Notas colectivas
Frente ao Benfica, o Porto dominou pelo pressing estratégico que impôs à construção encarnada. Agora, o que fazer se o adversário não quiser construir? Esse foi o problema portista. Sem surpresa, a Naval começou por recorrer a uma abordagem directa para evitar enfrentar o pressing azul. Para levar a melhor, o Porto teria de ganhar a segunda bola no seu meio campo defensivo e, depois sim, fazer o seu jogo. Não foi fácil, e por diversos motivos. Primeiro, e na origem, a recuperação, na resposta ao jogo directo da Naval nem sempre funcionou. Depois, mesmo quando recuperava, nem sempre o primeiro passe saiu, o que poderia até ter custado outro preço, se algumas perdas tivessem tido outro aproveitamento. Finalmente, quando saiu desse primeiro passe, foi sempre difícil ligar o meio campo com o trio da frente.Face a estas dificuldades, tivemos um deserto de oportunidades durante praticamente 1 hora de jogo. Depois, o Porto entrou no seu melhor período. Por desgaste da Naval, que começava a perder mais duelos no “miolo”, porque Hulk se tornou mais difícil de controlar e, sobretudo, porque a alteração de estrutura para o 4-4-2 facilitou a criação de apoios e aumentou os elos de ligação entre o meio e a frente. Ainda assim, diga-se, poucos foram os lances verdadeiramente perigosos junto da baliza da Naval e é muito duvidoso que a vitória sorrisse sem o lance da grande penalidade.
Enfim, para já temos uma vantagem prematura que oferece também a primeira liderança em termos de níveis de confiança. Porém, as reticências daquilo que se vira em Paris mantêm-se. Ou seja, este não é ainda um Porto que garanta um melhor rendimento em relação ao passado. Há aspectos que precisam de ser trabalhados: a sua ligação precisa de ser melhor, o seu pressing precisa de produzir mais perante equipas que não assumam tanto a construção e há também a questão dos centrais, onde me parece que seria benéfica a introdução de um elemento com mais qualidade.
Notas individuais
Há dois casos que ajudam a perceber o jogo e as dificuldades portistas: Fernando e Falcao. Em ambos os casos, estamos perante jogadores muito participativos, com Fernando a ser regularmente o mais interventivo do colectivo, e Falcao a ter um peso grande no jogo, para além da finalização. Ora, isso não se passou neste caso, podendo ser feita uma ponte entre este dado estatístico e o rendimento colectivo.No caso de Fernando, podemos ligar essa dificuldade de se impor no jogo com a dificuldade que o Porto teve em dominar o jogo de primeiras e segundas bolas à frente da sua área. É verdade que foi melhorando – e a equipa com ele – ao longo do jogo, mas demorou mais de 20 minutos para que Fernando tivesse a sua primeira intercepção na partida, o que é sintomático.
O caso de Falcao leva-nos à ligação entre meio campo e ataque. Poucas vezes foi solicitado o seu apoio frontal e esse será um aspecto a melhorar no futuro, porque o colombiano é normalmente garantia de uma boa ligação quando a bola passa por ele. Desta vez, para além de não ameaçar junto da baliza, esteve também muito ausente dessa ligação. Tal como no caso de Fernando, a equipa sentiu-o.
Falar, para terminar, de Belluschi. Voltou a evidenciar uma capacidade interventiva elevada, mesmo não estando especialmente inspirado. É um dado importante – muito! – para quem joga naquela zona. Acredito que a sua substituição não foi benéfica em termos de opção individual, mas tenho-lhe um reparo a fazer. Mais do que a inspiração na criação, é importante que Belluschi reveja a certeza no passe. É que não está a jogar tão perto da área contrária como foi habituado durante tanto tempo na sua carreira. Se melhorar nisto, e mantendo outras indicações, pode ser um dos craques do campeonato.