29.11.11

O posicionamento de Aimar no derbi

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Ontem comentei sobre o posicionamento de Aimar, particularmente nas jogadas que se iniciavam sobre o flanco direito. Foi um tipo de situação que se repetiu com alguma frequência durante a primeira parte, e que o Sporting teve algumas dificuldades em controlar. O ponto que quero focar vai para a largura na última linha do Sporting, e em particular para o posicionamento aberto de Aimar, várias vezes entre central e lateral opostos.

Na verdade, não fico com a certeza de que este posicionamento do 10 encarnado tenha a intenção de fazer o aproveitamento da largura, em particular das dificuldades que o lateral oposto (João Pereira, no caso) teria em controlar situações de inferioridade numérica. Parece-me, aliás, que o seu principal objectivo é permanecer nas costas do pivot (Carriço), que frequentemente é atraído para fora, para depois aproveitar o espaço "entrelinhas". E Aimar já nos habitou ao seu instinto para procurar espaços nesse espaço (movimentos de enorme qualidade, acrescente-se). A minha dúvida surge do pouco aproveitamento que é feito da largura à esquerda, assim que a bola entra em Aimar, não havendo o instinto de abrir o posicionamento corporal para poder pelo menos criar a dúvida no lateral. A verdade é que apesar desta situação se ter repetido diversas vezes, o Benfica nunca tirou o melhor partido dela.

De todo o modo, é uma situação que me parece susceptível de ser mais vezes explorada pelas equipas, especialmente as que têm mais recursos técnicos, dando num primeiro momento a ideia de pouca utilidade dos jogadores do lado oposto, que não oferecem soluções de apoio imediatas, mas que muito depressa podem criar grandes dificuldades, assim a bola consiga chegar àquela zona.

Quanto ao Sporting, o posicionamento mais profundo do Elias conduziu a algum défice de protecção nas costas de Carriço, agravado pela impossibilidade de João Pereira estar mais interior. Uma das soluções poderia ser um posicionamento mais interior do ala (Matias/Carrillo), mas isso não se observou e não é muito característico das dinâmicas dos 433 (pode ver-se mais em estruturas de 2 avançados centro, onde os alas habitualmente defendem em zonas mais interiores).
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28.11.11

Benfica - Sporting: opinião e estatística

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- Começo pelas implicações do resultado para as aspirações de ambas as equipas no campeonato. Ganhando, o Benfica coloca-se numa posição muito favorável, mantendo a liderança mas já tendo disputado os principais jogos nesta primeira volta. Pode, por exemplo, contar com a oportunidade de ganhar pontos a pelo menos um dos rivais quando estes se defrontarem. Longe de ser decisivo, obviamente, mas uma boa situação, sem dúvida. Quanto ao Sporting, a situação é precisamente a inversa. Ou seja, o Sporting acumula ainda o peso de um inicio de época mal conseguido e, num campeonato onde os primeiros perdem poucos pontos, isso implicaria uma superação nos jogos entre candidatos. Por isso esta derrota é problemática, colocando o Sporting a 4 pontos dos líderes mas ainda tendo de defrontar Braga e Porto até ao final da primeira volta. A diferença ser matematicamente parecer escassa, mas se o campeonato se mantiver nesta toada de poucos pontos perdidos, o Sporting só poderá aspirar a disputar o primeiro lugar até ao final se tiver uma prestação praticamente perfeita nos jogos com os rivais.

- Relativamente ao jogo, começo pelo aspecto mais previsível. Não é nada que tenha a ver com o que se passou dentro de campo - isso é sempre demasiado imprevisível - mas antes com as conversas depois do jogo. Ou seja, se o Sporting perdesse, como perdeu, era certo que as criticas iriam cair sobre a opção de Domingos eleger Carriço para a posição de pivot. É tão recorrente e previsível, que o próprio treinador deverá ser o primeiro a sabe-lo. Domingos explicou o porquê da opção por Carriço, e não era difícil de a deduzir do próprio jogo, nomeadamente pelo posicionamento alto de Schaars e Elias. Mais difícil, a meu ver, é supor, como quase sempre se faz, que um treinador toma esta opção para "perder capacidade de passe" ou "para defender mais".

- A opção de Domingos, de ser agressivo sobre a saída de bola do Benfica, obrigando a uma construção mais longa, é já uma reedição do que fazia quer na Académica, quer no Braga, recolhendo na altura grandes proveitos desse condicionamento que fazia sobre os seus adversários, especialmente em jogos mais de maior grau de dificuldade. Aliás, o próprio Benfica o faz, pressionando rapidamente e com bastante gente a primeira linha contrária. A presença de um jogador mais forte no jogo aéreo como pivot é imprescindível para Jesus, precisamente pelos mesmos motivos que levaram Domingos a colocar Carriço em campo. Ora, a consequência de tudo este condicionamento sobre a construção, foi um jogo pouco ligado e fortemente dependente da disputa da segunda bola para a definição do ascendente no jogo. Este é, por isso, um detalhe decisivo. O Sporting preparou as suas próprias reposições, escolhendo Wolfswinkel como referência para a primeira bola e o lado direito como destino. O porquê desse lado? Talvez pela tentativa de explorar a rapidez de Elias nas costas do holandês, talvez para tentar ficar com a bola do lado mais forte (digo eu...) da equipa, mas não tenho uma resposta exacta. O certo é que o Benfica, não tendo de fazer uma abordagem tão estratégica, tem uma natural apetência para responder de forma mais forte a este aspecto específico. Mesmo sem Luisão, defensivamente, tem Javi Garcia sobre a esquerda, protegendo bem quer Emerson, quer Garay, e o próprio Witsel, também bastante forte neste capítulo, sobre a direita. O belga, aliás, apresenta-se igualmente como alternativa para as reposições longas de Artur. Domingos temeu Cardozo, mas o Benfica teve sempre outras alternativas, nomeadamente Witsel, mais sobre a direita. E, assim, o efeito Carriço no jogo aéreo acabou por não se fazer sentir, ainda que também me pareça igualmente um equívoco afirmar que o Sporting perdeu capacidade de construção com a sua presença, face a um jogo com estas características.

- Entre a estratégia de uns, e a maior capacidade natural de outros, não me parece que algum dos lados se possa declarar como vencedor deste jogo de muita luta pelo privilégio de poder sair a jogar a partir de segundas bolas. O jogo repartiu-se quase sempre, o Benfica beneficiou mais da noite inspirada de Aimar (as dificuldades de Carriço são em grande medida o mérito do 10 encarnado), e da maior propensão para o erro em posse do Sporting. Em destaque no Benfica, a boa ligação do jogo, desde a direita para a esquerda, com muita largura sobre a última linha do Sporting (provavelmente voltarei a este detalhe). Porém, tudo isto, sem nunca se verificar qualquer ascendente continuado, porque o Sporting dividiu sempre o jogo, tanto em termos de domínio, como de proximidade com o golo.

- De tudo isto sobram, claro, as bolas paradas. Num jogo assumidamente de muita luta e pouco risco em construção, é fundamental ser-se forte nos detalhes e as bolas paradas são frequentemente um dos principais meios para que se marquem diferenças. Foi assim, mais uma vez. Domingos saberá bem a importância desta componente para o sucesso, porque já ganhou vários jogos assim. Jesus, como se sabe, privilegia também muito a capacidade das suas equipas a este nível. Tal como nas primeiras bolas na reposição de jogo, o Benfica é naturalmente mais forte neste plano, e o Sporting está mais dependente do trabalho específico. O jogo acabou por se definir numa zona em que a equipa leonina parecia insuperável com a presença de Onyewu. Foi por ali que o Marítimo criou grande parte dos seus lances, na vitória em Alvalade, mas com o americano esse problema parecia resolvido. Ora, foi precisamente no pior momento que Onyewu se mostrou vulnerável no controlo desse espaço.

- O equilíbrio, claro, terminou com a expulsão de Cardozo. Aí o Sporting passou a ter um domínio claro e consentido também. É verdade que o Benfica controlou sempre bem o jogo, é verdade que o Sporting não revelou grande lucidez na circulação, nomeadamente centralizando muito os médios e criando poucas situações de apoio nos corredores laterais. Mas também é verdade, apesar disto tudo, que criou oportunidades suficientes nesse período para ter chegado ao empate. Se não o conseguiu não foi por qualquer fatalidade do destino, mas sim porque o futebol é mesmo assim, tanto pode dar umas coisas coisas, como outras.

- Individualmente, no Benfica o destaque principal tem de ser Javi Garcia, pelo golo decisivo e pela capacidade de intervenção num jogo que cedo ficou a seu gosto, exigindo-lhe muitos duelos aéreos e muito menos gestão da posse, onde é vulnerável. Mas também Aimar, que foi fantástico nos seus movimentos "entrelinhas" (ainda que nenhum chegasse a ter grande consequência objectiva), e Gaitan, quer pela capacidade de execução em dois momentos, quer pela notável capacidade de trabalho que revelou (sem surpresa, sempre revelou nos jogos que puxam por ele). No Sporting, Wolfswinkel trabalhou bem na frente, mas faltou-lhe aquilo que é mais importante para alguém da sua posição, ser decisivo na finalização. Elias, esteve estrategicamente mais próximo do holandês e justificou esse papel pelo sentido de oportunidade na área, faltando-lhe apenas a eficácia. Outra nota para Carrillo, que volta a dar sinais de ser um caso sério em potência, assim consiga evoluir na decisão, claro.
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21.11.11

Sucesso no futebol? Só sei que nada sei...

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O jogo e o próprio momento do Porto são motivos de interesse suficientes para outras análises mais específicas, mas não é isso que hoje proponho. O que sugiro é uma reflexão diferente, que considere o radical contraste entre o 3-0 deste jogo e o 0-3, entre as mesmas equipas, há bem pouco tempo. Que lembre também a substituição que antecedeu a derrocada portista em Coimbra, mas partindo do "momento de viragem" na reviravolta portista nas meias finais do ano passado. É em cima de tudo isto que quero partilhar a minha conclusão pessoal sobre como se explica o sucesso no futebol...

Já me cruzei com inúmeras teorias, fórmulas sobre o que é certo e errado fazer no jogo. Boas ideias, em muitos casos, mas sem que nenhuma delas explique realmente o sucesso no jogo. Nem de perto, aliás. Depois, temos as análises pós-jogo, que nos oferecem tentadoras explicações para o que aconteceu. A substituição milagrosa, ou a burrice do treinador, que devia ter feito isto e não aquilo. O que acontece sempre? Os primeiros, os das fórmulas virtuosas, mantêm-se crentes distorcendo a realidade ou simplesmente esquecendo-se convenientemente de todos os casos que as desmentem. Os segundos, das explicações cirúrgicas, surgem sempre depois do jogo, e raramente se lembram do que disseram antes.

É por tudo isto, que não tenho nada de interessante para concluir, nenhuma fórmula, nem nenhuma explicação visionária. Porque quanto mais procuro (e se procuro!), quanto mais intelectualmente honesto procuro ser, mais concluo que o sucesso se constata, sim, mas que não se explica como todos gostaríamos. A enorme complexidade do jogo tem essa consequência, é demasiado dominante para que permita a redução do sucesso a generalizações fatalistas, ou relações causais deterministas. Cada factor influencia, mas seguramente não determina.

A ignorância pode parecer uma conclusão frustrante para quem dedica tanto tempo em busca de mais conhecimento, mas não o é necessariamente. Pelo contrário. É que se todos somos ignorantes, são muito poucos aqueles que são capazes de se reconhecer como tal. E essa consciência, por si só, pode ser uma enorme vantagem...
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18.11.11

Movimentos dos avançados: Complementaridade?

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Primeiro ponto, para referir que não há nesta análise uma intenção de centrar a critica na componente individual. Ou seja, tenho bastantes criticas e reticências em relação à performance de Postiga em variados items de rendimento, mas neste caso a ideia é discutir a dinâmica colectiva a partir dos movimentos do avançado, não havendo elementos que nos possam dizer que os problemas existentes a esse nível estejam relacionados com a utilização de um jogador em relação a outros.

A segunda nota serve para sublinhar que não é igualmente minha pretensão definir exactamente que movimentos devem ou não ser feitos. Aliás, sou até bastante contrário à ideia de que existe um predefinição do que é "certo" e "errado" na forma de jogar. A constatação que faço, porém, tem a ver com a aparente ausência de complementaridade nos movimentos ofensivos da Selecção, especialmente do avançado, que é o jogador que mais possibilidades tem de se relacionar em termos de dinâmica com os mais variados jogadores. O que vemos, apesar disso, é uma movimentação aparentemente sem qualquer preocupação colectiva no aproveitamento ou criação de espaços gerados por, ou para, outros jogadores. O resultado são movimentações que se tornam várias vezes redundantes ou mesmo prejudiciais à restante dinâmica, e, sobretudo, a constatação de um sub aproveitamento deste elemento em termos ofensivos.

Há vários bons exemplos a reter a este nível. Começando pela recente exibição de Klose frente à Holanda, assistindo por duas vezes companheiros, coisa que na Selecção portuguesa raramente vemos acontecer (em toda a fase de qualificação, não houve uma única assistência dos avançados). Outro exemplo, vem do Real Madrid, de Cristiano Ronaldo, onde a movimentação dos avançados segue sempre um padrão de complementaridade com a dinâmica, quer de Ozil, quer dos extremos. Ou, num exemplo mais recente, vimos também como a própria Bósnia se movimentava na última linha, conseguindo uma boa complementaridade de movimentos entre avançados e médios.

Independentemente da opinião que resulte sobre as causas do problema, o que me parece claro que não pode ser negado é a existência do problema em si mesmo. Ou seja, não me sobram grandes dúvidas quanto ao défice de aproveitamento do papel do avançado na Selecção. Por exemplo, e só tendo em conta os 5 jogos desde o Verão (Chipre, Islândia, Dinamarca e dois frente à Bósnia), Portugal criou 26 desequilíbrios em jogo corrido (exceptuando bolas paradas), dos quais apenas 4 foram finalizados por avançados. Sendo este registo já invulgarmente baixo (cerca de metade do que acontece nos "grandes", por exemplo), o facto é que ele não é compensado por qualquer mais valia criativa, já que apenas 1 destes desequilíbrios teve a participação de um avançado (no caso, Hugo Almeida) para efeitos que não fosse o de finalizar. Ou seja, e tal como escrevi ontem, a utilidade dos avançados tem-se resumido a nada mais do que a finalização, sendo que mesmo a esse nível os resultados não são brilhantes...
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17.11.11

Portugal - Bósnia: opinião e estatística

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- Foi ao último suspiro, mas foi! É justo, nesta altura e depois de confirmado o apuramento, destacar o impacto positivo de Paulo Bento. O apuramento tornou-se especialmente difícil, não só pelos dois jogos iniciais, mas porque Noruega e Dinamarca não voltaram a perder pontos, a não ser entre elas ou frente Portugal. Surpreende-me mais esse dado, da óptima campanha dos adversários, do que o próprio rendimento português, praticamente perfeito à margem do mau jogo de Copenhaga. Aliás, escrevi-o na altura da nomeação de Paulo Bento, que ao contrário do sentimento dominante, não pensava que viesse a ser uma solução transitória e que acabaria por qualificar Portugal. Resta saber se irá mesmo ver renovado o seu contrato e ter a oportunidade de liderar a qualificação para o Mundial 2014. De todo o modo, Portugal é hoje uma selecção mais forte do que foi nos últimos anos e um "osso" muito mais difícil de roer para os candidatos tradicionais. O único condicionalismo que afasta Portugal de um maior favoritismo, na minha opinião, é a dependência que tem na presença de certas unidades preponderantes, um problema sobretudo relacionado com a dimensão da base de jogadores e, obviamente, do próprio país. Mas, se todos estiverem disponíveis...

- Em relação ao jogo, na minha leitura qualquer análise tem de começar pelos minutos 8 e 24, e pelo que fizeram Ronaldo e Nani. O apuramento estaria preso por detalhes, como escrevi na sequência do jogo da primeira mão, mas graças ao extraordinário contributo destes dois jogadores, deixou de estar. Portugal passou a ter uma margem de erro, uma almofada emocional que, em boa verdade, lhe viria a ser muito útil. É que a Bósnia acabou por ser extraordinariamente eficaz e se o jogo teve 8 golos, Portugal só precisou de marcar mais 1 para que a sua vantagem emocional tivesse consequências decisivas no desfecho da eliminatória. Depois do 3-1, explodiu o descontrolo emocional dos bósnios, ditando a inferioridade numérica para quase 40 minutos. Agora, imagine-se o que teria sido o jogo depois do 3-2, se ainda estivessem 11 bósnios em jogo! O mérito, repito, vai para os jogadores. Os grandes jogos ganham-se sobretudo nos detalhes, e, acredito mais do que em qualquer outra coisa, na transcendência. Uma coisa é ser super eficaz na conversão de livres, ou em remates de longa distância, mas em fases em que os jogos já estão decididos. Outra, completamente diferente, é estar num jogo decisivo e ao primeiro livre, ou à primeira oportunidade de finalizar de 25 metros, fazê-lo de forma insuperável, como fizeram Ronaldo e Nani. Numa palavra: Fantástico!

- De resto, os dois golos inaugurais acabaram por aligeirar o peso de um jogo que, a meu ver, mostrou ter tudo para ser muitíssimo complicado. A Bósnia não precisou de sofrer o primeiro golo para se mostrar altamente pressionante sobre a primeira linha portuguesa, fê-lo desde o inicio, dificultando um jogo mais apoiado e forçando uma série de ligações directas mal sucedidas nos primeiros minutos. Do mesmo modo, Portugal também pressionou a primeira linha bósnia, mas a reacção do adversário, de novo, voltou a ser muito boa. Não cedeu à tentação de bater longo, não acumulou muitas perdas de risco (pelo menos na primeira parte), e conseguiu sair várias vezes das zonas de pressão criadas, levando o jogo de forma apoiada até ao meio campo ofensivo português. E aqui, lá está, os dois golos conseguidos neutralizaram qualquer sentimento de ansiedade que se pudesse transmitir para as bancadas, mas este não era o perfil de jogo mais confortável que Portugal poderia esperar...

- Do lado português, é importante assinalar a reactividade da equipa, que foi muito forte. Pressionando a construção contrária, a linha média foi depois muito rápida a ajustar posicionamentos, impedindo a tal exposição da última linha, que havia discutido no rescaldo do primeiro jogo. Há uma série de aspectos que me pareceram intencionais: A assimetria, com Ronaldo mais livre de acções defensivas e preparado para a transição (foi assim que se deu o terceiro golo). Moutinho, com mais preocupações de ajustar à esquerda, e Nani sem a mesma liberdade, auxiliando mais João Pereira ao longo do corredor. Mas, Meireles também pareceu mais alertado para a necessidade de fechar rapidamente o espaço nas suas costas, particularmente quando Veloso se aproximava do corredor esquerdo. Este, recorde-se, foi o espaço exposto pelos bósnios em alguns momentos do primeiro jogo. O aspecto da reactividade parece-me fundamental, porque para quem pretende pressionar a partir de zonas mais altas, é decisivo ser capaz de ajustar rapidamente não dando oportunidade para que o adversário capitalize as situações em que consegue sair das zonas de pressão que são criadas. Quanto mais forte for adversário, obviamente, mais decisivo este aspecto pode ser, e se Portugal já havia feito desta capacidade um alicerce do brilharete frente à Espanha, desta vez voltou a estar muito forte a esse nível. É importante que o continue a repetir no futuro, até porque também é verdade que foi quando não o fez que mais sofreu...

- Individualmente, e para além de Ronaldo e Nani, o principal destaque vai para Moutinho e Veloso. Sobretudo Moutinho, que voltou a estar tremendo, tal como na primeira mão. O caso do sub rendimento de Moutinho no Porto é mais ou menos o mesmo que o sub rendimento de Ronaldo na Selecção. Tem sobretudo a ver com a expectativa ilusória, de comparar a estabilidade de rendimentos individuais em contextos de performance colectiva completamente diferentes. Já Veloso, também muito bem, parece ter ganho definitivamente vantagem para constituir com Moutinho e Meireles o trio de médios.

- Na frente será onde, a meu ver, há mais questões a levantar. Já escrevi sobre as limitações de Postiga na resposta que dá em variadíssimas situações especificas, independentemente da questão da finalização. Para além disso, há algo a rever nas movimentações do 9 nas dinâmicas colectivas(não tem necessariamente a ver com Postiga). Tentarei voltar a este tema com imagens, mas para já deixo estes dados de reflexão: Os avançados são quem tem menor participação no jogo colectivo, o que é normal, mas na Selecção a sua acção não tem conduzido, nem a qualquer ocasião criada, nem tão pouco a um acréscimo positivo na fluidez de jogo. Ou seja, o contributo positivo do ponta de lança, na Selecção, tem-se resumido à finalização, e apenas à finalização. Se este marcasse 30% dos golos da equipa, como aconteceu neste jogo, isso seria suficiente, mas essa está muito longe de ser a marca, quer de Postiga, quer de Hugo Almeida. E isto, goste-se ou não, é um problema...
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15.11.11

Bósnia: alguns movimentos a ter em conta

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A Bósnia pode ter dado alguns sinais de optimismo pelas dificuldades de ligação numa primeira fase ofensiva e, mesmo, por alguns problemas de controlo sobre as principais unidades portuguesas, nomeadamente nos flancos. Há, porém, alguns sinais de preocupação com certos movimentos nas fases mais adiantadas do jogo bósnio. Aproveito algumas imagens para as explicar, reflectindo apenas a partir da primeira mão, já que não conheço aprofundadamente o adversário português.

O primeiro ponto tem a ver com o posicionamento de Dzeko, que oferece sempre largura na última linha, fixando o lateral do lado contrário da bola. É um posicionamento intencional e que me parece merecer grande reflexão, já que muitas vezes as equipas o ignoram, pela urgência que sentem em trazer gente para criar apoios do lado da bola. No caso, e recorro a dois exemplos de jogadas diferentes mas de origem semelhante, o posicionamento de Dzeko mantém João Pereira aberto, impedindo que o lateral pressione por dentro quando a bola vem do outro lado. A consequência disto tem a ver com o espaço que se cria no interior, nomeadamente quando o pivot é atraído para o lado da bola, o que sempre acontece. Num primeiro caso, Dzeko é mesmo solicitado, sobressaindo a intenção de aproveitar o espaço nas suas costas, mas Portugal reage bem à situação. Num segundo, porém, perde-se o controlo nas costas da linha média, com um médio a aparecer no espaço "entrelinhas". Esta perda de controlo é o ponto fundamental do risco deste tipo de lances e deste caso em concreto, já que, sendo certo que no caso há um erro de reacção na última linha (João Pereira), dificilmente alguma linha defensiva, por muito perfeita que seja (e é difícil sê-lo em lances tão rápidos), será garantia de seja o que for, uma vez perdido o controlo do espaço à sua frente, como aqui aconteceu.

O último lance reflecte a dificuldade que pode existir no caso de um extremo (Ronaldo, no exemplo) fazer um movimento interior e ficar, depois, incapaz de reagir defensivamente à saída pelo seu corredor. Isto, no caso, ditou um mau ajustamento defensivo de Portugal, com a Bósnia a criar facilmente uma situação de superioridade que culminou num cruzamento em muito boas condições. O ideal seria pressionar de imediato a saída do guarda redes no lateral, mas mesmo admitindo não ser possível, há mais tarde uma indefinição de Veloso, que me parece tardar na aproximação ao corredor lateral (Micael faria o ajustamento nas suas costas). Acabou por acontecer, mas já muito tarde...

Resumindo, alguns "instintos" aparentemente perigosos do jogo bósnio:
1)largura na última linha, com o lateral do lado oposto da bola a ser fixado pelo avançado. 2)espaço interior potenciado pela abertura permanente da equipa.
3)instinto de passe de rotura, e de primeira, assim a bola surja "entrelinhas".
4)3 jogadores na dinâmica do lado da bola, com centrais fixados pela presença de 2 avançados na zona de finalização - necessidade de ser a linha média a fazer estes ajustamentos.
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14.11.11

Bósnia - Portugal: opinião e estatística

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- 0-0, é um bom ou um mau resultado? A resposta, parece-me, é... não. Este era o desfecho que menos afectava teoricamente o favoritismo atribuído à partida. Portugal continua a ser favorito, mas não é significativamente mais do que era. Se 0-0 é melhor para Portugal ou para a Bósnia? A isso já não sou capaz de responder. A dúvida passa por saber se o peso do misterioso mas irrefutável factor casa é suficiente para desfazer a desvantagem de não se poder empatar para garantir o apuramento. Independentemente da opinião de cada um, o mais interessante seria ter resultados concretos sobre o que o passado nos diz a respeito disto. Infelizmente, para já não os tenho...

- Outra pergunta: Portugal merecia ganhar? O lado português tende a afirmar que sim, que jogou melhor e que merecia algo mais. É verdade que Portugal levou a melhor no domínio de grande parte do jogo, mas também me parece inegável que do ponto de vista ofensivo isso se traduziu em pouco. Ou seja, do mesmo modo que Portugal se pode lamentar de não ter marcado numa ou noutra ocasião, também os bósnios poderão reclamar para si essa possibilidade, porque a tiveram. Copo meio cheio ou meio vazio? Cada um verá como quer. O que me parece claro é que, com o 0-0 e como o próprio jogo da primeira mão bem o demonstra, Portugal está cada vez mais vulnerável do detalhe para definir um apuramento que se devia exigir com muito mais conforto. Agora, tudo pode depender de uma inspiração, de um erro, ou mesmo da sorte.

- Indo mais concretamente ao jogo, convém realçar que o relvado teve mesmo uma importância assinalável no jogo, e mesmo na abordagem das equipas. Pouca capacidade de ligar o jogo, muitas ligações directas e grande importância para os duelos físicos e para o jogo de antecipação. Portugal esteve muito bem durante boa parte do tempo. Pressionou a primeira linha, não facilitou a construção, potenciou o erro, e depois, lá atrás, contou com a presença de Bruno Alves e Pepe, muito fortes no controlo do jogo directo. Menos bem, na ligação do seu jogo ofensivo, porém, e isso terá sido o factor que impediu Portugal de chegar à vitória.

- Defensivamente, Pepe, claro, é o grande destaque. Reconheça-se algumas abordagens menos cuidadas, mas a qualidade de Pepe, a sua capacidade para antecipar dentro ou recuperar nas costas, isso é inquestionável e não tem a ver com estilo ou gostos pessoais. É um fora de série e Portugal, obviamente, ganhou imenso com a sua presença. Ao seu lado, Bruno Alves esteve também muito bem, sobretudo no jogo aéreo, mas Bruno Alves tem limitações que Pepe não tem, quer na recuperação, quer no acompanhamento da marcação até zonas mais interiores. Amanhã tentarei trazer algumas jogadas da Bósnia, que retratam alguns cuidados a ter, mas este é um primeiro ponto de vulnerabilidade que me parece claro: a possibilidade de Bruno Alves ser atraído para fora da sua zona. Nas laterais, ambos tiveram nos momentos de maior dificuldade, mas João Pereira conseguiu ter uma presença muito mais positiva e regular durante o jogo. Coentrão, desta vez, ficou aquém do muito que pode. Quem sabe se venha a refazer no segundo jogo...

- A grande novidade de Paulo Bento, veio da composição do meio campo. Porquê a aposta em Veloso? A meu ver, estará primeiramente relacionada com Meireles e a sua menor disponibilidade para fazer um jogo nos limites da agressividade, devido ao cartão amarelo que não poderia ver. E, de facto, Meireles esteve abaixo do que normalmente rende, parecendo sempre condicionado nas suas abordagens. Mas Veloso tinha também duas outras virtudes. Está habituado a jogar naquela posição, mais defensiva, e gosta da construir de forma mais longa, algo que iria fazer parte da estratégia. Houve algumas dificuldades no ajustamento posicional dos médios (voltarei a este tema...), mas creio que Veloso cumpriu bem o seu papel a esse nível. No entanto, tenho algumas dúvidas sobre a sua resposta em termos de intensidade e agressividade defensivas, algo que me parece ser muito importante para a posição específica. É, ainda assim, um forte candidato como melhor complemento para Moutinho e Meireles...

- Na frente, o talento de Nani e Ronaldo, apesar do esforço, não foi suficiente. Aquilo que me parece mais discutível, porém, é a presença de Postiga. Muito discutível, mesmo. Não por não ter marcado, nem por ter uma capacidade concretizadora baixa (apesar de tudo, parece atravessar um bom momento a esse nível), mas... o que realmente esperava Paulo Bento de Postiga neste jogo?! Iria ser um jogo de grande exigência física, e Postiga tem um registo péssimo a esse nível. O jogo frente à Dinamarca, aliás, deveria ter servido de exemplo conclusivo para esta questão. É impossível saber o que seria o jogo com Hugo Almeida de inicio, mas é também evidente que a presença de Postiga foi tudo menos um valor acrescentado. A principal critica não tem a ver com a baixa utilidade do avançado, mas com a facto de isso ser altamente previsível, à priori...
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9.11.11

Sporting - Leiria: opinião e estatística

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- À partida não se diria, mas parece-me que, por uma conjugação de factores, este passou a ser um jogo importante para o Sporting. Pela própria jornada, onde os rivais perderam pontos, pela necessidade de anular rapidamente o efeito da derrota no jogo anterior, recuperando o sentimento de um momento positivo, mas também pela fase da própria equipa, recentemente abalada por uma perda relevante e por uma série de indisponibilidades mais circunstanciais. A tudo isto, há que assinalar, juntava-se um Leiria que não é hoje o adversário simpático do inicio de época. A resposta podia ter sido percepcionada de forma bem mais positiva, como aconteceu noutros casos, mas, apesar disso, parece-me ter deixado muito boas indicações...

- O jogo teve fases distintas, mudando as suas características depois do segundo golo e das alterações do Leiria na segunda parte. Na primeira, porém, tivemos um domínio muito grande do Sporting, que foi estrategicamente consentido pelos leirienses, mas do qual o Sporting deveria ter extraído mais vantagens do que o empate que levou para o intervalo. Neste primeiro período, há que assinalar o bloco baixo do Leiria, sem grande preocupação de ter presença pressionante sobre a construção dos centrais, mas com um forte bloqueamento nos corredores, particularmente nas acções dos laterais, normalmente um ponto forte do jogo do Sporting. Aqui, parto para o primeiro destaque individual, que penso justificar Carriço. Com os laterais bloqueados, é importante que os centrais tenham a capacidade de serem eles a tomar a iniciativa de criar desequilíbrios com bola e com o espaço que lhes é permitido pela estratégia contrária. Capacidade e qualidade, claro. Carriço tem-na, assim como tem também grande capacidade para jogar em antecipação nos espaços interiores e na reacção à perda (ver origem do 2ºgolo). É um jogador que tem de facto problemas na resposta em lances aéreos dentro da área, mas essa, sendo uma lacuna potencialmente decisiva, não deve ofuscar o valor do jogador noutros capítulos do jogo, que é evidente. Já agora, e apesar do mau jogo frente ao Marítimo (novamente, pela resposta aérea), Carriço tem feito um campeonato muito bom.

- Depois, no curso do jogo, é interessante verificar o efeito marcante de alguns lances. A eficácia do Sporting, que voltou a ser muito elevada e que foi reflectida, desta vez, nos golos de Matias. E, do outro lado, quer o golo do Leiria, que resulta de um erro individual descontextualizado do curso do jogo, e que impediu, possivelmente, outro conforto do Sporting no jogo, e, mais tarde, o lance que poderia ter resultado em novo empate e que surgiu como complemento perfeito para a mudança que Cajuda estava a tentar encetar no jogo, após o 2-1. Lances que tiveram efeitos quer na resposta emocional dos jogadores, quer na percepção com que todos ficamos das exibições das equipas. Aliás, sobre a reacção do Leiria e encolhimento do Sporting, parece-me que há muito de emocional nessa reacção, isto mesmo contando com o bom posicionamento do Leiria na reacção à perda e com a ineficácia das alterações no meio campo do Sporting, no que diz respeito à qualidade do jogo ao nível do passe, quer em organização, circulando menos, quer em transição, sendo incapaz de ficar com bola mais tempo após cada recuperação de bola. Daí, o avanço territorial do Leiria e consequente "aperto" do Sporting em grande parte do segundo tempo.

- No Sporting, o dado mais importante tem a ver com a resposta do meio campo, que foi excelente. Com o duplo pivot, o Sporting teve, a meu ver, o melhor Schaars da temporada. Não ao nível do impacto ofensivo, porque não marcou nem assistiu, mas a nível defensivo, onde esteve muito forte (já tinha estado frente ao Feirense, em boa verdade) e sobretudo ao nível do passe, sendo finalmente um jogador consistente a esse nível, quer em termos de presença, quer no que respeita ao nível da eficácia, que como assinalei vinha sendo muito baixo. Não surpreende esta diferença, já que Schaars é marcadamente um jogador de primeira fase de construção e muito menos vocacionado para uma segunda fase ofensiva. Ao seu lado, Elias, com erros pontuais ao nível do passe, mas sem que isso possa afectar uma boa presença também a esse nível, que complementa com a sua extraordinária capacidade reactiva aos momentos do jogo, quer na recuperação, quer no acompanhamento ofensivo. Teoricamente, teve mais responsabilidades defensivas, mas 3 dos 6 desequilíbrios têm a sua participação directa. Finalmente, Matias que actuou na posição que me pareceu estar-lhe destinada com a chegada de Domingos. Não tenho como certo que o seu rendimento possa vir a ser consistente, por causa das lesões, mas também porque é preciso que a equipa o consiga potenciar no último terço, perto da zona de finalização, onde tem uma capacidade de definição e decisão que é terrível para as oposições. Mas, uma coisa é certa, se o Sporting conseguir potenciar este trio e se o tiver sempre disponível (porque não tem alternativas da mesma ordem qualitativa), esquecer Rinaudo não será um problema...

- Finalmente, falar dos extremos, porque há alguns casos curiosos. Pereirinha foi o jogador mais conseguente no jogo, e apenas não terá dado sequência a 1 posse de bola que por si passou. É notável este registo, o problema, porém, é que isso não é minimamente suficiente. O jogo faz-se de golos, e os jogadores mais ofensivos têm como principal missão ajudar a aproximar a sua equipa do golo, o que no caso dele não sucedeu, nem de perto. Pessoalmente, penso que a equipa poderia ganhar mais se os papeis de Pereirinha e João Pereira fossem invertidos, quando a equipa recorre aos dois em simultâneo, mas é algo que teríamos de ver para ter mais certezas. Depois, Capel. Recuperando a questão dos jogadores discretos, Capel é o inverso, tudo menos discreto. A energia que emprega a cada posse de bola faz com que entusiasme as bancadas antes mesmo de chegar a produzir algo de realmente concreto, e isto vale-lhe, a meu ver, alguma sobrevalorização mediática. É uma mais valia que seja capaz de transportar a bola como o faz, mas é muito duvidoso que esteja a gerir da melhor forma as suas aparições no jogo, por mais aplausos que arranque. Desgasta-se em demasia, não é capaz depois de oferecer uma boa resposta defensiva, e do ponto de vista da produção ofensiva também não tem um valor acrescentado que justifique qualquer euforia. Se compararmos com os extremos do plantel (exceptuando Pereirinha), aliás, é aquele que menos desequilíbrios provoca em face do tempo de utilização, perdendo inclusive para Elias ou Schaars (ainda que este conte com os lances de bola parada) nesta comparação. Finalmente, Carrillo. É um jogador que pode, realmente, ter um futuro tremendo. A sua capacidade técnica e, sobretudo, a sua potência física determinam essa oportunidade, porque muito facilmente ganha vantagem sobre a oposição sem fazer grande esforço, e ele já percebeu isso. Falta-lhe mais qualidade na definição no último terço, para ser mais decisivo, e mais calibragem na decisão para poder ser um jogador consistente. Ainda não é, nem uma coisa nem outra, mas pode vir a ser, porque as suas outras características permitem-lhe lá chegar, caso tenha uma boa evolução.
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8.11.11

Braga - Benfica: opinião

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- Não terá sido o mais entretido dos jogos, pelo contrário, mas este tipo de jogos são particularmente interessantes porque acarretam uma tensão que não se fica pelas bancadas ou pelo próprio campo emocional, mas se estende também à forma como as equipas abordam tacticamente o jogo. E foi isso que aconteceu, em particular com a preocupação de uma boa gestão do risco a estar muito presente nas estratégias dos treinadores, e em total contraste com o que sucede na generalidade dos jogos destas equipas. Por motivos que desenvolverei, penso que o Braga levou sempre a melhor no objectivo de reflectir no campo aquela que era a sua intenção para o jogo, no entanto, e porque isso não se reflectiu numa diferença de proximidade com o golo, parece-me também que o empate acabou por ser o mais fiel dos desfechos.

- A conclusão de que houve um melhor aproveitamento do Braga na aplicação prática das intenções, resulta daquilo que as equipas extraíram da sua construção. Ambas tentaram um condicionalismo forte desde a primeira linha, mas o Braga foi quem conseguiu retirar proveitos disso. E aqui, divido a análise entre aquilo que aconteceu quando foi o Benfica a tentar sair a jogar, e, ao inverso, quando foi o Braga a ter de o fazer. Do lado do Braga, as ameaças de pressão adversária implicaram a opção por uma construção mais longa, a partir dos pontapés de Quim. O Braga levou claramente a melhor na segunda bola, ficando com ela de frente e já no meio campo ofensivo. Há dois detalhes neste ponto. O primeiro, tem a ver com a capacidade do próprio Quim, que tem um pontapé muito longo, forçando o Benfica a jogar a primeira bola já muito perto da sua área e dando vantagem posicional à linha média do Braga, que disputava a segunda bola mais à frente do que é habitual. O segundo detalhe tem a ver com a abertura táctica do Benfica, com Aimar e Cardozo a pressionar numa primeira linha, ficando praticamente fora da disputa pela segunda bola nas suas costas, e com os alas igualmente abertos, pelo que dificilmente se conseguiam ajustar da melhor maneira para a tal segunda bola. Depois, a construção do Benfica. Ao contrário do Braga, o Benfica resistiu até ao limite começar de forma longa as suas jogadas. O problema é que o Braga fez um excelente condicionamento do lado de saída, com Lima e Mossoró a terem um papel importante num primeiro momento, mas depois com os próprios médios a fazerem uma boa pressão no sentido da linha lateral e fechando o campo de ataque sobre o lado em que pressionavam. Normalmente, este condicionamento forçou o Benfica a sair pela sua direita, e foi precisamente por aí, e por estes motivos que nasceu a jogada que resultaria no penalti. Perante tudo isto, o Benfica teve sempre muitas dificuldades em chegar com bola ao último terço, e apenas o conseguiu através de iniciativas individuais de Gaitan.

- Na segunda parte, houve algumas mudanças no cariz do jogo. O Braga passou a não estar tão presente no seu condicionamento na primeira linha, restando saber se foi uma opção estratégica, ou se teve a ver com uma reacção natural, quer à situação de vantagem no jogo, quer à novidade de ter Aimar como primeira referência para a construção. Se é verdade que o argentino não oferece tanta segurança em posse como Witsel, também é um facto que oferece muito maior mobilidade como referência para o primeiro passe, e isso criou dificuldades de controlo do Braga nessa fase do jogo, e em relação à primeira parte. Mas, aí, é importante assinalar, o Braga ajustou-se bem, passando a ter um bloco menos presente na primeira linha de organização do Benfica, mas impedindo sempre que o Benfica ligasse o seu jogo com o derradeiro terço e, por consequência, se mantivesse sempre distante do golo. Aliás, se o Braga foi eficaz na forma como chegou à vantagem, já que não criara qualquer ocasião de especial destaque, o Benfica bem se pode contentar pelo golo que conseguiu resgatar o empate, já que este surgiu numa fase em que, não só o Braga controlava o jogo em termos defensivos, como se apresentava mais ameaçador do que o próprio Benfica. Isto, porque o Braga tinha agora a oportunidade de aproveitar a exposição que o Benfica ia oferecendo e, também, uma crescente propensão para o erro em posse, a origem das transições que poderiam ter dado outro destino ao jogo.

- Sobre o Braga, confesso que me surpreendeu a qualidade da sua organização defensiva, sobretudo na primeira parte. Já vira algumas vezes esta equipa, ainda que sem o mesmo detalhe, e por mais do que uma vez não fiquei com a sensação de que não conseguira segurar o jogo longe da sua linha mais recuada. Pelo contrário, admitira nessas ocasiões um jogo mais partido, sendo forte na transição defesa-ataque, e sempre muito equilibrada no momento de transição inversa, mas não sendo muitas vezes capaz de controlar o jogo apenas pelos momentos de organização. Esta, foi outra imagem, mas terei mais jogos deste calibre para retirar dúvidas.

- Em relação ao Benfica, termino recuperando o ponto com que iniciei o último comentário sobre a equipa. Ou seja, a sua menor capacidade exibicional, entretanto ofuscada pelas vitórias, foi agora exposta por dois jogos consecutivos sem ganhar e o sentimento em torno da equipa já não é o mesmo. A dúvida sobre se a dinâmica de vitória iria prevalecer sobre o menor fulgor do momento está desfeita, restando agora perceber como é que a equipa irá reagir num momento seguinte. Isto parece-me especialmente importante porque o histórico do Benfica de Jesus não é o melhor no que respeita à resposta aos momentos de oscilação emocional. Se a equipa não vencer o Sporting e perder a liderança, como irá reagir? É uma dúvida que racionalmente não faz muito sentido, primeiro porque não ganhar um derbi não deve nunca ser um drama e, de qualquer forma, o Benfica manterá as suas hipóteses de chegar ao título perfeitamente intactas, seja qual for o resultado desse jogo, tanto mais que teve até ao momento o calendário mais complicado entre todos os candidatos. Mas, e volto à mesma ideia, este Benfica é a prova evidente de que a emoção pode ser tantas vezes avassaladora no peso que tem sobre as equipas.
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7.11.11

Olhanense - Porto: opinão

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- Várias vezes ouvimos ou lemos sobre a complexidade no futebol. A verdade, porém, é que raramente essa característica fundamental do jogo é respeitada na hora de olhar mais concretamente sobre os acontecimentos reais, particularmente na explicação de momentos negativos. E é natural que assim seja, porque, afinal, enquanto ser humano evoluímos com o instinto de reduzir a complexidade e não linearidade a relações lineares causais. Foi esse instinto que nos trouxe até aqui, e por isso somos totalmente incompetentes quando nos propomos inverter a orientação deste raciocínio. Para o caso, a "crise" do Porto será alvo das mais variadas reduções, cada qual ao melhor gosto do seu analista. O jogador "A" ou "B", a substituição "C" ou "D" ou a opção "E" ou "F". Analisando cada uma destas reduções possíveis, porém, facilmente se concluí sobre a sua inviabilidade explicativa. Qualidade individual não falta, e as orientações tácticas são boas e as mesmas que conduziram ao sucesso no passado, e, por muito que se possa discutir pormenores em cada um destes planos, não são esses pormenores que explicam o contraste de rendimento entre a realidade actual e o passado recente. O Porto viverá o problema do tenista (que recupero de outras ocasiões) que, depois de ganhar um set por 6-0, se vê na eminência de perder o seguinte. Ora, se o tenista não é capaz de explicar a si próprio este fenómeno, como seremos nós capazes de explicar as oscilações de momento num contexto muito mais complexo como é o futebol? Não somos. No fim de tudo isto, porém, vem a conclusão de que o mais provável será que, mais tarde ou mais cedo o momento negativo se desvaneça. Acompanhado de vitórias, seguramente, mas partindo com o mesmo mistério com que chegou. Isso, enquanto nos entretemos a encontrar relações causais, que nos parecem trivais e óbvias, mas que realmente explicam muito pouco. É sempre assim...

- Talvez no papel não o parecesse, mas pelos motivos que expliquei no comentário ao Benfica-Olhanense, este não seria o jogo ideal para uma equipa intranquila. O Olhanense ir-se-ia sempre defender muito e bem, sem grandes probabilidades de marcar, é certo, mas com boas hipóteses de resistir durante uma boa parte do tempo sem sofrer golos e espevitar ainda mais os índices de ansiedade dos portistas. Por isso, e mais do que nunca, o penalti madrugador era uma oportunidade de ouro, mas como ditará o corolário de uma qualquer lei de Murphy, também esse era um momento destinado ao fracasso. Assim sendo, o mais provável seria termos o que acabamos por ter. Ou seja, não forçosamente o nulo, mas um Porto incapaz de se encontrar de forma continuada enquanto o golo não aparecesse. E como ele não apareceu...

- Em termos de abordagem táctica, houve alguns pontos de interesse no jogo. Para mim, o mais interessante era ver James voltar a coexistir com Hulk e, em particular, até que ponto veríamos as suas dinâmicas por zonas mais interiores. Na primeira parte, essa mobilidade aconteceu, mas esta teve também um complemento do outro lado do campo, com Moutinho a abrir mais claramente à esquerda quando James abandonava o corredor. Uma complementaridade que me parece essencial para que o movimento faça sentido, não se perdendo a largura ofensiva com o apelo à mobilidade de James, que foi o que aconteceu várias vezes no passado. Na segunda parte, porém, a sua simetria com Hulk foi mais clara, e este tipo de movimentos interiores não se repetiu com tanta frequência. Foi um jogo pouco conseguido por ambos, especialmente por James, que não conseguiu nenhum desequilíbrio e se expôs em algumas perdas de maior risco pela sua propensão para aparecer mais cedo no jogo colectivo. De todo o modo, diria que descontando o momento colectivo e a sua pouca inspiração, me agradaram mais os movimentos dos extremos do que em outros jogos. Especialmente pela tal questão da preocupação com a manutenção com a largura e pela menor obcessão de trazer sempre James para dentro.

- A dificuldade que o Olhanense representa, em termos defensivos, tem a meu ver muito a ver com o bom bloqueamento lateral assim que a bola entra no bloco. Aqui, parece-me que houve alguma diferença de abordagem entre a primeira e segundas partes. Ou seja, na primeira parte, o Porto foi obrigado a ligar os corredores pela sua linha mais recuada, o que está perfeitamente previsto pela organização do Olhanense, conseguindo esta sempre um bom ajustamento lateral à circulação. Assim, o Porto raramente conseguiu chegar em boas condições ao último terço, na primeira parte. Na segunda, por outro lado, houve uma melhor circulação lateral, muitas vezes tentando ligações mais directas com os laterais, outras tentando ligar dentro do bloco algarvio, mas sempre com a preocupação de dar maior intensidade ao movimento. Creio que, depois, poderia ter sido explorada mais vezes a combinação nos corredores e o espaço entre o lateral e o central. O Porto conseguiu algumas boas situações de cruzamento com essas iniciativas, mas tentou-o poucas vezes. Há dois factores que me parecem ter contribuído para que o Porto não tivesse tido outro aproveitamento apesar desta melhoria na segunda parte. O primeiro tem a ver com a característica de Maicon, e o segundo, mais importante, com a própria ansiedade da equipa perante o correr do relógio, perdendo-se lucidez e qualidade.

- Abordar, finalmente, da aposta em Mangala. Percebe-se o potencial do jogador, pela idade, pela capacidade física e técnica. Percebe-se que jogar com um canhoto do lado esquerdo pode ser uma vantagem (ainda que a sua qualidade em posse não o justifique totalmente), e que é uma referência já para os lances de bola parada. Mas, pelo menos pelas observações que tenho, não posso concordar que represente uma mais valia em relação às opções do passado, Maicon e Otamendi. Em particular, à margem da estatura não me parece que represente qualquer mais valia em relação ao argentino. Aliás, o que Otamendi tem de pior, a propensão para o erro, Mangala partilha. Por outro lado, e embora seja menos talentoso, Maicon é mais sóbrio do que qualquer um dos dois, oferecendo mais garantias de estabilidade. Não será por aqui que se explicam os problemas, mas parece-me justo fazer esta referência porque, no meio de tanta rotatividade, o belga parece ter ganho um lugar bastante estável entre as primeiras opções.
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3.11.11

Feirense - Sporting: opinião e estatística

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- A vitória é importante porque esta era a última deslocação antes do primeiro clássico da "era Domingos". Esse, aliás, pode ser visto como um ponto potencialmente a favor do Sporting. É impossível fazer projecções muito apertadas para um tão curto número de jogos, mas é também inquestionável que as equipas de Domingos tiveram, no passado, uma capacidade de superação tremenda nos grandes momentos e nos grandes jogos. Este promete ser um campeonato de muito poucos pontos perdidos fora dos clássicos - sem surpresa, note-se - e, se assim for, o Sporting torna-se a meu ver um candidato não menos forte do que qualquer outro se as suas hipóteses do título forem discutidas no confronto directo.

- A vitória acabou por sorrir ao Sporting mas, tal como foi reconhecido por todos, não foi fácil. Desde logo, não foi fácil porque o Sporting não marcou tão cedo como vem sendo hábito e isso confere logo outra dificuldade ao jogo. Mas não foi só por isso. A meu ver, há dois factores que contribuíram para a menor capacidade do Sporting em se aproximar com o golo, sem que isso, no entanto, tenha implicado qualquer défice de controlo junto da sua baliza. O primeiro tem a ver com a postura do Feirense perante a organização do Sporting. Tal como noutros jogos, o Feirense apresentou dois jogadores a tentar condicionar o lado de saída na primeira fase de construção do adversário. Um, na linha entre os centrais, e outro, na zona do "pivot". Depois, condicionou também a ligação entre centrais e laterais, forçando uma ligação do central em posse com os elementos mais adiantados. Não entendo que tenha sido um condicionamento muito forte, e já vimos, por exemplo, o Benfica a passar facilmente "por cima" dele, conseguindo circular lateralmente na primeira fase. O Sporting não o fez, e isso penalizou o seu jogo, que gosta de circular lateralmente antes de entrar. Quando a bola saía por Onyewu, raramente teve qualquer sequência, com o central americano a jogar directo, mas sem qualquer propósito prático em praticamente todas as suas intervenções. Com Carriço há mais capacidade, mas o problema surge à frente, já que nem Capel nem Schaars oferecem uma dinâmica que permita grande qualidade na entrada do jogo por aquele corredor. Capel, recebe quase sempre de costas e transporta depois, Schaars raramente abre uma linha de passe útil dentro do bloco. Não é de hoje, é assim desde o inicio de época. A isto juntou-se um outro factor, que foi o facto do Feirense escolher a zona de Carriço para a sua construção longa. A consequência foi termos um jogo completamente centrado no lado esquerdo do Sporting, e isso representa logo um défice de qualidade no Sporting porque é à direita que está o seu maior potencial. Já agora, por isso é que vimos mais Insua e menos João Pereira, mais Schaars e menos Elias, mais Capel e menos Matias, mais Carriço e menos Onyewu. Destes, porém, apenas Carriço teve uma prestação verdadeiramente positiva nas acções ao longo do corredor, sobretudo as defensivas.

- Ainda assim, e apesar deste jogo emperrado à esquerda, o Sporting haveria de levar a melhor, essencialmente porque tem mais qualidade e porque foi sempre a equipa que, ainda que de forma descontinuada, se aproximou do golo. Aqui, na qualidade, parto para as minhas notas individuais, particularmente nas diferenças entre Elias e Schaars. É um caso curioso, de novo, a forma como estes jogadores são percepcionados. No comentário ao jogo do Porto escrevia sobre jogadores discretos, não por serem pouco participativos, mas porque têm uma aparição tão breve e eficaz que não damos por eles. Elias é um desses casos. Schaars é o contrário. Não neste jogo, porque houve o tal factor de "esquerdismo" no jogo, mas na média das prestações dos dois jogadores no campeonato, Elias tem +30% dos passes que Schaars completa a cada jogo, e uma percentagem de acerto quase 15% superior. Neste jogo, em concreto, Schaars interveio mais, mas foi um dos responsáveis pelo emperrar do jogo naquele corredor, já que o seu acerto no passe foi extremamente medíocre, numa tendência que se repete de outros jogos, e que não tem paralelo em qualquer médio, nem no Sporting, nem nos outros "grandes". Domingos, como já suspeitava, não percepciona ou não valoriza esta diferença (pode ser pela importância das bolas paradas), para mim abismal, de qualidade entre os dois, e abdica quase sempre do brasileiro quando tem de mexer no meio campo. Dito tudo isto, e porque o futebol é assim mesmo, a aposta em Schaars revelou-se acertadíssima porque haveria de ser o holandês a estar envolvido nos dois golos que ditaram a vitória leonina. Já agora, e porque não quero ser injusto na minha apreciação a Schaars, o seu aproveitamento em lances decisivos é até ao momento muito bom e se o mantiver seguramente que isso compensará o défice de consistência ao nível do passe, e, por outro lado, o seu envolvimento defensivo neste jogo foi também muito bom.

- Há ainda algumas notas individuais que não vou aprofundar, mas que deixo, ainda assim, uma breve consideração sobre cada uma. Sobre Onyewu mantém-se a dicotomia entre a mais valia da sua presença nas bolas paradas e a incapacidade no que resta do jogo. Rinaudo, que apesar de poder evoluir nas suas abordagens, continua a revelar uma presença extraordinária, tanto em posse como na reactividade defensiva. Que consequências terá a sua ausência? Matias, que revela um crescimento em termos de envolvimento e uma boa resposta no trabalho defensivo, sobretudo quando veio para o meio. Wolfswinkel, que me parece repetir em demasia o ataque ao primeiro poste nos cruzamentos, uma opção que em situações de maior densidade torna muito difícil o sucesso das suas acções nesta situação especifica (será propositado para abrir espaço atrás?). Carrillo, que mantém a inconsistência mas também os sinais francamente positivos em relação ao seu potencial como elemento desequilibrador.
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2.11.11

Benfica - Olhanense: opinião e estatística

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- Nova vitória tangencial, novamente com sentimento de segurança e, novamente também, sem uma grande capacidade para ultrapassar o bloco defensivo contrário. A dúvida persiste. É bom ganhar consecutivamente, é bom estar confiante, mas é incerto o que poderá fazer o Benfica quando o jogo não lhe for tão favorável como vêm sendo os últimos. Será a equipa capaz de acelerar os níveis de intensidade e agressividade ofensiva, fazendo valer a capitalização do seu bom momento emocional? Ou, pelo contrário, ficará presa à menor produtividade ofensiva e sempre refém da eficácia? Não se sabe. Querem mais indícios contraditórios? O Benfica de Jesus tem como traços marcantes características perfeitamente opostas a estas. Por um lado, a agressividade e capacidade ofensiva sempre foi uma característica, por outro, a resposta mental na adversidade nunca foi um ponto forte. Há, notoriamente, uma tentativa de corrigir os malefícios de um futebol eufórico, entusiasmante mas tantas vezes instável nos grandes momentos. Os resultados desse esforço, porém, ainda não são uma certeza...

- Não é normal, mas vou começar por abordar aspectos individuais, no que ao Benfica diz respeito. Na minha leitura, torna-se mais interessante abordar o curso do jogo pelo lado do Olhanense e, por isso, reservo essa opinião para os pontos seguintes. Em termos individuais, quero falar de três jogadores, Rodrigo, Witsel e Matic. Sobre Rodrigo, o destaque do jogo e a promessa do momento, tenho pouco de conclusivo a adiantar. O talento é evidente, mas de identificar talento a projectar rendimento, vai uma grande distância, sendo muito mais fácil a primeira parte da questão. Mais fácil, mas também de muito pouco valor acrescentado. Para já, é bom que Rodrigo tenha a capacidade de responder de forma positiva nas oportunidades que tem, mas não é minimamente conclusivo para o tempo de jogo que teve. Dá, também, para perceber traços do perfil enquanto jogador e, aqui, há uma clara diferença entre o seu caso e o de Cardozo, por exemplo, apesar do espanhol ser muitas vezes projectado como uma alternativa ao paraguaio. Rodrigo gosta da mobilidade e de se mostrar presente no jogo, Cardozo não faz questão. É uma tarefa difícil de gerir para Jesus, querer lançar Rodrigo ao mesmo tempo que tem dois jogadores com bom rendimento até ao momento, como Cardozo e Saviola.

- Sobre Witsel, a sua qualidade, sobretudo na capacidade extraordinária que tem para oferecer segurança a cada posse de bola fica evidente a cada jogo. A verdade, porém, é que o rendimento do belga está muito longe de ser óptimo ou dentro daquilo que o jogador realmente pode oferecer. Pelo menos, no que ao campeonato diz respeito, já que na Europa a sua produção tem sido significativamente superior. Para abordar esta questão, parto da sua produtividade ofensiva, no que respeita a golos e assistências. Se formos ver o seu perfil, quer no Standard, quer na selecção belga, Witsel esteve sempre acostumado a ser um jogador decisivo neste capítulo, e com grande regularidade. No Benfica, porém, isso não tem acontecido. Para além dos efeitos de circunstância, há uma explicação, obviamente. Ao contrário do que acontecia anteriormente, Witsel tem no Benfica uma missão que lhe exige presença constante no inicio de cada ataque. Baixa para receber, dar, mas com isto capta atenções sobre si e perde o timing de aparição, como elemento surpresa, numa fase posterior. A diferença nesta utilização do jogador não contrasta apenas com o histórico da carreira do próprio, mas também com a do próprio Ramires no Benfica, que tinha um envolvimento completamente diferente. E sabe-se como Jesus pensou em Ramires quando projectou a utilidade de Witsel. O belga pode ser catalogado como "jogador de transição", mas, na prática e ao contrário do que aconteceu com Ramires, pede-se-lhe que seja protagonista sobretudo em organização.

- Finalmente, Matic. O seu rendimento não é ainda tão constante como o de Javi, tanto ao nível do rendimento em posse, como da resposta defensiva. Não é, mas isso não impede que Matic protagonize já exibições com um nível de protagonismo e utilidade que raramente se viu no espanhol. Já Airton o conseguia no ano anterior, o que é uma evidência clara de como o Benfica pode e deve exigir-se mais para uma posição tão nuclear como esta. No que respeita a Matic, o seu principal problema tem a ver com o ajuste do critério em posse, relativamente às posições onde actua. É um jogador com maior potencial técnico do que Javi, isso é evidente, mas o seu perfil de decisão só lhe permite nesta altura ser uma mais valia em relação ao espanhol, quando tem a oportunidade de definir no último terço. Não porque Javi seja um exemplo a seguir no que respeita à segurança em posse (não é, de forma nenhuma), mas porque a segurança que Matic oferece em posse não é ainda melhor. E, é bom notar, a segurança em posse do pivot persiste como um dos grandes pontos fracos da equipa, havendo uma distância significativa para o que Porto e Sporting conseguem extrair das suas unidades para esta posição. De todo o modo, se Matic evoluir positivamente, sobretudo ao nível do critério em posse, pode facilmente suplantar Javi em termos de nível de rendimento.

- E agora, então, o Olhanense. Muito do que o Benfica não fez ofensivamente no jogo tem a ver com o perfil defensivo da equipa de Dauto Faquirá. Aliado ao facto do resultado se ter rapidamente precipitado para o conforto do 2-0, claro. Aquilo que observamos na generalidade das equipas que defrontam os "grandes", é que há uma qualquer tentativa de condicionar a primeira fase de construção, desde os centrais, ou mesmo do guarda redes. O que, porém, raramente produz grandes resultados. O Olhanense, por seu lado, não se exige a mesma profundidade defensiva, raramente condiciona a primeira fase de construção, nem sequer tentou obrigar o guarda redes a bater longo. Já agora, um dado que ilustra bem a ausência de presença da equipa de Olhão na pressão sobre a primeira linha são os dados de Artur, que teve os menores índices de participação, com os pés, de qualquer guarda redes dos 3 "grandes" no campeonato. Nem o Benfica foi forçado a jogar com o seu guarda redes, nem este a bater longo. Ora bem, o que fez o Olhanense foi concentrar a sua atenção na segunda fase ofensiva do Benfica, aproximando as duas linhas mais recuadas, tentando não baixar demasiado a sua última linha, mas garantindo sempre a presença das duas linhas entre a bola e a baliza. Aqui, sobretudo, o destaque vai para o condicionamento e bom ajuste à circulação larga na primeira fase de construção, não permitindo a entrada do jogo pelos laterais, como acontece muitas vezes. As excepções, os golos, surgem na sequência de uma circulação à largura, mas nesses casos ela aconteceu numa segunda linha ofensiva, dentro do bloco, expondo imediatamente o controlo dos espaços laterais na última linha. O problema do Olhanense, porém, surgiu no momento de transição defesa-ataque, já que raramente o protagonizou com qualidade suficiente para ultrapassar a barreira de reacção do Benfica. Um ponto que deve ser revisto, sem dúvida, mas de todo o modo parece-me já interessante reflectir sobre os resultados da organização defensiva de Dauto, que não são de hoje e que aparentam ser bem melhores do que a generalidade das equipas da mesma dimensão (sobretudo fora de casa). Vem aí mais um teste, na recepção ao Porto...
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