"No futebol, nem sempre vence o melhor" - Esta foi uma das ideias mais exploradas nas reacções dos protagonistas benfiquistas, no final do jogo. E, de facto, estou tão de acordo com ela que até a poderia considerar um eufemismo. Aqui, emerge de novo o peso da aleatoriedade no jogo, um factor sobre o qual venho escrevendo com frequência, recentemente. Ora, é precisamente por esse factor, e pela importância que ele tem na definição dos resultados, que me parece ter havido algum - muito, em alguns casos - menosprezo pelo valor do Sevilha. Estou de acordo que o Benfica é melhor equipa, sem dúvida, mas as diferenças não eram suficientes para que as hipóteses de vitória, e numa final discutida a 1 só jogo, se pudessem balancear de forma assim tão vincada para o lado encarnado. Neste aspecto, diria, esta foi uma decisão que foi ao encontro das expectativas que, a meu ver, seriam mais realistas: O Benfica melhor, a justificar mais hipóteses de vencer, mas não com uma diferença suficiente para que se livrasse da dependência que a eficácia sempre tem em jogos equilibrados. E assim foi, ao Benfica faltou fundamentalmente, aquilo que não podia - nem ninguém pode! - controlar.
Abordando mais concretamente os aspectos tácticos do jogo, diria que o Benfica revelou, sem surpresa, a sua maior valia táctica, mas que foi o Sevilha quem teve uma melhor abordagem estratégica ao jogo. Concretamente, a equipa andaluz conseguiu fazer um bom condicionamento dos momentos de organização do Benfica. Com bola, baixando muita gente para a sua circulação mais baixa e gerindo com alguma segurança a intenção pressionante do Benfica, nomeadamente com o recurso ao jogo de pés de Beto (já a ligação com o último terço ofensivo não foi tão boa, e daí ter criado poucas ocasiões claras de golo). Sem bola, conseguindo um bom condicionamento por parte da sua linha média, que embora muitas vezes em inferioridade numérica perante a permanente mobilidade dos avançados do Benfica, conseguiu quase sempre fazer uma boa leitura posicional de cada situação, o que lhe valeu uma elevada capacidade de recuperação nessa zona, várias delas com elevado potencial para as transições subsequentes.
Com tudo isto, o Sevilha conseguiu limitar muito o tempo de posse de bola do Benfica e criar ainda algumas oportunidades para explorar possíveis momentos de desorganização da equipa de Jesus - algo que, porém, raramente foi materializado, também por mérito da reacção defensiva. O Benfica, por seu lado, foi quem sempre esteve mais perto de chegar à vitória, a meu ver muito pela sua maior qualidade de resposta colectiva nos momentos de indefinição do jogo, e onde é mais difícil às equipas, tacticamente, serem competentes. Foi sempre o Benfica quem foi mais capaz, tanto nas reacções defensivas como nos desdobramentos ofensivos, o que lhe ofereceu um número importante de jogadas de elevado potencial, sendo que algumas delas resultaram mesmo nas melhores situações de golo da equipa.
Por fim, queria abordar dois factores que me pareceram importantes - e em sentidos inversos - no jogo. Primeiro, as bolas paradas, onde o Benfica esteve claramente melhor do que o Sevilha e só por muito pouco não voltou a tirar partido decisivo deste aspecto do jogo, depois de o ter feito também frente ao Rio Ave. Finalmente, as dificuldades do meio campo encarnado, onde creio que se poderá ter feito sentir a ausência de Enzo Perez. Foram muitas as dificuldades que o Benfica denotou para definir com precisão no corredor central, e quase todos os jogadores passaram por problemas nesse propósito. É minha convicção que com outra capacidade de resposta a este nível, o Benfica teria conseguido uma afirmação significativamente superior no jogo e, consequentemente, teria também aumentado de forma importante as suas aspirações de sucesso.
Individualidades (Benfica)
Oblak - Mais um jogo sem sofrer golos, e sem reparos a fazer do ponto de vista da segurança entre os postes. Com os pés, esteve menos bem, e protagonizou algumas reposições de bola menos conseguidas. Nos penáltis, não conseguiu ser útil à equipa.
André Almeida - De suplente inicial, acabou com mais de 90 minutos jogados na final. Competente e eficaz a defender, bem menos útil a atacar.
Siqueira - Conseguiu algumas intervenções importantes, particularmente na primeira parte. Diria que fez um jogo regular, mas também sem oferecer o potencial ofensivo de ocasiões recentes.
Luisão - Mais uma prova da enorme competência da dupla de centrais, que forma com Garay. Dominou sempre a sua área de intervenção e venceu praticamente todos os duelos que travou, revelando a habitual lucidez na definição posicional.
Garay - Não é fácil superar Luisão, mas mais uma vez Garay conseguiu-o, e a meu ver em praticamente todos os patamares de avaliação, estando num nível de exibicional que, na minha opinião, não é muito fácil de encontrar paralelo. Conseguiu uma área de intervenção superior à de Luisão - em grande parte, por ter maior capacidade de antecipação - e foi ainda um jogador muito perigoso na área contrária, estando muito perto de se tornar também - e mais uma vez! - protagonista a esse nível.
Ruben Amorim - Um jogo com muitas dificuldades. Foi o jogador que mais passes completou, é verdade, mas isso não serve para esconder o número significativo de erros em posse e em situações potencialmente comprometedoras para o equilíbrio posicional da equipa. Também em termos defensivos, e apesar de ter tido um bom jogo no plano global, teve problemas, nomeadamente ao perder o controlo sobre Bacca, numa das melhores ocasiões do Sevilha. Finalmente, nota para o grande passe que fez para Maxi, e que por pouco não resultou em golo.
André Gomes - As dificuldades de Amorim, no caso de André Gomes, foram ainda maiores. Boa entrega e várias intervenções no corredor central, é certo, mas também muita dificuldade em garantir a eficácia desejável nas suas aparições com bola. Ficou mais confortável, a este nível, no prolongamento, quando o Sevilha baixou o seu nível de intensidade, mas mesmo nesse período cometeu erros potencialmente comprometedores.
Maxi - Ao contrário dos planos iniciais, acabou por fazer grande parte da final como médio ala. Não dá para dizer que Maxi tenha feito um grande jogo, particularmente no seu envolvimento com bola, mas acabou por ser até um dos jogadores que maior perigo conseguiu causar junto do extremo reduto contrário. Em destaque, o bom timing de desmarcação, no lance que acontece perto do intervalo, e a velocidade de desdobramento, naquela que foi talvez a melhor ocasião do jogo, finalizada por Lima.
Gaitan - Na ausência de Enzo, Markovic e Salvio pedia-se, mais do que nunca, que Gaitan fosse um protagonista em termos de capacidade desequilibradora. A verdade, porém, é que o argentino falhou redondamente nesse propósito, não sendo capaz de fazer valer a qualidade que todos lhe reconhecem. Não justifica qualquer reparo em termos de atitude e capacidade de trabalho, onde voltou a fazer um jogo de elevado nível, mas na missão criativa, falhou claramente.
Rodrigo - Muita mobilidade, oferecendo-se sucessivamente como solução de ligação do jogo da equipa. No entanto, foi um jogo pouco conseguido em termos de eficácia no desempenho técnico. Tal como Gaitan, foi um elemento preponderante no sucesso da equipa ao longo da época, e lamenta-se que também ele não tenha conseguido prolongar essa inspiração até um jogo tão importante quanto este. Ainda assim, e apesar da desinspiração global - que se prolongou até às grandes penalidades - foi dos jogadores com maior presença nas principais jogadas da equipa, nomeadamente numa jogada que o próprio constrói e finaliza, na primeira parte, e mais tarde num cruzamento que Garay não consegue enquadrar, com Beto já fora da jogada.
Lima - Foi bem mais consequente do que Rodrigo nas suas aparições no jogo, embora menos solícito nas suas movimentações sem bola. Talvez como nenhum outro, esteve perto de se tornar no protagonista decisivo do jogo, nomeadamente na ocasião que lhe foi negada por um defensor, já depois da sua finalização ter ultrapassado Beto. Também nota para o facto de não ter sido por ele que o Benfica perdeu a lotaria das penalidades.
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