelos motivos habitualmente evocados. Ou seja, mais do que ter muito tempo a bola, quer tê-la muitas vezes. Podem parecer conceitos semelhantes, mas têm uma diferença enorme. Ter muito tempo a bola pressupõe a conservação da mesma e, por consequência, assume um risco menor enquanto em posse. Ter mais vezes a bola, pelo contrário, não pressupõe qualquer aversão ao risco. Pelo contrário, a iniciativa ofensiva é o complemento perfeito para quem se propõe a ser rápido e eficaz no momento da perda. É esta a mentalidade do modelo de Jesus.

O único problema, como sempre, é que no futebol não há modelos perfeitos. Tudo depende das circunstâncias e condicionantes para a sua aplicabilidade. No caso concreto, ao Benfica faltar-lhe-á a maturidade para perceber melhor quando deve, ou não, dar prioridade ao risco. É um “senão” que não é novo e que já havia apontado ao Braga do mesmo Jesus.

Ora bem, o que foi mais interessante na recepção ao Setúbal foi, precisamente, ver o Benfica mudar de paradigma. Começou por assumir, de novo, o seu estilo habitual. Aquele que lhe valeu tantos frutos e elogios no passado, mas que lhe vinha também falhando num período onde o défice de confiança não combinava bem com a atitude arrojada da equipa. Depois da expulsão, porém, passou a pensar de outra forma. Teve menos bola, fez menos passes, mas também acumulou muito menos perdas do que nos jogos anteriores. E esse dado – o das perdas – era aquele que melhor reflectia os problemas da equipa no passado recente.

Os treinadores são homens de guerra, treinados para ter certezas e não para duvidar ou filosofar sobre as suas ideias. Talvez um dia venha a falar um pouco mais disto, mas para já o ponto que quero vincar é que não é provável que Jesus tire para si grandes ilações desta alteração de mentalidade a que a equipa foi forçada. E é pena.

Notas individuais
Posso começar por bater na mesma tecla. Se o Benfica tem estado melhor nos últimos 2 jogos, muito se deve ao crescimento das suas unidades mais influentes. Em particular, Pablo Aimar. Já longamente abordei a importância da posição 10 no modelo encarnado e a diferença que faz um “bom” ou “mau” Aimar. Não espanta, portanto, que haja uma correlação evidente entre a prestação do 10 e da própria equipa.

Outro caso interessante é Gaitan. Obviamente que as suas assistências o tornam num destaque trivial da partida, mas a sua prestação não foi uniforme ao longo do jogo e teve, precisamente, um ponto de inflexão com a mudança de atitude da equipa. Sem a pressão de explodir e verticalizar tornou-se mais assertivo e estável no jogo. Já o tinha escrito e volto a fazê-lo: Gaitan precisa de crescer em termos de confiança para poder ser tão desequilibrador quanto dele se espera. Para isso, convém que se faça um processo de exigência contínuo e gradual e não radical e repentino. Ou seja, pedindo-lhe primeiro que dê segurança e continuidade às suas iniciativas e só depois, com o tempo, que vá experimentando o risco e a explosão que tem para oferecer. Neste sentido, a expulsão foi-lhe muito útil. Já agora, parece que esta semana já não é um jogador de espaços interiores. É sempre bom deixar de ouvir disparates.

Para terminar, falar de 2 outros nomes. Primeiro Coentrão para realçar como ele perde preponderância quando o jogo se torna mais pensado e menos veloz. E isto não é uma critica ou um defeito, apenas uma constatação de uma característica. Depois Cardozo, que fez o seu melhor jogo oficial da época. Não apenas pelo golo, mas porque participou um pouco mais e um pouco melhor. Só um pouco, é certo, mas bem mais próximo daquilo que é minimamente exigível...



Ler tudo»

ler tudo >>

Porto, Braga, Selecção, Mourinho e o pinheiro

ver comentários...
- Braga e Porto parecem apostar, mais ou menos, na mesma fórmula. Ou seja, primeiro vem a razão, depois a emoção e, só por último, a criatividade. Fazem bem. Diz-nos a História que a maioria dos campeões se construíram com esses alicerces. Não todos, mas a maioria. Entre Porto e Braga, a diferença - a principal, porque há obviamente mais - é o potencial individual. Belluschi, já tínhamos percebido, e Falcao era um dado adquirido. Os 2 juntos, porém, serão desprezáveis se se confirmar a "explosão" de Hulk. Há muito tempo que se sabe que é uma "bomba" muito para além das capacidades de resistência deste campeonato. A dúvida é - e sempre foi - se algum dia irá explodir...

- Fosse o futebol uma prioridade dentro da Selecção e poderia questionar-me sobre os motivos que levariam alguém a deixar de fora João Pereira e Quaresma de uma convocatória nesta altura. Ou, noutro exemplo diferente, a incluir Meireles. Como não é, parece-me tudo normal...

- Mourinho já gastou a primeira "vida". Não sei quantas tem, mas sei que não serão muitas até ser "assassinado" nas primeiras páginas dos diários de Madrid. De resto, só um louco pode achar que a conquista do campeonato passa primariamente por uma melhoria do próprio Real. Se o Barcelona mantiver o andamento anterior, tanto faz ser Mourinho, Pellegrini ou outro qualquer...

- Ia também comentar o "pinheiro" de Paulo Sérgio, mas não sei bem o que dizer...

ler tudo >>

29.8.10

Roberto, Toscano e Capoue

ver comentários...
- Se o futebol tivesse prémios cinematográficos, o jogo da Luz entrava já para os nomeados de 'melhor argumento original'. As consequências? Para já, os primeiros 3 pontos. Para mais tarde, veremos. Ou a reabilitação de um caso quase perdido, ou uma injecção de confiança em quem está destinado a quebrá-la de novo. Não posso afirmar convictamente porque, como já disse, não o conhecia o suficiente, mas diz-me a memória que a segunda hipótese é a mais provável.

- 2 horas antes, a primeira vitória de Manuel Machado no Guimarães. Primeira e fundamental, porque se Vingada viu o seu destino traçado há 1 ano no mesmo local, desta vez, a tendência podia acentuar-se na mesma direcção para Machado. E não esteve assim tão longe. Mas o que quero destacar, realmente, é Toscano e o seu hat-trick. Já escrevi várias vezes que o nível da segunda divisão do Brasil é superior à generalidade das equipas da nossa liga principal. Bem superior. Poucos acharão a afirmação plausível, mas Toscano é um bom exemplo desta realidade. Não é barato, mas também não era dos melhores que por lá se encontram. Há mais e mais baratos. Um pouco de visão e arrojo e pode-se conseguir excelentes mais valias para o nível que temos.

- Entretanto, em Barcelona confirmam-se modificações. Sobre Ibrahimovic, parece-me claro que é um divórcio potencialmente bom para as duas partes. Como cedo se percebeu, ambos ficaram a perder com a troca do último Verão. Mas é Mascherano que quero comentar. Ou melhor, não Mascherano, mas o seu lugar e outro nome ventilado, mas que, para meu desencanto, não se concretizou. Chama-se Capoue, fascinou-me no ano anterior e, por isso, destaquei-o no 'Talented Football'. Hoje, fez isto.

ler tudo >>

28.8.10

Breves do mercado e da Supertaça Europeia

ver comentários...
- A última Sexta Feira do mês de Agosto, cumpriu com a expectativa e trouxe várias novidades no mercado. O sinal dominante? A perda de vitalidade do próprio mercado. Tonel na Croácia(!!), depois de há pouco tempo ter sido cobiçado pelo Rangers. Meireles no Liverpool por "apenas" 13 milhões. Entre Porto e Sporting, um dado comum: ambos terão baixado significativamente as fasquias para colocar os jogadores. O Porto, provavelmente, porque este era o momento único para o encaixe. O Sporting porque precisava de "salvar" o orçamento salarial (não se iludam pelo "custo zero", entre Pongolle, Tonel e Stojkovic, o Sporting deixa de pagar alguns milhões de euros este ano).

- Como complemento do que escrevi antes, acrescento que nunca percebi bem - ou melhor, perceber, até percebo - como tantos jogadores valem tanto dinheiro. Numa perspectiva de mercado, de oferta e procura, não faz, nem nunca fez, sentido. Talvez estejamos apenas no inicio de uma mudança significativa. Talvez... mas só se tiver mesmo de ser, porque haverá muitas - mas mesmo muitas! - resistências a uma mudança de cultura de investimento. Já agora, uma pergunta para quem souber encontrar uma boa lógica: que sentido faz um jogador mediano valer mais que um bom treinador?!

- Noutro âmbito, Quique voltou a vencer na Europa. Terá sido mesmo uma surpresa? Se foi, foi muito pequena. Já agora, qual é a diferença significativa, tacticamente, entre Quique e Benitez? Ou Juande Ramos? Ou Valverde? Parecem todos cópias uns dos outros. Espero para ver, mas suspeito que o 4-4-2 clássico de Benitez vai ser muito bem recebido em terras italianas...

ler tudo >>

27.8.10

Breves da Dinamarca e de Hleb

ver comentários...
- Recuperar 3 golos numa deslocação é fantástico, mas... quem se entusiasmaria com este cenário à partida para uma eliminatória onde o Sporting era claramente favorito? Apenas uma curiosidade sobre a forma como as coisas podem ser relativas e como, de repente, uma obrigação se pode transformar num feito - que o foi, de facto.

- Não há boas equipas sem confiança, tenho-o escrito, e nesse aspecto as vitórias poderão fazer bem ao Sporting de Paulo Sérgio. O Sporting - este Sporting - porém, dificilmente se soltará muito deste estado de instabilidade emocional. Poderá recuperar algumas coisas boas que já teve, mas nunca será forte suficiente para ganhar de forma consistente se não corrigir os problemas crónicos que o seu futebol continua a denunciar. Aliás, o jogo da Dinamarca foi apenas o outro lado da moeda daquele que viramos em Alvalade. Ou seja, tendo qualidade individual e atitude, este Sporting pode sempre aspirar a um bom dia. Ao mesmo tempo, porém, pode perder qualquer jogo em segundos. E esse é o problema.

- Não é pelo golo, mas posso aproveitar a ocasião. Há muito que venho confessando estranheza pelo percurso de Nuno André Coelho e pela escassez de oportunidades perante tamanho potencial. Cada vez que o vejo reforço essa ideia, mesmo nesta defesa tão exposta e descoordenada. Gostava de o ver noutro tipo de organização, mais protegido pelo colectivo, porque creio que rapidamente se tornará num grande central do futebol português. Esperemos que o destino seja mais gentil com ele do que aquilo que tem sido...

- Entretanto, tudo indica que Hleb virá para a Luz. Sobre a contratação, e em termos técnicos, é mais um fantástico reforço para Jesus. O lado individual, parece-me, nunca será a melhor forma de ver o problema, mas será seguramente a mais fácil. Pode ser que resulte...

ler tudo >>

26.8.10

Domingos é "special"!

ver comentários...
Confesso que comecei por desconfiar dele. Quando chegou a Leiria, para suceder a Jesus, empregou um discurso que me pareceu algo utópico, sobretudo para quem ia para um clube com tão bons resultados sob a anterior orientação. Reconheço que hoje não pensaria da mesma maneira, porque também vejo muitas coisas de forma diferente. Domingos foi dando provas e os seus resultados nunca deixaram margem para suspeita em nenhum clube. Para mais, o seu futebol teve sempre uma qualidade apreciável, que combinava bem com o sucesso que ia conseguindo. Tubo bem. Domingos era um caso claramente a acompanhar e há ano aplaudi sem hesitações a escolha do Braga em recrutá-lo para substituir o “case study” Jorge Jesus. A partir daqui é que as coisas se começam a complicar.

Esperava o sucesso de Domingos em Braga, mas um sucesso ao nível das possibilidades do clube. 4º lugar, mesmo 3º, mas nunca aquele 2º, com aquela pontuação. A explicação da herança de Jesus sempre foi para mim um enorme sofisma, porque na diferença de modelos residia, precisamente, o motivo pelo qual Domingos, apesar de agradar, nunca me ter deslumbrado.

Modelo de jogo, bom mas não é por aí
Para avaliar um treinador utilizo sobretudo 1 vertente de análise. A qualidade do seu modelo de jogo. Com algum esforço e dedicação, isto é-me suficiente para antecipar com razoável clareza casos de sucesso emergentes. Foi assim que – e permitam-me que puxe agora um pouco dos “galões” – escrevi que o modelo de Jesus era um caso sério e com grandes possibilidades de “explodir” num “grande”, com a época de 08/09 ainda a meio, ou que, mais recentemente, antevi a ascensão meteórica de Villas Boas quando apenas tinha realizado 2 jogos na liga. Foi através desta “métrica”, também, que evitei destacar da mesma forma quaisquer outro treinador para além destes 2. Domingos incluído.

O seu modelo parece-me lúcido, sóbrio e bem trabalhado em todos os momentos, mas não me deslumbra. Não tem a agressividade e intensidade do que vira em Jesus, nem o perfume do de Villas Boas. Para mais – e sei que isto contradiz muito do que defendo – não sou apreciador do “duplo pivot”, o que também não ajuda à minha percepção. O ponto é que lhe vi sempre sustentar o carácter excepcional do sucesso – aquele que vai para além do expectável – numa eficácia para além dos níveis normais. Ora, se esse pode ser um acidente aceitável, começa a deixar de o ser quando certas tendências se prolongam no tempo. E é aí que, para um empírico como eu, o nariz começa a torcer significativamente.


O lado psicológico e “caso” das derrotas caseiras
Voltemos ao caso de Jesus. Depois de o seu sucesso se ter confirmado no ano passado, houve outra coisa que me chamou a atenção. A debilidade psicológica das suas equipas. Se o treinador era o mesmo, porque teriam as suas equipas tido um sucesso objectivamente inferior à qualidade do seu jogo? Na altura, e ainda a meio do ano, escrevi que algo de errado havia com as equipas de Jesus, que tinham sempre melhores diferenças de golos do que adversários melhores classificados e que o Benfica, apesar de dificilmente poder deixar de ser campeão tal a diferença de qualidade, também poderia não ter um aproveitamento totalmente de acordo com o seu futebol. E assim foi, pelo menos na minha visão.

Há dias voltei a este dilema e não sei bem como fui dar com um dado avassalador na carreira de Domingos. Não sei se isto já foi dissecado – há muito que não leio jornais – mas é espantoso o número de derrotas caseiras da sua carreira. Ao fim de 57 jogos em casa, e maioritariamente em equipas modestas, Domingos perdeu apenas por 5 vezes.

Escusado será lembrar quem também partilha de um registo incrível neste dado: José Mourinho, o paradigma do efeito psicológico que um treinador pode ter nas suas equipas. Mourinho tem várias qualidades, mas é esta – a do lado mental – que o torna “especial” e que o faz ganhar mais que os outros.

Mas quão fantástico e invulgar é o feito de Domingos? Bem, por comparação com os “grandes” não é nada de extraordinário. O problema é que Domingos treinou no Leiria, Académica e Braga. Podemos compará-lo com a expectativa das casas de apostas e temos o espantoso feito de ter perdido apenas 25% das vezes que estavam nas “contas” dos especialistas. Ou então, talvez mais interessante ainda, é comparar os trajectos de Domingos e Jesus antes deste ter chegado ao Benfica. São 4 épocas em que têm em comum a primeira e última, tendo Jesus a vantagem teórica de ter treinado o Belenenses enquanto Domingos passou por uma Académica mais modesta em recursos. O resultado é, de novo, assustador! Domingos perdeu apenas 5 enquanto que Jesus – um treinador de sucesso e com a qualidade que se sabe – perdeu 18 vezes. Aliás, se contarmos as derrotas caseiras nas épocas anteriores à chegada de Domingos a cada um dos clubes que treinou, temos, e em apenas 3 épocas, a soma de 19 derrotas caseiras (o treinador da Académica era Manuel Machado).

Nada disto pode ser considerado normal. Calculando, e mesmo assumindo alguma margem de erro no exercício, a probabilidade de Domingos ter perdido menos de 6 jogos no trajecto que realizou não chega sequer perto de 1%! É uma espécie de totobola, portanto!


Domingos é “special”!
Por tudo isto, tenho hoje a convicção de que Domingos foi um erro de casting meu, porque não lhe reconheci tanto potencial como agora assumo que possa ter, e de muitos clubes, por ainda estar em Braga.
Claro que, como expliquei, grande parte deste potencial surge por um factor que reconheço mas não compreendo totalmente e, por isso, tenho de assumir também alguma dose de incerteza na avaliação do impacto psicológico que tem nas suas equipas. O futuro confirmará, ou não, esta projecção mas, ao dia de hoje, há dados que me indicam que Domingos possa ter aquela estrelinha misteriosa e rara, mas que todos constatamos existir.

Já agora, também, e numa altura em que todos se desdobram em elogios a tudo o que está ou esteve em Braga, faço a projecção de que no dia em que Domingos sair, o Braga não cai, mas desce um degrau para o patamar onde esteve nos últimos anos. Infelizmente, acrescento.



Ler tudo»

ler tudo >>

25.8.10

Porto - Beira Mar: Análise e números

ver comentários...
O resultado e o momento convidam a outro estado de espírito, mas julgo que não há ainda grandes motivos para euforias no Dragão. Isto porque, apesar das vitórias e da vantagem comparativa em relação aos adversários, o futebol do Porto está ainda longe de dar sinais de grande fulgor. Escrevi-o no fim de semana: mais do que tudo, o que existe são boas condições para evoluir e chegar a um patamar qualitativo mais elevado. Mas esse patamar ainda não foi atingido. De resto, um olhar mais frio para a recepção ao Beira Mar indica precisamente isso. Houve prudência, maturidade e inteligência. Mas ajuda muito marcar 2 golos nas únicas oportunidades que se constrói em 45 minutos.

Notas colectivas
Realmente, acabou por ser um jogo desinteressante do ponto de vista da análise. O Porto não teve uma grande entrada, não conseguiu desmontar facilmente a estratégia aveirense, mas teve a eficácia para chegar à vantagem nas raras oportunidades que teve. Depois, o próprio Beira Mar arriscou sempre pouco, permitiu uma circulação baixa e paciente antes de, nos últimos 15 minutos, perder níveis de organização e concentração que culminaram, aí sim, num grande número de desequilíbrios no seu último terço. Ou seja, não deu para ver um grande Porto em termos ofensivos, mas também não deu para testar a sua capacidade de o ter de ser sobre pressão.

O que dá para ver – e isto marca um pouco a diferença para os outros 2 grandes nesta altura – é que o Porto é uma equipa sóbria, que sabe bem o que não deve fazer e os riscos que não deve correr. Ora isto pode não garantir grande coisa em termos de arrojo ofensivo, mas garante, pelo menos, que a equipa sabe bem o que quer de cada jogo: ganhar, isto é.

A organização continua a centrar-se num 4-3-3 que é bem mais um 4-1-4-1 quando a equipa não tem a bola. Falcao é o leme do pressing que espera densamente na linha média por uma oportunidade para atacar. Não se viram muitas transições resultantes de recuperações altas, é certo, mas o Beira Mar também nunca facilitou. Depois, com bola, paciência, certeza e busca pelas combinações nos flancos.

Na verdade, é neste momento – de organização ofensiva – onde a equipa está mais fraca em relação ao passado. As combinações não são tão fluídas, o que pode ser normal em Agosto, e continuo a achar que há um défice de aproveitamento de Falcao e do apoio frontal. Voltou a ser pouco participativo na criação e penso que tem potencial para uma utilidade bem maior.

Enfim, enquanto se esperam mais entusiasmos dá pelo menos para dizer que todos gostariam de trocar de papel com os adeptos portistas neste momento. E esse é sempre o melhor indicador.

Notas individuais
Em termos de destaques, as conclusões são bastante triviais. Falcao não esteve muito participativo, mas esteve em 5 dos 7 desequilíbrios da equipa, marcando 2 golos. Álvaro Pereira teve uma participação enorme (que contraste com o lateral direito!) e acrescentou a isso uma influência positiva em termos ofensivos. Depois, Belluschi que foi decisivo, voltou a mostrar a sua apetência para recuperar e ser participativo mas voltou também a ser displicente em muitas ocasiões. Um aspecto que já abordei no passado e que tem a ver com a forma como foi “educado” a decidir.

Mas a nota que talvez mais interesse, é Souza. Entrou cedo e entrou muito bem. Um jogador discreto mas bastante participativo e útil. Não me parece que garanta ainda o mesmo nível de rendimento de Fernando na posição 6, especialmente na recuperação, mas talvez o possa vir a conseguir com o tempo. Vi-o jogar poucas vezes no Brasil, mas nunca nessa posição, por isso talvez seja preciso dar-lhe tempo de adaptação. Para já, porém, revela uma performance muito superior a muitos casos falhados no passado recente e no mesmo sector.

Outro apontamento para Ruben Micael. Obviamente que a altura em que entrou o beneficiou, mas voltou a mostrar como pode ser um jogador fantástico em determinados aspectos. Sempre com uma visão muito objectiva e abrangente do jogo, reflectida nos seus movimentos sem bola e na facilidade com que encontra a melhor opção. Esperemos que possa evoluir também fisicamente ao longo da época.



Ler tudo»

ler tudo >>

Braga, Domingos e a inteligência emocional de um feito!

ver comentários...
- Réplica sim, esperava-se, mas... não isto! O Braga superou todas as expectativas minimamente razoáveis, mesmo considerando a habitual dádiva da sobranceria do adversário, quando este vem de uma liga superior. O Sevilha esforçou-se por levar o jogo à loucura e demorou 60 minutos a consegui-lo. Infelizmente para os espanhóis, a personalidade do Braga fez com que a estratégia da loucura se virasse contra quem se a decidiu aplicar. A qualificação foi histórica, mas o jogo entra directamente para os mais épicos confrontos europeus de equipas portuguesas.

- A ocasião torna-o um lugar comum, mas não vou resistir a um elogio a Domingos. Não vou falar do seu modelo de jogo - que não considero particularmente especial - mas sim de uma capacidade menos palpável, nada mensurável, mas totalmente irrefutável para quem, como eu, prioriza o lado empírico na análise. Falo da capacidade emocional das equipas, um dom tão misterioso como valioso nos treinadores. Domingos, tudo o indica, tem-no e de uma forma avassaladora. Tanto, que vou voltar ao assunto em breve...

ler tudo >>

24.8.10

Sporting - Maritimo: Análise e números

ver comentários...
Equipas perfeitas, não há. É trivial. Agora, há-as boas e mesmo muito boas. Também todos o sabemos. O que eu não conheço é nenhuma equipa que se aproxime da excelência, fazendo-o de várias formas e feitios, consoante a oportunidade e disposição. Isto é, as equipas que conseguem atingir um patamar elevado em termos qualitativos, conseguem-no invariavelmente pela especialização no que fazem e não pela diversificação. Posso ir até um pouco mais longe, e afirmar que raros são os casos que conseguem este patamar de excelência, sem a repetição de um elenco base de jogadores que dê qualidade e consistência à interpretação das ideias do modelo.

Por tudo isto, e ao ver novo jogo do Sporting, é fácil para mim concluir que, mais do que a psicologia do momento, Paulo Sérgio tem à sua frente uma barreira filosófica que ameaça ser-lhe fatal. A sua abordagem de “tentativa e erro” acabará por expor todos os erros possíveis, minará a confiança para evoluir e o cimentar dos pontos fortes – alguns deles já desapareceram. Paulo Sérgio tem poucas semanas para perceber que o seu maior erro está na metodologia que escolhe para encontrar o sucesso. E isso parece-me muito difícil que aconteça em tempo útil.


Notas colectivas
É difícil falar muito sobre o colectivo, pelos motivos que expus anteriormente. É tudo muito volátil. Demasiado para justificar grandes motivos de reflexão. Já vi o Sporting fazer uma boa circulação, que dava prioridade à dinâmica e certeza de passe dos médios. Faltavam-lhe outras coisas, mas isso era bom. Hoje, continua a querer circular, a fazer muitos passes, mas já são os centrais os protagonistas. Sai uma circulação baixa, um passe vertical, mas não sai mais nada deste jogo de circulação. Sei que não é bonito dizer isto, mas o que produziu mais resultados no jogo foram alguns passes longos, a procurar diagonais nas costas, ou segundas bolas.

Depois o problema defensivo. Primeiro, o “pressing” continua a produzir pouco – no caso deste jogo, nada. Já vimos o Sporting a tentar pressionar alto, a não o fazer bem porque não juntava sectores e porque os jogadores alicerçavam prioritariamente a tarefa na agressividade e determinação e não na organização com que pressionavam. Hoje, já não é isso que vemos. A equipa tem mais medo de subir para pressionar e quando o faz, continua a não o fazer com grande organização. Com tudo isto, claro, transições a partir de recuperações altas, são zero. E isso, como já várias vezes tentei explicar, é meio caminho andado para se ter dificuldades em marcar frente a adversários mais conservadores.

Finalmente, a linha defensiva. Continua sem ser capaz de jogar alto com eficácia, não se percebendo se os jogadores sabem bem que referências utilizar em cada acção. É fácil contar o número de vezes que a linha defensiva se contradiz nos movimentos defensivos, com uns a subir e outros a descer. Agora, a salvação parece ser o posicionamento alto de Patrício. É preciso que aconteça, mas nunca será uma solução.

Notas individuais
Estava a ver o jogo e a pensar para mim que, há 1 ano e com esta equipa, Paulo Bento dificilmente teria abandonado o Sporting da forma como aconteceu. Aliás, provavelmente teria melhores condições do que nunca para tentar o título. É que a qualidade do plantel leonino subiu bastante desde há 1 ano. Bastam os laterais, onde há hoje uma grande qualidade, para a diferença ser enorme. Mas há mais. Maniche, André Santos e Pedro Mendes são garantias de uma qualidade e certeza no passe como não existia antes (sim, incluindo aqui Veloso e Moutinho). Nos centrais – e pode parecer um paradoxo para quem vê estas coisas a “olho nú” – há uma qualidade fantástica nos recursos ao dispor. São os jogadores mais expostos em todo jogo, quer com bola, quer sem ela, não há uma movimentação defensiva coordenada e eficaz e, mesmo assim, eles erram muito pouco para aquilo a que são submetidos. Nuno André Coelho, por exemplo, fez um jogo fantástico frente ao Marítimo. Torsiglieri não tem 1 minuto, tem muito valor – digo-o, porque o conheço – e não posso sequer afirmar que seja injusto.

Ou seja, mesmo preferindo outras abordagens em termos de modelo em relação a Paulo Bento, o que o Sporting perdeu em relação a um passado recente em que lutava claramente pelo título e jogava noutras frentes, foi qualidade e consistência naquilo que é transmitido por quem lidera o processo. Mas isso também não é novidade, sempre afirmei que dificilmente o Sporting encontraria melhor do que Paulo Bento quando este abandonasse.



Ler tudo»

ler tudo >>

Otamendi, Gourcuff e... mais um nulo

ver comentários...
- O Porto confirmou Otamendi. Otamendi? Não seria a minha escolha. Não podia ser mais diferente de Bruno Alves: baixo e rápido. É forte com bola, tem carácter, confiança, agressividade e agilidade. Porque não o escolhia? Porque é um risco. Otamendi é uma espécie de cavalo selvagem que precisa de ser "domado". Tem atributos fantásticos, mas falta-lhe pensar como um central e entender algumas prioridades da posição. Um risco, repito. Se for "domado", tornar-se-á rapidamente num dos ídolos das bancadas. Mas pode tornar-se também num problema, caso surjam os erros ou a questão da estatura. Esse dado - o da estatura - é, aliás, o grande factor limitador para o seu potencial de valorização a prazo. Entusiasma-me poder vê-lo, mas não o escolhia...

- Gourcuff no Lyon! Por esta não esperava. Esperava que saísse para fora do futebol francês, não que mudasse de ares internamente. Há dois indicadores importantes nesta transferência. O primeiro é o crescimento relativo dos franceses ao nível da capacidade de investimento - com o Lyon à cabeça. O segundo é que o mercado parece estar mesmo a quebrar. Será que a "bolha" vai mesmo rebentar? Para já, e porque acredito que Gourcuff é já um dos melhores criativos do futebol actual, ficarei à espera de o ver ao lado de Pjanic, outro dos meus favoritos para os anos vindouros. Que dupla!

- Por cá, outro nulo. Mais importante que a ausência de golos, é pobreza qualitativa de alguns jogos que assistimos. Este foi um deles. Aliás, bem podia ter acabado ao intervalo, porque 2ª parte foi mesmo muito má. No Guimarães já havia denunciado as dificuldades eminentes de Manuel Machado e confirma-se como o pior Vitória desde o regresso ao primeiro escalão. Como se não bastasse a ausência de soluções colectivas, há também um mar de equívocos e desperdícios individuais. Pelo menos é o que me parece. Para a semana, na Choupana, se perder, Machado já passa a ter o nó bem apertadinho na garganta. É que isto, quando é para baixo, vai mesmo muito rápido.

ler tudo >>

23.8.10

Nacional - Benfica: Análise, número e vídeo

ver comentários...
Começou por ser uma pequena chuva de Verão, mas agora já ninguém sabe bem que consequências terá esta tempestade na época encarnada. Na Madeira o Benfica tentou reagir, e esteve em vários parâmetros melhor do que frente a Académica – o que também não era difícil – mas acabou por sucumbir ao primeiro revés. Aliás, o que aconteceu a seguir ao primeiro golo, com uma quebra notória de rendimento e estabilidade emocional, pode ser perfeitamente encarado como um sinal da ameaça que representa esta herança de 6 pontos perdidos. A pressão. Se já identificara o problema psicológico como o busílis desta inesperada questão, pois bem, o melhor mesmo é Jesus esquecer as suas reflexões sobre tácticas e sistemas para se debruçar sobre o problema mental que a sua equipa tem pela frente. É que boas equipas, sem confiança... não conheço nenhuma!

Notas colectivas
Aquilo que marcou o pós-jogo foram os lances dos golos. Posso começar por aí. Sobre o segundo, não tenho nada a acrescentar ao óbvio, mas sobre o primeiro, há algum mistério. Mais do que discutir o peso da responsabilidade de cada um, é para mim relevante perguntar porque é que o Benfica defendeu homem a homem naquela situação? Posso estar enganado, mas não me lembro de alguma vez essa ter sido a opção. Aliás, poucos minutos depois há um livre idêntico e a zona foi de novo opção. Um mistério, portanto.

Os golos tiveram uma influência importante no jogo. Antes deles, nada fazia prever que fosse o Nacional a marcar e, depois deles, até podiam ter acontecido mais. Coisas normais no futebol, onde o golo é o centro do jogo e das emoções dos intervenientes. Sobretudo, para uma equipa num momento de baixa confiança.

Onde melhorou o Benfica? Bom, sobretudo na influência de Aimar e Saviola. Quer um, quer outro aproximaram-se bem mais daquilo que podem e devem render, e o Benfica subiu com eles. Tão simples quanto isto. Mais solícitos e bem mais assertivos do que frente a Porto e Académica. Se o Benfica pensa numa recuperação a sério, esta terá de passar por uma subida destes 2. Isso parece-me estar mais do que visto.

Mas, se a equipa esteve melhor e mais dinâmica com bola, não teve uma grande capacidade noutras áreas do jogo, onde poderia ter ganho maior domínio. O seu pressing voltou a não ter o impacto que tantas vezes se lhe pede e o Benfica teve dificuldades em provocar perdas ao adversário para encontrar momentos de transição que facilitassem o desequilíbrio. Conseguiu alguns, como os que terminaram nas ocasiões de Gaitan e Cardozo, mas não foram muitos.

Outros aspectos que contribuíram para o menor peso do domínio em certos períodos foram a dificuldade de controlar o jogo de primeiras e segundas bolas que o Nacional forçou e, também, alguma incapacidade para manter o jogo mais constantemente no meio campo contrário, através de uma melhor reacção à perda de bola. Permitindo que o Nacional saísse, permitiu igualmente que o jogo se dividisse em muitos períodos. O Benfica foi melhor e traído pela eficácia, não nos equivoquemos, mas não ainda dentro dos patamares da época anterior...

Uma palavra para o Nacional, que fez um óptimo jogo. Poucas vezes se desequilibrou, acumulou poucas perdas, e foi muito forte no jogo de primeiras e segundas bolas que estrategicamente escolheu para abordar a partida. Depois, parece haver, de novo, uma boa fornada de qualidade a aparecer na Choupana. Diz muito o facto de ter no banco Mateus e João Aurélio...

Notas individuais
Antes dos números, uma nota sobre a importância do capítulo individual e de se conhecer bem o perfil psicológico dos jogadores. Nos momentos bons, tudo é fácil, e é nos maus que as personalidades se radicalizam. Jesus deve, nesta altura, esquecer um pouco o lado técnico e olhar mais para o lado psicológico dos seus jogadores, na hora de escolher. E isso pode ser decisivo para o futuro da temporada.

Mais uma vez, os números reflectem bem o que se passou. A influência de Saviola e Aimar e a importância dos laterais, no lado positivo. Aliás, creio que tirar Maxi se justificou pouco, face ao rendimento que vinha tendo. Afinal, que garantias dá Ruben Amorim de ser melhor naquela posição?!

Nos mais fracos, há que falar de Javi Garcia. Muito do que faltou ao Benfica em termos de domínio, passou pela incapacidade que o espanhol teve para se impor na sua zona. Os seus números não são maus, mas face à exposição que teve era importante que tivesse tido outra preponderância no jogo. Quer no espaço aéreo, quer no bloqueio do primeiro passe de transição do adversário.

Depois, Gaitan. Esteve nos desequilíbrios da equipa e isso é importante, mas numa fase de crescimento seria importante que acertasse mais, assumisse menos riscos e crescesse progressivamente com a confiança. Não é isso que está a acontecer e o aproveitamento do seu talento permanece sob ameaça, especialmente quando a sua integração coincide com uma fase negativa da equipa.

Estes reparos nada têm que ver com aquilo que há para dizer sobre Cardozo. É o terceiro jogo consecutivo em que tem uma prestação difícil de qualificar. Tenho vindo a solidificar a minha opinião sobre a sua fraqueza em termos mentais, pelo pouco carácter que vem denotando. Um jogador com o seu estatuto teria de aparecer muito mais e sobretudo nos momentos maus. Não é isso que acontece, Cardozo esconde-se e quando aparece tem uma eficácia lamentável nas suas acções.

Finalmente, falar sobre Carlos Martins. Ao contrário de Cardozo parece não temer o momento. Pega no jogo e assume a responsabilidade, mesmo que possa errar. Não é pelo golo, já o havia escrito antes, mas... o que faz Martins no banco num momento como este?!


Ler tudo»

ler tudo >>

6 é o número!

ver comentários...
- 6 pontos levam os líderes, Porto e Nacional. 6 de vantagem sobre o campeão e maior candidato no arranque, o Benfica. 6 pode parecer pouco agora, mas 6 serão 6, quer no inicio, quer no fim. Ainda assim, 6 pontos não é o mais importante que o Porto ganhou em relação ao Benfica neste arranque de época. O que é mais importante é a estabilidade para evoluir. O futebol não entusiasma por aí além, mas, enquanto a concorrência procura o melhor ansiolitico, o Porto tem confiança e estabilidade para evoluir e continuar a ganhar. E já deu para ver o que a confiança e estabilidade podem fazer ao talento. Falcao e Belluschi para já, Hulk virá mais tarde...

- Em Alvalade, o atraso ainda não é de 6. Não é, mas podia ser. O Sporting ganhou, podia ter empatado ou até perdido. É a tal volatilidade de que há muito venho falando. O problema deste Sporting de Paulo Sérgio é que todos os sintomas indiciam um estado crónico e só uma combinação muito improvável de factores virarão o seu destino. Enquanto tenta resistir, é curioso ver a ironia do destino. Paulo Bento foi durante muito tempo criticado - erradamente, a meu ver - por jogar sempre com o mesmo sistema. Hoje, a critica que pegou moda para Paulo Sérgio é que... joga sempre com sistema diferente...

- Entretanto, anda tudo deliciado com a moda dos 6 em Inglaterra. É giro elogiar festins de golos, mas, se me perguntarem, é tão problemático para uma liga ter golos a menos como golos a mais. Especialmente se forem todos para o mesmo lado. Mais importante do que o entretenimento é a competitividade.

- No Brasil, acabados de terminar, clássicos do Rio e São Paulo com influência na luta pela liderança. O Corinthians parece querer mostrar que pode sobreviver à baixa de Mano Menezes: 3-0 ao São Paulo e mais perto do líder 'Flu'.

ler tudo >>

22.8.10

Da choupana à "gravidez psicológica"

ver comentários...
- A análise do 2º deslize encarnado fica para mais tarde. Para já... apenas o meu espanto! Espanto, e um comentário. Não posso criticar de forma muito convicta a decisão de contratar Roberto, porque não o conhecia com detalhe suficiente para avaliar a decisão no momento em que foi feita. O que para mim é estranho é como é que alguém que diz conhecer "tudo no Brasil" vai a Espanha pagar tanto dinheiro por um guarda redes. Isso sim, acho difícil de compreender.

- Antes do Benfica, também o Braga largou pontos. Não surpreende que a equipa se ressinta no característico 3º jogo do ciclo semanal. O que é curioso, porém, é que neste jogo o Braga fez bem mais para marcar um golo do que na grande maioria das suas vitórias neste excelente arranque de época. Afinal, a bola é mesmo redonda para todos!

- Entretanto, Manuel Machado antecipou-se aos profissionais da comédia e começou a aproveitar o potencial humorístico do "caso Queiroz". "Gravidez psicológica", diz ele! Até que enfim que alguém dá alguma utilidade ao assunto!

ler tudo >>

20.8.10

Benfica - Académica: Análise, vídeo e números

ver comentários...
O caso do jogador de ténis que chega ao topo e depressa cai nos meses seguintes. Ou, pior ainda, ganha um set por 6-0 e perde o seguinte. No ténis é mais fácil. Não há tantas variáveis e é mais simples isolá-las – ninguém vai dizer que é das sapatilhas ou da raquete que mudou. Já no futebol, a coisa é diferente. O factor psicológico não se isola tão facilmente e é difícil encontrar alguém que o distinga como a causa principal. É mais fácil falar da táctica – do sistema, claro – ou fazer raciocínios lineares, que distinguem como causa principal as individualidades que estavam antes e não estão depois. Regra geral, tudo sofismas. O caso do Benfica é um pouco este, o do jogador de ténis que estava em ascendente e, de repente, não consegue reagir a uma crise de confiança onde mergulhou sem saber muito bem como nem porquê. Pelo menos, é isso que me dizem os “sintomas”.

Notas colectivas
É de facto difícil de entender este fenómeno e poucos são aqueles que minimamente se aproximam da sua razão. O Benfica não é tacticamente mais fraco – o modelo é o mesmo – e as individualidades em falta não podem ser a explicação, porque o rendimento presente é demasiado inferior a um passado onde, embora bem mais desfalcada, a equipa fez bem melhor. Mais do que o efeito da perda dos que não estão, o problema passa muito mais pela diferença de rendimento dos que ficaram.

É verdade que a derrota foi um acaso, dificilmente repetível em idênticas circunstâncias, mas também é um facto que a produção foi demasiado medíocre para ser considerável dentro dos parâmetros do que é aceitável. Apenas por 3 vezes, e sempre pelo mesmo protagonista, o Benfica colocou realmente em perigo a baliza "estudante". Muito, muito pouco.

Na verdade, o Benfica que Jesus propõe nem precisa de ser altamente eficaz em posse. Precisa apenas de fazer a bola chegar jogável ao último terço. Depois de lá chegar, o perigo pode vir directamente da jogada inicial, ou indirectamente da capacidade de reacção à perda, que é fortíssima. Aliás, esta capacidade é uma das grandes explicações para o sucesso do Benfica no ano anterior. O problema – como ilustra o vídeo – é que o momento actual não permite sequer que a bola chegue útil e com frequência ao último terço.

A minha explicação passa um pouco por aquilo que acontece com o tal jogador de ténis que utilizei como analogia. A confiança em excesso transforma-se em sobranceria que, em competição, resulta numa perda de intensidade e concentração que propicia o erro. De repente, os níveis de confiança caem a pique sem que esta evolução seja percepcionada. É por isto que, em competição, a exigência e seriedade são sempre um requisito para o sucesso contínuo. Sempre.

O caminho passa, agora, por tentar fazer a equipa sair deste buraco psicológico, porque quando o fizer terá de novo qualidade técnica e táctica para regressar ao nível elevado onde já esteve. Apostar em novos jogadores poderá ser a maneira aparentemente mais fácil, mas dificilmente será aquela que renderá mais resultados. Para já, uma coisa é certa: vitórias precisam-se!

Notas individuais
A estatística pode enganar em muitos casos, mas não neste. A tal quebra psicológica é percebida pelo contraste entre Coentrão e os outros. Entre estes “outros”, é importante notar a presença de Aimar e Saviola. Já o tinha revelado na pré época – eu e as estatísticas – e os primeiros jogos a sério confirmaram-no. Se estes foram os grandes pilares da época passada, acho também justo destacá-los como aqueles que mais contribuem para a quebra actual. Não que o seu rendimento seja inferior à generalidade, mas porque a diferença é maior e mais significativa para a própria equipa.

De resto, Jesus pareceu concordar com o popularizado tema das “alas” e juntou a 2 laterais ofensivos, 2 médios com tendência para abrir. Mas o problema deste Benfica não são as “alas” - ou “asas” - que enchem as manchetes. Seria simples, e o futebol raramente o é. Abdicar de um jogador criativo como Carlos Martins, especialmente no momento actual de Aimar parece-me, isso sim, ter sido um erro para as opções que dispunha o técnico.



Ler tudo»

ler tudo >>

Notas de crises e formalidades

ver comentários...
- Não vi com atenção suficiente nenhum dos jogos, mas parece-me que estamos num caso de tendências completamente opostas, entre Porto e Sporting. Enquanto que uns alicerçam-se na confiança, mesmo não jogando ainda ao nível que se espera, outros cumprem o caminho oposto.

- No caso do Sporting, a reacção de desgaste ameaça ser mais rápida do que as piores previsões. Na verdade, não é o pior que pode acontecer. É mais fácil uma época ser salva depois de uma catástrofe prematura, do que se tiver uma mediocridade contínua. Pelo menos é isso que me diz a memória. A derrota estaria sempre ao sabor do vento, como consequência da sua, já longamente abordada, incapacidade para controlar os jogos. O problema, agora, é que a quebra de confiança faz com que tudo o que de bom havia acabe também por desaparecer. Um clássico. Como se não bastasse o destino, a coisa agudizasse quando, em vez de analisar e questionar friamente, a opção passa pela crença numa mudança de ventos. A fé é uma coisa bonita, mas dificilmente resulta.

- Há "casos" na nossa sociedade que são verdadeiros assaltos ao intelecto de quem a eles assiste. O de Queiroz é um deles. Quando é assim, tenho para mim que o melhor é gastar a menor quantidade de tempo possível com eles. Tempo e energia são bens escassos e que valorizo demasiado para este tipo de assuntos. Já de futebol, gosto bastante e não me importo de perder tempo. Por isso, bem mais do que a formalidade do despedimento, preocupa-me a informalidade do futuro.

ler tudo >>

19.8.10

Salvio e outras breves

ver comentários...
- Chega Salvio à Luz. Para mim, pessoalmente, é sempre bom ver em Portugal jogadores que acompanhei noutras paragens. Salvio é um deles. Um dos melhores do mundo da sua geração, enquanto sub-20, tem agora uma boa oportunidade para dar um salto enorme em termos de confiança e evolução. Há um pormenor importante nesta operação: a ausência de opção de compra. Um sinal de algum desespero por parte do Benfica, que contrata uma promessa sobre a qual não tem nenhuma garantia de continuidade, para competir com outros valores de perfil idêntico e recém contratados: Gaitan e Jara.

- O Braga não pára de surpreender! Não vi o jogo, portanto não comento, mas se julgava que o nulo podia ser bom, este golinho coloca mesmo o Sevilha em sério risco. Será mesmo um grande feito!

- O Inter ganhou a Libertadores! Normal, apenas isso. Rafael Sóbis regressou para ganhar o que já havia conquistado em 2006, Giuliano é o criativo que promete explodir (apareceu aqui na mesma altura que Salvio), mas o nome que mais me impressiona está já a caminho do Tottenham: Sandro.

- Na antiga Constantinopla, há um novo herói!

ler tudo >>

Naval - Porto: Análise e números

ver comentários...
Se o mais importante é ganhar, pode dizer-se que o Porto se restringiu ao essencial. De facto, a produção azul e branca na Figueira não foi a melhor, e o empate não seria, de forma nenhuma, uma surpresa para aquilo que foi o jogo. Pode parecer um paradoxo para quem vê estas coisas de uma perspectiva mais distante e simplista, mas as boas indicações frente ao Benfica pouco ou nada relevavam sobre a capacidade de resposta da equipa neste e noutros jogos. Mais do que o grau de dificuldade, é preciso olhar para a especificidade do desafio e, aí, Benfica e Naval nada têm em comum para que se possa projectar um jogo a partir do outro. Para este Porto, e nesta altura, a má notícia é que terá muito mais “Navais” do que “Benficas” na caminhada que tem pela frente.

Notas colectivas
Frente ao Benfica, o Porto dominou pelo pressing estratégico que impôs à construção encarnada. Agora, o que fazer se o adversário não quiser construir? Esse foi o problema portista. Sem surpresa, a Naval começou por recorrer a uma abordagem directa para evitar enfrentar o pressing azul. Para levar a melhor, o Porto teria de ganhar a segunda bola no seu meio campo defensivo e, depois sim, fazer o seu jogo. Não foi fácil, e por diversos motivos. Primeiro, e na origem, a recuperação, na resposta ao jogo directo da Naval nem sempre funcionou. Depois, mesmo quando recuperava, nem sempre o primeiro passe saiu, o que poderia até ter custado outro preço, se algumas perdas tivessem tido outro aproveitamento. Finalmente, quando saiu desse primeiro passe, foi sempre difícil ligar o meio campo com o trio da frente.

Face a estas dificuldades, tivemos um deserto de oportunidades durante praticamente 1 hora de jogo. Depois, o Porto entrou no seu melhor período. Por desgaste da Naval, que começava a perder mais duelos no “miolo”, porque Hulk se tornou mais difícil de controlar e, sobretudo, porque a alteração de estrutura para o 4-4-2 facilitou a criação de apoios e aumentou os elos de ligação entre o meio e a frente. Ainda assim, diga-se, poucos foram os lances verdadeiramente perigosos junto da baliza da Naval e é muito duvidoso que a vitória sorrisse sem o lance da grande penalidade.

Enfim, para já temos uma vantagem prematura que oferece também a primeira liderança em termos de níveis de confiança. Porém, as reticências daquilo que se vira em Paris mantêm-se. Ou seja, este não é ainda um Porto que garanta um melhor rendimento em relação ao passado. Há aspectos que precisam de ser trabalhados: a sua ligação precisa de ser melhor, o seu pressing precisa de produzir mais perante equipas que não assumam tanto a construção e há também a questão dos centrais, onde me parece que seria benéfica a introdução de um elemento com mais qualidade.

Notas individuais
Há dois casos que ajudam a perceber o jogo e as dificuldades portistas: Fernando e Falcao. Em ambos os casos, estamos perante jogadores muito participativos, com Fernando a ser regularmente o mais interventivo do colectivo, e Falcao a ter um peso grande no jogo, para além da finalização. Ora, isso não se passou neste caso, podendo ser feita uma ponte entre este dado estatístico e o rendimento colectivo.

No caso de Fernando, podemos ligar essa dificuldade de se impor no jogo com a dificuldade que o Porto teve em dominar o jogo de primeiras e segundas bolas à frente da sua área. É verdade que foi melhorando – e a equipa com ele – ao longo do jogo, mas demorou mais de 20 minutos para que Fernando tivesse a sua primeira intercepção na partida, o que é sintomático.

O caso de Falcao leva-nos à ligação entre meio campo e ataque. Poucas vezes foi solicitado o seu apoio frontal e esse será um aspecto a melhorar no futuro, porque o colombiano é normalmente garantia de uma boa ligação quando a bola passa por ele. Desta vez, para além de não ameaçar junto da baliza, esteve também muito ausente dessa ligação. Tal como no caso de Fernando, a equipa sentiu-o.

Falar, para terminar, de Belluschi. Voltou a evidenciar uma capacidade interventiva elevada, mesmo não estando especialmente inspirado. É um dado importante – muito! – para quem joga naquela zona. Acredito que a sua substituição não foi benéfica em termos de opção individual, mas tenho-lhe um reparo a fazer. Mais do que a inspiração na criação, é importante que Belluschi reveja a certeza no passe. É que não está a jogar tão perto da área contrária como foi habituado durante tanto tempo na sua carreira. Se melhorar nisto, e mantendo outras indicações, pode ser um dos craques do campeonato.



Ler tudo»

ler tudo >>

18.8.10

Paços - Sporting: Análise, números e vídeo (II)

ver comentários...
Vídeo: os 3 cruzamentos
Para quem viu o jogo, não passou em claro o carácter repetitivo da jogada. Cruzamento tenso e rasteiro de Manuel José, a pedir um desvio entre o guarda redes e os centrais. Nos 2 primeiros falhou, mas à terceira foi de vez. Na verdade, e apesar da repetição, os casos não são exactamente idênticos. Dois aconteceram em transição e o terceiro em ataque posicional. Na soma, porém, vislumbram-se bem os problemas do funcionamento da linha defensiva do Sporting. Problemas que, diga-se, são sobretudo colectivos. Outro dado importante é o mérito do cruzamento e de quem o faz: Manuel José.


No primeiro lance, existe uma perda evitável após uma variação de flanco não muito aconselhável. Ainda assim, é neste lance que mais se percebe como a defensiva leonina está pouco vocacionada para assumir riscos na linha do fora de jogo. O baixar imediato do trio defensivo pode parecer prudente, mas acaba por trazer mais risco do que segurança. Isto porque, ao recuar, a linha defensiva abdica de tentar controlar a jogada em termos de espaço e tempo. Ou seja, o ataque tem mais espaço para definir o passe e pode escolher a velocidade que quer dar ao lance, não sendo obrigado a decidir rapidamente. Nestas condições, é mais difícil, quer para o meio campo recuperar o posicionamento defensivo, quer para os próprios centrais controlar uma jogada que acontece em velocidade e numa área enorme de campo.

No segundo lance, grande parte do mal acontece na atitude de Evaldo. A forma como aborda a dividida só é possível caso tenha a certeza de que a vai ganhar. Caso contrário, e como aconteceu, perde não só a bola mas, mais ainda, a sua capacidade de recuperação. Depois, o único comentário que há a fazer vai para o posicionamento no centro do terreno. Embora defenda que a defesa se deva manter em linha dentro da área, não concordo que esta seja definida pelo posicionamento da bola em cruzamentos que não sejam já próximos da linha lateral. Uma margem de 1-2 metros será o ideal neste caso. O que é mais preocupante, porém, é que este comportamento parece apenas ocasional, já que não foi repetido noutras ocasiões.

Finalmente, no lance do golo, a origem deve ser muito mais centralizada na zona do cruzamento. Aí é que o Sporting tinha superioridade numérica, sendo proibido que, nessas condições, seja permitido tanto espaço para cruzar. Postiga, como mostra o vídeo, terá sido o mais displicente de todos.

Ainda assim, Nuno André Coelho não deixa de merecer responsabilização. Primeiro, o tal pormenor de ter tido uma opção diferente daquela que havia escolhido apenas há minutos atrás. Mas isso demonstra mais anarquia do comportamento colectivo, do que responsabilidade individual. A nota de culpa para o central vai para a forma como abordou o lance. Teria de controlar o espaço entre si e o atacante, mas, ao mesmo tempo, garantir que não perderia a frente do lance. Entre as referências zona e homem, N.A. Coelho não podia ignorar qualquer uma que fosse, tendo ainda de manter os olhos sobre a bola. Não era fácil, é certo, mas também se pode facilmente perceber que deveria e poderia ter feito bem melhor. Já agora, e para terminar, uma nota sobre a especificidade do avançado. Rondon não é um jogador muito alto, daí que o risco da antecipação talvez fosse maior do que perder o controlo sobre as costas. Simples agora, bem mais do que quando se tem de avaliar e decidir em segundos...

Estatística individual
A primeira nota vai para a novidade do site da Liga, com estatísticas em tempo real. É uma novidade muito interessante, embora para mim não possa substituir o que venho fazendo. O motivo é simples, não sei o que realmente medem os indicadores apresentados. É por isso que ler estatísticas em futebol se torna complicado, porque o critério não fica explicado apenas pela nomenclatura e, salvo melhor explicação, só quem faz a estatística percebe realmente o que está a medir. Outra nota para algumas divergências em alguns números. É normal que existam, mas há também discrepâncias que não se justificam (individualmente, porque colectivamente, os números são muito semelhantes). Acredito muito na tecnologia e não tenho dúvidas que tem mais potencial para não errar, mas posso garantir, por exemplo, que João Pereira não fez 63 passes certos, nem Liedson 23.

Em relação aos números, começo por destacar a elevadíssima participação dos centrais leoninos. Mostra, por um lado, que o recurso ao jogo directo foi recorrente por parte do Paços e, por outro, que os centrais tiveram uma grande capacidade para dominar a sua zona perante esse recurso. Ou seja, os erros que venho apontando não parecem ser o espelho de uma limitação individual, mas sim de um défice de coordenação e orientação colectiva.

Há, aqui, um caso que merece nota: Polga. É um jogador vulgarmente criticado – eu me incluo aqui – e que muitas vezes não se compreende o porquê da insistência na sua utilização. Aqui entramos na virtude e limitação deste método. Ou seja, o método mostra-nos a influência positiva de Polga no jogo, o que oferece a sua capacidade de leitura, posicionamento e antecipação. Não dá, no entanto, para enquadrar Polga no problema táctico da última linha da equipa, sabendo-se da sua dificuldade em jogar alto e com o fora de jogo. É um bom exemplo da utilidade e enquadramento do método na análise. E não, como tristemente foi confundido por alguns, como um juízo absoluto do rendimento individual.

Outro caso a abordar é Carriço. A sua presença no meio campo entende-se na perspectiva de que o Paços jogaria – como jogou – de forma directa. Retira qualidade em algumas vertentes à equipa, mas parece-me acertada a opção de Paulo Sérgio em termos de opção individual. Aliás, muito desse acerto vem da própria qualidade do jogador que, apesar de jogar “fora de água”, manteve um rendimento e eficácia extremamente elevados.

Sobre Valdes, reforçar que deve ser entendido à luz das suas características. Tal como referi aqui aquando da sua contratação, é um jogador muito forte em termos técnicos, sobretudo no 1x1, mas que tem dificuldade em termos de intensidade, quer nos momentos defensivos, quer quando se lhe pede para encontrar espaços para aparecer. Talvez tenha sido forçada a mudança táctica ao intervalo, mas a introdução do chileno no 11, e neste jogo, parece-me um erro evitável à partida.

Finalmente, Postiga. Talvez esteja aqui a grande oportunidade para se relançar. Tem um problema óbvio com a pressão de finalizar (não por este jogo), e acaba por falhar bem mais do que seria expectável. Não é um problema mecânico, é um problema mental, que tem a ver com a envolvente e a especificidade da pressão em ambiente de jogo. Ou seja, não se corrige com o treino. Por outro lado, tem uma grande capacidade para jogar em zonas mais interiores, onde se movimenta bem e decide melhor. Não tem a criatividade de uns, mas pode dar, por exemplo, uma vantagem importante nas primeiras bolas na zona à frente dos centrais. O que eu estou a sugerir – outra vez! – é que seja testado mais vezes e mais tempo nas costas do ponta de lança, que sirva de referência para o apoio frontal e que lhe seja retirado o peso da camisola 9. Até agora, e nesta época, respondeu sempre bem à chamada nestas circunstâncias.

Ler tudo»

ler tudo >>

17.8.10

Paços - Sporting: Análise, números e vídeo (I)

ver comentários...
Começo com um número: zero. Zero foi o número de foras de jogo que o Sporting conseguiu arrancar ao ataque do Paços, em 90 minutos. Zero – este Zero – é o número que ilustra, a meu ver, o grande mal deste Sporting. Não que o fora de jogo seja em si mesmo um fim, mas porque é um indicador que tem de assumir outros valores em equipas que, como o Sporting, tentam jogar e permanecer simultaneamente altas e largas no campo. A linha defensiva e o pressing, muito mais do que o sistema, já havia dito. A linha defensiva, ainda mais do que o pressing, digo agora. Enquanto isto não for percebido, primeiro, e corrigido, depois, enquanto se discutirem apenas sistemas e opções individuais, o Sporting pode estar tudo menos seguro sobre o destino dos seus jogos. E o tempo corre cada vez mais contra Paulo Sérgio.

Notas colectivas
Não é fácil jogar na Mata Real. As dimensões do relvado tornam difícil a posse e a atitude que o adversário invariavelmente assume, difícil o pressing sobre a construção. Ou seja, tem de se lidar com um jogo directo, disputado à frente da sua área e só depois de ganhar esse duelo é que se pode pensar no passo seguinte. Intensidade precisa-se, portanto.

O jogo mostrou bem que o Sporting era capaz de ultrapassar o obstáculo defensivo que tinha pela frente. Teve qualidade e talento para encontrar soluções. Qualidade na forma rápida como se desdobrou em algumas situações, e talento na resolução individual de algumas unidades. O problema foi dividido entre a eficácia e a segurança lá atrás.

Sobre a eficácia, convém não dramatizar porque se o Sporting teve oportunidades, o Paços não as teve menos. Mas é verdade que, com ela, tudo podia ter sido diferente. Resta-nos a segurança, e é aqui que chegamos à linha defensiva.

Não foi mal único, houve abordagens individuais erradas também, mas foi, como é, o mais crónico dos erros da interpretação do modelo. A equipa não consegue subir e manter-se alta no campo e sempre que tem de lidar com uma situação de transição aumenta vertiginosamente o seu espaço entre linhas, dando campo de ataque ao adversário e retirando tempo à sua própria recuperação colectiva. Um problema, está mais do que visto, e um problema que tem raízes no passado, e nas rotinas completamente diferentes da equipa com Paulo Bento.

Fora estes pontos, e ainda no Sporting, podemos depois discutir opções como a mudança de sistema ao intervalo, que claramente não produziu resultados. Podemos alongar-nos até a um campo mais filosófico sobre se é bom variar tanto de figurino, ou se o melhor é manter o sistema e optimizar as suas dinâmicas. Já sabem que sou adepto da segunda vertente, mas o que realmente me parece é que o sistema é uma discussão inútil no meio de outros pontos mais relevantes para a optimização do modelo. Se o Sporting e Paulo Sérgio não o perceberem e se insistirem nas oscilações entre 4-4-2 e 4-3-3, pouco ou nada irá mudar.

Sobre o Paços, o maior elogio que faço vai para a consciência do que se pode e do que se deve fazer. Não é a fórmula que mais admiro, mas prefiro largamente a humildade à presunção.

(estatística individual e vídeo na II Parte da análise)



Ler tudo»

ler tudo >>

16.8.10

Domingo de complexidades

ver comentários...
- Ora aí está mais um exemplo da enorme complexidade que o futebol pode assumir. A súbita "crise" do Benfica. A sequência de jogos sem ganhar na jornada inaugural. A terceira vitória da Académica em 4 anos de visitas à Luz. Podemos debruçar-nos o tempo que quisermos, com o detalhe que desejarmos, mas, não se deixem enganar, a nossa compreensão real sobre tudo isto será sempre muito reduzida.

Enfim, pode dizer-se que, em apenas 2 jogos oficiais, a pré época do Benfica parece ter sido reduzida a um redondo zero.

- Em França anda tudo louco. O recém promovido Caen, depois de ter ganho em Marselha, bateu agora o Lyon. Fica a nota para análises futuras.

- No Brasil, Muricy volta a ameaçar aniquilar o tradicional equilíbrio no topo da tabela. Depois do São Paulo, agora no Fluminense. Não sei se vai ser assim, mas é o que parece.

- Na Premier League, vi Koscielny e Chamakh estrearem-se num clássico. Dois jogadores que observei no ano passado e que me despertaram interesse. Maior surpresa pela aposta no central, que tem potencial mas um longo caminho ainda à sua frente. Mais claro é o caso de Chamakh. Um jogador super completo, forte tecnicamente e fortíssimo no espaço aéreo, quer na área, quer fora dela. Esteve ligado ao "blooper" de Reina, mas espero mais dele.

ler tudo >>

15.8.10

Sem conclusões...

ver comentários...
- Na Mata Real, um desfecho possível. Não o mais provável, mas também possível. O problema do Sporting é e sempre ameaçou ser o controlo que não tem sobre os jogos e sobre os adversários. Para quem anda à procura de respostas, já pode riscar o problema do duplo pivot. Afinal não era assim tão importante, à beira de outros problemas. É, não é?

- Antes, na Figueira, menos oportunidades, mas mais controlo e também um pouco mais de eficácia. Mas só um pouco. O jogo mostrou, para quem precisava de ver, que a Supertaça não apagou Paris, que há jogos e jogos, e que há ainda um bom caminho a percorrer até que este Porto esteja verdadeiramente afinado para o que se lhe vai deparar. O mesmo raciocínio talvez também sirva para a Naval, mas esse é um campo ainda demasiado desconhecido para eu poder entrar.

- Espanta-me como é que tanta gente consegue ter tantas certezas, vendo apenas. Invejo-os, porque não consigo. Para concluir algo de útil - e já com muito esforço - tenho de analisar, não me basta ver. Quando analisar, e se analisar, deixo mais conclusões. Conclusões a sério.

ler tudo >>

13.8.10

O Braga e o inicio do campeonato... em nota breve.

ver comentários...
Ando demasiado influenciado por teorias de cepticismo para avançar com previsões de fundamento mínimo. Vou projectando conforme for vendo. Sem grandes análises - e será assim na primeira jornada - começo pelo Braga.

Começou com a sua grande vantagem do ano anterior: a eficácia. 6 golos marcados em 2 jogos oficiais na Pedreira, num aproveitamento superior a 50% em termos de oportunidades claras de golo. Um sonho para qualquer treinador. Felipe e Elton são reforços de peso e entrariam nas principais contas de qualquer outro clube. Chegará para repetir o feito do ano anterior? A resposta lógica é "provavelmente não".

ler tudo >>

Paraíso para Deco

ver comentários...
Cada um terá o seu sonho, mas poucos conseguem tornar real a imagem que os acompanha durante toda a carreira. A imagem de um final ideal aos olhos dos próprios. Deco, sabe-se agora, será um desses raros privilegiados. Escolheu o regresso ao futebol quente e escolheu bem. Não só porque nenhum outro destino valorizará tanto as suas características como, mais ainda, nenhum outro clube poderá dar tanta côr ao futebol de Deco como o Fluminense actual.

Para um veterano criativo, não há melhor do que o futebol brasileiro. Aliás, estou por conhecer uma cultura que valorize tanto o pormenor técnico num jogo de futebol. Um passe ou um drible podem ser suficientes para esquecer tudo o resto, tanto para comentadores como para adeptos. Não é incomum, aliás, vermos veteranos esgotados a pedir substituição, enquanto o treinador é vaiado por aceder ao pedido do craque. Foi assim com muitos e é-o ainda com Ronaldo ou Petkovic, entre muitos outros. Esse é o ambiente que Deco encontrará. Um ambiente profundamente exigente - desengane-se quem achar que a pressão é menor - mas com uma tolerância infinita para a criatividade. Estão a ver Deco neste contexto, não estão?

Mas, se o Brasil pode ser o paraíso para o futebol de Deco, o Fluminense será, provavelmente, a melhor garantia de que não será já que o “mágico” deixará de ganhar. Depois de um longo período de crise, o “Flu” emergiu no momento mais inesperado, recuperando espectacularmente no final do Brasileirão 2009 e virando a página para se tornar num dos mais sérios candidatos ao título de 2010. Muricy Ramalho é o treinador de maior sucesso no presente do futebol brasileiro, e Fred um dos mais consagrados atacantes do campeonato. Mas é mesmo no meio campo criativo que este “Flu” mais promete entusiasmar. Deco vai formar uma dupla de “baixinhos” com Dario Conca, um dos mais interessantes criativos do futebol sul americano da actualidade. O Maracanã vai escaldar!



Ler tudo»

ler tudo >>

11.8.10

Como o Porto ganhou a Supertaça (II) - a concentração

ver comentários...
Ontem escrevi sobre a vertente estratégica do sucesso portista na supertaça, altamente alicerçado naquilo que o seu pressing conseguiu fazer. O segundo “capítulo” da explicação da superioridade azul e branca não pode ser dissociado do primeiro, e da interpretação dessa estratégia montada por Villas Boas: a concentração.

Tanto na análise ao jogo como ontem carreguei na tecla da concentração e da intensidade mental com que ambas as equipas abordaram o jogo. Isso reflectiu-se na forma como cada jogador se entregou a cada lance e teve, no final, um forte pendor para o lado portista, com o Benfica a acumular perdas enquanto que o Porto coleccionava recuperações que lhe proporcionavam momentos de transição. Nos exemplos que trouxe sobre o pressing, encontramos erros evitáveis de Airton, Aimar e Cardozo. Hoje, trago outros exemplos, noutras situações.

A concentração pode parecer um tema pouco interessante e óbvio, mas é tudo menos irrelevante no que se passa em campo. Nenhuma estratégia pode ter grande sucesso se não for acompanhada por uma boa dose de disponibilidade mental por parte dos jogadores. Disponibilidade essa que se reflecte na velocidade, acerto e agressividade das suas acções. No jogo da supertaça, mais do que a estratégia, o Porto teve uma postura muito mais séria e comprometida com a importância do desafio.

O Benfica melhorou com o tempo, mas os primeiros minutos mostraram que a equipa entrou no jogo ainda em ambiente de pré época. Uma preparação mental que não produziu bons resultados e que, diga-se, já na época anterior causou alguns dissabores em alguns jogos importantes, onde o Benfica falhou no objectivo de se superar a si próprio e à sua própria, e já de si elevadíssima, qualidade.



Ler tudo»

ler tudo >>

10.8.10

Como o Porto ganhou a Supertaça (I) - o "pressing"

ver comentários...
Na análise que deixei aqui ontem, apontei alguns motivos essenciais para o feito do Porto, não só de vencer o jogo, mas de o fazer de forma clara e categórica. Hoje e amanhã trarei vídeos que complementam essa análise. Entre concentração, estratégia e eficácia – os 3 items que distingui como essenciais para o sucesso – abordarei apenas os dois primeiros nestes vídeos, até porque a eficácia é si mesmo auto explicativa.

Começando então pela vertente estratégica do plano de Villas Boas, temos o pressing. É curioso que não foi preciso mais do que 1 jogada para verificar essa intenção do treinador portista. Curiosamente, também, não foi preciso mais do que esse exemplo, logo a seguir ao pontapé inicial, para ver também a primeira perda de bola encarnada.

Como expliquei ontem a estratégia passou por bloquear a saída de bola por David Luiz e força-la a acontecer por Luisão e Airton. Para além da diferença de qualidade entre os intérpretes, esta limitação tornou previsível a saída de bola, facilitando a tarefa da zona de pressão que esperava na linha média (daí ter dito que o pressing não foi especialmente alto, ao contrário do que chegou a dar a entender). Em vez de se distribuir a toda a largura do campo, o bloco portista pode concentrar-se na meia-esquerda e assim criar uma zona mais densa, onde havia menos espaços para entrar.

Esta estratégia foi implementada especialmente na primeira parte, perdendo agressividade com o passar dos minutos e com o baixar do bloco portista, em função do tempo e do resultado. Mas durante o tempo que foi aplicada teve notáveis resultados e com um peso enorme no balanceamento do jogo.

Claro que para que não basta explicar a estratégia para justificar o resultado da mesma. Houve um diferencial de intensidade e concentração, na forma como o erro foi facilitado pelos jogadores do Benfica e, por outro lado, como a pressão foi feita com grande intensidade pelos jogadores do Porto – aqui o mérito vai para o losango formado por Falcao, Belluschi, Moutinho e Fernando, que foram os mais activos nesta estratégia. Outra critica que se pode fazer ao Benfica é que em termos estratégicos não soube reagir a esta adversidade. Não houve, nem um plano alternativo em termos colectivos para a saída de bola, nem 1 elemento com personalidade para emergir nesse momento. Pelo vídeo, percebe-se também que se tal tivesse acontecido, provavelmente o desfecho teria sido outro, já que o Porto sentiu sempre mais dificuldades sempre que o Benfica conseguiu forçar a construção pela esquerda.



Ler tudo»

ler tudo >>

9.8.10

Supertaça: números e análise

ver comentários...
Começou com uma surpresa. Não pelo desfecho, nem sequer pelo resultado, mas surpresa, porque dificilmente alguém preveria uma sobreposição tão expressiva daquele que era, afinal, o menos favorito. Razões para o sucedido? As diferenças que ambas as equipas mostraram em 3 items: Concentração, estratégia e eficácia. Por ordem de importância. Concentração, pelo diferencial errático entre ambos os conjuntos – isto praticamente decidiu o jogo. Estratégia, porque a houve por parte do Porto, resultando em pleno no condicionamento do jogo do adversário. E eficácia, não porque tenha sido pela eficácia que o Porto venceu – pelo contrário, aliás – mas porque sem ela, e nestes jogos, não dá para ganhar. Antes de passar a mais considerações, nota para os números: o Benfica fez muito mais passes e com mais eficácia. Jogou melhor? Claro que não.

Notas colectivas: Benfica
No ano passado lancei aqui a teoria de que as equipas de Jesus tinham uma performance inferior à qualidade do seu futebol, apontando para o falhanço da equipa se conseguir superar nos momentos importantes. É apenas uma teoria, e não matéria factual, mas esta ganha novo reforço com o que se viu em Aveiro.

Fica a ideia de que o Benfica não se preparou convenientemente para a competição e para a intensidade do jogo. O Porto entrou com uma estratégia para condicionar o jogo encarnado que, por seu lado, não tinha nada de específico. Aliás, Jesus apostou muito mais em desenvolver o 4-3-3 nos últimos encontros do que em aprimorar o seu modelo base, ainda longe de ter o rendimento do ano anterior. Mais importante do que questões tácticas, porém, foi a atitude de algum facilitismo dos jogadores. Às dificuldades que o Porto colocou à construção, o Benfica respondeu sem intensidade e acumulou perdas de bola em construção que lhe custaram o jogo. 15 para 1 em perdas de bola é a estatística mais importante do jogo e aquela que espelha o sucesso da estratégia portista.

O que coloca em causa este jogo? Quase nada. O Benfica continua a ser a melhor equipa do país, mas qualidade em Agosto não ganha campeonatos em Maio. Os riscos são a própria melhoria dos adversários – que têm potencial para isso – e, claro, o risco do próprio Benfica não corrigir alguns problemas.

Há um problema individual ao nível das soluções para o meio campo, sendo preciso encontrar algumas respostas, mas o principal problema do Benfica não são as ausências de Di Maria e Ramires. Aliás, mais peso do que a ausência destes 2, parece-me, faria mais sentido centrar atenções no eclipse de Aimar. O papel da construção no Benfica foi decisivo, com o Porto a condicionar a saída de bola por David Luiz e sem que o meio campo criativo soubesse emergir à altura das necessidades. O Benfica bloqueou quando não pode sair pela esquerda e teve o seu melhor período quando lhe foi permitido jogar pelo corredor canhoto. Não é por acaso. Outra nota, e para finalizar, vai para Fabio Coentrão: a sua utilização no meio campo é um erro porque lhe retira metros. Coentrão tem uma intensidade e uma capacidade de preenchimento do corredor que é invulgar no futebol mundial. Depois de se ter percebido que poderia atingir o topo como lateral, vai agora dar-se um passo atrás?!

Notas colectivas: Porto
Terá sido o Porto muito diferente daquele que se viu em Paris? A resposta é não. Tinha falado do carácter estratégico de Falcao no pressing e Villas Boas fez dessa uma arma à qual o Benfica – talvez por má preparação – não soube responder. Essa é a primeira parte da estratégia do Porto, a utilização de Falcao como elemento bloqueador da construção através de David Luiz. Ao intervalo, aliás, David Luiz tinha um número de passes altamente inferior a Luisão, tal como Peixoto em relação a Amorim. O que ganhou o Porto com isto? Primeiro escolheu o lado e por quem queria que o adversário construísse. Depois, preparou o pressing para as zonas onde o adversário tentou sair a jogar, tirando partido da densidade numérica que criou nesses sectores.

Por tudo isto, não é correcto dizer-se que o Porto usou um pressing extraordinariamente alto. O que aconteceu foi uma estratégia que potenciou os resultados da zona pressing feita no meio campo. Isso e a intensidade com que os portistas reagiram à perda de bola (em confronto com o facilitismo contrário), ditou o bloqueio do jogo encarnado e, por contraponto, o domínio azul.

É curioso quando olhamos para os números individuais, vemos que os defensores portistas não fizeram um jogo extraordinário. Não porque tivessem errado, mas porque, simplesmente, participaram pouco. O mesmo vale para os avançados adversários (Cardozo quase nem jogou!), e com este simples dado se conclui que, apesar da posse e dos passes, o Benfica nunca conseguiu colocar em jogo quem o aproximava do golo. Por outro lado, a zona de recuperação de bola foi muitas vezes já dentro do meio campo oposto. Lembram-se do que escrevi aqui no outro dia: “Diz-me onde e como recuperas a bola, dir-te-ei o quão dominadora a tua equipa é!”. Este jogo foi mais um bom exemplo desta máxima.

Falta, finalmente, falar de outro ponto que me pareceu intencional: a exploração de Roberto. Não só pelo elevado número de tentativas de finalização – muitas delas bastante distantes da baliza – mas também pela forma como alguns livres e cantos foram apontados. Em vez de tirar a bola da zona, como acontece frequentemente, esta foi colocada em cima de Roberto. E foi assim que o primeiro golo chegou.

Notas individuais
Muito do que escrevi está espelhado também nos números individuais. Como referi, os defensores portistas foram pouco expostos – se era esse o ponto fraco da equipa, Villas Boas contornou-o bem – e, ao contrário, os defensores encarnados foram quem mais participação teve na equipa de Jesus. Sintomáticas são também as diferenças entre a participação de David Luiz em relação a Luisão/Sidnei e entre Peixoto e Amorim. Estes dados, em conjunto com as perdas de bola, chegam para explicar grande parte do jogo.

Em termos de destaques, Belluschi ganhou a corrida pelo melhor em campo. Não só pela sua participação criativa, mas muito pela influência que teve ao nível da recuperação, onde foi o mais importante atrás de Fernando. Outro destaque foi Hulk, que embora não tenha tido uma participação directa no marcador, foi o elemento com mais desequilíbrios no jogo e um elemento com uma presença importante na recuperação. Outro elemento de destaque foi, claro, Falcao. Mas sobre o colombiano não tenho nada a acrescentar ao que já dele aqui escrevi.

Do lado encarnado, David Luiz, apesar dos condicionalismos tácticos, acabou por ganhar mais presença nos últimos minutos, quando o pressing portista abdicou de o condicionar. Isso, em conjunto com o facto de ter sido o mais recuperador, valeu-lhe o número máximo de pontos, ainda que próximo de Saviola. “El conejo”, sem estar ainda ao nível que o celebrizou na época anterior, foi quem mais tentou. Pouco jogo lhe chegou, mas Saviola esforçou-se por isso e acabou por estar presente em todos os desequilíbrios da equipa, ficando mesmo próximo do golo. Pela negativa, Cardozo e Aimar. Não é surpresa a escassíssima participação do paraguaio, já aqui tinha alertado para isso. Foi o destaque da pré época, mas, desta vez, foi o pior. Também importante é a pouca participação de Aimar. Pouca e sem grande qualidade, diga-se. Mas disso também já falei.




Ler tudo»

ler tudo >>

5.8.10

4-3-3: a nova extravagância de Jesus

ver comentários...
Para além das inevitáveis entradas e saídas não se previam grandes motivos de interesse na pré época encarnada. Mesmo treinador, mesmo modelo, mesmas rotinas. Ou então... não. Precisamente, Jesus resolveu dar mais uma prova de que na Luz a estrela é mesmo ele e regou a pré temporada do Benfica com um inesperado motivo de interesse: o seu novo 4-3-3. O que tem de espectacular um sistema que meio mundo utiliza? Bem, o problema é que, tal como o seu 4-4-2, o 4-3-3 de Jesus não é exactamente como o do resto do mundo. É uma versão própria, com particularidades que, não fugindo dos princípios orientadores da sua filosofia de jogo, a tornam ainda mais arrojada. Talvez mesmo demasiado, mas isso é algo que teremos de verificar com o tempo. Mas vamos aos pontos desta novidade táctica:

3 avançados... mesmo! – O 4-3-3 corrente pode ser confundido com o 4-5-1. De facto, é até difícil definir qual a nomenclatura mais correcta na maioria dos casos, porque, se os extremos abrem em posse, também se juntam aos médios quando a equipa não tem a bola. Ora, no caso do 4-3-3 de Jesus, não é assim. Os avançados não são extremos, nem médios, são avançados... mesmo. Quer nos momentos ofensivos, quer defensivos. E é isso que dá também um pouco mais de risco ao modelo.

Menos 1 a defender – Porquê o maior risco em relação ao 4-4-2? Porque, nesta versão, Jesus tenta defender igual, mas com menos 1 jogador. Bom... não é totalmente correcta a expressão. Todos os jogadores de defendem, o que acontece é que enquanto que no 4-4-2, a primeira linha do pressing era composta por 2 jogadores e eram estes que ficavam fora da jogada ao primeiro passe vertical, agora, são 3 a ficar de fora. Depois deste primeiro passe, em vez de 8 jogadores de campo, Jesus tem agora 7 para defender. Como resolve? A resposta passa sobretudo por uma grande intensidade táctica dos restantes jogadores, sempre com 1 deles a fazer 2 zonas do anterior modelo.

10 desaparece – Se o 10 era a principal unidade do 4-4-2, em 4-3-3 ele praticamente se extingue. Há a preocupação de colmatar esse espaço em termos defensivos, mas é um dos médios que sai da sua posição para o fazer. Quando a equipa baixa no campo, forma-se uma linha de 3 médios e o 10 deixa de estar presente como principal referência para o primeiro passe vertical em transição. Agora, são os 2 avançados que caem sobre as alas a merecer esse destaque.

6 mais exposto – A “extinção” do 10 faz com que o carácter posicional do 6 seja também mais vezes colocada em causa. Mais vezes tem de sair da sua zona, ou para fechar sobre uma das alas, ou para manter a proximidade com a linha pressionante da frente. É também por isso que Airton ganha força nesta versão sobre o mais posicional Garcia.

Laterais com mais profundidade – Em 4-4-2, os médios interiores pressionam sobre as alas, mas fazem-no muito mais baixo do que os avançados do 4-3-3. Para uma equipa pressionar alto, não se pode manter em terra de ninguém. É preciso aproximar linhas e encurtar distâncias, e é por isso que nesta versão os laterais têm mais responsabilidade. Responsabilidade de pressionar alto mas não perder o controlo sobre o seu flanco. Não é para todos.

Pressing avassalador – Na verdade não estou a ver muitas equipas da nossa liga a correr esse risco, mas é um verdadeiro campo minado sair em construção contra esta versão do Benfica. É nisso que aposta Jesus, na compressão do adversário.

Mais presença em transição – Se para defender a equipa perde uma unidade, quando ganha a bola, tem de imediato uma presença importante na frente. Sempre 3 jogadores à frente da linha da bola, com 2 médios com liberdade para acompanhar a transição e ainda os laterais.

Ritmo alucinante – Jesus falou há dias da componente física. Talvez tenha a ver com estas suas novas ideias. Será que dá para jogar a este ritimo durante 90 minutos? É que, a não ser que o adversário não saia lá de trás – o que também pode acontecer – um jogo de transições como força este modelo é também muito exigente para grande parte dos jogadores.

Não é para todos! – Forçar um jogo deste tipo não é para todos. A maioria das equipas dar-se-ia muito mal com esta proposta e só por ter uma grande qualidade individual – fantástica mesmo! – em jogadores como Coentrão, Airton ou David Luiz é que Jesus se pode atrever a isto. Qualidade individual e, claro, qualidade colectiva. Por exemplo, só com uma linha defensiva com um comportamento tão apurado e agressivo é que é possível arriscar estar tão alto em campo e com tão pouca gente atrás durante tanto tempo. Ainda assim, pergunto-me e duvido seriamente que Jesus adopte esta versão perante adversários e jogos de maior exigência.



Ler tudo»

ler tudo >>

AddThis