9.8.10

Supertaça: números e análise

ver comentários...
Começou com uma surpresa. Não pelo desfecho, nem sequer pelo resultado, mas surpresa, porque dificilmente alguém preveria uma sobreposição tão expressiva daquele que era, afinal, o menos favorito. Razões para o sucedido? As diferenças que ambas as equipas mostraram em 3 items: Concentração, estratégia e eficácia. Por ordem de importância. Concentração, pelo diferencial errático entre ambos os conjuntos – isto praticamente decidiu o jogo. Estratégia, porque a houve por parte do Porto, resultando em pleno no condicionamento do jogo do adversário. E eficácia, não porque tenha sido pela eficácia que o Porto venceu – pelo contrário, aliás – mas porque sem ela, e nestes jogos, não dá para ganhar. Antes de passar a mais considerações, nota para os números: o Benfica fez muito mais passes e com mais eficácia. Jogou melhor? Claro que não.

Notas colectivas: Benfica
No ano passado lancei aqui a teoria de que as equipas de Jesus tinham uma performance inferior à qualidade do seu futebol, apontando para o falhanço da equipa se conseguir superar nos momentos importantes. É apenas uma teoria, e não matéria factual, mas esta ganha novo reforço com o que se viu em Aveiro.

Fica a ideia de que o Benfica não se preparou convenientemente para a competição e para a intensidade do jogo. O Porto entrou com uma estratégia para condicionar o jogo encarnado que, por seu lado, não tinha nada de específico. Aliás, Jesus apostou muito mais em desenvolver o 4-3-3 nos últimos encontros do que em aprimorar o seu modelo base, ainda longe de ter o rendimento do ano anterior. Mais importante do que questões tácticas, porém, foi a atitude de algum facilitismo dos jogadores. Às dificuldades que o Porto colocou à construção, o Benfica respondeu sem intensidade e acumulou perdas de bola em construção que lhe custaram o jogo. 15 para 1 em perdas de bola é a estatística mais importante do jogo e aquela que espelha o sucesso da estratégia portista.

O que coloca em causa este jogo? Quase nada. O Benfica continua a ser a melhor equipa do país, mas qualidade em Agosto não ganha campeonatos em Maio. Os riscos são a própria melhoria dos adversários – que têm potencial para isso – e, claro, o risco do próprio Benfica não corrigir alguns problemas.

Há um problema individual ao nível das soluções para o meio campo, sendo preciso encontrar algumas respostas, mas o principal problema do Benfica não são as ausências de Di Maria e Ramires. Aliás, mais peso do que a ausência destes 2, parece-me, faria mais sentido centrar atenções no eclipse de Aimar. O papel da construção no Benfica foi decisivo, com o Porto a condicionar a saída de bola por David Luiz e sem que o meio campo criativo soubesse emergir à altura das necessidades. O Benfica bloqueou quando não pode sair pela esquerda e teve o seu melhor período quando lhe foi permitido jogar pelo corredor canhoto. Não é por acaso. Outra nota, e para finalizar, vai para Fabio Coentrão: a sua utilização no meio campo é um erro porque lhe retira metros. Coentrão tem uma intensidade e uma capacidade de preenchimento do corredor que é invulgar no futebol mundial. Depois de se ter percebido que poderia atingir o topo como lateral, vai agora dar-se um passo atrás?!

Notas colectivas: Porto
Terá sido o Porto muito diferente daquele que se viu em Paris? A resposta é não. Tinha falado do carácter estratégico de Falcao no pressing e Villas Boas fez dessa uma arma à qual o Benfica – talvez por má preparação – não soube responder. Essa é a primeira parte da estratégia do Porto, a utilização de Falcao como elemento bloqueador da construção através de David Luiz. Ao intervalo, aliás, David Luiz tinha um número de passes altamente inferior a Luisão, tal como Peixoto em relação a Amorim. O que ganhou o Porto com isto? Primeiro escolheu o lado e por quem queria que o adversário construísse. Depois, preparou o pressing para as zonas onde o adversário tentou sair a jogar, tirando partido da densidade numérica que criou nesses sectores.

Por tudo isto, não é correcto dizer-se que o Porto usou um pressing extraordinariamente alto. O que aconteceu foi uma estratégia que potenciou os resultados da zona pressing feita no meio campo. Isso e a intensidade com que os portistas reagiram à perda de bola (em confronto com o facilitismo contrário), ditou o bloqueio do jogo encarnado e, por contraponto, o domínio azul.

É curioso quando olhamos para os números individuais, vemos que os defensores portistas não fizeram um jogo extraordinário. Não porque tivessem errado, mas porque, simplesmente, participaram pouco. O mesmo vale para os avançados adversários (Cardozo quase nem jogou!), e com este simples dado se conclui que, apesar da posse e dos passes, o Benfica nunca conseguiu colocar em jogo quem o aproximava do golo. Por outro lado, a zona de recuperação de bola foi muitas vezes já dentro do meio campo oposto. Lembram-se do que escrevi aqui no outro dia: “Diz-me onde e como recuperas a bola, dir-te-ei o quão dominadora a tua equipa é!”. Este jogo foi mais um bom exemplo desta máxima.

Falta, finalmente, falar de outro ponto que me pareceu intencional: a exploração de Roberto. Não só pelo elevado número de tentativas de finalização – muitas delas bastante distantes da baliza – mas também pela forma como alguns livres e cantos foram apontados. Em vez de tirar a bola da zona, como acontece frequentemente, esta foi colocada em cima de Roberto. E foi assim que o primeiro golo chegou.

Notas individuais
Muito do que escrevi está espelhado também nos números individuais. Como referi, os defensores portistas foram pouco expostos – se era esse o ponto fraco da equipa, Villas Boas contornou-o bem – e, ao contrário, os defensores encarnados foram quem mais participação teve na equipa de Jesus. Sintomáticas são também as diferenças entre a participação de David Luiz em relação a Luisão/Sidnei e entre Peixoto e Amorim. Estes dados, em conjunto com as perdas de bola, chegam para explicar grande parte do jogo.

Em termos de destaques, Belluschi ganhou a corrida pelo melhor em campo. Não só pela sua participação criativa, mas muito pela influência que teve ao nível da recuperação, onde foi o mais importante atrás de Fernando. Outro destaque foi Hulk, que embora não tenha tido uma participação directa no marcador, foi o elemento com mais desequilíbrios no jogo e um elemento com uma presença importante na recuperação. Outro elemento de destaque foi, claro, Falcao. Mas sobre o colombiano não tenho nada a acrescentar ao que já dele aqui escrevi.

Do lado encarnado, David Luiz, apesar dos condicionalismos tácticos, acabou por ganhar mais presença nos últimos minutos, quando o pressing portista abdicou de o condicionar. Isso, em conjunto com o facto de ter sido o mais recuperador, valeu-lhe o número máximo de pontos, ainda que próximo de Saviola. “El conejo”, sem estar ainda ao nível que o celebrizou na época anterior, foi quem mais tentou. Pouco jogo lhe chegou, mas Saviola esforçou-se por isso e acabou por estar presente em todos os desequilíbrios da equipa, ficando mesmo próximo do golo. Pela negativa, Cardozo e Aimar. Não é surpresa a escassíssima participação do paraguaio, já aqui tinha alertado para isso. Foi o destaque da pré época, mas, desta vez, foi o pior. Também importante é a pouca participação de Aimar. Pouca e sem grande qualidade, diga-se. Mas disso também já falei.




Ler tudo»

AddThis