Notas colectivas
É de facto difícil de entender este fenómeno e poucos são aqueles que minimamente se aproximam da sua razão. O Benfica não é tacticamente mais fraco – o modelo é o mesmo – e as individualidades em falta não podem ser a explicação, porque o rendimento presente é demasiado inferior a um passado onde, embora bem mais desfalcada, a equipa fez bem melhor. Mais do que o efeito da perda dos que não estão, o problema passa muito mais pela diferença de rendimento dos que ficaram.É verdade que a derrota foi um acaso, dificilmente repetível em idênticas circunstâncias, mas também é um facto que a produção foi demasiado medíocre para ser considerável dentro dos parâmetros do que é aceitável. Apenas por 3 vezes, e sempre pelo mesmo protagonista, o Benfica colocou realmente em perigo a baliza "estudante". Muito, muito pouco.
Na verdade, o Benfica que Jesus propõe nem precisa de ser altamente eficaz em posse. Precisa apenas de fazer a bola chegar jogável ao último terço. Depois de lá chegar, o perigo pode vir directamente da jogada inicial, ou indirectamente da capacidade de reacção à perda, que é fortíssima. Aliás, esta capacidade é uma das grandes explicações para o sucesso do Benfica no ano anterior. O problema – como ilustra o vídeo – é que o momento actual não permite sequer que a bola chegue útil e com frequência ao último terço.
A minha explicação passa um pouco por aquilo que acontece com o tal jogador de ténis que utilizei como analogia. A confiança em excesso transforma-se em sobranceria que, em competição, resulta numa perda de intensidade e concentração que propicia o erro. De repente, os níveis de confiança caem a pique sem que esta evolução seja percepcionada. É por isto que, em competição, a exigência e seriedade são sempre um requisito para o sucesso contínuo. Sempre.
O caminho passa, agora, por tentar fazer a equipa sair deste buraco psicológico, porque quando o fizer terá de novo qualidade técnica e táctica para regressar ao nível elevado onde já esteve. Apostar em novos jogadores poderá ser a maneira aparentemente mais fácil, mas dificilmente será aquela que renderá mais resultados. Para já, uma coisa é certa: vitórias precisam-se!
Notas individuais
A estatística pode enganar em muitos casos, mas não neste. A tal quebra psicológica é percebida pelo contraste entre Coentrão e os outros. Entre estes “outros”, é importante notar a presença de Aimar e Saviola. Já o tinha revelado na pré época – eu e as estatísticas – e os primeiros jogos a sério confirmaram-no. Se estes foram os grandes pilares da época passada, acho também justo destacá-los como aqueles que mais contribuem para a quebra actual. Não que o seu rendimento seja inferior à generalidade, mas porque a diferença é maior e mais significativa para a própria equipa.De resto, Jesus pareceu concordar com o popularizado tema das “alas” e juntou a 2 laterais ofensivos, 2 médios com tendência para abrir. Mas o problema deste Benfica não são as “alas” - ou “asas” - que enchem as manchetes. Seria simples, e o futebol raramente o é. Abdicar de um jogador criativo como Carlos Martins, especialmente no momento actual de Aimar parece-me, isso sim, ter sido um erro para as opções que dispunha o técnico.