31.1.11

Sporting: (des)organização colectiva e potencial individual

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Não vou fazer análises mais detalhadas aos jogos do fim de semana, mas não quero deixar de utilizar o lance que dá origem ao segundo penalti na Amoreira. Na semana anterior, falava da importância do espaço entre linhas e de como algumas equipas – no caso, o Porto – se preparam ofensivamente para conseguir libertar um jogador em posse nessa zona. Pois bem, neste caso é possível ver como facilmente o Sporting fica exposto precisamente no mesmo espaço. A questão, no caso do Sporting, não tem a ver com uma má protecção específica a esse espaço, mas com os problemas da equipa em todo o momento de organização defensiva. E este é um lance paradigmático disso mesmo.

1 passe chegou
Não é preciso ser uma equipa “grande”, ou, sequer, ter uma ambição enorme. Qualquer equipa que pretenda ter qualidade colectiva tem de se questionar como é que, a partir de uma falta no meio campo adversário – o que supostamente permite uma reorganização posicional – a equipa se expõe desta forma após apenas 1 passe. Não faz sentido, por exemplo, que, perante isto, que se coloque um ênfase tão carregado nas prestações individuais dos jogadores. Sobretudo no capítulo defensivo, que é aquele que mais depende da organização colectiva.

A lacuna não tem apenas a ver com a protecção do espaço entre linhas, mas vê-se também na forma como a equipa não consegue, através da pressão colectiva, tirar partido de um drible, largo, do lateral em direcção à zona central, que é sempre uma oportunidade “de ouro” para provocar uma situação de transição, em equipas com uma pressão colectiva forte.

Como se não bastasse todo o comportamento até ao último passe, ainda vemos que há uma descoordenação na última linha, que acaba por viabilizar o isolamento do avançado.

Defesas centrais e a qualidade individual vs. Organização colectiva
Podemos começar com alguns números: entre os 3 “grandes”, e para o campeonato, os centrais do Sporting são aqueles que mais intercepções fazem por jogo. Que significa isto? Bom, não há uma conclusão linear a tirar, mas, tendo em conta que a defesa do Sporting não se distingue dos seus rivais pela eficácia defensiva, deverá querer indicar uma maior exposição dos jogadores que jogam nessa zona. E é isso que realmente observamos.

Qualquer organização defensiva depende muito da coordenação defensiva dos seus centrais e, para isso, é de evitar que tenham de sair da sua zona para fazer contenção num espaço mais adiantado. Algo que deve ser conseguido pela equipa, mas que no caso do Sporting falha com demasiada recorrência. É fácil, durante um jogo, vermos situações em que os centrais são obrigados a sair para fazer contenção, acabando por desfazer o posicionamento ideal e comprometendo a segurança da própria equipa.

E é a partir desta constatação que volto a realçar a importância de não se fazerem juízos demasiado pesados sobre competências individuais em jogadores que não actuam em equipas bem organizadas. Sobretudo ao nível do potencial.

Na minha perspectiva, o potencial dos jogadores defensivos deve incidir pouco numa apreciação da sua capacidade posicional. Porquê? Porque esse é um tipo de competência que – ao contrário do capítulo técnico, por exemplo – pode ser rapidamente desenvolvido e melhorado. Basta, para isso, que haja competência de quem treina e vontade de quem queira aprender. Não é certo que aconteça, mas estamos todos cansados de conhecer casos de jogadores que, de repente, melhoraram imenso quando se cruzaram com certos treinadores.

Casos como Nuno André Coelho e Torsiglieri são, a meu ver, exemplos disso mesmo. É fácil reconhecer-lhes potencial em variados aspectos, mas falta-lhes um melhor enquadramento colectivo para perceber exactamente até que ponto podem ir. O que é errado, é colocar sobre estes – ou outros – jogadores uma responsabilidade individual de um problema que é colectivo.
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Taça da Liga e outros temas (Breves)

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- Na Taça da Liga, e no meio de vários jogos sem grande interesse competitivo, o destaque principal vai para a confirmação do Paços de Ferreira na meia final, repetindo aquele que foi, provavelmente, o jogo mais bem sucedido da sua história: quando garantiu, na Choupana e pela mão de Paulo Sérgio, uma improvável chegada ao Jamor. São os créditos do extraordinário momento que viveu neste inicio de ano. Em contra ciclo, a frustração bracarense, pagando caro numa prova em que parecia apostar e ter tudo para ser um forte candidato à final.

- Ainda sobre a Taça da Liga, deixo uma nota de opinião sobre a forma como continua a ser tratada esta competição: Encara-se a Taça da Liga em Portugal como se ela fosse a francesa ou a inglesa, mas isso é um disparate. Porquê? Porque, nem Portugal tem o "mercado" desses países, nem o nosso calendário competitivo tem sobrecarga suficiente para que se considere esta uma prova para "gerir". Os clubes não têm motivos desportivos para não "atacar" este título e - muito menos - uma situação financeira que lhes permita andar a despromover publicamente um produto que, afinal, é o seu. Estão a ver uma empresa à beira da falência a dizer mal do seu próprio produto? É mais ou menos o mesmo...

- Cruel! É o que se pode dizer da lesão de Emídio Rafael. Não teve uma entrada fácil na equipa, mas vinha evoluindo muito bem nos últimos jogos. É um caso que me parece semelhante ao de Sapunaru. Não pelas características, mas pelo facto de não ter, a meu ver, condições "naturais" que lhe permitam uma afirmação fácil num clube com as exigências do Porto. No entanto, e tal como vem acontecendo com o romeno, poderia ser capaz de tirar partido da boa organização colectiva para fazer uma evolução que potenciasse as suas virtudes e escondesse as suas fraquezas. Para que tal acontecesse, porém, seria preciso tempo e continuidade na evolução. Daí a crueldade: é que não é certo que volte a ter uma oportunidade como aquela que estava a ter com a lesão de Álvaro Pereira...

- Uma nota sobre a derrota do Real. Não é um falanço de Mourinho nem, tão pouco, do próprio Real. É, antes sim, a confirmação de que seria praticamente impossível acompanhar o ritmo de uma equipa de outra galáxia. Pelo menos a nível de campeonato, porque em provas a eliminar a história pode ser sempre diferente. A questão é, agora, óbvia para todos: Estarão Real e/ou Mourinho interessados na continuidade?

- Sobre o mercado, escreverei no final.

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28.1.11

Porto (ataque posicional): dos corredores para o meio

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Se há momento de jogo em que é fácil encontrar elogios para o que o Porto nos tem apresentado, é na sua organização ofensiva. São vários os pontos por onde poderia pegar e, possivelmente, no futuro outros serão igualmente abordados. Para já, porém, trago 4 lances protagonizados nos últimos 2 jogos: frente a Beira Mar e Nacional. Lances que ilustram movimentos intencionais de recurso aos corredores como forma de abrir espaços em zonas centrais.

O denominador comum mais relevante é o facto de, no final das combinações que acontecem nos flancos, o portador da bola se encontrar de frente para o corredor central, mas sem qualquer pressão e com total liberdade para definir o tempo e direcção de passe. O “tempo”, aqui, é muito importante porque uma defensa só pode controlar posicionalmente o espaço se houver um condicionamento do tempo de passe. Por isso é que se constata a importância decisiva de uma presença permanente em termos de “pressing”.

Não creio que estas combinações tenham um objectivo único, limitado à exploração do espaço central por arrastamento do médio. Isso seria obviamente redutor, devendo uma equipa ter a capacidade de explorar a melhor das soluções encontrada ao longo de um lance e não focalizar-se apenas numa. Por melhor que ela possa ser, essa obsessão conduzirá sempre a uma previsibilidade para quem defende. Tudo dependerá sempre do espaço que a defensiva contrária libertar. No entanto, é claro que conseguir o arrastamento do “pivot” e libertar o espaço central, será sempre o desfecho ideal para estas acções.

De assinalar que no último lance coloquei propositadamente no vídeo toda a construção do lance e não apenas a parte relevante para o ponto deste texto. Propositadamente, porque na construção se revela a paciência e o critério, característicos da forma como o Porto gere a sua posse de bola. Aqui reside uma das mais interessantes diferenças entre o que fazem Benfica e Porto. Mas esse será um tema que guardo para outras ocasiões.

Nacional e Beira Mar
Uma nota sobre o papel defensivo de Beira Mar e Nacional. Muito melhores os aveirenses. Já tinha referido a vulnerabilidade do desposicionamento de Djamal e isso é evidente nestes lances. Quando o “pivot” sai para pressionar, abre um espaço nas suas costas, que não colmatado. Outro problema do Beira Mar, foi o espaço entre centrais e laterais, abrindo-se frequentemente uma área demasiado dilatado e com os laterais a não terem a preocupação de dar a prioridade à zona central. De elogiar, porém, o posicionamento relativo entre centrais (Kanu e Hugo), sempre preocupados em manter proximidade, assim como da consistência da linha defensiva.

Já o Nacional, sendo mais ambicioso em termos de “pressing” alto, nem por isso foi mais organizado. Pelo contrário, aliás. Como é visível no vídeo, alguns ajustes posicionais não parecem muito úteis à manutenção do equilíbrio colectivo, acabando por perder o controlo sobre lances e zonas em que dispunha de uma superioridade numérica clara. Notou-se também alguma dificuldade na sintonia do posicionamento defensivo, nomeadamente da sua última linha.
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26.1.11

Vitória do Porto e clássico à vista (Breves)

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- O jogo já se esperava, quase por natureza, desequilibrado. Marcando praticamente a abrir, mais desequilibrado ficou. O Nacional visitou Luz e Dragão em poucos dias e, embora não se possam retirar conclusões lineares do que mostram as partidas, é interessante comparar o tipo de jogo que tivemos. Em ambos os casos, o jogo ficou resolvido com a ajuda de um eficácia madrugadora, e tanto Benfica como Porto mostraram grande superioridade, encontrando com regularidade o caminho do golo. A diferença maior está no controlo que o Porto sempre manteve e que o Benfica não foi capaz de garantir, apesar de ter todas condições para tal. Não é, a meu ver, uma questão de qualidade, mas muito mais de estratégia e critério. Noutro âmbito, tinha realçado o tipo de movimentos que Hulk havia protagonizado em Aveiro, mais próprios de um 9, e eis que, dias mais tarde, essa evolução se confirma.

- Entretanto, na Taça, mais anormal do que um jogo ter 4 penaltis, é 3 serem falhados! De resto, sem surpresa, dado o momento, passou o Benfica. Pessoalmente, saúdo a meia final a 2 mãos entre Porto e Benfica. Por várias vezes - e há muito tempo - tenho defendido que o futebol português precisa de ajustar o seu modelo à sua dimensão e que só assim garantirá o acréscimo de competitividade e interesse de que precisa para fidelizar adeptos cada vez mais tentados por outras ofertas. Para já, é bom perspectivar 2 jogos tão cativantes como os que se avizinham.

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Marítimo - Sporting: Análise e números

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Haverá, na minha perspectiva, poucos jogos tão fracos como este em termos de dinâmica e estratégia colectiva. Acabou por levar a melhor o Sporting, graças a uma assinalável diferença de eficácia, mas também porque durante toda a primeira parte, e apesar de tudo, acabou por ser a única equipa com algum esboço de intenção de perturbar o jogo do seu adversário. Tem, por isso, muita culpa própria o Marítimo no destino que lhe calhou. O facto é que jogavam duas das equipas tecnicamente mais fortes do campeonato e o que se viu foi um desperdício mútuo, onde, no final, sorriu o Sporting.

Notas colectivas
Não quero escrever muito sobre o jogo, porque me parece desinteressante e pouco merecedor de grande atenção. Ainda assim, destacar a opção estratégica do Sporting em jogar numa estrutura mais densa em termos de presença de meio campo, mas onde a dinâmica com bola era tão escassa que a equipa parecia estar sempre em organização defensiva, mesmo quando tinha a bola. Isso não impediu, porém, que fosse o Sporting quem mais tentasse pressionar e condicionar o jogo do adversário. Quanto ao Marítimo, de facto, fica difícil perceber o que quis fazer. Manteve um jogo demasiado posicional e pouco agressivo sem bola, permitindo que o Sporting jogasse facilmente em zonas baixas e não potenciando os problemas da má dinâmica da equipa de Paulo Sérgio, com bola. Quando tinha a oportunidade de jogar, não demonstrou qualquer arrojo na circulação, acabando por ser condicionada por uma pressão do Sporting, que nem sequer era muito agressiva. Exigia-se mais também do Marítimo, que teve a infelicidade de sofrer um golo numa primeira parte nula de ambas as partes, é verdade, mas que – e como se viu na segunda parte – se tivesse mais agressividade e arrojo, poderia facilmente ter submetido o Sporting a vários problemas.

Sobre o Sporting, e numa observação menos centrada neste jogo, é curioso observar como a equipa se desvia, hoje, tanto das ideias que o seu treinador pareceu querer implementar no inicio de época. Começou por tentar uma linha defensiva agressiva, mas não conseguiu, acabando por apelar de novo à dupla Carriço-Polga e a um comportamento menos agressivo da sua linha mais recuada. Em termos defensivos, aliás, não é difícil perceber o porquê de tanta dificuldade de potenciar os centrais que tem ao seu dispor. Basta ver a facilidade com que são atraídos para fora da sua zona.

Mas também em termos de ideia ofensiva, a equipa é cada vez mais um improviso. No inicio de época, havia a intenção clara de fixar o ponta de lança em zonas centrais e fazer uma circulação à largura, que ligasse corredores à procura de cruzamentos. Hoje, a circulação depende de quem está e da estrutura, que também oscila. Liedson voltou a ser móvel e os rasgos não vêm dos cruzamentos, mas daquilo que a mobilidade e qualidade de Valdés vai conseguindo.

A coisa menos inteligente que Paulo Sérgio tem para fazer em relação à sua carreira é achar que esta oportunidade falhou por culpa de factores que não têm a ver com ele. Essa é a via certa de quem não quer evoluir.

Notas individuais
Rui Patrício – Foi, talvez até mais do que Zapatar, o herói do jogo. Patrício é já um bom valor e uma aposta que merece continuidade. Como já referi noutras ocasiões, seria um disparate, depois de todo este esforço, não dar seguimento ao seu desenvolvimento. Não me tenho procurado especializar muito na avaliação de guarda redes, mas sei que há sempre um exagero nas apreciações que lhes são feitas. Um grande guarda redes vê-se mais na ausência de erros do que em exibições brilhantes. O mesmo é dizer que Patrício precisa de continuar a evoluir.

João Pereira – Mesmo jogando à direita, tem uma enorme influência no jogo da equipa, pela facilidade com que se integra com bola nas acções ofensivas. Não está bem aproveitado – basta contar as poucas vezes em que a equipa o utiliza no último terço – e tem algumas debilidades em termos defensivos. Mas é o melhor lateral direito deste campeonato e uma mais valia clara para a equipa.

Evaldo – Dado o histórico de laterais esquerdos nos últimos anos, Evaldo e a sua regularidade são até uma boa novidade para o Sporting. Mas, de facto, continua a ser quase ridícula a forma como não se consegue impor nas suas acções. Não compromete, mas, para se ter uma ideia, Torsiglieri jogou cerca de 1/3 do tempo e conseguiu praticamente o mesmo número de intercepções.

Polga – O Marítimo facilitou-lhe a vida porque permitiu jogar facilmente em várias ocasiões. Mas sempre que tentou o passe longo, foi um desastre. É um jogador experiente e tem, como já realcei, qualidades raras, mas precisa de ter um jogo, quer ofensivamente, quer defensivamente, mais calibrado. Algo que, como já se percebeu, não acontecerá com Paulo Sérgio.

Pedro Mendes – Regressou e, jogando na posição em que jogou, foi de novo a placa giratória do meio campo. Isso, e a falta de pressão dos madeirenses, explica o elevado número de passes que conseguiu. Mas Mendes não está ainda no nível que dele se espera. Falhou demasiadas vezes quando tentou passes mais difíceis e também não teve uma presença muito dominadora em termos de recuperação. Seria bom que jogasse com mais regularidade.

André Santos – Não está, de facto, numa boa fase e a aposta nele só se explica pela juventude e necessidade de o fazer jogar. Comparativamente com Zapater, teve uma utilidade muito baixa, notando-se muito a diferença de percepção posicional em relação ao espanhol (não tem a ver com os golos). Para evoluir é importante jogar, mas não menos importante é ganhar cultura posicional e capacidade de integração ofensiva sem bola.

Zapater – Não é apenas a eficácia ofensiva que faz dele o melhor em campo. Bem posicionalmente e beneficiando do ritmo lento do jogo, antecipou sempre correctamente onde devia estar – o que lhe valeu, também, os golos conseguidos – e o tempo das suas acções. Não merecia ter sido ele a sair do onze depois do jogo frente ao Braga, e confirma agora o seu bom momento.

Liedson – No inicio de época aparecia preso na área, o que o impedia de ser ele próprio. Jogando mais livre, torna-se um jogador verdadeiramente difícil de parar. Quer sem bola, onde mantém uma utilidade invulgar para um avançado, quer com ela. É certo que não é jogador forte e constante em termos de decisão em zonas mais longe da baliza - muitas vezes parece mesmo contra producente. Mas é um jogador sempre muito imprevisível e que ganha muito por abordar as zonas de finalização vindo de fora, não dando possibilidade aos defensores de definir a marcação. O rendimento de Liedson depois da saída de Paulo Bento caiu, não porque estivesse "acabado", mas porque a exploração das suas características deixou de ser a mesma.

Djalma – Pode ter explosão e qualidade de definição. Pode até ser um jogador com capacidade de trabalho. Com o tipo de decisões que tem em espaços mais densos, porém, dificilmente triunfará numa patamar mais elevado.
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25.1.11

Benfica - Nacional: Análise e números

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A nova era de goleadas mantém-se na Luz. Desta vez, porém, com um sabor mais agridoce do que noutras ocasiões. É que, ao contrário de outros jogos, em teoria até mais difíceis, o Benfica consentiu demasiado ao adversário, acabando por ter de passar por uma ansiedade de todo inesperada para quem vencia por tão confortável margem. Jesus tentou desdramatizar, atirando a justificação para a natureza competitiva do jogo e o arrojo das equipas que defrontam o Benfica. Ficou dito e escrito, mas todos sabemos que, nem os adeptos, nem o próprio treinador ficarão convencidos com a explicação. O Benfica fez um bom jogo, mas a sua instabilidade na retaguarda – que tem motivos não novos e já aqui abordados – deve, de facto, preocupar.

Notas colectivas
Não há dúvida de que a confiança pode representar muito - quase tudo - para uma equipa. Repare-se na entrada do jogo e compare-se com outros casos, de outras fases, desta mesma equipa: o Nacional parecia ter entrado melhor, mas, à primeira aproximação que fez à baliza contrária, o Benfica marcou, acabando por “matar” praticamente o jogo, pouco depois.

Essa é a primeira nota sobre o Benfica: a sua confiança, que acrescida à qualidade dos intérpretes e à óptima dinâmica colectiva do modelo do seu treinador, leva sempre a uma grande facilidade para criar problemas sérios às defensivas contrárias. Aliás, e já que falo disso, é interessante notar como os intérpretes sempre lá estiveram e o modelo táctico também é o mesmo. Isto para assinalar que algumas infundadas criticas, tanto à falta de qualidade do plantel encarnado, como à previsibilidade do modelo de Jesus, parecem hoje esquecidas quando foram motivo para tanta tinta no inicio de época. É pena se assim for, porque quem não tem memória, também não aprende.

Mais interessante, porém, é falar do outro lado, do porquê de um jogo tão esticado, veloz e, sobretudo, o porquê de tantos embaraços junto da baliza encarnada? Aqui, volto a reforçar algumas ideias que vêm de trás, simplesmente porque continuo a ver nelas o principal motivo para esta situação. O Benfica recupera bem em transição e posiciona-se melhor em organização. O problema continua a ser o tipo de situações a que a equipa se submete. Continua a perder vários passes em zonas perigosas, potenciadores de ataques rápidos difíceis de controlar, e continua, também, a não ter grande noção estratégica em função das diversas fases do jogo. Nomeadamente, em vantagem e com o adversário a tentar reagir, convém não potenciar um jogo partido e privilegiar mais um ataque equilibrado e racional. Lá está, o problema é defensivo, mas tudo começa com o critério da equipa quando tem a bola em sua posse.

Notas individuais
Sidnei – Marcou 1 golo e teve intervenções importantes. Acho que é um jogador com potencial, mas também tenho a forte convicção que, se David Luiz sair, o Benfica poderá pagar um preço desportivo por isso. É que Sidnei, actualmente, não erra menos do que o David Luiz e tem a agravante de não ter, nem a capacidade física, nem o entrosamento posicional do ainda titular da posição. Jesus terá de puxar por ele, porque a zona central da sua defesa é fundamental, podendo abrir-se aqui um novo problema para a fase terminal da temporada.

Luisão – Na minha opinião, é o melhor central do campeonato até ao momento. Forte posicionalmente, certo com bola (embora neste jogo tenha cometido alguns erros), interventivo quase sempre na medida certa e, como complemento, ainda capaz de ser um terror sempre que se adianta nas bolas paradas. Perder David Luiz será mau, mas continua a ser bom ter Luisão.

Javi Garcia – A nota vai, sobretudo, para a sua titularidade. Na minha opinião, Airton justificava a continuidade da aposta, porque se apresenta muito mais útil em certos aspectos, como o papel de apoio em posse. Mas Javi regressou e cumpriu, dentro do que dele se espera.

Aimar – Outro regresso, este sim, bastante feliz. Não tem sido sempre assim ao longo da época, mas Aimar foi, na primeira parte, o 10 que o Benfica tantas vezes não teve. Sempre dinâmico com bola, e reactivo sem ela. O problema é que a época de Aimar tem sido demasiado inconstante, tanto em termos de presença, como em termos de consistência exibicional. Acabou por sair numa fase em que não estava já tão bem.

Gaitan – Joga com o ar de quem está no aquecimento e isso não lhe traz muitos amigos. É verdade que Gaitan não tem a melhor intensidade com bola e isso parece sobretudo um desperdício para o potencial que tem. O facto é que o argentino tem melhorado claramente em termos de entrosamento e consistência com o desenrolar da época. Cumpre muito bem o seu papel posicional – nomeadamente a relação com Coentrão – e é útil em todos os momentos do jogo. Para mais, e mesmo com a tal falta de intensidade, o seu talento é suficiente para desequilibre, marque e assista com uma regularidade assinalável. Goste-se ou não do estilo, está ser uma primeira época bastante boa.

Salvio – Ao contrário de Gaitan, a energia que coloca em cada jogada é suficiente para empolgar as bancadas, mesmo quando ainda nada aconteceu. O facto é que Salvio, sem fazer um jogo excepcional em termos de impacto decisivo, esteve muito bem ao nível da decisão, acabando por dar sequência à grande maioria das posses de bola que por si passaram. E esse é sempre um indicador positivo para quem, como ele, sente a pressão de trazer algo de novo em cada vez que tem a bola. Entre outras coisas, um indicador de confiança.

Saviola e Cardozo – Não vou falar do que fizeram com bola, até porque, quer num caso quer noutro, não se desvia muito do que é hábito. A nota vai para a pouca utilidade dos 2 – especialmente Cardozo – nos momentos defensivos. Uma equipa que quer ser dominadora tem de começar a sê-lo na capacidade de pressionar, quer em transição, quer em organização. Saviola e Cardozo dão muito pouco à equipa nesse aspecto e isso tem mais implicações do que possa parecer.

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24.1.11

Beira Mar - Porto: Análise e números

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Numa conversa entre Mourinho e Maradona, as camâras apanharam uma breve troca de impressões em que o português dizia algo como isto: “uma coisa é teres uma equipa que sabes que, se marcas, ganhas. Outra coisa, é quando, marcas, e mesmo assim não sabes o que se vai passar”. Ora bem, o Porto foi, em absoluto, o primeiro caso levantado por Mourinho. Não era liquido que marcasse na primeira parte de um jogo tão fechado – e é importante que se note o relevo desta eficácia para o destino do jogo – mas, tendo-o feito, soube manter o jogo sempre longe da sua baliza, mesmo que para isso tivesse de arregaçar as mangas e despir o “smoking”. Ossos do ofício para quem percebe bem qual é o verdadeiro objectivo de um jogo de futebol. De resto, e como abordo abaixo, mérito para o Beira Mar por ter condicionado fortemente a mais valia técnica dos portistas.

Notas colectivas
Não é este o tipo de jogo que alguma equipa “grande” deseja enfrentar. Não é, mas é bom que esteja preparada para ele. O mérito é do Beira Mar, que, se não conseguiu pontuar, conseguiu, pelo menos, forçar o Porto a jogar sempre em espaços muito apertados e longe das balizas. Porque é que o conseguiu? Pela conjugação de vários factores. Primeiro, a ideia, a estratégia, que limitou os riscos do seu próprio jogo, não querendo jogar muito em apoio e apostando em lançamentos mais largos para inicio de jogadas. Depois, pela atitude e organização. Atitude, para manter agressividade e reactividade na zona intermédia. Organização, para não permitir que o Porto encontrasse espaços para dar profundidade ao seu jogo. Os números, já agora, confirmam esta característica de um jogo mais disputado do que é comum: este foi, no campeonato e descontando o alagado jogo de Coimbra, o jogo com mais intercepções e menos % de sequência em posse da equipa do Porto.

Perante tudo isto, o Porto respondeu muito bem. Manteve-se concentrado, organizado e agressivo. Não foi fácil encontrar, depois, os tais espaços para chegar próximo do golo, mas o Porto lá os foi conseguindo, através do seu óptimo jogo em posse. Quer por aquilo que o maior ascendente lhe oferecia – mais bolas paradas – quer pela exploração de algumas lacunas posicionais no bloco contrário. A saber, o espaço entre os centrais e laterais aveirenses, nem sempre bem mantido por estes últimos, e o desposicionamento de Djamal, “pivot” defensivo, que sempre que saía da sua zona para pressionar, abria um buraco nas suas costas.

Há que notar, neste jogo, a importância do posicionamento base dos jogadores, quase sempre bem respeitado de parte a parte. Para o Porto, foi um jogo disputado em espaços mais curtos do que é costume. Os jogadores puderam manter distâncias mais próximas entre si e fizeram-no bem. É curioso como esta característica condicionou o tipo de exibição característica de alguns jogadores mais defensivos. No Beira Mar, já destaquei algumas lacunas que foram aparecendo também por mérito do Porto e da sua posse, mas há que realçar a boa organização da equipa, em particular da coerência posicional da sua linha defensiva e da importância dada pelos centrais à conservação de um espaço sempre curto entre eles.

Notas individuais
Emídio Rafael – Dos jogos para o campeonato (os outros não analisei com o mesmo detalhe) foi a sua melhor exibição. O Beira Mar pareceu tentar explorar o seu flanco de forma intencional e o resultado foi que Rafa acabou como o jogador mais interventivo da sua equipa. Defensivamente, esteve bem, beneficiando, parece-me, do tal jogo de referências posicionais mais próximas, ajustando sempre bem o posicionamento, nomeadamente em relação a Otamendi, e mantendo uma boa agressividade na sua zona. Com bola, poucas vezes teve a oportunidade de jogar no campo adversário, mas numa dessas vezes combinou bem com James para uma das melhores ocasiões da equipa. De resto, cometeu um erro que podia ter comprometido, e, talvez por isso, teve uma segunda parte de risco mínimo sempre que a bola passava pelos seus pés. Daí, o menor aproveitamento no capítulo técnico.

Rolando e Otamendi – Invariavelmente, Otamendi é o mais interventivo em termos defensivos, mas desta vez foi ao contrário. Na minha leitura, tem a ver com a característica mais fechada do jogo, sendo que Otamendi é um jogador que sobressai mais quando o jogo é mais esticado e há mais espaço para controlar. Seja como for, e sem terem feito um jogo perfeito, estiveram ambos bem, com Rolando em melhor plano também no capítulo técnico.

Fernando – Villas Boas fez bem em fazer regressar o “polvo” neste jogo. Não teve um jogo de domínio excepcional da sua zona, mas cumpriu perfeitamente a sua missão, quer em termos defensivos, quer em termos de segurança em posse. E isso, raramente Guarin consegue com tanta eficácia.

Belluschi – Não foi influente no último terço, mas, mais uma vez se prova, Belluschi é tudo menos um jogador apenas criativo. É um jogador de grande capacidade defensiva: rápido e reactivo a encurtar espaços e muito agressivo a pressionar. Por isso ganha tantas bolas e por isso é tão útil, mesmo em jogos mais fechados. Creio que é uma característica que continua pouco percepcionada em geral, mas que não escapa à equipa técnica, que, por isso, o mantém quase 90 minutos num jogo destes (Jesualdo, por exemplo, nem o colocava a jogar em jogos mais exigentes em termos defensivos).

James – Há um aspecto que se repete nele, e em jogos bem difíceis para o fazer: a certeza em posse. A sequência que dá às posses que passam por ele é muito acima do que é esperado para um jogador da sua posição e idade, e isso indica uma boa capacidade de decisão que, efectivamente tem. James, porém, precisa ainda de encontrar a sua forma de ser decisivo, porque só assim poderá ser o jogador de excepção que o Porto tanto espera dele. Curiosamente, pareceu melhor quando jogou na direita, intervindo mais em zonas interiores.

Hulk – Há 1 semana escrevia que o momento de Hulk é de tal forma positivo que desequilibraria em qualquer circunstância. Mais um exemplo. Jogo fechado, actuando numa posição onde não se sente tão confortável e, mesmo assim, presente em 2 dos principais desequilíbrios da equipa. A curiosidade de nenhum ter sido pela sua habitual capacidade de desequilíbrio no 1x1, mas em movimentos característicos de um 9.

Cristian Rodriguez – Entrou bem e penso que pode dar muito à equipa se tiver disponibilidade física e oportunidades para tal. A confirmar.

Kanu – Desde a II Liga – e já há alguns anos – que se percebe que tem características para muito mais. É um jogador muito forte em termos físicos, pela velocidade e agilidade invulgares que possui. Por isso, ganha tantas bolas e é tão difícil de bater no 1x1. No capítulo técnico não tenho tanta certeza sobre a sua real valia, mas não será esse o seu principal desafio. Com Leonardo Jardim, já tem tido essa possibilidade de evoluir, mas precisa de ser “formatado” em termos de rigor posicional e risco de decisão. Se o conseguir, será um central muito bom, porque potencial, tem.
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21.1.11

João Real (vs. Porto): o guarda redes de campo

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Já me tinha referido à sua incrível exibição no Dragão, classificando-o como o maior responsável por o jogo não ter conhecido um desnível ainda maior no marcador. Não se faz, com isto, uma avaliação às características e potencial do jogador, mas quaisquer defeitos que possa ter não apagam a extraordinária contribuição defensiva frente ao Porto. Não só pelo número elevado de intervenções defensivas, mas por algumas recuperações verdadeiramente espectaculares e decisivas. Parecia que a Naval estava a jogar com dois guarda redes...

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20.1.11

O recital de Maniche

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Nos tempos que correm, não é propriamente um fenómeno de popularidade. Há quem não goste do estilo, do penteado, do ordenado ou mesmo do bilhete de identidade. Para mim, que não valorizo especialmente algum desses aspectos na análise que faço dos jogadores, Maniche é um jogador de aptidões e qualidades raras e dos melhores que a nossa liga tem a oportunidade de ter. Em vários jogos, um verdadeiro recital de bem jogar.

O vídeo reporta-se apenas à primeira parte do jogo com o Paços e se o número de intervenções acertadas de Maniche é invulgarmente elevado (invulgarmente, mas não para ele), o que merece mais destaque no jogo de Maniche não é isso mas outros aspectos.

Note-se que em quase todas as acções de Maniche o seu tempo na bola é muito curto e a sua acção é definida também num número muito limitado de toques na bola, sem que isso afecte a qualidade, quer da decisão, quer da execução. Claro que para conseguir fazer recepções sempre bem orientadas e passes bem medidos é preciso um grande qualidade técnica. Nisso estamos conversados.

O que mais distingue a qualidade de Maniche, aquilo que o tornou, em tantos momentos, num médio de elite do futebol mundial, e que seguramente não se perde com a idade, é a leitura e antecipação que faz de cada jogada em que intervém. É notável a forma como parece já ter decidido o que vai fazer no momento seguinte, sendo que até nas jogadas em que intercepta acções adversárias consegue várias vezes direccionar a sua intervenção.

A única coisa que se pode lamentar, para o Sporting, é que a equipa não tenha outra qualidade de movimentação para dar sequência àquilo que Maniche lhe pode oferecer. Quer em termos de circulação, quer em termos de movimentos sem bola, outro dos cartões de visita deste veterano.



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Jogos da Taça da Liga (Breves)

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- Na Luz, o jogo pareceu mais um regresso à pré temporada. A verdade é que, depois de parecer estar decidido, o jogo complicou-se mesmo para o Benfica. O mais curioso deste jogo veio depois. Jesus quis ganhar o jogo e ninguém estranhou que, para isso, tivesse a 2 mais valias como Gaitan e Salvio. Gaitan e Salvio, os mesmos que durante tanto tempo foram catalogados como "o problema" do Benfica. Bem... não foi assim tanto tempo, afinal ainda estamos em Janeiro. A memória é que é curta.

- Também no Dragão o jogo soube pouco a competição. A culpa, neste caso, será bem mais do Beira Mar que terá, na primeira parte, rivalizado com os mais frágeis visitantes que o Dragão viu este ano. Nomeadamente, surpreendeu a frequência com que o Porto conseguiu actuar em ataque rápido. A frequência e o espaço, claro. Nota para Walter que voltou, não só a marcar, como a ser decisivo. Continuo a estranhar a pouca utilização deste jogador, nomeadamente, por exemplo, quando se compara a aposta diferente que tem tido James. São 2 jogadores de potencial, sim, mas que precisam de evoluir antes de serem valores seguros. No entanto, a minha estranheza vem do facto de, conhecendo os 2 jogadores, ser da opinião de que é Walter quem tem virtudes mais raras para ser potenciadas. Falta-me saber como treina e a atitude que tem, mas, ainda assim, estranho.

- Uma nota também sobre a espectacular exibição do Paços no dia anterior. Notável a reacção, a lembrar muito a segunda parte de Alvalade. Uma forte machadada na época do Braga que, depois das compreensíveis dificuldades no campeonato e natural afastamento da Taça, tinha outras responsabilidades nesta competição. Talvez seja mesmo a derrota mais censurável da época para o Braga.

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19.1.11

Académica - Benfica: Análise e números

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Foi, começo por dizer, um jogo algo atípico em termos de eficácia. Atípico e pela negativa, porque foram criadas muitas oportunidades para o magro golo concretizado. A consequência desta situação é que para ambas as equipas terá ficado a sensação de um jogo mal aproveitado. A verdade, porém, é que a vitória assenta bem ao Benfica, justificando-se, a meu ver, tanto os 3 pontos como a margem mínima. Uma opinião que não invalida uma outra, mais critica em relação a alguns aspectos da exibição benfiquista.

Notas colectivas
Com a expulsão, a coisa acentuou-se ainda mais, mas foi sempre um jogo muito confortável para o Benfica em termos de primeira fase de organização. Isto, porque a Académica teve como estratégia dar alguma liberdade ao papel do trio formado pelos centrais e Airton na saída de bola, mas bloqueando sempre a saída pelos corredores e – mais importante ainda – muito bem os espaços em zonas próximas da área, onde habitualmente surge a solução Saviola. A neutralização do papel do “Conejo”, aliás, parece-me ter sido a grande virtude de uma estratégia estudante, que, parcialmente, obteve bons resultados. Parcialmente, reforço.

Perante isto – e aqui surge a primeira critica ao Benfica – a equipa da Luz não teve grande capacidade de resposta. Não conseguiu encontrar Saviola, não conseguiu descobrir algumas das suas habituais combinações nas alas e faltou-lhe muitas vezes o arrojo para inventar algo de novo, em ataque posicional.

Só que, e apesar disto, o Benfica foi beneficiando do amplo domínio que ia tendo e, em situações circunstanciais mas frequentes, foi-se aproximando de forma assinalável do golo, acabando por justificar a vantagem que conseguiu ao intervalo. Por exemplo, algumas das melhores jogadas encarnadas resultaram de combinações após lançamentos laterais à esquerda, uma situação que normalmente dá vantagem a quem defende e que, como é óbvio, merece revisão por parte da Académica.

A outra critica que há a fazer ao Benfica é mais óbvia e tem a ver com a segunda parte. Jesus falou do desgaste físico provocado pela sobrecarga de jogos, mas acho difícil que a parte física seja realmente o problema de uma equipa que jogou em superioridade numérica e que não teve de travar grandes duelos em termos físicos. Na verdade, acho possível que se recorra ao desgaste como justificação, mas terá sempre de ser um desgaste mental, responsável por uma menor capacidade de decisão e criatividade no último terço, e que explique, assim, tanto domínio e tão poucas situações de finalização. Seja como for, não me parece que se deva aceitar o desgaste como desculpa, seja ele mental ou físico, parecendo-me que houve – isso sim – algum relaxamento imprudente para um jogo que, parecendo resolvido, não o estava.

Nota sobre a Académica para assinalar que a equipa deve estar contente com muito do que fez. Não discutiu nunca o jogo em termos de domínio, mas também nunca o pareceu querer fazer. Tinha, isso sim, uma estratégia centrada no controlo dos espaços considerados mais importantes e numa transição que conseguisse aproveitar a característica e largura do seu trio ofensivo. Isso foi, em alguns casos, muito bem conseguido, mas faltaram detalhes que acabaram por dar ao Benfica as brechas que precisava. Seja como for, a expulsão penalizou muito a equipa e é possível pensar que em igualdade numérica pudesse ter causado mais dificuldades na segunda parte.

Notas individuais
Ruben Amorim – A lateral era outra alternativa para ele, conseguindo um nível idêntico – em alguns aspectos superior – ao de Maxi. É pena, para ele e para o Benfica, que se tenha lesionado.

Coentrão – Grande jogo, outra vez. Está de volta às grandes exibições, recuperando do mau período iniciado na traumática derrocada do Dragão. Agora, ainda por cima, parece ter um entendimento muito maior com Gaitan, o que ainda o beneficia mais. Apenas realçar que Coentrão não é um dos melhores do mundo apenas pelo que faz ofensivamente. Defensivamente também é, invariavelmente, o dono do seu corredor.

Airton – Tinha falado, durante a semana, da falta de presença de Javi Garcia em posse. Pois bem, Airton fez 77 passes completados no jogo! É certo que o jogo permitiu-lhe aparecer mais, é certo, também, que não é um jogador forte na capacidade de passe, mas é também um dado adquirido que é um jogador que privilegia a segurança e que tem muito mais presença do que Javi Garcia nessa função (Javi nunca chegou sequer perto destes números em qualquer jogo). Em termos de domínio da sua zona também ganha em relação ao espanhol, ficando apenas a dúvida em alguns pormenores posicionais que podem ser importantes e onde Garcia é mais forte. Aspectos que podem ser corrigidos e que não impedem que se justifique uma aposta mais séria neste brasileiro.

Gaitan – Posicionalmente voltou a cumprir o seu papel, talvez até melhor do que noutras ocasiões, sendo um jogador útil nos momentos defensivos e entendendo-se cada vez melhor em termos posicionais com Coentrão. O problema foi no capítulo técnico. Vários pormenores que revelam o seu enorme talento, várias aparições, mas poucas consequências práticas. Denota sempre alguma displicência quando os jogos estão resolvidos e este pareceu-lhe resolvido cedo de mais.

Carlos Martins – Em parte foi um dos responsáveis pelas dificuldades da equipa em ataque posicional. Mas, por outro lado, foi dos elementos mais presentes nas principais jogadas da equipa, o que compensa claramente a primeira critica. Compensa, mas não a apaga.

Saviola – Foi a grande vitima do bom jogo posicional da Académica e, já agora, da incapacidade da própria equipa em alguns aspectos. A sua preponderância não foi a habitual e, por isso, não tenho desta vez quaisquer elogios a fazer-lhe. Aliás, reavivo uma critica: Saviola, com Cardozo, produz muito pouco para uma pressão defensiva que se pretende agressiva e potenciadora de erros na posse adversária.



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18.1.11

Porto - Naval: Análise e números

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Talvez não pareça, à partida, mas este não foi um jogo de características normais, tendo em conta aqueles que o Porto habitualmente disputa em sua casa. E não o foi, essencialmente, pela postura da Naval, que se apresentou muito agressiva em termos posicionais, dando menos tempo e espaço para a circulação de bola, tão típica no jogo portista. Na prática, o resultado não foi muito bom para a equipa da Figueira, com a qualidade do Porto a ser suficiente para encontrar várias situações de golo ao longo do jogo. Aliás, talvez a Naval se possa dar por satisfeita porque, dado o espaço que concedeu nas suas costas, o resultado poderia ter sido bem mais pesado do que aquele que se observou.

Notas colectivas
Para sustentar o carácter algo atípico do jogo portista, basta atentar a alguns dados muito claros: o Porto realizou, neste jogo, a sua partida em casa com menos passes completados e menor % de sequência dada a cada posse de bola. O motivo para tal constatação, perante uma equipa, em teoria, das mais incapazes de discutir o domínio do jogo, está, como referi antes, na opção estratégica da Naval. A sua linha defensiva teve um comportamento altamente agressivo, subindo muito, abrindo espaço nas suas costas mas também reduzindo substancialmente a zona onde o Porto faz a construção das suas jogadas. A consequência disto foi um tipo de jogo mais verticalizado e menos trabalhado, onde cada jogada precisava de menos passes até chegar à sua conclusão. Quem experimentou estratégia idêntica no Dragão foi o Leiria, mas desta vez o Porto não esteve tão inspirado no aproveitamento do espaço que havia nas costas da defensiva contrária.
Ainda em relação à Naval, importa dizer que a sua atitude agressiva em termos posicionais não teve sempre a melhor organização. Não só na fundamental sincronia da última linha, mas também na forma como, por diversas vezes, o seu curtíssimo bloco não se conseguiu ajustar ao posicionamento da bola para manter uma presença pressionante sobre o portador da bola. E, como se sabe, só é possível jogar-se com espaço nas costas se a pressão sobre a bola for sempre conseguida. Caso contrário, pode ser suicídio.

De resto, e termino por aqui em relação à Naval, a sua qualidade com bola também não foi muito boa, vivendo sobretudo de alguns rasgos individuais de Fabio Júnior que, porém, lhe chegaram a dar uma soberana oportunidade para complicar as contas portistas. Não que chegasse para a surpresa – isso nunca saberemos – mas porque, dadas as circunstâncias, a eficácia era um elemento obrigatório para quem queria sonhar.

Quanto ao Porto, e apesar do tal bloco curto da Naval, é notável a movimentação que existe em ataque posicional, com a equipa a encontrar situações de liberdade, mesmo dentro das apertadas linhas do seu opositor. Foi, creio, um bom jogo da equipa em vários parâmetros, ficando apenas a dever a si própria alguma qualidade de definição no último terço para atingir uma expressiva goleada. É que as condições estavam criadas.

Uma nota em relação ao meio campo portista. Parece haver uma intenção de usar as características mais ofensivas de Guarin, dando mais liberdade ao “pivot”, e, para isso, mantendo Moutinho numa posição de maior proximidade com essa zona. Quer no equilíbrio posicional, quer mesmo numa fase de construção, onde Moutinho aparece muito mais do que Belluschi junto dos centrais. Por outro lado, Belluschi tem uma presença mais próxima das linhas ofensivas, aparecendo menos numa primeira fase de construção, mas mais no espaço entre linhas e dando largura à direita em situações de variação de flanco. São comportamentos já vistos noutras ocasiões, mas que creio serem mais notórios e conseguidos nos últimos jogos, com Guarin como “pivot”. Resta saber, porém, se esta opção se manterá noutro tipo de jogos onde, claramente, o colombiano não dá tantas garantias como Fernando em termos de segurança e presença posicional.

Notas individuais
Fucile – Regressou à esquerda, mas não teve muita sorte no ‘timing’ deste regresso. É que o jogo foi mais verticalizado do que é hábito, havendo menos apelo à inclusão dos laterais em termos ofensivos. Ainda assim, o grande reparo que lhe tem de ser feito é para a frequência absurda com que fica ligado a erros decisivos ou a grandes penalidades. Uma tendência para o desastre que se lamenta, porque é forte em quase tudo.

Otamendi – Não pode marcar com tanta frequência como vinha fazendo, mas vem-se revelando como a melhor opção para o lugar, e com alguma distância. Tem uma área de intervenção muito alargada e consegue ser dominador em todo esse espaço. Sente-se que gosta disso e que, por isso, também arrisca mais nas suas intervenções. O segredo para a sua evolução é calibrar melhor as bolas a que deve ir e aquelas em que deve ficar, assim como o risco que assume em cada posse de bola. É, a meu ver, o dilema tradicional dos centrais com maior potencial.

Rolando – Ao contrário de Otamendi, tem uma zona de intervenção curtíssima e impõe-se com muita dificuldade em termos defensivos. Mantém um perfil sóbrio, tem boa presença nas bolas paradas e é fiável com a bola nos pés, o que o faz errar menor e o iliba quase sempre de apreciações mais negativas. A meu ver, porém, o Porto deve pedir mais para esta posição.

Guarin – Voltou a fazer um bom jogo, sobretudo porque tem a capacidade de dar profundidade à sua intervenção. Mas não é – de longe – um jogador muito forte na missão posicional e de segurança que normalmente está reservada para a sua posição. Será interessante ver como Villas Boas gerirá a sua utilização ao longo da época.

Moutinho – Começou por ameaçar uma grande exibição, mas foi perdendo presença e acabou por estar menos participativo na segunda parte. A sua fiabilidade, no entanto, faz com que jogue sempre bem e penso que é boa ideia reservar-lhe uma missão mais focada no equilíbrio e na primeira fase de construção do que esperar dele uma grande influência no último terço.

Belluschi – Não começou bem, mas creio que terá feito uma das suas melhores exibições em termos globais. Esteve bem em posse, conseguiu várias recuperações importantes em zona alta e foi influente também no que a equipa conseguiu no último terço.

Hulk – Voltou a jogar a partir da ala, onde claramente rende mais. O ponto, porém, é que o momento de confiança é de tal ordem que não creio que alguma posição no campo o impedisse de marcar e ser influente. Que época!

João Real – Posicionalmente não dá para tecer grandes elogios, mas a sua capacidade interventiva foi absolutamente incrível. Fez um número absurdo de cortes, muitos deles em recuperação e decisivos. Diria que foi um “guarda redes de campo”, e muito graças a ele, não aconteceram mais golos.



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17.1.11

Sporting - Paços: Análise e números

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O jogo abriu com uma ocasião, logo na primeira jogada, e esse acabou por revelar-se um pronuncio do entretenimento que a partida viria a oferecer. Os efeitos da estratégia do Paços já haviam sido explicados no jogo que fizera na Luz, onde conseguiu um elevado número de remates. Desta vez, porém, os “castores” foram mais longe e acabaram por juntar a sua própria eficácia com a complacência do adversário. É que se a estratégia do Paços estava anunciada, o Sporting nunca se mostrou preparado para ela, agravando a situação com a péssima reacção que foi tendo ao longo do jogo. Ao intervalo ainda dava para reconhecer que a desvantagem era penalizadora para o Sporting, mas o mesmo não se pode dizer do segundo tempo. Tudo somado: sem desculpas!

Notas colectivas
A intenção do Paços era óbvia: quando o Sporting tinha a bola, provocar o erro e, se possível, impedir a saída em futebol apoiado, através de uma primeira linha de pressão mais alta. Quando conseguia ganhar a bola, utilizar sempre um futebol rectilíneo, seja através de saídas verticais em ataque rápido ou, caso tal não fosse possível, uma abordagem mais directa em ataque posicional.

Perante este cenário, o Sporting tinha um papel muito fácil de entender. O segredo estaria na qualidade em organização e em ataque posicional. Ter a inteligência para perceber o perigo de errar em zonas baixas, e a audácia para ultrapassar, com bola, a primeira linha de pressing do Paços. Se isso fosse conseguido, o Sporting poderia aproveitar o maior espaço dentro do bloco pacense e empurrar o adversário para um posicionamento mais baixo, que não lhe permitiria impor as características do seu jogo.

O problema é que, não só o Sporting fez um dos jogos mais erráticos da temporada (também por mérito do Paços), como a sua circulação nunca foi capaz de fazer a bola chegar com eficácia à zona de criação. O problema, aqui, está nas dinâmicas que a equipa não tem para o que sobra da primeira fase de construção. Com Maniche (e Pedro Mendes, quando está disponível), a bola circula sempre bem, com segurança e velocidade, mas o que vem depois é um enorme deserto de ideias. Os extremos não fazem movimentos interiores, e quando aparecem é sempre para resolver individualmente nos corredores. Os laterais, só aparecem ofensivamente em situações pontuais e circunstanciais do jogo. O avançado parece ter como única função esperar por uma situação de finalização na área. Sobra o improviso do 10, e – repito a ideia – Paulo Sérgio bem pode agradecer à sorte a lesão de Matías Fernandez.

Com todos estes problemas, o Sporting não estava a fazer um bom jogo, mas também é facto que foi criando oportunidades em bom número através das inspirações de Valdés. A agravante surge depois, ironicamente entre os 2 golos da segunda parte. Aos 61’ o Sporting empatou, mas essa foi a sua derradeira ocasião clara no jogo. Culpa principal do seu treinador que forçou uma alteração, de todo, absurda. Não só alterou a estrutura, perdendo presença num meio campo já de si mal ligado, como retirou a sua unidade de maior influência no jogo. É óbvio que existe um preconceito geral em relação a Maniche e que isso impede adeptos e muita comunicação social de lhe fazer uma análise justa do seu óptimo rendimento. O que não é aceitável é que o próprio treinador não seja capaz de ir além deste registo. Não é aceitável, e isso paga-se.

Por fim, nota sobre o Paços. Já elogiei a prestação dos “castores”, pelo arrojo da sua estratégia que dá aos jogos uma característica pouco comum neste tipo de confrontos. Se é a melhor maneira? Parece-me discutível, mas o Paços tem-se dado bem. Há também alguns jogadores interessantes nesta equipa. Os laterais, digo eu, merecem uma revisão por parte de clubes de maior dimensão. São ofensivos e agressivos, ficando por averiguar a sua consistência e fiabilidade defensiva (coisa que ainda não fiz). Numa altura em que se procuram tantos laterais, se calhar vale a pena dar uma olhada. Depois, destaque para os centrais e para a dinâmica do meio campo ofensivo, com Pizzi e David Simão em destaque também pela sua juventude.

Notas individuais
Evaldo – O mesmo problema já realçado noutras ocasiões. Está lá sempre, mas sempre em níveis mínimos. Raramente compromete, mas não tem capacidade interventiva que se permita afirmar ser uma mais valia, ou sequer que lá chegue perto. Obviamente que esta constatação não justifica a sua troca por Grimi na altura em que aconteceu...

Polga – Erra com alguma – por vezes demasiada! – frequência, mas volto a fazer um elogio à sua capacidade de ler o jogo e de antecipação. Por isso, e mesmo não sendo forte fisicamente, é o jogador que mais intercepções faz entre os 3 “grandes". É uma característica que não lhe é muito reconhecida, mas com a qual a equipa ganha muito. Não foi por ele que o Sporting perdeu, seguramente.

Carriço – Carriço distingue-se, entre os subaproveitados centrais do Sporting, por ser aquele que menos erros comete. Desta vez foi mais humano e esteve, por culpa própria, bem na origem da derrota.

André Santos – Continuo a fazer notar que, sendo um bom jogador, se está a exagerar sobre as suas capacidades actuais e que isso pode não ser benéfico na sua evolução. Em relação a Zapater, ainda é discutível a sua mais valia, mas com o regresso de Maniche voltou a ser apenas uma sombra do seu parceiro de sector. Claro, quando lhe tiraram Maniche, a coisa complicou-se.

Maniche – É espantoso o que joga e o que dele se diz. Grande primeira parte, sendo, outra vez, a unidade mais influente, quer em termos de circulação, quer em termos de trabalho defensivo. É certo que estava a aparecer menos na segunda parte, mas nada justifica a sua saída, quando, por exemplo, o seu rendimento era, a anos luz, superior ao de André Santos. A incompetência da decisão pagou-se com aquilo que se viu depois do 2-2.

Salomão – É curioso porque apareceu melhor na pior fase da equipa. É possível que seja um jogador mais forte se não estiver tão isolado na linha. Tem boa capacidade de decisão, mas muitas vezes faltam-lhe apoios. Tem boa capacidade de trabalho, mas está muitas vezes muito longe das jogadas. Tudo somado, fez um bom jogo, mas esse é o principal destaque que lhe vi nesta partida, quando jogou mais por dentro: talvez ainda exista um melhor Salomão do que aquele que já vimos. Mas, para ter a certeza, teremos de esperar por outro Sporting.

Vukcevic – Voltou a ser pouco produtivo em termos de trabalho e uma espécie de ilha amarrada à direita. É claro que pode sempre decidir com o seu talento, mas quando, como foi o caso, isso não acontece, fica difícil de perceber para serviu no jogo...

Valdes – Voltou a fazer um jogo espantoso em termos de proximidade com o golo. A sua liberdade em zona criativa é uma enorme fonte de problemas para os adversários, mas convém não confundir as zonas em que deve ser potenciado. Se o objectivo é potenciar Valdes, é preciso dar-lhe mais jogo na zona criativa e não fazer baixar o jogador para a construção, onde o seu perfil de decisão é inadequado. A sua não planeada adaptação a 10 tornou-o num dos melhores reforços do Sporting nos últimos anos. Isto, ao mesmo tempo que se continua a dizer que a equipa não luta pelo título porque não tem jogadores para isso.

David Simão – Já observara este médio emprestado pelo Benfica na Selecção de esperanças e fiquei com melhor impressão do que o crédito que lhe foi dado na altura. É um jogador com grande qualidade técnica, que dá boa sequência a grande parte das bolas que por si passam e que tem, também, uma boa capacidade de trabalho. No entanto, não lhe vejo, para já, nenhuma característica extraordinária, sendo que joga numa posição muito exigente e de difícil afirmação. Fez um grande jogo, mas preciso de ver mais...



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16.1.11

A última derrota de Bettencourt e a luta pelo 3º lugar (Breves)

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- É inevitável começar pela consequência. Sócios e Bettencourt andavam há muito de costas voltadas, mas, desta vez, ambos tiveram a mesma ideia: aproveitar a surpreendente derrota para libertar o stress. Os sócios mostraram a sua indignação, Bettencourt demitiu-se. Todos ficaram mais aliviados. Afinal, bem vistas as coisas, a derrota pouco ou nada decide no destino desportivo da equipa que, nesta época, já estava comprometido. Saber escolher foi o que Bettencourt não soube fazer, e, saber escolher, era, é, e será sempre o que mais importa na gestão de um clube. O futuro do Sporting é, nesta altura, mais incerto do que nunca...

- Em relação ao jogo - e antecipando-me um pouca à análise que farei - vale a pena elogiar o Paços que tem sido das equipas mais interessantes de ver contra os "grandes". A sua estratégia passa sempre por provocar o erro e não apenas esperar por ele. Foi mais eficaz, foi feliz, mas teve mérito no que conseguiu. No que diz respeita ao Sporting, salientar os erros individuais altamente penalizantes, mas, também, a má leitura que veio do banco. Retirar um médio para colocar um avançado é um instinto natural de quem vê da bancada, mas não deve ser de um treinador. Especialmente quando isso implica perder presença no meio campo e jogar numa estrutura improvisada. Não admira, pois, que depois do 2-2 o Sporting se tenha distanciado muito mais do golo e, mesmo, perdido o controlo do jogo. Paulo Sérgio acabou por, implicitamente, confessar o seu próprio erro nas 2 alterações finais, mas, aí, o mal já estava feito...

- A luta pelo terceiro lugar, com a derrota do Sporting, ganhou novo interesse. Um dia antes, o Braga ganhava pela primeira vez fora de portas, num jogo onde espantou a incrível falta de organização do Portimonense depois do primeiro golo. Azenha diz que espera por novos reforços, mas dificilmente chegará qualidade suficiente para superar o contra relógio que a equipa tem pela frente. Em Guimarães, também o regresso às vitórias da equipa de Manuel Machado. O Vitória, de uma perspectiva pragmática, justificou os 3 pontos porque foi, de facto, a equipa que mais se aproximou do golo. A verdade, porém, é que também se viram sinais preocupantes, particularmente na forma como a equipa sofreu depois do golo, acumulando vários erros, quer com bola, quer sem ela.

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14.1.11

Comportamento defensivo do Benfica (II): Transição

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Se ontem trouxe aqui alguns elogios à capacidade organizacional do Benfica, nomeadamente em termos posicionais, hoje trago outro momento do jogo onde a equipa tem sentido algumas dificuldades: a transição ataque-defesa. Sintetizando, não creio que os problemas que o Benfica sentiu neste aspecto resultem de algum problema de resposta à perda de bola – como tantas vezes é, a meu ver, confundido – mas, antes sim, com a perda de bola em si mesmo. E aqui, é importante separar o tipo de transições a que a equipa é sujeita.

Defender mal... com bola
A teoria que vigora nos tempos que correm distingue 4 momentos de jogo, em bola corrida. 2 ditos defensivos e 2 ditos ofensivos. “Ditos” porque na verdade o que os distingue é a posse da bola. Como o futebol é jogado em acto contínuo, é fundamental não ser demasiado ortodoxo na interpretação da separação dos momentos do jogo. Ou seja, o que uma equipa faz num dado momento, a sua qualidade, começa no momento anterior, e isso é sobretudo relevante para os momentos de transição.

O ponto de tudo isto é que é completamente diferente estarmos a avaliar a resposta de uma equipa à perda de bola quando esta acontece numa fase precoce de construção ou, ao invés, quando esta acontece numa fase de criação. E isto, no Benfica, é perfeitamente evidente.

No vídeo estão seleccionadas 6 perdas de bola da equipa encarnada no jogo de Leiria. Nenhuma delas originou lances eminentes de golo, mas todas elas ofereceram ao adversário boas condições para o fazer. Noutros casos – e quem acompanha este blogue não terá dificuldade em enumerar muitos – o resultado foi diferente e a equipa foi severamente penalizada por isso.

Quer isto dizer que o Benfica seja uma equipa fraca na resposta à perda de bola? Não. Na verdade é uma equipa muito forte a fazê-lo, como aliás tantas vezes foi realçado no ano anterior. Pressiona com prontidão e eficácia e tem uma excelente capacidade de manter a sua organização em recuperação. Em vários aspectos, mesmo notável. O problema está na perda de bola em si mesmo, sendo que é absolutamente impossível pedir-se a uma equipa – seja ela qual for – que seja eficaz a responder a perdas de bola em zonas tão comprometedoras como frequentemente acontece no Benfica. Ou seja, o Benfica não defende mal sem bola, mas, pode dizer-se, defende mal... com bola.

Javia Garcia e a importância do “pivot”
Começo por uma estatística colectiva antes de ir ao pormenor individual:
Em matéria de perdas de bola, do mesmo tipo das que estão ilustradas no vídeo, o Benfica tem 6,1 por jogo, sendo que Porto e Sporting apresentam valores muito mais baixos do que o dos encarnados: 4,7 para ambos. Ou seja, há uma tendência claramente superior do Benfica para este tipo de erros comprometedores.

Se há posição importante em termos da resposta em transição é a do “pivot”. É uma posição que tem uma forte característica posicional, sendo responsável pelo equilíbrio da equipa na sua zona mais recuada, quando um dos defesas sai da sua posição, mas também pela contenção que é feita no corredor central, no inicio de transição do adversário, tendo a possibilidade de "matar" a transição ou, se tal não for possível, de atrasar o ataque rápido contrário, permitindo o reequilíbrio posicional dos restantes jogadores. Não é, portanto, difícil de perceber a importância desta função para a eficácia da resposta em transição.

Esta posição funciona em termos posicionais muito bem no Benfica, com Javi Garcia a interpretar perfeitamente os seus ajustes posicionais. Mas, noutros aspectos, há alguns problemas que penalizam fortemente a equipa.

Primeiro, com bola, há uma grande falta de segurança nas acções de Garcia. Em média, a posição de médio defensivo é responsável por 1,5 perdas por jogo em zona de construção, comprometendo a equipa com grande regularidade. Mas, mesmo descontando este relevante aspecto, há também um défice de presença em termos de posse por parte desta posição, invariavelmente interpretada por Garcia. Ou seja, para que haja maior segurança em zona de construção seria importante ter uma maior presença do elemento que joga à frente da defesa, mas, também aqui, a participação em posse do médio defensivo é muito menor no Benfica do que nos seus rivais.

Já agora, e a título de curiosidade, assinale-se que é no corredor central que o Benfica mais erra em posse em relação aos rivais. Para além do "pivot", também a posição 10 comete um número elevado de perdas, com Aimar em principal destaque neste aspecto.

Outro problema que afecta o equilíbrio posicional é a frequente saída em construção dos centrais, normalmente David Luiz. À primeira vista, este tipo de situação parece não originar grandes problemas, precisamente pelo papel de Javi Garcia: o médio baixa para a posição de central e restabelece o equilíbrio na zona mais recuada. O problema, aqui, é que este tipo de subidas dos centrais não são meras trocas posicionais com Garcia, e assumem uma postura muito mais arriscada. O que acontece, na prática, é que a equipa perde a presença do “pivot” e quando perde a bola deixa de ter um elemento de contenção à frente dos centrais. A dificuldade de resposta a um transição nestas condições é, como é óbvio, muito mais difícil.



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13.1.11

Comportamento defensivo do Benfica (I): Organização

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Recorro ao caso de Gaitan, porque creio que muita gente não percebe o porquê das minhas afirmações em relação ao seu desempenho defensivo, mas o caso de Gaitan é apenas um exemplo da forte característica posicional do Benfica e das equipas de Jesus, em geral. Ou seja, o texto refere-se ao comportamento defensivo do Benfica em organização, para explicar a sua qualidade neste plano, mas também para dar a minha explicação das diferenças de aproveitamento do “pressing” em relação ao ano anterior. Para depois, fica o caso de Javi Garcia e da transição ataque-defesa.

O caso de Gaitan e a disciplina de Jesus
De facto, Gaitan tem tudo para ser um jogador improdutivo defensivamente. Não é agressivo, não é reactivo, nem, tão pouco, é forte nos duelos que trava. Porquê, então, Gaitan ter um bom aproveitamento defensivo, como tão fielmente retratam os seus números a cada jogo? A resposta é simples: capacidade posicional.

Não se trata de um virtude individual, mas, tão simplesmente, de uma compreensão do que tem de fazer no plano do posicionamento táctico. O vídeo – que utiliza apenas o jogo de Leiria – tenta fazer perceber isso mesmo. Ou seja, que Gaitan se posiciona adequadamente dentro do que está previsto no modelo táctico do seu treinador e que isso, por si só, lhe permite estar bem preparado para ser útil defensivamente, relacionando-se bem com o posicionamento de Coentrão, a sua principal referência em termos de ajustes e compensações posicionais. Isto - repito para que não se confundam as coisas - não implica que Gaitan seja, por si só, um jogador forte defensivamente.

Aqui, o papel de Jesus é fundamental. É que se há aspecto em que Jesus é meticuloso e implacável é no posicionamento base dos seus jogadores. É normalmente por isso que gesticula e salta tanto na linha lateral. Ora, alguém acha que Jesus manteria a aposta num jogador tacticamente indisciplinado ou que não tivesse um comportamento posicional correcto?!

A reactividade e o problema do “pressing”
Com o rigor e qualidade posicional da equipa se explica a qualidade do Benfica em organização defensiva e o porquê de aguentar muito bem fases em que não consegue ter tanto domínio territorial sem que isso belisque o seu controlo do jogo. Mas há outro problema que, particularmente, tem marcado a diferença entre o Benfica da época passada e o desta: o pressing alto em organização.

Já defini várias vezes que entendo por “qualidade táctica” a capacidade da equipa reagir e se ajustar às várias incidências do jogo. Ora, se o Benfica está bem posicionado – como está – porque não consegue os mesmos resultados na pressão que faz sobre a construção adversária?

A resposta está, a meu ver, na reactividade dos jogadores. Ou seja, na rapidez e eficácia com que os jogadores passam de uma postura mais posicional para uma postura mais pressionante. E essa perda de eficácia, embora não tenha a ver com aspectos posicionais, implica também uma perda de “qualidade táctica”.

Jogadores como Ramires e Di Maria, por exemplo, tinham uma reactividade e agressividade muito superior do que acontece hoje com Salvio e, especialmente, Gaitan, Peixoto ou Martins. Passavam de uma postura posicional para uma postura pressionante com muito maior eficácia do que hoje se observa. Mas há mais. Também na posição 10 está um elemento fundamental no encurtamento dos espaços. Aliás, provavelmente a mais importante. Aqui, não há comparação entre Aimar e Carlos Martins, com o português a perder claramente na capacidade e qualidade de antecipação e reacção nas jogadas – mais uma vez, não é o posicionamento base que está em causa. O problema é que, estranhamente, também o argentino não parece tão bem como no ano anterior e, embora ofereça maior capacidade do que Martins neste plano, não tem conseguido a mesma eficácia na pressão que é feita sobre a saída de bola contrária.

Finalmente, importa também falar dos avançados, porque me parece que o Benfica não beneficia muito da sua característica em termos defensivos. De Cardozo nem é preciso falar muito, mas também Saviola não tem conseguido provocar muitos erros nos defensores adversários. Algo que, como é evidente, não tem apenas a ver com o seu desempenho individual mas que prejudica a equipa em termos de performance global.



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Vitórias de Benfica e Porto na taça (Breves)

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- Na Luz, o Benfica até falhou antes de marcar, mas, depois, conseguiu uma eficácia enorme nos 5 golos obtidos. Um domínio completo, jogo resolvido, e, sem necessidade de acelerar muito, a goleada foi sendo naturalmente concretizada. O Benfica confirmou e reforçou a confiança e, até, errou bem menos do que em jogos anteriores. O resultado foi uma goleada que denuncia também uma enorme impotência de uma das equipas mais fortes no plano interno actual. Mas esse é outro problema...

- No Dragão, um atraso inesperado na resolução de uma eliminatória que parecia completamente resolvida logo no sorteio. É verdade que o Porto foi uma equipa absolutamente dominadora, que rematou muito e que poderia, facilmente, ter encontrado o caminho do golo bem mais cedo. O facto, também, é que não fez uma grande exibição dentro das expectativas que se poderiam ter, que não conseguiu grandes situações de finalização dentro da área e que deixou perigosamente o jogo arrastar-se para uma fase em que tudo já era possível. No Porto, já comentei que me parece clara a aposta em James, mas também me parece estranho a súbito esquecimento de Walter. Afinal, estamos a falar de um jogador jovem, recentemente contratado e com uma notável relação golos/minutos nas oportunidades que lhe foram dadas.

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12.1.11

Leiria - Benfica: Análise e números

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Dizer que foi um jogo muito confortável é sempre um exagero para uma partida que passou a maior parte do seu tempo num resultado tangencial. A verdade, porém, é que entre Benfica e Leiria houve sempre um grande diferença no que respeita à proximidade com o golo. E esse, a meu ver, é sempre o indicador mais importante em qualquer jogo de futebol: a proximidade com o golo. Tudo somado, é Jesus quem tem motivos para sorrir.

Notas colectivas
Na verdade, a superioridade do Benfica, facilmente observável, não resultou de um domínio territorial avassalador, nem, tão pouco, de uma exibição soberba em termos técnicos. Resultou, isso sim, de uma mais competente ocupação dos espaços, para além, claro, das evidentes mais valias individuais que a equipa possui. Ou seja, a União conseguiu dividir o jogo territorialmente em diversos momentos, mas teve muita dificuldade em controlar todos os espaços do campo, especialmente quando a bola viajava rapidamente de uma zona para a outra.

De notar, por exemplo, que várias das mais perigosas jogadas encarnadas resultam do mesmo tipo de lance. Com a bola a ser colocada rapidamente nas costas do meio campo leiriense e a causar muitos problemas de equilíbrio no extremo reduto contrário. Isto, porque o Leiria ficava com pouca gente atrás da linha da bola e incapaz de controlar a largura do campo. Por isso vimos tantas vezes Gaitan aparecer solto na esquerda a partir de jogadas deste tipo.

Ainda assim, nem sempre o jogo foi igual. Na segunda parte, por exemplo, observou-se uma reacção positiva do Leiria, com maior agressividade e maior proximidade entre os jogadores nas zonas de pressão. O Benfica teve mais dificuldades em dominar o jogo – essencialmente porque foi ineficaz no momento em que ganhava a bola – mas é curioso observar-se que não foi nesse período que o Leiria foi mais perigoso. Aliás, à parte de um pontapé de canto, não teve qualquer chegada sequer ameaçadora à área encarnada, ao contrário do primeiro tempo.
Porquê, então, ter o Leiria chegado com mais condições à área contrária no período em que menos conseguiu dividir o jogo? A resposta é óbvia e recorrente no Benfica 10/11: porque na primeira parte o Benfica perdeu 6 bolas em zonas recuadas e na segunda não perdeu nenhuma. O problema da transição defensiva do Benfica não é, nem nunca foi, a recuperação em si mesmo. Foi, isso sim, a zona de perda de bola. Foi, e é.

Outra constatação que foi tirada no final do jogo teve a ver com associação da entrada de Ruben Amorim com um melhor período do Benfica. É verdade que coincidiram, é verdade que Ruben entrou bem e que era uma aposta que se justificava, mas, até pelo que escrevi antes, não entendo que o problema do Benfica na segunda parte tivesse a ver com o que fazia sem bola. Aliás, se o Leiria nunca se aproximou com perigo da área do Benfica, acho difícil sustentar essa tese. Teve, isso sim, muito mais a ver com aquilo que o Benfica não conseguira fazer com bola depois do intervalo. E, aí, não se pode dissociar as oportunidades na recta final do jogo com o risco táctico assumido por Caixinha. Tal como a entrada de Amorim, coincide com o melhor período do Benfica no final do jogo, só que, parece-me, tem um correlação muito maior com a alteração de tendência observada.

Em relação ao Leiria, é uma equipa que vejo cometer muitos erros posicionais nos jogos com os grandes. Está a fazer um excelente campeonato e continua a ter bons jogadores, mesmo depois da saída de Carlão e Silas, mas não tenho a certeza de que terá o mesmo andamento depois destas perdas. Falando de Carlão, aliás, é uma perda importante para o futebol português. Estava a ser um dos melhores avançados do campeonato e, não tenho grandes dúvidas, tinha condições para merecer a aposta de um “grande”. Apesar de ter ido para muito longe, tem ainda tempo para que possamos ouvir falar dele...

Notas individuais
Coentrão – Voltou a fazer um grande jogo, sendo apenas de se lamentar 2 más entregas no primeiro tempo que colocaram em risco a equipa. De resto, muito bom, quer a defender quer a atacar. É um dos melhores defesas esquerdos do mundo.

Javi Garcia – É como um relógio, tanto em relação à sua compreensão dos equilíbrios tácticos, como em relação às perdas de bola que acumula em todos os jogos. Francamente, custa-me a entender como continua a ser dono inquestionável do lugar quando revela tantas dificuldades com bola.

Carlos Martins – Não conseguiu ser um jogador determinante em termos ofensivos – frequentemente é – mas foi, com alguma distância, o mais participativo em termos de posse. Fez, em termos de eficácia em posse, um jogo ao nível da equipa, perdendo 1 bola comprometedora na primeira parte. Defensivamente, é o habitual: não tem grande capacidade de trabalho mas mantém, tal como todos, um posicionamento base correcto.

Gaitan – Foi fácil este jogo. Devagar, sem grande agressividade nem grande inspiração e, mesmo assim, cumpriu posicionalmente e foi determinante ofensivamente. Porquê? Porque Gaitan compreende bem onde tem de estar, quer com bola, quer sem ela, e porque tem um pé esquerdo que cruza como poucos (provavelmente o melhor da liga como já venho alertando há algum tempo). Apareceu no espaço certo, a bola ia-lhe sendo colocada e ele cruzava. O resto, todos viram...

Salvio – Não foi uma exibição eufórica como frente ao Rio Ave, mas Salvio vem confirmando a característica que lhe venho descrevendo: ou seja que é um extremo forte em zonas de finalização e que por isso se encontra facilmente com o golo. Fez uma assistência, criou a jogada do segundo golo e ainda perdeu mais 2. Não dá para pedir mais...

Saviola – Começou por ser o grande destaque do jogo pela frequência com que apareceu a desequilibrar. A sua invulgar qualidade de movimentos sem bola continua a fazer mossa com uma regularidade incrível e se Saviola tivesse outro nível de aproveitamento seria um destaque ainda maior. Na segunda parte não apareceu tanto e decidiu pior, com a equipa a ressentir-se. Nota para a pouca eficiência em termos defensivos.

Cardozo – Foi, durante muito tempo, muito discreto e, pessoalmente, gosto pouco de ver jogadores a passar tanto tempo longe do jogo. No entanto, e ao contrário do que muitas vezes acontece, manteve sempre uma participação positiva a cada intervenção, acabando por emergir em grande plano na recta final do jogo.

Ruben Amorim – Como escrevi atrás, a sua entrada justificava-se e justificou-se. Ruben é um jogador muito completo e que dava, em relação a Gaitan, maior agressividade e presença ao jogo. Mesmo, se não tem o mesmo talento. Numa altura em que se aguarda para ver José Luis Fernandez, arrisco que Ruben será o único jogador com capacidade para discutir, realmente, um lugar no meio campo com Gaitan, Salvio e Martins, até porque tem mais valias diferentes.



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11.1.11

Porto - Marítimo (Análise e números)

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Não se pode dizer que a resposta foi brusca, mas foi seguramente uma boa reacção à primeira derrota da época, numa exibição que foi ganhando qualidade e consistência, acabando por se saldar como muito positiva. Na verdade, jogando em casa, era um cenário que, como já havia escrito, se adivinhava. É que o Marítimo, tendo alguns bons jogadores, não tem andamento para repetir o prato do seu rival insular. Por mérito próprio e falta de competitividade interna, é de facto muito difícil uma equipa com a qualidade do Porto tropeçar 2 vezes seguidas.

Notas colectivas
Começando pelas opções de Villas Boas, houve alguma surpresa na adaptação de Hulk a uma posição central. Uma solução que, creio, tem muito mais a ver com a intenção de dar continuidade à aposta em James, mas que implicava algum risco. Não que Hulk não possa jogar a partir de posições centrais – já o fez no passado e com sucesso – mas porque o seu tipo de movimentação tem de ser muito diferente daquilo que acontece com Falcao, por exemplo. Implica não só maior mobilidade no trio ofensivo, mas sobretudo um relacionamento posicional diferente dos extremos, que habitualmente ligam muito mais os seus movimentos com laterais e médios mais próximos do que com o elemento mais central do ataque.

Não foi apenas por isto que o Porto sentiu algumas dificuldades numa etapa inicial, embora o crescimento da equipa tenha também coincidido com uma melhor relação de movimentos do trio ofensivo. Essencialmente, houve uma fase em que o Porto não conseguiu manter o jogo no meio campo adversário, como tanto gosta. Algo que resultou de uma qualidade e velocidade de circulação menos intensa, mas também de uma intenção do Marítimo de condicionar a saída de bola portista, obrigando a que se jogassem mais segundas bolas e tornando mais físico o jogo. Por incapacidade próprio ou por mérito portista, o facto é que o sucesso dessa intenção durou pouco.

Há um elogio que, não sendo novo, deve ser feito a esta equipa portista: a sua qualidade em organização ofensiva. A maior parte das equipas precisa de situações de ataque rápido e transição para atingir um grande número de jogadas de golo, mas o Porto parece ser capaz de jogar sempre perante adversários posicionados e organizados. O segredo, parece-me, está na combinação de 2 elementos: a qualidade de circulação e a tranquilidade com que aborda esse momento. Qualidade de circulação, pela velocidade e boa movimentação dos jogadores e da bola. Tranquilidade, pela forma como raramente se precipita neste processo, não caindo na tentação de uma verticalização imediata, mas procurando o melhor “timing” de entrada no bloco contrário. Este último aspecto talvez seja o mais raro em equipas que sentem muito a pressão de ter de chegar rapidamente ao golo.

Ainda dentro da qualidade de circulação, uma nota para o peso de Moutinho no inicio da construção. O Porto ganha muito mais quando é ele o protagonista do primeiro passe. Garante mais certeza e segurança do que Guarin, Belluschi ou Fernando, por exemplo.

Notas individuais
 Sapunaru – Normalmente gosto pouco de laterais ditos “defensivos”. Porque esse rótulo geralmente não resulta de um significativo acréscimo de fiabilidade defensiva, mas, antes sim, de uma substancial incapacidade para dar profundidade ao flanco onde jogam. O facto é que Sapunaru, dito “defensivo”, tem-no sido realmente. Muito certo nas suas acções com bola – sem grande capacidade de dar profundidade, é certo – e sobretudo muito forte no domínio que impõe na sua zona. Uma boa surpresa nesta temporada.

Emídio Rafael – Não repetiu, desta vez, a exibição errática frente ao Setúbal. Pode dizer-se que cumpriu, é verdade, mas também é um facto que foi tudo menos deslumbrante num jogo onde tinha boas condições para ser mais protagonista em termos ofensivos. Tem tido a sorte de ter boas oportunidades, mas ainda não se mostrou uma alternativa à altura de Álvaro Pereira.

Guarin – Foi o homem do jogo, conseguindo um protagonismo ofensivo raro para quem joga como “pivot”. Pode ter aumentado a dúvida sobre o titular do lugar nos próximos jogos, mas, se Guarin tem muito maior aptidão ofensiva do que Fernando, é também muito claro que não domina tão bem a posição como o seu rival pelo lugar.

Moutinho – Ao contrário do que muitas vezes se diz, não é sempre o jogador mais influente em termos quantitativos do meio campo portista. Mantém sempre uma bitola elevada e uma grande importância, mas não é sempre o mais influente. Desta vez, porém, foi-o claramente, protagonizando provavelmente a sua melhor exibição no campeonato. A única que rivalizará com esta será a que conseguiu na Madeira, frente ao Nacional. Foi o verdadeiro “dono do jogo” portista, batendo o seu recorde de passes e intercepções, e sendo ainda determinante em alguns lances ofensivos. Não marcou, nem assistiu, mas com este rendimento também não é preciso...

James – Percebe-se, pela idade e rendimento, tão declarada aposta. James correspondeu, aproveitando sobretudo bem a fase de maior exposição do Marítimo e acabou como um dos destaques do jogo. O seu rendimento, porém, não me parece ainda suficiente para que se possa esperar dele uma presença determinante sobretudo nas fases de definição do jogo. Veremos que tipo de confiança lhe trará o golo que marcou...

Hulk – Jogou a partir de posições mais centrais e teve dificuldade em ser tão influente como é hábito. Apareceu menos e com mais dificuldade de dar sequência às suas acções. Hulk, porém, está mesmo imparável e, mesmo assim, marcou um grande golo e fez uma assistência. Entre golos marcados e assistências, valeu 1,7 golos por jogo, em metade do campeonato. A equipa inteira do Sporting, por exemplo, só conseguiu 1,5!

Djalma – É um jogador a quem se projecta capacidade para mais altos voos. Correu muito e foi muitas vezes útil, mas foi, também, demasiadas vezes inconsequente com a bola nos pés. Para jogar a um nível mais elevado não são só precisas explosões, é preciso também critério nas decisões.



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10.1.11

Sporting - Braga: Análise e números

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Esperava um bom jogo, muito melhor do que aquilo que foi. Houve emoção numa parte inicial e a margem tangencial do marcador fez com que a incerteza durasse até ao fim. Durou a incerteza, mas não a qualidade. Aliás, acho que a qualidade nem chegou a aparecer em Alvalade para este jogo. Em relação ao resultado, enfim, como sempre vale mais a pena compreende-lo do que averiguar da sua justiça. Neste caso, o Sporting ganhou por se ter superiorizado em 2 aspectos: eficácia e concentração.

Notas colectivas
Paulo Sérgio seguramente que não se importará com a tendência, porque dela resultaram 2 importantes vitórias. O facto é que, frente ao Braga, o Sporting voltou a atingir alguns mínimos de campeonato. Mínimo em passes completados e mínimo na % de sequência dada à posse de bola. Mínimos, que já haviam sido renovados precisamente na última jornada, em Setúbal.

O facto é que, se o Sporting teve menos qualidade na sequência que deu à sua posse, também acabou por experimentar muito menos erros do que noutros jogos. Ou seja, a equipa procurou – tal como o Braga, aliás – iniciar as suas jogadas sem forçar a saída em apoio, mas com solicitações mais directas, feitas pelos centrais, Carriço e Polga. Não é um costume da “era Paulo Sérgio”, mas aconteceu. Ofensivamente, não colheu grandes frutos, mas como o Braga se encarregou de “entregar o ouro” no seu próprio período negro, isso acabou por interessar pouco. Defensivamente, sim, a opção acabou por beneficiar a equipa, já que as perdas de bola aconteceram quase sempre em zonas seguras, impossibilitando o Braga de actuar em ataque rápido a partir dos momentos de transição.

Relativamente às opções, Paulo Sérgio teve bastantes contra tempos e penso que boa parte da baixa qualidade em circulação deriva do facto de Maniche e Pedro Mendes estarem ausentes neste jogo. Raramente vemos, quer um quer outro, errar o número de entregas de Zapater ou André Santos. Não sendo isto, note-se, uma critica aos 2 médios, mas muito mais um elogio – que repito – à capacidade invulgar de Maniche e Pedro Mendes. De resto, a ironia talvez esteja no facto de ter sido na última baixa, a de Postiga, que Paulo Sérgio terá começado a ganhar o jogo. De facto, parece-me um equívoco tremendo optar por Postiga para jogar como 10 nesta estrutura. Como 10 ou como ala, de resto. Há soluções que garantem muito mais rendimento e uma delas – Valdés – já fez mais do que suficiente para que se questionasse a sua utilização na posição em que mais rende.

Relativamente ao Braga, e depois de alguns bons jogos, tinha tudo para dar sequência ao seu crescimento em Alvalade. Infelizmente para Domingos, a equipa voltou a denotar tendências suicidas e pagou caro por isso. Arrisco-me a dizer que teve mais qualidade de circulação e, até, não menos oportunidades de golo do que o Sporting. Mas, claro, não pode errar como errou em alguns momentos.

Notas individuais
Evaldo – Joga 90 sobre 90 minutos e para o Sporting já é uma boa notícia ter um jogador fiável e regular nessa posição. O seu rendimento, porém, roça os mínimos. É forte fisicamente, mas não lê bem o jogo e por isso consegue poucas antecipações e intercepções. Com bola, falhou demasiados passes.

André Santos – É sempre o mais elogiado e é inegável que tem qualidade. Muitos desses elogios resultam da sua disponibilidade física, que lhe permite dar mais nas vistas em determinados lances. Em certos casos, mesmo, isso pode ser muito útil, como no corte que fez à beira do intervalo, depois de uma grande recuperação. O facto é que André Santos raramente é o jogador mais eficaz do meio campo do Sporting, jogue com quem jogue. Ou seja, deve aprender, especialmente olhando para Maniche e Pedro Mendes o valor do posicionamento e da antecipação do primeiro passe de transição. Se o fizer, sim, tornar-se-á num grande médio.

Zapater – Tudo somado, parece-me justo cataloga-lo de melhor em campo. Foi o jogador mais interventivo no jogo, tendo-se destacado mais pela sua capacidade posicional do que pela qualidade na entrega. A assistência acaba por ser outro dado relevante a favor da sua exibição.

Vukcevic – Começou por se manter longe do jogo, mas acabou por fazer uma partida muito válida e atípica. Vukcevic é normalmente um jogador pouco trabalhador e muito desequilibrador. Desta vez foi o contrário. Juntou-se aos companheiros na luta de meio campo e desequilibrou pouco.

Valdes – Foi o jogador com maior percentagem de sequência em posse, o que, para um jogador de último terço, é notável. Aliás, a sua qualidade técnica é mesmo extraordinária, sendo muito difícil de ser desarmado, seja onde for. Não esteve sempre dentro do jogo, mas foi um elemento muito presente nos momentos de transição e na leitura das segundas bolas, ganhando muitas. A jogar solto, é um craque!

Liedson – Não fez um bom jogo em termos técnicos, mas foi decisivo e, como sempre, trabalhou muito bem sem bola. Aliás, sendo óbvio que o seu rendimento ofensivo não tem sido o mesmo de outras épocas, já a sua capacidade trabalho continua em níveis verdadeiramente extraordinários para um avançado e isso, a meu ver, tem muito valor em termos colectivos.

Salomão – Marcou e foi um destaque óbvio no final pelo impacto que teve. Mesmo tendo feito quase tudo bem, porém, não fez uma grande exibição. Porquê? Porque esteve demasiado ausente do jogo, quer em termos ofensivos, quer em termos defensivos. Ainda assim, creio que merece uma aposta mais contínua.

Alan – Foi, com Paulo César, o melhor do Braga. Tem uma qualidade em posse como poucos jogadores nesta Liga e movimenta-se muito bem sem bola, também. Quase dá vontade de recuperar os seus jogos no Porto para perceber porque falhou num “grande”. Tem 31 anos, mas o seu futebol ainda deve durar. É que Alan não alicerça as suas virtudes na potência física, mas na técnica e inteligência com que aborda cada posse. Espero que não abandone o futebol português nos próximos anos, porque seria uma perda.



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