24.8.10

Sporting - Maritimo: Análise e números

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Equipas perfeitas, não há. É trivial. Agora, há-as boas e mesmo muito boas. Também todos o sabemos. O que eu não conheço é nenhuma equipa que se aproxime da excelência, fazendo-o de várias formas e feitios, consoante a oportunidade e disposição. Isto é, as equipas que conseguem atingir um patamar elevado em termos qualitativos, conseguem-no invariavelmente pela especialização no que fazem e não pela diversificação. Posso ir até um pouco mais longe, e afirmar que raros são os casos que conseguem este patamar de excelência, sem a repetição de um elenco base de jogadores que dê qualidade e consistência à interpretação das ideias do modelo.

Por tudo isto, e ao ver novo jogo do Sporting, é fácil para mim concluir que, mais do que a psicologia do momento, Paulo Sérgio tem à sua frente uma barreira filosófica que ameaça ser-lhe fatal. A sua abordagem de “tentativa e erro” acabará por expor todos os erros possíveis, minará a confiança para evoluir e o cimentar dos pontos fortes – alguns deles já desapareceram. Paulo Sérgio tem poucas semanas para perceber que o seu maior erro está na metodologia que escolhe para encontrar o sucesso. E isso parece-me muito difícil que aconteça em tempo útil.


Notas colectivas
É difícil falar muito sobre o colectivo, pelos motivos que expus anteriormente. É tudo muito volátil. Demasiado para justificar grandes motivos de reflexão. Já vi o Sporting fazer uma boa circulação, que dava prioridade à dinâmica e certeza de passe dos médios. Faltavam-lhe outras coisas, mas isso era bom. Hoje, continua a querer circular, a fazer muitos passes, mas já são os centrais os protagonistas. Sai uma circulação baixa, um passe vertical, mas não sai mais nada deste jogo de circulação. Sei que não é bonito dizer isto, mas o que produziu mais resultados no jogo foram alguns passes longos, a procurar diagonais nas costas, ou segundas bolas.

Depois o problema defensivo. Primeiro, o “pressing” continua a produzir pouco – no caso deste jogo, nada. Já vimos o Sporting a tentar pressionar alto, a não o fazer bem porque não juntava sectores e porque os jogadores alicerçavam prioritariamente a tarefa na agressividade e determinação e não na organização com que pressionavam. Hoje, já não é isso que vemos. A equipa tem mais medo de subir para pressionar e quando o faz, continua a não o fazer com grande organização. Com tudo isto, claro, transições a partir de recuperações altas, são zero. E isso, como já várias vezes tentei explicar, é meio caminho andado para se ter dificuldades em marcar frente a adversários mais conservadores.

Finalmente, a linha defensiva. Continua sem ser capaz de jogar alto com eficácia, não se percebendo se os jogadores sabem bem que referências utilizar em cada acção. É fácil contar o número de vezes que a linha defensiva se contradiz nos movimentos defensivos, com uns a subir e outros a descer. Agora, a salvação parece ser o posicionamento alto de Patrício. É preciso que aconteça, mas nunca será uma solução.

Notas individuais
Estava a ver o jogo e a pensar para mim que, há 1 ano e com esta equipa, Paulo Bento dificilmente teria abandonado o Sporting da forma como aconteceu. Aliás, provavelmente teria melhores condições do que nunca para tentar o título. É que a qualidade do plantel leonino subiu bastante desde há 1 ano. Bastam os laterais, onde há hoje uma grande qualidade, para a diferença ser enorme. Mas há mais. Maniche, André Santos e Pedro Mendes são garantias de uma qualidade e certeza no passe como não existia antes (sim, incluindo aqui Veloso e Moutinho). Nos centrais – e pode parecer um paradoxo para quem vê estas coisas a “olho nú” – há uma qualidade fantástica nos recursos ao dispor. São os jogadores mais expostos em todo jogo, quer com bola, quer sem ela, não há uma movimentação defensiva coordenada e eficaz e, mesmo assim, eles erram muito pouco para aquilo a que são submetidos. Nuno André Coelho, por exemplo, fez um jogo fantástico frente ao Marítimo. Torsiglieri não tem 1 minuto, tem muito valor – digo-o, porque o conheço – e não posso sequer afirmar que seja injusto.

Ou seja, mesmo preferindo outras abordagens em termos de modelo em relação a Paulo Bento, o que o Sporting perdeu em relação a um passado recente em que lutava claramente pelo título e jogava noutras frentes, foi qualidade e consistência naquilo que é transmitido por quem lidera o processo. Mas isso também não é novidade, sempre afirmei que dificilmente o Sporting encontraria melhor do que Paulo Bento quando este abandonasse.



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