30.4.08

Champions: United é o primeiro!

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Man Utd 1-0 Barcelona
(resumo)
A segunda meia final entre estes dois “gigantes” revelou uma estratégia próxima do que acontecera em Camp Nou. Aliás, se houve algumas alterações foi no United, já que o Barça – tal como previra – manteve-se fiel ao seu estilo, repetindo Rijkaard a opção pelos mesmos protagonistas (à excepção do regressado Pujol).
Assim, em relação a Camp Nou, a diferença esteve no United. Sem nunca pressionar tão alto como o Barça, o United adiantou a sua linha de pressão, não perdendo o respeito pela qualidade de posse de bola do seu adversário, mas obrigando a uma maior precisão na primeira fase de construção. Outra alteração esteve no posicionamento de Ronaldo e Tevez. Ronaldo manteve-se como um dos homens da frente, mas com Tevez um pouco mais próximo do que na primeira mão. Em termos tácticos o lado esquerdo do United (e direito do Barça) era aquele que mais complexidade apresentava. Senão vejamos: O Barça, fruto da presença de Messi, orientava preferencialmente o jogo para aquele flanco. Zambrotta e Evra eram laterais ofensivos e, finalmente, o próprio Ronaldo descaía para aquele flanco. Foi muito importante o jogo de compensações, com Park a ter um papel muito importante, tal como a atenção dos médios centro do United (particularmente Carrick). Do lado do Barça, Zambrotta. Grande jogo (apesar de ter escorregado no inicio do lance do golo).
O jogo começou com uma ameaça de Messi que resultou num livre e uma sequência de faltas. Foram 15 minutos de futebol dividido e com muito poucos riscos assumidos na primeira fase de construção de ambas as equipas. Foi também evidente neste período a pressão mais alta do Barça. Precisamente de um lance em que o United conseguiu sair dessa pressão alta, surgiu o lance do primeiro golo. A bola é direccionada depois para Ronaldo que, apesar de Zambrotta ter escorregado, perde para a dupla Toure e Xavi. O problema foi que o catalão cometeu um erro que coloca qualquer treinador com os “cabelos em pé”. Pressionado, fez um passe “cego” para a zona central, onde estava Scholes. Num grande remate do seu médio centro, o United chegava à vantagem, tirando partido de uma vantagem do seu meio campo, a meia distância, e de um erro que, como se sabe, se paga caro a este nível.
O jogo entrou depois numa fase de menor clarividência do Barça, percebendo-se aí o tónico que marcaria o resto do jogo. O Barça actuava em posse e o United aproveitava os erros que o seu adversário pudesse cometer para jogar em transição. O melhor período do Barça no jogo chegaria por volta da meia hora, com o seu jogo a optar por tentar também o flanco esquerdo e criando dificuldades a um United sempre mais preparado para rodear Messi quando a bola lhe chegava no flanco direito. Deco, por duas vezes, teve remates perigosos, algo que, tal como na semana passada, aconteceu poucas vezes para superioridade conseguida pela posse de bola catalã. O United respondeu com uma chegada de Nani à zona de finalização, ficando perto do golo, a 4 minutos do intervalo.
No segundo tempo, o United conseguiu controlar melhor o jogo, particularmente durante os primeiros 15 minutos. Primeiro permitiu menos ocasiões para o Barça aproveitar os espaços das transições, e depois sendo ele próprio mais expedito no aproveitamento das transições. Tevez e Nani tiveram nos pés as melhores oportunidades do segundo tempo. Na última meia hora, o jogo aproximou-se mais (nunca esteve longe, diga-se) do que acontecera no Camp Nou. Domínio do Barça, mas sem grande capacidade nos últimos metros do campo, perante um United mais recuado. Rijkaard mexeu muito no seu ataque, trocando, Iniesta com Messi, fazendo entrar Henry, Bojan e, já em desespero, Gudjohnsen, mas o mais perto que esteve do golo foi num cabeceamento de Henry, numa bola parada. O United controlou o jogo com o relógio a seu favor e, embora sem evitar sofrimento, foi sempre suficiente para o que o Barça apresentava.

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No final fica a qualificação do United, que penso ter tido como factor fundamental (ao contrário do ano passado) o facto de ter jogado a segunda eliminatória em casa já que em Camp Nou a energia teria sido outra por parte do Barça, frente a uma equipa mais desgastada. Não foi brilhante (esteve aliás abaixo do seu próprio nível), nem foi pela superioridade, mas foi por aquilo que muitas vezes define os campeões a este nível: o detalhe. O United aproveitou o erro de Xavi, não cometendo ele próprio erros e respeitando sempre as características do adversário, superior em posse de bola.
Sobre as equipas, duas notas.(1) As apreciações sobre a qualidade e, sobretudo, sobre a capacidade defensiva do United vão ser agora diferentes, mas não penso ser necessário esperar por este resultado para ver o que mais de 2 anos revelam sobre esta equipa. É forte defensivamente (não sofre golos desde a primeira mão dos oitavos de final) e é uma das melhores equipas da Europa. (2) No Barça fechar-se-á um ciclo. Resta saber o que se segue, mas digo-o sem problemas, em Barcelona mora o melhor conjunto em termos individuais do futebol europeu e um “fantasma” da melhor equipa europeia da década. Aliás, o problema deste Barça – e esta meia final mostrou-o – foi não saber criar rotinas colectivas que tirassem melhor partido das suas individualidades. Se o jogo quando tinha Ronaldinho como referência da posse de bola, poderia sair curto, longo, individual ou colectivo, com Messi – e apesar do génio argentino – apenas sai curto, tornando-se mais previsível.

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A precisão de Senna!

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29.4.08

A matemática do acesso à Champions (II)

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Na semana passada deixei aqui um exercício que tentava quantificar as probabilidades de cada um dos 3 candidatos em chegar ao 2º lugar, ou, na pior das hipóteses ao 3º posto que garante a presença na eliminatória de acesso à fase de grupos da Champions.
A actualização do exercício, mantendo as probabilidades teóricas de cada jogo, mas tendo em conta os resultados do último fim de semana confirma o que já se sabia – e que no fundo se tem assistido semana após semana. A perda da “final” frente ao FC Porto fez passar o Vitória do posto de favorito para um lugar de probabilidades bem menores no que respeita ao acesso à Champions. Os vimaranenses têm no restelo uma segunda hipótese, no jogo de maior grau de dificuldade em termos teóricos e que justifica, de resto, um menor favoritismo em relação ao Benfica, mesmo estando nesta altura à frente dos encarnados.
Quem mais ganhou com esta jornada foi, como o diz a própria tabela, o Sporting. Os cenários com os leões em segundo são agora os mais prováveis. Caso o Sporting saia desta jornada em 2ºlugar, a sua probabilidade de manter essa posição até final aproximar-se-á dos 90%.
No que respeita ao Benfica, as suas possibilidades também aumentaram de forma relevante após a goleada do Porto e, naturalmente, o 2-0 da Luz. No entanto, os encarnados permanecem dependentes dois jogos alheios para chegar ao segundo lugar, isto na melhor das hipóteses.
A penúltima jornada é, à luz deste exercício, a mais decisiva das 2 que restam jogar e aqueles que entrarem melhor colocados para a última ronda garantirão uma probabilidade elevadíssima de poder manter os seus postos.


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Parabolica com Quaresma a abrir...

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28.4.08

Jornada 28

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Benfica 2-0 Belenenses
(resumo)
O Belenenses é indiscutivelmente um dos mais interessantes adversários que os “grandes” podem ter. Os seus jogos fazem-me aliás pensar o quanto melhor seria o campeonato se apenas tivessemos equipas com esta qualidade colectiva, mesmo admitindo uma possível menor valia individual. Enfim, são reflexões paralelas ao próprio jogo mas que ilustram o desafio que se colocava ao Benfica em jogo em que uma derrota poderia ter um efeito profundamente embaraçoso.
Tacticamente, Chalana não apresentou surpresas, fazendo Katsouranis subir para o meio campo e introduzindo Nuno Assis na direita do losango. Do lado do Belenenses, uma linha de quatro homens talvez tenha surpreendido quem esperava um losango, mas esta disposição garantia a Jesus um melhor comportamento defensivo, particularmente na cobertura da largura do campo.
O jogo começou com algumas dificuldades para o Belém nos primeiros 10 minutos. A posse de bola não foi isenta de erros e o Benfica, com a sua habitual mobilidade na primeira fase de construção, foi quem maior ascendente conseguiu, ainda que apenas por uma vez tenha incomodado Júlio César, com Rui Costa a aproveitar uma má leitura de Gavilan para criar um desequilíbrio. Neste período notou-se a tendência para o Benfica construir sobre a direita, fruto de uma maior propensão de Rui Costa derivar para este flanco (ao contrário do que vinha sendo habitual, devendo contextualizar-se a presença de Nuno Assis nesta opção). Rafael Bastos passou a baixar mais sem bola para dar mais presença numérica à meia esquerda.
Em posse de bola o Belenenses adiantava os laterais – alternadamente – dando ao trio Silas, Zé Pedro e Amorim a liberdade para aparecer no espaço entre linhas, ficando Gavilan mais posicional. Perante as dificuldades de Nuno Assis e Rodriguez na transição defensiva, criavam-se várias linhas de passe no espaço entre linhas e rapidamente o meio campo do Belém tomou conta do jogo. Dos 15’ aos 26’ o Belenenses dominou o jogo, não sendo suficientemente lucido no último passe para criar melhores condições para chegar à vantagem.
Aos 26’ o Benfica inverteu esta tendência com uma sucessão de lances de bola parada, num sinal de um aspecto que seria decisivo no jogo. O Belém não soube reagir e permaneceu por baixo no jogo após esse abanão. Neste período foi patente um aspecto altamente relevante no jogo: o jogo aéreo. As primeiras bolas pontapeadas por Quim eram invariavelmente ganhas pelos avançados – particularmente Nuno Gomes – conseguindo o Benfica sair a jogar a partir dessas situações e criando a sua melhor ocasião igualmente dessa forma. O golo, conseguido aos 41’, confirmaria essa incapacidade do Belém no jogo aéreo, não conseguindo resolver um lance onde teve franca superioridade numérica.
O 1-0 abriu uma nova que se estenderia até aos 64’. O Belenenses reagiu, tomou conta do jogo, sempre pela superioridade do meio campo e colocou a nu as dificuldades de recuperação do meio campo encarnado, criando situações mais do que suficientes para chegar ao empate. Tudo isto até à intervenção dos treinadores, com destinos drasticamente diferentes. A saída de Gavilan tirou equilíbrio a um meio campo que havia dominado o jogo e Di María ganhou, logo após a sua entrada, o livre que Cardozo transformaria. A execução foi, sem dúvida soberba, mas creio que se justificaria de Júlio César uma antecipação do destino do remate, o que não aconteceu.
O 2-0 foi um golpe duro para um Belenenses que reage muito emotivamente às incidências do jogo, tendo ficado perdido apesar dos 25 minutos que havia para jogar. A expulsão de Alcantara chegaria pouco depois, proporcionando um final de jogo descansado ao Benfica.
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No final uma vitória conseguida pela diferença na eficácia e com momentos oscilantes no jogo. O mais importante são, sem dúvida, os 3 pontos e mesmo sendo verdade que nem todos os adversários terão a mesma qualidade de jogo do Belenenses, fica a certeza de que não será com esta instabilidade defensiva que o Benfica terá assegurados os 6 pontos que lhe restam disputar. O passado recente aconselha: convém ver um pouco para além das vitórias para evitar problemas em jogos futuros...

Guimarães 0-5 Porto

Em termos de estrutura não houve surpresas de ambos os treinadores. No Guimarães, Cajuda colocou Moreno no lugar de João Alves, mantendo o habitual “duplo pivot” no meio campo. No Porto, mais alterações, destacando-se a inclusão de Bolatti no meio campo.
Mas não é em termos estruturais que surge o maior interesse na análise aos incidentes tácticos do jogo. A primeira parte revelou um Guimarães a pressionar alto – mais alto do que o normal – e a criar problemas ao primeiro passe do Porto. Do lado do portista, esta postura do Vitória expôs a falta de Lucho na dinâmica da equipa e, mais ainda, o desajuste de Bolatti às funções que lhe foram confiadas. De facto o argentino não criou linhas de passe, nem acompanhou Meireles nos habituais movimentos a dar elasticidade ao “miolo”, aparecendo sempre agarrado a Assunção. O trio da frente ressentiu-se desta situação e apareceu quase sempre demasiado desligado da restante equipa nesses primeiros 45 minutos. Numa primeira parte muito uniforme, o jogo foi permanentemente marcado por uma iniciativa de jogo do Porto, saindo a jogar curto, mas embatendo sempre contra o tal pressing do Vitória. Quanto ao Vitória, Nilson iniciava as suas jogadas com batimentos longos que resultavam em segundas bolas ganhas pelos 2 pivots do meio campo vimaranense, demasiado libertos com a “ausência” de Bolatti. O problema do Vitória foi a incapacidade de dar outra expressão ao seu jogo quando ganhava a bola. Os movimentos laterais de Ghilas foram sempre o único recurso tentado, mas sem qualidade suficiente para colocar em causa o controlo do jogo pelo FC Porto. Resultado: ao intervalo, um nulo sem desequilíbrios de registo.
No segundo tempo houve mudanças significativas no FC Porto. Jesualdo introduziu Kaz no lugar de Assunção e o meio campo ganhou outra capacidade, quer na posse de bola, quer na pressão sem bola. Mais, Hélton passou a bater bolas longas, com Kaz a fazer uma diferença total em relação ao que se viu no primeiro tempo. Finalmente, Quaresma passou a jogar mais declaradamente sobre a esquerda. O Porto passou a mandar no jogo, surpreendendo um meio campo do Vitória que não soube reagir às novas incidências do jogo, mantendo-se alto e expondo um grande espaço entre linhas que seria fundamental na construção da goleada (juntamente com erros de concentração individual que surgiram com os primeiros golos).
Cedo o Porto no segundo tempo chegou à vantagem, duplicando-a com a inspiração de Quaresma. É bom dizer-se que o Porto não havia justificado a vantagem em oportunidades quando a conseguiu, mas também, pelo que disse antes, seria muito provável que o fizesse, tal a inadaptação do Vitória às novas circunstâncias do jogo.
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O peso do resultado é, obviamente, produto de uma sequência de acontecimentos muito próprios, mas a equipa do Vitória poderia e deveria ter poupado os seus adeptos a um resultado histórico com estádio cheio. No Vitória, aliás, Cajuda arrisca ser vitima da crueldade do futebol. Com uma deslocação ao Restelo, abre-se a perspectiva do quarto lugar que, sendo naturalmente excelente, não é novidade na história do clube e acabará por saber a frustração, particularmente depois deste resultado embaraçoso.
No FC Porto, referir que a exibição não foi soberba, por tudo o que descrevi sobre o primeiro tempo. Mas também não se pedia isso ao campeão e a qualidade revelada foi, como é óbvio, mais do que suficiente. Notas individuais para (1) Bolatti: exibição preocupante tendo em conta o possível abandono de Assunção. Muito fraca mesmo. (2) Quaresma: parece que está num jogo de exibição. Claramente, dá-se melhor quando não se lhe pede que venha para zonas centrais. O problema é que a sua qualidade chega para, sem qualquer esforço, ser determinante em Portugal. (3) Bruno Alves: No passado apontei algumas lacunas a este jogador. Mantenho que tem aspectos que o tornam num central aquém do potencial de, por exemplo, Pepe, mas tenho de fazer justiça para referir a sua evolução. Tem hoje uma leitura muito mais adequada dos lances, jogando em antecipação, e tornou-se num dos mais fortes e impressionantes jogadores do mundo nas primeiras bolas aéreas (não tanto nos lances aéreos nas áreas, apesar dos golos recentes). Não é exagero!

Sporting 2-1 Marítimo
O jogo começou 0-1. No lance, um pormenor que evidencia a desconcentração de Polga e, principalmente, Patrício é o facto da bola ter vindo de Grimi e, por isso, ter de ser resolvida, ou pelo defesa, ou pelos pés do guarda redes, não se justificando a tentativa de agarrar a bola por parte do guarda redes.
O que se viu no seguimento do jogo foi, no fundo, o tónico que haveria de marcar grande parte da partida. Marítimo num bloco baixo e pouco perturbador para a primeira fase de construção do Sporting que, por seu lado, dominou sempre o jogo, revelando no entanto dificuldades em ser incisivo na última zona do terreno, perante a densidade de um bloco que defendeu bem em largura. No Sporting, e neste aspecto, destaque para a dificuldade de Djaló no primeiro tempo em ser útil ao jogo ofensivo dos leões. A verdade é que, sem grande esforço, o Sporting chegou à igualdade, num golo muito importante para o restabelecimento da estabilidade emocional dos jogadores.
Para o segundo tempo, o Sporting trouxe mais capacidade ofensiva, num registo que vinha já desde os últimos minutos do primeiro tempo, e que tinha, na qualidade de Veloso (uma exibição enorme!), na mobilidade de Romagnoli e Liedson, e no apoio dos laterais as suas principais armas. O golo surgiu, no entanto, de uma forma profundamente feliz e ainda cedo na segunda parte, entrando o Sporting depois no seu melhor período e onde poderia facilmente ter garantido a vitória. Assim não aconteceu e o jogo decorreu naturalmente até ao seu final, sem que o Marítimo ameaçasse realmente poder chegar ao empate (apenas uma finalização perigosa, na sequência de um lance de bola parada).
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Ao contrário do que se disse, parece-me que o Sporting terá feito uma das melhores exibições dos últimos tempos. Porquê? Porque ao contrário do que aconteceu, por exemplo, frente a Braga e Leixões, controlou sempre o jogo (algo que não acontecia há muito!). A sua transição defensiva foi eficaz, com destaque para o plano físico de Veloso e Izmailov, num nível muito acima do que vinha acontecendo. Resta, naturalmente verificar qual a real quota parte de demérito que deve ser atribuída ao Marítimo (algo que será testado nos próximos jogos), mas a confirmar-se esta melhoria defensiva, será uma óptima novidade para Paulo Bento.

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Jogos do fim de semana

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26.4.08

Serão assim tão "apetecíveis"?

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A recente crise desportiva de Benfica e Sporting tem suscitado uma série de análises catastrofistas sobre os respectivos clubes. A “febre” provocada pelo mau campeonato dos dois emblemas é tanta que, nos últimos dias, tem havido gente com algum peso nos respectivos “universos” a mostrar-se favorável a uma mudança nos estatutos do clube de forma a permitir a entrada de accionistas capazes de, com investimento, dar outra força à vida desportiva dos clubes. Uma das expressões que normalmente acompanham esta análise é de que o “clube “X” é apetecível para investidores”... o que pergunto é: serão os clubes portugueses realmente “apetecíveis”?

Os motivos que justificam o adjectivo “apetecível” são, invariavelmente, o número de adeptos e a história dos clubes. Para ver a coerência destes argumentos, pergunto se acham que clubes como, por exemplo, Fenerbahce, Galatasaray, Olympiacos ou Steaua de Bucareste são igualmente “apetecíveis”? É que, estando igualmente na Europa, estes clubes têm pelo menos tantos adeptos como qualquer clube português, sendo clubes históricos nos respectivos países. Nestes casos haveria ainda a vantagem de serem clubes “compráveis” não se correndo o risco do trauma dos adeptos em relação à adaptação de ter um dono na sua equipa.

Mas vamos lá ver, objectivamente, a questão. A pergunta que nos temos de fazer é: que vantagens e desvantagens tem uma pessoa, ou empresa, em fazer um hipotético investimento num clube português?

Aspecto financeiro
Hoje, há vários exemplos de investidores que, por motivos estritamente capitalistas, estão interessados em clubes de futebol, por entenderem que estes podem gerar receitas futuras que rentabilizem os seus investimentos. O problema é que, invariavelmente, estes concentram atenções no futebol Inglês. Porquê? A resposta é simples: receitas televisivas. É este o verdadeiro atractivo do futebol para os investidores e, se em alguns países esta componente dos proveitos cresce anualmente e em bom ritmo, em Portugal isso não se passa.
Então, se qualquer clube da Premier League ou de meio da tabela em Espanha, Alemanha ou Itália consegue o mesmo nível de receitas que um “grande” português. Se a tendência, analisando os últimos anos, é para que o crescimento das receitas televisivas e de publicidade se dê sobretudo nestes países, então, por que motivo haveria um investidor considerar “apetecível”, em termos financeiros, um “grande” português em vez de um qualquer emblema destes países?

Aspecto desportivo
Todo este exercício pressupõe, como é evidente, uma cedência de poderes no futebol para os respectivos investidores. Agora, pense-se que condições pode esperar um potencial investidor para chegar ao sucesso desportivo quando, como se vê, a cada derrota se coloca em causa treinador, equipa e direcção. Quando se sabe que projectos de médio e longo prazo a nível desportivo estão condenados a ser colocados em causa a cada época em que não se consiga vencer, com os adeptos, estimulados pela imprensa, permanentemente a exigir que “rolem cabeças” como paga para as frustrações desportivas. Tendo em conta as diferenças culturais, por exemplo, em relação aos adeptos ingleses ou alemães, por que motivo haviam de ser os nossos “grandes” apetecíveis para quem tem projectos desportivos de médio/longo prazo?

Conclusão
A conclusão a que chego é que apenas um português (pela paixão por um clube) muito rico e disposto a perder dinheiro para se divertir no futebol poderia achar “apetecível” um investimento num clube português (qualquer que seja) e esse não será certamente um cenário bem visto por qualquer adepto desse clube.
O futebol e os clubes são hoje realidades bem diferentes do fim “não lucrativo” com que foram concebidos. O lucro e o sucesso desportivo confundem-se no futebol actual, pelo que maximizar o lucro significa, forçosamente, aumentar as possibilidades de sucesso desportivo a prazo. Neste sentido, já o referi, faz todo o sentido que os clubes sejam sociedades abertas a investidores. Em Portugal, no entanto, o futebol e os clubes só seriam seriamente “apetecíveis” se se encontrasse uma forma de aumentar as suas receitas televisivas. Essa já deveria ter sido, aliás, a preocupação dos actuais “investidores” das SAD: os próprios clubes.


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Showboat!

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25.4.08

O jogo que perde quem mais sofre...

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4 meias finais europeias... 4 golos. Junta-se isto o facto de todos terem terminado com um empate e a particularidade de em 2 jogos se ter registado um nulo. Na verdade, para quem acompanhou as 4 partidas, apenas no caso do Bayern-Zenit ficou a ideia de poder haver um deficit de golos em relação às oportunidades (não será por acaso, estando presente uma equipa alemã e um treinador holandês).

Ao contrário dos campeonatos, os jogos a eliminar são cada vez mais encarados com grande cautela por parte dos treinadores, tendencialmente mais determinados em começar por não comprometer a eliminatória e só depois a tentarem ganhar. É uma mentalidade que há alguns anos se poderia identificar com o futebol italiano, mas que nos dias que correm se alastrou a outros países e clubes, evidenciando que o futebol é hoje e cada vez mais um fenómeno global, também em termos tácticos. Claro que há excepções no contexto europeu, mas o facto de estarem presentes nesta fase tantas equipas que adoptam esta estratégia faz pensar se não é mesmo por aqui que se faz o caminho mais curto para o sucesso europeu? Se o futebol se costuma definir como um jogo em que ganha quem mais consegue marcar, no que respeita às primeiras mãos das eliminatórias europeias, parece fazer sentido ver a coisa pelo outro lado. Ou seja, perde quem mais sofre!

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Taça Uefa: As primeiras meias finais

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Rangers 0-0 Fiorentina
(Resumo)

Foi um jogo à imagem do que se havia visto quando Ibrox recebeu o Sporting. A estratégia do erro mínimo voltou a ditar lei na formação de Walter Smith, mas desta vez com algumas ausências que condicionaram (ainda mais) a qualidade do jogo escocês. Começando pelo guarda redes, McGregor, passando pelos médios McCulloch e Thomson, mas tendo em Barry Ferguson a maior dor de cabeça. É que o capitão está para este Rangers europeu como Gerrard está para o Liverpool (salvaguardando as devidas diferenças). Ferguson faz a ponte entre o meio campo e o homem mais adiantado, sendo igualmente responsável por grande parte da qualidade da posse de bola da equipa. O que se viu do Rangers foi, por isso, mais do mesmo, só que com menos qualidade ao nível da posse, acabando a equipa por recorrer mais frequentemente do que desejaria ao jogo directo.

Na Fiorentina, o Rangers teve um adversário diferente do Sporting em alguns aspectos. Menos forte no jogo de posse de bola, com menos apoios curtos, mas com maior capacidade de,ofensivamente, ter uma progressão mais vertical. De resto, Prandelli apresentou-se num 4-3-3 assimétrico. Do lado direito Santana com mais presença junto à faixa, do outro lado surge a imprevisibilidade da equipa: Mutu. O romeno, estrela da companhia, tem uma variedade notável de movimentos, podendo aparecer nas costas do “pivot”, Pazzini, em combinação no espaço interior, ou mais junto à linha. Isto significava que Gobbi tinha mais responsabilidades de dar profundidade à ala, perante a mobilidade de Mutu nos espaços interiores. No meio campo, o “pivot” defensivo, Liverani, e dois médios que pouco mais serviram do que para oferecer apoios à posse de bola e manter equilíbrios num jogo demasiado fechado para outras aventuras ofensivas. Na Fiorentina, nota para alguns jovens de grande qualidade. No meio campo, o futuro está no Sérvio Kuzmanovic (20 anos) e na promessa do futebol italiano Montolivo (joga na Série A desde os 18 e foi o jovem do ano em 2007. Tem 23 anos). Na frente um jogador que aprecio, Pazzini. Completo, interpreta bem a qualidade da escola transalpina de pontas de lança. Tem 23 anos e já aqui o havia destacado, após o hat-trick em Wembley. É capaz de oferecer ao seu treinador a possibilidade de optar por várias formas de actuar, podendo jogar como “pivot”, ou homem mais móvel, mantendo as capacidades finalizadoras. Tem, obviamente, ainda que evoluir.

Sobre o jogo, dizer que houve poucos riscos, poucos erros e, por isso, pouca emoção. Melhor os “viola” no primeiro tempo, mais determinados os escoceses no segundo. O nulo era, no entanto e passe o exagero, o único resultado possível.

Curioso é também como o Rangers conseguiu fazer do 0-0 em casa um resultado positivo. Se for preciso, basta recorrer à estatistica para perceber como esse é um resultado que, no minímo, mantém as probabilidades de sucesso. Ainda assim, os escoceses sabem que em Itália terão o regresso dos ausentes deste primeiro jogo, podendo dar mais qualidade à sua posse de bola passiva. Depois, quem sabe, não surge um golito (neste aspecto, Liverani ter-se-á tornado numa das esperanças escocesas após algumas precipitações em posse de bola) ?

Apesar de não revelarem superioridade sobre os seus adversários, os escoceses estão a 90 minutos de uma improvável final europeia, podendo este ser um ponto marcante na forma como se encaram as nuances tácticas na ainda muito “britânica” liga escocesa.

Bayern 1-1 Zenit
(Resumo)

Não vi este jogo, apenas o resumo, ficando a ideia de um empate que poderia ter tido outro desfecho, dadas as oportunidades de ambos os conjuntos. Do lado do Zenit, impressionante a forma como conseguiu criar desequilíbrios em construção, apelando aos movimentos de 3 homens que revelaram grande qualidade: Pogrebnyak, Arshavin (a estrela que vai perder a segunda meia final) e Fayzulin (o menos conhecido, mas mais impressionante dos 3 – tem apenas 22 anos).
Grande jogo em perspectiva para São Petersburgo e esse eu não vou perder!


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24.4.08

Champions: Barcelona - Man Utd

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Começo por referir que sou da opinião de que uma prova como a Champions League foi concebida para por em confronto formações de países diferentes e que, por isso, esta meia final tem um pouco mais de sal em relação à outra que nos proporciona um embate que, afinal, podemos ver todos os anos em Inglaterra. A tudo isto resta acrescentar que o menor dos culpados da situação é, obviamente, o futebol Inglês. A Premier League não tem culpa da ausência de estratégias corporativas nos outros países, particularmente os latinos que permanecem demasiado agarrados às rivalidades internas, incapazes de perceber a convergência de interesses entre rivais, no novo mundo do futebol global. É uma tendência que prejudica a competição mas que, como já aqui muitas vezes escrevi, se deverá continuar a acentuar nos próximos anos (a seguir será a Uefa, digo eu).

Para o jogo o Barcelona trouxe dois “reforços” de peso: Deco e Messi. Rijkaard inclui-os no seu 4-3-3 habitual, fazendo de Inesta o outro extremo para além de Messi para incluir Deco no meio campo. Se do ponto de vista das individualidades podia haver alguma incerteza, no que respeita à postura no jogo era em torno do United que residiam as dúvidas. Ferguson começou por dar um indicador de poder surpreender, incluindo Tevez no onze, mas o inicio do jogo mostraria que a inclusão do argentino não significava uma postura mais ofensiva dos Ingleses. Nota ainda para a adaptação de Hargreaves à direita da defesa, um “remendo” após a indisponibilidade do importante Vidic. Desde cedo, o United evidenciou que a sua postura assentaria em respeitar a superioridade do Barça em posse de bola, remetendo-se a um bloco que era marcado por 2 linhas de 4 homens, com Tevez numa função de ligação ao jogador mais avançado, Ronaldo. Ofensivamente, duas possibilidades. Ou uma posse de bola, eu diria excessivamente, passiva, com o objectivo de chamar o pressing do Barça, ou, quando o jogo o permitisse, lançar transições tendo Ronaldo como referência. Daí que se perceba a colocação de Rooney à direita e Park à esquerda. Em transição estes extremos deveriam fazer diagonais interiores que aproveitassem a saída de Ronaldo da zona do centrais. Quanto ao Barça, o destino da posse de bola era o flanco direito, numa tentativa quase nostálgica de Rijkaard de recuperar uma orientação para destinar o segundo momento ofensivo do jogo, fazendo de Messi o “foco” que foi noutros tempos Ronaldinho, mas sobre a esquerda. Aqui, percebe-se o porquê de Deco surgir no vértice direito do triângulo do meio campo e não sobre a esquerda como acontecia com Ronaldinho – Rijkaard confia claramente no “mágico” para ser o ponto de apoio da referência ofensiva (neste caso Messi, noutros tempos Ronaldinho).

Definidas as intenções vamos ao que se viu na prática. Podemos começar pelo inquestionavelmente relevante penalti desperdiçado por Ronaldo, um lance que poderia ter mudado o rumo do jogo desde a sua origem, mas que, realmente, surge descontextualizado de qualquer tendência. Depressa o Barça tomou conta do jogo, sempre com a sua posse de bola “dextra”. A verdade, porém, é que os ataques “blaugranas” apenas conseguiram o seu objectivo até que a bola chegasse a Messi. Após esse ponto, o United conseguiu, salvo raras excepções, controlar o adversário. Aqui destaque para a clara ausência de rotina (e forma também) da equipa para poder sair da solução Messi. Iniesta foi esquecido no primeiro tempo. Com excepção dois apoios oferecidos por Deco, sempre recuados em relação ao argentino, Messi não conseguiu tirar partido, nem das descidas de Zambrotta, nem das suas próprias iniciativas individuais, nem mesmo de um Eto’o ausente do jogo. Do outro lado, o United também não se revelou em grande plano. Defensivamente, o seu bloco não conseguiu nunca suster a chegada de bola até às imediações da área (apesar da tal incapacidade do Barça de dar seguimento a partir desse ponto), notando-se uma diferença evidente na qualidade do jogo posicional do meio campo, quando se compara com o Chelsea ou Liverpool. Ofensivamente, também não se viu grande coisa de uma equipa “obcecada” por Ronaldo, servindo-o em zonas muito atrasadas e onde seria muito complicado “explodir” com sucesso. Aqui, creio que o United poderia ter oscilado – tanto no primeiro, como no segundo tempo – a posse de bola com um jogo um pouco mais directo, apenas porque o meio campo do Barça tem muitas dificuldades em ganhar segundas bolas, podendo jogadores como Scholes, Rooney ou Carrick tirar partido dessa situação. Ainda assim, no primeiro tempo, o United foi claramente suficiente para um Barça pouco incisivo.

No segundo tempo, algumas alterações do Barça, aparentemente mais determinado em conseguir algo mais do jogo. Eto’o apareceu mais móvel e mais capaz de dar apoio a Messi e Deco e o próprio Iniesta surgiu mais móvel e não remetido a uma posição de extremo esquerdo que a equipa ignorava. Foi precisamente com Iniesta, Eto’o, Deco e Messi que se construiu a melhor (fantástica) jogada do Barça, falhada perante Van der Sar, um minuto após Wes Brown ter entusiasmado o Camp Nou com as suas fragilidades técnicas ao perder uma bola a que Eto’o não soube dar o melhor seguimento. O melhor período do jogo teria, pouco depois, a resposta de Carrick que, na sequência de um canto construiu de forma notável uma ocasião que o próprio desperdiçou.

Assim, em poucos minutos goraram-se os melhores (e únicos, verdadeiramente significativos) desequilíbrios da partida. Poucos minutos mais tarde Messi saiu, depois Deco, entraram Bojan e Henry e o Barça voltou a não ter referência para o seu segundo momento ofensivo nos últimos 30 minutos da partida, mantendo-se por isso mais longe de Van der Sar e do golo. O United, por seu lado, prosseguiu sem que encontrasse (ou sentisse necessidade disso) melhor forma para ser ameaçador ofensivamente, com Ferguson a dar sinais de gestão ao tirar Rooney e não Park numa etapa final do jogo em que tinha tudo para um assalto à vitória.

Em suma, um empate a zero que, é verdade, poderia ter sido diferente, mas não creio que qualquer equipa tivesse merecido minimamente a vitória. Cada uma com os seus motivos, não apresentou qualidade que justificasse melhor um destino para as respectivas estratégias. Em Old Trafford espero um jogo completamente diferente e bem mais interessante, com um Barça que não sabe jogar sem ser com bola e um United a fazer do seu estádio um inferno que, como habitualmente, inspira o domínio permanente do jogo. Não posso, mais uma vez, deixar de alertar para o efeito do fim de semana nas respectivas equipas, ainda que me pareça que o ambiente de Old Trafford poderá ser, desta vez, um estímulo suficiente para que o United possa contornar um handicap que foi determinante em 2007.





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Parabolica!

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23.4.08

Champions: Liverpool - Chelsea

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A meia final “do costume” não teve em termos estratégicos uma história muito diferente do passado, isto apesar da ausência de Mourinho. Sem surpresas em termos de sistema (4-4-2 do Liverpool, com Gerrard a fazer a ligação entre o meio campo e Torres, e o 4-3-3 do Chelsea onde sobressaia a ausência do “pulmão” Essien) e também em termos de abordagem ao jogo.

Os primeiros minutos foram marcados, como no passado, por uma preocupação mutua pelo controlo do jogo. Em termos práticos, isto significou, sem bola, dois blocos que definiam a linha de meio campo como o inicio da sua zona de pressão, que esperava por um passe mais arriscado para dar inicio a uma transição. Claro que ambas as equipas estavam alertadas para esta “ratoeira” e por isso a posse de bola era marcada por muitas cautelas, mais valendo o recurso ao jogo directo do que o risco de um passe vertical para a respectiva zona. Como um jogo de xadrez, a partida seguiu dentro destas coordenadas à espera de um desequilíbrio pontual que o mudasse. Aqui é fundamental um aspecto: a concentração.

O primeiro tempo reservou alguns momentos que poderiam ter rompido esta espécie de pacto estratégico. Um notável passe de Xabi Alonso que encontrou na perfeição a diagonal do extremo Kuyt, um erro de Arbeloa que reagiu erradamente a um momento de pressão do Chelsea, efectuando um passe que deu inicio a uma rara e perigosa transição do Chelsea. Uma transição defensiva menos conseguida pelo Chelsea, não controlando uma jogada que se iniciou com um 1x1 de Babel e que terminou com Torres na cara de Cech após alguns ressaltos que o Chelsea não conseguiu ganhar. Até que, finalmente (aos 42’), surgiu o lance que mudaria as coordenadas para o segundo tempo, o golo de Kuyt. A jogada surge de um duplo erro de Lampard. Primeiro, deixando que o Liverpool cobrasse rapidamente um livre a meio campo, com a sua defensiva desposicionada (o que lhe diria Mourinho se fosse treinador!). Depois, facilitando à entrada da área e numa posição pouco favorável para sair a jogar. Finalmente, nota para a forma acidental como a jogada foi construída, o que terá também contribuído para a abordagem disparatada de Makelele que possibilitou que Kuyt ganhasse condições para finalizar.

A segunda parte tinha de trazer, forçosamente, mudanças da parte do Chelsea. Elas sentiram-se num recurso mais declarado ao jogo directo, tendo sempre Drogba como referência. Cech, por exemplo, passou a colocar permanentemente a bola no costa marfinense. Outro aspecto foi o carácter menos posicional do bloco perante a posse de bola do Liverpool. A verdade é que foi o Liverpool quem mais partido tirou destas alterações. Primeiro porque controlou sempre o recurso a Drogba e, depois, porque foi inteligente e capaz em posse de bola, fazendo um bom uso dos espaços (lateralmente) e ultrapassando sempre o primeiro “pressing” do Chelsea. Mas o Liverpool não saberia manter este controlo na partida. Aos 66’ acontece um lance que marca os 20 minutos seguintes, invertendo a tendência do jogo. Algo irracionalmente, o Liverpool passou a tentar pressionar alto a partir de certas jogadas, criando um espaço entre linhas que a boa qualidade de circulação de bola do Chelsea passou a saber explorar e que proporcionou, nessa altura, uma ocasião flagrante a Malouda. Por estranho que parecesse, o Liverpool perdera parte do controlo do jogo por permitir que o Chelsea fosse ameaçador em transição, mostrando-lhe um caminho alternativo à solução Drogba.

Se a eliminatória frente ao Arsenal havia tido uns 10 minutos finais atípicos, Anfield foi novamente palco de uma oscilação de emoções, agora desfavorável ao seu público. A tal tendência ascendente do Chelsea foi perdendo gás e parecia completamente evaporada quando dois erros em posse de bola (1 sob pressão, o outro num passe precipitado de Makelele) proporcionaram, primeiro a Gerrard, depois a Torres dar outro rumo à eliminatória. Para que o golpe de teatro fosse ainda maior, Anfield terá sentido alguma injustiça um pouco antes do minuto final, quando Torres falhou mais uma oportunidade, após ficar livre num canto que ilustra a queda de concentração do Chelsea nos últimos minutos. Eis que, então, surgiu o tal golpe de teatro – uma novidade em relação às meias finais entre estas 2 equipas – com Riise a medir mal o efeito que a bola ganhou ao bater na relva e, com isso, um cruzamento desesperado de Kalou num precioso empate.

...

Contas feitas, o Chelsea conseguiu um golpe de felicidade quando menos o merecia, num jogo em que o Liverpool parecia, mais uma vez, levar a melhor com a sua estratégia do “erro minímo”. Para a segunda mão, creio estar tudo em aberto. Há uma nuance importante e que foi determinante nesta fase da competição em 2007. O Chelsea joga uma partida decisiva no fim de semana, ao contrário do Liverpool e isso deverá ser determinante para as condições de ambas as equipas no segundo jogo.

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Outro Croata (Pelaic)!

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22.4.08

A matemática do acesso à Champions...

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Quem é o favorito para garantir um lugar de acesso à Champions League?


Perante o domínio portista no campeonato esta é a pergunta que anima o final de temporada. Como em outras ocasiões, cada pessoa tem os seus motivos para apontar os favoritos. Performance desportiva, crença ou avaliação do calendário são normalmente as justificações apontadas. Comparativamente com 06/07 – na altura o debate era pelo primeiro lugar (parece que já ninguém se lembra!) – e apesar das diferenças de então serem mais curtas (na última jornada), a previsão de hoje é muito mais complicada de fazer, por um motivo simples: pouca consistência de resultados dos clubes envolvidos.


Ainda assim, e com uma enorme margem de erro, é possível quantificar as hipótese teóricas dos cenários finais possíveis, baseando-se a análise numa classificação das probabilidades dos resultados de cada jogo – aqui reside, naturalmente, alguma subjectividade, nem que seja pelo facto da motivação das equipas depender dos resultados que se forem verificando. Ainda assim, fica a minha avaliação, que julgo ser razoável...


A verdade é que o Guimarães aparece como o principal candidato a garantir o segundo lugar, com quase 50% de hipóteses. No que respeita ao acesso à Champions (isto é 2º ou 3º lugar), os Vimaranenses aparecem muito bem colocados, mas verifica-se ainda grande incerteza em relação a esta situação, já que todos mantêm boas hipóteses. Nota para o facto do Benfica parecer bastante distante do segundo lugar, com apenas 13% de probabilidade de atingir essa posição. Claro está que o terceiro lugar não será igual para Guimarães ou os 2 grandes de Lisboa, na perspectiva de chegar à ambicionada e prestigiada prova. É que o ranking não é muito favorável aos minhotos, o que complica as hipóteses de seguir em frente na pré eliminatória.


Fica a curiosidade e os resultados de uma análise que se poderá inverter totalmente já no próximo fim de semana.



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Nani: pelo meio!

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21.4.08

Notas da Jornada

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Porto 2–0 Benfica
- Em termos de estrutura das equipas não houve, nem poderia haver face à limitação de sessões de treino desde o último jogo, grandes novidades. Do lado do Benfica, ainda assim, destaque para a utilização de Binya no lugar de Petit e a manutenção da aposta na dupla Di Maria-Nuno Gomes.

- O jogo começou com uma imagem muito fiel do que viria a ser o primeiro tempo. O Benfica com uma posse de bola pouco progressiva, mas que conseguia impedir as intersecções do pressing portista, fazendo uso de uma grande certeza no passe, do recurso à qualidade de Rui Costa como referência do primeiro passe e, importante, de uma série de apoios recuados que faziam a bola circular lateralmente no campo. Esta característica da posse de bola encarnada tornou o seu jogo pouco ameaçador mas conseguiu impedir que o Porto soltasse as suas perigosas transições. Sem bola, o Benfica não fazia um pressing baixo, adiantando as suas linhas, mas nunca sendo suficientemente agressivo. O Porto, apesar de não sentir grandes problemas com esse “pressing passivo”, raramente foi dinâmico na posse de bola, explicando-se assim a ausência de oportunidades no primeiro tempo.

- É claro que os portistas têm como atenuante o facto de terem chegado à vantagem muito cedo e de forma quase cruel para o Benfica. Sem entrar na área, a inspiração de Lisandro fez o 1-0, num lance que começou num lançamento lateral de Leo facilmente recuperado por Bosingwa. Na jogada – e não desfazendo o mérito de Lisandro (de pé esquerdo!) – nota para a saída precipitada de Luisão que condiciona depois a acção de Nelson, apanhado em situação frontal e com muito espaço à sua volta.
- O Benfica conseguiu, ainda assim, uma situação de golo na primeira parte. É a partir deste lance que parto para uma reflexão sobre algo que poderia ter sido melhor aproveitado pelo Benfica. O flanco esquerdo portista era, claramente, o mais vulnerável. Quaresma tinha ordens para não acompanhar Nelson e Lucho juntava-se muitas vezes a Lisandro num pressing mais alto. Com o Benfica a “saltar” muitas vezes este pressing, abria-se um grande espaço sobre a direita que apenas Nelson soube aproveitar (e sem grande qualidade na definição dos lances, precisamente por algum isolamento), perante um Fucile algo desamparado. Fazia todo sentido colocar Di Maria mais descaído sobre este flanco em vez de insistir na zona do velocíssimo Bosingwa, como aconteceu. Se juntarmos a isto o facto de Maxi ter sido bem menos expedito ofensivamente do que Rodriguez, então fica claro que o Benfica terá perdido uma boa oportunidade de ser mais perigoso no primeiro tempo.
- Nos segundos 45 minutos tudo foi diferente. Apesar do Benfica até ter conseguido o primeiro remate de perigo por Rodriguez, a posse de bola portistas foi bem mais incisiva. Mais passes verticais, mais movimentos sem bola no espaço entre linhas e uma pressão mais agressiva na reacção à perda da bola foram suficientes para “asfixiar” durante alguns períodos um Benfica que se voltou a mostrar em quebra no segundo tempo. Luisão voltou a ameaçar de bola parada, mas foi o Porto quem mereceu o 2-0, num golo em que fica mais uma vez patente (como em outras jogadas) a forma débil como o Benfica defende. Mariano progrediu vários metros sem ser perturbado (apesar da proximidade de 2 jogadores) até servir, de novo, a inspiração de Lisandro, numa finalização muito semelhante à do primeiro golo, mas com o pé direito.
- Nota para as alterações de Chalana. Foram de uma lógica tão básica que pecou pela astúcia. Passo a explicar. Um dos principais defeitos ofensivos do Benfica é a pouca integração dos seus avançados no segundo momento de construção, não havendo movimentos colectivos rotinados. Quando joga Di Maria, o Benfica desfarça esta lacuna colectiva com a característica móvel do argentino. Quando regressou Cardozo (e depois Makukula), o Benfica passou a jogar com o que eu chamaria de dois ponta de lança “à antiga”, ou seja fixos e facilmente anulaveis pelas defensivas de hoje. Para agravar a situação, estava Bruno Alves, um jogador fortíssimo nas primeiras bolas aéreas, que neutralizou completamente a possibilidade do jogo directo para Cardozo ter alguma sequência...
- Em suma, uma vitória fácil (também pela eficácia do primeiro golo) e justa do Porto, mas com uma superioridade apenas clarificada no segundo tempo. Do lado do Benfica, alguns aspectos positivos (essencialmente o primeiro momento ofensivo) e outros negativos, numa imagem fiel daquilo que foram as alterações no jogo encarnado com a entrada de Chalana. Aqui destaque para a forma fácil como a equipa perde o jogo, pelo simples facto de não ser forte nos detalhes do jogo – algo que parece ter abandonado a Luz com a saída de Camacho.

Leiria 4-1 Sporting
- Começo por referir que assisti apenas a parte do jogo, até ao inicio do clássico (10 minutos do segundo tempo). O meu comentário restringe-se por isso a esse período do jogo, acrescentando apenas os golos que vi posteriormente.

- A única coisa que houve de novo no Sporting em relação aos 2 últimos jogos do campeonato foi uma maior dose de falta de intensidade e concentração em relação aquilo que seriam as ameaças do adversário. Em suma, uma maior dose de falta de atitude na entrada do jogo.
- Convém igualmente referir que, se a equipa foi eficaz noutras partidas recentes, desta vez foi penalizada pela eficácia do adversário, face à sua própria desinspiração no aproveitamento das oportunidades. Isto porque, apesar da entrada negativa do Sporting, o Leiria aproveitou as duas oportunidades que os leões lhe concedeu, enquanto que, já depois do 2-0, o Sporting desaproveitou ocasiões semelhantes.

- No jogo do Sporting pode falar-se de alguma falta de dinâmica inicial da posse de bola, mesmo com alguns erros proibitivos cometidos por Miguel Veloso. Mas não foi por aí que o Sporting começou a perder. O que mais uma vez se verificou foi a dificuldade da equipa em controlar o jogo, com particular destaque para a deficiente transição defensiva. Já tinha acontecido noutros jogos e, como havia referido, quem joga assim não ganha sempre jogos como contra o Leixões ou o Braga.
- Mas o jogo começou a decidir-se em mais uma intervenção errada de Polga sobre a esquerda (acção em que falha muitas vezes devido à sua falta de confiança perante a sua própria falta de velocidade), entrando à queima onde não podia perder o lance. O segundo golo resulta de uma desconcentração colectiva, com a equipa a balancear-se com exagero (talvez tentando reagir ao golo sofrido) ofensivamente e a permitir uma transição com muito espaço e com a sua linha defensiva muito exposta perante a liberdade de que usufruiu Harrison para o passe. Nota ainda para a decisão incompreensível de Miguel Veloso no terceiro golo, abandonando uma posição fundamental para a abordagem ao cruzamento.

- Não foi uma exibição com defeitos novos, antes com um destino diferente, quer para os erros cometidos, quer para as oportunidades criadas.Aqui, merece uma nota a União de Leiria que, apesar da classificação, tem, individualmente, uma qualidade ofensiva acima da média do campeonato.

- Os pontos a melhorar no Sporting são os mesmo que venho identificado (e que também com o Benfica ficaram claros). Os leões entram agora numa fase sem margem para errar e também onde se passa a exigir mais, já que acaba em Leiria a sequência de jogos bissemanais, havendo tempo de treino para recuperar e preparar convenientemente as partidas.

Academica 0-0 Guimarães
Nota breve em relação ao jogo que abriu a jornada.
Em Coimbra, o Vitória encontrou um adversário que errou pouco e que lhe permitiu poucas oportunidades para ganhar vantagem no marcador. Juntando este aspecto à segurança defensiva do Vitória, explica-se o nulo. Cajuda ainda tentou arriscar, mas percebe-se que essa não é a fórmula de sucesso da equipa. Na Sexta o que parecia mau, afinal... foi bem bom!

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Dizem que é uma espécie de "Caso Meyong"...

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...só que com influência directa no desfecho da Liga!
Aconteceu na Grécia. O Olimpiacos jogou em Fevereiro com o Apollon, perdendo por 1-0. Acontece que o brilharete do modesto clube grego foi negado na secretaria pela Federação Grega, precisamente pela utilização de um jogador (Roman Wallner) que já havia alinhado por 2 clubes na presente época (Falkirk e Hamilton). Os 3 pontos foram, por isso, entregues ao Olimpiacos que finalizou a liga com 2 de avanço sobre o AEK. Inconformado, o clube de Atenas auto-proclama-se campeão (Rivaldo, então fez questão de se afirmar tetra campeão, após ter trocado este ano o Olimpiacos pelo AEK). Como a decisão final só será conhecida na próxima semana, quando o tribunal arbitral do desporto ditar o desfecho, os gregos não foram de modas e... festejaram a dobrar!


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Jogos do fim de semana

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19.4.08

De um clássico para o outro

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Começo com um olhar para a frente, ou seja, por falar do Porto-Benfica do próximo fim de semana.
Será, na história estatística dos campeonatos o mais difícil dos jogos para o Benfica. De facto, se tivessemos apenas em conta o passado chegariamos à conclusão de que os portistas tinham 60% de probabilidades de vencer o jogo. A verdade, porém, é que cada jogo tem a seu próprio contexto e este, particularmente, terá um verdadeiramente incomum.
Porto
Pensar-se que para o Porto este poderá ser um jogo para cumprir calendário é não conhecer a realidade do futebol português e, em particular, as motivações dos seus adeptos. Vencer o Benfica é, em qualquer contexto, uma prioridade. A isto juntam-se uma série de dados invulgares... A necessidade de afirmação da superioridade do seu futebol frente a um rival directo e o facto do Benfica ter sofrido duas goleadas recentemente acrescentam uma pressão que, racionalmente, talvez possa não fazer sentido mas que se sentirá nas bancadas do Dragão. O momento do Benfica faz com os adeptos portistas exijam, mais do que uma vitória, uma vitória altamente convincente. Jesualdo pode tentar desdramatizar, mas veremos se as suas opções não confirmarão esta realidade, mesmo tendo tido um jogo a meio da semana...
Benfica
Do lado do Benfica, dá para compreender a apreensão dos adeptos. “Encaixar” 8 golos em 2 jogos não é propriamente uma forma motivadora de preparar uma deslocação a um estádio onde, este ano e em 13 jogos, se marcaram 31 golos e se sofreu... apenas 1. Se juntarmos a perda do objectivo Taça de Portugal e o afastamento do segundo lugar, ao facto de haver pouco tempo de recuperação para uma equipa que tem como figura mais influente um jogador de 36 anos, então, o cenário pode considerar-se mesmo altamente preocupante! Sobra para o Benfica a motivação do empate do Guimarães e da grandeza do próprio jogo. Do ponto de vista táctico e do comportamento da equipa, não posso terminar sem referir, a equipa terá de ter outro comportamento defensivo perante um Porto que, fortíssimo nos momentos de transição, pode impor fases asfixiantes na partida. Se o Benfica confirmar o colapso na organização e concentração defensivas do pós-Camacho, então é bem provável que saia com mais um número gordo do Dragão. É um grande desafio que aparece num momento quase cruel para quem numa semana já sofreu tanto.
Sporting - Benfica: O mito do discurso ao intervalo
Ainda no rescaldo do derbi, assistiram-se aos inevitáveis exageros da comunicação social. Um aspecto particular fez as manchetes dos jornais nesta Sexta Feira: o discurso de Paulo Bento ao intervalo. Estou à vontade porque já diversas vezes afirmei o meu apreço pelo perfil e qualidades do actual treinador do Sporting, mas acredito pouco em discursos milagreiros. Não desfazendo a importância da motivação – que se trabalha de forma muito mais abrangente do que em meia dúzia de palavras inspiradoras – a qualidade do treinador não se fez, nem se desfez no jogo de Quarta Feira. Quanto à sua popularidade... 25 minutos fazem toda a diferença!

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Showboat!

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18.4.08

De cabeça, de fora da área... na baliza errada!

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História do Europeu - Bélgica 1972

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Enquadramento Futebol Português
Em Portugal, o Benfica mantinha o domínio interno, estando em 1972 a meio do terceiro de quatro tri campeonatos conquistados nas décadas de 60 e 70. Na Europa, no entanto o Benfica já estava longe da preponderância dos anos 60 e, em 1972 conseguiu o feito isolado de chegar às meias finais de uma prova onde, embora continuasse a ser presença quase constante, passou a ter uma importância bem mais modesta. Em 1972, o Benfica de Jimmy Hagan contava com um Eusébio já com 30 anos e uma equipa completamente renovada em relação aquela que entrara em Wembley quatro anos antes. Nas suas fileiras incluíam-se nomes importantes do futebol dos anos 70 e 80 como Nené, Jordão, Humberto Coelho, Artur Jorge, Vitor Baptista ou Toni. Os encarnados venceriam também a Taça de Portugal chegando à final depois de derrotar o FC Porto por 6-0 na meia final. No Jamor o adversário foi o Sporting de Fernando Vaz, derrotado por 3-2 no prolongamento. Os leões contavam, para além do mítico Vitor Damas (na altura com 24 anos), com Yazalde, no entanto ainda longe da veia goleadora de 74.
Mas falar desta época do futebol português é falar do “Senhor” Vitória de Setúbal que foi o principal destaque nacional a nível Europeu. Sob o comando de Pedroto o Vitória espantou a Europa conseguindo entre 69 e 74 estar sempre entre os 4 primeiros do campeonato e chegando, ou aos oitavos de final, ou aos quartos de final da Taça Uefa (antes de 72, Taça das Cidades com Feira). Gigantes como o Inter, Fiorentina ou Leeds United caíram aos pés dos Sadinos que contaram nesse período com individualidades como Jacinto João, Carlos Cardoso ou o experiente José Torres.

Enquadramento do Futebol Europeu
Em termos tácticos a evolução do futebol é marcada por uma crescente percepção da importância dos espaços e na viragem para a década de 70 o futebol de topo experimentou mais um importante passo rumo ao que é hoje, com a filosofia do Totaalvoetbal, ou Futebol Total, a atingir um sucesso esplendoroso com os feitos do Ajax. A ideia era promover a liberdade de movimentos individuais, mantendo sempre uma rigorosa disciplina colectiva que garantia a manutenção dos equilíbrios.
Na realidade o futebol Holandês conseguiu entre 69 e 73 estar presente em 5 finais da Taça dos Campeões Europeus, tendo o Ajax perdido a primeira e ganho as 3 últimas. Pelo meio fica o triunfo do Feyenoord sobre o Celtic em 1970. A final de 1972 fica marcada de forma impar na história do futebol Europeu por marcar também o confronto entre duas filosofias marcantes da história. Nesse dia 31 de Maio de 1972 a banheira de Roterdão assistiu ao grande triunfo do Futebol Total sobre o Catenaccio com a vitória do Ajax por 2-0 (2 de Cruijff) sobre o Inter. Curiosamente, nem o Ajax, nem o Inter eram já orientados por aqueles que ficariam conhecidos como os “mestres” das respectivas filosofias. No Ajax Kovacs sucedera um ano antes a Rinus Michels que partira para Barcelona e, no Inter, Herrera, agora na Roma, havia dado lugar a Giovanni Invernizzi. Nota para o facto de tanto Michels como Herrera terem sido responsáveis pelos primeiros grandes sucessos das respectivas filosofias, mas terem tido, em ambos os casos, inspirações de trabalhos prévios. No caso de Michels, o seu ex-treinador no Ajax, o Inglês Jack Reynolds (treinou antes e depois da II Guerra Mundial) e, no caso de Herrera, Gipo Viani que implementou pela primeira vez em Itália (no Salernitana) um conceito mais defensivo do jogo que, na realidade, foi pela primeira vez aplicado na Suiça.

Qualificação
A primeira pergunta que deve ser colocada, face ao que se passava ao nível de clubes, é: o que se passou com a Holanda? A Selecção Laranja dava no inicio dos anos 70, com o surgimento do domínio do “Futebol Total” os primeiros passos daquela que é uma história bem aquém do potencial que se reconhece. Depois de terem igualmente falhado a qualificação para o México 70, os Holandeses ficaram em segundo na fase de grupos, atrás da Jugoslávia, finalista da edição de 68 e que a “Laranja” foi incapaz de bater.
Outra baixa de peso foi a Itália, campeã Europeia e finalista no Mundial de 70. Os Italianos dominaram o seu grupo, mas caíram nos quartos de final frente a uma surpreendente Bélgica que conseguiu um notável nulo em San Siro antes de vencer “i azzurri” por 2-1 num jogo dramárico em Bruxelas.
Na qualificação para o Euro 72 viveu-se mais um episódio da rivalidade Anglo-Germânica, que começava a tornar-se traumática para os Ingleses depois da final do Mundial de 66. Depois de terem caído aos pés dos Germânicos nos quartos de final do México 70, os Ingleses eram agora eliminados da fase final do Euro 72, algo particularmente mais embaraçoso após a derrota 1-3 em Wembley, com 2 golos sofridos nos últimos 5 minutos desse jogo.
De resto, os quartos de final ditaram 2 confrontos a leste. A Hungria bateu a Roménia (2-1) no último minuto do tira teimas disputado em Belgrado, os após 2 empates verificados nas 2 mãos da eliminatória. Mais fácil a qualificação da União Soviética, que bateu a Jugoslávia por 3-0 em Moscovo após o nulo obtido em Belgrado.
Quanto a Portugal, 72 foi mais um episódio da frustrante carreira da Selecção no pós 66. Não foi tão mau como havia acontecido na qualificação para o México 70, mas ainda assim foi insuficiente. Os Portugueses foram segundos num grupo com a Bélgica, Escócia e Dinamarca. A Selecção foi apenas eliminada no último jogo, em casa frente à Bélgica. O resultado foi um empate a 1, num jogo em que Portugal teria de vencer por mais do que 2 golos para se qualificar.

Fase Final
A fase final foi disputada na Bélgica mas dominada por uma potência vizinha: A Alemanha Ocidental. Os Alemães começaram por se impor frente à equipa da casa (1-2), com Muller a marcar 2 golos antes de Polleunis reduzir já na etapa final da partida. Na outra meia final, os Húngaros foram incapazes de impedir a terceira final Soviética em 4 edições da prova, perdendo por 1-0 em Bruxelas, num jogo em que desperdiçaram um penalti. Os Belgas conseguiriam o terceiro lugar e, na final de Heysel, a Alemanha afirmava-se definitivamente como uma potência do futebol europeu, batendo os Soviéticos com um concludente 3-0. Muller foi, mais uma vez, o destaque da partida com 2 golos intervalados por outro de Wimmer.

Meias finais
Bélgica 1-2 Alemanha Ocidental
Hungria 0-1 União Soviética

3º/4º Lugar
Hungria 1-2 Bélgica

Final
Alemanha Ocidental 3-0 União Soviética

Equipas
Alemanha Ocidental (Campeã)
Primeira nota para Helmut Schoen, o treinador Germânico que ficaria na história como o primeiro e, até agora, único Seleccionador a ser Campeão Europeu e Mundial. Schoen levou para a Bélgica uma equipa que tinha como base jogadores do Bayern de Munique (campeão esse ano – apenas o seu 3º título!) e da outra potência alemã, o Monchengladbach (haviam sido campeões em 70 e 71). Era uma equipa fantástica com diversos nomes que ficariam para sempre na história do futebol mundial. Fica o onze da final:
Gr - Sepp Maier (Bayern Munique)
Dd – Horst-Dieter Hottges (Werder Bremen)
De – Paul Breitner (Bayern Munique)
Lib – Franz Beckenbauer (Bayern Munique)
Dc - Georg Schwarzenbeck (Bayern Munique)
Mc –Herbert Wimmer (Monchengladbach)
Mc –Uli Hoeness (Bayern Munich)
Mc – Günter Netzer (Monchengladbach)
Ee –Erwin Kremers (Schalke 04)
Ed – Jupp Heynckes (Monchengladbach)
Pl - Gerd Müller (Bayern Munich)

O estilo da equipa era uma versão germânica do “Futebol Total” muito em voga na altura. A liberdade de movimentos dos jogadores – onde se destaca, claramente, a função livre do libero Beckembauer – era um dos princípios elementares da forma de jogar, mantendo ainda assim a equipa a sua ordem colectiva.

União Soviética
Os Soviéticos voltaram a dar cartas numa fase final de um Europeu repetindo nova final. Evidentemente que a equipa Soviética era agora bem diferente daquelas que foram fazendo história ao longo desta prova. O futebol Soviético preparava-se para o domínio do Dinamo Kiev, que marcaria os anos 70 e 80 e a equipa Soviética contava já com 3 titulares do gigante Ucraniano (o guarda redes Rudakov e os médios Troshkin e Kolotov). De resto a equipa era formada por jogadores de diversos clubes, destacando-se o Dinamo Tiblisi e o finalista da Taça das Taças desse ano, o Dinamo de Moscovo.

Bélgica
O nome mais conhecido da Selecção Belga, anfitriã da fase final, será mesmo o seu treinador: Raymond Goethals, que nos anos 90 levaria o Marselha a 2 finais Europeias, a última das quais vencendo o troféu com uma vitória sobre o Milan em 93. De resto, o futebol Belga estava, numa escala um pouco mais modesta que a vizinha Holanda, a protanigozar uma fase de ascendente. Ao nível de clubes, os 3 mais importantes clubes, Anderlecht, Standard e Brugge dominavam internamente e preparavam-se para ser parte importante da história das Taças Europeias nos anos 70. O Anderlecht conseguiria 3 finais consecutivas da Taça das Taças (entre 76 e 78), vencendo 2. Aliás, em 1976 o futebol Belga levaria 2 das 3 Taças, com o Brugge a vencer também a Taça Uefa. Para o Euro 72, Goethals convocou, no entanto, maioritariamente jogadores da geração anterior a estes feitos (jogadores que haviam estado na modesta presença Belga no México 70), explicando-se talvez assim alguma modéstia exibicional, apesar do factor casa. Os Belgas terão, particularmente, sentido a falta do avançado Van Moer que partira a perna no empolgante play off que qualificou surpreendentemente os Belgas frente à Itália.

Hungria
Esta seria a última participação Húngara com algum relevo numa fase final de uma grande competição, ficando claro que a magia Magiar era estava a tornar-se cada vez mais uma realidade distante do futebol dos tempos modernos. Ainda assim, não se pode dizer que esta fosse uma formação envelhecida, antes pelo contrário. Comandada, é verdade, pelo veterano Florian Albert (Jogador Europeu do ano em 1967 que fez toda a carreira no Ferencvaros), esta era uma formação maioritariamente composta por jovens que, mais tarde atingiriam a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Munique, no mesmo ano. No que respeita a clubes, Ferencvaros e Upjest dominavam a convocatória.

Estrelas
Franz Beckenbauer
(Alemanha O.) – Em 1972 Beckenbauer ainda não tinha conquistado nenhuma das suas 3 Taças dos Campeões Europeus, nem sequer atingido esse pico de carreira que foi levantar pela primeira vez a então nova Taça de Campeão do Mundo em 1974. Pode espantar um pouco, por isso, que o “ Der Kaiser”, prestes a completar 27 anos, fosse já o capitão daquela que foi por ventura a melhor geração Germânica de sempre. Sobre as suas características é até escusado falar, dada a projecção que atingiu a sua célebre função de “libero”, em que personificava a versão do Futebol Total Germânico, pela liberdade ofensiva que o caracterizava. Foi o futebolista Europeu nesse ano (1972), feito que repetiria 4 anos mais tarde.

Paul Breitner (Alemanha O.) – Na altura tinha apenas 20 anos, prestes a completar 21. Mas Breitner era já um titular da Selecção de Schoen como lateral esquerdo. Breitner ficou conhecido como um dos melhores laterais do seu tempo, que tinha como particularidade características também reconhecidas no seu carácter: imprevisibilidade e irreverência. Era um jogador dotado tecnicamente e que marcava muitos golos, terminando a carreira como médio do Bayern de Munique – onde jogou a maior parte da sua carreira.

Gunter Netzer (Alemanha O.) – Não figura entre os craques que marcaram uma geração gloriosa no Bayern de Munique mas Gunter Netzer era naquela altura uma das figuras do futebol Germânico e Europeu, actuando pelo Monchengladbach, grande rival interno do Bayern nos anos 70. Netzer era um médio vistoso e possante que marcou um penalti decisivo em Wembley no playoff de acesso a esta fase final. O camisola 10 da Selecção jogaria ainda no Real Madrid ao lado de Breitner.
Gerd Muller (Alemanha O.)– A grande estrela da prova, marcando por 4 vezes em 2 jogos. Falar de Muller é falar de um dos mais temíveis goleadores da história do futebol. O “Bombardeiro da Nação” era sinónimo quase certo de golos, tendo batido nesse mesmo ano o recorde de golos na Bundesliga ao serviço do Bayern – 40 golos.

Murtaz Khurtsilava (U.Soviética) – Recentemente considerado o melhor jogador Georgio de todos os tempos, era o capitão da União Soviética. Khurtsilava actuou pelo poderoso Dinamo Tiblisi dos anos 70 e era uma espécie de Beckenbauer soviético. Forte defensivamente mas também capaz de dar inicio às acções ofensivas. Fica a curiosidade de ter sido este o jogador que cometeu o penalti contra Portugal em 66 no jogo de atribuição de terceiro e quarto lugares. Na altura uma mão na área, quando tentava ganhar o lance a Torres.

Evgeny Rudakov (U.Soviética) – Guarda redes Russo – nascido em Moscovo – ficou conhecido por fazer carreira no poderoso e Ucraniano Dinamo Kiev. Rudakov era o sucessor de Yashin e, se é certo que seria difícil atingir a grandeza do seu antecessor, não se pode dizer que Rudakov tivesse desiludido. Na realidade era uma das estrelas do futebol Soviético da altura, tendo sido considerado melhor jogador do campeonato em 1971.

Paul Van Himst (Bélgica) – Na ausência do lesionado Van Moer – estrela do Standard Liége – Van Himst era claramente a figura da equipa. Camisola 10 e capitão, Van Himst foi com 28 anos a principal esperança dos adeptos locais que tinham neste médio criativo do Anderlecht a sua fonte de desequilíbrios ofensivos. Foi 4 vezes votado como jogador do ano na Bélgica e manteve uma média superior a 0,5 golos por jogo nos mais de 450 jogos que realizou pelo seu clube do coração. Van Himst foi o nome escolhido pela Federação Belga como melhor jogador dos últimos 50 anos.

Florian Albert (Hungria) – Os seus melhores dias estavam já ultrapassados em 1972, mas Albert era ainda a principal estrela da Hungria (e do Ferencvaros) e, certamente, a sua figura mais influente. Albert – jogador europeu do ano em 1967 – era um avançado que se distinguia pela elegância do seu futebol. Um herdeiro de Puskas. Com 30 anos foi suplente utilizado na meia final e recuperou a titularidade na final, tendo como missão inspirar uma equipa bastante jovem.

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