18.8.10

Paços - Sporting: Análise, números e vídeo (II)

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Vídeo: os 3 cruzamentos
Para quem viu o jogo, não passou em claro o carácter repetitivo da jogada. Cruzamento tenso e rasteiro de Manuel José, a pedir um desvio entre o guarda redes e os centrais. Nos 2 primeiros falhou, mas à terceira foi de vez. Na verdade, e apesar da repetição, os casos não são exactamente idênticos. Dois aconteceram em transição e o terceiro em ataque posicional. Na soma, porém, vislumbram-se bem os problemas do funcionamento da linha defensiva do Sporting. Problemas que, diga-se, são sobretudo colectivos. Outro dado importante é o mérito do cruzamento e de quem o faz: Manuel José.


No primeiro lance, existe uma perda evitável após uma variação de flanco não muito aconselhável. Ainda assim, é neste lance que mais se percebe como a defensiva leonina está pouco vocacionada para assumir riscos na linha do fora de jogo. O baixar imediato do trio defensivo pode parecer prudente, mas acaba por trazer mais risco do que segurança. Isto porque, ao recuar, a linha defensiva abdica de tentar controlar a jogada em termos de espaço e tempo. Ou seja, o ataque tem mais espaço para definir o passe e pode escolher a velocidade que quer dar ao lance, não sendo obrigado a decidir rapidamente. Nestas condições, é mais difícil, quer para o meio campo recuperar o posicionamento defensivo, quer para os próprios centrais controlar uma jogada que acontece em velocidade e numa área enorme de campo.

No segundo lance, grande parte do mal acontece na atitude de Evaldo. A forma como aborda a dividida só é possível caso tenha a certeza de que a vai ganhar. Caso contrário, e como aconteceu, perde não só a bola mas, mais ainda, a sua capacidade de recuperação. Depois, o único comentário que há a fazer vai para o posicionamento no centro do terreno. Embora defenda que a defesa se deva manter em linha dentro da área, não concordo que esta seja definida pelo posicionamento da bola em cruzamentos que não sejam já próximos da linha lateral. Uma margem de 1-2 metros será o ideal neste caso. O que é mais preocupante, porém, é que este comportamento parece apenas ocasional, já que não foi repetido noutras ocasiões.

Finalmente, no lance do golo, a origem deve ser muito mais centralizada na zona do cruzamento. Aí é que o Sporting tinha superioridade numérica, sendo proibido que, nessas condições, seja permitido tanto espaço para cruzar. Postiga, como mostra o vídeo, terá sido o mais displicente de todos.

Ainda assim, Nuno André Coelho não deixa de merecer responsabilização. Primeiro, o tal pormenor de ter tido uma opção diferente daquela que havia escolhido apenas há minutos atrás. Mas isso demonstra mais anarquia do comportamento colectivo, do que responsabilidade individual. A nota de culpa para o central vai para a forma como abordou o lance. Teria de controlar o espaço entre si e o atacante, mas, ao mesmo tempo, garantir que não perderia a frente do lance. Entre as referências zona e homem, N.A. Coelho não podia ignorar qualquer uma que fosse, tendo ainda de manter os olhos sobre a bola. Não era fácil, é certo, mas também se pode facilmente perceber que deveria e poderia ter feito bem melhor. Já agora, e para terminar, uma nota sobre a especificidade do avançado. Rondon não é um jogador muito alto, daí que o risco da antecipação talvez fosse maior do que perder o controlo sobre as costas. Simples agora, bem mais do que quando se tem de avaliar e decidir em segundos...

Estatística individual
A primeira nota vai para a novidade do site da Liga, com estatísticas em tempo real. É uma novidade muito interessante, embora para mim não possa substituir o que venho fazendo. O motivo é simples, não sei o que realmente medem os indicadores apresentados. É por isso que ler estatísticas em futebol se torna complicado, porque o critério não fica explicado apenas pela nomenclatura e, salvo melhor explicação, só quem faz a estatística percebe realmente o que está a medir. Outra nota para algumas divergências em alguns números. É normal que existam, mas há também discrepâncias que não se justificam (individualmente, porque colectivamente, os números são muito semelhantes). Acredito muito na tecnologia e não tenho dúvidas que tem mais potencial para não errar, mas posso garantir, por exemplo, que João Pereira não fez 63 passes certos, nem Liedson 23.

Em relação aos números, começo por destacar a elevadíssima participação dos centrais leoninos. Mostra, por um lado, que o recurso ao jogo directo foi recorrente por parte do Paços e, por outro, que os centrais tiveram uma grande capacidade para dominar a sua zona perante esse recurso. Ou seja, os erros que venho apontando não parecem ser o espelho de uma limitação individual, mas sim de um défice de coordenação e orientação colectiva.

Há, aqui, um caso que merece nota: Polga. É um jogador vulgarmente criticado – eu me incluo aqui – e que muitas vezes não se compreende o porquê da insistência na sua utilização. Aqui entramos na virtude e limitação deste método. Ou seja, o método mostra-nos a influência positiva de Polga no jogo, o que oferece a sua capacidade de leitura, posicionamento e antecipação. Não dá, no entanto, para enquadrar Polga no problema táctico da última linha da equipa, sabendo-se da sua dificuldade em jogar alto e com o fora de jogo. É um bom exemplo da utilidade e enquadramento do método na análise. E não, como tristemente foi confundido por alguns, como um juízo absoluto do rendimento individual.

Outro caso a abordar é Carriço. A sua presença no meio campo entende-se na perspectiva de que o Paços jogaria – como jogou – de forma directa. Retira qualidade em algumas vertentes à equipa, mas parece-me acertada a opção de Paulo Sérgio em termos de opção individual. Aliás, muito desse acerto vem da própria qualidade do jogador que, apesar de jogar “fora de água”, manteve um rendimento e eficácia extremamente elevados.

Sobre Valdes, reforçar que deve ser entendido à luz das suas características. Tal como referi aqui aquando da sua contratação, é um jogador muito forte em termos técnicos, sobretudo no 1x1, mas que tem dificuldade em termos de intensidade, quer nos momentos defensivos, quer quando se lhe pede para encontrar espaços para aparecer. Talvez tenha sido forçada a mudança táctica ao intervalo, mas a introdução do chileno no 11, e neste jogo, parece-me um erro evitável à partida.

Finalmente, Postiga. Talvez esteja aqui a grande oportunidade para se relançar. Tem um problema óbvio com a pressão de finalizar (não por este jogo), e acaba por falhar bem mais do que seria expectável. Não é um problema mecânico, é um problema mental, que tem a ver com a envolvente e a especificidade da pressão em ambiente de jogo. Ou seja, não se corrige com o treino. Por outro lado, tem uma grande capacidade para jogar em zonas mais interiores, onde se movimenta bem e decide melhor. Não tem a criatividade de uns, mas pode dar, por exemplo, uma vantagem importante nas primeiras bolas na zona à frente dos centrais. O que eu estou a sugerir – outra vez! – é que seja testado mais vezes e mais tempo nas costas do ponta de lança, que sirva de referência para o apoio frontal e que lhe seja retirado o peso da camisola 9. Até agora, e nesta época, respondeu sempre bem à chamada nestas circunstâncias.

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