29.4.11

Porto - Villarreal: Estatística e Análise

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1- Tenho de começar por abordar a atipicidade do jogo. É que, sendo objectivo, a goleada encontra a sua principal justificação na enorme diferença de eficácia entre as duas equipas, e não no número de oportunidades que estas construíram, que, tudo somado, foi muito próximo. Não posso, portanto, concluir que o Porto foi substancialmente mais competente do que o seu adversário na interpretação da proposta que trazia para o jogo, e a forma mais correcta que encontro para tentar explicar o sucedido é através do recurso a uma expressão utilizada pelo próprio Villas Boas: "a transcendência dos jogadores". Se, para além da eficácia, constatarmos ainda que a maioria dos lances de perigo eminente do Villarreal foram salvos por jogadores portistas, e não apenas desperdiçados pelos adversários, então fica clara a conclusão de que o resultado, sendo a consequência de um diferencial de aproveitamento, é também o reflexo da diferença da capacidade de superação dos jogadores nos momentos chave do jogo. Mérito para eles, portanto.

2- O jogo começou com intenções claras de parte a parte. O Porto, percebendo a natureza do adversário e a sua disponibilidade para sair em apoio praticamente de qualquer zona do campo, arriscou no potenciamento do erro, subindo linhas e tentando roubar a bola em zona alta. O Villarreal, por seu lado, trouxe um 4-2-3-1 muito assimétrico, disposto a tentar tirar partido da profundidade à direita (Nilmar) e do apoio interior vindo da esquerda (Cani). O momento de transição seria, assumidamente, a sua aposta. O facto é que, perante este balanceamento foram os espanhóis quem conseguiram maior aproveitamento qualitativo das suas intenções, e de longe. Por 4 vezes nos primeiros 50 minutos Helton teve jogadores contrários isolados na sua frente, num registo provavelmente sem paralelo nesta temporada. O Villarreal sai goleado do Dragão, e nada servirá de prémio de consolação perante este desaire, mas fica, para quem viu, o registo da equipa que mais problemas causou ao Porto no seu estádio esta temporada. Mais do que os vencedores Benfica, Sevilha ou Nacional.


3- Ainda sobre os problemas do Porto na primeira parte, é verdade que a maioria dos lances aconteceu sobre a direita, mas mais relevante do que distinguir o lado dominante para o desfecho das acções, parece-me ser identificar a origem das mesmas. E, aí, a meu ver, entram três factores. A zona de perda da bola (muito baixa, com alguns erros na primeira parte), o risco da linha defensiva ("batida" várias vezes na tentativa de jogar alto e encurtar espaços) e o mérito do Villarreal (jogadas simples, por vezes condicionadas, mas que, mesmo assim, encontraram o tempo e definição certas). Sobre este último ponto, volto a lembrar algo que referi há tempos a propósito de um golo sofrido pelo Benfica nesta prova: nota-se uma grande diferença no aproveitamento que fazem jogadores de ligas como a espanhola ou alemã da "armadilha" do fora de jogo. Uma diferença que tem muito a ver com o hábito de jogar contra este recurso defensivo nesses campeonatos.

4- Da parte do Porto, o seu mérito tem muito a ver com a manutenção da intencionalidade e indiferença à adversidade. O jogo demorou a sair, mas quando saiu teve um impacto tremendo em termos mentais no jogo. Aliás, se houve equipa que mudou o jogo através de alterações próprias foi o Villarreal, retirando três dos seus melhores jogadores no jogo, e desfazendo a estrutura inicial. A reacção táctica ao impacto emocional da momento portista acabou por ser contraproducente, a equipa perdeu ordem, identificação e qualidade, acabando o "submarino" por afundar-se completamente. Foi, usando uma imagem do boxe, uma vitória por KO, e não aos pontos.

5- Nota para o segundo golo, provavelmente o que mais impacto teve no jogo. A jogada, com Hulk a abrir no flanco e Guarin a entrar no espaço entre o central e o lateral, é uma espécie de "clássico" desta época. Na goleada ao Benfica, por exemplo, esteve em foco o mesmo tipo de movimentação, então com Belluschi como protagonista.

6- Algumas notas individuais:
Sapunaru e A.Pereira - estrategicamente pouco participativos numa primeira fase, tentando levar com eles os extremos e deixando as despesas da construção para o corredor central. O costume. No último terço, e também num movimento habitual, Alvaro Pereira foi solução repetida para os cruzamentos, mas foi uma noite pouco inspirada.

Rolando e Otamendi - Um jogo muito difícil para ambos, tendo de jogar alto e assumir o risco de saber que se tem muito espaço atrás de si. Creio que não é por acaso que jogou Otamendi, que tem uma capacidade de reacção e recuperação muito maior do que Maicon. Se assim foi, Villas Boas acertou, porque foram decisivas as intervenções que ambos conseguiram em recuperação. De resto, e como é hábito, Otamendi muito mais interventivo defensivamente, Rolando muito mais certo com bola.

Fernando - Um jogo terrível para ele. Cometeu vários erros em posse, não conseguiu ser influente como é seu hábito e viu vários passes de rotura a serem protagonizados na sua zona.

Moutinho e Guarin - Dentro do melhor que se pode esperar deles. Moutinho, foi o mais influente e certo com bola, a melhor garantia da posse, e destacando-se pela excelente reacção à perda. Guarin foi outra vez o "homem bomba" da equipa, e uma espécie de barómetro da equipa. As suas primeiras tentativas foram um completo falhanço, mas quando acertou, teve um enorme impacto.

Falcao - De novo, a mesma referência. É repetitivo fazer-lhe os mesmos elogios, mas ele não deixa outra hipótese. Ou seja, é um temível finalizador dentro da área e a equipa tem tirado enorme partido dessa sua capacidade.

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Dublin falará português (breves)

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- Em primeiro, referir que acompanhei em directo o jogo da Luz, pelo que os meus primeiros comentários vão para este jogo. Nas próximas horas, acrescentarei a análise ao jogo do Dragão e depois regressarei com mais detalhes sobre o Benfica-Braga.

- Sobre o jogo da Luz, não foi, de facto, um jogo bem conseguido por alguma das partes. Diversos erros de parte a parte. No Braga, especialmente no capítulo técnico, notando-se claramente a diferença de qualidade entre os recursos das equipas. No Benfica, dificuldades em controlar o momento de transição do adversário, bem como em fazer uma melhor circulação, na primeira fase. O balanço, porém, não é tão dividido. O Benfica usufrui claramente de mais oportunidades, punindo de forma mais clara os erros contrários. Isto, e mesmo se os golos só vieram depois do intervalo, em especial na primeira parte. Aliás, entre a primeira e segunda parte, houve essa diferença, não só de eficácia, mas de maior equilíbrio de oportunidades.

- A eliminatória está perfeitamente em aberto, com o Benfica a ter maior favoritismo, sim, mas com ambos os treinadores a terem motivos para preocupações. Domingos, pela necessidade de vencer, mas também pelos sinais de nervosismo de alguns dos seus jogadores. Jesus, porque, apesar da merecida vitória, ter ficado claro que o Benfica está longe de estar num bom momento e que perante um adversário mais inspirado, rapidamente poderá pagar um preço elevado. Isso e, claro, ter perdido aquele que se revelava, nesta altura, como o elemento em melhor momento da equipa, Pablo Aimar.

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28.4.11

R.Madrid - Barcelona: Estatística e algumas notas

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1- Como já referira ontem, este foi, na minha opinião, o pior dos três duelos já disputados entre as equipas. O pior, de parte a parte. Do lado do Barcelona, justifica-se a perda de qualidade pelas ausências de Iniesta e Adriano (ou mesmo Maxwell). Esse, aliás, era um ponto a explorar pelo Real Madrid, que não pode ter nas baixas de Khedira e Carvalho explicação suficiente para o jogo menos conseguido em relação aos anteriores. Particularmente, a primeira parte. Como constatação fundamental fica a convergência do jogo em que o Barcelona menos erros cometeu (ou foi forçado a cometer) em posse, e aquele onde o Real menos perigo criou. Sublinho "convergência", para que não se confunda com "coincidência".

2- Começando por essa "nuance", das ausências de Iniesta e Adriano, e num detalhe que gostaria de aprofundar com imagens (mas não sei se haverá oportunidade), creio que Mourinho terá perdido uma oportunidade de ouro para condicionar, melhor e de outra forma, a posse do Barça. Sobretudo, a presença de Puyol à esquerda, e tendo em conta a qualidade dos restantes pontos de saída de bola, devia ter sido explorada, possivelmente libertando o lateral e forçando deliberadamente que a bola entrasse por esse corredor. A ausência de Iniesta era o complemento ideal, porque Keita não é, nem de perto, uma solução tão ameaçadora como o habitual camisola 8. Nada disto foi feito, porém. Puyol foi aquele que menos jogou dos elementos de construção, e teve uma actuação isenta de erros comprometedores, com uma % de sequência em posse próxima dos 90%. Keita, por seu lado, teve cerca de metade da influência em posse de Iniesta na primeira partida, mas sem que isso representasse um problema de segurança em posse para o Barcelona.


3- Na análise ao último jogo, trouxe aqui a importância do aprisionamento dos laterais aos corredores para o sucesso da posse do Barça. Pois bem, Guardiola terá reparado também nisso e, desta vez, abriu claramente Pedro e Villa, impedindo Arbeloa e Marcelo de auxiliar os médios em zonas mais interiores. Este pormenor é importantíssimo para o desconforto do Real no pressing do primeiro tempo. Sobretudo à esquerda, Ozil revelou-se pouco agressivo e útil (também já tinha escrito sobre esta condicionante na utilização criativo alemão), e Lass andou perdido entre a decisão de pressionar a zona de Busquets ou manter a posição na zona de Keita. O resultado foi um notório desconforto do Real no pressing, e um número muito menor de erros em posse do Barcelona. Uma das soluções poderia passar por aproximar mais claramente um dos centrais no espaço entre linhas, ou, como expliquei, "desprezar" deliberadamente a protecção zonal a Puyol.

4- Estes duelos ficam marcados, em termos tácticos, pela adaptação defensiva de Mourinho à fantástica capacidade de posse e circulação do Barça. O que é igualmente importante notar, é que a adaptação faz-se também em relação à capacidade defensiva do Barça. Ou seja, o Real, quando tem a bola, não joga da mesma forma que faz durante toda a época. Tenta soluções mais directas, e os seus jogadores sentem-se muito pouco confiantes com a bola nos pés, como que aterrorizados com a possibilidade da perda. Pode (e deve, a meu ver) discutir-se até que ponto é justificado tamanho respeito, mas o ponto nesta altura mais importante a relevar (e não me canso de o repetir) é que a "revolução Guardiola" dá-se muito pela qualidade transversal que o treinador introduziu na equipa, e que anteriormente não existia. Isto é, o Barcelona não é a melhor equipa do mundo apenas pela sua capacidade em posse, ou pela genialidade de Messi. É, também (e na minha opinião), a equipa que melhor defende no mundo.

5- Importante notar que, apesar da justiça inequívoca da vitória, pouco indiciava que esta fosse tão fácil para o Barça como acabou por acontecer. Ou seja, até à expulsão o jogo distinguiu-se sobretudo pela ausência de oportunidades, tendo havido apenas uma para o Barça, em 60 minutos. Aliás, o Real teve o seu melhor momento precisamente no primeiro quarto de hora do segundo tempo, com a entrada de Adebayor a produzir notórios efeitos, seja pela maior agressividade do togolês, seja pelo acréscimo de clarividência colectiva do Real com essa alteração. Ninguém sabe o que daria o jogo em igualdade numérica, mas sabe-se que, e ao contrário do que acontecera no jogo para o campeonato, foi apenas perante a situação de superioridade numérica que o Barcelona acabou por justificar verdadeiramente o triunfo.

6- Em termos individuais, quero acrescentar algumas notas. Para Piqué, porque quando se fala do "melhor central do mundo", não se pode nunca deixá-lo de fora. Para Pepe, porque a sua utilização à frente do "pivot" voltou a não ser tão produtiva como havia sido no primeiro jogo, onde jogou como elemento mais recuado do meio campo. Para Ronaldo, que tendo feito o jogo mais desinspirado da série, deu um exemplo de entrega, sendo o jogador que mais intercepções conseguiu na sua equipa (notável, para um avançado!), e apenas superado por Piqué, no jogo. Para Messi, que não teve, a meu ver, uma exibição tão boa como noutros jogos, mas que acabou por emergir nos momentos certos, ficando na "fotografia" uma exibição histórica. Para Afellay, sobre quem escrevi algum tempo antes de se transferir para a Catalunha. A sua versatilidade e qualidade permite-lhe jogar em várias posições, mas continuo a pensar que é em zonas de construção que está o seu potencial.

7- Duas notas sobre as peripécias destes duelos (e não só, já agora). Primeiro, para realçar que, ao contrário do que em certos momentos se quis fazer passar, não há equipas mais "nobres" do que outras. Ou, pelo menos, não a este nível. O jogo teatral e de pressão sobre os árbitros em contexto de jogo (e estou a referir-me apenas aos jogadores), é uma "arte" de especialidade latina, mas que acontece em todos os lados e em todos os desportos. O motivo resume-se ao simples facto de os jogadores quererem ganhar e estarem dispostos a fazer tudo o que está ao seu alcance para tal. O ponto deste meu comentário, é que o Barcelona, tal como qualquer equipa, joga essencialmente para ganhar. A sua realização/frustração depende do resultado e não de outras métricas. Não perceber isso, é não perceber boa parte da natureza e mentalidade desta fantástica equipa. Segunda nota, para referir que se adeptos e público não se revêem nos jogos de simulações e pressões sucessivas dos jogadores, então devem censurar quem define as regras do jogo, muito mais do que os jogadores. Os jogadores, como qualquer um de nós, só querem o melhor para eles. E o melhor para eles, hipocrisias à parte, resume-se numa simples palavra: ganhar.

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"Superclásico III", a vez do Barça (breves)

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- É uma semana sobrecarregada pelo "portuguesismo" das meias finais da Liga Europa, mas, ainda assim, tentarei voltar a este jogo mais do que 1 vez. O interesse enriquece-se pela sequência de duelos e pelas "nuances" que vamos observando de um para outro, e este foi mais um que trouxe novos elementos em relação ao jogo anterior. Desta vez, foi o Barcelona a levar a melhor, naquele terá sido o jogo menos conseguido, de parte a parte, nesta sequência. Mais motivos para estar decepcionado consigo próprio tem o Real Madrid, que tinha, nas ausências de Iniesta e Adriano, uma oportunidade para fazer melhor. Acabou por funcionar ao contrário, e, com alguma falta de lógica, foi quando mais condições tinha para ser bem sucedido, que o Real sucumbiu à maior força do adversário. É pena, porque este era precisamente o único embate desta série que poderia "estragar" o interesse do seguinte. Sobre os detalhes, como disse, escreverei mais tarde. Para já, fica apenas a nota de que Messi terá, mais do que provavelmente, garantido mais uma bola de ouro na sua carreira, com esta exibição.

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27.4.11

Uma meia final dispensável (breves)

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- A boa notícia é que se tornou altamente improvável termos o Schalke na final. A má notícia são os desinteressantes 90 minutos que ainda restam. Realmente, foi um jogo penoso e, sobretudo, impróprio do nível que uma meia final de Champions exigia. O United encarou o jogo, como tantas outras vezes, com uma postura prudente e própria da fase em que se encontra: não assumindo qualquer risco em posse e tentando manter como prioridade o equilíbrio posicional sobre um comportamento mais pressionante. Ou seja, pareceu querer manter sempre duas linhas atrás da bola, ser paciente e delegar no momento de transição a sua fonte desequilíbrios. "Pareceu", porque o Schalke não deu tempo para que se percebesse muito do que Ferguson pensava do jogo. Subitamente, e sem nunca ter de elevar minimamente o ritmo, o United encontrou sucessivas hipóteses de chegar ao golo. O demérito vai todo para os alemães que foram inexplicavelmente incapazes em quase todos os momentos do jogo. A ideia era pressionar a primeira fase de construção dos ingleses, utilizar os laterais para dar profundidade nos corredores e reservar ao trio ofensivo a liberdade suficiente para garantir dinâmica no último terço do campo. Mais atrás, Papadopoulos seria o elemento de equilíbrio, mantendo-se próximo da linha defensiva. Intenções, porque na prática foi um desastre. Um desempenho fracassado em todos os momentos, defensivos e ofensivos, em organização e transição. O Schalke acabou encostado atrás, tentando fazer passar o tempo e esperar que Neuer continuasse a resolver os seus problemas. Não deu...

- Neuer será uma das grandes referências das balizas mundiais na próxima década? Assim que dê o "salto", parece-me provável...

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26.4.11

P.Ferreira 10/11: Revisão de uma das equipas mais interessantes da época

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O estilo: discípulos da "vertigem"
Aproveitando a dicotomia usada por Villas Boas para separar os estilos de Porto e Benfica, diria que, entre a "vertigem da velocidade" e "cultura da pausa e da posse", o Paços de Ferreira de Rui Vitória se aproxima claramente mais da filosofia de Jorge Jesus. Ou seja, é uma equipa que fomenta momentos de desorganização a toda a hora no adversário, não parecendo, sequer, temer os riscos que a própria equipa corre na perseguição desse objectivo.

O risco: "pressing" e laterais
Se há dois aspectos que mais marcam esta equipa do Paços, são a atitude pressionante e o comportamento dos laterais. Digo "marcam", porque a distinguem da generalidade das equipas. Não são necessariamente pontos fortes nem fracos, são traços de personalidade que fazem a equipa convergir para um jogo de risco, em que a procura pelo sucesso se confunde com a exposição ao fracasso.


"pressing" - Não é difícil reparar as dificuldades que muitas vezes o Paços provoca nos adversários, optando por procurar "atacar" a construção desde a primeira fase, numa atitude pressionante que visa condicionar, não apenas o espaço, mas também o tempo. Várias vezes se viram adversários mais fortes condicionados por esta atitude, mas outras foram também as ocasiões em que a equipa se expôs em zonas mais recuadas por não ter capacidade para fazer aquilo a que se propõe. São os dois gumes de uma faca que Rui Vitória escolheu e que, já agora, fica também mais limitada pela incapacidade da sua linha defensiva em jogar mais alto em certos momentos, encurtando assim o espaço atrás de uma primeira linha quase sempre muito subida.

laterais - Poucos laterais haverá com tanta participação ofensiva como Baiano e Maycon (especialmente este). Mas, é também certo, poucos serão os laterais que desrespeitam tanto o seu posicionamento base como estes dois jogadores. E isto não se refere apenas ao desdobramento ofensivo, mas também à forma como pressionam defensivamente, surgindo repetidas vezes em posições interiores e abrindo muito o seu flanco. A acção dos centrais e, especialmente, André Leão, são fundamentais para tentar compensar este tipo de acções, embora o equilíbrio posicional óptimo dificilmente fique garantido.

Individualidades
Maycon - Chamar-lhe "defesa" é um abuso de expressão. Não que Maycon seja um jogador inútil defensivamente. Pelo contrário, é um jogador agressivo e que consegue vários desarmes em antecipação. O que sucede é que é um jogador que não tem qualquer apetência para duelos em zonas mais recuadas ou para fechar junto dos centrais, e isso nota-se sem grande dificuldade. Ofensivamente, porém, será uma das mais valias da equipa. Muito fácil o seu desdobramento ofensivo, garantindo dinâmica e qualidade, e um excelente entendimento com Pizzi e Olimpio. Parece-me indiscutível que seja catalogado como uma das "revelações" do campeonato, mas precisa de trabalhar a vertente posicional em zonas mais recuadas para poder jogar noutro modelo.

Cohene - Não espanta que tenha sido um jogador a dar nas vistas desde cedo. É um guerreiro em campo, destemido nas suas intervenções, conseguindo grande amplitude de acção (Maycon agradece) e possuindo agilidade e capacidade de antecipação acima da média. O outro lado de Cohene, é o habitual neste tipo de jogadores. O adjectivo "destemido" deixa de ser benéfico quando corre riscos excessivos. As suas acções são diversas vezes demasiado aventureiras para as responsabilidades da posição, e isso paga-se.

André Leão - É um dos "pivot" com mais trabalho de compensação em todo o campeonato. Tem a missão de ligar as linhas defensiva e média, mas é raro vê-lo juntar-se muito à frente em atitude mais pressionante. A forma como a linha defensiva se desfaz com facilidade, obriga-o a ser um contra-peso constante na zona mais recuada. André Leão merece elogios pelo trabalho que desempenha, quer em termos defensivos, quer em termos de construção, onde aparece pouco mas normalmente bem. (nota: na final da Taça da Liga denotou grande dificuldade em duas situações de jogo aéreo dentro da área, onde tinha tudo para fazer melhor)

Leonel Olimpio - É uma espécie de "plasic man" da equipa, dada a sua amplitude de acção. Olimpio tem características importantes na dinâmica, especialmente no apoio ao corredor, sendo outro dos que auxilia Maycon defensivamente. A sua dinâmica dá nas vistas, e deverá fazer com que mude de ares (Braga?), mas não penso que será fácil a sua afirmação num modelo diferente e com mais concorrência. É que Olimpio é também demasiado impulsivo nas suas acções, quer com bola, quer sem ela, e isso leva-o a cometer vários erros.

David Simão - Uma época em crescendo e a sua juventude fazem dele, e nesta altura, uma das principais atracções da equipa. Tem mostrado intensidade, quer em termos ofensivos, quer defensivos, e é, depois, um jogador notoriamente acima da média em termos técnicos. Mantendo a atitude, fará seguramente uma carreira em crescimento, mas é bom que mantenha os pés na terra. Nomeadamente, a integração no plantel do Benfica tem de ser um passo bem reflectido por todos. É que, embora esteja a fazer uma época positiva, a posição onde joga é de extrema exigência e muito dificilmente David Simão poderá discutir o lugar como primeira opção na equipa do Benfica, no imediato. Ou seja, mais importante do que dar um grande passo, é importante que David Simão dê mais um passo certo. Que possa manter condições para uma evolução continuada, em termos de exigência, capacidade e confiança.

Pizzi - Outra das boas revelações da época. Fez uma grande época e duvido que não continue a progredir no futuro. É criativo, executa com os dois pés e tem um bom sentido de baliza, o que é sempre importante. Jogar no Braga não será fácil no imediato, mas pode perfeitamente vir a ser uma boa solução.

Manuel José - É o veterano da equipa tipo. Um jogador que merece destaque sobretudo pela sua capacidade de cruzamento, tendo estado na origem de diversos golos e lances perigosos. A sua menor intensidade nota-se, porém, quando tem de jogar em posições mais interiores.

Rondón - Tem um papel muito importante na equipa, na acção de "pivot" ofensivo. Quer no momento de transição, servindo de apoio frontal ao primeiro passe de saída, quer mesmo em resposta a um jogo mais directo, a que a equipa várias vezes recorre. É um jogador inteligente e por isso permite-lhe oferecer, e no mesmo jogo, uma grande versatilidade de soluções à equipa. Rondón parece-me um jogador plenamente aproveitado, que é o mesmo que dizer que duvido que possa triunfar em patamares muito superiores àquele onde está.

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25.4.11

Final da Taça da Liga: Estatística e análise

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- Os primeiros minutos indiciavam um jogo muito mais desnivelado do que aquilo que acabou por acontecer. A tentativa de pressing alto - recorrente na sua proposta de jogo - do Paços foi completamente ultrapassada pela circulação do Benfica, que em ataque posicional conseguia facilmente encontrar espaços para chegar até às proximidades da área de Cássio. O outro problema do Paços - e talvez o maior - teve a ver com o momento de transição. Ou seja, o Benfica conseguia fazer da sua reacção à perda uma parede que impedia o Paços de se desdobrar ofensivamente. É verdade que o conseguiu episodicamente, mas essas foram as excepções daquela que foi a regra dos momentos iniciais.

- O jogo conheceu uma viragem progressiva no seu equilíbrio de forças. Se na primeira parte, o Paços se foi soltando progressivamente da "teia" em que se viu apanhado no inicio, na segunda passou a ser a equipa com maior capacidade dominadora. Um "fenómeno" que, do ponto de vista do Benfica, não tem motivo justificável. Ou seja, pode-se admitir que a equipa tivesse ciclos de maior ou menor capacidade dominadora no jogo, mas também se exigia mais qualidade continuada ao longo do tempo. De repente, a sua posse passou a ser altamente condicionada pelo pressing do Paços (nunca mais usando o lado direito, tão activo na primeira meia hora), o seu momento de transição ataque-defesa deixou de ser autoritário, permitindo alguns desdobramentos ofensivos ameaçadores, e, talvez o ponto mais criticável, o desempenho em ataque rápido foi sempre muito fraco, mesmo em alturas em que havia todas as condições para tirar partido dos espaços. No jogo, voltou a percepcionar-se uma vulnerabilidade emocional às adversidades, especialmente na forma como a equipa vacilou após o golo do Paços.


- Para a inversão desta tendência de supremacia pacense, foram muito importantes as mexidas do banco, em particular a entrada de Airton. A partir dessa alteração, o Paços como que "congelou" a sua reacção. Encontro dois motivos para esta situação. Primeiro, e mais importante, o retomar do controlo total sobre o momento de transição ataque-defesa, com a presença de Airton a complementar a acção de Javi na reacção à perda. Depois, o tipo de circulação, que voltou a ser mais lateralizada numa primeira fase (tal como nos minutos iniciais), envolvendo o "pressing" do Paços antes de tentar entrar no seu bloco. Do outro lado, Rui Vitória também não foi feliz. Tentou colocar Nelson Oliveira como elemento de ligação meio campo-ataque, e libertar Rondon para acções mais exclusivamente de finalização, mas retirou unidades que estavam a ter um bom desempenho e acabou por (mais uma vez) revelar uma equipa menos forte quando sai do seu figurino base. Assim, e depois de uma boa reacção, o Paços limitou-se a esbarrar no "duplo-pivot" que Jesus introduzira, e as suas hipóteses de discutir o troféu goraram-se.

- Como balanço, o Benfica conseguiu o mais importante no momento, mas voltou a deixar indicadores perigosos para uma eliminatória decisiva e em que será importante ter, não só qualidade, mas também estabilidade emocional. A equipa conseguiu o mais difícil no jogo, ganhando uma vantagem segura e encontrando formas de se superiorizar a um adversário que lhe era francamente inferior, mas, mesmo assim, voltou a perder o controlo da situação. Não houve um grande número de erros em posse (problema recorrente), mas houve outro tipo de lapsos que condicionaram a equipa. Como nota positiva, e de novo, as bolas paradas. Continua a ser impressionante o aproveitamento desta equipa neste tipo de situações, sendo que, desta vez, quatro dos seis desequilíbrios surgiram por essa via.

- Individualmente, algumas notas. Luisão terá feito o seu pior jogo defensivo da época, compensando em termos ofensivos. Martins revelou-se uma boa alternativa para a ala, sendo um dos principais dinamizadores do melhor período da equipa (Estará apto?). Jara repetiu o grande problema já detectado frente ao Porto. Ou seja, a sua participação nos momentos de transição é constantemente ineficiente, tendo um aproveitamento baixíssimo nesse momento do jogo, e retirando potencial à equipa no aproveitamento dessas situações. Saviola e Cardozo, por outro lado, revelam-se em fases preocupantes. O paraguaio parece desmotivado, não revelando uma intensidade aceitável, como facilmente se constatou. O argentino, embora tenha procurado movimentar-se, teve um desempenho técnico medíocre e muito aquém do que dele se pode esperar. Durante muito tempo, as criticas a Saviola pela sua "seca" de golos eram injustas, pelo que criava e desequilibrava. Neste momento, porém, há poucos argumentos que valham ao 30.

- Sobre o Paços, guardo mais notas para uma análise que farei amanhã...
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22.4.11

Final da Taça do Rei (II): Estatística e algumas notas de análise

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1- Começando pelo Real Madrid... Antes de mais, a estratégia foi, senão a mesma, extremamente próxima daquela apresentada no jogo para o campeonato. O que variou foi o resultado da sua aplicação, sendo muito mais produtivo na primeira parte do que no restante deste jogo, ou mesmo na totalidade do embate anterior. Não se confunda, por isso, intenção com concretização. Não é por ter conseguido melhores períodos no jogo que o Real foi intencionalmente "mais ofensivo" desta vez. Apenas o conseguiu ser, a intenção a mesma.

2- Importa, porém, notar algumas diferenças (ligeiras) na abordagem de Mourinho, ainda que elas estejam sobretudo relacionadas com aspectos individuais. A principal alteração tem a ver com Ronaldo. No jogo de Madrid, Ronaldo foi ala, teve de baixar no corredor e frequentemente partiu para a transição de posições demasiado baixas. Mourinho terá pretendido potenciar Ronaldo, colocou-o na frente, parecendo-me, inclusive, com menores restrições defensivas do que Benzema no jogo anterior. Depois, sem Ronaldo na ala, houve os únicos ajustamentos posicionais que diferenciaram desde o último jogo. Ou seja, Mourinho baixou mais os alas, para adiantar Pepe e Khedira para uma pressão ligeiramente mais alta no corredor central. A ideia parecia ser forçar a saída pelos corredores, embora isso raramente tenha acontecido.

3- A primeira parte foi, como ficou fácil de ver, controlada pelo Real Madrid. Conseguiu manter o Barcelona sempre longe da sua área (praticamente não lá entrou) e potenciou, depois, erros pontuais que deram origem às transições pretendidas. Os motivos desta situação têm a ver com a convergência repetida da posse do Barça para zonas superpovoadas de jogadores do Real Madrid. Particularmente na meia-esquerda do ataque catalão onde, como já expliquei no post anterior, Arbeloa estava quase sempre livre para fazer a diferença em zonas interiores. O Barça nunca conseguiu ter posse útil no espaço à frente da linha defensiva e, assim, nunca ameaçou o golo.


4- Sobre as alterações radicais na tendência de jogo, já destaquei o efeito Pedro, pelo que não vou abordar esse relevante factor. Depois, e tal como referiu Guardiola, o Barça foi mais lesto nas segundas bolas, mais rápido a reagir e a sua viragem no jogo passou também pela capacidade que teve acrescentar os momentos de transição à sua ameaça, algo que havia sido restrito ao Real Madrid, na primeira parte.

5- Sobra um aspecto que é importante abordar e que ajudará, igualmente, a explicar as oscilações no jogo, nomeadamente o prolongamento, onde, e contra todas as expectativas, foi o Real quem se voltou a superiorizar de forma clara, em termos de proximidade com o golo. Falo do aspecto emocional e dos momentos das equipas. Durante o jogo foi se falando do cansaço e da possibilidade do Barça usufruir do facto de jogar com bola para se desgastar menos e estar melhor com o desenrolar do jogo. A verdade é que muito daquilo que nos parece meramente físico é também psicológico. Se o Real esteve pior na segunda parte e o Barça melhor, foi também porque os níveis de confiança mudaram com as primeiras jogadas após o intervalo. O Barcelona sentiu que poderia conquistar o espaço e o Real sentiu-se ameaçado. Os jogadores do Barça foram crescendo em termos de desempenho e os do Real perdendo lucidez no posicionamento defensivo e na clarividência do primeiro passe de transição - diria, o momento fulcral para a definição de um jogo com estas características. Do mesmo modo, o estado de crença e confiança dos jogadores terá começado a mudar nos instantes finais da segunda parte, quando o Real voltou a aproximar-se do golo, e terá definitivamente mudado no inicio do prolongamento quando, antes do golo, foi o Real que conseguiu primeiro criar perigo, aproveitando uma perda de Xavi.

6- No Barcelona, Guardiola não parece muito interessado em discutir estratégias ou abordagens. O Barça é muito mais forte dentro do seu estilo e acredita que para aumentar as suas possibilidades de vitória, é suficiente que se preocupe consigo próprio. É uma constatação objectiva que o Barça é melhor e que o Real é que tem de se adaptar. Mas é-o também que a vida não tem ficado mais fácil para o Barça. Pelo contrário, tem perdido jogadores (agora Adriano, que pode vir a fazer falta), e visto aumentar o estado de confiança do rival. Mesmo sendo melhor, convém que o Barça vá procurando também as suas formas de crescer em qualidade. Por exemplo, seria uma equipa ainda mais forte se apresentasse outra valia nos lances de bola parada. Dado o volume de jogo que apresenta, seria um complemento importante para a sua proposta de jogo.

7- No Real, a evolução desta série de jogos é mais interessante de seguir. Mourinho tem de fugir do seu estilo e encontrar um "contra-estilo" para vencer o Barça. Para já, está a correr-lhe de feição. Já tinha abordado o lado positivo do empate anterior e, em termos mentais, esta vitória pode ainda catapultar mais a equipa. Mas, Mourinho ganha também em soluções individuais. Ronaldo representou uma mais valia em transição, Arbeloa-Ramos um duo muito mais forte do que Ramos-Albiol anteriormente. A dúvida pode passar por Ozil, que é um jogador fantástico em termos criativos, mas que tem muito que crescer em termos de agressividade defensiva (a meu ver, um dos motivos principais pelo descalabro dos 5-0, sendo utilizado numa posição central e sem qualquer capacidade de pressão). Finalmente Pepe, utilizado desta vez mais à frente, talvez para ter um médio de maior capacidade de desdobramento em transição, e relegar em Xabi Alonso a qualidade do primeiro passe. É certo que na primeira parte o controlo da zona entre linhas foi completo, mas na segunda parte isso não aconteceu, sendo, talvez, de reflectir os prós e contras de ter um jogador com uma reactividade e agressividade no espaço que, nem Xabi Alonso, nem (sobretudo!) Khedira podem dar.

8- Venha o próximo!
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Final da Taça do Rei (I): Pedro, Arbeloa e a diferença entre as 2 partes do jogo

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Voltarei ao jogo com outras notas, mas quero começar com este destaque...

De forma quase unânime, reconheceu-se que o chavão "jogo de duas partes distintas" servia na plenitude para retratar a partida. Ou melhor, os primeiros 90 minutos da partida. É sobre essa diferença que quero falar, abordando um pormenor táctico que, não sendo a obviamente a única explicação (raramente há apenas "uma" explicação), parece-me que é aquela que mais contribuiu para o súbito acréscimo de dificuldades do Real Madrid, na segunda parte...


Convém, primeiro, constatar que o jogo do Barcelona não é simétrico. Aliás, é deliberadamente assimétrico. Nesta assimetria, o lado esquerdo é aquele que mais qualidade atrai, quer a bola saia pela direita, quer pela esquerda. Porque é o lado para onde cai o médio que maior profundidade oferece, Iniesta, porque é o lado por onde entra Piqué, sempre que tenta criar superioridade com bola, e porque é esse o destino dos movimentos mais fortes de Messi, vindo da direita, em diagonal, e escondendo a bola com o seu pé esquerdo das sucessivas tentativas de desarme.

Perante esta situação, revelou-se completamente diferente a utilidade do posicionamento de Pedro. Na primeira parte, colando-se à esquerda, raramente jogou ou criou algum tipo de problemas ao Real Madrid. Pelo contrário, com Villa permanentemente a cair no espaço dos centrais e Messi a baixar para dar apoio à construção, Arbeloa tornou-se um elemento preponderante no encurtamento dos espaços interiores, posicionando-se muito perto de Ramos e mesmo dos próprios médios.

Na segunda parte, Pedro apareceu do outro lado, precisamente nas costas de Arbeloa. A diferença foi enorme, como se pode constatar nas imagens. Quando o jogo entrava directamente na esquerda, Arbeloa era "arrastado" para a ala, abrindo espaços de penetração de que Iniesta não tinha usufruído na primeira parte. Quando, por outro lado, a bola entrava na direita e se protagonizavam as habituais diagonais em direcção ao corredor contrário, Pedro surgia como uma alternativa extra para o passe. Algo que, mais uma vez, na primeira parte não tinha acontecido.

Foi um pormenor que, como é fácil perceber, terá sido determinante, mas que não vi abordado nas análises dos treinadores. Será, por isso, um dado interessante de acompanhar nos próximos capítulos desta empolgante série de duelos.

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21.4.11

Benfica - Porto: Estatística e Análise

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- Surpreendeu-me a abordagem ao jogo de Jesus. Esperava que voltasse às duas linhas de quatro e à colocação de Peixoto junto a Garcia, repetindo a "fórmula" do Dragão. Não sei se não o fez por mera opção estratégica, ou se abdicou dessa opção apenas devido às ausências de Gaitan e Salvio. Seja como for, estou em crer que o treinador estará arrependido de não ter introduzido essa opção no jogo, não digo de inicio, mas no inicio da segunda parte.

- Também estranhei a abordagem do Porto ao jogo. A pressão incidiu mais no bloqueamento da zona média e não esteve especialmente agressiva sobre o tempo de passe na zona de construção. Com bola, o Porto raramente utilizou Fernando na primeira parte e notou-se uma tendência para recorrer mais directamente a Falcao. Talvez Villas Boas também estivesse à espera de outra estratégia do Benfica, mas a verdade é que a equipa teve dificuldades em ser dominadora no jogo, como aconteceu na segunda parte.

- Com a combinação das duas posturas, o jogo na primeira parte foi relativamente fraco. Pouco risco em posse, várias solicitações directas de parte a parte e poucas situações de ataque rápido. Esteve melhor o Benfica durante boa parte do tempo, conseguindo ter mais bola e chegar mais perto da baliza contrária, especialmente através de vários livres nas imediações da área. Apesar disso, foi também sempre o Benfica quem esteve mais propenso ao erro, e acabou por conceder a principal ocasião da primeira parte, precisamente num lapso de Jardel.

- A segunda parte foi realmente diferente, embora se deva dizer que o Porto conseguiu um notável aproveitamento das ocasiões criadas, já que não foram muitas mais do que os golos que marcou. A principal alteração no jogo teve a ver com o domínio, sendo que na segunda parte foi o Porto quem tomou conta do jogo, invertendo a posse de bola e passando a actuar como mais gosta, ou seja, em ataque posicional, dando fluidez à circulação e com uma forte reacção à perda.


- Há dois momentos que me parecem decisivos no jogo. A alteração de Micael por James, e o primeiro golo. O efeito da alteração não teve a ver com a prestação de James, que até foi, a meu ver, bem inferior à de Micael, mas com a alteração táctica e com a presença de mais um elemento na ligação meio campo-ataque, no corredor central. O domínio, aí, acentuou-se de forma clara. Depois, o golo, com o Benfica a acusar claramente o momento, a ter dificuldade em organizar-se defensivamente, em se manter agressivo sobre a posse contrária e em sair do "colete de forças", nessa altura claramente observável. Foi tudo muito rápido, mas provavelmente Jesus poderia e deveria ter sido mais lesto a reagir.

- A reacção do Benfica à súbita inversão de situação foi boa. A entrada de Aimar trouxe mais qualidade e energia e a equipa parecia ser capaz de voltar a crescer no jogo. As substituições posteriores podem retirado organização e quebrado o momento de reacção após o 1-3. Nunca saberemos o que teria acontecido, mas a verdade é que fica a ideia que colocar mais gente na frente apenas partiu a equipa e lhe retirou consistência.

- Em suma, o Porto foi claramente feliz pelo aproveitamento que conseguiu na sua melhor fase, já que o jogo esteve muito tempo longe de parecer fora do controlo para os dois golos de vantagem que o Benfica trazia da primeira mão. Ou seja, o seu mérito é incontornável na forma como impôs o seu domínio durante os primeiros 30 minutos da segunda parte, mas para quem tinha de recuperar dois golos, é também verdade que a primeira parte não foi bem conseguida. Quanto ao Benfica, e como referi ontem, voltou a não conseguir gerir o jogo e a vantagem muito confortável que trazia, sucumbindo claramente assim que o jogo começou a ameaçar escapar-lhe.

Notas individuais (Benfica)
Jardel - Conseguiu algumas intervenções vistosas, mas no geral foi pouco para os erros que cometeu. Ainda assim, este era um jogo de elevado grau de dificuldade e Jardel parece-me uma opção nesta altura claramente mais fiável do que o super instável Sidnei. O que não se pode esperar é que se torne, de repente, numa solução ao nível de Luisão ou David Luiz.

Peixoto - Continua-se a querer ver nele uma solução que não oferece, nem nunca ofereceu durante toda a época. Ou seja, sempre que joga no corredor, Peixoto tem grandes dificuldades em impor-se, quer em termos de agressividade/intensidade, quer em termos de capacidade criativa. As suas melhores exibições foram como médio, em posições interiores, onde parece dar-se bem melhor. Devia ter saído mais cedo no jogo (ou mudado de lugar), porque a jogar onde estava, nunca deu muito à equipa.

Jara - Lutou, é verdade, e até conseguiu alguma consequência em situações pontuais, mas nas intervenções mais importantes, quando era possível acelerar o jogo e tentar situações de ataque rápido, decidiu quase sempre mal. A principal das quais, no lance que terminaria com o golo de Moutinho. Jara tentou forçar sozinho e acabou por retirar à equipa a possibilidade de surpreender o adversário, num lance que ilustra bem as suas dificuldades em lances do género.

Aimar - Obviamente que devia ter entrado mais cedo. Numa situação em que Gaitan e Salvio estão indisponíveis, não parece muito compreensível que se reserve tão pouco tempo para Aimar.

Notas individuais (Porto)
Otamendi - Cometeu em erros em posse - o que lhe é hábito - mas revelou-se fantástico nos momentos de transição. Quer em recuperação, quer em antecipação do primeiro passe de transição, Otamendi sobressaiu claramente dos restantes jogadores.

Fernando - A sua exibição é um pouco a imagem da equipa. Ou seja, na primeira parte esteve ausente do jogo (não por culpa sua), mas na segunda cresceu muito, atingindo os parâmetros habituais do seu rendimento. Com mais presença em posse, ainda que com erros, e sobretudo muito forte no controlo defensivo da sua zona, nomeadamente na reacção à perda.

Micael - Saiu, mas até esse momento tinha sido provavelmente o melhor jogador da equipa. Seguramente, foi aquele que mais participação e influência teve em posse, e também com uma presença importante na recuperação (capítulo onde tem dificuldades).

Moutinho - Tal como contra o Sporting, voltou a ser decisivo ofensivamente, mas menos correcto e influente com bola, em relação àquilo que é o seu traço habitual. Ainda assim, há claramente uma explosão de rendimento com a alteração táctica e com o golo que marcou. A partir daí "encheu" o campo, com a sua presença elástica e extensível a todas as situações do jogo.

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Clássicos: notas antes da análise (breves)

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- Não era o cenário mais provável, mas era certamente um cenário que muitos já antecipavam, dado o momento das duas equipas. Sobre o jogo em si, voltarei com uma análise mais cuidada, preferindo não avançar já com grandes apreciações. No entanto, creio que o momento começa a ser critico para o Benfica e para Jorge Jesus, merecendo a situação algumas reflexões. Primeiro, constatar que o Benfica voltou a não mostrar capacidade de gestão do jogo e da eliminatória, e, também, que voltou a ter no capítulo emocional uma debilidade gritante assim que se sentiu ameaçado (quantas vezes encaixou o Benfica vários golos em períodos curtos de tempo?). Mas - e o meu ponto é este - tudo isto já se conhecia e, tal como as qualidades do seu modelo, também estes defeitos haviam sido detectados antes mesmo de Jesus chegar ao Benfica. Ao contrário do que apontam os habituais "diagnósticos de segunda feira", não tem a ver com sistemas, nem, tão pouco, com opções individuais. É, antes sim, um problema de ADN desta equipa e desta liderança, e que, mesmo não tendo sido tão exposto no passado, sempre existiu. Hoje, é fácil criticar Jesus - e muitos dos mais duros serão os mesmos que o elogiavam desmesuradamente há bem pouco tempo - mas Jesus não é hoje menos competente do que quando foi considerado o grande responsável pela excelente época de 09/10.

- Outro jogo que merece análise - e a terá, mais tarde - é o Real Madrid - Barcelona. Para já, quero apenas fazer uma referência ao facto de se terem jogado os dois clássicos ibéricos ao mesmo tempo. Não há dúvidas qual dos dois merece a prioridade do mercado internacional, mas o momento do futebol português poderia fazer com que o jogo da Luz fosse procurado e visto em todo o mundo, valorizando a imagem dos dois clubes e do futebol interno. Era bom que se pensasse mais e fizesse destes assuntos a grande prioridade do futebol português (em vez de outros, que nem vale a pena comentar). A competência ajuda (e muito!), mas se não se souber vender, o futebol português continuará a ver aumentadas as diferenças de orçamento e condições para as principais ligas. Que é como quem diz: terá cada vez menos hipóteses de garantir melhores jogadores, melhores treinadores e, consequentemente, tem melhor futebol.

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19.4.11

Porto - Sporting: Estatística e notas do jogo

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- Tinha antecipado a alta probabilidade do Sporting não ser capaz de discutir o jogo em termos territoriais com o Porto. Não se trata de opção estratégica, mas simplesmente de incapacidade para o fazer. Isso, sem qualquer surpresa, verificou-se, ficando depois por perceber até que ponto o preço dessa diferença de supremacia podia ser custosa para o Sporting. Não foi muito, em boa verdade.

- Começando pela incapacidade do Sporting em discutir o jogo, ela explica-se (e recapitulando a ideia já explicada noutros jogos) em dois eixos: 1) pelo contraste entre as soluções que ambas as equipas criam para a sua posse, e 2) pela diferença de capacidade pressionante precisamente sobre a posse contrária.

- Em termos defensivos, o Sporting voltou igualmente a mostrar as suas fragilidades em vários aspectos. Primeiro, o pressing, embora tenha vindo a melhorar, está longe de ser uma barreira difícil de ultrapassar. Depois, quando é obrigado a jogar em zonas mais baixas, a equipa fundamenta a sua capacidade defensiva sobretudo pela presença e equilíbrio numéricos, e isso foi perfeitamente notório na facilidade com que se permitiram cruzamentos e finalizações em zona circundante da área.

- Se houve algo que equilibrou o jogo foi o jogo menos concentrado do Porto em posse, tendo em conta aquilo que lhe é hábito. Cometeram-se vários erros evitáveis e que acabaram por permitir ao Sporting uma proximidade com o golo indesejável do ponto de vista portista. Há também mérito do Sporting, mas, como referi, face ao rendimento que o Porto costuma apresentar, a prestação foi bem abaixo do que se pode exigir.


- Em termos de dados estatísticos, sem surpresa mais e melhor posse por parte do Porto, e maior incidência do Sporting nos momentos de transição. Embora, a equipa portista tenha tirado também partido de alguns ataques rápidos, conseguindo 3 dos seus 8 desequilíbrios por essa via. Já agora, em termos de desequilíbrios, 4 dos 8 desequilíbrios portistas resultaram de cruzamentos, e 3 deles foram “salvos” por Rui Patrício.

- Em relação ao Sporting, Couceiro voltou a registar um novo mínimo de passes completados num jogo, bem como a percentagem de passe. Um “recorde” que havia sido batido em Guimarães, mas que, sem surpresa, volta a ser piorado no Dragão. Como já expliquei, são tendências que têm a ver com a matriz de jogo que o Sporting passou a apresentar desde a entrada de Couceiro.

Notas individuais (Porto)
Álvaro Pereira – Foi, a grande distância, o jogador mais interventivo no jogo. Acabou, também por isso, por ser um dos melhores em campo, sobressaindo pelos cruzamentos que tirou, sobretudo de primeira, num movimento característico da equipa do Porto.

Guarin – Confirma que a sua mais valia é mesmo em termos ofensivos. Como “pivot” fez um jogo regular, mas longe dos níveis que Fernando pode dar à equipa nessa função.

Moutinho – É curioso como fez um jogo em contra-ciclo com o que lhe é hábito. Ou seja, desta vez Moutinho não foi o relógio habitual no meio campo. Falhou vários passes, e ficou intimamente ligado à origem do lance do primeiro golo. Porém, Moutinho compensou com uma participação ofensiva que teve uma importância acima do que lhe é hábito, estando directamente ligado a alguns desequilíbrios, nomeadamente o que resultou na assistência para o segundo golo. Em termos defensivos terá estado ao seu nível e acima dos restantes elementos do meio campo.

R. Micael - Grande jogo do madeirense. Por vezes discreto, mas quase sempre presente. Foi o jogador com mais influência em termos de posse - a grande distância - sobretudo por ter sido aquele que garantiu mais consistência na entrega. Complementou essa presença com aparições importantes em termos ofensivos, sobretudo nas jogadas mais perigosas em ataque rápido.

Falcao - Não há muito a dizer quando um jogador faz uma exibição destas. Sozinho, pulverizou a defensiva do Sporting em situações de finalização. Mesmo se houve lances em que a defesa deixou a desejar, Falcao é um fora de série na resposta a cruzamentos, e é essa característica que o torna verdadeiramente especial.

Walter - Uma nota para ele. Reapareceu muito tempo depois e voltou a mostrar que tem qualidade de sobra para ser uma aposta de futuro. E não apenas pelo golo. Enfim, posso-me enganar, mas acho realmente estranho se Walter tiver sido preterido apenas por critérios técnicos.

Notas individuais (Sporting)
Evaldo - Na realidade, não fez um mau jogo em vários aspectos. Esteve mais interventivo do que é habitual, conseguiu algumas antecipações que lhe são raras e dar alguma dinâmica ao corredor. Só que a sua exibição não pode deixar de considerar (outra vez!) a passividade com que aborda alguns lances. Nomeadamente, no primeiro golo de Falcao, onde pelo menos deveria ter saltado com o atacante, e numa ou outra jogada em que a sua falta de agressividade no espaço condicionou a equipa em termos defensivos.

Polga - Foi batido no terceiro golo e tem responsabilidades na forma como se "perdeu" posicionalmente, mal Moutinho saiu do drible após o canto. Seja como for, está longe de ser o principal responsável no lance. De resto, voltou a revelar-se como o jogador com mais intervenções defensivas (o que é um hábito). Com bola, teve a responsabilidade de tentar sucessivas saídas longas em face da pouca preparação colectiva para a saída em apoio.

André Santos - Fez um bom jogo em quase todos os planos. Apenas "borrou" a pintura já numa fase adiantada do jogo em que perdeu segurança em posse, acabando por estar na origem de alguns ataques rápidos contrários. Confirma-se, porém, que é muito melhor como "pivot" do que como médio.

Matias - Não foi um jogo fácil para quem gosta de ter bola. Matias soube esperar pelos seus momentos para desequilibrar.

Valdes - Jogo muito fraco no Dragão. A nota vai para a sua influência negativa para a equipa no inicio da segunda parte. Não teve a intensidade exigível no lance do segundo golo, e, poucos minutos depois, a frieza suficiente para não se deixar atemorizar pela "locomotiva" Sereno, quando tinha tudo para pelo menos finalizar melhor.

Djalo - Está num bom momento, voltou a ser desequilibrador e útil em termos defensivos. Tem lacunas evidentes e pode não ter o estilo mais simpático para a generalidade dos adeptos, mas é um jogador que o Sporting deve obviamente ter em conta para o futuro.

Izmailov - Uma boa notícia o seu regresso e um bom sinal o seu rendimento, entrando tanto tempo depois e a meio de um jogo tão intenso. Ainda assim, podia e devia ter feito melhor no terceiro golo.

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18.4.11

Real Madrid - Barcelona: Estatística e algumas notas

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Real Madrid: A “ceder da posse” ou “racionalizar a recuperação”
Na realidade, creio que a “cedência da posse” nunca é uma boa estratégia. O que pode acontecer é um reconhecimento das dificuldades de recuperação da bola e, por consequência, uma racionalização da acção defensiva. Quando se confunde “ceder a posse” com “racionalizar a recuperação”, e mesmo se os dois conceitos possam muitas vezes parecer a mesma coisa, está-se normalmente a dar um passo gigante na direcção da derrota. O que o Real fez foi, precisamente, racionalizar a sua recuperação de bola, assumindo e reconhecendo a força extraordinária que tem a posse e circulação do Barça, mas não abdicando de a tentar condicionar. Sobre as diferenças entre estes dois conceitos, “ceder a posse” e “racionalizar a recuperação”, importa notar que o objectivo do Real não era, nem nunca foi (mesmo com 10), jogar num bloco baixo ou aglomerar-se junto da sua área. Era, isso sim, tentar condicionar a circulação contrária e, se possível, provocar a perda em zona de construção. O ponto é este: perante equipas fortes na posse e reacção à perda, recuperar em cima da área torna praticamente impossível a transição.


Barcelona: o dilema do efeito Messi
Há, a meu ver, um acréscimo de qualidade e dificuldade para os adversários no Barcelona “pós-Ibrahimovic”. Com a passagem de Messi para a zona central, a equipa torna-se ainda mais forte na construção, criando uma dilema terrível para as defensivas contrárias. Ou seja, por um lado, o avançado (Messi) baixa criando superioridade numérica na zona de construção/criação. Por outro, a zona central da linha defensiva é sempre aquela que é mais importante proteger, pelo que retirar-lhe presença em qualquer instante é assumir uma vulnerabilidade extrema em termos de segurança defensiva. Isto, claro, para além da qualidade absurda do próprio Messi.

A grande dificuldade de controlo do bloco do Real teve a ver com esta particularidade. Normalmente, haveria uma situação de 3x3 no corredor central, mas com o efeito Messi, o Barça tinha sempre uma unidade a mais. O Real estava obviamente preparado e manteve Benzema mais contido e próximo de Busquets, para que nenhum dos outros médios tivesse de sair ao primeiro apoio e fragilizasse, depois, o controlo no espaço entre linhas. Nem sempre foi conseguido, muito pela acção de Piquet, mas foi pelo menos relativizado.

Pepe: a arma defensiva de Mourinho
A resposta de Mourinho ao efeito Messi passou muito pela utilização das características extraordinárias de Pepe. Ou seja, a sua reactividade no espaço é enorme e, prevendo a tal dificuldade do Real em manter equilíbrios numéricos no corredor central, Pepe garantia maior capacidade de reagir e recuperar rapidamente. Assim foi. O outro lado da sua utilização teve a ver com as primeiras bolas aéreas. Ou seja, em situações de falta em zona recuada, Pepe subia para próximo de Benzema, para disputar a primeira bola e dar, nesse particular, boas possibilidades ao Real para sair a jogar a partir da segunda bola. Tanto num como noutro plano, Pepe correspondeu.

É habitual ouvir-se e ler-se criticas a Pepe. Haverá várias criticas justificadas, sem dúvida, mas a generalidade resulta de uma repetitiva dificuldade em perceber que no futebol não existem decisões ou abordagens certas ou erradas, por definição ou convenção. Que a complexidade (termo muito em voga, mas raramente percebido) do jogador implica precisamente que qualquer componente é relevante e influencia todas as outras, inclusive a decisional. Ou seja, que se Pepe tem mais valias extraordinárias em termos físicos, isso lhe permite ter formas de jogar diferentes de jogadores mais limitados em certas características e que isso não representa um defeito, mas, no mínimo, uma mais valia potencial.

Há que constatar, já agora, que durante épocas o Real investiu sucessivamente em centrais de potencial, mas que o único que se afirmou nessa condição foi precisamente Pepe, e não apenas com um treinador. Mais inteligente do que negar a realidade, é tentar percebe-la. Para já, e não tendo dois Pepe disponíveis, é mais do que provável que Mourinho continue a fazer do central uma opção estratégica no controlo de meio campo.

Balanço do jogo
Começando pelos aspectos estatísticos, de notar alguns dados absolutamente invulgares, para além da já esperada avalanche de posse de bola e passes do Barcelona. Esta característica do jogo do Barça quase que absorve tudo o resto. Ou seja, houve muito menos intercepções, finalizações ou passes da outra equipa do que é habitual. Jogadores como Carvalho e Albiol (enquanto esteve em campo) raramente tocaram na bola, fosse para defender ou atacar.

De resto, o resultado parece-me justo, embora não se estranhasse se qualquer das equipas pudesse ter vencido o jogo, com o Barcelona ligeiramente mais próximo desse objectivo. O Barcelona, como é seu hábito, focalizou-se em absoluto nas situações de organização, chegando através dessa via a todos os seus desequilíbrios, destacando-se a forma como conseguiu, nesses momentos, chegar a situações de finalização através do corredor central. Já o Real, embora tivesse apostado tudo no momento de transição, conseguiu aproximar-se do golo sobretudo de bola parada, com Ronaldo, Di Maria e Sérgio Ramos em destaque.

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17.4.11

O clássico do Dragão (Breves)

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- Antecipando a análise posterior, de referir apenas que foi um jogo que acabou por confirmar boa parte das suspeitas sobre a superioridade portista, nomeadamente na dificuldade que o Sporting teria em discutir o jogo pelo domínio e pela posse. Sem surpresa nesse plano, e sem surpresa, também, na diferença de oportunidades que as equipas construíram. Aqui, nas oportunidades, começa a outra constatação: este foi um jogo que correu bem ao Sporting e só isso acaba por justificar a margem mínima verificada. Correu bem, por um lado, porque houve uma diferença de eficácia óbvia, mas também porque da parte do Porto o jogo esteve longe de ser perfeito, com alguns erros a penalizar a equipa. E até podiam ter penalizado mais, se bem que seria totalmente injusto.

Nota evidente para o festival de Falcao. Voltarei ao tema, para já recordo apenas uma reflexão sobre os ponta de lança e a sua movimentação na zona de finalização. Falcao foi um dos destaques na altura.

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'El Clásico', take #1 (breves)

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Voltarei ao jogo mais tarde, e com mais detalhe. Será uma série de 4 jogos que, a meu ver, dificilmente encontra paralelo na História do futebol. Por tudo. Este, por não decidir quase nada, era uma espécie de aperitivo. Na minha leitura, o Real sai reforçado em termos psicológicos. Porquê? É certo que voltou a não conseguir vencer o rival, é certo que perdeu qualquer réstia de esperança (a existir, nesta altura, seria apenas ilusória) em recuperar o título. No entanto, consegue recuperar um empate em circunstâncias dificílimas e dá a oportunidade para que Mourinho possa ter elementos de motivação provenientes da performance dos próprios jogadores e não de outros. É que, face à sua evidente valia (superior a qualquer outra equipa do planeta), o "obstáculo Barcelona" começa nas dificuldades que há em fazer-se alguém realmente acreditar que é possível bate-los - especialmente um Real Madrid traumatizado pelos recentes duelos.

Não há histórias iguais, nem na vida, nem no futebol, mas seguramente que Mourinho procurará usar este jogo da mesma forma que usou o primeiro embate com o Barça na época anterior (0-0). Ou seja, tentando servir-se das próprias exibições dos seus jogadores para lhes fazer perceber que é possível derrotar o maior "papão" do futebol mundial. Para saber o resultado, teremos de esperar...

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15.4.11

A confirmação das meias finais históricas (Breves)

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- Começo pelo Braga, porque era a grande dúvida para a segunda mão. Incrível o feito desta equipa! Para além de não ter (como é mais do que óbvio!) os recursos individuais das outras equipas, teve, também, uma série de condicionalismos que fragilizariam qualquer equipa e qualquer plantel numa fase destas. Perante tudo isto, e acrescentando uma expulsão com 30', o Braga controlou quase completamente o jogo e ainda teve espaço para criar as suas próprias oportunidades para o vencer. Não foi um jogo de sofrimento, foi um jogo de controlo, onde, sendo justo o nulo, o Braga foi a única equipa que se aproximou verdadeiramente da vitória. Individualmente, nota especial para Alan: aquilo que escrevi sobre os veteranos, há dias, encaixa perfeitamente em Alan. Se tivesse 25 anos teria meio mundo atrás dele, porque - e salvo melhor opinião - entre todos os extremos do futebol português, apenas Hulk tem um rendimento superior ao dele nesta temporada...

- Na antevisão das meias finais, entusiasma-me o embate entre Porto e Villareal. Será um adversário mais difícil do que todos os outros que o Porto teve até aqui (já o tinha antecipado, há algumas semanas...). É uma equipa que consegue ter períodos de enorme intensidade, com uma circulação objectiva e intensa e, sobretudo, uma fortíssima reacção à perda, que possibilita à equipa períodos de grande domínio nos jogos. Individualmente, sem dúvida, o destaque vai para Rossi. É, só, um dos mais fortes finalizadores do futebol mundial na actualidade e penso que poderia ter sucesso em qualquer equipa. O Porto é, ainda assim, favorito, porque é uma equipa mais forte em termos globais (ou seja, tendo em conta todos os momentos do jogo), e porque tem uma noção mais lúcida e racional da gestão das partidas.

- Quanto ao Braga-Benfica, sendo uma eliminatória histórica, é também bem menos interessante para o público português. O Benfica é naturalmente favorito, mas o registo entre os 2 clubes nos últimos anos mostra que o Braga é um adversário perfeitamente capaz de superar o Benfica. Há 2 aspectos que, a meu ver, definirão a eliminatória. Do lado do Benfica, o estado emocional da equipa no momento dos jogos. No Braga, a disponibilidade das principais soluções que ainda restam a Domingos...

- Para finalizar, nota sobre o primeiro golo do Porto, em Moscovo. É uma transição cuja simplicidade de resolução parece impossível à partida, dado que Hulk parte para o ataque rápido com 6 jogadores atrás da linha da bola e apenas Falcao à sua frente. Se o vídeo for parado no 0:06, vê-se uma linha de 4 jogadores que são totalmente ultrapassados com o passe vertical de Hulk. Não só o posicionamento é ineficiente, como a falta de reacção dos jogadores é inexplicável, perante a situação em causa. Seja como for, é absolutamente notável a explosão de Hulk. No final de 80 metros, e depois de ter batido mais de meia equipa, ainda tem o desplante de olhar para trás, para ver se pode oferecer o golo a Falcao. Não há muitos jogadores no mundo capazes de algo idêntico...
(vídeo aqui)

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14.4.11

(in)Segurança em posse: os destaques da Liga

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O tema não é novo para quem acompanha as análises que venho fazendo aos jogos dos 3 “grandes”, desde o inicio do campeonato: a segurança em posse, ou, talvez mais correctamente, a frequência com que jogadores e equipas cometem erros em posse, que abrem uma oportunidade de desequilíbrio ao adversário. Para que a leitura seja clara, a métrica que usei contempla o número de passes que, em média, cada jogador precisa de fazer para que uma perda comprometedora aconteça. Os dados, dizem respeito a todos os minutos do campeonato até ao momento.
 

Javi, o corredor central e Benfica, os líderes da insegurança
Para quem tanto procurou os motivos das oscilações do Benfica, aqui tem a resposta. Os dados e a preponderância encarnada neles revelada é clara. O problema da transição defensiva não está, nem nunca esteve, na recuperação dos médios ou na incapacidade de controlo dos defensores. Está, e sempre esteve, sim, nos erros que a sua zona de construção repetiu.


O primeiro ponto a perceber nestes dados é que a “mancha” vermelha é de tal forma abrangente que será pouco perspicaz colocar o foco numa incapacidade individual. Ou seja, mesmo se Javi e Airton podem não ser as soluções mais fortes para o momento de construção, a verdade é que parece haver, sobretudo, uma escassez de preocupação e enfoque no critério que a equipa e os jogadores devem dar às suas decisões. Daí, o problema estender-se a um número muito elevado de jogadores.
 

Depois, há claramente uma zona critica para este tipo de erros: o corredor central. A zona do “pivot” é, sem dúvida, a mais afectada pelo risco, dado o elevado envolvimento no jogo e o seu posicionamento, habitualmente bem dentro da zona de pressão do adversário. Mas também a zona mais criativa e os centrais podem ter uma exposição relevante a este tipo de risco, dependendo da envolvência destes jogadores na construção da equipa.

Segurança: os bons exemplos Se análise teve, até aqui, um enfoque no erro e naqueles que mais nele incidem, há também margem para olhar para o outro lado, e para aqueles que se destacam pela positiva neste aspecto. Eis alguns exemplos:


Luisão – Impressionante como, actuando numa equipa com tantas dificuldades a este nível, Luisão consegue fazer uma época fantástica. (1 perda p/280 passes)
Rolando – Maicon e Otamendi não são propriamente exemplos de segurança e se há aspecto onde Rolando justifica a titularidade, é precisamente na sua qualidade e segurança em construção. (1 perda p/170 passes)
Sapunaru – Outro jogador que se destaca pela fiabilidade a este nível. Pode não ser um primor técnico nem uma mais valia na dinâmica que oferece ao corredor, mas ninguém pode acusar Sapunaru de comprometer a segurança da equipa, com bola. (1 perda p/550 passes)
Pedro Mendes – Tem pouco de utilização, a sua fiabilidade vê-se bem para quem joga na posição que normalmente mais problemas sente a este nível. Aliás, é bom que se note que o Sporting tem um excelente registo na segurança dos seus médios defensivos, quando comparando com os rivais. (1 perda p/340 passes)
Carlos Martins – É a excepção do corredor central do Benfica. Se Javi Garcia, Airton e Aimar estão no “top 5” dos mais inseguros, Carlos Martins – o outro elemento habitualmente usado no corredor central encarnado – está a milhas desse nível de rendimento. Aliás, os números indicam quase o dobro da segurança em relação aos registos de Aimar. (1 perda p/107 passes)
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13.4.11

Ryan Wilson podia ser português. Giggs, não.

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Fantástico! As 3 assistências do outrora jovem extremo Ryan Wilson são uma espécie de conto de fadas, e é assim que, seguramente, serão tratadas pela generalidade das crónicas e conversas do pós jogo. “O bilhete de identidade não interessa”, repetir-se-á, numa verdade aparentemente aceite por todos. Será? Claro que não! Na realidade, os elogios à veterania não são mais do que uma enorme hipocrisia, num mundo do futebol onde o bilhete de identidade é sinónimo de sistemático preconceito na avaliação individual.

Começo por recorrer ao testemunho do voleibolista João Brenha, numa reportagem recente. Dizia ele, e a propósito do seu próprio caso, que de “vinho do Porto” a “carcaça velha” vai um saltinho, bastando para isso que a equipa não tenha o sucesso pretendido. E é mesmo assim! O rendimento raramente é verdadeiramente avaliado, sobressaindo sucessivamente o preconceito na opinião que se generaliza a propósito dos jogadores veteranos.


Talvez o maior contra senso deste preconceito esteja, mesmo, nos sinais do tempo. Eu explico: É que, se por um lado passamos a vida a ler e ouvir belas prosas sobre a importância suprema (e abstracta, já agora!) da capacidade de decisão do jogador, por outro, na prática, não se vê qualquer sinal de uma valorização crescente dos jogadores mais maduros. Antes pelo contrário. Ora, tudo isto é estranho, porque se há coisa que os jogadores evoluem ao longo da carreira é, exactamente, na sua capacidade de decisão.

Como em tudo, neste balanceamento entre a perda física e a aquisição decisional, é preciso equilíbrio. A evidência, porém, é que a generalidade do mercado despreza as mais valias dos jogadores mais veteranos. Porquê? Obviamente, porque estes não trazem mais valias financeiras para o investimento que neles é feito. A consequência, porém, é que o mercado de jogadores com mais de 28 anos está claramente mal aproveitado, podendo conseguir-se nele uma grande oportunidade em termos de aproveitamento desportivo.

Mas – e para finalizar – é bom que não haja ilusões... Combinando o modelo de gestão que se popularizou com o próprio preconceito enraizado, é muito improvável que, em Portugal, jovens como Ryan Wilson algum dia terminem sendo Ryan Giggs. E é pena que assim seja...

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12.4.11

Derbi minhoto... (breves)

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- O Braga é melhor e o Guimarães não passa por um bom momento. Ninguém duvida. Mesmo assim, surpreendeu-me a diferença que se observou. Avassalador domínio territorial do Braga em todo o jogo. É verdade que na primeira parte sem grandes ocasiões, como referiu Machado. É verdade que nesse período faltou mobilidade e qualidade de movimentos no último terço, como referiu Domingos. Mas não é minimamente verdade que o Braga apenas se tenha superiorizado na segunda parte. De forma nenhuma!

- Não está em causa a estratégia de maior expectativa do Vitória. O que está em causa é a sua incapacidade para fazer 1 passe que fosse, após a recuperação. Completamente díspar a percepção táctica de ambas as equipas para o momento de transição. Muito forte o Braga a condicionar o passe do adversário. Muito fraco o Vitória a não ser capaz de procurar uma solução útil, jogada após jogada. Assim, foi uma chuva de ataques sucessivos, e sem direito resposta.

- Ainda sobre a primeira parte, referir que a lacuna do Braga esteve na forma como a equipa não soube ser criativa no último terço. Repetiu a mesma solução vezes sem conta: o cruzamento para o espaço entre centrais e a baliza - zona de exploração do movimento característico de Lima. Devia ter havido outro tipo de soluções, outro tipo de inspiração, mais mobilidade e muito mais Mossoró. Não houve, e o Braga adiou a capitalização do "massacre". Nota para as bolas paradas, onde o Braga acabou por descobrir o caminho para os 3 pontos: para quem domina tanto como normalmente faz o Braga, é importante (mesmo fundamental!) ser forte na exploração deste tipo de soluções...

- Uma nota final sobre o Vitória. Machado continua a arranjar desculpas para a quebra de equipa. A verdade é que o futebol do Vitória raramente apresentou qualidade com consistência, pedindo-se bem mais a uma equipa com as suas aspirações. Neste momento não é sequer certo que a equipa termine perto da zona europeia, sendo que não será fácil igualar o registo pontual da época anterior, onde, lembre-se, Paulo Sérgio apenas entrou já com a época em andamento. A Taça foi uma bênção para Machado e para o Vitória, mas, quer treinador, quer clube devem parar para reflectir. Machado, para perceber se as suas desculpas fazem algum sentido quando a época já vai em Abril. O Vitória para perceber se Machado é mesmo a melhor solução para o futuro...

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11.4.11

Sporting - Académica: Estatística e comentário

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Notas colectivas
- Confirmam-se algumas características do Sporting, “era Couceiro”. Uma equipa sobretudo prudente, quase tímida e com receio de se expor. Isso vê-se com bola e sem ela. Com bola, no privilegiar de equilíbrios e segurança, em detrimento de qualquer arrojo pela qualidade de posse e circulação. Sem bola, na forma como a equipa se posiciona perto da sua área, não arriscando subir linhas para conseguir maior presença pressionante em zonas mais altas.


- Concretamente no jogo, o Sporting não conseguiu grande qualidade em posse. Mesmo se o seu trio de meio campo realizou um bom jogo. A equipa jogou sobretudo a partir de segundas bolas e de recuperações na zona média, tentando algumas acelerações a partir de momentos de eventual desorganização da Académica. Mas não houve grande qualidade de movimentos colectivos, na ligação entre sectores. Na segunda parte, exigia-se mais capacidade para ter bola e controlar o jogo usando a bola para manter o adversário longe da sua área. Como isso não aconteceu, o Sporting voltou a realizar um jogo com pouco aproveitamento no passe, quer em termos quantitativos, quer em termos qualitativos.
 
- As melhores indicações da equipa – que são novidades, note-se – vêm do enfoque dado à reacção à perda e ao pressing em organização, bem como no capítulo das bolas paradas. Aliás, foi através deste tipo de situações que a equipa encontrou o seu caminho para a vitória. São detalhes importantes e que fazem muita falta, mas é ainda pouco...

- Se a vitória do Sporting foi justa e natural, é importante perceber o papel da Académica. A “Briosa” não teve, nem intensidade, nem agressividade, nem inspiração. “Tremeu” perante o pressing, não teve agressividade e presença para vencer as inúmeras segundas bolas, de onde partiram várias jogadas e, já na segunda parte, faltou-lhe também inspiração para "dar último terço" às fases de domínio que conseguiu. O Sporting teve o seu mérito, nomeadamente nos aspectos já mencionados, mas a oposição também ajudou...


- Importa também contextualizar o momento do Sporting com os desafios que lhe restam. Esta será, a meu ver, a 
versão mais fraca da época. Não tem mais valias como João Pereira, Maniche, Pedro Mendes, Valdés (o “outro”) e Liedson. À margem do Matias de hoje, seriam, provavelmente, os 5 melhores jogadores que a equipa deste ano tinha. Com eles haveria outro potencial, ninguém tenha ponta de dúvidas. Couceiro anunciou que a equipa não vai ao Dragão “para empatar”. No entanto, parece-me que o melhor é que não haja ilusões. Este Sporting vai ao Dragão para sofrer... e muito. A facilidade com que se submete a zonas baixas e a pouca importância que dá à qualidade do primeiro passe de transição não devem deixar grande margem para respirar. O Porto, depois, definirá qual o preço desse sofrimento, mas é bem possível que não fique barato. De resto, também não será provável que a equipa sobreviva em Braga, se lá chegar com hipóteses de discutir o 3º lugar. Por tudo isto, sou da opinião que o 4º lugar é, nesta altura, um bom “negócio” para este Sporting.
 

Notas individuais
Rui Patrício – Sempre digo o mesmo, o melhor e mais válido elogio para qualquer guarda redes é a ausência de criticas. Os guarda redes fazem-se da regularidade e não de grandes exibições, e não faltam exemplos actuais para que isto se perceba com clareza. O ponto sobre Patrício é que a sua evolução está a acontecer, mas ainda não acabou. Por isso, convém manter os pés no chão...


Abel – Fez um jogo abaixo do que pode e sabe, mas é um bom valor (bem melhor do que Evaldo, do outro lado, por exemplo) e uma boa solução. João Pereira é uma mais valia, Abel é uma boa alternativa. Aspectos financeiros à parte (porque os desconheço), seria claramente para renovar...


Zapater – Falta-lhe reactividade, agressividade e, em determinadas zonas, segurança em posse. Mas tem um bom sentido posicional e uma boa percepção do jogo. São qualidades que, por exemplo, dariam muito jeito a André Santos, que tem uma disponibilidade física muito superior. Foi um bom jogo de Zapater, mas continuo a achar que seria bom o Sporting encontrar um jogador com outro perfil para o seu meio campo. 


Matías – Está motivado e inspirado. Pena que a equipa não dê mais asas ao seu futebol. Esperemos por mais uma época...


Djaló – Fez um excelente jogo. Pelos golos, claro, mas também pela capacidade de trabalho que revelou. No Dragão, será a esperança de Couceiro. Ele e a sua velocidade...


Postiga – O seu melhor movimento é quando aparece nas alas e vem para dentro – sobretudo à direita. Postiga serviu Zapater nessa situação, logo a abrir o jogo, mas... pouco mais fez. Continuo a pensar que Postiga pode dar muito mais do que aquilo que realmente acontece, e este jogo é um bom exemplo disso mesmo...

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A jornada e o "momento" (breves)

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- Começando pelo jogo de Alvalade, vou-me poupar a grandes comentários, porque a análise da partida será o próximo tema neste espaço. Ainda assim, fica a nota de alguns bons indicadores da equipa de Couceiro. Não tão bons como o efeito fotográfico dos golos de Djaló, mas o suficiente para representar uma novidade positiva.

- Em Portimão, um resultado de volumetria francamente exagerada. Mesmo se a segunda parte foi bem mais generosa do que a primeira em termos de espaço. Culpa do Portimonense e da sua estratégia. De resto, o jogo deu para mostrar que poderá não ser tão fácil como isso o Porto garantir a invencibilidade até ao final. Pela prioridade de gestão, mas sobretudo pela intensidade que os jogadores não mantêm, tendo o título no bolso e outras provas para pensar. Pode não ser intencional, mas é quase inevitável que se facilite...

- Na Figueira, o Benfica pagou sobretudo o preço de uma má entrada no jogo. Pós-primeiro golo, a equipa pareceu sempre mais próximo do golo do que o seu adversário. Uma derrota irrelevante em termos teóricos, mas que pesa na equipa e no próprio treinador. Não sendo campeão, todas as derrotas servem para aumentar o fardo do falhanço, e não é preciso acompanhar muito atentamente o fenómeno futebolístico para o perceber.

- Em relação aos restantes jogos, queria aproveitar as goleadas para destacar uma palavra que frequentemente repeti nos comentários que fui fazendo ao longo da época: o "momento". Tivemos o "momento" positivo de Guimarães, Académica, Leiria, Olhanense e Paços. O "momento" negativo de Rio Ave, Braga e Marítimo. Estes "momentos", comuns a quase todas as equipas, são muito mais "ruído" do que "tendência". "Ruído" que, porém, motivou, motiva e motivará discussões, conclusões, elogios e criticas em torno do valor e potencial de equipas e protagonistas. Tenho para mim que é bem mais fácil viver do "momento" do que conhecer o futebol.

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8.4.11

Liga Europa quase conquistada! (Breves)

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- No Dragão, o Porto não começou bem. Aliás, a sua entrada podia ter comprometido uma eliminatória que acabaria praticamente resolvida no final do jogo. A verdade é que houve 2 indícios que sempre estiveram presentes e que acabariam por se revelar decisivos no volte face que o jogo conheceu. O "pressing" e a instabilidade da zona central da defensiva russa (Rojo a central?!). A sua posse, por outro lado, foi o que mais contribuiu na tal entrada adormecida, mas também nesse plano a equipa cresceu. Fundamental, mesmo, foi o primeiro golo, que atraiu o Spartak para menores níveis de organização e lucidez, abrindo mais espaços e possibilitando uma verdadeira "avalanche" de oportunidades portistas na segunda parte. Destaque, aí, para as dificuldades dos russos na resposta a cruzamentos. Quer no controlo de Falcao (voltou a mostrar que é neste tipo de movimentos que é realmente um fora de série), quer, mesmo, na resposta às bolas paradas. Há que começar a pensar nas meias finais...

- Na Luz, impressionante intensidade do Benfica desde o minuto inicial. Há que notar a importância do público para que a equipa pudesse recuperar níveis de motivação, entusiasmo e confiança, que tanto parecem condicionar a qualidade do seu jogo. Se tivéssemos um Benfica em fase positiva, provavelmente o pesadelo do PSV teria sido ainda maior. Fortíssima intensidade, sobretudo visível na reacção à perda e na rapidez de desdobramento ofensivo. Ainda assim, o PSV, creio, justificou o golo, mesmo contando com o erro de Roberto. É que o Benfica voltou a não estar muito bem na tentativa, que me pareceu deliberada, de gerir o jogo e controlar o adversário. Valeu o último fôlego, embora seja da opinião de que mesmo com a margem mínima, o Benfica continuaria a ter um forte favoritismo para sair vencedor desta eliminatória.

- Quanto ao jogo do Braga, não pude ver. Foi um bom resultado, mas não foi ainda feito o mais difícil. Nesta altura, porém, é impossível considerar o Dinamo favorito, se atendermos ao currículo caseiro do Braga de Domingos. Não pára de espantar, o Braga. Não é pela história que é um feito incrível. É, isso sim, pela conjugação de uma absurda diferença de orçamentos e uma anormal série de contrariedades e perdas desde o inicio da época. Que mais terá para nos oferecer?!

- "O "ouro" do sorteio está nos países baixos!", escrevi na antevisão do sorteio dos quartos de final. A escola holandesa actual esteve em discussão aí, mas também no perfil dos treinadores que se lançaram nas "eleições" do Sporting. O liga holandesa tem boa qualidade individual (bem melhor que a portuguesa, em termos médios) e um grande enfoque na posse e no jogo em apoio, como se viu, aliás, no caso do PSV. O ponto - e volto a insistir nisto - é que o futebol não se define pelo enfoque que se dá a um estilo, mas sim pela capacidade e coerência que as equipas apresentam em todos os momentos que o jogo tem. Confesso que me espanta como certo tipo de ideias líricas continuam a ser "vendidas" em tantas prosas sobre o jogo...

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7.4.11

Guimarães - Sporting: Estatística e algumas notas

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- O jogo foi fraco. Nenhuma das equipas esteve à altura do que se lhe deve ser exigido, revelando estados de ânimo e confiança muito débeis nesta fase final da temporada. Dá ideia de que, para ambos, o campeonato estaria melhor se já tivesse terminado.

- O resultado, parece-me, foi justo, apesar de também entender que o Sporting esteve ligeiramente melhor. A constatação mais desapontante vai para o facto de os melhores períodos de ambas as equipas resultarem muito mais do aproveitamento do demérito alheio do que da imposição do seu próprio mérito.

- No Sporting, a “era Couceiro” revelou-se como uma espécie de plano de austeridade futebolístico. O discurso foi sempre de auto vitimização e de permanente desculpabilização antecipada, e o futebol, no campo, acompanha a mensagem. A equipa joga pouco para errar menos. Arrisca pouco, tanto com bola, como em termos posicionais, e espera para ver o que o jogo lhe oferece. Há dados claros que o confirmam este menor arrojo e contenção colectiva: os 188 passes completados representam um mínimo da equipa em jogos da Liga, assim como a própria percentagem de sequência em posse. Ainda assim, talvez a evidência que mais reflicta a “austeridade” de Couceiro, seja a forma quase confrangedora como a equipa “afundou” no campo na segunda parte, abdicando de tentar um 1º passe de transição útil, em favor de sucessivos alívios sem destino.

- O Vitória não foi melhor. Na primeira parte, “entregou-se” ao Sporting com uma posse pouco esclarecida, ora demasiado directa, ora mal ligada. A ideia é sempre a ligação de corredores, onde o apoio dos laterais está sempre preparado para criar boas situações de cruzamento (e quantos cruzamentos se viram na 2ªparte!). Na segunda parte percebeu que o Sporting facilmente seria encurralado com uma atitude mais forte. Mas, e de novo, as soluções foram sempre repetitivas no último terço. De notar, também, a vulnerabilidade da equipa sempre que o Sporting ultrapassava a linha média com a bola nos pés. Desorganização, desequilíbrio táctico e algumas opções de desarme menos próprias e que comprometeram a equipa.

- Duas notas individuais. A primeira para Matias, que se encontra numa das melhores fases desde que chegou ao Sporting. Não conseguiu ser determinante e na 2ª parte bem podia ter estado lá outro qualquer, dado o tipo de jogo a que a equipa se submeteu, mas a sua influência ficou clara na 1ªparte. Pena que Couceiro não encontre também uma maneira de potenciar o melhor que já se viu de Valdes. A segunda nota vai para Polga. É, com alguma distância, o melhor central da equipa. Não é perfeito, todos lhe conhecemos erros e é também evidente que não se sente confortável jogando mais alto. Mas tem uma capacidade posicional como não há no futebol português. Numa altura em que tanto se fala da “revolução”, é paradigmático que à cabeça da lista de dispensas surjam Polga e Maniche, provavelmente (e com João Pereira) os 2 jogadores que mais consistência ofereceram à equipa.

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6.4.11

O duelo inglês e a definição da Champions League 2011 (Breves)

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- Do duelo sairá um provável finalista da prova. Ou seja, um deles poderá discutir o título até ao último jogo, talvez mesmo aos últimos minutos. O facto, porém, é que a primeira parte do embate apenas confirmou que nenhuma destas equipas tem o nível de um campeão europeu. Porque, havendo qualidade individual (sobretudo no Chelsea), não há um nível colectivo de excelência dentro de qualquer um dos momentos do jogo. Ganhou o United, mas a eliminatória está longe de estar fechada. Aliás, parece-me que Ferguson beneficiou do incómodo que o Chelsea sentiu em gerir o peso da responsabilidade de jogar em casa. Seja como for, o desnível explica-se sobretudo pela eficácia e, já agora, pelo confronto entre a experiência de Giggs e a inocência (imperdoável!) de Bosingwa, no lance decisivo.

- Parece claro que teremos uma verdadeira final antecipada nas meias finais. Muito mais do que no anterior, quando o Inter bateu o Barcelona. Real e Barça (sobretudo o Barça, é verdade) estão a grande distância das restantes equipas, mas é importante não confundir esta dupla de "gigantes" com o futebol espanhol em geral. É que a tendência do futebol europeu, parece-me, não converge para a afirmação de qualquer liga como um campeonato superior. Mesmo a Premier League, que continua a ser o mais bem organizado de todos. A tendência passa, isso sim, pela aproximação competitiva do "G5", no seu nível médio. Aqui, já agora, continuo a acreditar na ascensão alemã.

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5.4.11

O Real Madrid - Tottenham, e o "caso Crouch" (Breves)

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- Duas notas sobre o Real Madrid-Tottenham, ambas relacionadas com a expulsão de Crouch...

Primeiro, sobre as consequências. Sem Crouch poder-se-ia admitir que a estratégia do Tottenham ficou condicionada apenas em termos ofensivos. Se a estratégia fosse estacionar o autocarro à frente da sua área, realmente, seria assim. Mas não era o caso (dificilmente uma equipa chegaria tão longe com esse tipo de mentalidade). O Tottenham perdeu Crouch porque se propôs pressionar alto, manter o Real desconfortável em toda a extensão do campo e, se possível, cativar o erro. Sem Crouch, a vida do Tottenham ficou mais difícil essencialmente porque a equipa deixou de poder pressionar em todo o campo. Ou melhor, poder, podia, mas não foi capaz, nem de o fazer, nem de o tentar. O que se viu foi o remeter do bloco para os últimos 30-40 metros, reduzindo os espaços de penetração, sim, mas facilitando também a reacção à perda por parte do Real. Ou seja, e tal como se viu, o jogo ficou destinado ao "massacre" e os golos eram apenas uma questão de tempo, dada a qualidade colectiva e individual dos jogadores do Real. E assim foi.

Depois, sobre a expulsão de Crouch, em si mesmo. Tudo bem que era preciso ser agressivo no pressing, mas, mesmo assim, que necessidade tem um jogador de arriscar um desarme no chão à beira da área contrária, sabendo que já tinha um amarelo? Nenhuma. Tão óbvio, que a decisão só se explica pela menor lucidez do próprio Crouch, um jogador experiente, na abordagem ao jogo. Um dos segredos do sucesso das principais equipas, e um dos grandes objectivos de qualquer liderança é conseguir manter carga certa de emotividade nos jogadores. Ou seja, tê-los motivados e "espicaçados", mas evitando cair num exagero que traga ansiedade e retire lucidez. Em futebol, a liderança mede-se sobretudo neste tipo de situações...

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