30.1.15

5 Jogadas (Porto, Benfica, Sporting, Braga e Atl.Madrid)

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Jogada 1 - O golo sofrido na Madeira, e que ditou a surpreendente derrota portista, resulta na minha leitura essencialmente de um desequilíbrio no meio campo da equipa, com Oliver e Herrera a permitir a progressão de Raul Silva, o que ditou depois a exposição das costas da linha defensiva, sendo que a recuperação dos médios (nomeadamente de Oliver) também poderia ter sido mais bem conseguida, e evitado o desfecho final. De todo o modo, e apesar da derrota, o Porto não sentiu grandes problemas do ponto de vista defensivo, acabando este por ser um lance bastante isolado dentro do contexto do jogo. Por outro lado, e repetindo sinais que já vêm desde a pré temporada, a equipa não conseguiu fazer grande uso do domínio territorial de que usufruiu no jogo, nomeadamente não conseguindo ter grande correspondência no volume de desequilíbrios provocados no último terço. De novo, a principal nota vai sem dúvida para o foco no jogo exterior, sendo que a retirada de Quintero perante um contexto de desvantagem não parece ter ajudado muito a atenuar esse problema. No entanto, gostaria de salientar que o problema do Porto não é apenas a ausência de uso do corredor central, porque mesmo jogando por fora como gosta de fazer, exigir-se-ia mais ao Porto em termos de capacidade de penetração no último terço. Ou seja, mais do que jogar por fora ou por dentro, o problema tem a ver com o aproveitamento da dinâmica ofensiva pretendida, que é relativamente baixo para o potencial técnico existente, e que deveria ser maior mesmo apostando essencialmente na penetração pelos corredores laterais. Outra conclusão inevitável, do meu ponto de vista, é que o grau de dificuldade do contexto interno é nesta altura tão baixo que estes problemas apenas acabam por ser evidenciados de forma intermitente...

Jogada 2 - Em Paços, o Benfica desperdiçou uma oportunidade importante de se distanciar ainda mais do Porto, na corrida para o título. A jogada seleccionada tem mais a ver com os primeiros minutos do que com aquilo que o jogo mostrou a partir dos 25-30 minutos. Na verdade, nada de substancial mudou a partir dessa altura, mantendo-se a estratégia do Paços e a abordagem ofensiva do Benfica. A diferença está na eficácia dos processos, que nos primeiros minutos foi francamente favorável à equipa campeã nacional, e que se inverteu completamente  a partir daí. De facto, são muito invulgares as dificuldades de penetração que o Benfica sentiu em praticamente toda a segunda parte, onde quase não conseguiu entrar na área do Paços, a não ser de bola parada. Mérito inquestionável para o Paços, que é uma equipa que já elogiei no passado, e que de facto me parece ter menos pontos do que aquilo que a sua performance qualitativa justificaria, nomeadamente sendo a equipa que na minha perspectiva mais explora o corredor central, na liga portuguesa. Neste jogo, e tal como já havia acontecido frente ao Porto, Paulo Fonseca apostou numa estratégia diferente da habitual, nomeadamente com um bloco mais baixo e uma construção mais directa e a assumir menos riscos na saída em apoio. O facto é que, e à margem do tal período inicial onde houve também bastante mérito do Benfica nos desequilíbrios que criou, a equipa conseguiu um excelente condicionamento do jogo ofensivo do Benfica, convidando a entrar pelos corredores laterais, onde a sua presença numérica era favorável ao sucesso da pressão defensiva, como o tempo acabou por mostrar. No que respeita ao Benfica, e tal como escrevi para o caso do Porto, há debilidades que não são devidamente denunciadas pelo grau de dificuldade da competição interna, mas que poder-se-ão tornar evidentes sempre que a fasquia suba, sendo que o caso do meio campo me parece relativamente evidente, havendo dificuldades tanto em Talisca como em Samaris.

Jogada 3 - Um fim de semana de raro aproveitamento para o Sporting, que não só venceu o seu jogo como tirou partido de vários deslizes alheios. No entanto, esta terá sido provavelmente a mais modesta exibição da equipa no seu estádio, se considerarmos apenas a produção ofensiva. A nota, e comparando este jogo com outros que resultaram na perda de pontos, vai para o capítulo defensivo, sendo que nessas ocasiões o Sporting foi penalizado pelo facto de ter concedido aos seus adversários uma vantagem inicial. Uma evidência, na minha leitura, de como pode ser importante manter um bom controlo defensivo, mesmo nos jogos onde a superioridade esperada é maior. Desta vez, e na minha leitura sobretudo por demérito da Académica, os sobressaltos defensivos foram bem menores do que noutras ocasiões. O destaque da jogada, concretamente, vai para a acção de João Mário, que mais uma vez conseguiu um excelente timing de abordagem à zona de finalização, percebendo a liberdade circunstancial de que usufruiu William Carvalho. É esse movimento que cria dúvida na defesa da Académica e que permite, primeiro, abrir espaço para Tanaka e, depois, beneficiar o próprio João Mário na recarga. Curiosamente, há 2 semanas escrevia que João Mário certamente teria muitos golos por celebrar se mantivesse a capacidade que mostrou em Braga, e onde foi fracamente infeliz no capítulo da finalização. Coincidentemente, acabou mesmo por marcar em duas jornadas consecutivas, e na sequência de acções do mesmo tipo.

Jogada 4 - No Bessa, mais um resultado surpreendente da jornada. Um jogo que na minha opinião foi globalmente fraco de parte a parte, mas no qual o Braga conseguiu um excelente aproveitamento das poucas acções ofensivas que conseguiu levar até ao último terço, criando um número substancial de ocasiões para marcar, nomeadamente na segunda parte. Paradoxalmente, e como tantas vezes acontece no futebol, foi o Boavista quem conseguiu chegar ao golo, naquela que foi praticamente a única vez em que realmente conseguiu ameaçar o extremo reduto do Braga. O interesse desta jogada reside nos comportamentos tácticos dos jogadores do Braga, que facilmente poderiam ter evitado este desfecho. Várias vezes tenho aqui trazido exemplos da vulnerabilidade de linhas defensivas com comportamento mais agressivo no que respeita ao risco que assumem relativamente ao espaço nas suas costas, e de facto essa é a tendência mais comum nas equipas do futebol actual. O Braga de Sérgio Conceição é um exemplo contrário, sendo este um lance que ajuda a perceber o porquê de cada vez mais treinadores apostarem em linhas defensivas mais altas e menos profundas. Assim, de notar, primeiro, as referências individuais dos jogadores na zona da bola, que são arrastados por movimentos de adversários e acabam por não conseguir fazer a cobertura interior, que impediria Tengarrinha de progredir em direcção ao corredor central, como aconteceu. Depois, e face à iminência do remate, a linha defensiva do Braga não sobe, como geralmente acontece, sendo este um comportamento que não faz parte dos instintos colectivos da equipa e que facilmente colocaria Uchebo em posição irregular, inviabilizando a recarga final. De facto, percebe-se facilmente as vantagens que o Braga retiraria em incorporar e rever certos princípios defensivos, mas é importante não partir desta constatação para conclusões simplistas sobre o que é a qualidade defensiva de uma equipa. Se o objectivo é a eficácia, a qualidade não pode ser medida por questões de estilo ou preferências pessoais sobre determinados princípios. O caso do Braga de Sérgio Conceição é um excelente exemplo disto mesmo, porque apesar de ter princípios colectivos que podem ser questionáveis, a verdade é que a equipa tem conseguido como um todo ser bastante consistente defensivamente, registando o melhor registo defensivo do clube desde a época 09/10 (por exemplo, tem menos de metade dos golos sofridos por Peseiro, no mesmo número de jogos!). Ou seja - e de novo tendo como base axiomática a ideia de que o objectivo é a eficácia - fica claro que, e ao contrário do que me parece tantas vezes acontecer, a qualidade não pode ser medida linearmente a partir dos princípios defensivos que cada equipa assume, sob pena de se chegar a conclusões completamente desfasadas daquilo que é depois a eficácia prática e real do seu desempenho.

Jogada 5 - Para terminar, o caso do Atlético - Rayo da última jornada. O Atlético não fez um grande jogo, nomeadamente do ponto de vista da afirmação territorial ou mesmo da frequência com que invadiu com propósito o último terço contrário. No entanto, não só resolveu facilmente o problema que tinha pela frente, como ainda acabou por desperdiçar a hipótese da goleada, perdendo algumas boas ocasiões já na recta final da partida. A explicação aqui vai, e mais uma vez, para a eficácia dos processos do Atlético, nomeadamente para a capacidade que equipa tem de ajustar rapidamente o seu posicionamento ao longo das jogadas, seja na transição ou mesmo dentro dos próprios momentos tácticos. O primeiro golo serve de excelente exemplo, parece-me, e por isso trouxe a jogada. Em particular, o sublinhado vai para a forma como a equipa do Atlético mantém, como um bloco, a intensidade da pressão ao longo de uma extensão tão dilatada do terreno, enquanto a equipa do Rayo tenta precisamente evitar que isso aconteça, ao retirar a bola da zona de pressão, socorrendo-se da profundidade para o fazer. A propósito do Atlético e de Simeone, uma nota sobre as discussões que muitas vezes dividem opiniões sobre o trabalho do treinador argentino. Mais uma vez, as questões de estilo parecem-me acabar por dominar um tema que devia estar muito mais centrado naquilo que é realmente o objectivo de um treinador, que é optimizar a eficácia da equipa e dos seus processos. Assim, pode-se ter paradigmas muito diferentes quando se discute e compara treinadores de topo e com trajectos verdadeiramente excepcionais (há muito poucos, na verdade). Por exemplo, pegando em Simeone e Guardiola podemos focar-nos no estilo, e dar-mo-nos ao exercício trivial de salientar as diferenças entre ambos, ou na eficácia, e tentar encontrar os pontos comuns que podem explicar o sucesso a partir de registos tão diferentes. A mim, pessoalmente, é apenas esta última perspectiva que me interessa...

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23.1.15

5 jogadas (Benfica, Sporting, Barça, Man Utd, Chelsea)

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Jogada 1 - O terceiro golo do Benfica é revelador do porquê de uma vitória tão fácil numa deslocação que à partida seria das mais difíceis para o líder e campeão. Começando pelo mérito do Benfica, são incontornáveis as dificuldades que a mobilidade dos seus avançados causam às defensivas contrárias. Aqui, novo destaque para Jonas, que veio realmente injectar uma grande qualidade à frente de ataque encarnada. Por outro lado, o Marítimo não revelou grande capacidade para controlar esta capacidade do seu adversário, apresentando várias debilidades que acabaram por contribuir decisivamente para o acentuar da diferença no marcador. No caso desta jogada, nota para a forma como a linha média é atraída para pressionar sem que existisse enquadramento posicional que lhe permitisse ter grande sucesso nessa acção, o que acabou por expor a zona interior do bloco e, consequentemente, a linha defensiva. Uma boa imagem da forma como a linha média do Marítimo foi exposta pela mobilidade dos jogadores do Benfica é Danilo Pereira, que assume uma postura posicional durante toda a jogada, mas que mesmo assim acaba por não conseguir intervir sempre que a bola entra na sua zona. De todo o modo, o contexto no campeonato parece ser agora bem mais positivo para o Benfica, que tem conseguido exibições bastante positivas e mais do que suficientes para o nível da oposição interna. Ainda que isto não signifique, pelo menos na minha leitura, que os padrões de qualidade do Benfica actual, sejam tão elevados como foram nas últimas temporadas.

Jogada 2 - Em Alvalade, um jogo interessante pela capacidade que ambas equipas tiveram para provocar dificuldades de controlo defensivo ao seu adversário. Não há aqui grande surpresa, se considerarmos o perfil das duas equipas e aquilo que já haviam mostrado nesta temporada. Uma análise cuja conclusão não é muito abonatória para o Sporting, já que a exigência a que a equipa está sujeita passa, não apenas por se superiorizar à generalidade dos adversários que encontra internamente, mas de conseguir um nível de controlo bastante acentuado do resultado e do destino dos 3 pontos. Sobre os problemas defensivos do Sporting, de resto, esta semana trouxe-nos a notícia de uma relevante mudança de centrais. A saída de Maurício, parece-me, é sobretudo boa para o jogador, não apenas por factores financeiros, mas também porque em Portugal tinha um contexto mediático muito pouco favorável, que teve como génese o preconceito de ter vindo de uma divisão secundária do futebol brasileiro, e que culminou na incrível tese de que era nele que estava o epicentro dos problemas defensivos da equipa nesta temporada. Ora, Maurício não era seguramente um central de qualidades extraordinárias ou que me pareçam especialmente difíceis de substituir, mas não só é importante não esquecer que foi titular absoluto com dois treinadores distintos e vários concorrentes para o lugar como que, e aqui entra a minha leitura pessoal, no tempo em que esteve no clube apenas um jogador da sua posição se revelou mais consistente, Paulo Oliveira. Ou seja, gastaram-se tantas energias a escalpelizar, em absoluto, os defeitos de Maurício (que existiam, de facto), que receio que se possa ter esquecido o seu enquadramento relativo, nomeadamente a comparação com os defeitos das alternativas existentes para a posição. E voltando à subjectividade da minha apreciação pessoal, sendo Maurício claramente o segundo melhor central que o Sporting tinha nos seus quadros, isso significa que a sua saída, mesmo sendo aparentemente tão desejada, não pode deixar de ser considerada como um risco, tanto mais que não sou capaz de precisar por antecipação o que pode valer Ewerton. Esperemos, pois, para ver...
Quanto à jogada, nela está mais um exemplo do porquê de não me parecer de todo que os problemas defensivos do Sporting tivessem como epicentro Maurício ou a qualidade individual dos jogadores da linha defensiva. O problema está, como quase sempre acontece, no processo defensivo como um todo e no seu enquadramento com as características individuais dos jogadores. No caso, salta à vista, e mais uma vez, a dificuldade de William Carvalho na recuperação defensiva, um problema que embora não mereça tanta atenção mediática, me parece ser dos mais evidentes do Sporting 14/15.

Jogada 3 - Na Corunha, o Barça realizou uma exibição a lembrar os seus melhores tempos, nomeadamente expondo a linha defensiva contrária com uma facilidade e frequência impressionantes. É claro que há aqui uma boa parte de demérito do próprio Depor, mas ainda assim sou da opinião de que há sinais optimistas para que possamos vir a ter um Barcelona na primeira linha para a disputa dos principais títulos da temporada, tanto internamente como a nível europeu. Aliás, anormal seria que a expectativa fosse outra. No caso da jogada do primeiro golo, a nota vai para a forma como o Deportivo negligenciou o risco que representa oferecer espaço nas costas da linha defensiva quando se perde presença pressionante sobre o portador da bola. Uma vulnerabilidade identificada e explorada de forma quase instintiva por Messi. Aliás, este tipo de capacidade para ler e antecipar movimentos de abordagem às zonas de finalização é a característica que mais aproxima os grandes goleadores do futebol mundial. Sobre Messi, de resto, o seu rendimento recente tem sido notável, abrindo de forma bastante prometedora o ano de 2015 (na verdade, também aqui o que é invulgar é o rendimento de Messi não ser excepcional!). Já agora, nota também para o jogo a meio da semana frente ao Atlético. Como era previsível, não foi possível realizar um jogo tão conseguido como aquele que opôs as duas equipas para o campeonato, e o Atlético voltou a conseguir um controlo defensivo notável para quem joga no terreno de uma super potência do futebol mundial, como provavelmente só mesmo a equipa de Simeone consegue nos tempos que correm. Ainda assim, o Barça voltou a realizar uma exibição que me parece muito conseguida, voltando a merecer-me destaque a distribuição da equipa em ataque posicional, nomeadamente relativamente à profundidade dos extremos, o que causou problemas de controlo defensivo á linha defensiva do Atlético.

Jogada 4 - Uma nota sobre Falcao, no United de Van Gaal. Teve um conjunto de ocasiões que não conseguiu concretizar, frente ao QPR, e daí resulta a habitual dicotomia de opiniões. A corrente mais comum passará por penalizar a ineficácia circunstancial, mas como quem me vai lendo saberá, eu tendo a pensar que quem se movimenta desta forma e chama a si tantas ocasiões, mais tarde ou mais cedo acabará por festejar golos com muita regularidade. Na jogada que seleccionei, fica evidente o bom timing de Falcao ao baixar no tempo certo para ficar no limite do fora de jogo e depois explorar as costas de uma linha defensiva que também não teve a melhor das reacções a um lançamento largo e bastante previsível.

Jogada 5 - Uma longa jogada o Chelsea, que retrata bem a facilidade e superioridade da equipa de Mourinho na deslocação ao terreno do Swansea. Algo que, pessoalmente, me surpreente, porque a Premier League revela uma grande competitividade, com as principais equipas a denotarem dificuldades em praticamente todas as partidas. Por exemplo, no jogo anterior o Chelsea recebeu o Newcastle, e teve enormes dificuldades na primeira parte, como nenhum candidato ao título sente em Espanha ou Portugal, acabando por beneficiar da eficácia e de uma boa dose de fortuna para não se colocar em apuros nesse jogo. A manter-se este contexto tudo pode acontecer na Premier League, sendo de prever que tanto Chelsea como Man City possam perder pontos com alguma regularidade, na corrida para o título. O mesmo se pode dizer, de resto, da luta pelos lugares de acesso à Champions, onde me parecem haver 5 candidatos (Arsenal, Man United, Liverpool, Southampton e Tottenham) para 2 lugares.

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20.1.15

Liga 14/15: balanço da primeira volta

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Aproveito o final da primeira volta para deixar aqui um pequeno balanço da performance das equipas até agora. Divido esta análise em três partes, deixando como nota prévia a noção de que todos os quadros apresentados têm por base os dados recolhidos ao longo da época, segundo os critérios que venho mantendo.

Ranking por ocasiões de golo
Este é um quadro que venho apresentando com alguma regularidade ao longo da temporada, por isso não deverá constituir grande novidade para quem já se cruzou com ele. A vantagem de usar ocasiões de golo neste tipo de análise, em vez dos habituais golos efectivamente marcados e sofridos, é que este é um indicador menos vulnerável à aleatoriedade, o que em princípio deverá permitir uma tradução mais fiável dos méritos e deméritos das equipas.
O ranking não me parece surpreender muito. No topo, um grande equilíbrio entre Porto e Benfica, explicando-se a liderança dos encarnados, e à luz destes dados, sobretudo pela eficiência e não tanto por uma melhor produção em termos de ocasiões criadas e consentidas. O Sporting aparece em terceiro lugar, sendo curioso observar que conseguiu criar mais ocasiões do que os seus rivais, sendo no entanto muito penalizado pelo registo defensivo, como alíás já foi analisado noutra altura. Em relação a algumas discrepâncias relativamente à tabela classificativa, a principal explicação será a mera aleatoriedade no aproveitamento das ocasiões criadas e consentidas, mas obviamente haverá outros factores com algum carácter explicativo.

"3 Grandes": Evolução comparativa
O gráfico pretende ilustrar a evolução comparativa dos "3 grandes", ao nível da % de ocasiões a favor nos respectivos jogos. Obviamente, este é um indicador que se torna cada vez mais estável ao longo do tempo, uma vez que considera os dados da época de forma acumulada. O gráfico confirma uma maior regularidade do Benfica, assim como uma melhoria progressiva do Porto, em especial nas últimas jornadas. Quanto ao Sporting, o seu início não lhe foi favorável, e embora tenha conseguido uma evolução positiva na segunda metade da primeira volta, a diferença para os outros dois rivais continua a ser clara, sendo que como já se referiu ela se explica essencialmente pela performance defensiva.

Destaques individuais
 Relativamente à performance individual, a primeira nota que quero deixar ficar tem a ver com o contexto da análise, que oferece grande importância às ocasiões de golo. Para além dos jogadores destacados no 11 sugerido no quadro, destaque para os seguintes jogadores: Assis (guarda redes, Guimarães); Maxi (lateral, Benfica), Jefferson (lateral, Sporting); Jardel (central, Benfica); Aderlan (central, Braga); Tarantini (médio defensivo, Rio Ave); Herrera (médio ofensivo, Porto); Quintero (médio ofensivo, Porto); Carrillo (extremo, Sporting); Urreta (extremo, Paços); Hernani (extremo, Guimarães); Lima (avançado, Benfica); Montero (avançado, Sporting); Deyverson (avançado, Belenenses).

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16.1.15

5 jogadas (Benfica, Porto, Sporting, Barcelona e Roma)

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Jogada 1 - Lance de contra ataque do Benfica, numa primeira parte muito bem conseguida pela equipa de Jesus, construindo um número impressionante de ocasiões de golo. O meu sublinhado vai para o desempenho individual dos três protagonistas do lance, em especial para Jonas, não apenas pelo movimento final da jogada, mas também pelo pormenor técnico com que dá inicio à transição. Restam cada vez menos dúvidas de que o brasileiro se veio constituir como uma das principais mais valias do campeonato, tendo sido uma das mais acertadas aquisições da temporada e um jogador que justifica as mais optimistas esperanças por parte dos adeptos encarnados.

Jogada 2 - Este não é o ciclo de jogos ideal para testar a evolução da equipa, mas não me deixa de parecer que o Porto de Lopetegui tem dado sinais positivos nos tempos mais recentes. Ao nível da organização defensiva, já confessei as minhas elevadas expectativas a partir do que a equipa vem mostrando, mas surgem também alguns sinais positivos relativamente à dinâmica ofensiva, que durante muito tempo estiveram ausentes. O lance do primeiro golo na recepção ao Belenenses, com uma movimentação muito bem conseguida pelos dois médios sobre o corredor central, e que não foi caso isolado no jogo. O favoritismo não está claramente do lado portista no que respeita à corrida pelo título, mas a julgar pelo rendimento recente, o Benfica terá mesmo de manter a bitola elevada se quiser valer os 6 pontos de vantagem que conseguiu.

Jogada 3 - Vitória importante do Sporting em Braga, que foi justificada sobretudo pelo que a equipa conseguiu produzir no primeiro quarto de hora da segunda parte. Este lance, parece-me, reflecte bem como a equipa de Marco Silva conseguiu criar tantos lances de golo eminente num curto espaço de tempo. Decisivo o meio campo e as bolas divididas nessa zona do terreno, como ponto de partida. Depois, a incidência sobre os corredores laterais na fase criativa, coisa que também o Braga procurou fazer (e com algum sucesso, especialmente através de Pardo). Finalmente, a importância de ter boa presença na zona de finalização para dar sequência aos cruzamentos, sendo que aqui a acção de João Mário merece-me especial destaque. Não é a primeira vez que refiro à importância de ter um jogador capaz de ser, simultaneamente, um elemento extra na linha média e uma presença recorrente na zona de finalização. João Mário tem-no conseguido fazer com sucesso, e mesmo se neste jogo perdeu algumas oportunidades flagrantes, a dar continuidade a este tipo de prestação, certamente que ainda virá a festejar muitos golos até final da temporada.

Jogada 4 - Não há nada de surpreendente na vitória do Barça, frente ao Atlético de Madrid. A diferença de forças é enorme, e não se pode esperar que o Atlético repita sucessivamente os milagres que vem protagonizando sob o comando de Simeone. Mérito para o Barça, sobretudo pela inspiração na primeira parte, mas isso não pode afectar o reconhecimento de nova época notável que o Atlético vem realizando, se tivermos em conta o desnível entre os seus recursos e os dos rivais. Enfim, haverá mais para falar sobre Barça e Atlético até final da época... Sobre o lance do segundo golo, o meu destaque vai para o posicionamento estrategicamente aberto dos dois alas do Barça, que retiveram os laterais do Atlético, aumentando o espaço nas costas da primeira linha de pressão. O ajustamento posicional do Atlético vai ser circunstancialmente imperfeito e permite que Bravo encontre uma linha de passe dentro do bloco contrário. O desequilíbrio propriamente dito, porém, surge na má abordagem de Juanfran, que perde o tempo de antecipação sobre Messi e permite que o Barça parta para a área numa situação de 4x3. Depois, é igualmente interessante o movimento cruzado de Suarez e Neymar, com o brasileiro a arrastar o lateral e a abrir o espaço onde Suarez irá finalizar. Um comportamento defensivo que pode ser questionado, sem dúvida, mas como escrevi o desequilíbrio surge à priori.

Jogada 5 - Sublinhado para o primeiro dos dois golos de Totti no derbi de Roma. A Lazio opta por defender com uma linha defensiva muito próxima da linha da bola, sendo essa uma opção comportamental normal. À partida, esta é uma situação pouco favorável para que a Roma crie um desequilíbrio através de um cruzamento, tendo apenas um jogador na área, e por sinal atrás de toda a linha defensiva. O ponto aqui tem a ver com a oportunidade que este tipo de posicionamento defensivo abre perante bolas que atravessem quase paralelamente a linha defensiva. Ao estar colocado atrás de toda a linha defensiva, Totti tem uma dupla vantagem. Primeiro, relativamente ao controlo da legalidade do seu posicionamento, porque tem todos os defensores no seu campo de visão. Depois, o tempo de reacção à trajectória da bola, que é maior para ele do que para qualquer outro defensor, pelo facto de ser ele quem está mais afastado. E é precisamente a combinação destes dois factores que permite que Totti tire partido de uma vantagem improvável neste lance, sendo que grande parte do mérito vai para a lucidez de Strootman, que efectua o cruzamento com toda a intenção. Um exemplo de como diferentes soluções ofensivas podem ter um potencial de sucesso completamente diferente, em função dos princípios defensivos do adversário. Mais uma vez, uma constatação que valoriza a especificidade e reduz a hipótese de certos comportamentos e princípios tácticos serem, per se, amplamente superiores a outros.

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13.1.15

Ballon d'Or 2014

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Melhor jogador - Estes prémios têm a particularidade de combinar uma importância mediática crescente com uma imutável subjectividade para os critérios de escolha. A importância mediática é crescente, não só pelas características da sociedade actual, mas também porque com a centralização deste prémio na FIFA, e abrangendo todos os jogadores do planeta, esta passa a ser a referência máxima para encontrarmos os melhores da História do jogo. Basicamente, com o passar do tempo será sobretudo para esta lista que as gerações seguintes irão olhar quando quiserem saber quem foram os melhores do tempo dos seus antepassados. E aqui reside uma primeira distinção entre aquilo que é hoje o "FIFA Ballon d'Or", e o que foi noutros tempos o "Ballon d'Or" do France Football, apenas circunscrito a jogadores europeus. Por exemplo, é impossível comparar Pelé com Maradona à luz destes prémios, mas ninguém duvidará que o balanço histórico entre Messi e Ronaldo se fará em grande medida pelo número de bolas douradas que ambos conseguirem conquistar até ao final das respectivas carreiras. A outra distinção tem a ver com o facto de hoje, e ao contrário de tempos que não são assim tão remotos (ou se calhar já são, e eu é que estou a ficar velho), hoje a apreciação do desempenho dos principais jogadores mundiais pode ser feita de forma global e ao longo de toda a época. E isto, parece-me claro, faz com que eventos super mediáticos, como fases finais de campeonatos do mundo ou da europa, deixem de ter um peso tão avassalador na eleição, como acontecia no passado.

Quanto à escolha de 2014, ela parece ser bastante consensual, tendo em conta os resultados da votação. No entanto, e voltando a pegar nesta ideia, o facto de não existirem critérios claros para a eleição torna a escolha subjectiva, tornando possíveis e igualmente válidas as mais diferentes opiniões. Pessoalmente, penso que a escolha deve recair no jogador que mais potenciou (em termos absolutos e não relativos, como é evidente) as hipóteses de sucesso das respectivas equipas através do seu contributo individual, independentemente dos títulos que conquistou colectivamente. E, na minha opinião, só há dois jogadores que actualmente podem discutir esse estatuto, Ronaldo e Messi. A diferença entre ambos, hoje, não me parece tão grande quanto a votação sugere, assim como não me parece que o tivesse sido em edições passadas, quando Messi venceu de forma igualmente inquestionada. Na minha análise, tem muito que ver com o contexto colectivo em que cada um se insere, sendo que Messi teve durante muito tempo uma vantagem a esse nível (nomeadamente na era Guardiola), e hoje será Ronaldo a usufruir do lado favorável desse handicap. Em 2015, e salvo qualquer lesão indesejada, a luta deverá ser novamente entre os dois, com a eventual introdução de uma terceira figura, caso nem Real, nem Barça conquistem a Champions, ainda que eu discorde de que os títulos colectivos devam ter um grande peso numa eleição que supostamente é centrada na performance individual.

Melhor treinador - Também aqui está omisso um critério claro para a escolha, o que torna também válida qualquer opinião. Outra questão será perceber qual é o critério que norteia a eleição, e olhando para o histórico de distinções fica evidente que é condição necessária que o candidato tenha conquistado uma grande competição ao nível de Selecções, ou a Champions League, especialmente em anos em que não há europeus ou mundiais. Ora, se assim for, diria que este é um prémio essencialmente estéril e redundante, porque mais não faz do que replicar para a personalidade dos treinadores os desfechos colectivos que já conhecemos desde o Verão. E esta ideia não podia ter ficado mais clara para mim do que na edição deste ano.
A meu ver, este prémio deveria distinguir o treinador que, ao mais alto nível do futebol mundial, mais conseguiu potenciar os recursos individuais com vista a atingir o ambicionado sucesso colectivo. E, a este respeito, 2014 foi um ano histórico relativamente à performance do Atlético de Madrid de Simeone. Barcelona e Real Madrid são, mais do que nunca, pólos agregadores das principais figuras do futebol mundial. Não são apenas capazes de contratar a primeira linha de jogadores para cada posição, contratam a primeira, a segunda e a terceira. O Atlético, pelo contrário, não só não pode competir com os rivais no mercado, como ainda se vê praticamente forçado a vender a sua principal figura todos os anos. São dimensões radicalmente diferentes, e se vencer uma taça do rei neste contexto seria já de si um feito notável, superar Barça e Real numa prova de regularidade como é o campeonato, chegando paralelamente à final da Champions é algo que até 2014 parecia apenas ser possível no domínio da ficção. Se tudo isto não chega para um treinador vencer este prémio, só porque não ganhou a Champions ou o Mundial, então tenho realmente muita dificuldade em perceber o alcance desta distinção.
Relativamente a Low, creio que de facto tem feito um bom trabalho na selecção alemã, que foi indiscutivelmente a mais forte do último Mundial. Mas, o mérito de Low nesse feito parece-me ser mais ou menos o mesmo aquele que teve Del Bosque nas suas conquistas de 2010 e 2012. Aliás, parece-me que hoje Low justificará até menos esta distinção do que em anos anteriores, nomeadamente quando renovou uma Selecção com um conjunto de jovens jogadores ainda pouco reputados, compondo uma equipa de grande qualidade. Hoje, o contexto é-lhe incomparavelmente mais favorável.
Há um nome que penso que devia estar nesta lista, que é o de Guardiola. Não apenas pelos títulos e domínio que conseguiu internamente, mas sobretudo pelo facto de ser um treinador que, ao mais alto nível, tem uma abordagem diferente de todos os outros. Aqui, porém, parece-me que Guardiola é vitima da escolha confortável que fez ao eleger o Bayern como destino para esta fase da sua carreira. O Bayern reforça-se com as principais figuras dos rivais internos, pelo que dominar a Bundesliga mais não é do que uma obrigação para quem dirige a equipa, e por isso um objectivo muito curto para um treinador com a qualidade de Guardiola. Seria, permitam-me a analogia, como colocar o mítico Sergey Bubka a saltar fasquias de 5 metros. Um desperdício para todos nós, que queremos ver os melhores a disputar os melhores títulos até ao limite, e creio que também um desperdicio para o próprio Guardiola, que vê a afirmação das suas ideias, no alcance que elas pretendem ter, ser resumida à performance da equipa na Champions. Aliás, suspeito até que a falta de competitividade possa não permitir que certos comportamentos de maior risco possam ser testados num nível superior, pelo menos foi a ideia que ficou pela forma como a equipa foi surpreendida perante a transição do Real. Enfim, apesar de tudo não hesitaria em incluir Guardiola na lista de 3 finalistas para este prémio, em detrimento de Ancelotti.

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9.1.15

Os finalizadores das principais ligas europeias

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Partilho uma análise com os jogadores que mais ocasiões de golo tiveram até ao momento em 5 das principais ligas europeias. Aqui ficam alguns destaques breves:

Espanha - O destaque óbvio vai para o paralelismo entre os dois principais jogadores do futebol actual, Ronaldo e Messi. De facto, vemos que não há muito a separar os dois a este nível e que a sua propensão goleadora extraordinária resulta essencialmente do facto de usufruirem de mais ocasiões do que os outros jogadores e não de um aproveitamento extraordinário dessas ocasiões, como por vezes se confunde. Aqui, importa sublinhar o contexto colectivo, porque Real e Barça são das equipas que mais ocasiões criam, o que obviamente facilita o destaque individual dos seus jogadores, sendo que o grande mérito de Ronaldo e Messi é a sua capacidade de se distinguirem entre tantos jogadores de excelência que actuam ao seu lado. Benzema, Bale, Neymar ou Suarez, e apesar da sua enorme e reconhecida qualidade, simplesmente não conseguem atingir o mesmo patamar de protagonismo. Nota nesta lista para a presença de Luciano Vietto, um jovem que promete muito no Villarreal.

Alemanha - Nota incontornável para o improvável destaque que Alexander Meier conseguiu nesta primeira metade da temporada. Surpreendente, de facto! O mais expectável, obviamente, seria termos um jogador do Bayern a liderar esta lista, dada a superioridade da equipa na prova. Na minha leitura, o facto de assim não ser revela sobretudo que não há nenhum jogador que seja capaz de se distinguir dos demais no papel de finalizador, o que não impede a equipa de Guardiola de ser aquela que mais se aproxima do golo internamente. Incomparavelmente!

Inglaterra - Surpreendente, sem dúvida, o destaque que Charlie Austin assumiu. É um facto que o tempo de análise não é muito, e que o QPR terá uma forma de jogar que beneficia muito as características do jogador, mas ainda assim não deixa de ser um registo notável e que justifica alguma atenção à evolução do jogador. Nota ainda para Diego Costa, que conseguiu um aproveitamento excepcional das ocasiões de que usufruiu até ao momento, mas que dificilmente poderá manter os mesmos níveis de eficiência até ao final da competição. Para se manter no topo dos marcadores, portanto, terá de conseguir ser protagonista com mais frequência em lances chave, tanto mais que o seu peso relativo nas principais finalizações da equipa não é tão elevada como à partida se poderia supor. A este propósito, e entre as principais equipas da Premier League, Aguero é o jogador que aparece com um registo mais impressionante, pelo peso relativo que conseguiu ter no Man City.

Itália - A ideia de que o Calcio não tem hoje protagonistas com o destaque individual de outros tempos é confirmada por esta tabela (ao nível dos finalizadores, claro). O destaque de Callejon e Higuain resulta naturalmente do facto do Napoles ser a equipa com mais ocasiões na prova até ao momento, e não de um protagonismo excepcional de qualquer dos dois. Aliás, esse protagonismo não é conseguido por nenhum jogador, entre as principais formações da Serie A. Nota para o bom desempenho de dois jovens argentinos, Paulo Dybala e Mauro Icardi.

Portugal - Os números do campeonato português confirmam, sem surpresa, o protagonismo de Jackson e Slimani como principais finalizadores da Liga, beneficiando o colombiano do facto de ter mais minutos jogados e de ter conseguido um melhor aproveitamento percentual das ocasiões de que usufruiu, para ter uma vantagem importante ao nível dos melhores marcadores. Ainda relativamente ao Sporting, Montero aparece também entre os jogadores com mais ocasiões, o que pode ser aparentemente um bom sinal, tendo em conta a ausência de Slimani nos próximos meses. No entanto, é importante notar que o colombiano actuou muito mais minutos em casa do que fora, sendo que o seu protagonismo foi muito mais baixo nos minutos em que actuou fora de Alvalade. Olhando por este prisma, a ausência de Slimani já se afigura como um problema potencial de maior relevância para o Sporting. A confirmar nos próximos jogos... Nota para os desempenhos de Kuca e Deyverson, o primeiro pelo facto de ser um extremo e o segundo pelo peso específico que conseguiu no Belenenses. Finalmente, referência para o caso atípico de Rondon, um dos jogadores com mais ocasiões na prova, mas ainda sem qualquer golo.

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6.1.15

Notas da jornada 15

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Sporting - Estoril
Um jogo muito confortável para o Sporting, ao contrário do que vinha sendo regra nos jogos para o campeonato em Alvalade. E este é o primeiro ponto que gostaria de abordar, porque, e muito embora o resultado o possa sugerir, eu não creio que o Sporting tenha tido uma exibição especialmente mais bem conseguida, relativamente a outras que, nesta época e no mesmo estádio, terminaram em perdas pontuais ou vitórias sofridas. A diferença fundamental está na eficiência, e no aproveitamento ofensivo das ocasiões criadas, que desta vez permitiu ao Sporting ganhar uma vantagem desde cedo, ao contrário de outras ocasiões. Aliás, sobre isto é interessante notar que a eficiência é precisamente a explicação para o facto do Sporting ter menos golos marcados em casa do que fora, já que ao nível de ocasiões claras de golo (e à luz da análise que venho mantendo e partilhando) a equipa tem sido bastante mais produtiva nos jogos domésticos. Ou seja, o problema da falta de golos será apenas circunstancial e a probabilidade é que o tempo o acabe por mostrar.
O segundo ponto tem a ver com o desempenho defensivo, que na minha análise é, claramente e a par de alguma má fortuna em alguns jogos, a grande explicação para o facto do Sporting estar nesta altura praticamente arredado da discussão do título. É incontornável que o Estoril não criou grandes ocasiões para marcar, mas sobretudo na primeira parte teve situações para se aproximar desse objectivo. Ou seja, é inegável que a equipa tem estado mais estável nos últimos jogos (parece-me importante que tenha afastado o enorme equívoco que foram algumas apostas, nomeadamente em Sarr e Esgaio), mas é cedo ainda para retirar conclusões relativamente à solidez do processo defensivo, e nesse sentido os próximos jogos poderão oferecer pistas mais concretas.
Finalmente, nota para o facto de o Sporting ter dado continuidade a uma série de vitórias no meio de tanta agitação nos bastidores. Se a equipa não tivesse sido bem sucedida neste ciclo, certamente não faltariam teorias a estabelecer um nexo de causalidade, muito estreito, entre o que se passou no plano mediático e no terreno de jogo. É um caso que, mesmo não podendo servir de prova, não deixa de ser um exemplo de como o impacto das variáveis externas na performance desportiva está longe de ter o efeito que geralmente se pensa poder ter. O futebol tem uma característica que o distingue de outras áreas igualmente mediáticas (nomeadamente a política), e que confesso me agrada muito. É que o futebol é essencialmente um jogo, onde a competência dos intervenientes e a sorte são os factores que, de forma avassaladora, mais definem o sucesso e insucesso dos diversos protagonistas. Para se chegar à presidência de um clube - nomeadamente de um clube grande - podem ser indispensáveis as capas de jornais, as entrevistas e, agora também, as redes sociais. Mas, uma vez atingida essa função, tudo isso passa a ser perfeitamente acessório, por muito que haja muita gente que goste de acreditar no contrário. No futebol nada interessa mais do que o jogo, e essa parece-me ser uma boa lição a retirar de todo este frenesim.

Gil Vicente - Porto
A forma como o jogo começou, nomeadamente com um número surpreendente de ocasiões para o Gil Vicente poderá ter atenuado a percepção positiva que a exibição portista me parece justificar. É claro que o grau de dificuldade, já de si muito baixo e ainda mais acentuado pela expulsão, não permitem que se possa valorizar muito os índicios positivos deixados, mas não se pode também deixar de assinalar o impressionante volume ofensivo que o Porto conseguiu, nomeadamente acumulando um registo avassalador de ocasiões claras de golo, o mais elevado na prova até agora (repito, segundo os meus critérios de análise), e certamente muito difícil de igualar no que ainda falta jogar. Individualmente, haverá vários nomes a destacar, mas creio que nenhum o justificará tanto como Oliver.
Há duas ideias que gostaria de partilhar, relativamente ao futebol do Porto, e que de resto não são novas. A primeira, relativamente ao papel do pivot na construção, que me continua a parecer demasiado inconsistente e que não só afecta o desenvolvimento ofensivo da equipa como também a própria segurança defensiva, uma vez que as perdas de bola continuam a ser uma das principais causas para os desequilíbrios defensivos consentidos. A segunda, tem a ver com o controlo defensivo, sendo verdade que neste jogo o Gil conseguiu um número relevante de ocasiões claras para marcar, mas sem que isso tivesse correspondido no entanto a uma grande capacidade de estender o jogo até ao último terço portista. Aliás, a equipa continua a parecer-me bastante sólida em organização defensiva, e tenho inclusivamente curiosidade para ver o seu desempenho frente a adversários mais fortes, uma oportunidade que se poderá abrir caso o Porto confirme o seu favoritismo frente ao Basileia e marque presença nos quartos de final da Champions. Teremos, por isso, de esperar até lá, mas na minha leitura as perspectivas são bastante boas.

Penafiel - Benfica
Jesus falou numa nova equipa a ser criada, e de facto o Benfica actual mais se parece com aquele que vemos no inicio das pré temporadas. Pelos jogadores que faltam, pelas dificuldades de rendimento das novas soluções e, já agora, pela forma como as aspirações da equipa permanecem intactas apesar de todos estes problemas. Aqui, parece-me importante contextualizar a análise, nomeadamente no que diz respeito ao grau de dificuldade do adversário. É que poucas ligas têm nesta altura uma discrepância tão grande entre as equipas de topo e fundo da tabela, como acontece em Portugal, e em face disso espera-se que, para se manter na frente até ao fim, seja preciso que o Benfica consiga manter um aproveitamento pontual muito elevado até ao fim. Ora, não é a justiça do triunfo em Penafiel que está em causa, antes sim as dificuldades que o Benfica sentiu para se impor de forma mais clara, e enquanto esteve em igualdade numérica, perante um dos adversários mais débeis da competição. Um registo que, de resto, repete depois do jogo com o Gil Vicente. Se é preciso perder poucos pontos até ao fim, a jogar como vem fazendo, o Benfica pode perdê-los a qualquer momento, e se o cenário actual se parece muito com o de uma pré época, então é bom que rapidamente deixe de parecer, porque o grau de dificuldade irá aumentar já no ciclo de jogos seguinte.
É claro que o Benfica guarda para si ainda alguns trunfos, para além da importante vantagem pontual de 6 pontos. Nomeadamente, a organização defensiva, muito por mérito do seu treinador, e o potencial ofensivo de quem pode ter ao mesmo tempo 4 unidades como Gaitan, Salvio, Lima e Jonas. Mas, para ter uma equipa capaz de lhe oferecer as garantias que precisa, Jesus continua a ter de resolver o problema da sua fase de construção, que não lhe consegue oferecer a fluidez de outros tempos, sendo que hoje o Benfica não consegue sair com a mesma qualidade pelo corredor central (nomeadamente através dos centrais) e não tem por outro lado a dinâmica exterior de outros tempos. Sobre isto, de resto, creio que não ajuda colocar André Almeida como lateral esquerdo quando o corredor central oferece tantas dúvidas, sendo hoje mais necessário recorrer ao papel dos laterais para fazer a equipa chegar até fases mais ofensivas do terreno. É evidente que as recuperações de Fejsa, Amorim e Eliseu poderão ajudar muito a equipa a evoluir neste particular, mas reforço que o Benfica me parece correr muitos riscos caso não melhore, rápida e consideravelmente, o seu rendimento actual.

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