31.1.14

5 jogadas (Bilbao - Atlético, Man City e Bayern)

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Atl.Bilbao - Atl.Madrid - Um grande jogo, na segunda mão dos quartos-de-final da Taça do Rei, entre aquelas que serão, provavelmente, as duas melhores equipas do futebol espanhol da actualidade, descontados os "gigantes" Barça e Real. É claro que há alguma diferença entre Athletic e Atlético, mas jogando-se no novo San Mamés e com várias ausências relevantes do lado madrileno, estava criado um grande teste à equipa de Simeone. Mais um! É certo que o resultado não sugere grandes complicações para uma equipa que já levava da primeira mão uma vantagem de um golo, mas a história do jogo tem para contar várias complicações criadas pelos bascos à habitual segurança defensiva do Atlético. Esse mérito do Atl.Bilbao tem por base a intensidade com encarou o jogo, mas teve também, do ponto de vista táctico, algumas nuances que me parecem ter contribuído para uma intranquilidade acrescida, relativamente ao que é costume na equipa de Simeone. Em particular, o posicionamento dos laterais, quase sempre bastante profundos, criou problemas de ajustamento posicional da linha média. A verdade é que o esforço do Bilbao acabou por ser inglório, em parte pelo mérito defensivo do seu opositor, mas também pela capacidade madrilena de aproveitar as situações ofensivas que o jogo lhe ofereceu, seja no capítulo das bolas paradas (onde é, repetidamente, muito forte), quer no aproveitamento das costas e do risco posicional que estava inerente à postura basca no jogo. Com maior foco no campeonato, diria que o Athletic será o mais forte candidato ao 4º lugar no campeonato. Já relativamente ao Atlético, continuo a não vislumbrar limites para as possibilidades nesta temporada. Não é favorito a nada, mas é candidato... a tudo!

Sobre as duas jogadas do vídeo, no primeiro lance começo por sublinhar o pressing alto do Atlético de Madrid. Aqui reside mais um dos méritos do comportamento táctico da equipa de Simeone, que é a capacidade de identificar muito correctamente a postura que deve adoptar em termos de presença pressionante. Como sabemos, não tem relutância em baixar muito o bloco, fazendo-o com grande competência e frequência, mas não raras vezes potencia igualmente o erro adversário em zonas bastante altas. Nesses casos, o Atlético forma uma espécie de 4-1-3-2, "partindo" o posicionamento dos seus dois médios, com um deles a adoptar uma postura mais pressionante e o outro permanecendo mais perto da linha defensiva. Na sequência do lance, Diego Costa acaba por, mais uma vez, demonstrar a sua apetência para explorar a profundidade, aproveitando o posicionamento exageradamente alto da linha defensiva, que acaba por se deixar apanhar numa situação em que a distância para o portador da bola é demasiado curta e não lhe permite reagir minimamente ao lance.
Na segunda jogada, está evidenciado o efeito da projecção dos laterais do Atl.Bilbao, durante o jogo. Neste caso a construção da jogada acaba por potenciar ainda mais a dificuldade dos alas do Atl.Madrid em fazer um ajustamento posicional atempado, acabando por não haver controlo sobre o 'overlap' de Balenziaga. Nota ainda para a qualidade do cruzamento, que retira a bola do primeiro poste e da acção de Courtois, e para o tempo de salto de Aduriz, que fazendo-se primeiro à bola, inviabiliza a acção de Godin.

Tottenham - Man City -  Um jogo que supostamente seria equilibrado, mas que acabou com um cenário repetido para as duas equipas: goleada! E sem surpresa, porque a qualidade que ambas mostraram foi, de facto, muito díspar. Aqui, importa mais falar do Man City, que vem revelando níveis de confiança muito elevados, conseguindo ser uma das formações mais dominadoras do futebol europeu da actualidade, pelo seu potencial técnico. A sua capacidade de circulação foi, de resto, a grande chave do sucesso neste jogo, já que o bloco defensivo do Tottenham acabou sempre por se deixar envolver pela movimentação, com bola, da equipa de Pellegrini, acabando assim desposicionada e à mercê da grande valia individual dos avançados contrários. Foi, de resto, um jogo completamente falhado em termos estratégicos por parte dos Spurs, que não só foram incapazes de controlar os espaços essenciais, defensivamente, como também não tiraram partido algum da tentativa de usar Adebayor como referência frontal para a sua construção ofensiva. O caso deste jogo, e do que sucedeu ao Tottenham, é um exemplo para a generalidade das equipas da Premier League, que perante o City actual se confrontam com a quase fatalidade de terem de passar muito tempo sem bola. Se não definirem bem as suas prioridades posicionais, nomeadamente ao nível de referências prioritárias, acabam por não só não ter bola, como se verem expostos os seus espaços essenciais. O City, pelo invulgar potencial técnico que apresenta, é, sem dúvida, um dos grandes pontos de interesse para o restante da temporada do futebol europeu. De imediato, teremos um desafio interessante frente ao Chelsea - uma das equipa que não deverá discutir a posse de bola, mas que será potencialmente muito forte numa estratégia de contra-ataque - e, mais tarde, o interesse de ver duas das equipas mais dominadoras do futebol mundial, City e Barça.

Quanto aos dois lances que escolhi para o vídeo, em ambos é notória a forma como o Tottenham sentiu dificuldades em controlar a movimentação dos jogadores do City, perante a circulação da bola. O primeiro golo da equipa de Pellegrini é simplesmente notável, com a bola a circular entre vários jogadores, com poucos toques, e percorrendo uma área muito grande do terreno. O destaque, claro, vai para o movimento de David Silva, mas também será importante notar a forma como a equipa do Tottenham permite que se abram tantos espaços entre os seus jogadores. O mesmo problema no segundo caso, sendo criada uma zona de 4x3 no corredor central e com os médios dos Spurs a focarem-se excessivamente nas referências individuais, o que perante uma situação de inferioridade numérica é sempre desaconselhável, mas que no caso tem a agravante desse posicionamento implicar a abertura do espaço entre si.

Estugarda - Bayern - Uma pequena nota sobre este jogo em que, sem Robben e Ribery (entre outros, mas sobretudo estes), o Bayern sentiu muitas dificuldades para vencer, conseguindo-o apenas nos minutos finais, através de uma fantástica finalização de Thiago Alcantara. Mas a nota principal, aqui, vai mesmo para os problemas que o Bayern sentiu em ser consequente nas suas acções ofensivas durante grande parte do jogo, acabando por consegui-lo após as alterações de Guardiola, o que nos leva até ao outro foco de interesse. Guardiola colocou, em simultâneo, duas referências ofensivas (Pizarro e Mandzukic), passando a actuar apenas com dois médios (Lahm e Alcantara). Esta maior presença física não determinou um jogo mais directo, mas acabou por tirar partido do acréscimo de presença ofensiva, sendo que a circulação na linha média não perdeu grande eficácia pela qualidade de Lahm e Alcantara. Um figurino, já agora, bastante parecido com o de Jesus no Benfica, com um médio mais baixo (Lahm) e apenas outro à sua frente (Alcantara), a quem se exigia uma boa capacidade de transporte de bola. O Bayern venceu e Guardiola terá até tirado notas positivas dos últimos 20 minutos, mas ficou também a ideia de que sem os seus principais desequilibradores, o potencial da equipa pode ser bastante afectado.

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29.1.14

Fredy Montero e a relação com o golo

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Começou por ser a grande figura do campeonato, pela facilidade com que ia marcando jogo após jogo. Recentemente, porém, tem sentido mais dificuldades em encontrar-se com o destino do golo, acumulando já 476 minutos sem marcar (em todas as provas).

Tenho escrito bastante sobre os avançados e a forma como a sua relação com o golo é, na minha visão, avaliada com demasiada focalização em ocorrências de curto-prazo, ignorando-se por outro lado alguns indicadores mais sólidos e que oferecem uma estimativa mais realista sobre o que devemos esperar do futuro. Sobre o próprio Fredy Montero, aliás, havia aqui alertado para o peso da sua elevada eficiência (golo/ocasião) no inicio da temporada, não sendo projectável que essa performance se pudesse manter ao longo do tempo. Sem surpresa, a eficiência baixou até um registo relativamente normal e Montero deixou de marcar com tanta frequência.

Quer isto dizer que o que vimos de Montero no inicio de época foi apenas um acidente e que, afinal, do colombiano não se devem esperar muitos mais golos? Sem fazer deste um exercício de futurologia, mas antes uma projecção realista em face daquilo que a sua performance evidenciou até ao momento, a resposta é: não! Ou seja, tal como não seria de esperar que a sua veia goleadora mantivesse o fulgor do inicio de época, também agora o mais provável que, mais jogo menos jogo, Montero volte a marcar. Aliás, ao seu período de "seca", deve notar-se, corresponde uma série de jogos em que a própria equipa sentiu dificuldades em se aproximar do golo, pelo que este contexto não deve ser ignorado.

É claro que esta perspectiva mais moderada não é aquela que vigora, e se da parte dos adeptos é natural que existam exageros nas expectativas geradas, a verdade é que a falta de golos parece ter já passado para o próprio Montero, que vem revelando alguma ansiedade nas suas decisões em jogos mais recentes, nomeadamente forçando finalizações em contextos pouco favoráveis. Esse é, a meu ver, o grande risco deste tipo de volatilidade em torno da apreciação dos avançados e da sua relação com o golo, transmitindo-se injustificadamente uma ansiedade que afecta depois negativamente o desempenho dos jogadores noutros capítulos do seu jogo.

Para terminar, deixo a minha a minha projecção: considerando o desempenho que manteve até agora e caso mantenha os mesmos tempos de utilização, diria que será razoável esperar de Montero mais 6-8 golos (sem penáltis) até ao final da temporada.



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28.1.14

A previsível saída de Lucho

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Desfecho previsível - Venho escrevendo pontualmente sobre a forma como, particularmente em Portugal, os jogadores são olhados após entrarem na casa dos trinta. Lucho era um dos casos mais evidentes nesta temporada, e também já me tinha referido à probabilidade desta ser a sua última época no futebol português, tanto mais que estava em final de contrato. Não era óbvio que fosse tão imediato, mas era previsível que a saída estivesse para acontecer...

Rendimento elevado, apesar do B.I. - Pessoalmente, penso que o Porto faz mal em não ficar com Lucho, e mesmo tentar prolongar-lhe o contrato. Não sei quantificar o peso da sua influência no grupo, mas sei que dentro do campo Lucho era, ainda e como sempre, uma das unidades de maior rendimento da equipa. Apenas atrás de Jackson, que a meu ver está noutro patamar. É verdade que nos últimos tempos foi recuado para uma posição que não potenciava a mais valiosa das suas características, que é a capacidade de, sem bola, encontrar espaços e linhas de passe virtuosas, dentro do bloco defensivo contrário. Lucho não era - nem nunca foi - um jogador que se evidenciasse pelo seu envolvimento na primeira fase de construção, e foi sempre quando teve liberdade para se soltar numa segunda fase ofensiva que mais se destacou, mas recentemente criou-se essa ideia e Paulo Fonseca acabou ceder, ignorando a mais-valia que o jogador vinha trazendo ao jogo entrelinhas da equipa. Seja como for, o seu rendimento era incomparavelmente superior à média da equipa, sendo que foi inclusivamente o jogador portista que mais quilómetros correu nos jogos da Champions League. Tudo somado, e considerando ainda a sua parca propensão para lesões, dá para dizer que, no caso de Lucho Gonzalez, o problema da idade é mesmo, apenas e só, um problema de preconceito, porque tudo apontava para que o jogador tivesse ainda vários anos para poder jogar ao mais algo nível.

Mudança no ADN do meio-campo - Obviamente que o Porto não deixará de ser competitivo sem Lucho, perspectivando-se agora a aposta mais continuada noutros protagonistas. O caso mais sério, e revelado recentemente, é o de Carlos Eduardo, mas também Josué e mesmo Quintero terão agora outra margem para se afirmar no onze base. Uma coisa é certa, porém, se o Porto teve como marca mais forte dos primeiros tempos de Paulo Fonseca o jogo entrelinhas, muito dificilmente na era pós-Lucho manterá essa identidade. É que, não havendo dúvidas sobre a capacidade técnica de qualquer das alternativas para jogar na frente do triângulo, nenhuma tem especial vocação para trabalhar a sua aparição no jogo sem bola e dentro do bloco contrário, como acontecia com Lucho. Mais incidência no jogo exterior, é o que se aguarda (e o que já se tem visto, de resto).

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27.1.14

A polémica na Taça da Liga

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A diferença decisiva foi de... 1 dia!- A questão da necessidade dos dois jogos finais se realizarem em simultâneo é, obviamente, relevante. O futebol - ou, de resto, qualquer outro desporto - é fortemente marcado pelo factor humano, e qualquer equipa joga em função do resultado que precisa de obter, sendo este um comportamento inclusivamente muito difícil de mudar nos jogadores, de tão instintivo que é (isto vê-se, por exemplo, na mudança de comportamento das equipas após os golos, que quase sempre acontece independentemente das instruções que lhes sejam dadas desde a parte de fora). E esta constatação serve tanto para criticar o pouco profissionalismo na organização destes 2 jogos, como para constatar que os 3-4 minutos de diferença entre os jogos de Penafiel e do Dragão não foram, na prática, um ponto especialmente relevante para o desfecho final. É que aquilo por que se bateu o Porto nos minutos finais do seu jogo foi apenas pela vitória, coisa que aconteceria em qualquer outro jogo de qualquer outra prova, não tendo havido da parte dos jogadores, sequer, a percepção da situação classificativa relativamente ao número de golos que seriam precisos marcar.
Ainda assim, e apesar da desvalorização que faço nesta minha leitura dos 3-4 minutos de diferença entre os dois jogos (que, repito, nunca deveriam ter sido permitidos), parece-me que o Porto foi, de facto, beneficiado pelo tempo em que os seus jogos foram realizados, sendo que esse benefício resulta de bem mais do que alguns minutos. Isto é, na segunda jornada os portistas jogaram quase 24 horas depois do Sporting, conhecendo já o resultado do seu adversário. Na recepção ao Penafiel, foi visível a preocupação em forçar a goleada nos minutos finais, num comportamento - esse sim! - específíco da situação classificativa e que tinha em mente o facto do Sporting ter marcado 3 golos no dia anterior, tendo havido inclusivamente tempo para consciencializar todos os jogadores sobre a necessidade da situação. E, este sim, parece-me ter sido um factor decisivo para o desfecho final das contas do grupo, e que, claramente, favoreceu as aspirações portistas.

Falta de profissionalismo habitual - Se se pode criticar a liga pela forma como negligenciou a importância dos jogos serem iniciados em simultâneo, a meu ver deve-se também criticar a forma como os clubes - particularmente, o Sporting - não souberam acompanhar com rigor a sua situação relativamente ao apuramento. Não é algo que deva ser garantido pelo treinador - que terá outras preocupações ao longo do jogo - mas este deveria ser rigorosamente informado por alguém sobre a situação que tem pela frente. Algo que no caso do Sporting claramente não aconteceu - inclusivamente, a dúvida subsistiu nos responsáveis do clube já após o final dos dois jogos. Aliás, é curioso como o 3-1 não representava para o Sporting qualquer vantagem relativamente ao 2-1, já que com ambos os resultados a equipa só se qualificaria em caso do Porto não vencer o seu jogo. Com 2-1 ou 3-1, o Sporting seria eliminado em caso de reviravolta no Dragão. Ou seja, com 3-1 o Sporting viu-se colocado numa situação em que não tinha, verdadeiramente, nada a perder em arriscar. Porque ganhava, aí sim, mais margem se conseguisse mais 1 golo, e porque ficava exactamente com as mesmas hipóteses de qualificação caso sofresse o 3-2. Mas a reacção que vimos na gestão do jogo por parte da equipa, após o 3-1, não foi de acordo com esta realidade, o que é revelador de alguma falta de noção sobre a realidade da situação da equipa naquela altura do jogo.
Já agora, se estranhamos que este tipo de lapsos aconteçam a este nível, é também bom ressalvar que se trata de uma situação tudo menos incomum. Muitos se lembrarão de Peseiro incluir-se na luta pelo título quando isso já não lhe era matematicamente possível, em 2005, mas vários outros casos vêm acontecendo pelo mundo fora. Recentemente, por exemplo, Pellegrini confessou desconhecer que lhe bastaria mais 1 golo para liderar o seu grupo da Champions, desconsiderando assim essa oportunidade nos últimos minutos do derradeiro jogo da fase de grupos.

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24.1.14

5 Jogadas (Sporting, Benfica, Man Utd, Roma)

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Arouca - Sporting - O lance do golo do Arouca tem como ponto mais evidente a forma como o Sporting perde a bola após um arremesso lateral. De facto, é incontornável que está aí a génese do desequilíbrio. O principal protagonista nesse instante, em que se dá a perda de bola, é Maurício, mas na minha interpretação haverá pouca margem para criticar o defesa-central do Sporting. Tratando-se de um lançamento lateral naquela zona do campo, o mais aconselhável é colocar a bola junto à linha, tentando apelar ao jogo aéreo de uma referência ofensiva (no caso, Wilson Eduardo). A explicação para esta opção está no desfecho deste mesmo lance, e tem a ver com o risco de exposição em que a equipa incorre em caso de perda nesta zona do campo. Actualmente, várias equipas recorrem a um lançamento mais curto, com um jogador a aproximar-se para repentinamente, e sem deixar a bola bater no solo, colocá-la nas costas da linha defensiva contrária. À margem de uma alternativa deste tipo, qualquer outra solução só se justifica quando houver total garantia de segurança no seguimento da jogada, coisa que não acontece neste caso, sendo a ameaça da presença pressionante do Arouca agravada pelo estado do relvado. Sendo assim, e focando-me ainda na origem do lance, é sobre a opção de Piris que penso que se justifica centrar a critica.
Mais à frente, e porque o lance deu, apesar de tudo, tempo para reagir defensivamente à perda, parece-me igualmente importante sublinhar a antecipação de Bruno Amaro relativamente a Adrien, criando o desequilíbrio final na zona de finalização. Um problema que tem a ver com a percepção posicional dos médios relativamente ao espaço nas suas costas, e que se vem repetindo nas análises que venho aqui deixando desde o início da época.

Benfica - Marítimo - O lance do primeiro golo do Benfica resulta de alguns ressaltos, é verdade, mas creio que justifica um sublinhado sobre 1) o mau posicionamento defensivo do Marítimo e 2) a importância da movimentação de Rodrigo, entrelinhas. Ambos os pontos já foram aqui realçados por mais do que uma vez. No caso do Marítimo, e como escrevi há dias, importa não confundir "futebol positivo" com "defender mal". A dificuldade com que a equipa madeirense ajusta o seu posicionamento ao longo da jogada determina a criação de espaços entre os jogadores e, consequentemente, a perda de condições para retirar partido da maior presença numérica com que inicialmente aborda cada lance, nomeadamente expondo-se em zonas fundamentais e facilitando a criação de situações de 1x1 com vantagem para o portador da bola. No caso de Rodrigo, primeiro solicita o passe na zona entrelinhas e, posteriormente, é de novo ele quem aproveita o espaço criado pela presença mais baixa de Gaitan, arrastando consigo um dos centrais adversários. A movimentação neste espaço é, já de si, muito útil, mas quando o Benfica consegue combinar isso com uma boa relação com o golo, seja na forma de golos marcados ou assistências, então tem no seu segundo-avançado uma das funções de maior valor para o sucesso colectivo. E é bom que não se perca isto de vista quando se sugerem alternativas tácticas que não incluem um jogador com esta função.

Chelsea - Man Utd - Quem olha para o resultado, ou mesmo para a evolução do mesmo, ficará com a ideia de que se tratou de um jogo completamente dominado pelo Chelsea. Não foi, de todo, o caso. O United conseguiu criar muitos problemas, tendo inclusivamente estado mais perto do golo nos minutos iniciais. A diferença, como tantas vezes acontece com Mourinho, esteve nos pormenores de organização. É que o Chelsea não denotou - nem denota, porque o que se passou não foi ocasional - os meus problemas de organização defensiva do seu adversário. Em particular, no caso do Man Utd, penso que se deve sublinhar a frequência com que a sua linha média é atraída para zonas e situações pouco desejáveis para o equilíbrio colectivo. A meu ver, isto tem a ver com algum excesso de valorização das referências individuais.
No caso dos dois lances que recupero, é visível a forma como os elementos da linha média não fazem o trabalho defensivo ideal, nomeadamente ao nível das coberturas. No caso do primeiro golo, parece-me que o principal visado deve ser Ashley Young, pela forma como não se integrou defensivamente num lance que acontecia no seu corredor. Embora, claro, também haja outros pontos de possível revisão, nomeadamente na resposta que é dada ao movimento vertical de Hazard.
Sem as mesmas consequências mas talvez mais interessante, é o segundo lance do vídeo sobre este jogo. Isto porque é visível a forma como os médios do Man Utd são atraídos pela circulação lateral da bola, acabando por ficar o lateral-direito demasiado exposto no duelo individual com Hazard, precisamente um dos jogadores mais fortes do Chelsea para este tipo de situação.

Roma - Juventus - Referência para o interessante duelo entre duas das melhores equipas do futebol italiano da actualidade. Não conheço bem qualquer das equipas, pelo que abordo este jogo com alguma cautela. Para quem não teve oportunidade de ver, esclarecer que este foi um jogo muito fechado, praticamente sem qualquer desequilíbrio até à abertura do marcador. A Juventus, com a sua tradicional defesa a 3, apostou quase sempre num bloco bastante baixo, denso e muito difícil de bater em situações de ataque posicional, sendo que as suas iniciativas ofensivas de maior relevo ocorreram em lançamentos para as costas da defesa romana, tentando aproveitar - sem sucesso - as poucas situações em que esta o permitiu. Do lado da Roma, um pouco mais de risco posicional, ainda que não muito, havendo sempre uma grande preocupação com a acção de Pirlo, e uma tendência para utilizar o corredor direito nas acções ofensivas.
Relativamente ao lance decisivo do jogo, acaba por acontecer numa das raras situações de ataque rápido e, curiosamente, teve no duelo entre Pirlo e Totti um ponto chave. Com o bloco subido na tentativa de pressionar uma saída de bola complicada da Roma, era fundamental que Pirlo tivesse controlado o pontapé longo no inicio da jogada. O posicionamento até foi o correcto, mas a agressividade não foi a ideal e, num duelo de veteranos, foi Totti quem levou a melhor. A partir daí, o desequilíbrio está criado, ainda que se deva sublinhar também a parte final da jogada e a forma como Bonucci perde a frente do lance, perante Gervinho. É uma situação muito difícil para o defensor, obviamente, porque tem de controlar o atacante, não perdendo o contacto visual com a bola e sendo que tudo acontece em velocidade, de todo o modo, a primeira prioridade é sempre não perder a frente do lance.

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21.1.14

Rodrigo já é o mais decisivo do Benfica

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É um jogador de quem já venho falando há algum tempo, muito pelo contributo positivo que me parece ter dado quase sempre que foi utilizado. Se alguns dos meus pontos de opinião sobre Rodrigo são motivos de discórdia, há um que não levanta grandes dúvidas e que tem a ver com a crescente influência decisiva do jogador. Com os dois golos marcados ao Marítimo, Rodrigo passou mesmo a ser o jogador mais influente em termos de contribuição directa nos golos da equipa (se excluirmos, como sempre faço, as grande-penalidades). De sublinhar ainda o facto o número de minutos que Rodrigo precisou para atingir este estatuto, sendo que é inferior a qualquer dos jogadores que o seguem nesta lista específica.

A importância da mobilidade
Olhando com um pouco mais de detalhe para este percurso de sucesso do avançado espanhol, não há dúvidas de que o seu impacto positivo foi conseguido dentro de uma função com maior apelo à mobilidade. Pessoalmente, e não é a primeira vez que o refiro, tenho a opinião de que esta é a melhor forma de potenciar as características do jogador. Rodrigo não me parece ser um jogador com características especialmente fortes para se impor como presença muito fixa, oferecendo-se como referência permanente junto dos centrais adversários. Não é um jogador especialmente forte no jogo de contacto, nem tão pouco tem características que lhe possam oferecer grande vantagem num duelo directo e constante com os centrais (como acontece com Cardozo, por exemplo). Por outro lado, é um jogador que gosta de sair da sua zona, o que lhe permite retirar referência de marcação e aparecer em zonas de finalização num contexto mais favorável. Não quer isto dizer que tenha de jogar sempre com um avançado à sua frente mas, antes sim, que o seu futebol precisa de liberdade de movimentos para ser devidamente potenciado. Para já, e numa altura em que se fala da sua eventual saída, é importante sublinhar o papel que tem tido no recente sucesso da equipa, sendo que nenhuma outra solução conseguiu oferecer produtividade minimamente equiparável ao papel que vem desempenhando. Ou seja, e caso realmente saia, existe um risco desportivo que é evidente e não pode ser desprezado para o futuro imediato.

Frequência vs Eficiência: um caso interessante
Quem lê com alguma atenção as análises que venho deixando estará já familiarizado com esta questão. Não se trata de uma certeza, mas antes de uma hipótese que venho testando e partilhando. Mais concretamente, creio que a eficiência dos avançados (isto é, o aproveitamento golo/ocasião) é sobrevalorizado no curto-prazo e que, em sentido inverso, pouca atenção se dá à frequência com que os mesmos avançados criam ou chamam a si ocasiões de golo. O caso de Rodrigo nesta temporada é interessante, porque desde as primeiras utilizações que foi sempre tendo um número muito elevado de ocasiões de golo, mantendo-se este registo pouco alterado (como documenta o gráfico abaixo). O problema é que a eficiência não foi imediatamente a melhor e a apreciação do jogador acabou por ser afectada por isso, o que lhe terá retirado espaço e tempo de utilização. Com o golo frente ao Anderlecht, porém, tudo mudou e com mais tempo de utilização, conseguiu estabilizar os níveis de eficiência, sendo que actualmente até têm sido mais elevados do que aquilo que é normal. Aliás, da mesma forma que era errado sobrevalorizar o mau aproveitamento do inicio de temporada, é também agora irrealista pensar que Rodrigo possa manter a eficiência que vem mantido nos últimos jogos.
O ponto aqui é que o caso de Rodrigo sugere que a frequência (capacidade de chamar a si ocasiões de golo) é mais estável no curto-prazo do que a eficiência, sendo por isso um indicador que deveria justificar mais importância para as decisões imediatas. Uma ideia que, porém, vai em sentido contrário daquela que é a percepção generalizada e, mesmo, da orientação decisional da generalidade dos treinadores.





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20.1.14

Notas do Arouca-Sporting

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- As condições do terreno foram, como todos viram, a grande condicionante da partida. O Arouca foi, neste sentido, quem melhor partido tirou na fase inicial, com o Sporting a parecer surpreendido e a fazer uma adaptação progressiva às circunstâncias atípicas do jogo. Destaque, nesse período, para o pontapé comprido de Cássio nas reposições longas, para a maior agressividade do meio-campo do Arouca nas bolas divididas e para a dificuldade de adaptação de algumas unidades do Sporting, com Piris em especial evidência.

- Paradoxalmente, foi com o agravar das condições do terreno que o Sporting se encontrou no jogo. A única alteração visivel - e para além da entrada de Slimani - teve a ver com uma abordagem mais directa na ligação do seu jogo, não parecendo porém ser essa a única explicação para a melhoria de panorama para o lado do Sporting. Na minha leitura, o tempo trouxe também o equilíbrio na adaptação dos jogadores de ambas as equipas, nomeadamente ao nível da agressividade e do posicionamento com que abordavam cada lance. Tacticamente, estranhei a tardia em lançar Slimani no jogo, mas a opção foi posteriormente explicada por Jardim.

- A vitória, num jogo difícil e que esteve realmente muito complicado para o Sporting, explica-se, a meu ver, pela resposta de ambas as equipas nas zonas decisivas do jogo - que é como quem diz, as duas grande-áreas. Slimani é o destaque mais evidente, tendo sido determinante pelo golo que marcou (mas não muito mais, diga-se, porque também ele teve muitas dificuldades com o estado do terreno), mas creio que é não menos importante olhar para os protagonistas defensivos das equipas. Em particular, impressionou-me o desempenho dos centrais do Sporting, que me parecem ter sido o grande pilar deste triunfo. Pela presença quase irrepreensível num jogo de grande exposição e pela forma como se tornaram protagonistas também no capítulo ofensivo de um jogo onde os lances de bola parada foram a principal fonte de perigo da equipa. Tudo somado, diria, não só que a diferença de desempenho/produtividade dos centrais do Sporting para os do Arouca foi enorme, como que foi provavelmente esse o factor mais relevante para definição da discrepância no resultado final da partida.

- Finalmente, uma nota pessoal para confessar algum saudosismo em relação a este tipo de jogos. Não que pense que o futebol passe a ser melhor quando se joga neste tipo de condições - obviamente, muito pelo contrário - mas porque cresci e aprendi a gostar de futebol num tempo em que este era um cenário recorrente e que fazia parte da regra, e não da excepção, do filme de cada campeonato. Se hoje as equipas estranham muito quando se deparam com estas condições, é interessante perceber como há não mais de 15-20 anos, este era um contexto perfeitamente normal para todas as equipas, sendo que até os melhores estádios se apresentavam com relvados pesados e irregulares durante meses a fio. Neste plano, o futebol mudou muito, havendo um favorecimento evidente da componente técnica do jogo.

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17.1.14

5 jogadas (Benfica-Porto; Sporting e Atlético-Barça)

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1 - A minha ideia inicial era trazer mais imagens sobre este aspecto do jogo, mas não tendo sido possível, recupero pelo menos 1 lance que ilustra a forma como o Benfica condicionou a construção portista em zonas mais adiantadas. Em particular, o papel da linha média, com Enzo Perez a acompanhar o comportamento do duplo-pivot adversário, que em regra baixa pelo menos 1 dos seus elementos (normalmente Fernando) para assumir a posse numa linha muito próxima da dos centrais. O risco de adiantar 3 unidades em simultâneo é, claro, o espaço que se abre nas suas costas. O Benfica tentou atenuar essa exposição com um posicionamento mais interior dos extremos, que acabou por conseguir bons resultados, com várias linhas de passe interceptadas por Markovic e Gaitan ao longo do jogo.
Em relação ao Porto, e como foi evidente, grande parte das suas aspirações no jogo ficaram condicionadas pela fraca resposta que foi capaz de oferecer ao problema que lhe foi colocado. Já escrevi sobre a dificuldade dos elementos mais criativos (Varela, Licá e Carlos Eduardo) em oferecer linhas de passe nas costas dos médios encarnados, mas sobretudo o que me parece questionável é a forma como a equipa surgiu aparentemente surpreendida pela situação que lhe foi criada, sendo que ainda recentemente havia experimentado exactamente o mesmo tipo de bloqueio na visita a Alvalade, para a Taça da Liga. É possível - e este é um ponto que não referi na análise que fiz ao jogo - que a inclusão de Otamendi tivesse a ver com esta situação, com Paulo Fonseca a ver no maior potencial técnico do argentino uma resposta para os problemas que o pressing do Benfica previsivelmente lhe causaria. Correu mal, não só porque a simples alteração individual não teve implicação na dinâmica colectiva, como também porque o critério de Otamendi é muito inconstante e, por isso, também mais propenso ao erro do que o de qualquer outra solução. Algo que vem de encontro à ideia que tenho passado em várias ocasiões, ou seja, e sobretudo para as fazes mais precoces da construção, o critério deve ser um requisito que antecede o potencial técnico.

2 - O lance do primeiro golo é interessante porque há vários aspectos a considerar. Em primeiro lugar, claro, a falta de linhas de passe oferecidas a Otamendi. Depois, a perda de bola de Lucho, na sequência de uma série de ressaltos. No entanto, e tal como já havia escrito, essa perda não deve chamar a si uma grande dose explicativa sobre o que se segue, porque no momento em que ocorre o Porto tem 6 jogadores atrás da linha da bola, havendo todas as condições para que o lance tivesse sido melhor controlado. O ponto seguinte é a forma como o duplo-pivot portista reage à perda de bola. Lucho e Fernando estão posicionados na mesma linha e ambos condicionam a possibilidade do passe interior, como que dando por adquirido que o espaço entrelinhas estaria controlado. Um instinto próprio de quem está a contar com um pivot nas suas costas, mas que neste caso não existe e que determina que a aceleração de Markovic acabe por bater, num só movimento, os dois médios azuis-e-brancos.
Mais à frente, Mangala tenta condicionar a progressão de Markovic, e o Porto continua com condições para controlar a jogada, tanto mais que Danilo ganha rapidamente o interior de Rodrigo. Esperar-se-ia que Otamendi pudesse sair em contenção sobre Markovic e que Danilo controlasse a profundidade, mas a reacção dos dois defensores é, estranhamente, outra. Otamendi perde, claramente, a melhor noção da jogada, dando continuidade ao seu movimento lateral em vez de se aproximar do portador da bola, o que determina que Markovic acaba por não ter a oposição que poderia ter. Danilo, e depois de ter ganho correctamente o interior de Rodrigo, também dificulta a sua própria acção ao colocar-se de frente para Markovic, o que limita depois a reacção quando o passe é colocado nas suas costas.
Para além de tudo isto, claro, há que sublinhar o mérito na construção da jogada, de Markovic, e na finalização, de Rodrigo.

3 - Outro lance de muito perigo por parte do Benfica, e onde a reacção da defensiva portista é bastante questionável. Em particular, qualquer equipa terá sempre de exigir mais de si própria quando um pontapé-de-baliza termina com um jogador isolado na cara do seu guarda-redes. Neste caso, e à margem da resposta à primeira bola, salta à vista a forma como, muito rapidamente, a linha defensiva fica numericamente exposta (e demasiado aberta, já agora). O principal ponto a destacar é, claro, a saída de Otamendi, que é atraído pela presença interior de Gaitan, mas que ao tentar controlar a presença entrelinhas do extremo, acaba por debilitar a linha defensiva, passando esta a estar em igualdade numérica e com muito espaço nas suas costas. Depois, Danilo perde o segundo duelo aéreo, com Lima (aconselhava-se fazer falta), o que desde logo determina que se a bola seguinte não fosse ganha por Mangala, haveria necessariamente um desequilíbrio porque para além de Rodrigo, também Gaitan surgia sem qualquer oposição sobre a esquerda.

4 - O lance mais perigoso do jogo da Amoreira acontece numa altura em que o Sporting estava à procura de resgatar ainda os três pontos. O primeiro ponto a realçar é a forma como o Sporting perde a bola, revelando novamente dificuldades em utilizar o corredor central para as suas acções ofensivas. Ainda assim, a perda de bola, na zona em que acontece, não é responsável pelo descontrolo defensivo que se segue. Apenas com dois jogadores, e em franca inferioridade numérica, o Estoril constrói uma ocasião de golo na cara de Patrício. Na minha leitura, é decisiva a perda de controlo sobre Balboa, que fica livre para progredir vários metros sem oposição. Aqui, a responsabilidade maior parece-me estar na reacção de William Carvalho, que deveria ter controlado a linha de passe para Balboa, e revela depois muitas dificuldades em acompanhar a velocidade do lance. Mais à frente, Piris acaba por não conseguir controlar o movimento de Gerso, num contexto que não era também muito fácil para o lateral. Finalmente, destaque para Rui Patrício que tem feito uma época muito boa. Se o Sporting é a melhor defesa, tal acontece em grande parte porque o seu guarda-redes tem conseguido uma eficácia decisiva bastante superior à dos rivais.

5 - Impossível não falar do Atlético - Barcelona. Não que tenha sido um jogo especialmente emotivo - obviamente não foi - mas pela qualidade das duas equipas, em estilos perfeitamente opostos. O lance que recupero é interessante porque mostra boa parte do mérito de ambas as equipas. Do lado do Atlético, nota para o posicionamento da equipa, envolvendo todos os jogadores mesmo em zonas muito recuadas e fazendo um ajustamento posicional notável, sempre privilegiando a relação espacial entre os jogadores (inter e intra sectores) e permitindo-lhe ajustar sem problema às sucessivas mudanças de corredor dos adversários. A principal referência de pressão da equipa é o posicionamento dos apoios do portador da bola, passando a haver uma atitude pressionante forte sempre que o adversário recebe de costas para a baliza (como se vê pela reacção de Tiago). No vídeo, chamo à atenção para o papel de Koke, que começa por pressionar junto à linha, depois fecha no corredor central e acaba por estar na área na altura do cruzamento, mantendo um ajustamento posicional sempre em função da situação e do equilíbrio colectivo. Outra análise interessante - que guardo para outra ocasião - será perceber como ataca a equipa do Atlético, porque para andar no topo da liga espanhola não basta defender bem.
Mas, mesmo com todo o mérito defensivo do Atlético, o lance acaba mesmo por chegar muito próximo da baliza de Courtois, o que nos leva até ao Barcelona. Já todos conhecemos a qualidade geral da equipa, que permanece em grande medida intacta independentemente de quem está no comando técnico da equipa (o que não quer dizer que a equipa não tenha perdido qualidade desde a saída de Guardiola, evidentemente), mas como a jogada documenta será ainda o factor-Messi aquele que será capaz de transportar o potencial colectivo para outro patamar. E será assim, no Barcelona ou em qualquer equipa, enquanto Messi for Messi.

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16.1.14

A substituição de Matic

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A saída estava anunciada e vem, até, com algum atraso se considerarmos o que todos pensaram ser inevitável acontecer no passado Verão. Que implicações terá a saída de Matic? Aqui fica a minha ideia:

Pivot: importância da função vs excelência da interpretação
O primeiro ponto que quero abordar, porque ajuda a explicar a minha perspectiva, tem a ver com a função específica do "pivot". É quase regra geral que todas as equipas que recorrem à utilização de um "pivot" (uma opção muito popular na última década do futebol português) fazem desta uma função central no seu modelo táctico. Com uma forte componente posicional, este jogador é, quase sempre, o mais influente em posse e aquele que mais intervenções defensivas realiza. Por isso, frequentemente ouvimos e lemos a referência à importância dos jogadores que desempenham esta função nas respectivas equipas. Ora, eu não discordo dessa observação, mas parece-me que não raras vezes se confunde a importância do papel com a excelência da sua interpretação.

O exemplo de Javi e outros casos bem sucedidos
A consequência do equívoco que identifico no ponto anterior é que normalmente se sobrevaloriza o peso individual do jogador que interpreta esta função. Já aconteceu noutras ocasiões, como foi o caso de Paulo Assunção no Porto, mas é no próprio Benfica que surgirá o exemplo mais recente: Javi Garcia. De facto, parece que já lá vai muito tempo mas foi apenas há pouco mais de um ano que o Benfica perdeu Javi Garcia e poucos foram aqueles que, nessa altura, não anteciparam grandes problemas para o futuro imediato da equipa, em face dessa perda (agravada por ter acontecido em simultâneo com a de Witsel). Não estou com isto, note-se, a equiparar Javi a Matic, porque se no caso do espanhol - e como fui aqui escrevendo durante muito tempo - havia muito pouco de extraordinário para além do jogo aéreo, o mesmo não se pode dizer de Matic que revelou uma qualidade muito mais abrangente do que o seu antecessor.
De resto, é interessante observar o número de jogadores que, nos últimos anos, deu nas vistas no desempenho desta função no futebol português, sem que tenha sido preciso um grande investimento para o conseguir. Paulo Assunção, Fernando, Veloso, Matic e William, são os casos que me vêm à memória, todos eles com elevado rendimento apesar do baixo investimento, numa frequência muito elevada e que a meu ver não acontece por acaso. Desta constatação resulta mais um bom indício para o Benfica e para este processo de substituição de Matic.

Fejsa e Amorim, as alternativas
Considerados os pontos acima, e mesmo reconhecendo que algumas das qualidades de Matic não serão substituíveis no imediato, a verdade é que não consigo ver grande drama para o Benfica com a saída de Matic. A função de "pivot" tem grandes restrições tácticas e precisa sobretudo de uma interpretação lúcida e segura, onde o critério e segurança são sempre a principal prioridade, ao contrário da criatividade e capacidade de desequilíbrio. A solução mais óbvia é Fejsa, que já revelou uma capacidade de trabalho assinalável e parece ter todos os requisitos para cumprir bem o papel de "pivot", tal qual definido por Jesus. A grande dúvida em relação ao ex-Olympiakos é a sua segurança em posse, sendo esse um ponto a meu ver muito importante nesta função (e, já agora, onde Matic não esteve bem nesta temporada) e onde ainda não percebi bem que garantias pode dar, ou não, Fejsa. Outra solução é Ruben Amorim, cujo perfil não é tão ajustado a esta função específica, por ter qualidade para oferecer um envolvimento com mais dinâmica e não ter também a mesma capacidade de intervenção defensiva de Fejsa. Ainda assim, e mesmo parecendo-me mais vocacionado para funções de maior liberdade táctica, é sem dúvida uma alternativa. Sem Matic, o Benfica perderá presença no jogo aéreo (sobretudo se comparado com Amorim) e criatividade (sobretudo se comparado com Fejsa), mas não prevejo que perca aquilo que é mais essencial nesta função.

Matic no Chelsea
O Chelsea é das equipas que mais tenho acompanhado além fronteiras, pelo será com interesse que acompanharei também o outro lado desta mudança. Já aqui tinha escrito que o Chelsea tinha alguns problemas nas soluções para o seu "duplo-pivot", e Matic deverá acrescentar qualidade às opções de José Mourinho para essa zona, nomeadamente a mais-valia que trará em termos de presença aérea e capacidade de trabalho. Ainda assim, a utilização de Matic em funções mais adiantadas nos últimos tempos de Benfica veio mostrar algumas dificuldades na sua movimentação dentro do bloco contrário. Ou seja, parece-me provável que combine melhor actuando ao lado de um jogador de maior capacidade de envolvência em posse, como Lampard, do que com jogadores mais posicionais como será o caso de Obi Mikel.

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15.1.14

Notas sobre o Sporting

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Problemas e soluções repetidas, no Estoril - O empate na Amoreira (deixo os dados estatísticos abaixo) não deve ser encarado com muita preocupação. Estamos a falar de uma dos 2 jogos teoricamente mais difíceis do calendário, excluindo o confronto com os "grandes". Ainda assim, o Sporting deixou alguns sinais de dificuldade, que se repetem de outras ocasiões e que voltaram a não ter a melhor resposta.

Em particular, sempre que a dinâmica pelos corredores laterais não sai, seja por mérito do adversário ou desinspiração própria, a equipa reage da mesma maneira, mecânica, introduzindo o seu "plano B" na meia-hora final. Já aqui escrevi sobre isto, inclusivamente nas ocasiões em que fazer entrar Slimani parecia produzir resultados milagrosos. Não faz grande sentido aplicar um "plano B" por defeito, quando se entende que o "plano A" é aquele que mais hipóteses de sucesso oferece à equipa. Muito menos, fazê-lo é uma fonte de imprevisibilidade para os adversários, pois toda a gente sabe o que vai acontecer entre o minuto 60 e 70, caso o Sporting não esteja em vantagem. Sem contexto especifico que o justifique, uma mudança deste género a 30 minutos do final do jogo é, sobretudo, um acto de fé.

A resposta que, a meu ver, o Sporting deveria procurar tem a ver com a procura de dinâmicas alternativas, nomeadamente acrescentando alguns movimentos de exploração do espaço no corredor central, de onde o Sporting continua com muitas dificuldades em extrair grande produtividade. Não é algo fácil de conseguir, nem tão pouco esta minha critica sugere que o problema é evidente para quem o tem de resolver - muito pelo contrário! - mas não vejo saídas fáceis.

Mané e outro contexto, frente ao Marítimo - Se o Sporting praticamente não teve ocasiões claras de golo no Estoril, entretanto já conseguiu uma série delas na recepção ao Marítimo. Ou seja, o problema da falta de golos tem sobretudo a ver com o contexto, e com a qualidade da oposição, porque a equipa continua a mostrar-se lúcida e eficaz na implementação da sua ideia de jogo.

Sobre este jogo, a principal nota vem da exibição de Carlos Mané. Pessoalmente, não conheço bem o jogador, e apenas o tinha podido ver em aparições fugazes no final dos jogos. Desta vez, num contexto de maior estabilidade e com mais tempo, a ideia foi deixada foi muito melhor. Surpreendentemente, melhor. Se este é a capacidade que se reconhece ao Mané do presente, e tendo ele apenas 19 anos, parece-me evidente que o jogador deve entrar nas contas da titularidade, no mínimo alternando com as outras soluções. É duvidoso que o Sporting perca alguma coisa no imediato - a julgar por este jogo, não perderá - e poderá paralelamente fazer desenvolver um jogador numa posição chave e onde é mais difícil encontrar grande qualidade a baixo preço no mercado.

Uma nota final sobre o Marítimo, que apesar da derrota pesada voltou a recolher elogios pelo seu "futebol positivo". Constato frequentemente a confusão que é feita entre uma equipa que "defende mal" e uma equipa que pratica "futebol positivo". Porque não há nada de positivo em defender mal. O que se passa com o Marítimo é que apesar de ter uma das melhores linhas avançadas da Liga, está sempre habilitada a perder qualquer jogo. A equipa perdeu muitas unidades da sua zona defensiva (Roberge, João Guilherme, Rafael Miranda) e não conseguiu ainda recuperar dessas perdas, perdendo muita eficácia em organização defensiva. É, aliás, minha convicção de que esse é o problema que tira o sono ao próprio Pedro Martins, e que este não o vê, de forma alguma, como algo "positivo".

Tinha anunciado e era minha intenção trazer hoje aqui algumas jogadas do Benfica - Porto, mas por motivos técnicos não me é possível fazer vídeos. Se, como espero, o problema for resolvido a tempo, ainda recuperarei essa análise até ao final da semana...


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14.1.14

Benfica - Porto (II): Análise individual

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Benfica
Oblak - Mais um jogo sem sofrer golos e sem reparos à sua actuação que, diga-se, voltou a não ser especialmente exigente. O facto da eficácia de Artur ter sido, como já mostrei, assustadoramente baixa nestes primeiros meses de temporada, não implica que Oblak seja o outro lado da moeda. A avaliação dos guarda-redes, para ser conclusiva, requer muito mais tempo de avaliação. Uma coisa é certa, porém, como venho escrevendo há algum tempo, e ao contrário da ideia que se generalizou em termos mediáticos, o nível de exposição defensiva do Benfica não justificava o número de golos que a equipa vinha sofrendo internamente. O facto do Benfica ter vindo a sofrer menos golos é, por isso, algo que está em linha com o que era expectável, e não o contrário.

Maxi - Foi, sobretudo, um jogo de muita luta. Travou inúmeros duelos no seu corredor, o que explica o facto de ter sido um dos jogadores com mais intervenções defensivas no jogo. Por outro lado, do ponto de vista técnico sentiu sempre muitas dificuldades em conseguir dar boa sequência às suas intervenções, um problema extensível à generalidade da equipa e que se explica pela natureza do próprio jogo, mas que acabou por se reflectir especialmente na sua exibição.

Siqueira - Em sentido inverso de Maxi, teve um jogo discreto e até relativamente pouco conseguido em termos defensivos, sendo que pelo contrário foi um jogador muito lúcido quase sempre que teve a bola nos pés. Uma exibição que reforça a ideia que Siqueira me vem dando desde a sua chegada à Luz. Ou seja, com ele o Benfica ganha mais ofensivamente do que defensivamente.

Luisão - Garay foi o centro das atenções entre os centrais do Benfica, tanto pelo golo, como por algumas intervenções mais vistosas. Se em termos de impacto ofensivo a diferença entre os dois é óbvia, no que respeita à utilidade defensiva a presença de Luisão não fica em nada a dever à de Garay, tendo tido uma prestação mais sóbria, é verdade, mas bastante eficaz nos duelos que travou na sua zona, nomeadamente no confronto com Jackson Martinez.

Garay - Tem muito mérito no golo que marcou, pela forma como atacou a bola. Aliás, parece-me haver mais mérito seu do que demérito alheio. De resto, fez uma primeira parte vistosa, com alguns cortes importantes e intervindo mais no espaço do que Luisão. Com bola, onde costuma ser também uma mais valia para a equipa, este não foi dos seus melhores jogos.

Matic - Se este foi o seu último jogo de águia ao peito, pode dizer-se que se despediu em beleza. Foi, de facto, uma figura chave no jogo. Primeiro, porque actuou nas costas de uma zona pressionante que foi a grande arma estratégica da equipa. Depois, porque nas reposições longas foi também muito importante, servindo quer de referência para Oblak, quer de bloqueio para Hélton, numa acção importante para inviabilizar que o Porto utilizasse a boa presença aérea do seu avançado como referência para as primeiras bolas. Tudo somado, foi com grande distância de todos os outros, o jogador mais interventivo em termos defensivos, um autêntico muro à frente da defesa e que esteve na origem de várias transições com elevado potencial. Ofensivamente, poderia ter até tido outro protagonismo com algumas chegadas muito perigosas à área contrária, em lances de bola parada.

Enzo Perez - Estrategicamente, teve uma missão importante, porque coube-lhe pressionar em zonas muito adiantadas, para tentar condicionar a acção do duplo-pivot portista, na fase de construção. Um papel importante para o pressing da equipa, mesmo se em termos de intervenção directa acabou por não assumir grande protagonismo. Em posse, foi o jogador mais interventivo da equipa, ainda que este não fosse propriamente um jogo onde a presença em posse tivesse sido uma das armas essenciais da equipa. Referência habitual nas bolas paradas, apontou o canto que esteve na origem do segundo golo.

Gaitan - É verdade que foi disciplinado tacticamente, mas isso, e ao contrário da ideia generalizada, nem sequer é uma novidade nas suas exibições. A meu ver, porém, a exibição de Gaitan esteve bem abaixo do que pode oferecer, revelando-se bastante ineficaz nas suas intervenções com bola (com destaque para o momento de transição, onde foi o jogador que mais passes perdeu), e não oferecendo à equipa o seu habitual contributo criativo.

Markovic - A jogada do golo é tremenda, quer pela capacidade de arranque, quer pela notável definição no último passe. Um lance que Markovic andava a tentar há muito, e que acabou por lhe sair no jogo ideal. Depois, e ainda no campo dos elogios, de referenciar a sua missão defensiva, em especial no ajuste posicional interior, que lhe valeu várias intercepções importantes e ainda dentro do meio-campo contrário. Uma exibição que volta a revelar de forma bem clara o potencial que tem, mas que a meu ver não chega para esconder o caminho que ainda lhe falta percorrer.

Rodrigo - Mais um grande jogo num papel mais móvel. Parte do protagonismo, claro, resulta do golo que marcou, mas há outros capítulos onde a sua exibição justifica elogios. Em transição, por exemplo, foi o jogador com melhor eficácia, ligando bem a equipa após recuperação da bola, e mesmo no capítulo defensivo foi também ele uma presença relevante no condicionamento do jogo ofensivo do adversário. Entre ele e Matic, tenho muita dificuldade em eleger o melhor-em-campo. Aliás, desde que foi lançado neste papel de avançado mais móvel, Rodrigo tem-se tornado numa unidade de elevada utilidade para a equipa, num papel em que o Benfica vinha tendo muitas dificuldades em encontrar soluções nos primeiros meses da temporada e que, como já expliquei, me parece ter um enorme valor para a equipa. Uma ideia que, percebo, não é partilhada por muitos mas que imagino que vá ganhando alguns adeptos dada a repetitiva influência decisiva que Rodrigo vem conseguindo nesta função. Caso saia, será interessante perceber até que ponto esta posição voltará a ser um problema para Jesus. Pessoalmente, e face ao rendimento que tem tido nos últimos meses, não tenho dúvidas de que é, no mínimo, um risco para o curto-prazo.

 Lima - Parecia poder regressar a um melhor momento de confiança quando os golos começaram a surgir, mas a verdade é que isso ainda não aconteceu. Lutou, tal como a generalidade da equipa, e deu o seu contributo, mas esteve longe do protagonismo que pode assumir. Nota para a forma como isolou Rodrigo, ganhando no ar, num lance que poderia ter terminado no 3-0.

Porto
Hélton - Não fugiu à mediocridade colectiva e contribuiu também ele com alguns erros. Já lhe tem acontecido errar num lance isolado em alguns jogos, mas raramente terá errado tanto como neste jogo, com um passe comprometedor e duas saídas mal calculadas, uma delas no lance segundo golo. Ainda assim, na minha opinião, nesse lance há muito mérito de Garay.

Danilo - Foi um dos protagonistas óbvios do jogo, não conseguindo controlar Rodrigo no lance do primeiro golo e sendo expulso mais tarde. Não estava a fazer um jogo especialmente exuberante, mas também não vinha sendo dos jogadores com uma exibição mais comprometedora.

Alex Sandro - Bastante em jogo e evidenciando-se, como sempre, pela forma como transporta a bola ao longo do seu corredor. Em termos de eficácia, diria que foi um jogo dividido, onde ganhou e perdeu duelos.

Otamendi - Regressou à equipa e Paulo Fonseca bem se deve ter arrependido dessa decisão. Em posse, foi o jogador que mais perdas de risco acumulou, sendo que se em parte a responsabilidade deriva da ausência de linhas de passe que lhe foram oferecidas, por outro lado Otamendi voltou a revelar a sua imprudência ao nível do risco em posse. Mas também no capítulo defensivo comprometeu, parecendo-me ter abordado mal o lance do primeiro golo e também saindo algo precipitadamente da sua zona no lance que termina com o isolamento de Rodrigo, já na segunda parte. Provavelmente, o pior da equipa e do jogo.

Mangala - Muitos lhe apontarão o dedo no lance do segundo golo, mas na minha leitura deve ser sobretudo creditado mérito a Garay pela forma como atacou a bola. Mangala também o fez, mas partindo de um posicionamento necessariamente mais estático não era fácil controlar a entrada de rompante do central argentino. À margem desse lance, foi o jogador com mais presença em posse e aquele que, de longe, mais conseguiu intervir defensivamente, destacando-se o seu papel no momento de transição defensiva, a grande arma do Benfica no jogo. Na minha opinião, e a grande distância, a melhor exibição individual entre os portistas.

Fernando - Um jogo discreto, o que pode ter duas interpretações. Primeiro, e pela positiva, foi dos jogadores com mais presença em posse e dos que menos comprometeu nesse plano. Depois, defensivamente, o jogo passou-lhe bastante ao lado, com muito poucas intervenções defensivas relativamente ao que dele se espera, não conseguindo ser muito útil no momento de transição ataque-defesa e não sendo também uma presença discreta nos duelos aéreos travados na sua zona. Não é a primeira vez que tal sucede esta época, parecendo-me que sente algumas dificuldades em impor as suas qualidades jogando com um jogador ao seu lado.

Lucho - É outro dos mais óbvios focos de crítica, por ter perdido a bola para Markovic no lance do primeiro golo. Pessoalmente, parece-me excessivo valorizar esse erro, porque no momento em que ele acontece, a equipa tem 6 jogadores atrás da linha da bola, estando por isso perfeitamente capacitada para reagir com segurança à perda. Será mais criticável a forma como os dois médios protegem o mesmo passe interior e abrem o espaço entrelinhas para onde "explode" Markovic. Aliás, acção do sérvio justifica muito crédito na distribuição de responsabilidades da jogada. De resto, parece-me um equívoco enorme utilizá-lo nesta posição (e sei que, mais uma vez, esta não é a opinião mais comum), porque Lucho é sobretudo um jogador forte nas movimentações sem bola e na forma como cria espaços com acções simples, e não tanto um jogador de transporte de bola. Num jogo onde era fundamental aproveitar as costas dos médios do Benfica, não deixo de pensar como tudo poderia ter sido diferente caso Lucho tivesse sido utilizado nesse papel. Paulo Fonseca cedeu aos apelos exteriores e aparentemente recuou Lucho em definitivo. Se o Porto até aqui era fraco nas alas e forte no espaço entrelinhas, com o recuo de Lucho apenas ficamos a saber que perdeu um dos pontos fortes do seu jogo.

Carlos Eduardo - Voltou a realizar um jogo pouco conseguido, especialmente enquanto esteve no papel de médio mais ofensivo, destacando-se a dificuldade que teve em aparecer em jogo. Um problema que se repetiu desde o jogo de Alvalade e que ajuda a explicar o, também repetido, bloqueio da primeira fase de construção do Porto. Ainda assim, destaca-se a sua boa entrega e capacidade de trabalho, parecendo mais confortável na parte final, quando baixou para o lado de Fernando. É um bom executante e poderá ter um futuro interessante na equipa, mas não se lhe pode pedir que seja um elemento muito forte nas movimentações sem bola e no espaço entrelinhas, estando mais vocacionado para procurar espaços laterais e o transporte de bola. Cabe a Paulo Fonseca ser capaz de o integrar, de forma a que as suas características façam sentido para a missão colectiva, algo que claramente não aconteceu neste jogo.

Varela - Muitas dificuldades ao longo de todo o jogo, praticamente sem criar nada de relevante em termos ofensivos, mas também com muito poucas condições para o fazer. Depois da lesão de Danilo, foi ala-direito.

Licá - Foi o protagonista da principal ocasião de golo da equipa, ainda que num lance irregular, e esse é o ponto mais alto da sua exibição. De resto, só se pode estranhar como é que Paulo Fonseca lhe voltou a dar a titularidade depois das dificuldades que revelou no jogo frente ao Sporting. Sem surpresa, voltou a sentir os mesmos problemas para aparecer em jogo, não contribuindo em praticamente nada para ajudar a equipa a encontrar linhas de passe verticais. Ou seja, mais difícil do que entender a sua exibição, é entender a sua utilização.

Jackson - Jogo obviamente difícil em face do bloqueio da equipa em zonas mais atrasadas. Ainda assim, quase sempre que a equipa conseguiu chegar à zona de finalização, Jackson apareceu e esse é um mérito que lhe deve ser creditado, ainda que como sempre o primeiro instinto será para criticar o facto de não ter marcado quando o podia ter feito. Um ponto potencialmente importante neste jogo, passava por utilizar Jackson como referência para a construção longa, onde o colombiano é bastante forte. O facto é que, apesar da luta que deu, Jackson também não conseguiu grande impacto a este nível, sendo igualmente verdade que a equipa não terá explorado da melhor maneira esse recurso, nomeadamente por não ter retirado a bola da zona de Matic.

Quaresma - Os primeiros minutos de jogo neste regresso mostram bem o que dele se pode e deve esperar. Ou seja, risco permanente e assumido a cada posse, o que na maioria dos casos resulta na perda da bola e descontinuidade da acção ofensiva, mas que poderá resultar também em algumas excepções de elevado potencial. Este é o perfil que Quaresma tem e certamente terá, restando saber quantas excepções conseguirá Quaresma extrair daquela que será a regra das suas intervenções.

Josué - Uma nota sobre a sua utilização, que não tem a ver com o seu rendimento no jogo. É que depois de ter sido utilizado durante meses como segundo-pivot ou ala, Josué aparece agora como primeira prioridade para função de médio-ofensivo, nas contas de Paulo Fonseca. Foi aí que jogou frente ao Atlético, tendo para isso recuado Lucho (que foi sempre primeira opção para médio-ofensivo até há pouco tempo), e foi aí que jogou também agora, tendo para isso recuado Carlos Eduardo. Paulo Fonseca continua a trocar as opções individuais no seu meio-campo e eu não sei exactamente quais as suas motivações, mas continuo a pensar que está, não só a escolher o foco errado, como a procurar a forma errada de resolver o problema que tem pela frente, ou seja, centrando-se em absoluto nas valências individuais em vez de desenvolver dinâmicas colectivas que, inevitavelmente, precisarão de mais estabilidade para ser optimizadas.

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13.1.14

Benfica - Porto (I): Aspectos tácticos (colectivos)

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Jogo tecnicamente pobre e desfecho justo
O ambiente e carga emocional envolvente garante o interesse do espectáculo, mas do ponto de vista estritamente técnico, este foi um mau jogo. O Benfica venceu com justiça, porque foi quem mais próximo do golo esteve e também quem retirou melhor partido da abordagem estratégica que trazia para a partida, mas não creio que o sucesso encarnado seja suficiente para que se veja grande brilhantismo na sua exibição. Foi, essencialmente, a melhor (ou, muito melhor) de duas exibições não muito conseguidas.

Porto: a responsabilidade de Paulo Fonseca
Já aqui tenho discordado várias vezes da ideia de que Paulo Fonseca é o principal responsável pelas dificuldades em que a equipa mergulhou na presente temporada. Em particular, discordo completamente da focalização das criticas nos aspectos fundamentais do seu modelo de jogo, nomeadamente no sistema. Há, no entanto, outros pontos onde o treinador atrai a minha crítica e, nesse sentido, este jogo será um dos capítulos mais flagrantes no ainda curto tempo que ainda leva como treinador azul-e-branco.
De facto, penso que Paulo Fonseca é o grande responsável pela forma como o Porto perdeu. Não que o Porto não pudesse ter perdido o jogo se tivesse jogado de outra maneira, mas porque a surpreendente previsibilidade da sua abordagem estratégica facilitou enormemente a tarefa do Benfica. E, para explicar este meu ponto de vista é fundamental olhar à leitura que fiz da recente visita portista a Alvalade. Nesse jogo, o Porto conseguiu até mais presença em posse, mas acabou por se ver refém da sua incapacidade para progredir com bola, não só chegando com muito pouca frequência ao derradeiro terço ofensivo, como expondo-se também ao enorme risco das perdas de bola que foi acumulando perante o pressing do Sporting. Ainda nessa partida, ficaram claras as dificuldades da equipa em encontrar linhas de passe que tivessem como destino as costas dos médios sportinguistas, aproveitando o adiantamento destes. Nomeadamente, sobressaiu de forma flagrante a incapacidade de unidades como Carlos Eduardo e Licá em se movimentarem no espaço entrelinhas.
Para o jogo da Luz, e após essa análise, tinha duas convicções: 1) O Porto dificilmente sobreviveria ao destino da derrota caso se se voltasse a expor da mesma maneira; 2) Paulo Fonseca dificilmente repetiria a mesma abordagem, com os mesmos protagonistas. Acertei na primeira, errei na segunda. Paulo Fonseca introduziu Lucho e Jackson, que é certo fazem bastante diferença, mas no essencial repetiu a mesma abordagem, nomeadamente apostando nos mesmos protagonistas para procurar linhas de passe dentro do bloco adversário: Varela, Carlos Eduardo e Licá.
Como Jesus também viu esse jogo da Taça da Liga, imagino que terá tido a primeira sensação de vitória bem antes do primeiro golo de Rodrigo...

(Há outros pontos a criticar na abordagem de Paulo Fonseca sobre os quais não me vou alongar aqui, como a não-preocupação de retirar as reposições longas da zona de Matic, ou a volatilidade com que vem gerindo o papel dos diversos protagonistas do seu meio-campo)

Benfica: estratégia bem sucedida e liderança após tantas críticas
Jesus preparou-se estrategicamente para o adversário, com um pressing muito agressivo sobre a fase de construção portista, que exigia, não só duas unidades na primeira linha de pressão (Lima e Rodrigo), como o adiantamento constante de um outro elemento no corredor central (Enzo) para garantir presença pressionante numa zona onde, para além dos centrais, o Porto fazia baixar o seu duplo-pivot (Fernando e Lucho). Para isto, parece-me, houve uma preocupação especial em Matic para guardar posição e nos alas (Markovic e Gaitan) em aproximar-se do corredor central perante o adiantamento de Enzo. Uma abordagem estratégica que poderei ilustrar com mais detalhe quando trouxer algumas jogadas do jogo, mas que claramente conseguiu grande propósito na sua aplicação prática, acabando por ser o grande alicerce do sucesso da equipa. Aliás, à margem desta 'nuance' táctica decisiva, o Benfica fez até uma exibição relativamente medíocre, não conseguindo grande eficácia nas suas iniciativas em ataque-posicional (também com alguns erros em posse) e perdendo até várias das oportunidades que se lhe abriram em situações de contra-ataque.

Se tenho discordado de algumas críticas feitas a Paulo Fonseca, o mesmo posso dizer da crucificação que vendo sendo feita às opções de Jorge Jesus, praticamente desde a pré-temporada. Aliás, parece-me que os efeitos do desgaste mediático do treinador são tais, que a certo ponto tudo o que o treinador fazia, fosse num sentido ou noutro, era motivo para as mais contundentes críticas. É natural, portanto, que a liderança do Benfica seja agora encarada com alguma surpresa, mas isso terá sobretudo a ver com a perspectiva excessivamente pessimista com que a equipa vem sendo olhada há muito tempo a esta parte. Não vou dizer que o Benfica seja, claramente, a melhor equipa de uma prova que tem sido pautada por muito equilíbrio na performance dos seus principais competidores, mas parece-me clara essa subvalorização da equipa do Benfica. Talvez agora passe a haver maior razoabilidade na apreciação nas análises ao seu desempenho e, já agora, também uma perspectiva menos dogmática e maniqueista em torno das opções do seu treinador (nomeadamente na célebre questão do 4-4-2 vs 4-3-3, a meu ver muito mal tratada).



Nos próximos 2 dias darei seguimento à análise deste jogo, primeiro com a opinão (e dados estatísticos) às exibições individuais e, depois, com a análise táctica de algumas jogadas relevantes do jogo (vídeo).

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10.1.14

Sporting: Análise principais jogos

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Para concluir este ciclo de análises, deixo os dados relativamente aos jogos do Sporting que analisei mais detalhadamente. A primeira ressalva tem a ver com a diferença em relação ao que sucede com Benfica e Porto, já que no caso do Sporting não houve neste ano presença europeia, havendo por isso uma centralização total nas competições internas. Este facto torna mais difícil a comparação com os rivais, já que o grau de dificuldade não é tão elevado. Ainda assim, assinale-se, foi o Sporting quem teve até agora mais confrontos directos com os outros "grandes". Aqui ficam algumas notas de opinião pessoal, primeiro sobre dados colectivos e depois relativamente a alguns casos individuais:

Segurança e objectividade - No final da pré-época deixei uma análise semelhante a esta e se recordarmos os pontos levantados nessa altura, facilmente constatamos que grande parte da imagem do Sporting pré-competição se confirmou nesta primeira metade da temporada. Em particular, o pouco risco assumido com bola, preferindo a progressão pelos corredores laterais e expondo-se pouco a perdas de risco que pudessem dificultar o controlo sobre o momento de transição ataque-defesa. Para além disso, o Sporting denota um aproveitamento muito bom das ocasiões criadas, uma constatação que se repete na análise que deixei sobre os primeiros 14 jogos do campeonato. Como ponto menos positivo fica a prestação frente aos mais directos rivais, não se podendo dizer que tenha existido uma grande diferença entre as equipas, mas constatando-se também que, em 4 jogos, apenas por uma vez o Sporting se superiorizou na capacidade de criar ocasiões claras de golo (mais precisamente, no recente embate com o Porto, para a Taça da Liga).

Cedric - Terá sido, sem grandes dúvidas, um dos jogadores de maior rendimento neste conjunto de jogos de maior grande de dificuldade (segundo o ranking estatístico apresentado, foi mesmo aquele que teve melhor produção). A sua evolução tem sido, de facto, muito boa, estando a meu ver a realizar uma época em crescendo. Tem uma capacidade de definição muito boa no último terço e uma capacidade intervenção defensiva igualmente capaz, sendo estes os dois aspectos que mais têm valorizado as suas exibições. Há outros pontos onde já mostrou debilidades - nomeadamente no posicionamento defensivo - mas com um melhor enquadramento colectivo tem tido um grau de exposição muito inferior a esse tipo de situações. Um caso que serve também de exemplo sobre a importância decisiva do enquadramento colectivo para potenciar as qualidades individuais, especialmente em jogadores de funções mais defensivas.

William - A grande revelação da equipa confirma nesta análise a boa prestação, surgindo como um dos principais destaques individuais. Em particular, e também sem surpresa, é de sublinhar a utilidade da sua presença em posse.

Zona criativa - Constatar que os laterais, Cedric e Jefferson, foram os jogadores que mais ocasiões de golo criaram neste conjunto de jogos oferece-nos duas perspectivas de análise. A primeira, claro, tem a ver com o mérito dos laterais e com a sua importância na dinâmica ofensiva da equipa. A segunda, por outro lado, tem a ver com a baixa capacidade criativa de extremos e médio-ofensivos da equipa. Um ponto que também já havia destacado na análise aos jogos do campeonato e que se parece acentuar quando o grau de dificuldade aumenta.

Linha defensiva - Uma nota positiva para a regularidade dos elementos utilizados na linha defensiva (com excepção de Dier), todos eles com uma presença bastante segura até agora. Este destaque justifica-se sobretudo pela menor reputação de praticamente todos estes jogadores, que no inicio foi a base de um cepticismo quase generalizado em torno das suas capacidades, uma ideia entretanto invertida pela resposta dada dentro de campo. Aqui, e recuperando a ideia que deixei acima para o caso específico de Cedric, há que realçar a importância do contexto colectivo para que o rendimento individual fosse potenciado.

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9.1.14

Porto: Análise principais jogos

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Depois do Benfica, o Porto, sendo que no caso dos portistas analisei detalhadamente menos 2 jogos, num total de 9. Como notas, vou deixar primeiro uma comparação com os dados do Benfica - comparação que, alerto, não serve para tirar conclusões lineares - e depois algumas notas sobre casos individuais.

Porto vs Benfica
- Porto com maior volume de posse de bola, mas com um número de perdas de risco muito superior e com menos ocasiões de golo criadas. Dados que sugerem menor objectividade e, sobretudo, reforçam a ideia de que a equipa foi bastante penalizada em termos de erros evitáveis.
- Porto com bastante mais intervenções defensivas, o que mais uma vez sugere que a quantidade de posse de bola não reflecte qualidade. Tendo maior volume de posse de bola, seria de esperar que a equipa fosse sujeita a menos trabalho defensivo, o que não acontece.
- Porto com mais finalizações, mas menos objectividade, tanto em termos de enquadramento com a baliza como em termos de ocasiões criadas.
- Porto com menos ocasiões criadas e mais ocasiões consentidas, o que se reflecte num saldo de golos negativo nos jogos analisados. A explicação deverá passar, pelo menos em parte, pelos indícios deixados nos pontos anteriores.
- É interessante constatar que nos jogos do campeonato o Porto consegue, de uma forma geral, melhores indicadores do que o Benfica, invertendo-se claramente essa tendência nos jogos de maior grau de dificuldade. Uma comparação curiosa e interessante, em vésperas de um Benfica-Porto.

Lucho - Já tenho escrito bastante sobre ele, em particular da forma como, na apreciação mediática, o B.I. se consegue sobrepor a tudo o que faz no terreno de jogo. De facto, neste conjunto de jogos de maior grau de dificuldade, Lucho foi com alguma distância o jogador de melhor rendimento da equipa azul-e-branca, retirando sobretudo partido da sua notável leitura do jogo e dos espaços. Para mais, e não sendo esta uma estatística que valorize particularmente, foi o jogador da equipa que mais quilómetros correu na Champions, segundo os dados da Uefa (mesmo não fazendo todos os minutos). Face a tudo isto, e repito a ideia, quando se invoca os quase 33 anos que leva completados como um facto limitativo, está-se sobretudo a mostrar como o B.I. é um forte preconceito na nossa cultura futebolística. O que não é novidade, diga-se...

Varela e Licá - A perda de qualidade nos extremos é um tema que já venho comentando desde a pré-época, sendo nesta altura praticamente consensual que reside aí um dos principais problemas da equipa. Ainda assim, convém fazer uma distinção entre Varela e Licá, porque se no caso do primeiro podemos falar de inconsistência, nomeadamente na capacidade de aproximar a equipa do golo, no caso de Licá os problemas são bem maiores, sendo provavelmente a unidade de menor rendimento neste conjunto de jogos, considerando apenas os jogadores mais utilizados.

Otamendi e Mangala - São dois centrais de grande projecção internacional, podendo até dar-se o caso de estarem os dois no próximo Mundial, e em duas das principais equipas da competição. A pergunta, porém, é de que serve todo este mediatismo, ou mesmo o potencial que se lhes reconhece, se no terreno de jogo erram com tanta frequência? A resposta é, naturalmente, que serve para mesmo muito pouco, e esta época tem sido, nesse aspecto, um exemplo. Ainda assim, a meu ver são dois casos diferentes. Otamendi tem uma capacidade de participação no jogo tremenda, tanto em termos defensivos como ofensivos. É dominador na sua zona de acção e com bola assume com grande facilidade a iniciativa do jogo. O problema é que acumulou um número inaceitável de erros comprometedores, com destaque para as perdas de risco, em posse. Mangala é um caso diferente, sendo muito mais imponente fisicamente, mas não tendo a mesma capacidade de intervenção defensiva que Otamendi fruto, parece-me, de uma capacidade de leitura do jogo bastante limitada. O problema dos erros individuais, onde também se devem incluir Danilo e Alex Sandro, tem sido um problema importante da equipa, e dentro do campo não há reputação, valorização de mercado ou estatuto mediático que possa valer.

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8.1.14

Benfica: Análise principais jogos

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Concluindo o ciclo de balanço que tenho estado a fazer nos últimos dias, apresento os dados dos jogos que fui analisando com mais detalhe, começando com o Benfica e seguindo depois com Porto e Sporting, nos próximos 2 dias. O critério para selecção de jogos a analisar tem a ver com o grau de dificuldade esperado (à priori) para cada desafio. No caso do Benfica, analisei até ao momento 11 jogos. Nota para referir que só são apresentados os dados de jogadores com uma utilização superior a 200 minutos. Aqui ficam algumas notas, relativamente aos jogadores.

Gaitan - Será provavelmente o jogador a justificar maior destaque positivo nesta análise, tendo em conta o rendimento e o tempo de utilização. A característica que mais sobressai é, claro, a capacidade criativa, com um volume de ocasiões criadas muito superior à de qualquer outro jogador. Mas Gaitan consegue também uma abrangência por outros capítulos de acção, com destaque para a sua capacidade de intervenção defensiva, um capítulo onde o seu contributo é extremamente subestimado em termos mediáticos, mas onde continua a revelar (e a constatação vem de outras épocas) um contributo muito positivo e acima da média para um jogador da sua posição.

Matic - Fui escrevendo que o seu rendimento objectivo tem estado regularmente aquém do potencial que tem e estes dado ajudam a explicar o problema. Não tem a ver com a capacidade de trabalho, nem com o potencial técnico, que são extraordinários para um jogador da sua posição, como aliás facilmente se reconhece. Tem, isso sim, a ver com o número de erros que vem acumulando em posse, sendo que a zona onde actua determina que cada passe perdido representa um risco importante para a reacção defensiva da equipa. Matic é o jogador com maior número de perdas de risco da equipa, e é bom salientar a importância de algumas dessas jogadas para as aspirações da equipa, como foram os casos dos jogos com o Marítimo e Olympiakos (casa). Na minha leitura, é um problema que tem muito que ver com o critério e com o assumir de um risco pouco aconselhável para a fase de jogo onde actua. Portanto, algo que pode ser facilmente corrigível.

Fejsa e Rodrigo - Surgem como dois dos nomes mais destacados nesta análise, mas é bom ter em conta o tempo de jogo, que não é muito e por isso torna menos conclusiva a análise. Ainda assim, são dois casos que deixaram boas indicações em jogos de maior grau de dificuldade. No caso de Fejsa, a sua capacidade de trabalho é o grande motivo de destaque, sendo que não tem mantido sempre a mesma sobriedade com bola noutras aparições que entretanto teve. Já Rodrigo tem mantido a mesma capacidade de desequilíbrio nos jogos recentes, sendo protagonista recorrente nas principais jogadas ofensivas da equipa. Algo que também já aqui abordei.

Markovic - Não é difícil perceber o seu potencial, tendo começado por deixar água na boca dos adeptos no começo da temporada, com algumas jogadas muito vistosas. A verdade é que o sérvio não foi capaz de dar sequência a esses sinais positivos, e apesar do elevado tempo de utilização, o facto é que raramente conseguiu ser uma figura verdadeiramente determinante, revelando por um lado, dificuldade em integrar os seus movimentos na dinâmica colectiva e, por outro, mostrando-se anormalmente ansioso em desequilibrar sempre que a bola lhe passa pelos pés, o que retirou propósito e eficácia às suas acções.


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7.1.14

Os mais desequilibradores da liga, análise (Jorn. 14)

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Actualizo a análise individual, centrada nas ocasiões de golo na Liga 13/14 até à 14ªjornada. Aqui ficam as minhas notas:

Porto, Jackson avassalador
Não é a primeira vez que o destaco e a verdade é que a sua influência continua a ser tremenda e sem paralelo em qualquer outro jogador. A boa campanha de Montero vem-lhe fazer alguma sombra em termos mediáticos, mas se olharmos os números com um pouco mais de detalhe, rapidamente constatamos as diferenças entre Jackson e qualquer outro jogador. Nomeadamente, ao nível de ocasiões de golo em que é interveniente, seja em termos de criação ou finalização, os números de Jackson são avassaladores, tendo participado em 44 jogadas de grande probabilidade de golo, mais 17 do que Montero, o segundo nesta lista. De facto, se o Porto é a equipa que mais ocasiões de golo construiu até agora, fica a ideia de que muito desse feito se deve ao seu ponta-de-lança, já que para além do volume, Jackson é também - e com muita distância - o jogador que consegue maior percentagem de participação nas ocasiões da sua equipa. Já agora, os segundos jogadores mais influentes nas ocasiões das respectivas equipas, são Dionisi (Olhanense) e Derley (Marítimo), ambos com 45% de influência e muito longe dos 58% que Jackson consegue na equipa portista. Num outro plano, nota para a influência recente de Carlos Eduardo, num caso algo parecido com o de Quintero no inicio da prova, ou seja conseguindo uma enorme influência criativa num curto espaço de tempo (e com forte influência das bolas paradas). Como comprova o exemplo de Quintero, não é lógico esperar-se que esse rendimento se mantenha com o mesmo ritmo ao longo do tempo, sendo que no caso do colombiano o entusiasmo inicial contrasta com a eclipse recente do jogador.

Benfica com protagonismo dividido
Lima é o mais influente na participação directa, quer em ocasiões quer nos golos marcados pela equipa. A outro nível, Gaitan destaca-se como o jogador com mais ocasiões criadas em toda a prova, sendo também o jogador com mais assistências do clube. Os outros dois nomes em destaque são Rodrigo e Cardozo, ambos com um volume de utilização muito inferior a Lima e Gaitan, mas em qualquer dos casos com uma influência assinalável, sendo que no caso de Cardozo se destaca mais o bom período de acerto em termos de concretização, enquanto que Rodrigo justifica destaque sobretudo pelo número de ocasiões em que conseguiu ser interveniente.

Sporting, Montero e os laterais
Montero é, de longe, o jogador mais determinante na equipa e um dos destaques da prova. Como aqui escrevi, a sua eficiência nas primeiras jornadas foi extraordinária e seria muito improvável que se mantivesse com o tempo, sendo que nesta altura os seus níveis de aproveitamento golo/ocasião já estão num patamar mais normal. Num outro plano, nota para o papel dos laterais, sobretudo por comparação com extremos e médios. Jefferson e Cedric têm sido presença constante nas jogadas de maior potencial da equipa, e se Jefferson é quem tem mais ocasiões criadas, é justo destacar Cedric porque o lateral-direito é, em bola corrida, o 2º jogador que mais ocasiões claras de golo criou, apenas sendo superado por Gaitan. Em perda parece estar o contributo do extremos do Sporting, sendo que a influência criativa dos médios também continua em níveis relativamente modestos.

Outros casos
Nota para Alan, no Braga, que continua a ser um dos jogadores mais determinantes do campeonato. Ainda no Braga, Rafa é o nome do momento, pela juventude e pela facilidade com que tem chamado a si ocasiões de golo. No Estoril, Evandro é um nome já destacado, ainda que o médio criativo conte com o facto de ser também o protagonista das bolas paradas da equipa. Num outro plano, surge Seba, um jogador jovem e que tem dado um contributo bastante importante para a assinalável capacidade desequilibradora do Estoril. O Marítimo é outra equipa onde se justifica destacar duas individualidades pela sua influência criativa: Heldon e Derley, dois dos destaques deste campeonato. No Rio Ave, Ukra tem também um peso criativo assinalável, sendo sem surpresa um destaque a este nível. Em Setúbal, fala-se da saída de Cardozo, o que se adivinha como uma perda relevante se tivermos em conta a influência que o paraguaio teve nesta primeira metade da época. Nota final nestes destaques para o Olhanense, que apesar da modéstia na performance colectiva tem tido em Dionisi um elemento de elevada produção ofensiva.

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6.1.14

Eusébio

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Não me quero alongar muito, porque a meu ver o mais relevante a respeitar neste momento é o sentimento de perda daqueles que eram próximos do Eusébio, enquanto Homem e para além do que foi como jogador. Família e amigos mais próximos. Para os outros que, como eu, apenas conheciam Eusébio enquanto jogador, este momento serve sobretudo para voltar a contemplar o carácter excepcional dos seus feitos, há muito imortalizados. Nesse sentido, deixo um vídeo que fiz há alguns anos sobre a sua exibição frente ao Brasil em 1966, na minha opinião a melhor ao serviço da Selecção Nacional.


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3.1.14

Análise - dados colectivos defensivos (Jornada 14)

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Na sequência do previsto, e depois de ter feito o mesmo para os dados ofensivos, deixo a revisão dos indicadores colectivos defensivos das equipas da Liga até ao momento. Aqui ficam os meus comentários...

Porto
Tal como já se percebera pelos dados ofensivos, o Porto foi a equipa mais dominadora da Liga até ao momento, o que poderia sugerir que fosse também a equipa com melhor controlo defensivo. Isso é verdade para o número de finalizações e ataque consentidos, mas não para o número de ocasiões, onde a equipa de Paulo Fonseca é superada pelo Benfica, embora os valores sejam praticamente idênticos.

Sporting
O Sporting permanece como uma das melhores defesas do campeonato, se nos reportarmos aos golos sofridos mas, e tal como para os dados ofensivos, a equipa de Leonardo Jardim tem na eficiência golos/ocasião a principal explicação para esse feito. Aliás, se para os dados ofensivos o Sporting se consegue "colar" aos mais directos rivais na generalidade dos indicadores, na vertente defensiva verifica-se uma diferença significativa tanto ao nível de ocasiões, como de remates ou ataques consentidos. Uma discrepância que não deixa de ser surpreendente e que levanta a curiosidade para ver até que ponto estes dados poderão indicar alguma coisa sobre o que se passará na segunda volta...

Benfica
Se ontem comentava aqui que os dados do Benfica não confirmavam a ideia de uma equipa de grande vocação ofensiva, hoje com os dados defensivos podemos perceber que, de facto, o controlo defensivo parece ser talvez o maior foco da equipa. Isso percebe-se na forma como a equipa reage às situações de vantagem no marcador, procurando de imediato "fechar" o jogo, e acaba por ter reflexo também nos índices de controlo defensivo. De facto, e em sentido completamente inverso ao do Sporting, o Benfica tem sido especialmente penalizado pelo aproveitamento dos adversários, com destaque para os lances de bola parada onde todas as ocasiões resultaram em golo, o que ajuda a explicar o elevado aproveitamento dos adversários. Mais uma vez, e depois de ontem ter escrito que o Benfica marcou, respectivamente, menos 4 e 5 golos do que Porto e Sporting por esta via, temos as bolas paradas a surgirem no centro dos problemas do Benfica. Isto, mesmo sendo a equipa que menos ocasiões de golo consentiu por esta via.

Guimarães
O bom registo defensivo do Vitória é a base da sua boa classificação e, de facto, a equipa de Rui Vitória tem conseguido um controlo muito bom sobre as ofensivas adversárias. Aliás, se nos reportarmos apenas às ocasiões criadas em bola corrida, o Vitória é mesmo a terceira potência defensiva da prova, consentindo menos 4 ocasiões de golo do que o Sporting. Um dado que evidencia também o capítulo onde esta equipa tem sido mais permissiva, as bolas paradas.

Outras equipas
Várias equipas a justificar destaque. Começando pelo Estoril, que também no capítulo defensivo se revela uma das melhores equipas desta prova, alicerçando o seu controlo sobretudo na boa presença em posse que consegue. Em sentido inverso, o Braga, com um registo defensivo muito modesto e distante dos patamares a que a equipa se propôs. As equipas da Madeira também têm um registo curioso, com o Nacional a conseguir um bom controlo defensivo apesar de não evitar um elevado número de ataques e remates dos adversários, e o Marítimo a confirmar a volatilidade dos seus jogos, sendo paralelamente uma das melhores equipas ofensivas e defensivas. Nota também para Belenenses e Académica, duas equipas significativamente mais favorecidas pelo desempenho defensivo do que ofensivo.

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2.1.14

Análise - dados colectivos ofensivos (Jornada 14)

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Aproveito a paragem na Liga para actualizar os quadros estatísticos comparativos de todas as equipas. Começo com os dados colectivos ofensivos e seguirei com outros dados, amanhã e durante a próxima semana. De notar que, apesar da última actualização destes dados ter sido feita apenas à 7ªjornada, poucas mudanças significativas são notadas, em especial no topo da tabela.

Porto 
Apesar de todas as criticas, a verdade é que ofensivamente o Porto continua a ser a equipa que domina a generalidade dos indicadores, sendo que o menor número de golos relativamente ao Sporting se explica sobretudo por uma questão de aproveitamento das ocasiões criadas.

Sporting
É o melhor ataque da competição, e se é verdade que esse feito se explica sobretudo pela eficiência do seu ataque, também é um facto que, em praticamente todos os indicadores, esta tem sido uma performance bem acima das expectativas iniciais. Ainda dentro da questão do bom aproveitamento da equipa em termos de golos/ocasião, realce para as situações de bola parada, situação a partir da qual o Sporting é a equipa que mais golos conseguiu criar (10).

Benfica
Depois de um inicio de época em que apresentou um baixo aproveitamento das ocasiões criadas, o Benfica termina a primeira volta com uma eficiência ofensiva considerada normal. Ou seja, se o Benfica não tem mais golos marcados, deve queixar-se sobretudo de não os ter criado, sendo que a esse nível se esperaria que a equipa pudesse estar mais próxima dos valores conseguidos pelo Porto. De resto, e ainda em relação ao Benfica, nota para duas situações... A primeira tem a ver com a baixa presença no último terço, reflectida em números modestos de finalizações, ataques e posse de bola no último terço (indicadores ainda assim menos relevantes quando comparados com as ocasiões de golo). Ou seja, ao contrário da ideia que é passada sobre a equipa, o Benfica não é hoje uma equipa especialmente dominadora em termos ofensivos, sendo que todos os dados sugerem uma conclusão inversa quando os comparamos com os rivais, sendo interessante completar esta análise com os indicadores defensivos. A segunda nota tem a ver com o aproveitamento dos lances de bola parada, onde o Benfica tem um registo muito modesto e que explica boa parte da diferença de golos marcados relativamente aos rivais. Em particular, o Benfica marcou apenas 5 golos construídos através de lances de bola parada, rivalizando com 10 do Sporting e 9 do Porto.

Estoril
O estatuto de quarta equipa do campeonato é, pelo menos no que respeita aos dados ofensivos, completamente justificado. Consegue superar o Braga em número de ocasiões de golo e volume de posse de bola, sendo também verdade que beneficiou sobretudo de um aproveitamento muito melhor do que os bracarenses, e que esse é o dado que explica a diferença entre o número de golos marcados pelas duas equipas. Poderemos ter uma luta interessante pelo 4 lugar...

Outras equipas
Nota para algumas equipas, cujos dados podem ser algo surpreendentes. Desde logo, o Guimarães que regista grande modéstia em termos de indicadores ofensivos e que aparentemente não combina com a classificação da equipa. A resposta será dada pelos indicadores defensivos, onde o Vitória é a quarta potência da prova. Em sentido inverso vem o Marítimo, com grande fulgor ofensivo mas também com grande permissividade defensiva, como veremos pelos indicadores defensivos, explicando-se assim o campeonato abaixo das expectativas. Outro caso interessante é o do Nacional, que tem um bom número de golos e ocasiões, mas que tem também um volume de finalizações, posse de bola e ataques muito modesto. Aparentemente, uma equipa muito objectiva nas suas iniciativas ofensivas, sendo interessante perceber até que ponto é que será capaz de manter um bom registo ofensivo com tão pouco volume de jogo. Finalmente e no fundo da tabela, o Olhanense que rapidamente confirmou os indícios que deixara na análise da 7ªjornada.

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