30.5.14

Sporting: Análise jogos seleccionados 13/14

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Dando sequência às análises sobre a época que terminou, deixo aqui o resumo dos jogos que analisei mais detalhadamente do ponto de vista estatístico, começando pelo Sporting. Sublinho que esta análise não resume o total da temporada, mas apenas os jogos analisados, sendo que no caso dos jogadores as conclusões serão tanto mais sólidas quanto o número de minutos analisados. Deixo algumas notas, breves:

- Do ponto de vista colectivo, o jogo mais conseguido, e apesar do empate, terá sido o da taça da liga frente ao Porto. Em sentido contrário, e de forma clara, surge o jogo na Luz, para o campeonato.

- Realce para o baixo número de perdas de risco da equipa do Sporting, o que confirma o baixo risco da abordagem táctica de Leonardo Jardim, nomeadamente ao colocar o foco da sua construção nos corredores laterais, e muitas vezes com ligações mais directas.

- Relativamente às análises individuais, o destaque vai para Slimani, fundamentalmente devido ao elevado número de golos conseguido nos jogos analisados, sendo obviamente importante ressalvar que o tempo de análise foi relativamente curto.

- Mais natural será o destaque de William, face à época realizada, sendo que a qualidade da sua presença em posse é também destacada nesta análise puramente estatística.

- Também indo de encontro a outras análises feitas sobre a equipa, nota para ausência de destaques positivos entre os extremos, sublinhando-se que esta é uma análise relativa, e que por isso não penaliza qualitativamente os jogadores com menor tempo de utilização. Uma tendência que se acentuou com o decurso da época, curiosamente depois de muitos dos jogadores dessa posição terem conseguido um arranque de temporada bastante positivo.

- Entre os destaques negativos, e para além de Capel, surge o caso de Eric Dier. Como também fui escrevendo, parece-me que o jovem central melhorou bastante na segunda metade da temporada, depois de algumas primeiras aparições onde assumiu um perfil de decisão com um risco desproporcionado, quer à sua posição, quer às suas capacidades.

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29.5.14

Desequilibradores, Liga 13/14

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Na sequência dos dias anteriores, actualizo os dados finais de uma análise que também já fora feita ao longo da época. Deixo algumas notas de interpretação pessoal:

-No Porto, o destaque trivial é Jackson que apesar de não ter sido suficiente para empurrar a equipa para os seus objectivos colectivos, conseguiu ser um elemento preponderante nos desequilíbrios criados pela equipa. Ainda notas de destaque para Quintero e Josué, que conseguiram um número significativo de jogadas de grande potencial, apesar dos poucos minutos de utilização, e para Danilo, pela posição que ocupa.

- No Benfica, a nota principal vai para o elevado número de jogadores a surgir nestes rankings, o que diz bem da transversalidade da qualidade das soluções ofensivas da equipa. Nota especial para Rodrigo, que jogou poucos minutos, mas conseguiu um número muito importante de desequilíbrios criados e finalizados. A meu ver, e sem dúvida, uma das principais figuras da prova, estando a ascensão da equipa muito ligada à sua afirmação como titular.

- No Sporting, o destaque principal vai para o número reduzido de individualidades a conseguirem evidenciar-se em termos de capacidade de desequilíbrio. Em parte, tal se deve à rotatividade implementada por Leonardo Jardim, mas se esse argumento me parece válido para os ponta-de-lança, que mesmo partilhando o tempo de utilização conseguiram um aproveitamento bastante elevado, o mesmo não se poderá dizer para extremos e médios criativos. Na minha análise, está aqui o grande desafio do Sporting no mercado de transferências...

- Fora dos grandes, nota para alguns jogadores em destaque: Alan, Pardo e Rafa no Braga, por motivos diferentes, mas todos com um desempenho muito bom e que sugere que esta equipa do Braga tem potencial para se reerguer rapidamente. Evandro e Seba no Estoril, com o primeiro a ser um destaque mais óbvio e o segundo a ver interrompida uma época muito boa, devido a lesão. Derley no Marítimo, é outro destaque evidente. No Nacional, Candeias assume destaque pelas ocasiões criadas (sobretudo na recta final da liga), mas a meu ver o seu destaque não deve ser superior ao justificado por Rondon e sobretudo Djaniny, pela época conseguida. Finalmente, nota para Dionisi do Olhanense, que mesmo estando numa das equipas de menor produção ofensiva conseguiu ser um dos destaques absolutos do campeonato, em termos de capacidade de desequilíbrio.

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28.5.14

Análise - dados colectivos defensivos (Final de época)

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Na sequência do que apresentei ontem, completo a análise de dados colectivos da Liga 13/14, com os elementos sobre a prestação defensiva das equipas. Aqui ficam algumas notas breves:

- Sem surpresa, o Benfica foi a equipa com melhor controlo defensivo, sendo que os dados parecem concordar de que foi precisamente no plano defensivo que a equipa de Jesus mais se diferenciou, relativamente aos mais directos rivais.

- Tal como relativamente aos dados ofensivos, o Sporting aparece francamente favorecido pelo aproveitamento das ocasiões consentidas. Aqui, nota para o bom desempenho do guarda-redes (já visto noutra análise), que está obviamente ligada a este indicador específico.

- Nota, relativamente ao Porto, para a grande diferença em relação ao Benfica no que respeita a ocasiões consentidas, sendo que outros indicadores (como finalizações e posse de bola) até sugerem uma melhor capacidade de controlo defensivo da equipa portista, o que manifestamente não foi o caso. Saliência para o desempenho negativo no controlo das bolas paradas.

- Tal como nos dados ofensivos, é o Estoril que surge como quarta força do campeonato, o que completa um quadro que confirma, sem margem para dúvidas, a excelência da prova realizada pela equipa da linha. Mais uma análise que aumenta a expectativa sobre o trabalho de Marco Silva no Sporting.

- Nota para o contraste de algumas equipas, relativamente ao desempenho ofensivo. Casos como o Rio Ave ou Guimarães alicerçaram claramente a sua performance no controlo defensivo, já que ofensivamente não foram além de registos muito modestos. Em sentido completamente oposto, estiveram Marítimo e Braga. Os minhotos, que ofensivamente foram penalizados pela ineficácia própria (como visto ontem), tiveram um desempenho defensivo surpreendentemente modesto, consideradas as aspirações da equipa. De igual forma, o Marítimo apresenta dados defensivos (nomeadamente ao nível das ocasiões consentidas), que explicam o porquê da equipa não ter sido capaz de entrar na ambicionada luta europeia. Abre-se aqui uma curiosidade para a próxima época, já que Pedro Martins vai mudar-se para uma equipa que teve um desempenho exactamente oposto ao seu. Veremos o que sucede a partir de Agosto...

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27.5.14

Análise - dados colectivos ofensivos (Final de época)

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Deixo a actualização final dos dados estatísticos relativamente à Liga portuguesa 13/14. Não me quero alongar muito nos comentários, mas ficam apenas algumas notas:

- Apesar do mau campeonato, o Porto manteve-se no topo da generalidade dos indicadores ofensivos. Na minha análise, a ideia de que é precisa uma revolução é errada e perigosa, e estes dados sugerem isso mesmo.

- O Sporting, e num tema já abordado várias vezes, conseguiu um registo ofensivo muito próximo dos dois rivais, mas foi entre os três aquele que contou com melhor % de aproveitamento por ocasião criada, um indicador que à partida será mais influenciado por factores aleatórios.

- Numa altura em que se perspectiva aquilo que poderá ser o seu futuro no Sporting, é interessante verificar a boa prestação do Estoril, para além da questão pontual.

- No mesmo sentido do Porto, é importante constatar que a má época do Braga pode esconder algum potencial em termos ofensivos, que é sugerido por muitos dos indicadores estatísticos. Aqui, o Braga poderá ter sido traído por algum mau aproveitamento das ocasiões criadas, quando comparando o seu registo com outras equipas.

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22.5.14

Sporting: Marco Silva por Leonardo Jardim

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Começando pela saída de Leonardo Jardim para o Mónaco, devo confessar que é um desfecho que me surpreende por completo. Sublinho, desde já, que nada tem que ver com as capacidades do treinador e sua equipa técnica, que não tenho dúvidas estarão perfeitamente à altura do desafio que lhes foi proposto. O que se passa é que se olharmos para a situação da perspectiva monegasca, Leonardo Jardim é tudo menos uma opção lógica ou natural. Estamos a falar de um dos clubes com mais investimento no futebol europeu do último ano, prevendo-se que se possa manter nessa condição nos próximos tempos, e que opta por um treinador que teve sempre sucesso nas suas experiências, é verdade, mas que nunca competiu numa das principais ligas da Europa, tendo igualmente um número muito reduzido de jogos em competições europeias (e nunca tendo chegado até patamares mais avançados). Talvez seja um pouco mais difícil perceber o que quero dizer para quem vê tudo isto do ponto de vista português, onde há um reconhecimento praticamente unânime da qualidade do trabalho de Jardim, mas se nos distanciarmos um pouco desse prisma específico, creio que facilmente perceberemos o enorme paradoxo que é o Mónaco combinar a extravagancia de tantos milhões de investimento com um treinador que tem como traço mais marcante do perfil o facto de ser um "inconnu".

Passando agora para a perspectiva que mais interessará a quem me lê, que é a do Sporting, é natural que haja alguma apreensão em relação aos efeitos que a saída de Jardim possa vir a ter, dado o sucesso que a equipa teve sob a sua orientação. Pessoalmente, não creio que a sua substituição por Marco Silva possa vir a ter um peso assim tão grande nas perspectivas de sucesso da equipa. São dois treinadores competentes, com estilos e abordagens diferentes, é verdade, mas que fundamentalmente oferecem ao Sporting boas possibilidades de fazer um bom aproveitamento dos recursos que tem ao seu dispor. No futebol, há a tendência para que se exagere no nexo de causalidade entre a figura do treinador e o sucesso/insucesso das equipas. É inquestionável que é uma peça chave para o sucesso colectivo, mas está muito longe de haver uma relação linear entre causa e efeito, sendo que há muitos outros factores a interagir nessa equação.

No caso do Sporting, e como já escrevi, penso que esta será uma época de grandes desafios e grandes riscos. Por estar de regresso às competições europeias e por combinar essa sobrecarga competitiva com o elevar de uma fasquia, que decore dos bons resultados recentes mas que me parece também algo desfasada do real potencial oferecido pelo actual plantel. E desta ideia decorrem algumas conclusões facilmente deduzíveis: que será fundamental conseguir mais valias para o plantel do próximo ano (seja através do mercado ou da formação), e que para Marco Silva a oportunidade de chegar a um "grande" esconde atrás de si um desafio que pode ser muito complicado de superar, tal como seria para o próprio Jardim caso este tivesse continuado.

Abordando um pouco mais especificamente as características tácticas de Marco Silva, deixo alguns dos pontos mais característicos do seu modelo de jogo, sendo que alguns deles marcam um contraste importante com aquilo que idealizava Jardim, sublinhando eu que o modelo de Marco Silva é mais ambicioso, tanto nos momentos ofensivos como defensivos, oferecendo à equipa maior amplitude no binómio potencial-risco:

- Estrutura em 4-2-3-1, havendo uma simetria total dos dois médios defensivos, com um jogador mais declaradamente a jogar no espaço entrelinhas. Aqui, o contraste é apenas parcial relativamente a Jardim, que optava por um meio campo assimétrico, onde Adrien se juntava a William em organização defensiva, mas adiantava-se mais quando a equipa tinha a bola. Ou seja, a alteração em termos estruturais dar-se-á sobretudo na fase ofensiva. Uma nota também para sublinhar que não perspectivo grande versatilidade táctica por parte de Marco Silva relativamente à sua estrutura.

- Em organização defensiva, uma atitude pressionante em praticamente todo o campo, sendo que o objectivo é manter um bloco sempre muito curto, e com pouco espaço entre as linhas defensivas. Na comparação com Jardim, a diferença está sobretudo neste último ponto, já que o anterior técnico colocava também um grande foco na pressão defensiva, mas fazia-o com algum isolamento dos dois jogadores da frente, com vista a não assumir grandes risco na exposição dos espaços mais recuados.

- Ainda dentro do comportamento defensivo e do ponto anterior, sublinhar especialmente o papel da linha defensiva, que com Jardim raramente assumia riscos em termos de exposição das suas costas, mas que com Marco Silva certamente o fará, jogando muito com o fora-de-jogo. O Estoril fazia isto geralmente bem, mas pontualmente com abordagens a meu ver questionáveis. Aqui estará um desafio novo e muito importante para os defensores leoninos.

- Ofensivamente, o grande contraste está no papel dos médios. Jardim, como fui escrevendo e ao contrário do que era muitas vezes sugerido, não fazia grande apelo à intervenção dos médios na sua circulação baixa, optando muito pela verticalização ao longo dos corredores laterais, por onde a equipa concentrava a generalidade dos seus movimentos ofensivos, sem bola. Marco Silva, ao contrário de Jardim, apela bastante à intervenção dos dois médios na construção, o que oferece à equipa maior capacidade de afirmação em posse (um dos pontos fortes e mais marcantes do Estoril), maior potencial na criação de jogadas ofensivas, mas também maior risco de exposição com bola. Este último ponto é muito importante, porque com Jardim o Sporting conseguia expor-se muito pouco ao risco de perda em posse, e esse foi um dos factores que a meu ver mais contribuiu para a sua estabilidade defensiva. Com Marco Silva, previsivelmente, haverá maior ambição a este nível, mas também mais risco.

- Do ponto anterior resulta a ideia de que, com Marco Silva e relativamente a Jardim, o Sporting passará a colocar maior ênfase no papel dos seus médios, retirando esse peso da acção dos laterais e extremos, que com Jardim foram os elementos mais importantes das dinâmicas ofensivas da equipa, muito incidentes sobre os corredores laterais. Há, aqui, uma posição que me merece especial destaque e que é a do médio ofensivo, cujo papel no Estoril foi interpretado por Evandro. Esta é uma função muito difícil de desempenhar, especialmente em clubes "grandes" onde o espaço interior é quase sempre muito reduzido, devido à postura dos adversários. Para dar um exemplo recente, e sobre o qual escrevi bastante, temos o caso do Porto de Paulo Fonseca que utilizava uma estrutura muito parecida mas que, para além de Lucho (que tinha características muito raras), nunca conseguiu adaptar ninguém com sucesso a essa função. Esse será, do meu ponto de vista, outro dos desafios específicos que se perspectivam para o novo Sporting de Marco Silva.


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21.5.14

Ranking Guarda Redes - Liga 13/14

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Já não é a primeira vez que apresento este tipo de análise, mas ainda assim volto a relembrar as bases em que ela é feita, nomeadamente para minimizar erros de interpretação. A análise é fundamentalmente centrada nas ocasiões de golo que fui registando ao longo da temporada. Em geral, portanto, não existe praticamente qualquer ponderação técnica da minha parte às intervenções dos guarda-redes, sendo que a excepção dá-se no caso de haver uma responsabilidade clara do guarda redes na ocasião criada para o adversário, ou no golo sofrido, sendo penalizado por isso. Aqui, os penáltis têm também uma ponderação diferente das restantes situações. Existindo sempre uma componente subjectiva, sempre incontornável, o objectivo desta análise é minimizá-la, sendo que a ideia é que a prazo as diferenças de performance acabarão por se evidenciar, destacando evidentemente os melhores. Neste sentido, convém esclarecer que a volatilidade é tanto maior quanto menor for o número de intervenções a que o guarda redes for sujeito, e vice versa. Aqui ficam algumas notas:

Matt Jones - Segundo esta análise, foi o melhor guarda redes do campeonato. A este "feito" acresce o facto de ter sido dos guarda redes que foi sujeito a mais situações claras de golo, o que vem reduzir as hipóteses da sua eficácia de intervenção ser obra do acaso. Pessoalmente, creio que relevou alguma falta de critério a sair da baliza, num ponto em que deve ser trabalhado, mas numa altura em que o mercado está a aquecer, diria que se justifica olhar também para Matt Jones. No mínimo!

Rui Patrício - Manteve um rendimento muito bom durante a época, tendo dado um forte contributo para que o Sporting fosse a equipa menos penalizada em termos de eficiência dos adversários (golos sofridos por ocasiões consentidas). Se se confirmar a sua saída, será importante que o Sporting consiga manter este nível de rendimento na sua baliza.

Oblak/Artur - A ineficácia de Artur foi um tema que explorei aqui num tempo que, em retrospectiva, parece ter sido quase premonitório. De facto, a partir da troca na baliza a equipa passou a sofrer muito menos golos, sendo que - e como também escrevi na altura - o problema nunca esteve na permeabilidade defensiva, mas sim na eficácia dos adversários, que era invulgarmente elevada. O contraste entre os números de Oblak e Artur é verdadeiramente radical, e embora seja claro que o mérito/demérito de ambos teve um papel determinante no sucedido, quero também sublinhar que este nível de contraste só é possível porque ambos foram sujeitos a um número reduzido de ocasiões.

Helton/Fabiano - Uma palavra sobre os guarda redes do Porto, para sublinhar que também eles estiveram aquém das expectativas nesta temporada. Não foi por aí que a temporada interna terá derrapado, mas esperava-se mais face à qualidade que se lhes reconhece.

Eduardo - Não escrevi sobre isto a propósito dos convocados (na prática, e com grande probabilidade, acabará por ser irrelevante), mas parece-me bastante injusto que Eduardo tenha sido convocado para o Mundial depois da época que realizou, quando comparado com outros guarda redes potencialmente convocáveis. Em particular, teve uma primeira metade de temporada muito pouco conseguida, acabando por recuperar um pouco nesta fase terminal.

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20.5.14

Os convocados, Van Gaal e Luis Enrique

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Duas notas de opinião sobre temas da actualidade: a convocatória final da Selecção e os novos treinadores de Man Utd e Barcelona.

Convocatória da Selecção
A escolha dos 23, a partir da lista de 30 anunciada, parece-me ter sido bastante previsível, nomeadamente em face daquelas que já haviam sido as indicações deixadas pelo próprio Paulo Bento, em declarações prévias. Em particular, o recurso a um lateral mais polivalente e a procura de um extremo que possa jogar em duas posições na estrutura alternativa da Selecção. Tanto num caso, como noutro, isso praticamente implicava as chamadas de André Almeida e Rafa aos eleitos finais. Quanto ao resto, parecem-me perfeitamente naturais as ausências de André Gomes, João Mário, Ivan Cavaleiro e Ricardo Quaresma, que honestamente não penso sequer que justificassem uma presença nos 30 eleitos. Quanto ao caso mais contestado, o de Quaresma, a discórdia era previsível à luz da projecção mediática que as suas principais jogadas conseguem (por mérito do próprio, que não discuto), mas também penso que qualquer pessoa que analise o jogo como um todo não terá dificuldades em perceber que por trás de toda a sua qualidade de execução, Quaresma tem características muito débeis e que o tornam num caso muito difícil de integrar em qualquer modelo de jogo em que próprio não seja tratado de forma especial. Um caso que já comentei bastante ao longo da temporada, e que serve de condicionante tanto para a Selecção como para o Porto da próxima época.

De resto, creio que à margem das primeiras figuras, Portugal tem um conjunto de soluções de qualidade bastante modesta, e que tem vindo a decair com o passar dos anos. Aqui, há duas perspectivas a ter em conta. A primeira, que é circunstancial, tem a ver com a capacidade de procurar alternativas nas soluções existentes. E, neste ponto, sou relativamente critico em relação ao trabalho feito pela actual estrutura técnica nacional, já que me parece pouco provável que não existam soluções mais sólidas do que casos como André Gomes, João Mário ou Ivan Cavaleiro, jogadores que podem vir a ter outra capacidade de resposta no futuro, mas cujo patamar de evolução ainda me parece estar muito longe de justificar o destaque que lhes foi dado. A outra perspectiva é mais estruturante e tem a ver com a base de recrutamento que, indiscutivelmente, não é vasta. Este é um problema a que Portugal se tem esquivado nos últimos 25 anos, mas que em princípio deverá determinar alguma oscilação de qualidade nos diversos ciclos geracionais. Não é um problema fácil de resolver ou sequer atenuar, mas não me parece também muito perspicaz centrar as responsabilidades nos clubes - que têm os seus objectivos próprios -, devendo ser a Federação a ter uma estratégia de médio-longo prazo a este respeito, sendo que esta terá de ser forçosamente distinta da que é adoptada pelas principais potências do futebol mundial, todas elas com uma base de recrutamento incomparavelmente superior, e portanto sem o mesmo tipo de problema.

Van Gaal e Luis Enrique
Duas escolhas importantes no contexto do futebol europeu da próxima época, ainda que o United vá estar restringido ao plano interno.

Começando pelos ingleses, como introdução devo dizer que nem tudo o que aconteceu esta época - e por muito demérito que Moyes possa ter tido - foi um fatalidade. O Man Utd tem, obviamente, uma qualidade de recursos que lhe permitirá naturalmente aspirar a um patamar classificativo superior ao conseguido, e mesmo que tudo continuasse na mesma em Old Trafford creio que esse seria sempre o cenário mais provável na próxima temporada. O desafio que se coloca a Van Gaal, porém, não é o de apenas melhorar o patamar actual, mas sim de devolver ao clube o nível qualitativo em que Ferguson deixou o clube. A este respeito, não estou certo de que Van Gaal seja a escolha ideal, mas reservo uma opinião mais firme sobre isto para o ínicio de época, porque há aspectos que tenho de confirmar. Para já, fica a curiosidade sobre a estrutura táctica que o treinador holandês possa vir a utilizar, já que me parece que no mundial irá apresentar-se em 3-4-3. Seria interessante ver isso testado na Premier League, mas duvido que tal venha a suceder.

No Barcelona, Luis Enrique é uma escolha com o perfil que me parece fazer todo o sentido. Há dias, e a propósito da contratação de Lopetegui, escrevia sobre a hipótese dos clubes apostarem na formação dos seus próprios treinadores. Ora, se esta é uma ideia que se pode ajustar a qualquer clube, em nenhum caso ela fará mais sentido do que no Barça. Aliás, parece-me até um paradoxo que um clube aposte tanto na afirmação de uma ideia de jogo próprio para no final dessa cadeia de formação estar a submeter-se ao risco da adaptação de treinadores externos à filosofia que o clube vem implementando desde as suas bases. Dito isto, não creio que todos os treinadores formados internamente possam ser iguais, e mesmo que tenham partilhado da mesma escola, Luis Enrique e Guardiola serão seguramente treinadores com especificidades bastante diferentes. Não acompanhei o seu trabalho no Celta, mas fi-lo quando esteva na Roma e essa não foi uma experiência propriamente bem sucedida para Luis Enrique, parecendo-me que lhe terá faltado alguma criatividade nas dinâmicas tácticas implementadas. Precisamente, este será o ponto mais forte e característico de Guardiola, enquanto treinador. Seja como for, o Barça é naturalmente um caso muito diferente e mais ajustado às ideias de Luis Enrique, pelo que esta será uma história obviamente diferente daquela que o treinador viveu na capital italiana.

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19.5.14

Benfica - Rio Ave (Taça): estatística e opinião

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Uma final, entre as mesmas equipas e com poucos dias de distância. Para a história ficará a repetição do vencedor, mas para quem viu sobressaem sobretudo as diferenças entre os dois jogos. Para ser mais preciso, aliás, o que sobressai mesmo é o contraste entre a segunda parte e tudo aquilo que se havia visto, até então, entre estas duas equipas. E é principalmente sobre isso que gostaria de me debruçar...

Relativamente à final da Taça da Liga, a primeira parte não mostrou grandes diferenças. O Rio Ave apresentou algumas alterações que não podem ser desprezadas. Começando pela baliza, o regresso de Ederson oferecia à equipa a possibilidade de ter um pontapé excepcionalmente longo para as suas reposições de bola em jogo, e isso foi um dado que Nuno não ignorou na definição da estratégia da equipa. A introdução de Braga foi outra novidade, oferecendo maior mobilidade à frente do ataque e menos referência da marcação, relativamente a Hassan. Dentro do comportamento defensivo, a equipa pareceu menos concentrada em limitar a acção de Enzo, no corredor central, oferecendo maior importância ao controlo da variação do corredor de jogo, na circulação baixa do Benfica, um aspecto que havia sido decisivo para o domínio imposto pelo Benfica no jogo anterior.

A verdade, porém, é que o Benfica voltou a exercer um grande ascende territorial na primeira parte, remetendo o Rio Ave para zonas muito baixas e de onde era depois muito difícil de sair de forma útil com bola. Um dos factores que mais contribuiu para esta situação foi o comportamento da linha média do Rio Ave, muito relutante em assumir uma presença pressionante, nomeadamente ao permitir que Amorim pudesse, de novo e na sequência do que havia acontecido em Leiria, progredir com bola sem que ninguém saísse em contenção. Esta opção compreende-se pelo receio de perder equilíbrio posicional em zonas mais recuadas, mas a factura a pagar era a tal submissão territorial que tanto condicionava as aspirações ofensivas dos vilacondenses. A tudo isto, e fazendo aqui justiça ao Rio Ave, há que acrescentar que apesar de todo o domínio territorial, o Benfica nunca conseguiu ultrapassar verdadeiramente a organização defensiva contrária, chegando inclusivamente à vantagem num lance bastante fortuito.

Mas vamos, então, à segunda parte e ao ponto mais interessante da análise deste jogo, que tem a ver com a mudança de características do jogo. A minha explicação, adianto já, não é especialmente interessante, porque na minha avaliação há maior peso das condicionantes circunstanciais do jogo do que de alterações tácticas ou estratégicas por parte de Nuno Espiríto Santo, de uma parte para a outra. O que aconteceu, basicamente, foi que o jogo passou a ter mais situações de bola dividida na génese das jogadas, o que permitiu ao Rio Ave sair com bola de zonas intermédias e não apenas a partir de zonas muito baixas do terreno. Depois, ao conseguir chegar mais vezes ao último terço ofensivo, o Rio Ave pôde fazer o mesmo que o Benfica lhe havia feito durante tanto tempo, ou seja, usar a presença posicional para dificultar muito a saída do adversário com bola a partir do recuperações em zonas muito recuadas, e garantir alguns períodos de ascendente territorial no jogo.

Quanto aos "porquês" desta alteração de tendência de jogo, é inegável que o Rio Ave foi intencionalmente mais agressivo na sua primeira linha de pressão, e que houve alguns movimentos ofensivamente bem conseguidos, nomeadamente que exploravam as costas dos laterais encarnados. No entanto, penso que houve mais demérito do Benfica nas diferenças observadas. Vejamos, até aí o Benfica havia controlado o seu adversário fundamentalmente pela gestão do seu jogo em posse, mas na segunda parte a equipa deixou de o fazer, havendo uma clara perda de lucidez na gestão da circulação, por parte do Benfica, nomeadamente fazendo mais vezes recurso do pontapé longo de Oblak para as suas reposições de bola em jogo e entrando mais rapidamente por zonas de maior densidade de jogadores, em vez de envolver o pressing do Rio Ave através do uso da largura da sua última linha, como havia sucedido até aí. E foi tudo isto que implicou que houvesse a tal maior preponderância de bolas divididas na génese das jogadas, em vez de um jogo mais organizado e que tão notoriamente havia favorecido o Benfica. Há, finalmente, que falar do peso do desgaste no lado do Benfica, um factor que obviamente tem de assumir muito relevo nesta análise de desempenho, e que afecta uma multitude de aspectos que depois influenciam a eficácia da equipa nas mais diversas acções de jogo. Ao nível da tomada de decisão com bola, ao nível da abordagem defensiva (que passou também a perder algum critério), ao nível da resposta nos duelos directos (onde o Rio Ave claramente levou vantagem), e finalmente também ao nível da qualidade de algumas soluções (a saída precoce de Amorim também terá retirado alguma lucidez à gestão da posse da equipa). De resto, e face a tão grande contraste no desempenho, parece evidente o peso que o desgaste competitivo pode ter nas aspirações de uma equipa, sendo que o Benfica escapou desta vez a nova surpresa, depois de no ano passado ter perdido uma final em circunstâncias que, à partida, eram altamente improváveis.

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15.5.14

Benfica - Sevilha: Estatística e opinião

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"No futebol, nem sempre vence o melhor" - Esta foi uma das ideias mais exploradas nas reacções dos protagonistas benfiquistas, no final do jogo. E, de facto, estou tão de acordo com ela que até a poderia considerar um eufemismo. Aqui, emerge de novo o peso da aleatoriedade no jogo, um factor sobre o qual venho escrevendo com frequência, recentemente. Ora, é precisamente por esse factor, e pela importância que ele tem na definição dos resultados, que me parece ter havido algum - muito, em alguns casos - menosprezo pelo valor do Sevilha. Estou de acordo que o Benfica é melhor equipa, sem dúvida, mas as diferenças não eram suficientes para que as hipóteses de vitória, e numa final discutida a 1 só jogo, se pudessem balancear de forma assim tão vincada para o lado encarnado. Neste aspecto, diria, esta foi uma decisão que foi ao encontro das expectativas que, a meu ver, seriam mais realistas: O Benfica melhor, a justificar mais hipóteses de vencer, mas não com uma diferença suficiente para que se livrasse da dependência que a eficácia sempre tem em jogos equilibrados. E assim foi, ao Benfica faltou fundamentalmente, aquilo que não podia - nem ninguém pode! - controlar.

Abordando mais concretamente os aspectos tácticos do jogo, diria que o Benfica revelou, sem surpresa, a sua maior valia táctica, mas que foi o Sevilha quem teve uma melhor abordagem estratégica ao jogo. Concretamente, a equipa andaluz conseguiu fazer um bom condicionamento dos momentos de organização do Benfica. Com bola, baixando muita gente para a sua circulação mais baixa e gerindo com alguma segurança a intenção pressionante do Benfica, nomeadamente com o recurso ao jogo de pés de Beto (já a ligação com o último terço ofensivo não foi tão boa, e daí ter criado poucas ocasiões claras de golo). Sem bola, conseguindo um bom condicionamento por parte da sua linha média, que embora muitas vezes em inferioridade numérica perante a permanente mobilidade dos avançados do Benfica, conseguiu quase sempre fazer uma boa leitura posicional de cada situação, o que lhe valeu uma elevada capacidade de recuperação nessa zona, várias delas com elevado potencial para as transições subsequentes.

Com tudo isto, o Sevilha conseguiu limitar muito o tempo de posse de bola do Benfica e criar ainda algumas oportunidades para explorar possíveis momentos de desorganização da equipa de Jesus - algo que, porém, raramente foi materializado, também por mérito da reacção defensiva. O Benfica, por seu lado, foi quem sempre esteve mais perto de chegar à vitória, a meu ver muito pela sua maior qualidade de resposta colectiva nos momentos de indefinição do jogo, e onde é mais difícil às equipas, tacticamente, serem competentes. Foi sempre o Benfica quem foi mais capaz, tanto nas reacções defensivas como nos desdobramentos ofensivos, o que lhe ofereceu um número importante de jogadas de elevado potencial, sendo que algumas delas resultaram mesmo nas melhores situações de golo da equipa.

Por fim, queria abordar dois factores que me pareceram importantes - e em sentidos inversos - no jogo. Primeiro, as bolas paradas, onde o Benfica esteve claramente melhor do que o Sevilha e só por muito pouco não voltou a tirar partido decisivo deste aspecto do jogo, depois de o ter feito também frente ao Rio Ave. Finalmente, as dificuldades do meio campo encarnado, onde creio que se poderá ter feito sentir a ausência de Enzo Perez. Foram muitas as dificuldades que o Benfica denotou para definir com precisão no corredor central, e quase todos os jogadores passaram por problemas nesse propósito. É minha convicção que com outra capacidade de resposta a este nível, o Benfica teria conseguido uma afirmação significativamente superior no jogo e, consequentemente, teria também aumentado de forma importante as suas aspirações de sucesso.

Individualidades (Benfica)
Oblak - Mais um jogo sem sofrer golos, e sem reparos a fazer do ponto de vista da segurança entre os postes. Com os pés, esteve menos bem, e protagonizou algumas reposições de bola menos conseguidas. Nos penáltis, não conseguiu ser útil à equipa.

André Almeida - De suplente inicial, acabou com mais de 90 minutos jogados na final. Competente e eficaz a defender, bem menos útil a atacar.

 Siqueira - Conseguiu algumas intervenções importantes, particularmente na primeira parte. Diria que fez um jogo regular, mas também sem oferecer o potencial ofensivo de ocasiões recentes.

Luisão - Mais uma prova da enorme competência da dupla de centrais, que forma com Garay. Dominou sempre a sua área de intervenção e venceu praticamente todos os duelos que travou, revelando a habitual lucidez na definição posicional.

Garay - Não é fácil superar Luisão, mas mais uma vez Garay conseguiu-o, e a meu ver em praticamente todos os patamares de avaliação, estando num nível de exibicional que, na minha opinião, não é muito fácil de encontrar paralelo. Conseguiu uma área de intervenção superior à de Luisão - em grande parte, por ter maior capacidade de antecipação - e foi ainda um jogador muito perigoso na área contrária, estando muito perto de se tornar também - e mais uma vez! - protagonista a esse nível.

Ruben Amorim - Um jogo com muitas dificuldades. Foi o jogador que mais passes completou, é verdade, mas isso não serve para esconder o número significativo de erros em posse e em situações potencialmente comprometedoras para o equilíbrio posicional da equipa. Também em termos defensivos, e apesar de ter tido um bom jogo no plano global, teve problemas, nomeadamente ao perder o controlo sobre Bacca, numa das melhores ocasiões do Sevilha. Finalmente, nota para o grande passe que fez para Maxi, e que por pouco não resultou em golo.

André Gomes - As dificuldades de Amorim, no caso de André Gomes, foram ainda maiores. Boa entrega e várias intervenções no corredor central, é certo, mas também muita dificuldade em garantir a eficácia desejável nas suas aparições com bola. Ficou mais confortável, a este nível, no prolongamento, quando o Sevilha baixou o seu nível de intensidade, mas mesmo nesse período cometeu erros potencialmente comprometedores.

Maxi -  Ao contrário dos planos iniciais, acabou por fazer grande parte da final como médio ala. Não dá para dizer que Maxi tenha feito um grande jogo, particularmente no seu envolvimento com bola, mas acabou por ser até um dos jogadores que maior perigo conseguiu causar junto do extremo reduto contrário. Em destaque, o bom timing de desmarcação, no lance que acontece perto do intervalo, e a velocidade de desdobramento, naquela que foi talvez a melhor ocasião do jogo, finalizada por Lima.

Gaitan - Na ausência de Enzo, Markovic e Salvio pedia-se, mais do que nunca, que Gaitan fosse um protagonista em termos de capacidade desequilibradora. A verdade, porém, é que o argentino falhou redondamente nesse propósito, não sendo capaz de fazer valer a qualidade que todos lhe reconhecem. Não justifica qualquer reparo em termos de atitude e capacidade de trabalho, onde voltou a fazer um jogo de elevado nível, mas na missão criativa, falhou claramente.

Rodrigo - Muita mobilidade, oferecendo-se sucessivamente como solução de ligação do jogo da equipa. No entanto, foi um jogo pouco conseguido em termos de eficácia no desempenho técnico. Tal como Gaitan, foi um elemento preponderante no sucesso da equipa ao longo da época, e lamenta-se que também ele não tenha conseguido prolongar essa inspiração até um jogo tão importante quanto este. Ainda assim, e apesar da desinspiração global - que se prolongou até às grandes penalidades - foi dos jogadores com maior presença nas principais jogadas da equipa, nomeadamente numa jogada que o próprio constrói e finaliza, na primeira parte, e mais tarde num cruzamento que Garay não consegue enquadrar, com Beto já fora da jogada.

Lima - Foi bem mais consequente do que Rodrigo nas suas aparições no jogo, embora menos solícito nas suas movimentações sem bola. Talvez como nenhum outro, esteve perto de se tornar no protagonista decisivo do jogo, nomeadamente na ocasião que lhe foi negada por um defensor, já depois da sua finalização ter ultrapassado Beto. Também nota para o facto de não ter sido por ele que o Benfica perdeu a lotaria das penalidades.

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13.5.14

Método defensivo nos Cantos - Análise Liga 13/14

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Nas próximas semanas irei trazer aqui o resultado global de diversas análises que fui fazendo ao longo da época. Começo com os pontapés de canto, numa observação que tinha como objectivo ajudar a perceber de forma mais objectiva se existe, de facto, alguma diferença relevante na escolha do método defensivo escolhido.

Este é um tema que regularmente ressurge no debate futbolístico, invariavelmente com a particularidade de questionar a eficácia de um determinado método, sempre que a equipa que o utiliza passa por um período de maior vulnerabilidade neste aspecto específico. Outra particularidade dos debates em torno desta questão tem a ver com a forma como eles são quase sempre centrados em convicções pessoais, mas nunca sustentados por argumentos mais concretos ou factuais (ou, pelo menos, essa é a minha experiência pessoal). E é precisamente daqui que surge a motivação que está na base desta análise.

Os resultados, relativamente à comparação entre os dois métodos, hxh ou zona, apontam claramente e ao fim de mais de 2500 pontapés de canto analisados, para a conclusão de que nenhum dos métodos representa, por si só, uma mais-valia em relação ao outro. Nota, entre as equipas da liga, para o caso do Paços de Ferreira que foi a equipa com menor aproveitamento neste plano específico e também a única que ao longo da época mudou a sua abordagem (uma opção tomada ainda sob a orientação técnica de
Costinha). 

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12.5.14

Evolução histórica dos 3 "grandes" na Liga Portuguesa

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Começo por explicar o quadro, que compara a média pontual dos três "grandes" em grupos de 5 temporadas. Aqui, e com o objectivo de normalizar a análise ao longo do tempo, há dois factores a ter em conta: 1) são considerados 3 pontos por vitória, mesmo nas temporadas em que isso ainda não acontecia; 2) todas as épocas têm o mesmo peso no período de 5 anos considerado, independentemente do número de jogos poder ser diferente de época para época.

Benfica
Indo mais atrás, é interessante verificar como a perda do domínio interno do Benfica parece suceder de forma gradual, com a trajectória descendente a iniciar-se em meados da década de 70, o que coincide também com o final da passagem de Eusébio pelo clube. Ainda assim, é também claro que o estado de coisas se deteriorou a partir da segunda metade da década de 90, e que a presidência de Vale e Azevedo marcou o pior período de sempre do clube.
Mais interessante, nesta altura, é observar o que sucedeu nos tempos recentes. A saída de Vale e Azevedo parece estar também associada a uma melhoria do desempenho interno do Benfica, nomeadamente na já longa presidência de Luis Filipe Vieira. Mas, a verdadeira melhoria dá-se apenas após a entrada de Jorge Jesus na Luz. A avaliação feita ao trabalho do actual treinador do Benfica tem estado sempre muito ligada à conquista, ou não, de títulos, mas se olharmos para a trajectória recente do clube no plano interno, então fica claro que a ascensão tem sido continuada e regular e não com a inconstância que as análises centradas em títulos têm vindo a sugerir. Hoje, e segundo esta perspectiva de análise, o Benfica está num patamar muito próximo dos seus tempos mais aureos, contando porém com um rival (Porto) com um nível de desempenho igualmente elevado, o que não acontecia nos anos 60/70.

Porto
De facto, é incontornável a associação da ascensão do desempenho desportivo do clube à entrada de Pinto da Costa no futebol azul-e-branco. Num primeiro caso, também associada a José Maria Pedroto, é verdade, mas conseguindo depois manter um nível de performance muito elevado e independente dos protagonistas que foram passando (isto, relembro, numa análise centrada apenas no desempenho interno).
No momento actual, e após uma época menos conseguida, fala-se na hipótese de fim de ciclo. O futuro confirmará, ou não, se este foi um momento de inflexão da trajectória portista, mas olhando apenas para os dados concretos é ainda muito precoce falar-se numa queda consumada do Porto. Aliás, o desempenho portista, numa perspectiva de 5 anos, está ainda num dos níveis mais altos que algum clube português viveu em toda a história do campeonato. O que não se pode ignorar, porém, é que o Benfica teve, nestes últimos anos, o seu ciclo mais forte desde que Pinto da Costa chegou à presidência do clube, e daí que se perspective que o patamar de exigência possa vir a ser o mais elevado dos últimos 35 anos. Ou seja, o Porto poderá até vir a manter o seu próprio patamar de desempenho mas passar a sentir mais dificuldades em traduzi-lo em títulos.

Sporting
Após a conquista do tetra, há precisamente 60 anos, o Sporting regrediu para um patamar de rendimento relativamente constante e que raramente passou de uma média pontual de 2,1 pontos por jogo (ciclos de 5 temporadas). Este desempenho valeu-lhe quase sempre o estatuto de terceira potência do futebol português, sendo que apenas rivalizou por um segundo posto nas fases em que algum dos rivais baixou desse patamar pontual (Porto, até meados da década de 70, e Benfica na primeira década deste milénio). Dentro deste desempenho relativamente constante, há duas fases mais negativas a considerar, e que coincidem também com os mais longos jejuns de títulos da história do clube: primeiro nos anos 80, e após a saída de João Rocha da presidência do clube, e depois a partir da saída de Soares Franco, até hoje. O primeiro dado a sublinhar, aqui, é que historicamente não parece fazer grande sentido associar o papel secundário do Sporting, relativamente aos seus rivais, com a chamada "era Roquete". Esse período pode ter falhado, e claramente, em cumprir com os objectivos auto-propostos, mas nele não se iniciou nenhum ciclo historicamente contrastante com aquela que vinha sendo a tendência do clube. O segundo dado tem a ver com o período actual, e pretende sublinhar que historicamente é ainda cedo para concluir que o Sporting inverteu o ciclo negativo em que mergulhou. É que, numa perspectiva de 5 anos e mesmo considerando a boa época realizada, o Sporting está ainda num dos piores momentos da sua história. E isto tanto olhando apenas para a própria performance, como se considerarmos a distância para os rivais, o que vem agravar ainda mais a percepção relativa das coisas. Ou seja, também nesta perspectiva de análise, a conclusão relativamente ao momento do Sporitng é que ainda há muito para fazer até que o clube atinja os patamares há muito desejados pelos adeptos.

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8.5.14

Benfica - Rio Ave: estatística e opinião

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Perdoar-me-á a maioria dos que me lêem, onde certamente haverá mais gente a olhar para o jogo do ponto de vista do Benfica, mas vou começar por abordá-lo da perspectiva oposta. Isto, porque é Nuno Espírito Santo quem tem o desafio inegavelmente mais interessante neste duplo-duelo entre Benfica e Rio Ave. O treinador vilacondense certamente terá passado boa parte dos seus dias, nas últimas semanas, a imaginar a melhor forma de se preparar para este jogo. Parte da sua ideia, parece-me, passou por dar ênfase à protecção do corredor central, nomeadamente à acção de Enzo Perez, já que os seus dois homens mais adiantados se fixavam a sua acção pressionante muito por essa zona.

A verdade é que, e depois de um período inicial, a estratégia falhou por completo e o Benfica acabou até por fazer, muito provavelmente, o jogo mais confortável, entre todos aqueles que realizou frente ao Rio Ave nesta temporada. Na minha perspectiva, isto deveu-se ao comportamento das duas equipas nas respectivas fases de construção. No caso do Benfica, a resposta dada ao abrir Amorim sobre a esquerda e tirar partido das características do médio e da liberdade que o Rio Ave oferecia nessa zona, permitiu à equipa levar constantemente o jogo para o último terço ofensivo, relegando o Rio Ave sistemanticamente para zonas defensivas mais baixas e de onde depois era também mais difícil de sair a partir do momento de transição. No caso do Rio Ave, o Benfica conseguiu sempre fazer um condicionamento muito eficaz da fase de construção, o que impediu que a equipa de Nuno Espírito Santo levasse o jogo para zonas mais adiantadas do terreno. Aqui, o meu destaque vai para a ligação nos corredores laterais, com o Rio Ave a ser muito vulnerável à pressão encarnada, sempre que a bola entrava nos seus laterais, faltando eficácia nos movimentos ofensivos que deveriam oferecer condições para houvesse continuidade a partir desse instante.

Seria fácil para mim criticar a opção de Nuno, conhecendo o seu desfecho final. A verdade, porém, é que penso que a abordagem defensiva até nem foi mal equacionada (ofensivamente, serei mais critico em relação a alguns aspectos). Acabou por não conseguir grande eficácia, é um facto, mas aí creio que terá de se ter em conta o mérito do Benfica na resposta ao problema que lhe foi colocado, sendo na minha óptica também muito relevante o facto de ter actuado Ruben Amorim na posição de primeiro médio, o que acabou por oferecer uma característica importante à primeira linha de construção. Há, aqui, que ter também em conta a preponderância das bolas paradas, já que o Rio Ave sofreu os dois golos por essa via, num jogo em que ironicamente até foi quem conseguiu mais cantos a seu favor. Para o Rio Ave será praticamente impossível igualar o Benfica nos restantes capítulos do jogo, pelo que se o não fizer pelo menos ao nível das bolas paradas, então as suas aspirções de sucesso ficam praticamente aniquiladas.

Mantendo o ponto de vista no interessante desafio táctico que é colocado a Nuno Espírito Santo, fico à espera do segundo round, para ver que alterações promove o treinador à sua estratégia.

Individualidades (Benfica)
Oblak - Mais uma exibição sem mácula, onde se destaca a intervenção na fase inicial do jogo, que impediu o Rio Ave de ganhar vantagem.

Maxi - Bom jogo em praticamente todos os planos, mas também sem lugar a deslumbramentos.

Siqueira - Começou por ter alguns problemas com o protagonismo inicial de Pedro Santos, mas depressa o Rio Ave deixou de ser ameaçador e Siqueira partiu para uma exibição confortável no plano defensivo. Ofensivamente, e dando sequência à boa fase que atravessa, conseguiu ser dos jogadores com maior participação directa nas ocasiões criadas pela equipa, o que para um lateral é um feito assinalável.

Luisão - Mais uma exibição em cheio! Bom critério posicional, nomeadamente definindo bem quando devia cortar a profundidade ou manter a altura da linha defensiva. Dominador nas primeiras bolas aéreas, onde ganhou um sem-número de duelos, nas reposições longas de Ventura. E, finalmente, também preponderante ofensivamente, com mais um golo seu a ficar ligado a um troféu colectivo.

Garay - Não teve o brilhantismo ofensivo de Luisão - ainda que também ele tenha conseguido fazer valer o poder do seu jogo aéreo na área do Rio Ave - mas, a meu ver, com maior amplitude de intervenção do que o central brasileiro. Uma época notável, repito, do argentino, notando-se claramente a sua evolução desde que chegou ao clube.

Ruben Amorim - Esteve, na minha interpretação, ligado à principal ocasião de golo do Rio Ave, demasiado focado na referência individual e desguarnecendo as costas de Enzo Perez, onde ficou livre Tarantini. No entanto, acabou por ser uma peça fulcral na afirmação que a equipa conseguiu impor no jogo, nomeadamente ao colocar-se na meia esquerda e aproveitar o espaço que o Rio Ave oferecia nessa zona para progredir com bola e levar o jogo, sucessivamente, para o último terço ofensivo. Nota ainda para a sua participação no lance do primeiro golo, ganhando o duelo aéreo que coloca a bola nos pés de Rodrigo.

Enzo Perez - O Rio Ave pareceu, estrategicamente, querer bloquear a sua zona de intervenção. Com isto, Enzo não apareceu tanto como primeiro apoio vertical à circulação, mas como a equipa reagiu bem a esse condicionamento táctico, o argentino também acabou por encontrar outras fases do jogo para fazer sentir a sua influência, e acabou mesmo por ser o jogador com mais passes completados no jogo. Muito importante na missão de oferecer equilíbrios à equipa, quer defensivamente quer ofensivamente, teve ainda espaço para ser protagonista em algumas das melhores jogadas da equipa, com destaque para o livre que deu origem ao segundo golo.

Gaitan - Fez um jogo competente, oferecendo um bom sentido táctico, para além da sua habitual mais-valia técnica e criativa. Ainda assim, porém, não foi uma exibição especialmente fulgurante do extremo argentino. Nota para o golo que perdeu e para o facto de ter jogado muito tempo sobre o corredor central, na segunda parte.

Markovic - Foi um jogo pouco inspirado do sérvio, com algumas boas iniciativas, é verdade, mas quase sempre sem ser capaz de as terminar da melhor forma. Assim, acabou por não conseguir estar presente em nenhuma jogada que aproximasse verdadeiramente a equipa do golo, e num jogo de grande presença ofensiva da equipa. Nos outros capítulos, esteve bem, realçando-se o facto de não ter tido problemas com Edimar, normalmente um lateral de grande projecção ofensiva.

Rodrigo - Mais um excelente jogo, com a felicidade e mérito de ter sido um protagonista decisivo na definição do marcador. A sua mobilidade foi sempre um factor desestabilizador para o bloco defensivo do Rio Ave, aparecendo bem entrelinhas e também junto dos corredores laterais. Nem sempre conseguiu dar melhor sequência a essas acções, é verdade, mas no cômputo geral o saldo é indiscutivelmente positivo, sendo o jogador com mais presença nas jogadas que aproximaram a equipa do golo.

Lima - Tal como Rodrigo, ofereceu boa mobilidade ao sector ofensivo, não se fixando junto dos centrais, o que dificultou a missão do Rio Ave. No entanto, e apesar de ter tido até maior volume de jogo, as suas aparições não conseguiram a mesma preponderância do seu companheiro de ataque. Uma tendência que, salvo algumas excepções, foi a regra durante a temporada.

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7.5.14

A incerteza, Lopetegui

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Como primeira nota, tenho de me incluir no lote daqueles que foram surpreendidos por esta escolha. Sobre Lopetegui, especificamente, tenho muito pouco a dizer. Não conheço o seu trabalho, e o seu discurso tão pouco me diz alguma coisa sobre a sua capacidade de resposta, prática, para o desafio que tem pela frente.  Ora, a minha estranheza vem sobretudo daqui, porque se para quem está de fora é praticamente impossível formar uma opinião sólida sobre Lopetegui, esse também não parece um exercício evidente para a própria administração portista, pelo que me fica a dúvida sobre quais foram as bases para que a opção tenha recaído, e de forma aparentemente tão perentória, sobre o ex-guarda redes espanhol?

De facto, em todos os parâmetros a palavra "incerteza" parece colar-se à escolha de Lopetegui. Incerteza na capacidade de imposição de um estilo de liderança, porque praticamente apenas orientou equipas jovens. Incerteza ao nível da capacidade de adaptação, porque vem de outro país e de outra realidade, havendo um caminho que necessariamente terá de ser percorrido na ambientação à especificidade do clube e do próprio país. Incerteza - e este será o ponto obviamente mais importante - relativamente à capacidade que terá para, do ponto de vista táctico, potenciar as probabilidades de sucesso das suas equipas, porque o trabalho de seleccionador é completamente diferente do de um treinador que treina continuadamente com a sua equipa, tendo Lopetegui passado praticamente toda a sua carreira na primeira condição, o que torna muito difícil perceber o que pode, ou não, valer a este nível.

Mas, se não tenho muito a acrescentar sobre Lopetegui, há alguns pontos que gostaria de comentar sobre este processo:
- Sobre o Porto, parece-me um equívoco centrar o problema do insucesso desta época na questão do treinador. O treinador poderá não ter sido a solução, mas a meu ver far-se-á um diagnóstico errado em confundir uma não-solução com o problema. Neste sentido, e sendo o treinador obviamente uma peça de grande relevo, parece-me que será no mercado que a administração portista terá verdadeiramente de corrigir os erros do passado recente. E, com isto não estou a juntar aos que pensam que será preciso uma revolução no plantel. Aliás, muito pelo contrário...
- É interessante o discurso de Pinto da Costa sobre a superioridade do futebol espanhol, actualmente. Houve um tempo em que era assim, de facto. Contratavam-se treinadores estrangeiros, porque estes representavam facilmente uma mais-valia, devido à diferença acentuada de métodos e abordagens tácticas, de país para país. Hoje, porém, não faz grande sentido essa opção. A era da informação tem como implicação que as ideias possam ser cada vez menos sujeitas a barreiras geográficas. Não tenho, infelizmente, a visão romântica de que em Portugal os treinadores são melhores do que noutros lugares, mas o argumento de que se contrata um treinador devido à sua proveniência ou nacionalidade, soa-me a algo completamente anacrónico.
- Há uma questão que à partida me parece fazer bastante sentido, e que num tempo onde a abordagem dos clubes tende a ser cada vez mais lógica e profissional deveria começar a ser cada vez mais vista. Refiro-me à formação de treinadores dentro das próprias estruturas dos clubes, com o objectivo de que possam assumir a equipa principal. Não vou desenvolver o tema mas, como referi, parece-me que faz cada vez mais sentido que essa hipótese seja explorada internamente por cada clube.

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5.5.14

Sporting: problemas de uma eventual sobrevalorização

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Começo por explicar a análise que acompanha o texto: o objectivo é comparar a superioridade acumulada das equipas nos seus jogos da Liga 13/14, usando dois indicadores: golos e ocasiões. Aqui, entende-se por superioridade, a % de golos/ocasiões a favor de cada equipa, relativamente ao total (a favor e contra) nos jogos disputados.

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Aqui, a análise estatística serve para suportar a opinião que fui partilhando ao longo da temporada e que vai no sentido de que a óptima campanha do Sporting conta, como factor explicativo relevante, um contributo muito favorável da eficácia, tanto ofensivamente como defensivamente. Não se trata de colocar em causa o mérito da equipa, até porque a eficácia, ofensiva e defensiva, também está sobretudo dependente da prestação dos jogadores de cada equipa. A minha convicção, porém, é que a prazo a eficácia - entenda-se, aproveitamento das ocasiões criadas - acaba por estabilizar em valores muito próximos de equipa para equipa. Isto, fundamentalmente, porque se trata de um dos aspectos menos controláveis no futebol, e também aquele que provavelmente explicará grande parte da incerteza do jogo.

A performance interna da equipa ao nível de resultados foi de facto excelente, atingindo uma fasquia pontual que seria inclusivamente suficiente para valer o título em 5 das últimas 10 edições da prova, e isto leva a que se precipitem duas conclusões lógicas relativamente à próxima temporada. A primeira é, naturalmente, o elevar da exigência, aumentando a expectativa para um registo pontual para níveis próximos do que foi agora conseguido. A segunda é que se a equipa mantiver sua base, então terá forte probabilidade de manter o registo actual. Ora, se a perspectiva que expliquei no parágrafo anterior estiver correcta - o que obviamente não é uma garantia! - então não haverá grande sentido na formulação de qualquer destas premissas, o que pode resultar num perigoso equívoco no lançamento da temporada.

E é neste sentido que 14/15 pode ser, para o Sporting, uma época de maior dificuldade do que aquilo que nesta altura parece ser à primeira vista perspectivável. Para além do acréscimo de sobrecarga competitiva, trazida pelo retomar da presença europeia, e do conhecimento que os adversários internos já terão da equipa de Leonardo Jardim, há a hipótese de haver também alguma sobrevalorização do potencial dos actuais recursos, por via dos resultados obtidos. Uma hipótese que se me afigura nesta altura como bastante provável e que por isso me faz pensar que o Sporting precisará, na janela de mercado que se avizinha, de algo mais do que manter a actual estrutura para fazer face às exigências que lhe serão colocadas.

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2.5.14

Juventus - Benfica: Estatística e opinião

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A imunidade ao infortúnio! Uma característica do estoicismo, que o Benfica parece ter definitivamente incorporado, resistindo em jogos sucessivos a situações de dificuldade acrescida, sem que isso pareça afectar a eficácia do seu desempenho. Naturalmente, para grande gáudio dos seus adeptos! É claro que haverá aqui algum exagero da minha parte, assim como também será exagerado concluir que o Benfica mostrou ser superior à Juventus apenas porque levou a melhor na eliminatória. Não me parece, de todo, ser o caso. No entanto, não creio que sobre qualquer dúvida relativamente ao enorme mérito da equipa, em especial na qualidade da sua resistência defensiva neste segundo jogo.

Tacticamente, Jesus não alterou grande coisa relativamente àquela que é a sua postura habitual. É evidente que o risco assumido foi mínimo em muitos aspectos, mas manteve-se o foco de condicionar a circulação baixa do adversário em praticamente toda a extensão do campo, com especial ênfase para a limitação da acção de Pirlo. O grande problema defensivo do Benfica esteve sempre nas dificuldades de controlo sobre os alas da Juventus - Asamoah e Lichtsteiner - cuja presença fugia do raio de acção do bloco encarnado em diversas situações. Desde a presença à largura, quando potenciada após mudança de flanco, até às situações de cruzamento, quando apareciam nas costas da linha defensiva do Benfica. De resto, e à margem da acção destes dois jogadores, o Benfica conseguiu sempre controlar, quase na perfeição, todas as iniciativas da Juventus. O jogo verticalizado - muito especialmente através de Pirlo, que até sem ver tentava colocar a bola nas costas da linha defensiva - foi de novo muito bem controlado pelos centrais. Os avançados, quer a acção de pivot de Llorente, quer os movimentos interiores de Tevez, também não conseguiram a eficácia pretendida, e de novo com muito mérito da estrutura defensiva do Benfica. Os movimentos de rotura dos médios tiveram, desta vez, menor preponderância do que na primeira mão, nomeadamente com Pogba a aparecer menos na profundidade e com Vidal a ser melhor controlado por Amorim do que o francês havia sido por André Gomes, no jogo da Luz.

Esta resposta defensiva do Benfica a um conjunto de soluções ofensivas que a Juventus apresentou foi, sem dúvida nenhuma, a chave de uma eliminatória que no plano ofensivo até foi teve uma prestação bastante modesta do Benfica e que contou sobretudo com o bom aproveitamento das poucas situações de golo criadas. Neste jogo, e a esse respeito, o Benfica conseguiu até dividir a posse de bola até à expulsão de Enzo, mas denotou sempre grandes dificuldades para levar o jogo até ao derradeiro terço ofensivo.

Individualmente, creio que as exibições foram sobretudo meritórias pelo plano defensivo, já que houve sempre muitas dificuldades nas acções com bola, e praticamente por parte de quase todos. Aqui ficam alguns destaques:
Oblak - Respondeu quase na perfeição a todas as solicitações, mas não diria que teve uma missão especialmente complicada. Algo que, aliás, diz bem do mérito defensivo da equipa.
Luisão e Garay - É difícil imaginar uma dupla de centrais mais eficaz no plano defensivo. O futebol da Juventus procura expor muito a acção dos centrais, quer pela verticalização e procura da profundidade, quer pela própria característica dos seus avançados - Llorente muito confortável no jogo de contacto, Tevez mais móvel e fugindo ao raio de acção dos centrais. Por tudo isto, não me parece exagerado afirmar que, mais do que a qualquer outro jogador, o Benfica deve muito aos seus centrais, e à sua qualidade, a presença em mais esta final europeia.
R.Amorim e Enzo - A natureza do jogo da Juventus e a definição do jogo posicional do próprio Benfica ditaram que Enzo tivesse muito mais dificuldades em intervir directamente no jogo, já que boa parte do seu papel passava por tentar evitar que Pirlo pegasse no jogo. Mais interventivo e eficaz, Amorim, em especial no controlo sobre os movimentos de Vidal. Também com bola foi Amorim o mais eficaz dos dois, e muito pela sua presença numa fase mais precoce do jogo ofensivo da equipa.
Markovic e Gaitan - Em qualquer dos casos, o destaque vai para o plano defensivo, já que houve sempre dificuldades nas aparições com bola. Markovic foi quem sentiu mais problemas, mas também aquele que conseguiu intervenções mais importantes, em especial uma já na parte final do jogo que condicionou o cabeceamento de Llorente, em excelente posição para fazer golo.
Lima - Nota para o bom jogo do avançado encarnado, em circunstâncias muito difíceis. Tanto no papel defensivo, onde esteve muito solidário, como com bola, onde conseguiu uma eficácia de intervenção invulgarmente elevada para um avançado num jogo como este.

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1.5.14

Chelsea - Atl.Madrid

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- Creio que não há dúvidas de que passou a melhor equipa. Sê-lo-ia em qualquer dos casos, pelo que se viu em toda a época, mas foi-o também pelo que mostrou nesta eliminatória. Assim, compõe-se uma final completamente merecida para ambas as equipas, de grande interesse do ponto de vista táctico porque reúne estilos e realidades diferentes, mas a meu ver também com alguma perda de interesse por se tratarem de dois clubes do mesmo país, que já se defrontaram por 4 vezes, só esta temporada. Enfim, não se pode ter tudo...

- Começando pelo Atlético, pessoalmente confesso a minha satisfação com o feito da equipa de Simeone, sobre quem venho escrevendo praticamente desde o inicio da temporada. A minha perspectiva de que esta equipa poderia, pela competência com interpreta o seu modelo táctico, chegar a feitos inicialmente impensáveis, não só se confirmou, como foi inclusivamente superada. Porque uma coisa é chegar à final da Champions, outra é fazê-lo ao mesmo tempo que se supera internamente aquelas que serão, ainda, as duas maiores potências do futebol mundial. E isso, confesso também, não pensava ser possível. Seja como for, não creio que se deva exagerar na apreciação deste Atlético, nem tão pouco colocar a fasquia em níveis desproporcionados. Ou seja, o Atlético não é, nem pode ser, a melhor equipa do mundo, por muito mérito que tenha nos feitos já alcançados. Não creio que seja o mais provável vencedor desta prova - pelo contrário, atribuo um favoritismo assinalável ao Real na final -, e tão pouco me parece provável que volte a repetir a performance interna na próxima temporada, mesmo que mantenha exactamente o mesmo elenco.

- Ainda relativamente ao Atlético, houve alguma colagem àquilo que fez o Chelsea, mas parece-me que são casos muito diferentes e que gostaria de distinguir. O Chelsea foi, nesta eliminatória e estrategicamente, uma equipa de grande foco defensivo, assumindo muito pouco risco posicional e apostando tudo no controlo do seu extremo reduto como ponto de partida para chegar à qualificação. Um estratégia que, note-se, me parece completamente legítima e respeitável por parte de Mourinho (poderemos debater se terá sido a melhor, mas isso é outra discussão). O Atlético, ao contrário, foi uma equipa muito igual a si própria e àquilo que vem sendo na esmagadora maioria dos seus jogos. Ou seja, uma equipa tacticamente muito versátil e com comportamentos muito distintos dentro dos próprios jogos. Ora subindo bastantes unidades para pressionar o adversário, ora recuando completamente para perto da sua área. Ora atacando com poucas unidades e de forma muito rápida - em transição -, ora envolvendo muita gente no processo ofensivo e tentando garantir bastante presença na zona da bola, nomeadamente através da mobilidade dos seus extremos. É verdade que ambas são equipas muito fortes no processo defensivo e que não têm receio de baixar para zonas muito recuadas durante longos períodos, mas há muitas diferenças na abordagem táctica das duas equipas para além desse momento táctico, sendo que nesta eliminatória essas diferenças foram ainda mais acentuadas. Neste sentido, o caso do Atlético parece-me globalmente muito mais conseguido do que o do Chelsea, pela capacidade de responder às diferentes situações que o jogo vai pedindo - aliás, esta adaptabilidade táctica retira à equipa alguma dependência da vertente estratégica, permitindo-lhe competir ao mais alto nível em ciclos competetivos muito apertados e onde não há tempo para dar grande foco específico à preparação de cada jogo. Há alguma tentação para menosprezar aquilo que esta equipa faz em organização ofensiva, nomeadamente porque se tende a compará-la com concorrentes directos, mas essa é uma critica que me parece bastante injusta e desproporcionada quando se contextualizam os recursos técnicos que as equipas têm ao seu dispor. O Atlético poderá não ser, de facto, tão forte como outros, mas convém também não esquecer que não jogam todos com as mesmas armas!

- Finalmente, Mourinho. É curioso como se vê agora perante um cenário muito parecido com o de Guardiola. Criticam-lhe o estilo, mas os resultados serão sempre o verdadeiro argumento dos que se levantam contra si. Os "filósofos" de que o futebol está cheio, segundo o próprio, numa contra-critica que me parece bastante certeira. É verdade que o Chelsea é, tacticamente, uma equipa ainda incompleta, e que denotou bastantes dificuldades no seu processo ofensivo e praticamente em toda a temporada. Agora, se atendermos à perspectiva das coisas, o trabalho de Mourinho no Chelsea, até agora, só pode ser considerado um sucesso. Convém não esquecer que o Chelsea estava numa fase absolutamente descendente, disfarçada por alguns títulos que surgiram descontextualizados do verdadeiro rendimento da equipa, nomeadamente visível na perda de performance a nível da liga interna. Com Mourinho, o Chelsea regressou a um patamar pontual que não conseguia desde 2010, e atingiu ainda uma meia-final europeia pouco imaginável por muitos no inicio da temporada. Aliás, se olharmos para todas as equipas por onde passou Mourinho - mesmo o Real Madrid - vemos que foi sempre com ele que se atingiram as melhores prestações em provas de regularidade. Se o trabalho do treinador ainda é potenciar o rendimento desportivo das suas equipas, então não me parece que existam por aí muitos candidatos que ofereçam melhores garantias do que o treinador português, seja para que equipa for. Que muitas pessoas não gostem do seu estilo - dentro e/ou fora do campo - é outra discussão, mas mais uma vez, não se confundam estilos e preferências pessoais com competência.

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