Sem pressing, um lapso estratégico
Ontem deixei aqui algumas criticas à forma como estrategicamente Portugal abordou os minutos iniciais do jogo. Em particular, foi evidente a completa ausência de preocupação em fazer um pressing mais agressivo sobre a primeira fase de construção sueca, tentando manter o jogo em permanência mais perto da área de Isaksson e, mais importante ainda, tirar partido da menor qualidade técnica dos jogadores suecos para potenciar o erro e partir para transições que permitissem apanhar a defensiva adversária em momentos de alguma desorganização.
Era importante que Portugal conseguisse marcar cedo (até pela pressão que existia e existiu) e era importante também que Portugal aumentasse a qualidade das suas finalizações. É evidente que não seria possível manter um pressing agressivo e alto com eficácia durante todo o jogo, mas seria estrategicamente importante que tal acontecesse no inicio. Portugal não o fez, a Suécia ganhou preciosos minutos para se adaptar ao jogo e Portugal ficou limitado a ataques perante uma defesa organizada, o que condicionou, como noutros jogos, a qualidade das suas finalizações. Daí se perceba facilmente que sejam precisos tantos remates para se marcar 1 golo.
O que Queiroz não deixou ver na segunda parte
Os últimos 2 lances do vídeo abordam 2 bons momentos em que a Selecção fica perto do golo, ambos em ataque organizado. Ambos acontecem na primeira parte e ambos resultam de 2 aspectos que, posteriormente, foram desfeitos pela forma como Queiroz interveio no jogo.
A primeira jogada tem dois aspectos que acho importante destacar. O primeiro é a importância dos laterais, particularmente quando aparecem a dar sequência a mudanças de flanco, pelo motivo óbvio de beneficiarem de mais espaço para as suas iniciativas. O segundo é o movimento de Tiago a atacar a zona de finalização. Quanto ao primeiro aspecto, foi um ponto forte em algumas jogadas do primeiro tempo, mas a opção de Queiroz após a lesão de Bosingwa privou Portugal de dar continuidade a esses movimentos e na segunda parte não mais se repetiram. No que respeita aos movimentos de Tiago, foi para mim claro que essa sua vocação foi propositada como complemento da mobilidade que era pretendida para o ataque. Diria apenas que essa chegada da linha média à zona de finalização pecou apenas por escassa, tendo em Tiago exemplo praticamente único. Mais uma vez, após a saída de Tiago, Portugal deixou de ter um jogador com este tipo de vocação.
A segunda jogada ocorre sobre a zona central e é, juntamente com uma outra com as mesmas características no inicio da segunda parte, um raro exemplo de uma finalização verdadeiramente perigosa em bola corrida. O meu destaque vai para a ausência de uma referência de marcação fixa, o que dificulta muito quem defende naquela zona. Não se trata de uma embirração com Hugo Almeida, antes sim de perceber o ajuste do perfil à forma de jogar. Se Portugal fizesse um recurso mais directo a um duelo mais físico na zona central, Hugo Almeida seria o jogador ideal, mas tal não é o caso. Aliás, neste aspecto, perfis como o de Nuno Gomes e Postiga poderiam enquadrar-se na perfeição, sendo um total disparate a sua não convocatória. Queiroz voltou a não ser feliz na substituição, não só por lançar um jogador como Almeida, mas sobretudo porque retirou o elo de ligação com essa zona central. Se até aí Portugal conseguira as suas 2 melhores ocasiões pela zona central, nos 25 minutos finais, ficou limitado a um recurso permanente aos flancos como solução de penetração, o que, como era previsível, facilitou a tarefa sueca. Este é também um exemplo que ajuda a dismistificar a ideia de que é preciso um ponta de lança forte e alto que tem como função dar resposta aos cruzamentos dos extremos. Felizmente, digo eu, o futebol é um pouco mais complexo do que isso...
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