23.8.10

Nacional - Benfica: Análise, número e vídeo

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Começou por ser uma pequena chuva de Verão, mas agora já ninguém sabe bem que consequências terá esta tempestade na época encarnada. Na Madeira o Benfica tentou reagir, e esteve em vários parâmetros melhor do que frente a Académica – o que também não era difícil – mas acabou por sucumbir ao primeiro revés. Aliás, o que aconteceu a seguir ao primeiro golo, com uma quebra notória de rendimento e estabilidade emocional, pode ser perfeitamente encarado como um sinal da ameaça que representa esta herança de 6 pontos perdidos. A pressão. Se já identificara o problema psicológico como o busílis desta inesperada questão, pois bem, o melhor mesmo é Jesus esquecer as suas reflexões sobre tácticas e sistemas para se debruçar sobre o problema mental que a sua equipa tem pela frente. É que boas equipas, sem confiança... não conheço nenhuma!

Notas colectivas
Aquilo que marcou o pós-jogo foram os lances dos golos. Posso começar por aí. Sobre o segundo, não tenho nada a acrescentar ao óbvio, mas sobre o primeiro, há algum mistério. Mais do que discutir o peso da responsabilidade de cada um, é para mim relevante perguntar porque é que o Benfica defendeu homem a homem naquela situação? Posso estar enganado, mas não me lembro de alguma vez essa ter sido a opção. Aliás, poucos minutos depois há um livre idêntico e a zona foi de novo opção. Um mistério, portanto.

Os golos tiveram uma influência importante no jogo. Antes deles, nada fazia prever que fosse o Nacional a marcar e, depois deles, até podiam ter acontecido mais. Coisas normais no futebol, onde o golo é o centro do jogo e das emoções dos intervenientes. Sobretudo, para uma equipa num momento de baixa confiança.

Onde melhorou o Benfica? Bom, sobretudo na influência de Aimar e Saviola. Quer um, quer outro aproximaram-se bem mais daquilo que podem e devem render, e o Benfica subiu com eles. Tão simples quanto isto. Mais solícitos e bem mais assertivos do que frente a Porto e Académica. Se o Benfica pensa numa recuperação a sério, esta terá de passar por uma subida destes 2. Isso parece-me estar mais do que visto.

Mas, se a equipa esteve melhor e mais dinâmica com bola, não teve uma grande capacidade noutras áreas do jogo, onde poderia ter ganho maior domínio. O seu pressing voltou a não ter o impacto que tantas vezes se lhe pede e o Benfica teve dificuldades em provocar perdas ao adversário para encontrar momentos de transição que facilitassem o desequilíbrio. Conseguiu alguns, como os que terminaram nas ocasiões de Gaitan e Cardozo, mas não foram muitos.

Outros aspectos que contribuíram para o menor peso do domínio em certos períodos foram a dificuldade de controlar o jogo de primeiras e segundas bolas que o Nacional forçou e, também, alguma incapacidade para manter o jogo mais constantemente no meio campo contrário, através de uma melhor reacção à perda de bola. Permitindo que o Nacional saísse, permitiu igualmente que o jogo se dividisse em muitos períodos. O Benfica foi melhor e traído pela eficácia, não nos equivoquemos, mas não ainda dentro dos patamares da época anterior...

Uma palavra para o Nacional, que fez um óptimo jogo. Poucas vezes se desequilibrou, acumulou poucas perdas, e foi muito forte no jogo de primeiras e segundas bolas que estrategicamente escolheu para abordar a partida. Depois, parece haver, de novo, uma boa fornada de qualidade a aparecer na Choupana. Diz muito o facto de ter no banco Mateus e João Aurélio...

Notas individuais
Antes dos números, uma nota sobre a importância do capítulo individual e de se conhecer bem o perfil psicológico dos jogadores. Nos momentos bons, tudo é fácil, e é nos maus que as personalidades se radicalizam. Jesus deve, nesta altura, esquecer um pouco o lado técnico e olhar mais para o lado psicológico dos seus jogadores, na hora de escolher. E isso pode ser decisivo para o futuro da temporada.

Mais uma vez, os números reflectem bem o que se passou. A influência de Saviola e Aimar e a importância dos laterais, no lado positivo. Aliás, creio que tirar Maxi se justificou pouco, face ao rendimento que vinha tendo. Afinal, que garantias dá Ruben Amorim de ser melhor naquela posição?!

Nos mais fracos, há que falar de Javi Garcia. Muito do que faltou ao Benfica em termos de domínio, passou pela incapacidade que o espanhol teve para se impor na sua zona. Os seus números não são maus, mas face à exposição que teve era importante que tivesse tido outra preponderância no jogo. Quer no espaço aéreo, quer no bloqueio do primeiro passe de transição do adversário.

Depois, Gaitan. Esteve nos desequilíbrios da equipa e isso é importante, mas numa fase de crescimento seria importante que acertasse mais, assumisse menos riscos e crescesse progressivamente com a confiança. Não é isso que está a acontecer e o aproveitamento do seu talento permanece sob ameaça, especialmente quando a sua integração coincide com uma fase negativa da equipa.

Estes reparos nada têm que ver com aquilo que há para dizer sobre Cardozo. É o terceiro jogo consecutivo em que tem uma prestação difícil de qualificar. Tenho vindo a solidificar a minha opinião sobre a sua fraqueza em termos mentais, pelo pouco carácter que vem denotando. Um jogador com o seu estatuto teria de aparecer muito mais e sobretudo nos momentos maus. Não é isso que acontece, Cardozo esconde-se e quando aparece tem uma eficácia lamentável nas suas acções.

Finalmente, falar sobre Carlos Martins. Ao contrário de Cardozo parece não temer o momento. Pega no jogo e assume a responsabilidade, mesmo que possa errar. Não é pelo golo, já o havia escrito antes, mas... o que faz Martins no banco num momento como este?!


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