- Antes de ir ao jogo propriamente dito, acho interessante comentar a situação da tabela classificativa. O Benfica tinha duas vantagens, que garantiu na primeira metade do campeonato: 2 pontos de avanço e a perspectiva de disputar em casa o jogo que se adivinha com maior potencial decisivo. Quanto à segunda vantagem, não há muito a acrescentar para além do óbvio, mas parece haver mais importância na liderança do que a mera diferença pontual. Ano após ano e de país para país parece verificar-se uma tendência para que as equipas que vão atrás tenham mais dificuldade em reagir às adversidades. Um problema de confiança, seguramente, mas todos sabemos como a confiança pode ser tudo no futebol (e o Benfica de Jesus que o diga!). Não é uma verdade absoluta, obviamente, mas será uma tendência geral, que explica, por exemplo, porque é que 24 dos últimos 30 campeões já lideravam ao fim de apenas 1/3 do campeonato, quando esse não parece ser um período suficientemente longo para que o factor aleatório tenha sido isolado. Seja como for, esta jornada tivemos um passo potencialmente decisivo para a definição do campeonato, onde a reacção à adversidade dos dois primeiros foi totalmente distinta. Neste mesmo sentido, o Feirense poderá vir a ser uma equipa chave na corrida ao título, não tanto por este jogo, mas pelo facto de ter sido inesperadamente frente a este adversário que o Porto perdeu a sua vantagem na fase inicial da prova.
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- A perspectiva de um jogo algo diferente do habitual, confirmou-se. O Feirense forçou o Benfica a disputar um jogo de futebol muito verticalizado e pouco tempo para pensar. A resposta do Benfica foi sempre boa, mas demorou até que a equipa conseguisse realmente dominar o jogo. Acabou por fazê-lo com a evolução do tempo, havendo também a coincidência de isso ter acontecido após a passagem de Rodrigo para uma zona mais central, com Witsel a ocupar uma posição mais descaída para a direita, sobretudo em situação defensiva. Esta organização criou alguns problemas de controlo a Maxi (frequentemente o ajustamento posicional de Witsel não chegava a tempo de bloquear o corredor), mas a verdade é que o Benfica pareceu ganhar com a mudança, sobretudo pela maior presença de Rodrigo em zona central e pela amplitude de acção de Witsel, que libertou Aimar. Já contra o Marítimo, o Benfica se dera bem com a alteração, e embora não seja liquido que tal tenha sempre um efeito positivo (nomeadamente, porque aumenta o risco de perda em posse), a verdade é que tem tido precisamente esse efeito.
- Recentemente, destaquei o papel importante da abordagem do Benfica ao mercado, com muito investimento, mas com apostas muito certeiras. Hoje, e neste jogo em particular, quero realçar outro ponto importante na construção do plantel e nas opções do treinador. É que, provavelmente como poucos, Jesus sabe bem que jogadores quer para a sua equipa. Por exemplo, a estatura é essencial em pelo menos 4 unidades da sua equipa. O guarda redes, os centrais e o pivot são sempre altos nas equipas de Jesus, e quando não são passam a ser (no caso da dispensa de Quim, por exemplo, parece ter sido decisivo). Do mesmo modo, um dos avançados tem tendencialmente essa característica, sendo que para esta posição o treinador confia naquilo que o faz ganhar, os golos. Por isso, Cardozo é discutível para quase todos, mas não para Jesus. Estas prioridades do treinador conferem ao Benfica uma grande adaptabilidade, nomeadamente sendo capaz de responder de forma muito forte num jogo com estas características. Obviamente, não quer isto dizer que todos os treinadores e todas as equipas devam repetir a fórmula (mais uma vez a importância da especificidade...), mas parece-me indiscutível a utilidade de se saber o que se quer, fazendo convergir as características individuais para os objectivos colectivos. Ainda no capítulo individual, destaque para Rodrigo, Cardozo (grande jogo, de utilidade cirúrgica para aquilo que foi o jogo) e Artur. O guarda redes merece aqui uma referência especial, porque não foi pelo que Artur defendeu que foi importante, mas pelas suas reposições, nomeadamente com os pés. Esse é outro ponto onde o Benfica evoluiu nesta época, e duvido que de agora em diante Jesus passe também a não dispensar um bom jogo de pés nos seus guarda redes...
- Nota, finalmente, para algumas dinâmicas colectivas do Benfica. Na saída em construção, o Feirense tentou forçar o pontapé longo de Artur, mas o guarda redes forçou até ao limite a saída em posse, normalmente por Garay, e muitas vezes com um passe praticamente paralelo à linha final. A opção pelo argentino é intencional, porque é o jogador com maior qualidade de passe nos elementos mais recuados, e mesmo que a saída curta do guarda redes não tenha tido como consequência constante a progressão em apoio (várias vezes não teve), sempre que o Benfica tentou a construção longa conseguiu criar muitas dificuldades de controlo ao Feirense, tendo Cardozo um papel essencial como referência para o jogo directo. Outra dinâmica em evidência e que causou dificuldades ao Feirense, aconteceu em situações de progressão mais apoiada, com a bola a ter como destino quase constante o corredor oposto àquele onde a jogada havia começado. Aqui, o Benfica aproveita a mobilidade de Aimar e a boa abertura da sua estrutura para provocar dificuldades de controlo ao bloco adversário.
- Recentemente, destaquei o papel importante da abordagem do Benfica ao mercado, com muito investimento, mas com apostas muito certeiras. Hoje, e neste jogo em particular, quero realçar outro ponto importante na construção do plantel e nas opções do treinador. É que, provavelmente como poucos, Jesus sabe bem que jogadores quer para a sua equipa. Por exemplo, a estatura é essencial em pelo menos 4 unidades da sua equipa. O guarda redes, os centrais e o pivot são sempre altos nas equipas de Jesus, e quando não são passam a ser (no caso da dispensa de Quim, por exemplo, parece ter sido decisivo). Do mesmo modo, um dos avançados tem tendencialmente essa característica, sendo que para esta posição o treinador confia naquilo que o faz ganhar, os golos. Por isso, Cardozo é discutível para quase todos, mas não para Jesus. Estas prioridades do treinador conferem ao Benfica uma grande adaptabilidade, nomeadamente sendo capaz de responder de forma muito forte num jogo com estas características. Obviamente, não quer isto dizer que todos os treinadores e todas as equipas devam repetir a fórmula (mais uma vez a importância da especificidade...), mas parece-me indiscutível a utilidade de se saber o que se quer, fazendo convergir as características individuais para os objectivos colectivos. Ainda no capítulo individual, destaque para Rodrigo, Cardozo (grande jogo, de utilidade cirúrgica para aquilo que foi o jogo) e Artur. O guarda redes merece aqui uma referência especial, porque não foi pelo que Artur defendeu que foi importante, mas pelas suas reposições, nomeadamente com os pés. Esse é outro ponto onde o Benfica evoluiu nesta época, e duvido que de agora em diante Jesus passe também a não dispensar um bom jogo de pés nos seus guarda redes...
- Nota, finalmente, para algumas dinâmicas colectivas do Benfica. Na saída em construção, o Feirense tentou forçar o pontapé longo de Artur, mas o guarda redes forçou até ao limite a saída em posse, normalmente por Garay, e muitas vezes com um passe praticamente paralelo à linha final. A opção pelo argentino é intencional, porque é o jogador com maior qualidade de passe nos elementos mais recuados, e mesmo que a saída curta do guarda redes não tenha tido como consequência constante a progressão em apoio (várias vezes não teve), sempre que o Benfica tentou a construção longa conseguiu criar muitas dificuldades de controlo ao Feirense, tendo Cardozo um papel essencial como referência para o jogo directo. Outra dinâmica em evidência e que causou dificuldades ao Feirense, aconteceu em situações de progressão mais apoiada, com a bola a ter como destino quase constante o corredor oposto àquele onde a jogada havia começado. Aqui, o Benfica aproveita a mobilidade de Aimar e a boa abertura da sua estrutura para provocar dificuldades de controlo ao bloco adversário.
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