5.8.10

4-3-3: a nova extravagância de Jesus

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Para além das inevitáveis entradas e saídas não se previam grandes motivos de interesse na pré época encarnada. Mesmo treinador, mesmo modelo, mesmas rotinas. Ou então... não. Precisamente, Jesus resolveu dar mais uma prova de que na Luz a estrela é mesmo ele e regou a pré temporada do Benfica com um inesperado motivo de interesse: o seu novo 4-3-3. O que tem de espectacular um sistema que meio mundo utiliza? Bem, o problema é que, tal como o seu 4-4-2, o 4-3-3 de Jesus não é exactamente como o do resto do mundo. É uma versão própria, com particularidades que, não fugindo dos princípios orientadores da sua filosofia de jogo, a tornam ainda mais arrojada. Talvez mesmo demasiado, mas isso é algo que teremos de verificar com o tempo. Mas vamos aos pontos desta novidade táctica:

3 avançados... mesmo! – O 4-3-3 corrente pode ser confundido com o 4-5-1. De facto, é até difícil definir qual a nomenclatura mais correcta na maioria dos casos, porque, se os extremos abrem em posse, também se juntam aos médios quando a equipa não tem a bola. Ora, no caso do 4-3-3 de Jesus, não é assim. Os avançados não são extremos, nem médios, são avançados... mesmo. Quer nos momentos ofensivos, quer defensivos. E é isso que dá também um pouco mais de risco ao modelo.

Menos 1 a defender – Porquê o maior risco em relação ao 4-4-2? Porque, nesta versão, Jesus tenta defender igual, mas com menos 1 jogador. Bom... não é totalmente correcta a expressão. Todos os jogadores de defendem, o que acontece é que enquanto que no 4-4-2, a primeira linha do pressing era composta por 2 jogadores e eram estes que ficavam fora da jogada ao primeiro passe vertical, agora, são 3 a ficar de fora. Depois deste primeiro passe, em vez de 8 jogadores de campo, Jesus tem agora 7 para defender. Como resolve? A resposta passa sobretudo por uma grande intensidade táctica dos restantes jogadores, sempre com 1 deles a fazer 2 zonas do anterior modelo.

10 desaparece – Se o 10 era a principal unidade do 4-4-2, em 4-3-3 ele praticamente se extingue. Há a preocupação de colmatar esse espaço em termos defensivos, mas é um dos médios que sai da sua posição para o fazer. Quando a equipa baixa no campo, forma-se uma linha de 3 médios e o 10 deixa de estar presente como principal referência para o primeiro passe vertical em transição. Agora, são os 2 avançados que caem sobre as alas a merecer esse destaque.

6 mais exposto – A “extinção” do 10 faz com que o carácter posicional do 6 seja também mais vezes colocada em causa. Mais vezes tem de sair da sua zona, ou para fechar sobre uma das alas, ou para manter a proximidade com a linha pressionante da frente. É também por isso que Airton ganha força nesta versão sobre o mais posicional Garcia.

Laterais com mais profundidade – Em 4-4-2, os médios interiores pressionam sobre as alas, mas fazem-no muito mais baixo do que os avançados do 4-3-3. Para uma equipa pressionar alto, não se pode manter em terra de ninguém. É preciso aproximar linhas e encurtar distâncias, e é por isso que nesta versão os laterais têm mais responsabilidade. Responsabilidade de pressionar alto mas não perder o controlo sobre o seu flanco. Não é para todos.

Pressing avassalador – Na verdade não estou a ver muitas equipas da nossa liga a correr esse risco, mas é um verdadeiro campo minado sair em construção contra esta versão do Benfica. É nisso que aposta Jesus, na compressão do adversário.

Mais presença em transição – Se para defender a equipa perde uma unidade, quando ganha a bola, tem de imediato uma presença importante na frente. Sempre 3 jogadores à frente da linha da bola, com 2 médios com liberdade para acompanhar a transição e ainda os laterais.

Ritmo alucinante – Jesus falou há dias da componente física. Talvez tenha a ver com estas suas novas ideias. Será que dá para jogar a este ritimo durante 90 minutos? É que, a não ser que o adversário não saia lá de trás – o que também pode acontecer – um jogo de transições como força este modelo é também muito exigente para grande parte dos jogadores.

Não é para todos! – Forçar um jogo deste tipo não é para todos. A maioria das equipas dar-se-ia muito mal com esta proposta e só por ter uma grande qualidade individual – fantástica mesmo! – em jogadores como Coentrão, Airton ou David Luiz é que Jesus se pode atrever a isto. Qualidade individual e, claro, qualidade colectiva. Por exemplo, só com uma linha defensiva com um comportamento tão apurado e agressivo é que é possível arriscar estar tão alto em campo e com tão pouca gente atrás durante tanto tempo. Ainda assim, pergunto-me e duvido seriamente que Jesus adopte esta versão perante adversários e jogos de maior exigência.



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