O interessante enfoque estratégico - O interesse do jogo estava salvaguardado pelo contexto em que este se inseria, mas tivemos ainda a felicidade de poder contar com a generosidade de ambos os técnicos que, com a sua abordagem estratégica, acrescentaram ainda mais tempero ao sabor que garantidamente o jogo iria ter.
Jardim, já se desconfiava, mexeu nos alas, segundo o próprio por estar preocupado com a presença no meio campo. Introduziu Salomão à esquerda, que baixava para receber em zonas mais interiores, em vez de fazer maior apelo à profundidade, como acontece habitualmente com Carrillo e Wilson. Como complemento a esta dinâmica, inverteu a disposição dos médios, com André Martins a surgir desta vez mais sobre a esquerda, na tentativa de aproveitar as costas de Baiano, atraído pela tal propensão mais interior de Salomão. À direita, tudo normal, com Carrillo mais aberto e profundo, sendo solicitado de forma mais directa pelo central do mesmo lado (Maurício). Mas, porque é que Jardim trocou Martins de lado e fez ainda passar Carrillo para a direita? Talvez fizesse mais sentido introduzir um elemento mais interior, mas do lado direito, de forma a não alterar tantas unidades relativamente às suas posições habituais. Talvez... mas é também possível que a opção de Jardim tenha a ver com a indisponibilidade de Joãozinho, tentando assim aproveitar mais directamente as fragilidades de Elderson, que o próprio Jardim bem conhecerá. É este o meu palpite, mas só o treinador saberá com rigor o porquê das suas opções.
Quanto a Jesualdo, as alterações foram ainda mais profundas. O Braga apareceu com um triângulo invertido no meio campo, relativamente à sua estrutura habitual. A Mauro, juntou-se Custódio, formando um duplo pivot, nas costas de Micael. A primeira ideia por trás desta opção não é difícil de desvendar. Como o foco do Sporting são as dinâmicas nos corredores laterais, com duas unidades mais baixas no meio campo, Jesualdo conseguia ter os seus médios mais próximos das alas, ajudando assim a controlar essa ameaça. Por outro lado, e ainda no capítulo defensivo, a presença mais fixa de Micael permitia-lhe neutralizar a acção de William, relegando as despesas de construção do Sporting para os centrais, onde a qualidade reconhecidamente não é abundante. Mas, havia ainda um outro alcance, bem mais interessante a meu ver, na estratégia de Jesualdo, e que tinha a ver com a forma como a equipa expunha os médios do Sporting no corredor central. A forte presença em circulação baixa e os movimentos interiores de Alan, juntando-se a Micael no corredor central, eram os dados fundamentais da estratégia ofensiva de Jesualdo.
Jesualdo e a inutilidade da vitória táctica inicial - Suspeito que a minha análise não seja partilhada por muita gente, mas parece-me claro que foi Jesualdo quem venceu este duelo táctico de estratégias iniciais. Apesar do Sporting ter tido, também o mérito, mas sobretudo a felicidade de marcar cedo, isso não impediu que rapidamente o jogo mostrasse que era o Braga quem melhor tirava partido da sua estratégia inicial. A circulação baixa, trazendo muita gente para fase de construção, não só impediu as duas unidades mais adiantadas do Sporting (Montero e André Martins) de serem bem sucedidas na pressão, como também criou dúvidas no posicionamento dos médios mais recuados, nomeadamente atraindo-os para zonas mais adiantas e abrindo os espaços nas suas costas, onde apareciam Micael e, sobretudo, Alan. Assim, o Braga enfatizou um problema que se vem repetindo no Sporting, com as dificuldades de controlo defensivo dos seus médios, tendo sido por aí que conseguiu o espaço para o golo do empate, entre outras jogadas de idêntico potencial. Neste período, há que sublinhar também alguma imprecisão ao nível do passe no Sporting, com Adrien em foco neste realce negativo.
Jardim e o efeito da expulsão - A vertente táctica é certamente muito interessante no futebol, mas como todas os outros factores, também ela não tem uma relação linear de causalidade com o desfecho final. Neste caso, se o Braga estava a levar a melhor no tal duelo táctico inicial, um só lance foi suficiente para inverter essa vantagem que tanto estava desequilibrar os pratos da balança. O azar de uns e o talento de outros, combinados, determinaram a expulsão de Aderlan e, a partir daí sim, o Sporting partiu para um domínio quase total do jogo. De facto, se Jesualdo havia levado a melhor na estratégia inicial, parece-me que foi Jardim quem claramente saiu por cima na reacção à nova circunstância do jogo. Porque ao colocar Wilson conseguiu finalmente expor o lado de Elderson, com o Sporting a criar sucessivas situações de enorme potencial e que só não produziram efeito mais cedo por alguma desinspiração na definição do último passe. Porque, também, me parece que Jesualdo não interpretou bem este novo contexto, mantendo Micael como médio interior esquerdo, mas sem que o madeirense tivesse intensidade ou apetência suficientes para ser um bom auxilio nas acções defensivas sobre o corredor. A meu ver, a entrada de Luis Carlos justificar-se-ia bem mais cedo, e o Braga só não pagou caro a factura dessa exposição pela tal menor capacidade de definição do Sporting no último passe. Curiosamente, já agora, foi numa fase em que o Braga tinha tudo para controlar melhor o jogo que acabou por sofrer o golo. Porque já tinha Luis Carlos e porque não vejo em que é que o Sporting ganhou com a entrada de Slimani, não tendo alterado o seu perfil de jogo, e perdendo capacidade de envolvimento nas suas dinâmicas habituais. Mas, é mesmo por este lado menos lógico que o futebol gera tanto interesse, e foi precisamente quando tal parecia menos provável que Cedric conseguiu, finalmente, traduzir em golo o ascendente da equipa.
Notas individuais - Individualmente, o destaque mais relevante irá para os guarda redes, ambos algo mal batidos em dois golos. Depois, Cedric e Montero, por razões diferentes, justificarão o maior sublinhado no Sporting, enquanto que Alan voltou a confirmar que a idade tem bem mais peso na cabeça das pessoas do que nas pernas dos jogadores (algumas pessoas e alguns jogadores, porque esta não é uma regra absoluta). É um dos melhores jogadores do campeonato, não mostra quaisquer sinais de quebra de rendimento, e pergunto-me mesmo o que seria o Braga se não tivesse Alan? Depois, nota positiva para Maurício, que voltou a dominar completamente a sua área de intervenção, e mais negativa para Adrien e Carrillo, ambos muito inconstantes ao nível da tomada de decisão, ainda que obviamente sendo casos muito diferentes, pelo papel que desempenham no jogo.
Jardim, já se desconfiava, mexeu nos alas, segundo o próprio por estar preocupado com a presença no meio campo. Introduziu Salomão à esquerda, que baixava para receber em zonas mais interiores, em vez de fazer maior apelo à profundidade, como acontece habitualmente com Carrillo e Wilson. Como complemento a esta dinâmica, inverteu a disposição dos médios, com André Martins a surgir desta vez mais sobre a esquerda, na tentativa de aproveitar as costas de Baiano, atraído pela tal propensão mais interior de Salomão. À direita, tudo normal, com Carrillo mais aberto e profundo, sendo solicitado de forma mais directa pelo central do mesmo lado (Maurício). Mas, porque é que Jardim trocou Martins de lado e fez ainda passar Carrillo para a direita? Talvez fizesse mais sentido introduzir um elemento mais interior, mas do lado direito, de forma a não alterar tantas unidades relativamente às suas posições habituais. Talvez... mas é também possível que a opção de Jardim tenha a ver com a indisponibilidade de Joãozinho, tentando assim aproveitar mais directamente as fragilidades de Elderson, que o próprio Jardim bem conhecerá. É este o meu palpite, mas só o treinador saberá com rigor o porquê das suas opções.
Quanto a Jesualdo, as alterações foram ainda mais profundas. O Braga apareceu com um triângulo invertido no meio campo, relativamente à sua estrutura habitual. A Mauro, juntou-se Custódio, formando um duplo pivot, nas costas de Micael. A primeira ideia por trás desta opção não é difícil de desvendar. Como o foco do Sporting são as dinâmicas nos corredores laterais, com duas unidades mais baixas no meio campo, Jesualdo conseguia ter os seus médios mais próximos das alas, ajudando assim a controlar essa ameaça. Por outro lado, e ainda no capítulo defensivo, a presença mais fixa de Micael permitia-lhe neutralizar a acção de William, relegando as despesas de construção do Sporting para os centrais, onde a qualidade reconhecidamente não é abundante. Mas, havia ainda um outro alcance, bem mais interessante a meu ver, na estratégia de Jesualdo, e que tinha a ver com a forma como a equipa expunha os médios do Sporting no corredor central. A forte presença em circulação baixa e os movimentos interiores de Alan, juntando-se a Micael no corredor central, eram os dados fundamentais da estratégia ofensiva de Jesualdo.
Jesualdo e a inutilidade da vitória táctica inicial - Suspeito que a minha análise não seja partilhada por muita gente, mas parece-me claro que foi Jesualdo quem venceu este duelo táctico de estratégias iniciais. Apesar do Sporting ter tido, também o mérito, mas sobretudo a felicidade de marcar cedo, isso não impediu que rapidamente o jogo mostrasse que era o Braga quem melhor tirava partido da sua estratégia inicial. A circulação baixa, trazendo muita gente para fase de construção, não só impediu as duas unidades mais adiantadas do Sporting (Montero e André Martins) de serem bem sucedidas na pressão, como também criou dúvidas no posicionamento dos médios mais recuados, nomeadamente atraindo-os para zonas mais adiantas e abrindo os espaços nas suas costas, onde apareciam Micael e, sobretudo, Alan. Assim, o Braga enfatizou um problema que se vem repetindo no Sporting, com as dificuldades de controlo defensivo dos seus médios, tendo sido por aí que conseguiu o espaço para o golo do empate, entre outras jogadas de idêntico potencial. Neste período, há que sublinhar também alguma imprecisão ao nível do passe no Sporting, com Adrien em foco neste realce negativo.
Jardim e o efeito da expulsão - A vertente táctica é certamente muito interessante no futebol, mas como todas os outros factores, também ela não tem uma relação linear de causalidade com o desfecho final. Neste caso, se o Braga estava a levar a melhor no tal duelo táctico inicial, um só lance foi suficiente para inverter essa vantagem que tanto estava desequilibrar os pratos da balança. O azar de uns e o talento de outros, combinados, determinaram a expulsão de Aderlan e, a partir daí sim, o Sporting partiu para um domínio quase total do jogo. De facto, se Jesualdo havia levado a melhor na estratégia inicial, parece-me que foi Jardim quem claramente saiu por cima na reacção à nova circunstância do jogo. Porque ao colocar Wilson conseguiu finalmente expor o lado de Elderson, com o Sporting a criar sucessivas situações de enorme potencial e que só não produziram efeito mais cedo por alguma desinspiração na definição do último passe. Porque, também, me parece que Jesualdo não interpretou bem este novo contexto, mantendo Micael como médio interior esquerdo, mas sem que o madeirense tivesse intensidade ou apetência suficientes para ser um bom auxilio nas acções defensivas sobre o corredor. A meu ver, a entrada de Luis Carlos justificar-se-ia bem mais cedo, e o Braga só não pagou caro a factura dessa exposição pela tal menor capacidade de definição do Sporting no último passe. Curiosamente, já agora, foi numa fase em que o Braga tinha tudo para controlar melhor o jogo que acabou por sofrer o golo. Porque já tinha Luis Carlos e porque não vejo em que é que o Sporting ganhou com a entrada de Slimani, não tendo alterado o seu perfil de jogo, e perdendo capacidade de envolvimento nas suas dinâmicas habituais. Mas, é mesmo por este lado menos lógico que o futebol gera tanto interesse, e foi precisamente quando tal parecia menos provável que Cedric conseguiu, finalmente, traduzir em golo o ascendente da equipa.
Notas individuais - Individualmente, o destaque mais relevante irá para os guarda redes, ambos algo mal batidos em dois golos. Depois, Cedric e Montero, por razões diferentes, justificarão o maior sublinhado no Sporting, enquanto que Alan voltou a confirmar que a idade tem bem mais peso na cabeça das pessoas do que nas pernas dos jogadores (algumas pessoas e alguns jogadores, porque esta não é uma regra absoluta). É um dos melhores jogadores do campeonato, não mostra quaisquer sinais de quebra de rendimento, e pergunto-me mesmo o que seria o Braga se não tivesse Alan? Depois, nota positiva para Maurício, que voltou a dominar completamente a sua área de intervenção, e mais negativa para Adrien e Carrillo, ambos muito inconstantes ao nível da tomada de decisão, ainda que obviamente sendo casos muito diferentes, pelo papel que desempenham no jogo.
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