Equilíbrio em posse, desequilíbrio em objectividade - O jogo foi, sob diversas perspectivas, equilibrado. Nomeadamente, no que respeita à presença em posse e domínio territorial, onde nenhuma das equipas foi capaz de se impor claramente no jogo. No entanto, foi claramente o Sporting quem conseguiu maior objectividade na sua abordagem ao jogo, havendo no que respeita à proximidade com o golo uma diferença significativa entre o que as duas equipas conseguiram, sendo que por esta perspectiva se aceitaria melhor a vitória leonina do que propriamente o empate. Em 90 minutos, porém, a eficiência na finalização é quase sempre um factor absolutamente determinante e, nesta ocasião, foi o Sporting quem saiu desfavorecido com essa fatalidade.
Sporting: melhor aplicação estratégica e... Carrillo - De facto, e pegando no ponto anterior, o Sporting conseguiu sobretudo ser mais determinante no último terço. Isto resulta, na minha perspectiva, de dois factores. O primeiro tem a ver com a boa interpretação da estratégia que a equipa trouxe para o jogo, nomeadamente no condicionamento da fase de construção do Porto, de onde o Sporting conseguiu recuperações importantes e que lhe ofereceram situações de elevado potencial ofensivo. Por outro lado, o maior número de ocasiões de golo da equipa surgiu na recta final do jogo, havendo muito peso da capacidade de desequilíbrio que Carrillo trouxe ao jogo. Seja como for, o Sporting voltou a provar a si próprio que as diferenças em relação aos seus mais directos adversários podem não ser tão grandes quanto inicialmente se pensava. A receita para 2014 está dada: dar continuidade ao que foi construído em 2013 em termos de modelo de jogo, acreditando sobretudo na optimização das ideias fundamentais e não se deixando iludir pelos sofismas que o futebol vai sugerindo (como sucedeu frente ao Nacional). Se o Sporting o fizer, mantendo a mesma intensidade que apresentou até aqui, então terá tudo para, no mínimo, lutar pelo título até ao fim.
Porto: um banho de realidade... mais um! - O Porto 13/14 tem-se envolvido numa verdadeira sucessão de fantasias. É fácil perceber que a equipa perdeu capacidade e parecem-me também relativamente evidentes quais são algumas das lacunas essenciais. No entanto, repetidamente são sugeridas soluções imediatas e que fazem elevar de novo as expectativas para patamares desmesurados. Convém não perder de vista aquela que me parece ser a realidade desta equipa: o Porto continua a ser uma boa equipa, perfeitamente capaz de se bater por novo título nacional, mas é incontornável que perdeu mais-valias importantes nos últimos 2 anos e que não as conseguiu substituir em termos de patamar qualitativo, o que lhe retira muito do potencial que já teve. É muito improvável que este problema seja resolvido com alterações simples, que tenham a ver com a descoberta de talentos escondidos no plantel, ou mesmo com alterações estruturais que muitos viram mas que nunca existiram. A solução, no curto prazo, passará por um aperfeiçoamento das dinâmicas colectivas e esta fé em torno de soluções milagrosas através da troca do jogador A pelo jogador B só tem impedido que essa evolução tenha lugar. Este jogo foi, nesse aspecto um bom exemplo. É verdade que o Porto jogou sem as suas duas unidades mais valiosas (Jackson e Lucho), mas também é um facto que foram 90 minutos de grande ineficácia na interpretação das ideias fundamentais do seu jogo. Se me perguntarem que Porto prefiro, o actual ou aquele que iniciou a temporada, eu optaria pela primeira versão. Ou seja, entre tantos avanços e recuos, não consigo ver nenhuma evolução qualitativa nesta equipa. Pelo contrário, há hoje mais confusão e unidades em pior momento de confiança.
Individualidades (Sporting)
Boeck - A modéstia da sua actuação é um elogio à equipa, porque realmente teve muito pouco para fazer.
Cedric - Mais um jogo em que foi dos melhores em campo. Bem a defender e com boa envolvência ofensiva, onde se destaca de novo a sua capacidade de cruzamento. Tem aumentado a sua consistência nos últimos tempos.
Jefferson - Teve algumas boas incursões pelo seu corredor e fez um jogo regular em termos defensivos, mas esteve longe de ser um jogo brilhante.
Dier - Começou com alguns problemas, primeiro com uma perda de bola displicente e depois com algumas dificuldades em controlar a profundidade no lance em que Alex Sandro isola Ghilas. Depois, estabilizou e fez uma exibição regular, evidenciando-se sobretudo nos duelos aéreos mas não rivalizando com Rojo em termos de capacidade de antecipação, o que também não é novo. Voltou a dar sinais de uma sede de protagonismo pouco ajustada ao seu perfil e à fase da sua carreira, primeiro arriscando um envolvimento ofensivo que não parece fazer parte das ideias colectivas (nenhum outro central o faz) e tentando, depois, marcar um golo do meio-campo.
Rojo - Teve uma hesitação que poderia ter tido outras consequências, perante Ghilas, mas à parte disso fez um bom jogo, onde se destaca a capacidade de intervenção no espaço à sua frente, o que ajudou a equipa a controlar o jogo entrelinhas.
William - Bom jogo, mas longe do acerto que já revelou. Foi estrategicamente condicionado por Carlos Eduardo, o que lhe retirou influência em posse. Depois, é possível que esteja a sentir-se pressionado para acrescentar mais à equipa em termos de capacidade de desequilíbrio e verticalização, o que a acontecer poderá retirar critério e segurança à sua presença em posse. Em sentido inverso, parece-me um jogador mais agressivo na sua acção defensiva, o que é positivo.
Adrien - A grande evolução de Adrien é no plano defensivo, onde realizou de novo um jogo fantástico. Curiosamente, parece-me mais competente na acção pressionante sobre as primeiras fases de construção dos adversários, do que no ajustamento posicional em zonas mais próximas da sua área. Seja como for, foi Adrien a grande fonte de intercepções sobre a primeira fase de construção portista, o que ofereceu à equipa algumas jogadas de grande potencial, entre as quais uma ocasião soberana finalizada por Wilson. Com bola, esteve regular, mas de novo sem impressionar.
André Martins - Um pouco à imagem de Adrien, e na sequência de outras exibições, parece-me mais merecedor destaque o seu trabalho defensivo do que propriamente aquilo que acrescentou à equipa com bola. Seja como for, foi um bom jogo, com boa envolvência nos mais variados planos e onde se destaca a missão pressionante, ora condicionando a entrada de bola no duplo-pivot (Fernando), ora pressionando directamente sobre os centrais.
Capel - Não conseguiu ser determinante no último terço, embora tenha estado próximo de marcar num cabeceamento, mas teve uma boa envolvência no jogo, mantendo uma boa intensidade e eficácia nas suas acções.
Wilson - Fez os 90 minutos, o que não é habitual, mas não foi capaz de manter a influência no último terço ao longo do jogo. De resto, as habituais dificuldades em ser uma solução para as primeiras fases ofensivas, não conseguindo grande envolvência ou eficácia em situações distantes da área contrária.
Slimani - Já cá está há meio ano e tem até sido uma figura em muitos momentos da época, mas ainda não tenho uma opinião muito formada sobre ele, sendo que este foi o jogo em que teve uma utilização mais "normal". Representa uma mais valia em relação a Montero para a construção longa, o que já se sabia, e tentou também ser uma solução recorrente para a construção, servindo de apoio frontal. O timing dos seus movimentos foi bom, mas percebe-se também que tem pouco a acrescentar em termos criativos sempre que a bola chega aos seus pés. Não foi uma má exibição, mas também não foi especialmente prometedora. Esperemos por mais...
Montero - Trouxe um perfil diferente ao ataque do Sporting, não sendo capaz de causar impacto no tempo em que jogou, apesar de uma boa ocasião para marcar.
Carrillo - Fantástico impacto no jogo, a relembrar-nos que se há jogador que pode ainda fazer crescer a equipa, esse jogador é Carrillo. É claro que 24 minutos não são suficientes para que se acredite que "agora é de vez", mas também me parece que ainda deve haver esperança para Carrillo.
Vitor - Em pouco tempo conseguiu chamar a si duas boas ocasiões para decidir o jogo. Não foi feliz na finalização, é certo, mas parece-me muito positivo que o tenha conseguido em tão pouco tempo de jogo.
Individualidades (Porto)
Fabiano - Foi a grande figura do jogo, indiscutivelmente, repetindo boas exibições quando é chamado. É evidentemente um sinal positivo quanto às suas capacidades, mas para um guarda-redes (mais do que para qualquer outro jogador) são precisos muitos jogos para que se possam retirar conclusões definitivas. Esteve menos eficaz no jogo de pés.
Danilo - Mais uma vez confirmou a ideia de que é um jogador muito dependente do que faz no último terço. Não tendo conseguido protagonismo nesse capítulo onde habitualmente é forte, acabou por acrescentar pouco em termos qualitativos. Em posse, pouca envolvência e alguns problemas de eficácia (um posicionamento muitas vezes redundante com Herrera, o que facilitou a pressão do Sporting sobre a 1ªfase de construção). Defensivamente, também muitos problemas, com destaque para a forma como se deixou antecipar por Capel.
Alex Sandro - Foi o protagonista da melhor jogada da equipa, onde praticamente todo o mérito lhe assiste. De resto, e mesmo com alguns erros, foi uma exibição regular.
Maicon - Sentiu alguns problemas com o condicionamento que o Sporting impôs com o seu pressing, o que explica a modéstia da sua contribuição para a posse da equipa. Defensivamente, esteve em melhor plano.
Mangala - À margem de Fabiano, terá sido o jogador da equipa em melhor plano. Já me referi aqui ao facto de ser um jogador algo sobrevalorizado, não tendo sempre uma capacidade de intervenção tão boa como aparenta. Desta vez, porém, foi mesmo um jogador dominador na sua área de intervenção.
Fernando - Em posse, foi dos jogadores mais esclarecidos num jogo onde o duplo-pivot foi muito condicionado no inicio de construção. Inclusivamente, notou-se a intenção de o fazer baixar para a linha dos centrais a partir dos 25', altura em que o Sporting quase marcou após uma intercepção nessa fase do jogo ofensivo portista. Defensivamente, teve algumas intercepções importantes, mas no geral foi um jogo pouco conseguido em termos de capacidade interventiva.
Herrera - É um jogador impulsivo, e perante uma equipa bem organizada como foi o Sporting isso deu dois lados à sua exibição. Por um lado, e como todos viram, foi a principal vitima do pressing do Sporting, com algumas perdas de bola muito comprometedoras. Por outro, foi o jogador mais interventivo e solícito da equipa, não se escondendo nunca do jogo. Precisa, claramente, de trabalhar o critério e de pensar mais a sua presença no jogo. Se o conseguir tornar-se-á num médio muito interessante.
Carlos Eduardo - Na pré-época havia mostrado grandes dificuldades em entrar no jogo, e depois de alguns jogos muito positivos voltou a revelar essa faceta. Essas dificuldades podem, aliás, ser uma explicação para as dificuldades que o Porto teve em encontrar linhas de passe dentro do bloco do Sporting, reforçando-se a ideia de que é um jogador que precisa de procurar espaços mais amplos para aparecer, sentindo mais dificuldades quando se lhe exige melhor qualidade de movimentos sem bola. As boas indicações que deixou nos últimos jogos não ficam ofuscadas por este jogo menos conseguido, apenas contextualizam melhor a realidade de um jogador que está ainda em fase de desenvolvimento. Defensivamente, teve a missão estratégica de condicionar a entrada de William no jogo, papel que cumpriu bem.
Varela - A um extremo exige-se sempre que seja capaz de desequilibrar. Neste jogo, porém, Varela teve um papel diferente, porque com o baixar permanente do duplo-pivot e a incapacidade de Carlos Eduardo, Ghilas e Licá serem soluções para o passe vertical, foi Varela a assumir mais vezes esse papel, o que explica uma envolvência maior do que aquilo que é hábito. Não foi intencional, mas antes algo que resultou das dificuldades da equipa no jogo, parecendo-me por isso que Varela é mais vitima do que réu nas dificuldades que sentiu no jogo.
Licá - Um jogo esforçado, mas modestíssimo em termos de capacidade de resposta, quer ao nível do envolvimento, quer ao nível do desempenho técnico. É questionável que seja titular, mas parece-me ainda mais incrível que dure 90 minutos num jogo com tantos problemas para se impor.
Ghilas - Não pode ser tão responsabilizado como Licá ou Carlos Eduardo, mas também ele contribuiu muito pouco para que a equipa encontrasse linhas de passe nas costas dos médios do Sporting. Aliás, nem na construção longa foi uma solução eficaz. Em termos de zona de finalização, conseguiu um bom movimento que lhe permitiu usufruir da primeira ocasião clara do jogo.
Lucho - Entrou e acrescentou imediatamente qualidade a todos os níveis. No entanto, tinha a curiosidade de o ver colocado mais sobre a zona entrelinhas, onde penso que poderia ter criado mais problemas à linha média do Sporting. Já escrevi várias vezes sobre a forma como o bi enviesa fortemente as análises ao rendimento dos jogadores, e tenho a curiosidade para ver o que o Porto vai fazer com o processo de renovação de uma das suas unidades de maior rendimento.
Defour - Provavelmente, a sua entrada não fazia parte do plano de jogo. Não acrescentou, mas também não retirou nada de relevante à equipa, pelo que a substituição serviu sobretudo para limitar a hipótese de substituir algumas unidades de pálido rendimento.
Jackson - Seria, obviamente, um disparate pedir-lhe que resolvesse em 15 minutos o que a equipa não resolveu em 75. Ainda assim, confesso que me surpreendeu a modéstia do seu impacto no jogo. É um jogador excepcional e exige-se muito mais...
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