30.11.10

A qualidade táctica em transição (Sporting vs Porto)

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Na análise ao jogo contestei a "perfeição táctica" reclamada por Paulo Sérgio no final do jogo. De facto, a minha leitura do jogo leva-me a concluir que a estratégia escolhida pelo treinador foi inteligente, sim, causou alguma surpresa no adversário, também, mas esteve muito longe de ser "perfeita".

Uma estratégia de jogo tem de ser um plano de vitória, e pressupõe uma amplitude total, em termos de momentos de jogo. Aquilo que o Sporting conseguiu com algum sucesso foi defender. Provocou o erro do adversário e recuperou várias bolas com possibilidade de transição, mas... não mais do que isso. Ou seja, não conseguiu dar sequência à transição partindo para ataques rápidos que aproveitassem um momento de desorganização do adversário. Ou a bola era imediatamente perdida, ou a transição passava para ataque organizado, ou acontecia o isolamento de um jogador perante a defensiva portista. Qualquer destas situações tem em comum o facto de dar a vantagem a quem defende e nunca o contrário.

Aqui, há que dividir responsabilidades, sendo que nesta divisão está, também, boa parte da explicação da diferença de qualidade entre uma e outra equipa, em termos tácticos. O Porto esteve sempre muito forte em termos de reacção à perda da bola, quer na pressão imediata, quer no restabelecimento dos equilíbrios posicionais. O Sporting nunca teve uma saída bem preparada e foi, invariavelmente, neutralizado pelo adversário.

Talvez o lance mais sintomático desta diferença de qualidade esteja no lance que deu origem ao golo do empate. Por 2 vezes o Sporting recuperou a bola. Na primeira, Valdés não tinha linha de passe e tentou a iniciativa individual. Na segunda, Maniche ganhou o ressalto, mas não tinha nenhum jogador na zona livre que se abriu do lado direito, acabando por dominar mal e ser pressionado.

Para quem queira realmente perceber o porquê da diferença entre o rendimento das 2 equipas na temporada, talvez seja uma boa ideia começar pelo que cada uma faz nos momentos de transição. É que nada disto é circunstancial e, antes sim, o produto do trabalho que vem sendo feito ao longo da época...

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29.11.10

"manita" em Camp Nou (Breves)

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- Nos primeiros - primeirissimos! - minutos até chegou a dar a ideia de que este podia ser um dia bom para o Real. A equipa definiu bem as zonas de pressão, com a importância do posicionamento de Ozil na zona de Xavi, e conseguiu sair da transição, ainda que sem perigo, 2 vezes consecutivas. Ilusão! Depressa o jogo se começou a definir numa trajectória perfeitamente oposta. Primeiro, porque houve um diferencial de intensidade entre a abordagem dos jogadores de ambos os lados. Depois, porque o Barça não facilitou e capitalizou 2 das 3 chegadas ofensivas perigosas nos primeiros 20 minutos. Logo aí, tudo se desnivelou, tanto o resultado, como o estado emocional.

- A ressaca desses 20 minutos fez prever a goleada, mas o Barça, depois, teve um comportamento difícil de entender e que abriu uma derradeira janela de oportunidade ao Real. A sensibilidade dos catalães para com Ronaldo - que se nota a cada vez que o defrontam - provocou uma paragem no jogo desnecessária e que cortou o momento do Barça. O Real teve, logo a seguir, um breve período em que poderia ter reentrado no jogo. Não o conseguiu e o intervalo terminou com qualquer dúvida que o jogo poderia ter.

- Na segunda parte, sim, o Barça materializou o ascendente emocional que conseguira com os 2 golos inaugurais, e o que se viu foi um contraste enorme, e a todos os níveis, entre as 2 equipas. Mourinho ajudou tudo a piorar ao introduzir Lass por Ozil, a equipa perdeu organização, lucidez e confiança. O Barcelona... voou! Com a soberba qualidade que se lhe conhece, com a ajuda da confiança e com um adversário desvairado, foram 5, mas podiam ter sido bem mais.

- Há uma coisa que ressalta de forma muito clara deste clássico. Jogadores como Khedira, Ozil, Di Maria ou Benzema não perceberam a intensidade que tinham de ter num jogo destes. Concentração permanente e agressividade no limite era a única via. O Barcelona não foi só melhor com bola - como invariavelmente é - foi muito melhor também quando não a teve e por isso passou a ferro aquele que era, supostamente, o mais difícil dos adversários.

- Foi como que uma prova de força do campeão e uma lição de humildade para uma equipa que, já sendo boa, tem de perceber que é preciso mais do que isto para atingir outro patamar. Será, já agora, também uma lição para quem acha que os melhores não podem também sair goleados ou que um jogo entre valores idênticos não pode acabar em goleada sem que isso tenha de representar uma negligência profissional dos perdedores. O futebol é um jogo de homens, não de deuses ou super heróis...

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Porto - Sporting (Análise e números)

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Como balanço, dá para dizer que foi um jogo deveras interessante. Teve uma envolvente própria destes jogos, teve fases distintas que pareceram fazer o jogo pender para ambos os lados, e teve, também, variantes que obrigaram os dois treinadores a reagir. Não teve espectacularidade, muitas ocasiões de golo, nem, tão pouco, a carga de um jogo decisivo em termos pontuais. Mas teve, parece-me, o bastante para estar à altura de um jogo com estatuto de “clássico”. No final, quer Sporting, quer Porto, ficarão a pensar que poderiam ter ganho o jogo, mas também não vejo que algum dos lados guarde a sensação de que o empate foi curto ou imerecido para o balanceamento do jogo. E não foi, foi justo.

Notas colectivas: Sporting
Grande parte do interesse do jogo foi despoletado pela abordagem estratégica escolhida por Paulo Sérgio. O treinador conseguiu provocar um efeito surpresa e, na primeira parte, obrigar o Porto a jogar num cenário diferente daquele que provavelmente teria previsto. Foi eficaz e feliz o suficiente para retirar partido disso, também é verdade, mas não desmereceu a vantagem que levou para o intervalo. Com o que não posso concordar, porém, é com a exibição “tacticamente perfeita” reclamada pelo treinador leonino.

Em termos estratégicos, parece-me, a única parte que o Sporting alterou significativamente foi na forma como se posicionou sem bola, perante a organização do adversário. A estratégia passou por pressionar numa primeira fase, mas apenas com o tridente da frente. Depois, mal o Porto passasse essa barreira, o Sporting recorria a um pressing mais baixo, que esquecia a construção e se concentrava em absoluto na limitação da fase criativa portista. Com isto, Belluschi e Moutinho tiveram muito menos bola do que é costume e, tanto Varela como Hulk, nunca tiveram espaço para explodir individualmente.

Esta foi a parte que resultou, mesmo se a pressão não foi feita com especial mérito ou qualidade – Portugal, com muito menos tempo de treino, por exemplo, conseguiu um pressing muito mais bem feito frente aos espanhóis. O grande problema do Sporting esteve no momento seguinte, no desenvolvimento após ganhar a bola. O Porto errou e não poucas vezes, mas raras foram aquelas em que o Sporting conseguiu desdobrar os momentos de transição para ataques rápidos e apoiados. É certo que o Porto tem mérito pela forma como prepara e reage à perda, mas não hesito em atribuir muito mais demérito à transição do Sporting neste desaproveitamento ofensivo. Afinal, a falta de qualidade em transição é algo que é visível desde o inicio de época e isso penaliza imenso a equipa em termos ofensivos, como tantas vezes já referi. Muito mais do que o fado bolas ao poste, por exemplo.

Este problema – o da transição defesa-ataque – foi ganhando importância com o tempo. O Porto reagiu, passou a errar menos e a tornar-se mais agressivo na recuperação. O Sporting ganhava a bola no seu bloco baixo, mas não saía do aprisionamento territorial. Foi assim – em múltiplas insistências – que o Porto desenhou a jogada do empate, e seria assim, igualmente, que o Sporting se preparava para abordar os últimos 20 minutos de jogo. Valeu-lhe o pequeno “milagre” de Liedson.

Falar, por fim, de 2 aspectos. (1) O sistema, para dizer que o Sporting parece capaz de jogar em qualquer sistema, não porque seja bom em todos, mas porque não é especialista em nenhum. (2) Os minutos finais, para dizer que não dá para retirar Maniche e Pedro Mendes, colocar Vukcevic e Djalo e depois queixar-se da falta de qualidade de circulação da equipa.

Notas colectivas: Porto
Não creio, de facto, que a postura do Sporting estivesse nas primeiras previsões de Villas Boas. Talvez seja isso que justifique a dificuldade que a equipa teve para reagir às características do jogo, na primeira parte. Falou-se muito dos extremos, com Hulk à cabeça, mas mais importante parece-me ter sido a incapacidade da equipa para encontrar os seus médios no processo construtivo. Belluschi, por exemplo, tocou pela primeira vez na bola aos 9 minutos, quando isolou Falcao.

Ainda assim, a equipa voltou a mostrar, tanto a sua qualidade como a sua confiança, fruto de um trabalho continuado e consistente que vem desde o inicio de época. Viu-se isso na forma como procurou sempre jogar em apoio e como foi capaz de reagir sempre bem nos momentos sem bola. Quer imediatamente após a perda, quer no seu pressing em organização, que quase sempre obrigou o Sporting a jogar mal.

Há um aspecto que gostaria de realçar nesta equipa, que é a concentração com que está em campo. Isto vê-se, e sugiro que reparem, na velocidade com que a equipa reage, colectivamente, a todas as incidências do jogo. Por exemplo, sempre que há a posse de um guarda redes, quer de um lado quer do outro, a equipa é rapidíssima a reagir.

O Porto, e mesmo perante a surpresa que lhe foi preparada, só não terá ganho o jogo por 2 motivos. O primeiro tem a ver com alguns erros individuais em posse (provocados, diga-se). Aqui, Fernando e Maicon serão os principais réus, mas não os únicos. Depois, na resposta da dupla de centrais. A força do colectivo tem poupado grandes sobressaltos a Rolando e Maicon, mas, se esta era uma debilidade identificada na pré época, não é o bom percurso da equipa que a desfaz. Neste particular, a meu ver, o Porto está menos bem servido do que os rivais. Claramente.

Notas individuais: Sporting
João Pereira – Fez um jogo semelhante ao que conseguiu na Selecção. Excelente em termos defensivos, faltando-lhe apenas a parte ofensiva. É um grande lateral e não apenas para o futebol português. Uma ideia que defendi aquando da sua chegada ao clube, e que agora reforço.

Polga – É um jogador fortíssimo na leitura do jogo – repito-o – e Falcao sentiu-o sempre que apareceu na sua zona e tentou servir de apoio frontal. O jogo de Polga fica marcado pelo erro do golo. Já o escrevi, é inexplicável o que fez naquela situação. Um erro pouco notado mas que me parece o mais grave cometido por um central do Sporting nesta temporada. Para além disso, teve um jogo difícil em construção, muito por mérito do adversário.

Pedro Mendes – Ainda o vamos ver, assim a condição física o permita, a fazer jogos mais exuberantes. É um jogador com uma cultura posicional fantástica e uma segurança em posse igualmente rara. Já sem Maniche em campo, seria importante tê-lo nos últimos minutos para tentar um domínio mais sustentado.

André Santos – Foi muito destacado porque foi dos que mais apareceu ofensivamente, mas não foi dos que mais produziu em termos de trabalho colectivo, quer com bola, quer sem ela. Não serve isto para lhe fazer uma critica, antes para alertar para a forma como somos iludidos pelas percepções que o jogo oferece. O próprio Paulo Sérgio o pareceu não perceber ao mantê-lo em campo em vez dos outros 2 médios.

Maniche – Não fez o jogo que projectei, e terá sido mesmo um dos seus piores jogos na liga. Ainda assim, e enquanto esteve em campo, nenhum médio foi mais influente do que ele no jogo da equipa. Nunca o retiraria na fase terminal do encontro e esse parece-me ter sido o primeiro erro que impediu o Sporting de exercer maior domínio na fase terminal.

Valdés – Fantástica primeira parte! Não só pelo golo que marcou, mas por tudo aquilo que fez. Jogou quase menos meia hora do que Postiga, mas conseguiu produzir o mesmo em termos de intercepções e passes, do que o jogador que actuou numa posição simétrica. Voltou a jogar na ala, mas reforço que é um erro. Valdés deve jogar no meio e de preferência com liberdade de movimentos. Caso contrário, sou capaz de arriscar, a boa fase vai terminar.

Postiga – Fez um bom jogo, numa posição que não lhe é habitual. Lutou muito e foi útil, mesmo se essa não é de todo a sua especialidade. Deu boa sequência à maioria das jogadas, mas faltou-lhe capacidade desequilíbrio. Algo que os seus agora recorrentes remates de 30 metros raramente poderão dar.

Liedson – Incrível a sua capacidade de trabalho! Jogar isolado, numa equipa que não pressiona particularmente bem e que não solta muitos apoios em transição... a maioria dos jogadores teria feito um jogo nulo. Basta ver, por exemplo, como, jogando num sistema idêntico e com a equipa muito mais distante, foi muito mais influente do que Falcao. Liedson conseguiu uma quantidade enorme de intercepções, iniciou transições e provocou, até, uma expulsão vinda do nada. Para mais, deu quase sempre sequência às jogadas que passaram por si. À parte de uma má decisão na área, não é exagero dizer-se que valeu por 2 neste jogo.

Notas individuais: Porto
Emídio Rafael – é uma boa solução, mas, tal como defendi numa caixa de comentários recente, está longe de garantir, quer a intensidade, quer a profundidade de Álvaro Pereira. Por exemplo, o mínimo de intercepções que o uruguaio conseguiu num jogo da liga foram 12, precisamente o mesmo que Rafael na sua estreia na competição. Ainda assim, reforço, é um problema relativo – de comparação – e não absoluto.

Rolando – A sair a jogar garante uma qualidade muito elevada e dificilmente cometeria o erro de Maicon, mas Rolando tem de render mais para justificar o estatuto que lhe é atribuído. Apenas é dominador nas situações de bola parada, de resto, nem é forte em antecipação, nem agressivo nas primeiras bolas aéreas (como se viu no golo), nem sequer fica ausente de erros pontuais em situações posicionais. Na minha opinião, tem de produzir mais, até porque tem aptidões para isso.

Maicon – É muito mais agressivo e dominador do que Rolando, mas é também tecnicamente mais débil e isso custou-lhe a expulsão. No golo, como já disse, leu mal a jogada, mas divide responsabilidades com Rolando. Adivinha-se a perda da titularidade...

Fernando – Os seus erros toda a gente viu, mas há também que ver a coisa de uma perspectiva relativa. Fernando errou mais do que os outros, mas foi também aquele que, de longe, mais passes certos fez. Na segunda parte corrigiu a sua saída em posse e acabou por ser também muito influente na recuperação.

Moutinho – Terá sido um dos vencedores relativos do jogo, mas não fez uma grande exibição. Foi condicionado pelo jogo do Sporting, na primeira parte, mas acabou por estar envolvido na jogada do golo. Foi, enfim, mais uma exibição "à Moutinho". É um grande jogador, que é excepcionalmente regular, mas não regularmente excepcional. Desde que não se confunda isto, estou de acordo...

Falcao – Não se pode dizer que tenha sido muito influente ou que tenha ganho algum duelo em particular. Mas, a verdade é que as 3 grandes oportunidades do Porto são dele e é isso o que mais se pede a um jogador da sua posição. Primeiro, que “chame” o golo e depois que o marque. Foi isso o que fez Falcao.



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28.11.10

Sporting - Porto: análise de jogadas (Vídeo)

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Começo por um vídeo com as principais jogadas, um pouco ao contrário do que é norma. Mais tarde trarei a análise e a estatística, assim como, possivelmente um outro vídeo sobre um aspecto táctico que julgo interessante.

- O primeiro lance de perigo do jogo acontece quase por acaso. Ou seja, num lance em que o Porto começa por ter as linhas de passe cortadas e com a perda eminente. Ao contrário do que acontece mais tarde, no golo, não creio haver particular demérito de Polga na forma como é batido por Belluschi. A sua saída para fazer contenção justifica-se, não tendo conseguido ganhar o lance, apesar de ter pressionado correctamente.

- No lance do golo do Sporting, o descrédito foi atribuído a Maicon, mas julgo não lhe ser devida uma responsabilidade única. A primeira bola, entrando na zona dos centrais, não pode nunca bater e cabe à dupla resolver o lance. Rolando é cai sai para abordar o lance e cabia a Maicon ajustar o posicionamento nas suas costas. Maicon é surpreendido porque tarda em perceber que a bola vai passar sem ser abordada e porque, parece-me, não se apercebe da presença de Valdés. No entanto, Rolando tem de atacar a bola e não encostar-se a Liedson. Se fosse ao contrário - Maicon a atacar a bola, duvido que o lance tivesse tido a mesma sequência.

- O lance do golo do Porto surge após uma longa sequência de bolas disputadas na zona central. O Sporting tem responsabilidade colectiva porque, por várias vezes, deveria ter sido capaz de tirar a bola da zona de pressão e dar sequência à transição (falarei mais disso). Ainda assim, nada faria antecipar o que sucedeu depois. A equipa está equilibrada, com a linha de 4 e ainda André Santos em zona central. Não se percebe a decisão de Polga sair da sua zona nesta situação. Não era o jogador mais próximo da bola, não era possivel pressionar imediatamente a decisão de Moutinho, dada a distância e, talvez mais importante, a sua posição é fulcral em termos de controlo zonal, merecendo muito maior cautela numa decisão deste tipo. Ficam 3 jogadores na frente de Moutinho, mas sem capacidade para cortar a linha de passe para Hulk que, depois, tem várias opções na área.

- Finalmente, nota para mais um exemplo da excepcional capacidade de trabalho de Liedson. O demérito de Maicon é óbvio e nenhuma circunstância ou perante algum jogador se justifica perder a bola, mas, ainda assim é recorrente vermos Liedson conseguir lances destes (a última terá sido em Goodison Park), pelo que é inegável o seu mérito, quer na atitude, quer na forma como aborda o desarme. Desta vez, para mais, o seu isolamento é total. Não vale tanto, mas é mais difícil de conseguir do que um golo.

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Empate no clássico (Breves)

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- A volatilidade táctica de Paulo Sérgio tem essa particularidade: tornar-se muito fácil surpreender. E creio que desta vez, o treinador do Sporting conseguiu surpreender a generalidade das antevisões, começando pela minha mas acabando na do próprio Villas Boas. Numa coisa não me equivoquei: a atitude iria fazer parte da receita e era bom que o Porto fosse precavido, porque a diferença de valias não é tão grande como as emoções sugerem. Enfim, não me quero alongar muito porque voltarei com uma análise mais detalhada, mas não posso deixar de creditar o mérito devido ao Sporting pela primeira parte que fez. Pela sagacidade e atitude.

- Mas, se chegar à vantagem foi uma conquista, mantê-la era, para o Sporting, também um requisito. A resposta do Porto era óbvia e era preciso estabilidade e força mental para aguentar mais tempo sem errar. O Sporting sucumbiu depressa - também, e muito, por mérito do Porto, não se confunda - e provavelmente só não passou por maiores dissabores porque Liedson voltou a fazer de Liedson num clássico. O resto está à vista de todos: não foi por jogar com menos um que o Porto ficou mais longe da vitória do que o seu oponente e, bem feitas as contas, o empate será até mais reconfortante para os da casa. Porquê? Porque toda a gente esperava um Porto mais forte e vencedor e porque a conversa da distância pontual para o 1º é, há muito e para o Sporting, apenas... conversa.

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26.11.10

Sporting - Porto (Notas de antevisão)

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- São mais as dúvidas do lado do Sporting. Os jornais avançam com a possibilidade de jogarem Postiga e Liedson, e André Santos, Maniche e Pedro Mendes. Pessoalmente, acho difícil que ambas as opções se confirmem porque há uma outra que me parece mais provável: o regresso João Pereira como médio-ala. Ora, conciliar tudo isto implicaria abdicar de Valdes e Vukcevic, e não me parece que, pelo menos o chileno, seja discutível na cabeça de Paulo Sérgio. Assim, e por entre muitas dúvidas, apostaria num só avançado, Postiga, na coexistência dos 3 médios, e em João Pereira e Valdés como alas.

- Uma coisa que me parece clara, e que com certeza poderemos observar no jogo, é a utilização de um 2x1 sobre os flanqueadores, especialmente Hulk. Isto será feito com a proximidade de 1 dos médios – possivelmente, se jogar, André Santos sobre a esquerda – ao lateral. Algo que Paulo Sérgio testou sobre Sougou em Coimbra e que deverá repetir agora.

- Ainda no Sporting, já várias vezes critiquei a falta de consistência nas opções de Paulo Sérgio, na minha perspectiva uma maneira pouco produtiva de construir uma equipa. Nesta altura, e no que respeita concretamente ao jogo do Porto, não há nada a fazer. Custa-me entender como, depois das provas dadas, Valdés sai de uma posição central onde havia sido determinante, e Vukcevic não é integrado numa estrutura que aproveite as suas virtudes e compense os seus defeitos. Uma coisa seria não conseguir, outra é não tentar.

- Por fim, e sobre o Sporting, há 2 jogadores que eu não abdicaria nunca, num jogo destes. Maniche e Liedson. Maniche, porque é, de longe, o jogador de maior rendimento da equipa, ainda que isso não lhe seja unanimemente reconhecido. Mas porque, também, é um jogador de grandes jogos, onde frequentemente marca e desequilibra. Faria-o sempre jogar como 2º médio e nunca mais adiantado, mas, ainda assim... olhos nele porque, para o bem ou para o mal, pode ser a figura. Liedson, que acredito não jogará, é outro de alto rendimento nos grandes jogos. A sua veia goleadora nos grandes momentos é o mais fácil de ver, mas Liedson tem também a particularidade de ser um jogador excepcionalmente interventivo para a posição em que joga. Porque os avançados participam menos e porque nos grandes jogos, mais do que nos outros, todos são poucos, Liedson é, ou seria, uma enorme mais valia.

- No Porto, mais estabilidade e menos dúvidas. Não há qualquer indicio ou motivo para que Villas Boas se desvie muito da sua estrutura, ou mesmo que siga uma estratégia muito diferente daquela que escolheu nos jogos frente ao Benfica. É que, tal como o seu vizinho, o Sporting gosta da bola e da posse e não tem uma alternativa muito bem preparada para quando não se consegue afirmar dessa maneira. Villas Boas tem 2 alternativas, ou tenta destituir o Sporting da sua pretensão de ser o dono da bola – o que pode não ser fácil – ou opta por uma estratégia mais objectiva e pragmática, tal como frente ao Benfica. Vejo com maior probabilidade que Villas Boas prepare a equipa especialmente para esta segunda opção, até porque, se tiver de ter a bola mais tempo, o Porto também o saberá fazer sem problemas.

- Para o Porto, o problema é como o jogo, “clássico”. Ou seja, o momento antagónico entre as duas equipas faz supor uma diferença de valores maior do que a que realmente existe. Se isto se passar para os jogadores, se não houver do Porto uma elevação dos níveis de intensidade e concentração, próprios deste tipo de jogos, então a equipa está mais próxima de ser surpreendida. Essa é a principal missão de Villas Boas, até porque, desengane-se quem pensar o contrário, o Sporting vai ter uma atitude muito forte.

- Em termos de opções individuais, é para o Porto relevante não ter Álvaro Pereira. É um jogador de grande intensidade e capaz de dar total profundidade ao flanco. De resto, é no quarteto defensivo que residem as dúvidas, com Fucile e Otamendi a serem, hoje bem mais do que frente ao Benfica, candidatos ao lugar. Por questões de rendimento, mas também de morfologia. Mais Fucile do que Otamendi, parece-me. Ainda assim, calculo que Villas Boas prefira manter ao máximo uma estrutura que se tem dado bem em jogos de maior exigência. Privilegiar o todo pelas partes é algo que faz sempre sentido.

- Os elementos potencialmente decisivos, creio, são os de sempre. Hulk, Falcao, Varela e Belluschi. Mas talvez venhamos a ter alguns esquemas tácticos especialmente preparados para as bolas paradas. A fragilidade do Sporting e a opção por marcações individuais, pode sugerir uma oportunidade à equipa técnica portista...

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25.11.10

Derrocada do Benfica em Israel (Breves)

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- O resultado, como sempre e especialmente perante estes números, vai precipitar as mais gratuitas análises. A verdade, porém, é que me parece muito claro que este, mais do que qualquer outro jogo, escapa ao prisma técnico-táctico, quando se quer explicar o resultado. Porquê? Porque o Benfica teve um domínio simplesmente avassalador sobre o adversário. Desde o primeiro minuto, e nunca por ter sido concedido ou planeado pelos israelitas. A qualidade - ou falta dela - da oposição, aliás, é parte da explicação para tão grande superioridade. Agora, se o Benfica foi absolutamente superior no planto técnico-táctico, se não teve a sorte do seu lado na forma como sofreu antes de marcar, por outro lado - e este é o ponto que deve ser relevado - só perdeu por culpa própria e porque é uma equipa emocionalmente vulnerável. É-o desde o inicio de época, como sempre o afirmei, mas é-o cada vez mais com o passar do tempo.

- Que o centro dos problemas encarnados está no campo emocional, já eu escrevi desde os primeiros sinais de crise, e também fui antecipando que os sintomas não estavam a ser bem identificados e resolvidos. Desta vez, destacaria 3 pontos. O primeiro tem a ver com a estratégia. Saber como ganhar é tão fundamental como fazer os jogadores sentir que essa proposta os vai conduzir ao sucesso. Quem o consegue raramente perde, e se o Benfica perdeu é porque não o tem conseguido. O "ouro" dos israelitas estava no pressing e na forma inocente como estes saíam a jogar. O Benfica conseguiu várias recuperações, mas nunca identificou essa como a via mais fácil para o sucesso, e devia-o ter feito desde o inicio. A orientação foi sempre utilizar extremos (Gaitan e Salvio) para potenciar os "pinheiros" (Kardec e Cardozo). Como já disse, facilmente teria tido outro resultado, mas esta não era, nem a estratégia mais correcta, nem aquela que poderia trazer mais confiança aos jogadores. O segundo ponto tem a ver com Martins. Não por uma critica da opção técnica ou táctica, mas porque abdicar de um jogador super-motivado por razões de ordem física é também um sinal de como os aspectos emocionais são desvalorizados na gestão da equipa. Finalmente, fala-se muito da perda de confiança da equipa, mas eu pergunto: e a confiança de Jesus? O que sentirá o outrora super-confiante líder do processo perante uma realidade tão adversa e surpreendente? E, já agora, que motivação ou confiança poderá ele transmitir para o grupo nesta altura?

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23.11.10

Mais um feito do Braga, e a jornada 'Champions' (Breves)

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- Não vi o jogo e por isso, o meu comentário terá de ser bastante restrito. Ainda assim, visto ou não, ganhar ao Arsenal é mais um marco fantástico no trajecto europeu do Braga neste ano. Mais mérito ainda tem pelo facto de acontecer numa fase em que a equipa se procura reabilitar em termos emocionais e de confiança, tanto em relação às suas próprias capacidades individuais, como em relação à sua proposta de jogo. É um trabalho que não se resolve com esta vitória, mas que pode seguramente ter aqui uma importante ajuda. Já que falo de confiança, e embora desta vez não o tenha escrito antes, os 2-3 do Emirates no fim de semana podem ter sido a primeira boa notícia para o Braga, em relação a este jogo. Os jogos começam todos 0-0, mas nenhum começa efectivamente do zero. Enfim, Liga dos Campeões, mais 9 pontos em 5 jogos: dê qualificação ou não (não dará!), a resposta sobre a capacidade de Domingos na Europa está mais do que dada.

- No fim de semana vi o Ajax-PSV e pude de novo constatar a fragilidade defensiva da escola holandesa. Não é atacar muito, é defender mal. Especialmente o Ajax que só não perdeu por benevolência do seu rival. A goleada do Real, neste contexto, era uma previsão fácil de fazer. Outro jogo que poderia dar surpresa, pelo momento do favorito, era o Chelsea-Zilina. Não deu, esteve quase, mas também era demasiado escandaloso.

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Ranking de treinadores (Liga 2010/11)

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Ainda é cedo para balanços definitivos, dado que nem 1 volta está completa. Fica, no entanto, o alinhamento do aproveitamento do trabalho dos treinadores, em relação às expectativas criadas pelas casas de apostas. Sem surpresas no topo da tabela, é de assinalar o último lugar de Domingos neste "ranking" parcial. Ele, que pulverizou a mesma classificação do ano anterior. O calendário pode ajudar a explicar, mas houve claramente um excesso de expectativa em relação ao rendimento dos bracarenses.

Entretanto, e neste mesmo âmbito, talvez fosse interessante analisar objectivamente se as "chicotadas psicológicas" têm, ou não, um efeito prático real e consistente. Algo que trarei noutra altura, para já fica a pergunta: será que vale a pena o "chicote"?

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22.11.10

Triunfos magros de Porto e Sporting (Breves)

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- Duvido que alguém esperasse tantas dificuldades do Porto para passar em Moreira de Cónegos. A verdade é que, se o Moreirense poderia ser um adversário como outro qualquer no Dragão, em casa torna-se muito mais difícil de ser batido. E não é preciso muito para perceber isto: basta ver que a equipa ainda não sofreu qualquer golo em casa em jogos para a liga! Ainda assim, não dá para retirar algum peso da responsabilidade à equipa portista, que face à capacidade e diferença de valores, bem pode exigir mais de si própria. Sobre o Porto, há 2 aspectos a realçar: O primeiro é, de novo, a gestão de Villas Boas, nunca prescindindo do seu núcleo duro e da sua estrutura. O segundo, para o facto de, no pós-Benfica, o Porto ter tido 2 exibições com um fulgor bem distante do esperado. Finalmente, sobre o Moreirense, uma pergunta: que impacto emocional pode ter uma derrota como esta? Será interessante acompanhar o percurso imediato da equipa de Casquilha...

- Em Alvalade, não dá para dizer que o Sporting não foi quem mais mereceu a vitória, mas dá para questionar a exibição da equipa. Primeiro, não entendo como Paulo Sérgio pretende construir uma equipa se continuamente altera estrutura e protagonistas - em certos casos, abdicando de elementos em óptimo momento. Face a isto, só seria de espantar se a equipa tivesse uma grande resposta. Depois, referir que esta até pode ser vista como uma das mais confortáveis vitórias da equipa, dado que passou por muito menos sobressaltos do que é costume. O problema é que "controlar" não é algo que este Sporting faça voluntária e conscientemente. Pode acontecer - como aconteceu - mas não resulta de nenhuma estratégia preparada. Se melhor prova faltasse, basta atentar ao último lance do jogo. Aquele que poderia ter complicado de forma dramática a continuidade da equipa na Taça. Uma equipa que quer e sabe controlar o jogo, não pode nunca permitir, nunca, uma transição como a que aconteceu. Nem que, do outro lado, tivessem estado 2 contra o guarda redes! O equilíbrio seria sempre a prioridade. Enfim, importa em tudo isto destacar o demérito do Paços, que fez muito pouco durante 90 minutos. Sobre esse dado, relembro o excelente jogo da equipa na Luz. De lá para cá, e com algumas lesões à mistura, a equipa perdeu claramente o seu momento. A Rui Vitória de nada adiantará as boas exibições numa dada fase se, depois, não for capaz de manter os índices emocionais. Ou as coisas mudam, ou esta equipa arrisca-se a servir de luz ao fundo do túnel para Naval e Portimonense, os fortíssimos candidatos à descida, se nada for feito em contrário.

- Nos restantes jogos, destaco a vitória do Guimarães. Não por ser inesperada - que não foi - mas porque é a terceira consecutiva, que resulta de uma reviravolta. Aliás, das 6 que conseguiu na Liga, a equipa de Machado teve de virar 3. Um número, que embora curto, é raro, importando perceber até que ponto se trata de um acaso...

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19.11.10

Portugal - Espanha: Análise e números

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Um pouco às avessas com aquilo que é normal, a análise do jogo ficou relegada para o fecho do “capítulo Selecção”. Já fui amplamente elogioso em relação à exibição e, por isso, talvez seja melhor começar por salientar outro aspecto. É que, se o jogo descambou para um goleada, nada o fazia supor nos primeiros 35 minutos. Ao contrário do que é muitas vezes sugerido, não me parece que tivesse havido especial demérito da Espanha na primeira parte. A equipa foi igual a si própria, lidando bem com uma pressão fortíssima do meio campo português, quer em termos de circulação, quer em termos de reacção à perda da bola. Na segunda parte, sim, a história é um pouco diferente. Quanto à primeira, o mérito vai 100% para Portugal que acabou por vencer um autêntico duelo de nervos entre a posse espanhola e o pressing português. Aliás, sendo um exercício obviamente especulativo, parece-me improvável que, em Lisboa ou na África do Sul, a resposta dos espanhóis pudesse ser muito diferente daquela que foi dada na primeira parte.

Notas colectivas
A estratégia portuguesa foi completamente diferente daquela que a maioria das equipas optam por escolher frente ao “tiki taka” e, seguramente, muito diferente daquela utilizada por Queiroz no mundial. Um "pressing" colectivo muito forte e feito em toda a área do campo – comprimento e largura. O segredo, e única via para o sucesso, estava em estar sempre junto e em ter uma grande capacidade de reacção ao movimento da bola. Sim, porque a Espanha não iria perder a bola facilmente. Um desafio enorme em termos de concentração e união colectiva e que, repetindo a ideia, forçou um jogo de nervos entre a posse espanhola e o "pressing" luso. Quem iria fraquejar primeiro? A qualidade de circulação espanhola, perante o pressing permanente? Ou a qualidade de ajuste posicional do pressing, perante a óptima e constante circulação?

Não há suspense, todos sabemos qual o resultado, mas importa também dizer que não foi a pouco custo que Portugal o conseguiu. Os espanhóis tentaram de tudo, circulação apoiada, bolas na profundidade (ainda que poucas) e variações de flanco. Portugal foi notável na reacção, conseguindo manter quase sempre uma grande concentração na zona da bola, mesmo quando esta mudava rapidamente a sua posição. “Quase”! É que a Espanha também encontrou os seus buracos, especialmente quando conseguiu levar o jogo até às alas, com a subida dos laterais, encontrou espaços e por pouco não chegou ao golo.

Entendo, por tudo isto, que o demérito espanhol é muito pouco e seguramente muito menor do que aquilo que agora se quer fazer crer. Pelo menos na definição do jogo. A Espanha jogou com o seu melhor 11 e as suas individualidades não estão propriamente num momento de descompressão ou precoce em termos de preparação. É uma equipa que joga junta há anos, muitos deles todos os dias, e que está numa altura de alto rendimento em termos de temporada. A sua resposta, aliás, foi boa, e duvido que qualquer outra equipa tivesse durado tanto tempo perante a qualidade do "pressing" da Selecção portuguesa. A critica que pode ser feita é em termos de reacção à adversidade, quando esta apareceu. Na segunda parte, de facto, houve uma perda de qualidade no jogo colectivo espanhol, sobretudo na qualidade de circulação e reacção à perda, a que não são alheias as substituições. Uma coisa é ter Xavi e Iniesta, outra é não ter. Mas também do lado português houve uma perda de qualidade. Perda de qualidade pelas alterações individuais, e também porque seria impossível manter a intensidade que a equipa revelou nos primeiros 45 minutos.

Como balanço, importa voltar a sublinhar o impacto da entrada de Paulo Bento. Impacto nos níveis de confiança da equipa, que são explicados pelo habitual efeito da “chicotada”, e que foram depois catapultados pelos primeiros resultados positivos. Porque uma coisa é os jogadores acreditarem nas ideias de uma nova liderança, outra é sentirem realmente que essas ideias têm reflexo prático nos seus resultados. E impacto, também, ao nível da qualidade táctica da equipa, porque aquilo que se vê hoje a Selecção fazer está bem a cima do nível geral das Selecções mundiais, não tem nada a ver com a banalidade das estratégias (muitas vezes auto destrutivas) de Queiroz, ou sequer com a “era Scolari”, onde simplesmente não existia estratégia a este nível. O que não dá para afirmar é que Portugal está hoje mais motivado do que no mundial, ou que são os jogadores que estão a marcar a diferença entre Queiroz e Bento. É simplesmente absurdo supor que um jogador se sente mais motivado num particular do que numa fase final de uma campeonato do mundo, apenas por questões de simpatia com o seleccionador. Pelos para mim, é absurdo.

Um potencial problema que pode emergir reside no facto de Portugal ter atingido um pico demasiado cedo. Isto é, o nível que Portugal atingiu frente à Espanha não é superável. Não há adversários mais fortes do que a Espanha e não é possível realisticamente obter melhores resultados do que aquele que tivemos. Ou seja, com tudo ainda por jogar, convém não deixar que este resultado sirva para desactivar níveis de intensidade e ambição.

Notas individuais
João Pereira – Fez um jogo fantástico em termos de intensidade e qualidade. Seria, à partida um dos casos que mais problemáticos, dada a movimentação típica de Villa, mas a forma como a equipa jogou e a sua própria concentração e intensidade fizeram dele um dos jogadores mais assertivos no terreno. Só lhe faltou a parte ofensiva.

Bosingwa – Jogou adaptado e não se pode dizer que se tenha dado mal. Afinal, a Bosingwa não lhe falta experiência no que respeita a adaptações. Ainda assim, é um jogador que oscila entre uma excepcional capacidade física e técnica, com alguns momentos menos prudentes em termos de opção. Nesse aspecto, jogando com o pé direito, à esquerda, pode potenciar alguns passes interiores menos aconselháveis. E isso chegou a acontecer. É uma nota a tirar.

Centrais – O destaque vai para os números de Bruno Alves. Jogou os 90 minutos mas teve um nível de participação baixíssimo. Neste caso, porém, não lhe é devida uma critica especial. Em relação a Pepe e, sobretudo, Carvalho, foi um jogador mais posicional e menos agressivo a jogar em antecipação. Essa característica, combinada com o mérito colectivo que impediu a Espanha de accionar muito poucas vezes a zona dos centrais, fez com que estivesse muito tempo fora do jogo. De resto, cada um ao seu estilo e cada um no seu tempo, Carvalho e Pepe, estiveram esplêndidos (destacando ainda assim o papel de Carvalho na primeira parte, importante no papel táctico de cortar o espaço entre linhas).

Meireles – Um jogo fantástico do “pivot”. Teve uma missão especialmente próxima dos médios, formando um bloco intermédio que bloqueava a zona central. Muitas vezes formou mesmo uma linha com Moutinho e Martins, mas pôde também ler o jogo de trás, ajustar posicionamentos, antecipar, preparar o momento da perda... Enfim, um jogo tacticamente excelente, com a particularidade de ter dado, com bola, uma certeza fundamental na sua zona.

Moutinho – Será um dos maiores destaques do jogo, pelo papel táctico que teve, e por ter sido, desta vez, determinante ofensivamente. Já muito se falou dele e da sua cultura táctica e, de facto, não há muito a acrescentar a cada exbição que faz. O rigor é sempre o mesmo, a fiabilidade também, o que varia é a inspiração - e a oportunidade para tal - ofensiva.

Martins – Este era um bom teste para ele. Isto porque é um jogador que tem alguma dificuldade em termos defensivos. Não parece gostar muito de defender e, sobretudo, não tem uma grande percepção táctica em termos defensivos, o que faz com que a sua reacção posicional nem sempre seja tão rápida como devia. Neste desafio, de correr mais sem bola do que com ela, esteve muito bem e acabou por ser o protagonista de algumas intercepções decisivas.

Nani – Fica marcado pelo lance de Ronaldo e é óbvio que deve ser censurado pela opção que tomou. A questão é que a reacção não é tão anormal quanto isso em ambiente de jogo, e talvez o próprio Ronaldo fizesse o mesmo. De resto, e à parte de outro chapéu displicente que tentou, fez um grande jogo, provando de novo que é um dos melhores extremos do futebol mundial.

Ronaldo – A sua utilidade táctica e técnica combinam agora para que seja, quase sempre e enquanto está em campo, o maior dos destaques. Porque é que Ronaldo não chuta agora de 40 metros? Porque é que parece um jogador muito mais útil em todos os momentos? Porque é que não está tão ansioso em fazer tudo sozinho? O que mudou não foi Ronaldo, o que mudou foi a Selecção. Afinal, aquilo que sempre foi óbvio e que sempre fui escrevendo. O problema nunca foi Ronaldo, mas sim a envolvente...

Postiga – Fez um jogo importante em termos tácticos, orientando o “pressing”. Não é um jogador muito agressivo nessa tarefa, mas quando a equipa tem um propósito colectivo, torna-se também ele um jogador integrado e útil sem bola. De resto, os golos fazem-lhe bem. A ele, como a qualquer avançado, mas ele especialmente.

Manuel Fernandes – Acho-o um jogador de tremendo potencial e havia feito bons jogos no ciclo terrível que terminou com a saída de Queiroz. O problema de Manuel Fernandes é o risco que assume no meio campo e alguma displicência em que cai com facilidade. Sempre foi e provavelmente sempre será o seu pecado. Por alguma coisa perdeu um passe que deu transição para ataque rápido, na fase dos “olés”. Gostaria de o ver numa fase de outra organização e intensidade colectiva como aquela a que assistimos na primeira parte.



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18.11.10

Portugal - Espanha: O mérito devido de uma lição táctica

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Irei regressar com outros pontos de análise, inclusive a componente individual, mas julgo ser de inteira justiça começar por aqui, porque é aqui que reside a enorme e súbita diferença entre o passado e o presente da Selecção.

Nos primeiros triunfos da “era Bento”, o diagnóstico foi consensual. Salientou-se o demérito do seu antecessor, porque Paulo Bento apenas simplificara as coisas, criou empatia com os jogadores e escolheu os melhores. Simples, não é? Pois é, mas ninguém dá um “correctivo” destes numa equipa com a qualidade da Selecção espanhola, apenas por “dar moral” e “escolher os melhores”. Lamento.

O outro motivo a que ninguém – por ignorância ou negação – parece querer dar crédito a esta equipa é de ordem táctica, e vem na sequência daquilo que já se vira logo no jogo com a Dinamarca – e como me esforcei para o salientar! Ontem, de novo, uma lição táctica perante aquele que era, provavelmente o mais difícil dos adversários para o fazer. O resultado foi quase perfeito, soberbo!

Será interessante, para quem queira perceber, ver a forma como Portugal pressionou em todo o campo, como desafiou colectivamente o “tiki-taka” e, com organização, atitude e perseverança, acabou por aniquila-lo em 45 minutos. Será interessante comparar isso com o banal “ferrolho” do Mundial, ou mesmo com qualquer uma das “eras” anteriores.

Ontem, foi provavelmente a melhor exibição que vi a Selecção fazer. Porque teve a inspiração de grandes jogadores, mas porque teve também teve uma enorme liderança por trás. No plano motivacional e táctico. Foi a Selecção com que há muito sonhava e só espero que não acabe aqui. "Don't stop", portanto.

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17.11.10

Portugal de brilho e história (Breves)

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Pensava - e escrevi-o antes - que éramos favoritos para este jogo. Agora, nunca esperava 4-0 e, obviamente, será muito difícil alguma vez tal resultado se repetir. Mas não foi só o resultado. Esta foi uma das melhores exibições da história da Selecção, havendo muito bem mais do que os 4 golos marcados. Voltarei ao tema com uma análise mais detalhada, mas não quero deixar de expressar a minha enorme satisfação por aquilo a que assistimos. Porque acredito - e sempre o afirmei - que Portugal tem um potencial extraordinário e ao nível das melhores selecções do mundo, e porque acreditei - afirmando-o também - que o impacto de Paulo Bento iria servir para aproximar, talvez como nunca, a equipa desse valor. Pena é que esta vitória histórica não dê pontos, porque o apuramento está tudo menos garantido.

já agora, relembro este vídeo:

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16.11.10

Benfica - Naval: Análise e números

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“Foi um bom espectáculo”. A frase é empregue frequentemente mas nem sempre com a justiça com que este jogo a mereceu. Um “bom espectáculo” não quer dizer forçosamente que tenha sido um “bom jogo”, ou que o seu interesse tenha sido por aí além. Enfim, será mais uma questão de gosto do que outra coisa. A mim, pessoalmente, interessa-me mais o critério, a estratégia e racionalidade colectiva. Também gosto mais do espectáculo, claro, mas quando este resulta do mérito e não tanto de algum desleixo na abordagem que é feita ao jogo. E esse foi, a meu ver, um pouco o caso deste Benfica-Naval. Um “bom espectáculo”, muito mais do que um “bom jogo”. No fim, ganhou o Benfica e por larga diferença. Uma diferença que se justifica pelo volume ofensivo, mas que poderia ter sido atenuada com um golo que a Naval também não deixou de justificar.

Notas colectivas
Como se explica então o ritmo de parada e resposta que se viu durante muito tempo, nomeadamente na primeira parte? Sem tirar mérito – que o houve – às acções ofensivas, há que falar daquilo que as defensas não fizeram. Isto porque, se a Naval tem aspirações de retirar pontos a um “grande”, não pode cometer tantos erros na sua linha mais recuada e, por outro lado, o próprio Benfica não pode esperar deixar de passar por sobressaltos se não se acautelar melhor defensivamente.

Em relação ao Benfica, já acontecera a mesma situação com o Paços, que também conseguira um número de finalizações elevadíssimo na Luz. Desta vez a origem não é exactamente a mesma, porque o Paços conseguira impedir o Benfica de sair a jogar através de um pressing mais alto que forçou o Benfica a bater bolas longas e a disputar um jogo mais físico no meio campo. Desta vez, a origem não se repetiu mas o “meio” foi o mesmo.

Ou seja, o Benfica foi, é e continuará a ser uma tacticamente forte. Muito forte, mesmo. Posiciona-se muito bem em todos os momentos e reage rapidamente a todas as mudanças de situação no jogo. O problema é que o modelo de Jesus é bastante exigente porque arrisca sempre muito quando em posse da bola. Opta por uma circulação muito vertical e não hesita em colocar muita gente nos processos ofensivos. Neste sentido, o maior problema desta época – como várias, e várias vezes tentei explicar – está na segurança do passe na zona de construção. Ou seja, perdendo a bola em zona não muito alta, torna-se muito difícil lidar com a transição ataque-defesa, mesmo se a reacção colectiva me parece francamente boa após a perda. Foi isso que custou derrotas como as da Supertaça, de Guimarães, frente a Schalke ou Lyon.

Contra a Naval isso não aconteceu com especial frequência ou gravidade, mas houve alguma displicência na forma como a equipa defendeu, empregando pouca agressividade em duelos individuais que, sendo sucessivamente perdidos, abriram caminho às ocasiões que todos observamos na primeira parte do jogo.

Quanto à Naval, para além de ter permitido muitas ocasiões por parte do Benfica – normalmente uma goleada resulta de uma eficácia assinalável, mas este nem foi um desses casos – permitiu também que essas ocasiões fossem bastante claras. Para comprová-lo basta atentar a este dado: enquanto que no campeonato, o Benfica leva apenas, e média, 40% das suas finalizações à baliza, neste jogo 15 em 20 (75%) tiveram esse desfecho. De assinalar os inúmeros erros que a equipa cometeu no seu último terço, em particular na sua última linha defensiva.

Notas individuais
Coentrão – Não se pode dizer que tenha jogado mal, mas foi uma actuação francamente modesta e discreta para as suas potencialidades, e num jogo que tinha tudo para conseguir outro protagonismo. Pode ser coincidência, mas é impossível deixar de constatar que tal acontece no primeiro jogo após a hecatombe do Dragão.

David Luiz – Ao contrário do que aconteceu no Dragão, creio que a sua actuação deve ser censurada. A forma como abordou os duelos com Fábio Junior foi displicente e custou-lhe a perda de algumas situações proibidas e desnecessárias. Parece desleixo, e parece também estranho porque o aviso sobre a qualidade de Fábio Júnior já vinha do ano anterior.

Airton – Foi o jogador com mais passes completados, com mais intercepções e com maior % de passe da equipa. Um feito que Javi Garcia, nas 10 utilizações como titular nunca havia conseguido. Aliás, Garcia só por 2 vezes fez mais passes do que Airton neste jogo, e em nenhuma ocasião conseguiu tantas intercepções. O espanhol entenderá melhor o modelo e terá uma melhor noção posicional, mas não é, nem tão reactivo, nem tão forte nos duelos individuais, nem tão pouco tão certo no passe como Airton (apesar deste ter cometido 2 erros a este nível). Não digo que Airton só tenha vantagens, ou que o Benfica esteja mal servido com Javi, mas creio – já de há algum tempo, e com sucessivo reforço dessa ideia – que é o brasileiro quem garante melhor rendimento no desempenho do lugar.

Aimar – Fez provavelmente o seu melhor jogo no campeonato. Isto, porque o número de desequilíbrios que criou é incomparável com qualquer outra actuação na prova, ficando a dever a si próprio pelo menos 1 golo, que só por manifesta infelicidade não aconteceu. Ainda assim tenho uma critica a apontar-lhe. 60% de sequência em todas as posses que teve é muito pouco para quem joga ao longo de todo o corredor central. Aimar pode e deve trabalhar melhor o critério quando baixa para zonas onde o risco deve ser menor. E isso, assinale-se, já lhe custou, a ele e à equipa, alguns dissabores esta época.

Gaitan – Tivesse Gaitan outro nome e outra reputação e teria feito todas as manchetes do dia seguinte. Isto porque a sua exibição foi simplesmente estrondosa. Marcou 2 excelentes golos e ainda participou num total de 6(!) desequilíbrios da equipa. Para além disso, evitou erros que vinha comentendo em posse e teve um desempenho defensivo bastante bom, o melhor dos 5 jogadores mais ofensivos. Aliás, sobre isto importa dizer que Gaitan não é um jogador especialmente agressivo e, por exemplo, não consegue ser muito útil num pressing mais alto. Mas, por outro lado, é um jogador que se posiciona bem tacticamente e que tem esse sentido de responsabilidade colectivo. O seu maior problema, a meu ver, é a decisão em posse em zonas mais atrasadas, onde ainda arrisca demasiado e onde já perdeu demasiadas bolas nesta temporada.

Salvio – É mais agressivo do que Gaitan, está a melhorar claramente, mas sente mais dificuldades em termos tácticos. Porquê? Porque Salvio sempre foi um jogador de último terço, mais avançado do que médio, com menos responsabilidades tácticas e sem a necessidade de decidir com frequência a 50 metros da baliza. Nem na Argentina, nem no pouco tempo em que esteve no Atlético. Mas – repito – dê-se-lhe tempo...

Kardec – Marcou um golo e, mesmo se continuou ausente das dinâmicas da equipa, foi muito útil nas primeiras bolas, onde a Naval sentiu dificuldades. Para fazer o que Cardozo fez no campeonato até à lesão (derbi à parte) chega e sobra. Mas isso também não é propriamente um elogio...



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15.11.10

Académica - Sporting: análise e números

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Porque ganhou o Sporting em Coimbra? Será seguramente uma análise redutora, mas escolheria 3 tópicos para a resposta. Porque a sua maior qualidade individual marcou a diferença. Porque teve espírito de sacrifício para se bater pela vantagem. Porque, finalmente, não lhe faltou a ponta de sorte que é sempre essencial em jogos equilibrados como este. Enfim, foi uma vitória que considero “normal”, mas nem altamente provável, nem propriamente justa. Digo-o sobretudo pela Académica que me parece ter feito um excelente jogo.

Notas colectivas
Emocionalmente, o jogo teve períodos obviamente dispares. Na primeira parte, o Sporting conseguiu vantagem e foi sempre a equipa mais confiante e que esteve mais perto do golo. Na segunda, o contrário. Há, no entanto, um denominador que esteve sempre em bases comuns durante os 90 minutos. Nunca, em nenhum momento, o Sporting foi uma equipa dominadora. Ou seja, nunca – como fez em tantos outros jogos – conseguiu ter posse continuada, relegando a Académica para um jogo de expectativa. Nunca, por incapacidade própria, mas também por mérito da Briosa.

É-me difícil quantificar o peso de certos factores na explicação desta inesperada tendência – como a ausência de Maniche, por exemplo – mas há outros que ficaram bem claros durante o jogo. Primeiro, o “pressing” sobre a primeira fase de construção. Não é de hoje que o digo, mas o Sporting tem este aspecto muito mal trabalhado em termos colectivos e em Coimbra isso foi bastante claro. A Académica conseguiu quase sempre sair a jogar em apoio, e a recuperação alta do Sporting produziu efeitos quase nulos. É curioso observar que, do outro lado, o mesmo não se passou. Ou seja, Carriço e Polga tiveram de bater mais vezes a bola por falta de apoios do que os centrais da Académica (Orlando e Berger fizeram mais passes e com muito maior % de sucesso do que Polga e Carriço). Portanto, nem o Sporting pressionou com qualidade suficiente, nem conseguiu uma circulação na primeira fase que lhe permitisse sair com mais qualidade a jogar. E isto desde o 1º minuto de jogo.

Houve no jogo uma 'nuance' curiosa, introduzida por Paulo Sérgio. Numa semana em que se falou muito da marcação individualizada movida a Hulk pelo Benfica, houve uma intenção estratégica de colocar 1 dos médios defensivos – normalmente Zapater – a jogar muito próximo de Evaldo, criando situações de 2x1 sobre Sougou, a grande ameaça em termos individuais na Académica. Ora, mesmo nem sempre revelando um posicionamento colectivo muito correcto, esta preocupação acabou por se revelar muito importante durante boa parte do jogo. Isto, porque a Académica insistiu quase sempre nesse flanco para atacar. Seria, mais tarde, quando apostou também no flanco esquerdo que os “estudantes” encontrariam situações de maior perigo para a baliza do Sporting. Aliás, exacerbando alguns detalhes decisivos do jogo, pode até dizer-se que o Sporting ganhou o jogo no corredor esquerdo.

Nota também sobre a Académica. É impressionante como as equipas espelham tão fielmente a mentalidade dos seus líderes e, nesse aspecto, há poucas lideranças tão características como a de Jorge Costa. As suas equipas nunca dão os jogos por perdidos, mas, por vezes, também os perdem quando os pareciam ter ganho. 2-2 é um empate característico de Jorge Costa e por pouco não acontecia de novo. Fora esta peculiaridade, importa dizer que a Académica fez um excelente jogo, impressionando especialmente (e surpreendendo-me, confesso) pela qualidade que revelou na sua circulação.

Notas individuais
Patrício – Fez uma defesa fantástica, esteticamente deliciosa. Não costumo comentar muito os guarda redes, porque há sempre grandes exageros na avaliação que é geralmente feita, ou pela positiva, ou pela negativa. Ou seja, não é pela exibição mas pela carreira que faço esta referência. Faço-o para dizer, fundamentalmente, que o Sporting fez uma aposta continuada e sólida num jovem e que tem hoje tudo para dar certo. Não há muitos guarda redes no mundo que na sua geração sejam melhores do que ele e se o Sporting o souber valorizar, poderá tirar frutos durante vários anos desta aposta.

Polga – É um aspecto que se tornou claro quando comecei a fazer estatísticas individuais. Polga ganha mais bolas pelo seu posicionamento do que qualquer outro central no futebol português. De cabeça ou pelo ar. Importa também dizer que era ele quem marcava Miguel Fidalgo no lance do golo (ainda que não tenha sido o único a sentir dificuldades nesse lance).

Zapater – Fez provavelmente o melhor jogo desde que chegou ao Sporting. Não combina a qualidade e a intensidade de Maniche – mas isso, em Portugal, ninguém faz – mas apresentou um rendimento excelente, sendo o jogador da equipa que mais passes completou e o médio que mais recuperações conseguiu. O seu maior problema, a meu ver, é alguma vulnerabilidade em construção, o que o leva a ter perdas de bola perigosas com demasiada frequência. Mas, neste jogo, isso também não foi um problema.

Valdés – É impressionante a viragem deste jogador desde que começou a jogar no meio. Não é uma questão estética, mas objectiva. De rendimento. Valdés agradava mas em desequilíbrios concretos tinha uma participação quase nula. Agora, mais solto, desequilibra (esteve nos 4 da equipa!), assiste e marca. A lesão de Matias pode até ter sido a melhor coisa que lhe aconteceu na carreira...



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As esperadas vitórias de Porto e Benfica (Breves)

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- Na Luz, o risco era a hipótese de uma contrariedade no jogo. A Naval conseguir um golo antes do Benfica, por exemplo. Não aconteceu e, sendo assim, nem o Benfica teve de superar essa prova mental, nem o jogo teve alguma surpresa no seu desfecho. Em relação ao jogo, é de destacar, sem dúvida, o elevado número de remates, sendo, ainda para mais, que as 36 finalizações ao longo dos 90 minutos tiveram uma divisão perfeitamente repartida. Divertido bem mais para quem viu do que para quem viveu o jogo por dentro. Ou seja, os treinadores. Porquê? Porque nem a Naval pode pensar em levar pontos da Luz defendendo como defendeu, nem o Benfica pode pensar em deixar de perder pontos se não conseguir controlar melhor o jogo e o adversário - lembro que não é situação nova, já com o Paços de Ferreira foram permitidas inúmeras finalizações. Finalmente, nota para Gaitan e Salvio. Vou aproveitar o momento para reafirmar algo que venho dizendo: são 2 jogadores de talento raro para a sua idade. Queira e saiba o Benfica dar-lhes tempo (no caso de Salvio, implica investimento) e terá, mais tarde ou mais cedo, uma dupla de desequilibradores de respeito.

- No Dragão, ainda deu para saltar da cadeira no inicio da segunda parte, quando o Portimonense ameaçou o empate. É claro que os níveis de motivação não podem ser os mesmos perante todos os adversários e, se é óbvio que ninguém relaxa voluntariamente com um resultado tangencial, não menos óbvio será que o subconsciente se encarregará de boa parte desse trabalho. No fundo, é o desafio que tinha antecipado depois do clássico: a necessidade de manter níveis de intensidade sem a ajuda preciosa que traz a pressão, dita, positiva.

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14.11.10

O triunfo leonino em Coimbra e o derbi minhoto (Breves)

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- Foi uma vitória importante para o Sporting e, muito especialmente, para Paulo Sérgio. Não é minimamente liquido, em face da tabela e do calendário, em que posição a equipa vai estar no final da 1ªvolta mas, pelo menos, estes pontos prolongam a esperança de uma posição mais condigna com as metas definidas. Quanto ao jogo, o Sporting começou de "smoking" e acabou em trapos. Há vários pontos a abordar: a própria réplica da Académica, a rara dificuldade do meio campo na segunda parte, o efeito desequilibrador de Vukcevic-Valdes ou questionável manutenção de Postiga, pela segunda vez consecutiva, quando o jogo nada tem a ver com as suas características. Tudo coisas que guardo para depois de uma análise mais detalhada...

- Sou um fã do derbi minhoto e aproveito para fazer um desvio ao essencial para dizer que o futebol português precisa desta vida "extra grandes", mais do que 2 fim de semanas por ano. O que acontece é que o jogo teve tanto de intensidade emocional como de pouca proximidade com o golo. É quase um feito um jogo como este ter tido 3 golos, tão poucas oportunidades foram criadas. Venceu o Vitória, num desfecho que entendia ser o mais provável. Porquê? Momento. No futebol, e dentro de um determinado patamar competitivo, o momento é quase tudo na definição dos vencedores. As equipas que o encontram dificilmente fazem más épocas e o contrário acontece com aquelas que não o conseguem encontrar. Haveria inúmeros exemplos que poderia citar, mas prefiro deixar 1 pergunta que, sendo 100% especulativa, creio responder bem à questão que quero abordar: Quais as hipóteses do Braga do ano anterior perder uma vantagem como aquela que desta vez conseguiu conquistar no Afonso Henriques?

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13.11.10

O "Rivaldo colombiano" (Giovanni Moreno)

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Não é a primeira vez que o referencio, mas agora dou-lhe outro destaque, depois de o ter observado mais cautelosamente. É um talento raro pelas suas características. Fisicamente tem todas as semelhanças com Oscar Cardozo, mas, na realidade, é um criativo, canhoto e muito forte tecnicamente. Fala-se muito de jovens revelações do futebol argentino, mas o mais entusiasmante jogador do Torneo Apertura, tem 24 anos, é colombiano e, segundo consta, foi oferecido aos "grandes" portugueses no Verão (já deve custar o dobro). Chama-se Giovanni Moreno.

Já agora, nos 3 jogos que observei, destacou-se pela invulgar criatividade e capacidade de desequilíbrio, mas também pela boa % posse que teve, numa liga onde é raro vermos jogadas com mais de 5 passes. O problema de Moreno é que para vingar na Europa precisa de alguma adaptação táctica e, estranhamente, só saiu da Colombia com 24 anos. Se vai triunfar ao mais alto nível, não é certo, mas... que é "craque", isso não há dúvidas.


Jogos observados: 3
Minutos: 258
Passes Completados p/jogo: 29
% posse: 70%
Intercepções p/jogo: 10
Perdas p/jogo: 0,7
Desequilíbrios ofensivos p/jogo: 2,4
Remates p/jogo: 5,6
Assistências p/jogo: -
Golos p/jogo: 1,0
Classificação média: 7,3

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11.11.10

Sporting - Guimarães: Análise e números

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O jogo tem 90 minutos mas, neste caso, tudo se torna irrelevante perante aquilo a que assistimos no derradeiro quarto de hora. Para se ter uma noção, a probabilidade teórica de acontecer uma reviravolta como aquela que o Vitória protagonizou – mesmo considerando a inferioridade numérica do Sporting – seria de qualquer coisa como 0,3%. É cerca de 1 em mais de 300 jogos, 3 vezes menos provável do que o Porto bater o Benfica por 5 golos. É aquilo que Taleb apelidou de “Black Swan” (cisne preto), no seu livro com o mesmo nome. A pergunta que fica é se se tratou apenas de uma estranha coincidência ou se, como identifica o próprio Taleb na sua teoria, mais uma vez o factor humano deitou por terra os padrões expectáveis da “normalidade”. Adivinhem para qual das hipóteses eu me inclino mais...

Notas colectivas
De facto, e como referi no comentário “breve” que deixei depois do jogo, o curso da partida surpreendeu-me. Esperava um Vitória muito melhor e capaz de potenciar muito mais problemas. Esperava um bloco defensivo mais fechado e difícil de ultrapassar e uma transição defesa-ataque pronta a soltar muita gente em ataque rápido. O jogo típico das equipas de Machado neste tipo de embates.

Mas não aconteceu. O Sporting esteve bem, embora não começando de forma esplêndida. Teve Vukcevic e Valdés muito inspirados e um João Pereira eléctrico, acabando por conseguir um golo que começou a inclinar muito a balança do jogo. O Vitória sentiu o golpe, começou a decidir mal com bola e, sem ela, tornou-se estranhamente permeável às cavalgadas dos jogadores do Sporting que iam furando o bloco defensivo contrário. Com o 2-0 a coisa ainda se agravou mais e entendo que o pior momento do Vitória terá sido mesmo no quarto de hora final da primeira parte. A equipa ficou à deriva perante um Sporting muito confiante, mas que acabou por, também ele, ser benévolo. Isto é, não é que o Sporting tenha criado muitas oportunidades claras nesse período, mas teve um volume de jogo enorme, encontrando permanentes facilidades em chegar ao último terço. Justificava-se um pouco mais de acutilância para chegar a um golo que não aconteceu.

Depois, a segunda parte. Não era preciso muito para o Sporting confirmar os 3 pontos. Obviamente. Mas foi também nesse momento que se viu a pouca lucidez e capacidade da equipa para reagir de acordo com as diferentes situações com o jogo lhe oferece. Não que tivesse havido uma grande reacção do Vitória. A equipa de Machado apenas se recompôs emocionalmente ao intervalo, corrigindo o desnorte com que havia finalizado a primeira parte. O golo nunca esteve especialmente eminente por parte do Vitória, mas o Sporting permitiu sempre um jogo esticado e a um ritmo que só interessaria a quem precisava de ver mais golos no jogo. Isto, até ao tal quarto de hora final.

A expulsão de Maniche é apenas um dado a acrescentar àquele que considero ter sido verdadeiramente o catalisador do deslize leonino: o primeiro golo. Foi realmente a partir daí que o Sporting se perdeu por completo como equipa, permitindo logo de seguida o empate e ainda o impensável terceiro golo, numa transição, essa sim característica das equipas de Machado.

Sobre o Sporting, há 2 coisas a concluir da segunda parte. A primeira, em termos tácticos, é que esta equipa parece apenas preparada para jogar quando precisa de golos. Quando está numa situação favorável, não sabe gerir o jogo, não sabe utilizar o espaço em transição ou uma posse mais especulativa, baixando ritmos e tempos de jogo. A segunda conclusão é mais grave. Qualquer equipa precisa de ser forte psicologicamente, de ter confiança na sua proposta e nas suas potencialidades. É isso – não canso de repetir – que distingue as equipas de grande sucesso, das outras. O que aconteceu nos últimos 15 minutos foi a evidência de que a confiança desta equipa é tão sólida como qualquer castelo de cartas.

Sobre o Vitória, importa dizer que, embora continue sem deslumbrar ninguém, Machado está a fazer um excelente campeonato em termos pontuais e prepara-se realmente para discutir um lugar com o Sporting, possivelmente mesmo até ao fim da prova. O jogo com o Braga será mais uma etapa importante na afirmação do estatuto da equipa na tabela. Importa dizer que, se o Vitória não teve um grande desempenho na primeira parte e contou também com grande eficácia na parte final, também não lhe pode ser retirado qualquer mérito na reviravolta. É que, ao contrário do Sporting, o Vitória – por mérito de Machado – sabe bem interpretar as diferentes fases do jogo e reagir de acordo com aquilo que elas pedem à equipa. E isso é meio caminho andado.

Notas individuais
Centrais – A nota que quero deixar não tanto a ver com o rendimento dos 2 jogadores neste jogo, mas com a gestão que entendo dever ser feita. Ou seja, nesta altura já devia estar claro que os problemas do Sporting não passam por questões individuais. Mais importante do que descobrir quem é melhor do que quem, é potenciar o rendimento colectivo dos jogadores e para isso é preciso dar-lhes confiança. Paulo Sérgio, em minha opinião, ganharia em eleger 1 dupla de centrais e dar-lhe tempo. Tem um bom exemplo no Porto, onde a qualidade individual nesta posição não é, em meu entender, superior à do Sporting.

André Santos – Também não vou comentar especificamente este jogo, que não foi um dos seus melhores – embora tenha sido vitima do jogo pouco pensado da equipa, sendo que o Sporting fez muito menos passes do que normalmente faz. O ponto serve apenas para referir que André Santos, embora com alguns pontos onde pode e deve melhorar, é já uma aposta ganha do Sporting. Um jogador que garante melhor rendimento do que Zapater, por exemplo.

Maniche – Para além da expulsão estava a fazer um jogo abaixo do que lhe é habitual – com as mesmas atenuantes que André Santos. Ainda assim estava tudo menos a jogar mal. Maniche é agora o novo responsável pelos problemas do Sporting. O seu excesso de agressividade não é de hoje e não será no Sporting que ele se vai corrigir. Queira o Sporting que esse seja o seu único mal e que o seu rendimento se mantenha como até aqui. Queira, já agora, também que não se cometa o erro de agravar ainda mais o mal que está feito. Ou seja, se o Sporting decidir penalizar desportivamente Maniche poderá pagar caro por isso. Repito que Maniche é o melhor jogador do Sporting nesta época e com alguma distância e não tenho a certeza até que ponto a sua ausência pode mesmo ser decisiva. Vamos ver já em Coimbra.

João Pereira – Fez um jogo pleno de intensidade, correu quilómetros a uma intensidade tremenda, criou lances de golo, recuperou e deu quase sempre boa sequência às jogadas que passaram por ele. O problema é o “quase”. É que as (poucas) bolas que perdeu tiveram consequências...

Valdés – Paulo Sérgio pode ter aberto uma nova era na carreira de Valdés. E não me refiro apenas à sua passagem no Sporting. A sua capacidade técnica é invulgar, como é fácil de ver. O que aconteceu tantas vezes foi que o chileno, jogando na ala, pouca ou nenhuma consequência dava ao seu futebol. Jogando mais perto da baliza parece tornar-se muito mais perigoso. Primeiro, porque sendo difícil de lhe tirar a bola, quando a tem perto da baliza, o problema torna-se muito maior para quem defende. Depois, porque ao contrário do que acontece com a maioria dos extremos, Valdés revela uma notável capacidade para se mover ao longo de toda a largura do campo.



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10.11.10

Porto - Benfica: lances decisivos (Vídeo)

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O vídeo pretende ser auto explicativo, pelo que não me vou alongar em muitos detalhes. Apenas reforçar alguns pontos:

- No primeiro golo, para além do isolamento de David Luiz, há uma lentidão enorme na reacção de Sidnei. Veja-se o espaço que Hulk percorre, desde o arranque até à altura do cruzamento.

- No segundo golo, para além de nova descompensação defensiva, destaco a descoordenação absolutamente atípica na linha defensiva do Benfica, com Sidnei a tentar, sozinho e sem qualquer acompanhamento dos restantes defensores, o fora de jogo de Belluschi.

- No terceiro golo, a demora de Coentrão a chegar a Sapunaru. Em 4-4-2 clássico, a primeira linha do pressing do Benfica é menos agressiva (algo que não escrevi ontem). Depois o movimento de Belluschi - de novo sobre a direita - a atacar a profundidade perante o Benfica, normalmente muito forte no fora de jogo. Não sei se foi intencional ou se saiu da inspiração dos jogadores, mas resultou muito bem a complementaridade de movimentos entre Belluschi e Falcao/Hulk.

- Em tudo, e em todo o jogo, um diferença enorme de confiança na execução, quer técnica, quer táctica dos jogadores. A eficácia do Porto contrasta com o desacerto do Benfica, bem espelhada nos pontapés de canto.

- Pegando no último ponto: porque não poupou Villas Boas a maioria dos titulares no jogo com o Besiktas?

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9.11.10

Porto - Benfica: Análise e números

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(carregar na imagem para ver separadamente)
A emotividade que o próprio jogo acarreta conduz sempre a uma exacerbação da análise que é feita à posteriori. Tudo em função daquilo que, afinal, é o que mais importa para todos: o resultado. Neste caso, “baile”, “banho”, “vergonha” ou “incompetência”, são palavras que, ora pela positiva, ora pela negativa, surgem com frequência no léxico do pós-jogo, mas que são muito mais o reflexo de um sentimento final do que da síntese objectiva do jogo em si. Quero eu com isto dizer que a goleada portista surge como consequência de um jogo excepecionalmente perfeito de uma das equipas, perante a impotência da outra. “Perfeito”, não por um eventual massacre, mas, “perfeito”, pela ausência quase total de erros e pela eficácia plena no aproveitamento ofensivo. “Impotência”, não por um demérito extremo, mas, “impotência”, por uma incapacidade, até certo ponto normal, de contrariar a força do adversário. Porque, se foi seguramente o pior resultado da equipa, este está longe de ter sido jogo menos conseguido que o Benfica fez.


Notas colectivas: Porto
A palavra “perfeição” ajusta-se na plenitude à exibição. O plano de jogo foi cumprido à risca, como muito raramente acontece. O objectivo, claro, nunca é golear, mas ganhar de forma controlada. O Porto goleou porque foi excepcionalmente eficaz, mas nunca perdeu o controlo do jogo e do adversário. Nem no inicio, quando as coisas ainda estavam iguais. Nem no meio, quando o Benfica ainda pensava reagir. Nem, tão pouco, no segundo tempo, quando, com o jogo “no bolso”, poderia haver alguma tendência para o facilitismo. Por tudo isto, digo que foi perfeito.

Podemos falar dos aspectos tácticos, e eu já várias vezes o fiz. Na forma como a
equipa procurou neutralizar o adversário com uma zona de pressão concentrada, agressiva e densa, que partia da linha média, mas que crescia no campo. Com uma primeira fase do pressing que tentava orientar e facilitar o trabalho dos recuperadores. Com uma transição preparada a partir dessa zona de recuperação e que potenciava os desequilibradores da equipa. Com Sapunaru mais prudente, mantendo equilíbrios no corredor quando em posse. Com Belluschi a colmatar a prudência do lateral e a ser o elemento de desequilíbrio junto de Hulk. Com uma posse paciente e confiante, capaz de decidir bem e envolver com segurança a primeira linha de pressão do Benfica.

Podemos falar de tudo isto, mas o aspecto que mais quero destacar é o aspecto emocional. A equipa vem sendo consecutivamente trabalhada neste aspecto por Villas Boas, desde o inicio de época. Mais do que aspectos físicos ou delírios tácticos, Villas Boas tem gerido meticulosamente os índices mentais dos jogadores e da equipa. O reforço consecutivo da equipa e dos protagonistas na sua proposta de jogo conduziu a um crescendo de confiança que, em combinação com a qualidade e o talento, fazem desta uma equipa altamente lúcida e capaz de interpretar com grande segurança todos os momentos de jogo. Uma equipa, também, e por consequência, anormalmente eficaz no aproveitamento das situações que cria no jogo.

O Porto goleou e transformou-se rapidamente na melhor equipa do país, muito pela confiança que soube adquirir e cultivar. Hoje tira partido disso e, se a souber continuar a trabalhar e valorizar, não é de excluir a hipótese de uma “limpeza” de títulos esta temporada.

Notas colectivas: Benfica
Tal como havia antevisto, Jesus mexeu, como gosta de mexer nestes jogos. Manteve o 4-4-2 clássico com que vencera o Lyon e, também algo previsivelmente, recompôs a ala esquerda e escolheu 1, entre Saviola e Aimar. Seria uma “vitória táctica”, se tivesse corrido bem, ninguém duvide. Assim, como aconteceu tudo ao contrário, Jesus é, por estes dias, uma das pessoas que menos percebe de futebol em Portugal.

Vamos por partes. Começando pelo flanco esquerdo, creio que se justificava uma óbvia preocupação com Hulk e, noutras circunstâncias, não seria descabido utilizar David Luiz à esquerda. O ponto é que, por um lado, era preciso ter cautelas na exposição em transição e, por outro, era óbvio que a capacidade individual de Hulk mereceria cautelas especiais, mesmo em ataque organizado. O erro está muito mais na forma como se tentou parar Hulk do que na escolha dos protagonistas. Ou seja, Hulk teria de ser parado zonalmente e não individualmente. Com situações de cobertura defensiva e não pela crença numa performance heróica no duelo individual.

O grande problema da utilização de David Luiz não está em alguma perda de capacidade de resposta defensiva em relação a Coentrão. Está, isso sim, naquilo que implicaria por arrasto. Ou seja, mexer de mais, noutra zona da defesa, e mexer num jogador que tem um peso relevante na forma de jogar da equipa, em todos os seus momentos. Porque, de resto, percebe-se a preocupação de Jesus em termos individuais. Ou seja, “prender” Coentrão seria perder uma mais valia ofensiva. O facto – e isto é muito mais fácil de ver depois – é que perdeu David Luiz e acabou por perder também o próprio Coentrão, que fez um jogo péssimo.

Quanto ao resto, ao 4-4-2 clássico e à opção de deixar Saviola de fora, sou critico sobretudo em relação à opção individual. Saviola é o jogador que mais problemas cria em termos de movimentação e, mesmo se vem caindo em termos de confiança e rendimento técnico, está longe de ser um elemento discutível no onze. Manter um elemento com as características de Kardec/Cardozo e retirar um elemento mais criativo é uma opção que acho discutível mas que há muito faz parte da filosofia de Jesus. O Benfica já se deu muito bem com isso e não acho intelectualmente honesto que seja agora crucificado por isso.

Importa dizer, com tudo isto, que o Benfica fez um jogo bem menos errático do que na Supertaça, em Guimarães ou em Lyon. Foi goleado porque, simplesmente, encontrou do outro lado uma equipa inabalável mentalmente e que puniu todos os erros que provocou. Como disse no inicio, este esteve longe de ser o jogo menos conseguido da equipa.

Por fim, discordar de uma ideia que agora vem sendo muito passada, com o habitual exagero destas alturas. Diz-se que o Benfica jogou em função do Porto, mas essa critica tem de definir melhor os seus limites. Todas as equipas se adaptam perante adversários mais fortes e o próprio Porto o fez, estrategicamente. Uma coisa, porém, é alterar a estratégia e ajustar comportamentos, outra é mexer estruturalmente, passando por cima da própria identidade da equipa. Concordo que Jesus terá roçado esse limite, mas nunca que o tenha ultrapassado de forma clara.

Notas individuais: Porto
Sapunaru – Se alguém tem dúvidas sobre o que pode fazer a confiança, repare-se no rendimento de Sapunaru. Ganhou mais bolas do que qualquer outro jogador na partida e não teve 1 erro que se identifique.

Moutinho – Ser o “relógio” em alguns jogos de menor grau de dificuldade é uma coisa, nestes é outra. Não esteve nos desequilíbrios, mas foi, de longe, o jogador mais influente no meio campo. Isto é um grande elogio, por ser frente ao Benfica, mas também porque, ao contrário do que muitas vezes se diz, nem sempre é assim.

Belluschi – Um pouco em contra-ciclo com Moutinho. Ou seja, foi um jogador importantíssimo na definição do jogo e nos desequilíbrios, mas no resto esteve um pouco abaixo do que lhe é possível e habitual. Mas aqui, e também em contra-ciclo com Moutinho, o crédito que lhe é normalmente dado também é bastante inferior àquele que merece.

Hulk – Foi o herói do jogo e será seguramente o herói deste campeonato. Mais palavras para quê? Está à vista de todos...

Notas individuais: Benfica
David Luiz – Foi o vilão do jogo, mas injustamente. Não que tivesse estado bem, mas porque esteve longe de ter sido por sua causa que o jogo se decidiu. Ou seja, parar Hulk com 15 metros nas costas é algo que não se pode pedir a ninguém. Seria ele ou outro qualquer. No segundo golo tem responsabilidade na origem do lance, mas a sequência, mais uma vez, transforma-o mais em vitima do que réu, pela forma pouco solidária como a equipa respondeu.

Sidnei – A contabilidade estatística não lhe faz justiça. Esteve envolvido nos 3 primeiros golos com comportamentos colectivos errados – se é responsabilidade individual ou colectiva, já não posso afirmar – e não justificou minimamente a confiança. É muito jovem e tem evidente potencial, mas desfazer a dupla Luisão-David Luiz custou caro.

Luisão – Prejudicou gravemente a equipa com a sua expulsão, tendo, provavelmente desencadeado a goleada. Foi notório, pela linguagem gestual ao longo do jogo, que a frustração o estava a afectar. É pena, porque sabe mais, e porque estava a ser o melhor da equipa até à expulsão.

Carlos Martins – A sua presença foi importante. A equipa criou mais opções na saída de jogo e o Porto não provocou tantas perdas de bola nessa situação como na Supertaça, por exemplo. Depois, esteve também combativo e útil no trabalho de meio campo – o que nem sempre acontece. Só o medo de uma expulsão justifica a sua substituição.

Salvio – Para mim – e apesar de não ter feito um grande jogo – é mais um bom sinal que dá. Esteve bem tecnicamente num jogo muito difícil e, para além disso, demonstrou também óptima atitude e intensidade sem bola. Justifica uma continuidade na aposta.

Coentrão – Em absoluto, um jogo para esquecer. Primeiro como médio, forçou demasiado e perdeu sempre perante a maior solidariedade portista. Depois, como lateral, teve um erro decisivo ao entregar a bola a Hulk, possibilitando 1x1 que resultou no penalti. Acontece, e não é por isso que tem de deixar de ser um dos melhores laterais esquerdos do futebol mundial.



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8.11.10

Reviravolta do Vitória em Alvalade (Breves)

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- Há 1 semana tinha referido que o Sporting poderia ser o adversário ideal para a estratégia de Machado. A verdade é que, ao contrário do que diz o resultado, esse prognóstico não se confirmou. Alvalade viu os melhores 45 minutos da sua equipa neste campeonato e o Vitória ficou também muito a dever a si próprio, num período que deveria ter sentenciado o jogo e o vencedor. Não aconteceu porque o futebol guardaria para mais tarde mais um episódio que demonstra bem a sua natureza imprevisível, como jogo humano que é. Maniche será o réu à posteriori e a sua atitude é, obviamente, tanto censurável como indesculpável num jogador da sua experiência. Um vermelho, porém, não é minimamente suficiente para justificar uma tamanha derrocada em apenas 15 minutos. O vermelho - e para usar uma expressão da moda - foi uma espécie de "clique" para um descontrolo emocional inaceitável e impróprio de uma equipa que se propõe ganhar títulos. Resta agora saber que tipo de "clique" poderá representar este resultado na caminhada da equipa. Isto, num jogo que, como referi no princípio, tinha tudo para ter o efeito oposto.

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A goleada no Porto-Benfica e a derrota de Domingos(Breves)

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- A análise detalhada ficará para mais tarde, mas, face ao que escrevi na antevisão, não custa perceber como as "bases" do jogo em nada me surpreenderam. Confirmou-se a manutenção da estrutura por parte de Villas Boas e a repetição da estratégia da Supertaça. Do lado do Benfica também se confirmou a previsão do 4-4-2 clássico e uma mexida na lateral esquerda com uma opção mais defensiva. A principal critica que tenho a fazer a Jesus é por ter voltado a esbarrar num adversário que adoptou a mesma estratégia da Supertaça. Isso, e a agravante de ter escolhido uma forma individualizada para parar Hulk. Quanto à estrutura e aos deslizes individuais, serão criticas tão esperadas no pós-jogo, como infundadas. Primeiro, porque o "espalhanço" estratégico (mais um!) pouco ou nada tem a ver com a estrutura. Depois, porque não há neste planeta soluções individuais (1x1) que resolvessem o "problema Hulk". Pelo menos, eu não conheço...

- Será curioso ver o que resta destas equipas, numa situação em que todos sentem o campeonato resolvido. É um desafio fantástico para ambos os treinadores. Num caso, manter níveis de concentração e motivação altos, sem a pressão positiva para ajudar. No outro, recuperar uma equipa e motivá-la para um objectivo em que ninguém objectivamente acredita.

- Com o clássico, já ninguém se lembra, mas Domingos perdeu em casa para o campeonato. Pela primeira vez no Braga e pela sexta vez na carreira. Um evento raro, portanto. A verdade - e isto não é "totobola de segunda feira" - é que ao ver o 11 inicial pensei que poderia ser hoje. Muitas mexidas e muitas novidades frente a uma equipa que convinha não subvalorizar. Mesmo tendo também ausências relevantes, o Beira Mar vinha num bom momento psicológico e tinha a mentalidade necessária para criar problemas. O Braga errou porque ignorou o perigo e facilitou, talvez como nunca na "era-Domingos". Valeu a reacção final, que deu uma imagem mais fiel do que é a mentalidade desta equipa. Sobre o Beira Mar, e apesar das várias criticas que já lhe vi feitas, importa perceber o mérito de Leonardo Jardim...

- Por fim, e enquanto não há tempo para mais análise, recordo 2 vídeos doutro jogo,
não muito diferente deste:

Vídeo 1
Vídeo 2

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6.11.10

Porto - Benfica: Antevisão táctica (Breves)

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- Ainda que sem exageros, creio que se justifica o favoritismo portista. O factor casa é relevante, mas o que mais contribui para esta opinião é a sagacidade estratégica que ambos os treinadores revelam em jogos deste calibre. Ou seja, enquanto que Jesus se concentra por completo nos detalhes de posicionamento base, Villas Boas atribui maior relevância aos comportamentos e prioridades que a equipa deve assumir em cada um dos momentos de jogo. Apesar desta constatação não ir de encontro ao discurso do próprio – tantas vezes auto elogioso quando as coisas correm bem – o facto é que as equipas de Jesus têm pago sucessivamente o preço desta lacuna. Se corrigir alguns riscos que a equipa corre com bola, este raciocínio perderá toda validade, mas os indícios não apontam nesse sentido...

- No Porto, e salvo contrariedades de ordem física, não espero nenhuma surpresa. Porque não há razão para tal e porque não houve, também, tempo de treino para preparar algo que altere muito aquilo a que normalmente assistimos. Apesar de jogar em casa, não creio que Villas Boas tenha algum problema em adoptar uma estratégia semelhante àquela que apresentou na Supertaça. O Benfica tem repetido sucessivos erros na sua primeira fase de construção e poderá, de novo, assumir o mesmo tipo de riscos, mesmo jogando no Dragão. Se tal acontecer, será o Porto quem terá mais probabilidades de tirar partido.

- Jesus gosta de mexer estruturalmente nestes jogos. Ultimamente, e para a Liga dos Campeões, tivemos uma versão mais clássica do 4-4-2, com Martins a jogar perto de Javi Garcia. É provável que tal se repita no Dragão, até porque a equipa vem de um resultado positivo nessa estrutura. Mas há mais a equacionar, nomeadamente na protecção das laterais. O dilema de Jesus prender-se-á com a utilização, ou não, de Coentrão como lateral. É certo que Coentrão tem uma agressividade potencialmente útil para o confronto com Hulk, mas também é um facto que o ex-Rio Ave tem por estes dias uma capacidade de desequilíbrio demasiado valiosa para ser reprimida. Se Coentrão jogar com a liberdade habitual, Villas Boas poderá manter Hulk solto para a transição, dispensando-o de tarefas de acompanhamento ao longo do corredor, e colocando, por exemplo, Moutinho a fechar sobre a direita. E, se há coisa que Jesus quererá evitar, é ver Hulk em transição. Honestamente, não tenho nenhuma convicção sobre aquilo que Jesus poderá fazer...

- Termino, referindo-me ao Benfica e recuperando a ideia do primeiro ponto. Se Jesus colocar como foco primordial a segurança na zona de construção – mesmo que isso implique alguma perda de fluidez no ataque posicional – então estará mais próximo de colocar dificuldades ao Porto, não lhe permitindo jogar em transição. A zona de recuperação portista será, ao que tudo indica, um dado fundamental, na definição do jogo.

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5.11.10

Hulk vs. Coentrão: quem vai decidir o clássico?

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Não é certo que passará por algum dos dois a decisão do clássico, mas se há candidatos a heróis, quer de um lado, quer de outro, são eles. A avaliação estatística que venho fazendo indica-os como os 2 melhores da liga até ao momento e, mesmo considerando a variabilidade das opiniões, será difícil encontrar argumentos para discordar desta conclusão.

Jogam em posições diferentes, e é até possível que venham a disputar um duelo individual directo, caso Coentrão seja utilizado como lateral – hipótese em que acredito pouco. Hulk é quem mais desequilibra e mais peso tem naquilo que define o resultado de cada jogo: os golos. Mas Coentrão, sendo também um jogador com grande peso ofensivo, consegue um rendimento globalmente mais influente, sendo um jogador determinante em todos os momentos do jogo.

Será um deles a decidir o clássico?

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4.11.10

Tropeções de Sporting e Porto (Breves)

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- No rescaldo do jogo de Alvalade, falei da abordagem errada da equipa belga, como explicação principal para um tão desnivelado "score" final. Agora, e como que devolvendo a moeda, foi também a vez do Sporting ser surpreendido, parece-me, devido a uma postura pouco ajustada à realidade do jogo. Isto é, o Gent não é seguramente uma equipa tecnicamente forte, mas está longe de ser um desnível tão grande ao ponto da vitória estar garantida em qualquer circunstância. Os níveis de intensidade e agressividade dos belgas foram sempre superiores e isso acabou por se tornar progressivamente mais relevante, à medida que o jogo foi avançando. E é nesse sentido que a derrota se justifica. Primeiro porque não houve concentração e rigor suficiente para resolver situações de aperto defensivo e, depois, porque foi o Gent quem mais perto do golo esteve na segunda parte. Nota, em termos da qualidade de jogo do Sporting, para uma distância grande entre os jogadores, impedindo a equipa de ter a qualidade de circulação de que precisa para se impor(aqui a característica técnica dos jogadores que compuseram o "miolo" também é relevante), e permitindo alguma facilidade dos adversários em situações de 1x1 em quase todas as zonas do campo.

- A derrota, em si mesmo, pouco ou nada adianta em termos de Liga Europa. Na verdade, duvido que o Sporting não se qualifique mesmo sem mais qualquer ponto e, para o primeiro lugar, também pouco faltará. O problema é o efeito que a derrota terá na dinâmica que a equipa procurava criar como forma de crescimento em termos de confiança. Noutras circunstâncias, com melhor situação no campeonato e outra afirmação dos próprios processos, o efeito seria mínimo. Assim, não tenho tanta certeza...

- Mais tarde, no Dragão, menos poupanças. Mais uma vez Villas Boas manteve um núcleo duro, mesmo com um jogo praticamente irrelevante em termos do futuro da equipa na prova. Isto, mesmo com o Benfica no horizonte, o que me parece reforçar a ideia de uma gestão que vai para além dos aspectos físicos. Ainda assim, parece-me claro que não houve uma preocupação específica com este jogo e isso terá também sido reflectido na performance da equipa. No final, o empate, mesmo tendo sido perante uma boa equipa e tendo garantido praticamente o primeiro lugar, acaba por não ser um resultado motivador antes do clássico. E, note-se, o Besiktas - mesmo tendo mais jogadores do que equipa - acabou por merece-lo.

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