Devo começar por dizer que apreciei bastante este jogo. Porque o seu inicio nos presenteou com duas equipas que, jogando no mesmo sistema, mostraram dinâmicas substancialmente diferentes (uma melhor do que a outra, como explicarei mais abaixo), e porque depois do primeiro golo essas características se alteraram radicalmente, culminando num final que figurará certamente entre as histórias mais marcantes desta prova. Mas, vamos por pontos...
O 3-5-2, as suas implicações, e as diferenças entre as duas equipas
Na verdade, o sistema não é exactamente idêntico, entre México e Holanda, com uma diferença importante no papel dos médios. Enquanto que o médio central do México (no caso, Salcido) é o mais posicional, o da Holanda (Sneijder) era aquele que mais se aproximava dos avançados, podendo-se até falar em 3-4-3, na minha perspectiva. Enfim, para o caso isso não é muito relevante, porque aquilo que quero abordar passa sobretudo pelas implicações de jogar com 3 centrais, em particular na fase de construção. Esta opção, de ter 3 elementos na fase de construção tem-se revelado bastante proveitosa para as equipas que a têm utilizado neste Mundial, porque dificulta muito a missão de quem pressiona, sendo normalmente garantia de alguns metros de terreno, em termos de presença posicional de quem ataca. Neste sentido, e até por não ser uma opção exclusiva dos sistemas de 3 defesas, creio que será uma opção com tendência a ser cada vez mais explorada pelos treinadores nos próximos tempos, mais não seja pela propaganda que este Mundial tem sido a esse respeito.
Aqui, porém, há que traçar as diferenças entre o que fez o México e a Holanda. O México, bem mais preparado nas suas dinâmicas, com alas de maior vocação ofensiva, médios mais móveis no corredor central e, sobretudo, centrais com mais propensão para assumir o jogo em posse, nomeadamente na capacidade de provocar com bola, sempre que o espaço lhes é oferecido. A Holanda, por outro lado, a ter alas e médios demasiado posicionais e centrais pouco afoitos para provocar com bola, vendo ainda o seu 10 (Sneijder) a baixar para a fase de construção, o que reduziu depois o número de linhas de passe dentro do bloco adversário, por onde a Holanda praticamente nunca conseguiu jogar. Por aqui passou, na minha leitura, grande parte da diferença de qualidade entre México e Holanda, na primeira parte, com clara vantagem para as dinâmicas mexicanas. Já agora, é interessante o ponto contacto entre estes dois países, com 3 jogadores mexicanos (Salcido, Moreno e Rodriguez) a terem importantes passagens pelo futebol holandês, sendo todos eles centrais com capacidade de assumir o jogo em posse, uma característica tradicionalmente apreciada no futebol holandês.
Por fim, e sobre este sistema, notar que o principal motivo pelo qual os treinadores Van Gaal e Herrera o utilizam, e na minha interpretação, tem a ver com o momento de organização defensiva, e a possibilidade de acrescentar densidade numérica à sua linha mais recuada. O outro lado desta opção, porém, é que esta retira uma unidade de zonas mais adiantadas do terreno, o que tende a dificultar uma abordagem defensiva que pretenda ser mais pressionante numa extensão maior do terreno. A meu ver, desta implicação decorre o principal motivo pelo qual este continuará a ser um sistema de utilização residual no futebol europeu, onde o pressing alto faz todo o sentido para a generalidade das equipas, e também uma possível explicação para o seu sucesso neste Mundial, já que, devido às condições climatéricas, as equipas têm tido muitas dificuldades em manter um pressing alto eficaz, beneficiando claramente quem optou por priveligiar a protecção das suas zonas fundamentais, neste caso através de uma maior presença numérica.
Holanda, um candidato. Cheio de defeitos, é certo, mas um candidato!
Como escrevi acima, o futebol holandês foi tudo menos um modelo no que respeita às suas dinâmicas. No plano ofensivo, pelas razões que sumariamente descrevi, mas também no plano defensivo, onde não faltam pontos igualmente questionáveis, em especial no comportamento dos elementos dos sectores mais recuados. Mesmo depois do 0-1, e com a mudança táctica, a Holanda foi basicamente impulsiva, retirando bons frutos dessa abordagem, é certo, mas sem uma grande qualidade e organização no seu jogo. Fundamentalmente, tirou partido da incrível forma de Robben neste Mundial (dá ideia que a sua sensação térmica é sempre de menos 20ºC, relativamente aos outros jogadores!), e do esgotamento físico do meio campo mexicano, incapaz de responder à energia que os holandeses forçaram no jogo. E, claro, teve também a felicidade do seu lado.
Sobre isto, porém, quero deixar, como ponto de opinião, a ideia de que a Holanda pode, de facto, estar longe da perfeição relativamente à interpretação do sistema que escolheu, mas eu continuo a ver nesta uma excelente opção por parte de Van Gaal, para este Mundial, e já com muitos proveitos obtidos. Primeiro, porque a Holanda é realmente bastante medíocre nas suas unidades mais defensivas, e tentar mudar isso em 3 semanas de treino seria, provavelmente, uma utopia, servindo a densidade numérica dos 5 defesas para atenuar essa debilidade. Depois, pelas características desta competição, que era à partida especialmente difícil para a Holanda, que em face do sorteio da fase de grupos iria disputar vários jogos com equipas muito fortes tecnicamente e com uma grande presença em posse, sendo que Van Gaal montou uma ideia de jogo incomparavelmente mais forte a jogar a partir do momento de transição. Finalmente, e tal como escrevi acima, a questão do desgaste físico provocado pelo clima parece-me também ter favorecido este tipo de sistema, porque mesmo pedindo uma presença pressionante das suas unidades mais ofensivas, o equilíbrio numérico na sua zona mais recuada está sempre salvaguardado. Aliás, e apesar de ser uma selecção europeia, nada habituada a este tipo de condições, a Holanda tem sido das equipas menos penalizadas pelo factor climatérico neste Mundial, como aliás este jogo atestou muito bem, sendo que na minha leitura há uma grande importância da componente táctica na explicação deste "fenómeno". Em suma, mesmo com as debilidades tácticas que facilmente se lhe identificam, o facto é que a Holanda tem sido muito bem sucedida neste Mundial, estando já a 180 minutos de repetir nova final. Pessoalmente, e por tudo o que expliquei, estou convencido que se Van Gaal tivesse optado pelo seu sistema e modelo habituais, o mais provável é que estivesse nesta altura já a pensar na primeira jornada da Premier League 2014/15...
O 3-5-2, as suas implicações, e as diferenças entre as duas equipas
Na verdade, o sistema não é exactamente idêntico, entre México e Holanda, com uma diferença importante no papel dos médios. Enquanto que o médio central do México (no caso, Salcido) é o mais posicional, o da Holanda (Sneijder) era aquele que mais se aproximava dos avançados, podendo-se até falar em 3-4-3, na minha perspectiva. Enfim, para o caso isso não é muito relevante, porque aquilo que quero abordar passa sobretudo pelas implicações de jogar com 3 centrais, em particular na fase de construção. Esta opção, de ter 3 elementos na fase de construção tem-se revelado bastante proveitosa para as equipas que a têm utilizado neste Mundial, porque dificulta muito a missão de quem pressiona, sendo normalmente garantia de alguns metros de terreno, em termos de presença posicional de quem ataca. Neste sentido, e até por não ser uma opção exclusiva dos sistemas de 3 defesas, creio que será uma opção com tendência a ser cada vez mais explorada pelos treinadores nos próximos tempos, mais não seja pela propaganda que este Mundial tem sido a esse respeito.
Aqui, porém, há que traçar as diferenças entre o que fez o México e a Holanda. O México, bem mais preparado nas suas dinâmicas, com alas de maior vocação ofensiva, médios mais móveis no corredor central e, sobretudo, centrais com mais propensão para assumir o jogo em posse, nomeadamente na capacidade de provocar com bola, sempre que o espaço lhes é oferecido. A Holanda, por outro lado, a ter alas e médios demasiado posicionais e centrais pouco afoitos para provocar com bola, vendo ainda o seu 10 (Sneijder) a baixar para a fase de construção, o que reduziu depois o número de linhas de passe dentro do bloco adversário, por onde a Holanda praticamente nunca conseguiu jogar. Por aqui passou, na minha leitura, grande parte da diferença de qualidade entre México e Holanda, na primeira parte, com clara vantagem para as dinâmicas mexicanas. Já agora, é interessante o ponto contacto entre estes dois países, com 3 jogadores mexicanos (Salcido, Moreno e Rodriguez) a terem importantes passagens pelo futebol holandês, sendo todos eles centrais com capacidade de assumir o jogo em posse, uma característica tradicionalmente apreciada no futebol holandês.
Por fim, e sobre este sistema, notar que o principal motivo pelo qual os treinadores Van Gaal e Herrera o utilizam, e na minha interpretação, tem a ver com o momento de organização defensiva, e a possibilidade de acrescentar densidade numérica à sua linha mais recuada. O outro lado desta opção, porém, é que esta retira uma unidade de zonas mais adiantadas do terreno, o que tende a dificultar uma abordagem defensiva que pretenda ser mais pressionante numa extensão maior do terreno. A meu ver, desta implicação decorre o principal motivo pelo qual este continuará a ser um sistema de utilização residual no futebol europeu, onde o pressing alto faz todo o sentido para a generalidade das equipas, e também uma possível explicação para o seu sucesso neste Mundial, já que, devido às condições climatéricas, as equipas têm tido muitas dificuldades em manter um pressing alto eficaz, beneficiando claramente quem optou por priveligiar a protecção das suas zonas fundamentais, neste caso através de uma maior presença numérica.
Holanda, um candidato. Cheio de defeitos, é certo, mas um candidato!
Como escrevi acima, o futebol holandês foi tudo menos um modelo no que respeita às suas dinâmicas. No plano ofensivo, pelas razões que sumariamente descrevi, mas também no plano defensivo, onde não faltam pontos igualmente questionáveis, em especial no comportamento dos elementos dos sectores mais recuados. Mesmo depois do 0-1, e com a mudança táctica, a Holanda foi basicamente impulsiva, retirando bons frutos dessa abordagem, é certo, mas sem uma grande qualidade e organização no seu jogo. Fundamentalmente, tirou partido da incrível forma de Robben neste Mundial (dá ideia que a sua sensação térmica é sempre de menos 20ºC, relativamente aos outros jogadores!), e do esgotamento físico do meio campo mexicano, incapaz de responder à energia que os holandeses forçaram no jogo. E, claro, teve também a felicidade do seu lado.
Sobre isto, porém, quero deixar, como ponto de opinião, a ideia de que a Holanda pode, de facto, estar longe da perfeição relativamente à interpretação do sistema que escolheu, mas eu continuo a ver nesta uma excelente opção por parte de Van Gaal, para este Mundial, e já com muitos proveitos obtidos. Primeiro, porque a Holanda é realmente bastante medíocre nas suas unidades mais defensivas, e tentar mudar isso em 3 semanas de treino seria, provavelmente, uma utopia, servindo a densidade numérica dos 5 defesas para atenuar essa debilidade. Depois, pelas características desta competição, que era à partida especialmente difícil para a Holanda, que em face do sorteio da fase de grupos iria disputar vários jogos com equipas muito fortes tecnicamente e com uma grande presença em posse, sendo que Van Gaal montou uma ideia de jogo incomparavelmente mais forte a jogar a partir do momento de transição. Finalmente, e tal como escrevi acima, a questão do desgaste físico provocado pelo clima parece-me também ter favorecido este tipo de sistema, porque mesmo pedindo uma presença pressionante das suas unidades mais ofensivas, o equilíbrio numérico na sua zona mais recuada está sempre salvaguardado. Aliás, e apesar de ser uma selecção europeia, nada habituada a este tipo de condições, a Holanda tem sido das equipas menos penalizadas pelo factor climatérico neste Mundial, como aliás este jogo atestou muito bem, sendo que na minha leitura há uma grande importância da componente táctica na explicação deste "fenómeno". Em suma, mesmo com as debilidades tácticas que facilmente se lhe identificam, o facto é que a Holanda tem sido muito bem sucedida neste Mundial, estando já a 180 minutos de repetir nova final. Pessoalmente, e por tudo o que expliquei, estou convencido que se Van Gaal tivesse optado pelo seu sistema e modelo habituais, o mais provável é que estivesse nesta altura já a pensar na primeira jornada da Premier League 2014/15...
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