30.9.10

Sporting e Porto na Liga Europa (Breves)

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- Primeiro o Porto. É sempre de desconfiar quando se joga tão longe de casa. Mesmo depois de uma primeira parte em que, a passo, deu para ver uma enorme disparidade de valias. Correu bem, mas dá para dizer que o Porto se colocou um pouco a jeito de perder 2 pontos sem necessidade. "No limiar do controlo", disse Villas Boas sobre a segunda parte. E foi mesmo. Dava para ter forçado e resolvido antes e não se pode dizer que o CSKA se tenha alguma vez aproximado continuamente do empate. Ainda assim, os búlgaros perceberam a 30 minutos do fim que poderiam empatar. E poderiam.

- Mais tarde, a goleada. Não há fome que não dê em fartura. O ditado aplica-se também no futebol e esta não foi a primeira vez em que tal se viu. Convém, porém, não confundir muito as coisas e não ver nesta exibição sinais que não são válidos para o que vem a seguir. Por exemplo, convém não tirar conclusões abusivas da correlação entre o resultado e o sistema, que é muito limitada. Aliás, o melhor mesmo é ver a segunda parte como um mero treino, porque os búlgaros quebraram vertiginosamente em termos de confiança após o segundo golo, e a réplica que deram não pode ser considerada "normal". A grande novidade, mesmo, e que já vem de outros jogos, chama-se Vukcevic. A jogar sobre a direita - lembram-se do debate no tempo de Paulo Bento? - tem condições para ser muito mais desequilibrador, algo que tem, em termos individuais, faltado a Paulo Sérgio. Outra nota importante vai logicamente para Salomão. Não é surpresa também, embora esteja ainda numa fase de arranque de carreira. Aliás, e embora os dados dessa altura fossem ainda muito escassos e não dessem para conclusões muito significativas, já davam para alguns indicadores. Lembram-se dos dados estatísticos que apresentem sobre a pré época? Há outro caso individual de que falarei amanhã...

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29.9.10

Notas do Schalke-Benfica (Breves)

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- Começando pelo golo inaugural. Que Peixoto não tem características para ser lateral, já o escrevi, e prefiro fazê-lo quando está bem do que, como hoje, falha. O que quero destacar é a origem do lance e a recuperação do Schalke, com o "pivot" a cortar pela raiz a transição do Benfica. Um filme tantas vezes visto no Benfica de Jesus, com Javi Garcia como protagonista. Pode dizer-se, portanto, que o Benfica provou um pouco do seu próprio veneno.

- Espanta-me como se continua a desvalorizar (não digo que o Benfica, internamente, o tenha feito) o potencial de algumas equipas, fazendo passar a ideia de que pelo facto do Schalke ou o Lyon estarem na cauda da tabela dos respectivos campeonatos, estas são equipas "acessíveis". Não são. São equipas com mais poder aquisitivo do que qualquer equipa portuguesa e jogar contra elas não representa um grau de dificuldade inferior a qualquer jogo "grande" interno.

- O jogo, e enquanto não esteve resolvido, não foi nunca desequilibrado em nenhum sentido. Teve, isso sim, oscilações de supremacia e o Schalke acabou tirar partido de uma fase negativa do Benfica, com substituições e lesões que cortaram um pouco o ritmo à própria equipa. O mais importante a realçar, porém, é a constatação que num jogo de detalhes foi o Benfica que voltou a perder. O Benfica de Jesus. Porque, como já há muito venho alertando, parece-me haver uma incapacidade de superação das equipas de Jesus nos grandes jogos. E os grande campeões não são feitos apenas de bons jogadores e excelentes modelos tácticos. É preciso emergir emocionalmente nos momentos certos.

- Veremos qual o efeito da recaída. Para se recuperar de uma crise de confiança - mais uma vez reforço que o grande problema do Benfica 10/11 está na "cabeça" - não bastam 2 ou 3 jogos. O teste é feito precisamente na reacção à primeira adversidade. Para já o indicio em campo não foi bom, basta contar o número de perdas de bola (a marca das 3 derrotas) que aconteceram depois do 1-0.

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Braga e as dores de crescimento (Breves)

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- No futebol os jogos começam todos 0-0, mas nenhum se pode desligar dos anteriores. É neste sentido que digo que o Braga começou a perder o jogo com o Shakhtar... em Londres. Não é normal numa equipa tão forte mentalmente perder as oportunidades que o Braga perdeu antes dos ucranianos tomarem a dianteira. Não é uma situação surpreendente, são as "dores de crescimento" de uma equipa que está a jogar numa divisão superior àquela onde sempre se habituou. O trabalho de Domingos é simples: restaurar os níveis emocionais, de confiança e crença da equipa nas suas próprias capacidades e no modelo que há muito tem entrosado. Simples, mas não trivial e uma prova interessante na ainda curta carreira do treinador.

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28.9.10

Porto - Olhanense: análise e números

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Foi, realmente, um jogo pouco interessante. De facto, e tendo em conta os indícios deixados pelas duas equipas, este era um cenário bem provável à partida. Tivesse o Porto a eficácia suficiente para abrir o marcador na primeira parte e dificilmente este seria um jogo de grande intensidade emocional. E assim foi. Golo marcado, jogo resolvido. Ganhar, com os mesmo a fazer a mesma coisa. Mais do que “solidificar processos”, o Porto está a “solidificar a confiança nos processos”. Não é a mesma coisa...

Notas colectivas
Não é de hoje, mas fica muito claro especialmente neste tipo de jogos. A preocupação de ter segurança em organização ofensiva e no inicio do ataque posicional. A circulação ocorre sempre em zonas baixas de forma fluída mas paciente, esperando o momento certo para fazer o primeiro passe vertical. E este passe é muito importante. É-o porque é nele que se define muito do lance. Se vai acabar com o adversário a defender dentro da sua área, ou numa transição no outro sentido. A segurança neste passe é determinante para que a equipa não perca o seu posicionamento ofensivo, por isso mais vale esperar pelo momento certo do que impulsivamente procurar furar o bloco contrário. Parece, pelo menos, ser esta a ideia de Villas Boas.

É claro que para isto é necessário muita lucidez e controlo emocional. É precisamente por isso que as vitórias são importantes. Porque retiram a ansiedade dos jogadores e do público, dando-lhes mais margem para não serem impulsivos na escolha das suas acções. Neste momento o Porto não impressiona nem entusiasma pelo jogo que realiza, mas apresenta um dado que pode ser bem mais importante do que qualquer espectacularidade: A eficácia. O seu aproveitamento face às oportunidades que cria é bem maior do que a média das equipas (dados que obviamente tenho). Há 2 hipóteses: ou estamos perante um fenómeno pontual que se dissipará com o tempo, ou é uma consequência dessa lucidez emocional que Villas Boas se tem esforçado por incutir. A minha convicção aponta para a segunda e, se estiver certa, a eficácia apenas abandonará a equipa quando esta perder a lucidez.

Por fim, talvez mereça salientar a perda de qualidade da equipa na segunda parte em termos ofensivos. Sobretudo ao nível da decisão, e também pelas mexidas a que a equipa foi submetida, o Porto perdeu alguma fluidez, num período em que poderia ter entretido um pouco mais as bancadas. Como isso nunca colocou em causa o controlo do jogo e como não se perdeu mais do que isso – o entretenimento das bancadas – não é um facto que mereça muito realce.

Notas individuais
Se do ponto de vista colectivo, este foi um jogo que representou pouco em termos de novidades, em termos individuais, há a introdução de Fucile e Otamendi. Uma introdução que, creio, terá sido planeada em função da própria calendarização e que possivelmente terá continuidade para o futuro.

A primeira coisa que há para dizer é que esta alteração retira centímetros à equipa portista. Um aspecto que poderá ter mais importância nas bolas paradas defensivas, onde Sapunaru e Maicon eram 2 jogadores com muita importância. De resto, sobre Fucile não há muito a dizer porque todos o conhecemos e fica fácil de perceber o que pode acrescentar em relação ao romeno.

Otamendi teve a estreia ideal e revelou um pouco do seu ADN. Muito interventivo e confortável a sair da sua zona. A sua natureza, porém, contrasta um pouco com a mentalidade de Villas Boas e o teste ao central precisa de ser prolongado no tempo. O jogo aéreo – sobretudo quando cair na sua zona um avançado com mais 10 ou 15 centímetros – é uma interrogação, mas o risco principal está na mentalidade. Na forma como gosta de arriscar a antecipação e na forma como assume riscos em posse. O choque de mentalidades é grande e é preciso que o irreverente Otamendi seja “domesticado” para que o seu potencial se ajuste à cultura do colectivo. Para mim, que já o conhecia do Velez, é um caso que acompanharei com especial curiosidade.

Em relação às restantes exibições, nada fora do normal. A regularidade de Moutinho, mais critério e menos inspiração de Belluschi, o desequilibrador do costume, ainda que em dose reduzida, e o regresso às exibições menos conseguidas por parte de Varela. Os números sugerem o destaque de Fernando e eu acho que é justo.

Finalmente, falar do caso do momento de Falcao. Claramente o seu rendimento e confiança estão afectados e isso sente-se quase todas as vezes que toca na bola. É um caso que pode ter algumas semelhanças com o de Liedson. Talvez Falcao precise de estar mais em jogo para se encontrar e talvez tanto tempo de “isolamento táctico” lhe tenha feito mal em termos de confiança. Talvez...



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27.9.10

Marítimo - Benfica: Análise e números

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O Funchal foi apenas a primeira curva de uma longa maratona para o Benfica. Um desafio a que se vê agora obrigado depois do seu mau inicio de época, e que força a equipa não só a ser competente, como a superar a carga psicológica que quem vai atrás sente sempre. O problema, basicamente, é que para quem vai atrás ganhar não chega, e isso impede a equipa de beneficiar de todo incremento de confiança que cada vitória traz. Para já, pode dizer-se, o Benfica passou o primeiro teste porque foi, simplesmente, demasiado competente para o Marítimo que apanhou. Mesmo com todos os problemas de eficácia. A qualidade de jogo não se questiona - nunca se questionou - mas esta eficácia dificilmente chegará para contornar o próximo obstáculo: o Braga.

Notas colectivas
Criou várias oportunidades de golo, mas não dá para dizer sequer que o Benfica tenha feito uma exibição fulgurante em termos de uma superação própria. Um pouco à imagem do que acontecera com o Sporting – embora com evidentes diferenças de qualidade e abordagem ao jogo – o Marítimo foi uma equipa demasiado inocente e permissiva em termos defensivos. Assim, e face a este Benfica, não só não podia disputar a posse – algo que estrategicamente não se propôs fazer – como não podia controlar defensivamente o adversário.

Mais do que os níveis de organização em cada um dos momentos, deve-se questionar a fraca intensidade dos insulares no desempenho da sua proposta de jogo. Baixar o bloco para depois jogar com o espaço era a estratégia, mas o Marítimo acabou a permitir que o Benfica fosse perigoso pela exploração do espaço a partir de momentos de transição e, até, a partir de situações simples como lançamentos laterais no meio campo contrário. Ora, se o objectivo é tirar o espaço ao adversário, como se pode querer ganhar se durante o jogo se permite tantas vezes que este explore a profundidade na transição?

E, assim, sempre dentro da qualidade do seu modelo, com a influência de Carlos Martins e a capacidade desequilibradora de Gaitan, Coentrão e Saviola, o Benfica foi criando e criando até chegar, finalmente, ao seu golo. O alerta escrevi-o no inicio: é preciso mais eficácia e tranquilidade em vários pormenores. A finalização é um capítulo óbvio, mas houve também 2 ou 3 perdas de bola em posse que ofereceram situações de golo que o Marítimo usufruiu e pouco fez por criar.

Notas individuais
Vou optar por comentar alguns jogadores individualmente:
Luisão – Está ser um inicio de época muito bom em termos individuais e na Madeira terá feito, talvez, a sua melhor exibição. Impressionante o domínio que consegue sobre a sua zona, a eficácia com que se move tacticamente fora dela e a lucidez que revela. Houve um tempo em que era muito criticado. Hoje, com organização e estabilidade no seu sector, percebe-se o grande jogador que é. Um alerta para que se distinga sempre o que é colectivo, do que é individual.

Javi Garcia – Continuo a achar que Airton tem mais capacidade para o lugar. Talvez não tenha a personalidade do espanhol, mas é tecnicamente muito mais fiável. Javi Garcia sabe de cor o que tem de fazer. Restabelece equilíbrios, pressiona no momento da saída em transição do adversário e é tacticamente quase perfeito. O problema é que em posse compromete em quase todos os jogos e dessas situações resulta, quase sempre, uma oportunidade de perigo para o adversário. Deve corrigir isso rapidamente.

Carlos Martins – Fez um bom jogo, muito influente e com a intensidade que se lhe conhece. Neste momento, e face ao rendimento do argentino, o Benfica não fica a perder com ele em relação a Aimar. Fica a perder, isso sim, em relação ao Aimar do ano anterior, mas isso é outro assunto. Apenas a apontar-lhe alguma necessidade de ser mais criterioso no passe.

Coentrão e Peixoto – Coentrão é o melhor extremo do Benfica. Mas também é o seu melhor lateral, e é melhor lateral do que extremo, digo eu. Peixoto fez um jogo muito bom, mas não tenho grandes ilusões. Se for solução, o Benfica acabará por pagar por isso. Tem técnica e capacidade, mas não tem intensidade para jogar numa função defensiva. Intensidade em termos de agressividade defensiva e, sobretudo, intensidade ao nível da concentração em posse. São várias as perdas de Peixoto ao longo dos jogos que analisei – não neste – e essa é uma tendência que não desaparece subitamente.

Gaitan – Fez o seu melhor jogo e prova que vem em crescimento. Jogou bem, movimentou-se bem, criou vários desequilíbrios e – importante! – teve também uma grande utilidade colectiva em termos defensivos. Como reparo fica o trauma da finalização e, ainda, alguma falta de preocupação com a certeza do passe em certas zonas – uma reincidência que deriva da tal diferença com a forma como decidia na Argentina.

Saviola – Voltou a jogar ao mesmo nível. Movimentando-se e criando apoios em todas as situações ofensivas, é o garante da fluidez do jogo do Benfica no último terço. O que o torna especial, é que faz isto todos os jogos.

Cardozo – Acabou muito criticado e não fez o jogo que conseguiu frente ao Sporting. Não fez porque não marcou, e não fez porque voltou a não ter – nem de perto! – o mesmo nível de influência e participação. Ainda assim, esteve em vários lances ofensivos e teve também períodos onde se moveu e apareceu mais. Só joga quando lhe apetece e esse continua a ser o problema.

Salvio – É um jogador em formação e duvido que o Benfica seja, nesta altura, o melhor para si. Mas talvez ainda dê para perceber o potencial enorme que este jogador tem.



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Sporting problemático e António Jesus (Breves)

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- 1 ano depois do cenário catastrófico, o Sporting aparece ainda pior à mesma jornada. O problema maior será o facto de, hoje e ao contrário dessa altura, o contexto ser de continuidade e não de excepção. Mais grave ainda, do ponto de vista do Sporting, é não haver qualquer luz ao fundo deste túnel. Sobre o jogo em si - e não me querendo antecipar muito à análise que farei mais tarde - parece-me que a equipa se voltou a alicerçar no "querer", e daí termos tido os melhores períodos do Sporting na entrada de cada uma das partes, mas a continuar a mostrar que nesta altura o "poder" é cada vez menor. Menor, porque se colectivamente não há grandes evoluções, do ponto de vista individual sentiu-se uma equipa globalmente menos capaz e confiante. Mesmo com Vukcevic. Mas estas são ideias que concretizarei após a análise mais rigorosa do jogo.

- Assisti ao Espinho-Boavista poucos metros atrás de António Jesus. Não faz sentido...

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26.9.10

Diferenças de eficácia e outras notas do dia (Breves)

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- O Benfica conseguiu marcar apenas 1 na Madeira e demorou quase 1 hora a fazê-lo. A pergunta que faço é: se em vez de estar 9 pontos atrás, tivesse à frente, quantas oportunidades precisaria o Benfica para ganhar vantagem? Nunca saberemos a resposta, obviamente, mas sou da opinião que a resposta a este exercício teórico pode aproximar-se do número de oportunidades que o Porto precisou para marcar. Muito mais do que os 9 pontos, a esta distância, é esta a montanha que se colocou entre os 2 candidatos.

- Umas horas antes, ainda debaixo da luz do sol, jogou-se em Coimbra um clássico que começou tecnicamente pobre e acabou com grande emoção e, já agora, com um grande golo de Sougou. Porque é que Manuel Machado não usa Rui Miguel de inicio ou porque é que tira Toscano com o jogo por decidir, é um mistério para mim. Mas o que eu gostava mesmo de saber quantas pessoas optaram por ver este jogo, quando a mesma estação transmitia, à mesma hora, o Milan-Génova...

- Entretanto, grandes resultados no dia de hoje. O Mainz - já demasiado surpreendente para ser surpresa - ganhou em Munique, o Levante empatou o Real e o Lyon voltou a perder. Menos mal parece ser a derrota do Arsenal, no Emirates frente ao WBA por 2-3. É pelo menos esse o sentimento que me fica depois de ter assistido a um 0-3 já na recta final da partida. É tudo uma questão de perspectiva...

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24.9.10

Já agora, os números colectivos (surpresas?)

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Os melhores da liga até agora (3 "grandes") - 5ª jornada

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Deixo nova actualização das estatísticas individuais, agora acumuladas até à 5ªjornada. Já várias vezes expliquei o elevado interesse que entendo ter este complemento de análise e, de facto, essa é uma realidade que confirmo com enorme regularidade. Frequentemente ouvimos e lemos análises que colocam o ónus do rendimento colectivo, seja ele bom ou mau, no desempenho individual de um ou outro jogador. O mais curioso é que, seja durante o próprio jogo ou à posteriori, não raras são as vezes em que essas opiniões não têm qualquer sustento factual. O futebol não é uma ciência exacta, já sabemos, mas a sua subjectividade por vezes é levada ao extremo da gratuitidade de opinião. Enfim, não é nada que me surpreenda. Afinal, este exercício tem precisamente o objectivo de fundamentar, ou não, percepções - sobretudo as minhas.

Aqui ficam alguns apontamentos específicos:


Sapunaru – O seu rendimento não é fantástico, mas é talvez o jogador que melhor espelha o rigor de Villas Boas. Tem uma % de passe elevada e não acumulou nenhuma perda, apesar de não ser um jogador tecnicamente forte. Porquê? O enfoque na lucidez de decisão.

Nuno André Coelho
– É o jogador, entre todos, que mais intercepções faz por jogo - aqui vemos o seu potencial. É o defesa com mais perdas de bola por jogo - aqui vemos como precisa de ser “calibrado”.

Fernando – Confesso que me surpreende um pouco o seu número de intercepções, que esperava ser mais alto. Veremos se se torna mais influente com o tempo.


Maniche – Será, seguramente, o caso mais claro da falta de rigor nas análises que são feitas. É o jogador com mais passes completados e o médio ofensivo com mais intercepções e melhor % de passe. Não se pode pedir que seja mais influente, intenso ou regular. E, no entanto, não faltam opiniões de que “está velho” e que não "dá intensidade" ao meio campo. Não sei se terá motivação para durar toda a época, mas, para já, Maniche é o melhor jogador do Sporting e um dos “craques” do campeonato.

Aimar – Os problemas do Benfica reflectem-se no seu desempenho. Ser, entre todos, o jogador que mais perdas de bola, é uma constatação chocante para a qualidade que se lhe reconhece. Mas esse dado – as perdas de bola – é precisamente aquele que mais contribuiu para o atraso pontual do Benfica na Liga.

Saviola – Apesar de não marcar, é o melhor dos avançados. Não espanta. É aquele que se envolve mais e que mais cria. Não está a fazer uma época excepcional, mas continua a ser um elemento fundamental e preponderante.

Pontas-de-lança – Há um dado comum entre Liedson, Falcao e Cardozo. A pouca participação. Quem julgo ter mais responsabilidade própria – como já várias vezes referi – é Cardozo. No caso de Falcao, há um aumento de participação, mas o jogador continua sem conseguir vincar em campo a qualidade que obviamente tem. No caso de Liedson, há também o erro de o prender em demasia ao centro, quando sempre foi determinante como avançado móvel. Um contra senso. Ainda assim, Liedson é exageradamente criticado. Primeiro, por esse erro na sua utilização, depois porque, mesmo assim, comparativamente com os rivais (Falcao e Cardozo), não deixou a equipa a perder nestes primeiros 5 jogos.



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23.9.10

A "primeira vez" de João Moutinho

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E na Choupana ele apareceu! Tinha-lhe apontado algumas criticas ao longo das primeiras jornadas – especialmente as 3 primeiras. Foi regular e fiável, como sempre, mas não havia tido o nível de influência que dele se espera. O “trabalho invisível”, tantas vezes invocado, mesmo com análises minuciosas, permanecia mesmo muito pouco visível. Já lhe havia notado um crescimento de influência frente ao Braga – e referenciei-o – mas foi na Choupana que, se pode dizer, pela primeira vez João Moutinho “encheu o campo” de dragão ao peito.

Para além dos desequilíbrios – bem à vista de todos – Moutinho foi também, e com alguma distância, o mais influente ao nível do passe e o jogador que mais intercepções conseguiu no meio campo portista. Um sinal para continuar a acompanhar no futuro...

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22.9.10

O seleccionador e a opção Paulo Bento

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Há 2 anos, sobre a questão da escolha do seleccionador, escrevi isto.

Hoje, talvez as minhas palavras da altura em relação ao “perfil Carlos Queiroz” colhessem muito mais adeptos. Mas isso, hoje, seria apenas um “totobola de segunda feira” e eu não sou comentador profissional.

Adiante... em relação aos outros 2 perfis que identifiquei: “perfil Van Basten” e “perfil Scolari”, hoje – e mesmo há 2 meses – riscaria o “perfil Scolari”. Ou seja, a minha aposta ideal iria sempre para um nome 100% baseado nas competências, sendo que de preferência apostaria num nome que tivesse mais a ganhar do que a perder com a vinda para a Selecção. Não posso afirmar, sem dúvidas, que escolheria Paulo Bento, porque não fiz uma análise a todas as possibilidades, enquadrando perfis tácticos e psicológicos, mas, ainda assim, duvido que houvesse muitos que se ajustassem tanto ao perfil que defendo como Paulo Bento.


É por isso que digo que talvez este impasse tenha sido benéfico para a Selecção, talvez perder 5 pontos tenha valido a pena para evitar uma escolha do estilo Aragonês, que seria mais um passe para o lado na Selecção Nacional. É que, não tenho grandes duvidas, com mais tempo Madaíl apostaria nesse tipo de solução.

Algumas notas sobre a escolha:

Expectativa
Ficar 4 anos na Selecção é um objectivo muito tenrinho comparado com o desafio de ficar 4 anos no Sporting. A minha expectativa é que Paulo Bento traga um “upgrade” a vários níveis para a qualidade da Selecção, que qualifique Portugal para o Euro e que tenha uma prestação suficientemente competente para que lhe seja renovado o contrato. Não é fácil, mas, como disse, já fez coisas mais difíceis.

Currículo
Volto a repetir: o currículo, a meu ver, é a ferramenta de escolha de quem não sabe escolher. Avaliar competências não é contar troféus.

Trabalho no Sporting
Não vou entrar em detalhes sobre os motivos da sua perda de capacidade com o tempo – isso cabe noutro tema. O ponto é que hoje deve ser muito mais claro para todos que Paulo Bento fez um trabalho muito bom no Sporting. Com níveis de investimento baixíssimos, pouquíssima prospecção, e jovens nos seus primeiros anos como profissionais, o Sporting esteve à beira do título por 2 vezes e conquistou troféus durante 4 anos. Hoje, e com bem mais investimento, não é minimamente óbvio quanto tempo vai demorar o Sporting para voltar a ter outro tão "indesejado" 2º lugar. É que pode mesmo não ser para breve...

Perfil táctico
Os motivos que me levam a acreditar no seu sucesso prendem-se com o seu carácter e com a lucidez que sempre revelou em relação ao jogo. Sobre o carácter, não me vou alongar, mas no que respeita aos aspectos tácticos, espero que Paulo Bento traga outra consistência e competência à equipa. Superior a Scolari e a Queiroz. Uma das suas virtudes foi sempre a objectividade com que analisou o jogo. Hoje elogiamos isso em Mourinho, Domingos ou Villas Boas, mas Paulo Bento sempre se fez notar por uma grande ligação aos aspectos práticos do jogo. Não espero voltar a ver Portugal cometer os erros que vimos frente ao Chipre e, antes sim, assumir uma postura muito mais lúcida nos jogos. Fazer bem, mais do que fazer muito, e não assumir comportamentos tácticos que não conhece. Ainda que não pareça óbvio que optará por aí, fica, já agora, o desejo pessoal de ver finalmente a Selecção estabilizar no 4-4-2 “losango”.

Ovos, finalmente!
Sei que não terá muito tempo para treinar, e também nunca exigi muita qualidade a Queiroz antes do Mundial, mas depois de o termos visto tantas vezes a queixar-se de não ter os mesmos recursos que os adversários, creio que é hora de se lhe exigir mais. É que “ovos”, na Selecção, não faltam!



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21.9.10

Como o Benfica ganhou o derbi (Vídeo)

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O vídeo não serve para mais do que para sustentar a análise que deixei ontem. Nele estão praticamente todas as jogadas onde o Benfica se aproximou do golo, sendo facilmente perceptível o porquê da estratégia do Sporting ter facilitado a vida ao Benfica. O elemento fundamental aqui é o espaço que o Benfica sempre pode usufruir para executar os seus ataques. Embora tenha – como sempre – um intuito auto-explicativo, não quero deixar de completar as imagens com algumas notas.

Mérito do Benfica
Quase sempre – e eu não fujo à regra – as análises estão centradas no lado do erro, mas é preciso, antes de mais, notar o mérito do Benfica, que, como escrevi ontem, continua a ser uma equipa fortíssima em termos técnico-tácticos. Nota para a qualidade demonstrada em várias jogadas, querendo destacar um nome: Saviola. A sua execução e movimentos, sempre muito forte a criar apoios à construção e com uma execução repentina no último passe tornaram a vida muito difícil ao Sporting.

A linha defensiva
Não é o único problema do Sporting, que também ao nível do pressing demonstra mais coração que cabeça, mas não me canso de reforçar a importância da linha defensiva e no vídeo faço questão de apontar alguns pormenores que, mesmo não tendo influencia directa no lance em causa, dizem muito sobre a qualidade táctica da equipa. Aliás, é nestes detalhes que se vê a qualidade colectiva. Um exercício também interessante seria comparar a coordenação da linha do Benfica com a do Sporting, e facilmente veríamos as enormes diferenças qualitativas que permitem, num caso poder jogar alto com segurança, e no outro não. Já agora, mais uma vez recorro ao dado estatístico do fora de jogo para reforçar esta situação. Apesar de ter jogado mais alto e supostamente mais agressivo neste plano, o Sporting tirou apenas 1 fora de jogo, enquanto que o Benfica conseguiu 7. Obviamente que não é um acaso.

O segundo golo
Por ser decisivo, o lance do segundo golo é aquele que mais discussão levanta. Já escrevi ontem que não faz sentido crucificar-se um central por perder um lance aéreo e que a responsabilidade do lance tem sobretudo a ver com a forma primária como a equipa permite que 1 primeira bola se transforme numa situação de 2x1 sobre Carriço. Aqui não há uma fórmula, mas 2 opções. Ou os laterais têm de estar mais por dentro para 1 deles fechar nas costas do central, ou 1 médio tem de se aproximar dos centrais para manter a indispensável superioridade nessa zona. No Sporting, e dada a propensão ofensiva dos laterais, creio que faz sentido a aproximação do médio, mas nem 1 coisa nem outra aconteceram. Mais um indicador claro das deficiências colectivas da equipa.

Transição vs. Organização
Muitas vezes ouvimos ou lemos belas prosas sobre futebol, elogiando o ataque posicional e criticando as equipas que fazem da transição a sua força. É bonito e eu também gosto de ler, mas a prática é outro assunto. Só não joga em transição quem não pode, porque é no momento de transição que há mais espaço e menos organização do adversário. No fundo, e num exemplo mais radical, seria como escolher rematar com ou sem guarda redes. Pode-nos dar mais gozo bater um guarda redes, mas o melhor mesmo era rematar sem ele na baliza. O motivo pelo qual equipas mais fortes precisam de trabalhar o ataque posicional é por raramente lhes é dada oportunidade para dar profundidade imediata no momento de transição. Mas isso é outro assunto, e as coisas não devem ser confundido. O Benfica já havia provado do mesmo veneno quando defrontou o Porto na Supertaça, mas agora temos novo exemplo de como, em jogos equilibrados, a equipa que joga em transição é normalmente aquela que tira mais vantagens.

Defesa de Nuno André Coelho
Lembro-me de há 2 anos ter escrito, num derbi em que saiu altamente criticado, que apesar dos erros ocasionais, David Luiz tinha um potencial ímpar entre os defensores do Benfica. Hoje, isso é bastante claro para quase todos, e não consigo deixar de fazer um paralelismo com Nuno André Coelho. Não se trata de uma comparação, mas de analogia de características e situações. Nuno André Coelho tem qualidades fantásticas e raras num central. É forte no ar, muito rápido a recuperar e bom tecnicamente. Os seus erros são hoje muito empolados – com extremo exagero, diga-se – mas se um dia tiver a sorte de apanhar um treinador e um modelo que o beneficie (não é certo que a tenha...), aí, todos vão perceber o quão fantástico pode ser.



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20.9.10

Benfica - Sporting: análise e números

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4 minutos não chegaram para dar vantagem ao Benfica, mas foram mais do que suficientes para que se percebesse que seria muito difícil não serem os encarnados a vencer. De facto, uma boa análise desses escassos momentos seria provavelmente mais útil do que muitas que vi feitas à totalidade da partida. É que esse período de tempo, que terminou com a bola ao poste de Cardozo, foi o que bastou para perceber que o domínio a que o Sporting se propunha não passava de um mero “bluff” impossível de sustentar. Impossível pela incapacidade – que é tudo menos nova – de controlar espaços defensivos, sobretudo em transição. Que mais poderia pedir o Benfica? Finalmente poderia jogar em transição, manter equilíbrios posicionais e numéricos e não se expor tanto ao trauma das perdas de bola. Ficou-se pelos 2, mas este era daqueles jogos com condições para um saldo dilatado.

Notas Colectivas: Benfica
Qualidade táctica. Se há coisa em que o Benfica de Jesus foi, é e sempre será, é na sua qualidade táctica. Não é a primeira vez que o defino, mas vou repeti-lo porque quando se fala neste termo, raramente se percebe exactamente o que se quer dizer: qualidade táctica – para mim – é eficácia com que a equipa reage colectivamente à dinâmica do jogo. E, aqui, não muitas equipas no mundo tão fortes como o Benfica. Seguramente, não há nenhuma em Portugal.

Ora bem, se o Sporting foi o adversário ideal, quer pela estimulo motivacional, quer pela postura “naive” que assumiu, só o foi porque o Benfica tem de facto muita qualidade no seu jogo. Não fez um jogo brilhante – diria que apenas “bom” para as suas possibilidades – e demorou algum tempo a conseguir também dificultar um pouco mais o domínio territorial que o Sporting tentou exercer, mas manteve sempre uma óptima organização defensiva e conseguiu com bastante frequência aproveitar erros alheios para potenciar o espaço que era concedido. E isso foi mais do que suficiente para meter o jogo e o adversário “no bolso”.

Esta será uma vitória naturalmente importante para o Benfica. Importante para o restabelecimento dos níveis de confiança colectivos, que a grande missão que Jesus tem pela frente no futuro imediato. Mas, naturalmente, está também longe de ser suficiente para corrigir todo o mal que foi feito. O Benfica terá novamente desafios complicados, perante outro tipo de adversários, menos estimulantes e mais fechados, e onde, novamente, o erro não poderá ser banalizado. Entre tudo o que de bom houve para o Benfica no jogo podemos lembrar dois aspectos que deverão manter o alerta bem presente nas hostes encarnadas: o facto da única jogada de golo do Sporting ter vindo de um erro individual e as defesas para a frente de Roberto.

Notas colectivas: Sporting
Quem acompanha o que escrevo neste blogue deve perceber que se torna algo cansativo escrever tantas vezes a mesma coisa. De facto, desde os primeiros jogos que analisei na pré época que venho alertando para aqueles que são os reais problemas do modelo de Paulo Sérgio. Debateram-se sistemas, se deveria ou não jogar um “10”, se deveria ou não jogar um “pivot”, e fizeram-se longas dissertações sobre essas matérias. Compreendo que talvez sejam mais interessantes e intuitivos esse tipo de debates, mas raramente os problemas crónicos de uma equipa passam por aí e o Sporting não é excepção.

A definição de “qualidade táctica” que relembrei atrás serve também para este caso, mas num sentido inverso. O Sporting não tem “qualidade táctica” suficiente para assumir estratégias mais altas e dominadoras frente a equipas com a qualidade do Benfica. Isso vê-se em vários aspectos aqui já denunciados. Aspectos com e sem bola, mas nenhum se compara à forma como o seu sector recuado está (mal) operacionalizado. Foi por aí – sobretudo – que o Sporting perdeu, e reforço, para ser claro, outro ponto de opinião que também não é novo: isto nada tem a ver com a qualidade individual dos seus defensores que, assinale-se, é muito elevada. É importante não confundir o que é colectivo com o que é individual.

Dito o mais importante, quero também realçar alguns pontos. O primeiro é que, apesar de insuficiente, o Sporting hoje é bem melhor do que há 3 ou 4 semanas. O segundo é que me parece correcto que Paulo Sérgio tente estabilizar um onze base, só discordando da sua flutuação em termos de variações no modelo. Neste caso, o principal problema terá sido o lado estratégico da proposta de jogo, assumindo uma postura que, como já longamente defendi, não tinha capacidade para sustentar, mas há também em algumas opções tácticas alguma discordância da minha parte. A fixação de Liedson numa zona central parece-me um lapso e não é por acaso que o seu melhor jogo foi na Figueira, onde esteve mais móvel. O mesmo vale para Yannick, que claramente não é um ala para ser fixado à direita. Com este “aprisionamento” dos avançados, o Sporting perde mobilidade e soluções de passe no último terço e isso foi relevante, não só neste jogo, mas também frente ao Olhanense. Com tudo isto, ficou fácil para Jesus realçar a sua mestria táctica para “parar” João Pereira. Na realidade, não vejo grande genialidade na opção, já que Valdés foi uma surpresa sobre a esquerda e o flanco do Benfica também foi suficiente para tapar as investidas do Sporting.

Notas individuais: Benfica
Indo directo ao assunto, o nome do jogo é Cardozo. O mesmo Cardozo que havia sido uma nulidade em 3 dos 4 jogos anteriores e que ainda a meio da semana tinha problemas fisicos que o impediam de ser mais participativo. Ora, parece estranho que o desgaste de uma semana de 3 jogos termine com a melhor exibição até agora registada na Liga, entre todos os jogos dos 3 “grandes”. Um feito que não se justifica apenas pelos golos, mas também por uma muito relevante participação colectiva – algo que tinha sido assumido como um problema crónico. Para mim, esta exibição só vem confirmar uma coisa: o problema de Cardozo não tem nada a ver com debilidades fisicas. Tem, isso sim, a ver com um problema de atitude e motivação em jogos mais e menos importantes. E está bom de ver a diferença que isso pode fazer!

Ainda no Benfica, mais uma prova de capacidade da sua dupla mais recuada, que tem uma enorme qualidade. Sempre reforcei que esse nunca foi um problema, mas é nestes jogos que isso talvez fique mais claro. Outro nome a ter em conta é Coentrão. Acredito que só poderá ser um jogador para outros patamares se for lateral, mas mesmo mais à frente voltou a mostrar a sua capacidade participativa. É uma característica importante e que lhe está no ADN.

Notas individuais: Sporting
Posso começar pelo melhor: Maniche. Foi o jogador que conseguiu mais passes, mais % de passe e mais intercepções. Foi e não é surpresa. Maniche tem um rendimento extraordinário no Sporting e é, a par de Belluschi, o melhor médio da competição até ao momento. Aliás, o que Maniche faz é raro mesmo em termos internacionais e, na minha opinião, merece regressar rapidamente à Selecção. A questão sobre Maniche é se a frustração de ter uma equipa que não acompanha a sua qualidade e intensidade, não acabará por fazer regressar o pior da sua personalidade, mas isso é algo que só o tempo irá responder.

De resto, gostaria também de falar de Nuno André Coelho, que cometeu alguns erros e acaba como o “vilão” no lance do segundo golo. Importa sublinhar, à imagem do que escrevi atrás, que Nuno André Coelho ganhou muitos lances como aquele que perdeu nessa jogada e que o seu erro não explica o golo sofrido nem o espaço criado. Mal está uma equipa se a distância entre um pontapé longo e uma ocasião de golo está dependente do central ganhar a primeira bola.

Finalmente, nota para a pouca intensidade de Valdés e Matias. São jogadores tecnicamente evoluídos, mas a quem falta muito em termos de presença sem bola. Particularmente, Matias, a jogar numa posição nuclear, precisa de estar muito mais próximo dos lances em todos os momentos. Algo que o separa e separará sempre de um rendimento superior e que tem de lhe ser passado por quem lidera o processo de treino.



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19.9.10

Derbi vermelho e outros jogos (Breves)

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- Ainda irei rever o jogo antes de uma análise mais aprofundada, mas para já fica a certeza de um 'derbi' completamente vermelho. Uma diferença ao nível da qualidade táctica do modelo - como sempre venho referindo, não ao nível técnico-táctico que reside o problema do Benfica - e, muito importante também, da inteligência na estratégia adoptada. No futebol, como em quase tudo, a qualidade sobrepõe-se sempre à quantidade. A partir daqui podemos começar a perceber o paradoxo de o Sporting ter sido a primeira equipa a ter mais posse de bola do que o Benfica esta época e, ao mesmo tempo, ter sido provavelmente aquela que menos problemas causou ao jogo encarnado. Paulo Sérgio - na minha opinião - fez bem em dar continuidade ao onze e ao modelo, o que tem é de ter alguma noção da qualidade que a equipa não tem para assumir um jogo de posse e circulação no meio campo adversário. Por fim, fica a pergunta: porque é que Cardozo, tão limitado fisicamente, faz o seu melhor jogo ao terceiro jogo semanal?

- Em Paços, o Braga quase ganhava. Seria um feito fantástico, dada a sua pouca produtividade e, diga-se, é já fantástico não ter perdido. Enquanto a sua organização e discernimento vão sofrendo com as "dores" deste súbito crescimento, vai valendo mais um episódio de grande eficácia ofensiva. E, mais uma vez digo, não é por acaso.

- Tivemos cá derbi, mas muitos outros clássicos houve pelo mundo. Em Inglaterra, Berbatov foi o protagonista, mas ficou também uma grande exibição de Nani, talvez o mais desequilibrador jogador do campeonato inglês (mais uma vez pergunto-me como é possível alguém subestimar o potencial de uma Selecção que conta com este tipo de talento?!). Em França, Gourcuff voltou a Bordéus e... perdeu! Na Alemanha, o sempre quente duelo entre Dortmund e Schalke foi resolvido por um jovem... japonês: Kagawa. Em Espanha, o Barcelona conseguiu ganhar onde o ano passado perdera. Na Turquia, o primeiro clássico de Quaresma terminou com um empate a 1, em casa do Fenerbahce. Na Holanda e em Roterdão, ganhou o Ajax. Não está muito difícil de ver quem vai ser campeão, quando se juntam Suarez e El Hamdaoui numa mesma equipa. Finalmente, no Brasil joga-se ainda o 'Fla-Flu', mas já dá para dizer que um adolescente tramou Scolari no derbi paulista frente ao São Paulo: Lucas Silva(ex-Marcelinho).

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18.9.10

Benfica e a psicologia da derrota

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“Quantas tomadas de posição contra arbitragens tiveram um efeito prático útil no rendimento da equipa?”  Lancei esta pergunta há alguns dias e, para reforçar o exercício que agora inicio, acrescento uma outra:  “Qual foi o último campeão que não foi acusado pelos seus adversários de um favorecimento em matéria de arbitragens?”

As respostas em ambos os casos, parece-me, são bastante óbvias. Ora, se partirmos delas e seguirmos um raciocínio mais linear, é fácil perceber também em que posição se coloca a equipa do Benfica após a recente tomada de posição da sua direcção. Podemo-nos lembrar do já longínquo luto do Sporting, culminando num quarto lugar final, da “playstation” de Jorge Jesus, que iniciou a descida à 5º posição do seu brilhante Braga, ou, o caso mais recente, do “somos Porto” que teve 5 pontos perdidos nos 3 jogos seguintes à tomada de posição. O passado não faz o futuro, é certo, mas é seguramente o melhor indicador que temos para ele. Neste caso - e é esse o ponto que pretendo vincar – há uma lógica por detrás destas relações causa-efeito.


Desde a primeira jornada que venho alertando para as evidências de um problema psicológico no futebol do Benfica. Algo que se reflecte numa displicência individual, muito própria de quem ultrapassou os limites de uma confiança saudável para níveis excessivos e prejudiciais. A consequência são uma série de erros perfeitamente evitáveis e que têm arrastado a equipa para uma série de resultados verdadeiramente impensáveis num passado ainda muito recente.

E assim chegamos ao primeiro facto essencial a ter em conta: o Benfica tem, objectivamente, um problema intrínseco que precisa de ser resolvido.

Independentemente das arbitragens – que obviamente não vou discutir – o Benfica tem menos passes do que Porto e Sporting, menos % de passe, mais perdas de bola e menos desequilíbrios ofensivos. São demasiados indicadores para serem ignorados, e, sem a sua correcção, o Benfica nunca poderá retomar o caminho do sucesso.

Eis o que entendo dever ser feito neste tipo de situações: 
1- Identificação dos problemas intrínsecos. Neste caso, os erros que a equipa vem cometendo.
2- Identificação de soluções práticas para corrigir os problemas.
3- Passagem das soluções para os jogadores, aumentando a exigência sobre estes, mas, ao mesmo tempo, dotando-lhes do poder e da confiança para contornar os problemas.
4-  Rever constantemente as soluções, mas manter sempre uma consistência com um plano colectivo. É fundamental que os jogadores ganhem uma confiança progressiva no que estão a fazer e para isso a consistência é fundamental.

Ora, não sabemos o que é transmitido internamente, e é possível que a mensagem seja outra. De todo o modo, porém, este tipo de reacção externa não é um bom indicador e é certo que muito do que é dito para fora passa também para dentro e para os jogadores em concreto. Do meu ponto de vista, e sempre dentro desta orientação metodológica, isto prejudica uma resolução eficaz dos problemas intrínsecos identificados. Eis alguns pontos negativos de algumas reacções recentemente observadas:

1- A centralização nas arbitragens não só retira o peso da responsabilidade dos jogadores em relação ao passado, como retira também enfoque no seu poder para mudar as coisas. Se o problema são as arbitragens, como podem os jogadores contribuir para a alteração do estado de coisas?!
2- Ao ponto anterior, acresce o problema de que nenhum clube se afirma como beneficiado pelas arbitragens. Ora, assim sendo e sendo as arbitragens vistas como algo tão determinante, este é um problema potencialmente crónico e sem inversão possível. Esta é a mensagem que é passada.
3- Centrar os problemas numa questão individual e nas ausências de Di Maria e Ramires representa outro "encolher de ombros". Não há nada que os jogadores presentes possam fazer para alterar a situação e os novos acabam com um peso exagerado e prejudicial sobre si. Isto para além de, na minha opinião, esse ser um diagnóstico completamente errado.
4- O "caso Cardozo" é outro exemplo de desresponsabilização e falta de exigência. Cardozo é, estatisticamente e com alguma distância, o jogador com menor rendimento dos 3 grandes nas primeiras 4 jornadas. Nesta semana, o jogador ficou a saber que não lhe é exigido mais e que a sua falta de entrega é compreensível. Baixar as expectativas é um enorme erro.
5- Outra posição intuitivamente contra producente para o rendimento da equipa é o apelo para a não comparência de adeptos nos jogos fora de casa. No fundo, está-se a abdicar de uma motivação importante e de algo que, afinal, também marca a diferença nos jogos fora de casa.

É evidente que este raciocínio não é exclusivo para esta situação e muito menos para o Benfica. Muitos clubes no passado cometeram o que creio ser um erro metodológico para a resolução dos seus problemas. Fica, pelo menos, o interesse para seguir uma equipa que continua a ter um enorme potencial técnico e táctico, mas que se tornou também num verdadeiro “case study” psicológico.



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16.9.10

Vitórias de Sporting, Porto e... Mourinho "piloto semi-automático" (Breves)

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- Confesso que este me parecia um jogo de grande risco para o Sporting, mas a atitude dos franceses terá sido determinante para a inversão das dificuldades. O Sporting, por seu lado, foi bem mais sério e aproveitou bem os erros do Lille para cavar um fosso só muito dificilmente ultrapassável. E, apesar dos esforços dos franceses para rectificar na segunda parte, assim foi. No Sporting, destaque para a capacidade dos defensores. De Carriço nem é preciso falar muito, mas creio que Polga merece novo elogio, sobretudo pela forma como os seus defeitos são sempre muito empolados. É bom dizer-se que talvez não haja um central em Portugal com melhor leitura e sentido posicional. Por isso, quando não tem de sair muito da sua zona, torna-se um jogador tão dominador. Mais pela capacidade de resistência, também Torsiglieri merece uma palavra. Afinal, a jogar a lateral esquerdo, perante Gervinho e Hazard e com um cartão amarelo nos primeiros minutos, o facto de ter sobrevivido os 90 minutos é, só por si, um feito.

- Ainda no Sporting, e com esta vitória, será que Paulo Sérgio não poderia aproveitar para resgatar a ideia de Van Gaal e Mourinho ainda no Barcelona: uma equipa para o campeonato, outra para a Europa?

- No Dragão, de novo a hipnose portista. Os tempos do jogo são geridos de uma forma minuciosa. Fazer bem, mais do que fazer muito, continua a ser a fórmula das vitórias. E elas já vão longas. Surpreende-me a importância dada por Villas Boas ao lado emocional do jogo. Creio que não há nenhum treinador em Portugal a gerir de forma tão deliberada esse aspecto como o actual treinador portista e isso torna especialmente interessante seguir o seu trajecto imediato. Por esse lado - e repito esta ideia - muito mais do que por outros aspectos frequentemente sublinhados.

- E Villas Boas, porque recusa quase por completo a rotatividade? Já não havia abdicado de muitos jogadores nos 2 jogos frente ao Genk, e agora voltou a mexer muito pouco no onze base. Para a resposta, podemos pensar na parte táctica e na necessidade de continuar a rotinar os principais intérpretes no modelo, mas não posso deixar de parte - e de novo - também a parte mental. Todas as oportunidades não são de mais para reforçar índices de confiança entre os jogadores e entre estes e a proposta de jogo que está idealizada. O desgaste? Com esta gestão do ritmo, será que o desgaste é assim tão grande?

- Por fim, o episódio Mourinho. Não quero comentar muito, mais este estranho episódio. Parece-me, sobretudo, que Madaíl está mais preocupado com a sua própria imagem do que com o futebol em si mesmo. Nada de novo, portanto. De "piloto automático", passamos para a solução "piloto semi-automático".

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15.9.10

Braga goleado (Breves)

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- Sofrer cedo não ajudou, é certo, mas a diferença foi demasiado clara, para se falar de um goleada circunstancial. Se frente ao Porto, referi a importância da equipa conseguir "poupar" a exposição dos centrais, neste jogo isso foi tudo menos conseguido. Tentar manter uma zona pressionante em todo o bloco custou caro. Muito caro! Os médios saíam quase sempre em vão e depois a bola entrava na frente de Rodriguez e Moises, obrigando-os a sair da posição e a abrir espaços em zonas proibitivas. Mas tudo isto - e é bom que fique claro - é 99% mérito do Arsenal. Quanto ao Braga, só se pode dizer que foi mau na segunda parte, quando os níveis emocionais já estavam destruídos.

- A componente emocional é o que marca a diferença neste Braga. Perder dois jogos seguidos - sobretudo este! - será um teste importante à manutenção dessa força mental. Confiança é a palavra a preservar nos próximos tempos. Autoconfiança e confiança naquilo que é a sua proposta colectiva para vencer. Eu arrisco que rapidamente se vai recompor.

- Uma nota para um aspecto: o relvado. Não é por acaso que Arsenal e Barcelona jogam o que jogam em casa. A dimensão ajuda, mas a qualidade do tapete é uma condição fundamental para um jogo de apoios tão rápidos e curtos. Estou para ver uma equipa que consiga esta qualidade a jogar continuadamente num campo sem grande qualidade...

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O momento do Benfica, Van der Gaag e Tino Costa (Breves)

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- O Benfica ganhou, mas não fica claro se o impacto emocional do jogo foi positivo ou negativo para a recuperação emocional que a equipa precisa. Não pela exibição, que foi suficiente (apenas isso, no entanto), mas pelo episódio de Óscar Cardozo. Pessoalmente, custa-me perceber a tolerância de Jesus com este inicio de época de Cardozo. Para além de jogar sempre os 90 minutos e quase sempre com um rendimento ridículo, temos agora a justificação da sua limitação física. Para mim, simplesmente não se justifica, mas também é só a minha opinião.

- Ainda no Benfica, questiono-me sobre a utilidade prática - para equipa - desta rábula do protesto. Não é uma iniciativa nova no futebol português, mas parece-me servir mais para entreter os adeptos do que para corrigir o que quer que seja. Talvez venha a falar um pouco mais disso brevemente, mas para já fica a pergunta: quantas tomadas de posição contra arbitragens tiveram um efeito prático útil no rendimento da equipa?

- Van der Gaag já foi despedido. A "chicotada" deve ser um objectivo de temporada no Marítimo e esta até deve ter sido das que mais custou ao orgulho do Presidente. Talvez seja o clube português com menor aproveitamento relativo nos últimos 10 anos. O meu palpite para o seguimento vai para a Naval. Uma equipa que comete tantos erros não pode durar muito tempo...

- Na Champions, nota para o golo de 'Tino' Costa, uma revelação que acompanhei no ano passado no Montpellier. Há 2 anos jogava na segunda divisão francesa e ninguém o resgatou. A outra nota vai para o Barcelona, mas apenas pelo regresso da normalidade...

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14.9.10

Porto - Braga: Análise e números

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Há algo de paradoxal no espectáculo do Dragão. Como é que um jogo entre as duas equipas mais calculistas do campeonato acaba com 5 golos? Um acidente. Esta seria, intuitivamente, a minha resposta, mas, para ser sincero, não estou muito certo dela. De um lado, já vi demasiadas vezes inspirações excepcionais deste Braga e, do outro... havia Hulk. Mesmo assim, não posso deixar de considerar que vimos algo improvável. Porquê? Porque tivemos 1 golo no primeiro remate à baliza, porque ambas as equipas conseguiram errar sempre pouco e porque nenhuma delas assumiu alguma vez grandes riscos no jogo. Esse é, afinal, o seu código genético. Fica também a nota para que se repare como um jogo fechado e de risco mínimo pode acabar tão elogiado pelo adepto mais comum. A razão é simples: emoção!

Notas colectivas
Foi, de facto, um jogo abordado com grandes cautelas e há um indicador colectivo que é particularmente sintomático da preocupação de ambas equipas em não assumir muitos riscos: as perdas de bola. Foram reduzidas em ambos os conjuntos.

Num jogo destas características, manda a lógica que o primeiro golo tenha um impacto especialmente grande, maior do que a evidência do marcador. E tinha tudo para ser assim, depois de Luis Aguiar se ter inspirado na sequência de um raro erro do meio campo portista. Na verdade, o Braga beneficiou com o momento e é, a meu ver, uma hipocrisia desfazermo-nos em elogios à reacção portista nesse primeiro momento de desvantagem. O Braga ficou mais confiante e o Porto errou mais do que nunca em todo o jogo. Aí, valeu um nome: Hulk.

É impossível analisar o jogo sem passar pela influência de Hulk e julgo mesmo não ser um exagero dizer que, sem ele, muito dificilmente o Porto teria tido a capacidade para recuperar perante o Braga que vimos. É uma suposição que obviamente nunca poderei testar, mas é a sensação que me fica. É que nem sequer houve muitas condições para desequilibrar. Momentos de transição e 1x1 foram muito reduzidos e condicionados e há da parte do camisola 12 um mérito fantástico, só possível num jogador verdadeiramente excepcional.

Na segunda parte o jogo foi um pouco mais “azul”. Com o 1-1, as coordenadas eram as mesmas, mas a maior proximidade do final do jogo forçou o Porto a uma atitude mais agressiva na zona intermédia, valendo-lhe a imposição de uma postura mais dominadora em termos territoriais. De novo, e agora ainda com mais injustiça, foi o Braga a inspirar-se e a chegar à vantagem. O que se deu a seguir estava longe de ser imaginável por Domingos. Em vantagem e a 30 minutos do fim, o Braga perdeu tudo em menos de 10 minutos. O treinador queixou-se de erros individuais, e fez bem por uma questão de exigência, mas há que dizer que o que aconteceu teve, por um lado, muito mérito portista e, por outro, também uma boa dose de capricho do destino. O mesmo que, sem nada que o fizesse prever, havia dado vantagem ao Braga uns minutos antes.

Em relação ao Porto de Villas Boas, fica de novo a sensação a mesma sensação de uma dependência das individualidades para a produtividade ofensiva. Talvez seja tempo, porém, de riscar a o termo “dependência” e começar a falar em “consciência”. É que com talento deste calibre, porque é que se haveria de correr mais riscos? Este foi um óptimo teste à capacidade mental da equipa e o Porto passou-o. Continua a ser engraçado ver a empatia das bancadas com um futebol colectivamente mais cauteloso e menos entusiasmante do que aquele que tanto criticou. Mas isso é um defeito dos adeptos e não da equipa.

Quanto ao Braga, também confirmou de novo aquilo que é. Forte em termos de organização, lúcida do quer do jogo, e um caso raro de capacidade mental. Aliás, mesmo se é improvável a repetição da pontuação, parece-me que esta é uma equipa ainda mais forte mentalmente do aquela que vimos no ano anterior. Tenho, no entanto, uma critica a fazer a Domingos. É normalmente um treinador que mexe bem na equipa, mas desta vez não creio que o tenha feito. Trocou Elderson por Miguel Garcia, provavelmente pela exposição do primeiro. A verdade é que não considero que estivesse a ser demérito seu, e duvido que houvesse muitos a fazer melhor. Miguel Garcia não era seguramente, e isso viu-se. Depois, Lima por Matheus também não me pareceu acertado. Primeiro porque o golo que acabara de marcar poderia ser um mote mental importante para os minutos finais de Lima e, depois, porque havia um Luis Aguiar demasiado errático no jogo. Obviamente que é bem mais fácil dizer isto depois de analisar cautelosamente o jogo...

Notas individuais
Em primeiro lugar, chamo a atenção para a diferença entre os níveis de participação de laterais e centrais do Braga. Diz isto muito do ‘forcing’ que o Porto fez nas alas e, por outro lado, da capacidade que o Braga teve em evitar uma exposição da sua zona central.

No lado do Braga, destaco a boa prova de competência dada por Silvio, mostrando-se consistente e competente, apesar de não ser um entusiasmo em termos ofensivos. Tivesse o Braga outro como ele e provavelmente não teria perdido. No centro da defesa, Rodriguez foi excelente na leitura e antecipação dos lances. Mais à frente, a referência negativa vai para a pouca eficácia de Luis Aguiar no jogo corrido, sendo incapaz de dar sequência à maior parte dos lances que passaram pelos seu pés.

No Porto, e à margem de Hulk, Varela esteve de novo nos momentos certos, encerrando um inicio de liga pouco inspirado. Atrás, Rolando foi o melhor, e, no meio campo, Moutinho terá feito o seu melhor jogo no campeonato, mesmo continuando a não ser deslumbrante. Quem continua a mostrar-se influente em todos os aspectos, é Belluschi. O melhor médio da liga até agora não foi, desta vez, decisivo ou desequilibrador, mas teve o seu jogo mais “sério” na prova ao nível do critério de passe. E este pode ser mais um óptimo indicador para o que se segue.



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13.9.10

Guimarães - Benfica: Análise, números e vídeo

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É o costume. O brilharete no placar força sempre um mar de elogios ao mais pequeno. Não digo que os desmereça todos, mas é seguramente um abuso creditar grande mérito ao Vitória numa derrota que é sobretudo do Benfica. Na verdade, os encarnados tinham tudo para ganhar, porque, apesar de algumas boas individualidades, este Vitória não é – nem foi – especialmente forte. Foi, sem surpresas, uma equipa dentro daquilo que é a filosofia de Manuel Machado. Muito fechada mas sem grande organização, e sempre à espera do momento de transição – o seu grande ponto forte. Ora, o que fez o Benfica? Para além de produzir pouco - e bem menos do que podia - em termos ofensivos, cometeu uma série de erros perfeitamente evitáveis e não provocados pelo adversário, acabando por oferecer ao Vitória as condições para chegar, sem grande esforço, às situações onde poderia marcar a diferença.

Tudo somado, o Benfica jogou mais, produziu menos e ofereceu... tudo!



Notas colectivas
“Erros não forçados”. Não é a primeira vez que recorro ao ténis para abordar a problemática em torno deste catastrófico inicio de época encarnado. Se, noutra altura, comparei o momento do Benfica ao de um jogador de ténis que perde os índices psicológicos após um momento triunfante, agora recorro a um termo técnico que normalmente denuncia essa quebra mental, na mesma modalidade.

De facto, praticamente tudo que o Vitória construiu foi “oferecido” por abordagens evitáveis dos jogadores do Benfica. Os 2 golos, as melhores ocasiões e, ainda, alguns erros técnicos decisivos para condicionar lances potencialmente perigosos em termos ofensivos. É que, se defensivamente fica fácil de ver a consequência deste problema, há também ofensivamente um efeito importante a considerar. Para além da diferença de confiança que representa sentir-se, ou não, o controlo do jogo e do adversário, há ainda uma série de falhas técnicas no último terço que acabaram por determinar tão poucas oportunidades, apesar do domínio territorial.

Como contornar este problema? A questão passa muito pelo paradigma por trás do modelo. O Benfica continua a ser tacticamente a equipa mais forte em Portugal, mas tem um problema de gestão entre o critério e a velocidade. Quando a confiança é alta, o critério nunca é problema e a velocidade pode ser máxima. Quando, como é o caso, isso não acontece, é preciso reforçar-se a importância do critério, exigindo-se menos velocidade. É preciso, primeiro, garantir que o que se faz tem eficácia e segurança e, só depois, crescer em termos de exigência ao nível da velocidade de jogo e execução. Calibrar essa “dosagem” sempre aparentou ser uma lacuna de Jesus, e este período aparenta confirmar em absoluto essa ideia. Mas há ainda, e antes de tudo isto, outra coisa que ainda é mais fundamental neste processo de recuperação: perceber e reconhecer o problema.


Notas individuais
Primeiro ponto vai para os centrais do Benfica. Já houve jogos em que também eles – sobretudo David Luiz – se deixaram também levar na displicência generalizada. Mas não foi o caso. A reacção da linha defensiva do Benfica em transição defensiva é um dos pontos fortes da equipa e uma das coisas que o Benfica faz como muito poucas equipas no mundo. É, por isso, absurdo centrar-se as criticas sobre a parte final dos lances dos golos. Defender em recuperação, e perante um adversário especialmente forte nesse aspecto, é muito difícil. O problema, para mim, está a 100% no que aconteceu na origem dos lances.

Entre todos os jogadores, há 2 de que quero falar. O primeiro é Aimar. Tem oscilado entre o bom e menos bom esta época e a equipa, logicamente, flutua com ele. Mesmo neste jogo houve oscilações na sua exibição – mais presente e inspirado no inicio da segunda parte – e isso voltou a reflectir-se também na própria equipa. Se é a galinha ou o ovo a nascer primeiro? É uma discussão que me parece pouco importante. O que me parece mesmo vital é estabilizar o rendimento de Pablo Aimar.

O outro jogador é Gaitan. Como o repeti diversas vezes, conhecia bem este jogador na Argentina e muitos dos comentários que sobre ele foram feitos eram, a meu ver, errados. Parece-me que hoje é mais claro que Gaitan é um jogador evoluído tacticamente e que não é um avançado ou médio criativo. O caminho de Gaitan passa pela confiança e pela compreensão das zonas de decisão. E este último ponto foi aquele que mais se sentiu no jogo. Fez um bom jogo em vários prismas, nota-se que se sente mais confiante e adaptado, mas decidiu mal e onde não devia. É que na Argentina, jogando solto na frente (mas sempre a partir das alas, repito!), ele podia decidir como queria. Por motivos tácticos e culturais.




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12.9.10

Dragão, Alvalade e... um espanto! (breves)

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- Grande jogo, entre 2 equipas altamente sérias e competentes. Os golos e a emoção farão deste um embate difícil de suplantar em todo o campeonato. Isto, apesar de ter tido muita eficácia de parte a parte, porque não houve tantas oportunidades para 5 golos. Porque ganhou o Porto? Respondo com uma pergunta: como é possível um jogador com o potencial de Hulk estar ainda em Portugal?

- Pode ter perdido, mas de novo mostrou que não é um acaso este Braga. Cada vez estou mais convencido que, para além da organização, Domingos pode ser um caso muito raro em termos de capacidade psicológica. Há 2 anos perguntei-me o que faria o modelo de Jesus com a qualidade individual de um "grande". Hoje, intriga-me o que fará um "grande" com a capacidade mental das equipas de Domingos?

- Entretanto, em Alvalade, de novo os pés assentes na terra. Não foi a equipa instável de outros jogos, e este não deve, na minha opinião, ser visto como um mau jogo na análise de Paulo Sérgio. Apenas como um jogo insuficiente. Talvez, se trabalhar o modelo - 1 modelo! - a equipa possa atingir o patamar seguinte. Quanto ao jogo, digamos que uma equipa que passa tanto tempo longe do golo, precisa de ser bem mais eficaz com a oportunidade lhe surge. Um alerta final: O Lille ganhou 4-1, com 2 golos de Gervinho. Adivinha-se uma jornada europeia bem mais difícil do que muitos estarão a supor.

- Não vi nada sobre isto, mas o meu queixo ainda está no chão: O Hércules ganhou em Camp Nou?!

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11.9.10

Falsa partida... outra vez!

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- Polémicas à parte - relembro que aqui não falo de arbitragens - o impensável inicio de temporada do Benfica continua. Se no final desta jornada forem 9 pontos para o Porto, fico dividido entre a teoria e a realidade. É que se é obviamente possível recuperar essa desvantagem no plano teórico, eu pergunto: e na prática, será mesmo?

- Tenho sempre batido no aspecto emocional quando procuro encontrar explicações para este "fenomenal" arranque de uma equipa obviamente muito forte tanto em termos técnicos como tácticos. Mais tarde explicarei melhor, mas parece-me que, de novo, esse foi um ponto essencial para desenhar este desfecho. Parece que a aparente fraqueza mental das equipas de Jesus - aspecto para que venho alertando há quase 1 ano - pode mesmo ser uma grande barreira para o Benfica 10/11...

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10.9.10

Uma última nota sobre Queiroz.

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Nos últimos dias fui bastante critico para com o trabalho de Queiroz. Confirmou-se o cenário mais previsível e a sua “era” terminou. Não quero, porém, dar por encerrado este capítulo antes de uma clarificação sobre as criticas que fiz, que é também um ponto de ordem sobre o que me proponho fazer aqui.

Para que não haja confusões, não entro no filme de “prós” e “contras”, que radicalizaram posições para níveis bem além do que é racional e razoável, numa espécie de combate mediático que nasceu ainda durante a “era” Scolari.

Não antevi o fracasso de Queiroz na sua chegada. Não sou bruxo ou adivinho, e é para mim estranho que alguém tenha tantas certezas, seja em que sentido for, sobre alguém que apenas trabalhou 1 época como treinador principal no futebol europeu desde que saiu de Portugal, em 1996. Também não fui daqueles que “viu logo” fosse o que fosse. Acreditei sempre na qualificação, num bom Mundial e mesmo que não iriamos ser goleados pelo Brasil na fase de grupos, como muitos anteviram. Também, já agora, não sou daqueles que acha que Queiroz teve apenas a sorte de apanhar 2 “gerações de ouro” enquanto orientava os sub 20. Não acho que seja normal ganhar 2 Mundiais da categoria em edições seguidas.Da mesma maneira, não sou daqueles que acha que o trajecto de Scolari tenha tido um sucesso apenas “normal” ou “dentro das expectativas”. Muito menos, acho que Scolari tenha destruído seja o que for nas Selecções, ou que a “herança” de Queiroz fosse tanta que perdurasse até 13 anos depois da sua saída da Selecção para, de repente, se evaporar, precisamente antes do regresso de Queiroz. Para mim, todas estas ideias, que ouço e vejo repetidas à exaustão, são apenas produto de um pensamento enviesado, desprovido de razão e pleno de ridículo.

As minhas criticas são, isso sim, uma constatação qualitativa que pessoalmente faço a um trabalho que entendo já ter tido mais do que condições para ter outros resultados. Queiroz foi uma ideia que alguém inventou e que Madaíl resolveu abraçar. Para mim, e concluo-o agora e apenas agora, não passou de um espectacular fiasco.

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9.9.10

Sub 21: do fiasco à vigarice...

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Quando, em Novembro de 2008, esta geração se estreava no escalão sub 21 goleando a Espanha, ficou a dúvida: seria uma nova regra ou apenas a velha excepção? O valor individual, já sabia, não era o mesmo de anos anteriores, mas havia a promessa de uma “nova era”, com uma nova filosofia colectiva, e o 4-4-2 testado parecia ser um indicio disso mesmo. Não se podia esperar milagres, mas havia a ilusão de uma outra espinha dorsal para a toda a formação. Ilusão!

Quase dois anos depois, a campanha é terminada com uma dupla jornada sombria e que espelha bem o que entretanto se passou depois dessa vitória frente aos espanhóis. De todas as perspectivas desse primeiro jogo, só a ideia de um menor talento se confirmou nos 2 anos seguintes. Tudo o resto, todas as esperanças de uma “nova era”, foram reduzidas a um redondo zero. Zero! Portugal está, 2 anos depois, na mesma. Com outras caras, com menos talento, mas com a mesma mediocridade filosófica ao nível do seu conceito de jogo.

Aqui, na evidência dada ao nível dos sub-21 – abaixo disto já confessei que desconheço – completa-se o absoluto fiasco que foi o “novo projecto Queiroz”. Talvez o problema tenha sido meu, talvez tenha percebido mal no que consistia a “transversalidade” da sua influência. Aos que ainda vejo arredondar o tema só posso pedir tolerância para a minha simplicidade: talvez por perder muito tempo com isso, para mim o que conta mesmo é o que vejo no campo e, aí, o balanço é – repito, só para o caso de ainda haver dúvidas – Zero!. Nas 2 horas desse jogo com a Espanha vi mais “revolução” do que nos 2 anos seguintes, e isso faz com que hoje me sinta enganado com tudo isto. Enganado e, pior do que isso, vigarizado!


Notas individuais
De facto, estes dois jogos foram de uma pobreza enorme ao nível da qualidade colectiva. A maior curiosidade, em termos individuais, seria a de ver Bebé, mas Oceano não facilitou muito as coisas quando o utilizou como 9 durante 1 hora de jogo. Mesmo assim, deu para reforçar a ideia que já tinha. Trata-se de um jogador acima da média em termos técnicos e físicos. Acima da média, mas não excepcional. Isso faz com que só uma grande evolução ao nível da decisão o possa catapultar para níveis próximos daquilo que se exige para jogar no clube onde está. Há um longo caminho a percorrer.

O outro destaque que gostaria de fazer é João Silva. Jogou na partida mais fácil e não dá para tirar grandes conclusões ao fim de tão pouco tempo. No entanto, deixou muito boas indicações ao nível da sua capacidade de participação no jogo. Bom nos duelos físicos e com boa capacidade de antecipação e decisão. Merece revisão.

De resto, não há grandes novidades. Na leitura dos números, e para além dos aspectos com grande impacto pontual (o caso mais evidente é o golo de Bura), é importante notar que quem jogou contra a Macedónia tem a vantagem de ter jogado num jogo com menor grau de dificuldade. Isto para dizer que é perigoso fazer comparações muito lineares dos números.

No que respeita aos laterais, ambos estiveram regulares, mas nenhum me parece ter aquilo que é necessário para um grande carreira. No centro, Carriço mostrou, pela regularidade e influência, ser o elemento mais adiantado em termos de maturidade e qualidade. E não estou a falar só em relação aos centrais. De resto, gostei bem mais de André Pinto do que de Bura. No meio, André Santos cometeu erros inesperados e importantes, tornando-o numa decepção deste duplo teste. Castro foi o melhor dos médios ofensivos, embora tivesse estado longe de impressionar. Tive pena de não ver mais tempo de David Simão, que não estava a ser pior do que Castro quando saiu. Mais à frente, resta falar de Ukra. É um jogador forte tecnicamente, mas quem joga na sua posição precisa, ou de maior intensidade, ou de maior capacidade de desequilíbrio. Ukra dificilmente terá o que é preciso para ter sucesso num clube como o Porto.

Para finalizar, um comentário que mais uma vez não abona nada a favor do trabalho que vem sendo desempenhado. Há inúmeros casos de jogadores que passam a merecer maior ou menor destaque em função da importância que lhes é dada pelos clubes. O caso de Bebé é o exemplo crónico desta situação. Jogou a época toda nos campeonatos nacionais e nunca foi convocado. Foi contratado pelo United e passou a ser um indiscutível. Das duas, uma: ou o jogador era desconhecido, o que diz muito mal da prospecção que é feita. Ou, se era conhecido, o grau de confiança nas avaliações que são feitas é, no mínimo, pouco consistente.



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8.9.10

Depois da incompetência... a negligência!

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Os melhores 45 minutos que vi na “era Queiroz” tiveram lugar na Escandinávia, faz precisamente 1 ano. Frente à Dinamarca, Portugal experimentou o losango na primeira parte, jogou bem, parecia ter encontrado finalmente um novo rumo para o seu futebol, mas... chegou ao intervalo a perder. Porque estou a falar disto agora? Porque na altura houve do banco uma atitude que contrasta radicalmente com a que se viu desta vez, na Noruega. Há 1 ano, e apesar de estar a jogar bem, Queiroz mexeu ao intervalo. Agora, e num jogo cujas circunstâncias se alteraram aos 20 minutos, Queiroz – ou seja quem for que estava a decidir em seu nome – demorou 70 minutos a alterar alguma coisa. Isto, perante um adversário em vantagem e com o controlo total sobre as incidências do jogo.

Onde quero chegar? Bom, ou a incompetência tem uma dimensão que transcende todos os limites – o que eu não acredito! – ou houve neste jogo, para além da mediocridade observada, desinteresse e negligência profissional de quem dirige e toma decisões. Queiroz afirmou que o que lhe interessa não é o dinheiro, mas sim a integridade da sua reputação. Pois, por mim, bem se pode começar a agarrar ao dinheiro, porque, depois do que tenho visto, a reputação já ninguém lha salva.


Notas colectivas
A complexidade do futebol enquanto jogo impede-me de conseguir explicar exactamente o porquê de certos fenómenos. Por exemplo: porque é que a estabilidade emocional dos jogadores é contagiada pela fragilidade de outros aspectos, como o técnico ou táctico? Não sei porquê, mas a verdade é que as coisas se parecem interrelacionar com uma velocidade vertiginosa, e o caso do erro de Eduardo não é mais do que um dos muitos contributos para esta estranha constatação.

Bom, esse momento foi obviamente decisivo no jogo que vimos. Foi-o porque, apesar de estar longe de impressionar, Portugal parecia tudo menos destinado à derrota até então. Tinha tido mais bola, criado uma óptima oportunidade e nem o jogo directo do adversário havia criado problemas. Depois do golo, porém, as circunstâncias do jogo mudaram. Mais do que na discussão do domínio, tudo se jogaria, agora, na capacidade que Portugal tivesse para pôr em causa o controlo norueguês. Ora, como todos vimos, nunca isso nunca aconteceu. Teve um domínio consentido, mais bola, mais passes e até mais remates, mas tudo a pelo menos 30 metros da baliza. Oportunidades construídas depois do 1-0? Zero.

Tacticamente, Queiroz (ou Agostinho Oliveira, ou alguém...), desfez o problemático “duplo pivot”, introduziu Tiago e formou um triângulo com Manuel Fernandes como unidade mais recuada e Meireles como elemento que se aproximava de Hugo Almeida sempre que a equipa ganhava a bola. Terá, com isto, corrigido alguns problemas de equilíbrio posicional na zona central e, sobretudo, devolvido à equipa um modelo em que esta efectivamente sabe jogar. Menos mau, mas profundamente insuficiente após o erro de Eduardo. Infelizmente, e como referi no inicio negligentemente, nada foi feito durante muito tempo e a derrota ficou traçada a 90% com o tal lance aos 20 minutos de jogo.

Uma palavra para a equipa da Noruega que demonstrou uma vulgaridade que me surpreendeu. Não fez absolutamente nada para ganhar. Não teve capacidade para criar, para contra atacar, nem sequer para usar o jogo directo, onde Manuel Fernandes era uma lacuna óbvia a explorar. Quando os recebermos, e se tivermos assentado a poeira nessa altura, vamos dar-lhes um belo troco. Palpita-me!

Notas individuais
Custa-me discordar da sua inclusão porque foi, para mim, o caso mais evidente de determinação e entrega. Ainda assim, que sentido faz incluir Hugo Almeida num jogo como este? Se os nórdicos são fortes no ar e se o ponta de lança está lá essencialmente para atacar, que sentido tem colocar uma unidade que vai de encontro ao perfil de quem defende? Será que era para defender? Colocamos um ponta de lança para defender nas bolas paradas?

Um pouco em sentido contrário, está Manuel Fernandes. Andamos uma enormidade de tempo a tentar encontrar “pivots” fortes no ar. Era uma crença de Queiroz que, podendo ou não concordar-se, tinha uma razão lógica de ser. A utilização de Manuel Fernandes nessa posição, contra este adversário, é uma enorme incoerência com o passado e, para mim, mais uma evidência do desinteresse total de quem dirige a equipa.

A verdade é que a capacidade aérea de Manuel Fernandes nunca fez falta e ele acaba, para mim, como a melhor notícia desta dupla tragédia da Selecção. O seu talento nunca foi dúvida, mas muitas vezes o vimos como um jogador inconsistente nas suas decisões. A verdade é que em 2 jogos, Manuel Fernandes foi o jogador que mais passes completou, conseguindo um nível de sucesso na ordem dos 90%, juntando os 2 jogos. Não sei se foi circunstancial, mas é seguramente relevante.

De resto, o jogo foi pautado por uma posse de bola fácil numa primeira fase e uma grande incapacidade colectiva no último terço, que condicionou, também, o destaque de jogadores mais ofensivos. Tudo de acordo com os interesses noruegueses. Na fase de criação nunca houve um jogo lúcido, fluído e apoiado que permitisse envolver e testar o bloco norueguês. Viveu-se – ou tentou viver-se – da inspiração dos extremos ou de um milagre de Hugo Almeida. Mas, nem Nani, nem Quaresma estiveram invulgarmente inspirados, nem Hugo Almeida é milagreiro ao ponto de transformar um dos vários e absurdos passes longos em ocasião de golo. Dentro disto, tudo normal portanto...



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7.9.10

Ainda o jogo com o Chipre - números individuais

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Antes que um novo "capítulo" se inicie, encerro o assunto cipriota. Já muito escrevi sobre o jogo e sobre a minha visão dos problemas evidenciados, mas faltavam ainda os números individuais.

É óbvio que um jogo com um adversário mais fraco, é sempre uma oportunidade para se fazerem melhores exibições. Há um menor grau de dificuldade nas acções e, mais ainda, uma maior incidência das mesmas. Este jogo, e apesar do resultado, não foi excepção. Muitos passes, boa percentagem de sucesso e vários desequilíbrios ofensivos. A única coisa anormal, claro, foram os lapsos defensivos.

Se do ponto de vista colectivo há imensos reparos a fazer, do ponto de vista individual creio que é justo destacar a boa atitude da generalidade dos jogadores. Houve erros individuais graves, é certo, mas mesmo os jogadores que os cometeram fizeram-no por razões que não têm que ver com a atitude. Os jogadores "vestem a camisola" e julgo que isso lhes deve ser creditado, até porque não sei se será sempre assim.

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6.9.10

Porque Queiroz já não é admissível (análise e vídeo)

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Pior do que a incompetência, só mesmo a inconsciência da mesma. A frase serve, de certa forma, para retratar o que entendo ser o “upgrade” de incompetência táctica que Queiroz acabou por trazer para a Selecção. O tempo de Scolari não conheceu nenhum brilhantismo neste aspecto – sempre fui dessa opinião – mas tinha, em relação ao presente, a vantagem de ser bem mais modesto nas suas "aventuras tácticas".

O Mundial serviu, para mim, como o fim de todas as dúvidas em relação à capacidade táctica de Queiroz. Não tive a oportunidade de o explicar em detalhe na altura, e não vou voltar agora aos lances da África do Sul. Não vou, nem preciso, porque se há coisa que o jogo do Chipre serviu, foi para exacerbar todas as debilidades existentes num trabalho que, acredito, teve condições para hoje apresentar resultados práticos completamente diferentes.

O vídeo tem 7 lances com pormenores que considero, nesta altura e a este nível, crónicos e não pontuais. Inaceitáveis e não toleráveis. Antes dos lances, porém, deixo 3 pontos de síntese sobre esta temática:


1) Linha defensiva: As 3 semanas de trabalho antes do Mundial deveriam servir para adquirir comportamentos colectivos sólidos e coerentes. A estranha verdade? Portugal ficou pior. Escondeu-o no Mundial, porque baixou muito as linhas, e criou uma ilusão que confundiu "muito" com "bem" na arte de defender. Mesmo aí, porém, houve detalhes inaceitáveis ao nível do comportamento colectivo da linha defensiva. Detalhes com impacto decisivo e que limitaram drasticamente a qualidade de jogo da Selecção na África do Sul.

Frente ao Chipre, e com a equipa a tentar jogar mais alto, essas lacunas vieram ao de cima, até de uma forma exagerada, porque foi mau de mais para se acreditar que o que se viu possa ser “normal”.

A questão aqui não é filosófica. Ou seja, não passa por discutir entre a opção de se assumir um posicionamento alto ou baixo da linha mais recuada. Passa, isso sim, por uma exigência qualitativa. Porque, seja qual for a filosofia assumida, o mais importante é a qualidade do que se faz. Hoje – e vem do Mundial – vemos uma equipa com comportamentos tácticos de qualidade inaceitável nesta matéria e a este nível. Os custos, como se percebe, têm um potencial catastrófico.

2) Incoerência táctica: No Mundial vimos um modelo com princípios nunca antes trabalhados e testados. O sistema sim, mas os princípios, de bloco muito baixo e verticalizar constantemente para um Ronaldo isolado na frente, não. Incrível como isto aconteceu no planeamento de uma competição a este nível!

Contra o Chipre, tal como na questão do comportamento da linha defensiva, as coisas desceram ainda mais baixo. Qual a última vez que Portugal jogou com um “duplo pivot”? Quanto tempo de treino teve para trabalhar esse modelo? Pior é impossível? Por incrível que possa parecer, não! Tivemos ainda uma espécie de autismo ao longo do próprio jogo. As dificuldades da equipa neste aspecto repetiram-se ao longo dos 90 minutos, com golo atrás de golo e aviso atrás de aviso. Mas nada foi corrigido ou alterado em termos tácticos. Mesmo com o resultado a favor e tudo para assumir uma estrutura que garantisse mais estabilidade no “miolo”.

3) Critério de escolhas: Custa-me um pouco entrar por aqui, porque acredito que é a questão individual é sempre o ponto menos relevante. Ainda assim, há situações incontornáveis. Começou-se pela definição de uma inversão de política, um corte com os critérios do passado. Agora, só jogavam os melhores e não havia “lugares marcados”. Já houve outras incongruências com isto, mas com isso posso eu bem. Até porque acredito que menos capazes são aqueles que não mudam. Mas o que quero falar, hoje, é da utilização de Meireles neste jogo.

Começo por esclarecer que, por mim, Meireles teria “lugar marcado”. É um excelente jogador e, tenha os níveis mínimos de competição, creio que deve ser convocado. Daí até ser titular com "competição zero" em 3 meses, vai alguma distância. Mais difícil ainda se torna perceber como é que um jogador que normalmente não faz 90 minutos, no primeiro jogo competitivo da época e a jogar numa posição de maior exposição em termos de desgaste, de repente, joga 90 minutos. Meireles fez um jogo com erros pontuais e que lhe são incomuns, mas mesmo que não tivesse feito, as decisões em torno da sua utilização estão longe de ser compreensíveis e revelam um grande desnorte de quem lidera o processo.

Os lances
1 – Os problemas duraram até ao fim, mas os sintomas do descalabro começaram cedo. No primeiro golo, ficam patentes os 2 problemas crónicos da defensiva nacional ao longo do jogo. O primeiro, a dificuldade do “duplo pivot” em controlar a zona central. O segundo, a incompetência do comportamento colectivo da linha defensiva.

É certo que o espaço que se abre entre as linhas defensiva e média começa por condicionar a pressão sobre o portador da bola, mas não isso não suficiente para que deixe de ser incrível como é que uma jogada em que só há 1 solução de passe, acaba desta forma. O problema da linha defensiva é que não assume nenhuma opção clara. Nem sobe para encurtar o espaço de ataque e usar o fora de jogo, nem desce para controlar a profundidade. Fica à espera do que o adversário possa decidir fazer.

Uma nota mais. Este é o único lance em que, na minha opinião, há uma responsabilidade significativa de Eduardo. Com a bola a saltar e numa posição lateral, a sua saída não podia ser daquela forma.

2 – Novamente, o mesmo problema. O primeiro passe de transição apanha logo uma zona central com desvantagem numérica portuguesa. Também se volta a notar a distância entre o médio e a linha defensiva. Valeu, no caso, a lentidão de decisão do jogador cipriota.

3 – Uma jogada um pouco diferente, mas igualmente elucidativa das dificuldades da linha defensiva portuguesa em adoptar um posicionamento eficaz.

A posse cipriota é forçada a recuar, a jogada baixa para trás da linha de meio campo e é totalmente previsível. Um canto podia parecer inimaginável neste cenário, mas a verdade é que acabou por ser apenas um mal menor. E bastou 1 passe vertical.

4 – Estas duas jogadas não têm consequência prática, mas talvez sejam aquelas que mais evidenciam o pouco trabalho que existe. São os tais detalhes que dizem muito sobre o trabalho existente. Subir rapidamente, quer numa situação, quer noutra, é um comportamento básico, que deve ser exigido a qualquer equipa de escalões de formação. Na Selecção, porém, os jogadores não estão alertados para essa necessidade. Mais tarde isto vai custar o empate, mas, repare-se como no primeiro lance há já 1 jogador sozinho na frente de Eduardo e que é colocado em jogo pela lentidão irresponsável da saída de Hugo Almeida. Se a bola tivesse saído para ali...

5 – A primeira coisa a dizer sobre o terceiro golo cipriota é que não se passa em ataque rápido. Não há transição. A raiz está numa falta que devia ser suficiente para prevenir desequilíbrios posicionais. Isto talvez seja o pior que se pode dizer da qualidade defensiva do jogo português.

De resto, o mesmo de sempre, exposição do “duplo pivot”, espaço entre linhas e uma linha defensiva que não faz a menor ideia do que quer fazer em campo. A jogada é, de novo, muito previsível. Miguel e Coentrão percebem rapidamente a facilidade que têm em isolar os avançados cipriotas em fora de jogo. Carvalho percebe tarde, mas a tempo. Bruno Alves nunca percebe. Estão todos a pensar isoladamente, num comportamento que tem de ser colectivo.

6 – Parece mentira, mas não é. Acontece outra vez! Em construção, de novo a mesma “lenga-lenga”, com a exposição na zona central do “duplo pivot”, com a criação de espaço entre linhas e com um passe vertical no fim disto tudo. A diferença é que aqui a linha defensiva estava mais baixa e, por isso, houve mais dificuldade em encontrar uma diagonal livre nas costas da defesa.

Uma nota importante é que isto se passa já com 4-3. Ou seja, havia já uma "bíblia" de exemplos que alertavam para os problemas tácticos deste comportamento defensivo e, ainda por cima, a equipa ganhava, pelo que não precisava de assumir riscos. Nada foi feito, porém.

7 – Vendo as coisas nesta sequência, nada pode parecer mais óbvio. No momento em que a primeira imagem pára, dá para ver o desenho do 4-2-3-1 que, mesmo numa situação baixa, expõe posicionalmente o “duplo pivot”. Isto acontece, primeiro, porque a estrutura nunca se alterou e, depois, porque não há da parte dos extremos uma consciência das necessidades tácticas do modelo em que estão a jogar. Em particular, era fundamental haver uma proximidade de Nani a Coentrão para evitar situações de 1x1.

Aqui, a exposição do “duplo pivot” acontece, mas não pelos mesmos motivos de todos os outros exemplos. Desta vez a dificuldade não é no controlo vertical dos espaços, mas sim lateral. Sem a ajuda dos extremos, os 2 médios têm de vir à direita e abrem espaço do outro lado, onde, depois, se cria a situação de remate frontal. Ao contrário do que chega a ser sugerido no comentário, não há qualquer responsabilidade de Coentrão.

Sobre a parte final do lance, fica evidente o ponto que considero fundamental (e gritante!), aliás, já antecipado em exemplos anteriores. É importante notar que a acção de Eduardo não é tão fácil como pode parecer. O remate é frontal, executado de primeira e numa jogada em movimento. É perfeitamente admissível que tenha dificuldade em controlar a trajectória da bola. O que não é admissível é haver 2 jogadores em condições de abordar a recarga a 2 metros da baliza. O que não é admissível é que Miguel não esteja precavido para a necessidade de subir assim que a opção do extremo foi no sentido de vir para dentro e não para a linha de fundo.



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