30.7.10

Reforços 10/11: Walter

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Foi uma novela que durou algum tempo e que, a acreditar nas palavras do presidente do Internacional, terá envolvido algumas peripécias pelo meio, mas, finalmente, Walter, é mesmo reforço portista. A primeira vez que vi o jogador foi no 'Sudamericano' sub 20, em Janeiro de 2009 e de lá para cá tenho acompanhado com algum rigor a carreira do jogador. É um caso especialmente interessante de seguir...


Pontos fortes: remate
Para ser muito concreto, Walter é o jogador mais forte que conheço na sua idade em capacidade de remate. Tenta-o frequentemente e com os 2 pés, embora seja o direito aquele que justifica tanta tinta sobre o “bigorna”. Walter é tecnicamente dotado, que sabe movimentar-se na frente e jogar como apoio à criação, mas não é um jogador especialmente forte em termos de explosão ou velocidade, nem mesmo um temível jogador de área. Pelo menos para já. A sua virtude, e que o poderá catapultar para altos voos, é mesmo o remate. Assim que se vira para a baliza, e mesmo fora da área, é um perigo.


Pontos fracos: Intensidade
É típico nos jogadores brasileiros. A intensidade nem sempre é a mais adequada ao patamar do futebol europeu. No Porto, Walter vai ter de aprender a jogar no resto do tempo, em que a bola não está nos seus pés. As movimentações colectivas e a intensidade no pressing serão requisitos para triunfar no Dragão. Walter é jovem e se quiser aprender, seguramente que não lhe faltarão oportunidades para evoluir.

Antevisão: 8 ou 80
Não há 2 oportunidades para um primeira impressão. Diz-se e é verdade. Muitos jogadores, especialmente aqueles que precisam de evoluir, dependem muito da forma como são recebidos e da tolerância que lhes é transmitida no seu processo de afirmação. No caso de Walter, creio, será especialmente importante essa primeira impressão. Porque tem potencial, mas precisa de evoluir em vários capítulos, mas também porque Walter pode também cair na situação comum de ser mal visto pelos adeptos, muito devido à sua fisionomia “arredondada”, o que leva sempre ao aparecimento de preconceitos. Lembro-me de um caso diferente, de Pena. Marcou 2 golos na estreia e esse momento foi tão importante que o catapultou para uma época bem acima das suas modestas potencialidades. Com Walter, se o primeiro “míssil” sair bem, terá tudo para poder evoluir, caso contrário a pressão do Dragão poderá ser um obstáculo.

Por fim, convém dizer que Walter é um dos mais promissores avançados da sua geração e que provavelmente só não saiu mais cedo do Brasil porque uma lesão o afastou do último mundial sub20. Se a sua evolução for positiva e se souber moldar o seu jogo às exigências que se lhe deparam, Walter pode bem sair a curto prazo e pela porta grande do Dragão, porque, como já disse, tem alguns recursos raríssimos. O caminho é ainda longo, porém.



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29.7.10

O calor do futebol

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Diz a definição que Calor é a energia transferida entre 2 sistemas. Não sei exactamente o que se passa quando estas transferências se dão em pleno relvado, mas há indícios claros de que a temperatura mexe, e bem, com o calor do jogo. Pelo menos, deve ser por isso que os nórdicos jogam aquele futebol frenético e os sul americanos se parecem arrastar nos “gramados”. Mas não é só no ritmo que o calor influi. Porquê isto agora? O Celtic, primeiro, e, mais tarde (bem mais tarde!), a final da Copa do Brasil.

Não me entendam mal, o Celtic não é nenhuma potência, mas espera-se sempre dos escoceses outra intensidade num jogo de futebol. Lembro-me sempre daquele mundial de clubes no Brasil: e se os pusessem a jogar num clima tórrido, será que mantinham a atitude? Pois parece que não. Parece que as transferências de energia não são mais as mesmas. Dá que pensar.

Noutro país, outras transferências de energia, que é como quem diz: outro calor! A final da Copa do Brasil. Na apertada Vila Belmiro, casa do Santos, jogou-se a primeira mão e o Vitória teve o pesadelo de tentar sobreviver ao “caldeirão” do adversário (não sei porquê, é sempre um pesadelo para quem joga fora). É um mistério para mim, como o futebol pode ser tão diferente na América do Sul em relação à Europa. Deste lado do Atlântico, a pressão torna os embates decisivos numa espécie de “jogo do sério”, em que quem ri, perde. Grande concentração, poucos erros e poucas oportunidades. Do lado de lá, é o contrário. Explosões emocionais, capazes de extrair o melhor e o pior dos protagonistas, e uma chuva de desequilíbrios tácticos. Já aqui falei várias vezes das lacunas tácticas do futebol sul americano, mas a verdade é que isso não explica tudo. Aliás, explica mesmo muito pouco.

Não sei bem o que concluir sobre esta coisa do “calor do futebol”, mas uma coisa tenho como certa. Do ponto de vista do entretenimento e da emoção, não há futebol como o brasileiro.

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27.7.10

Reforços 10/11: James Rodriguez

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Não é propriamente uma novidade, tal o tempo que já lá vai desde o seu anuncio como reforço portista. Numa sequência que estranho e lamento, porém, ainda poucos puderam ver este “puto” de dragão ao peito. James Rodriguez já fora aqui referenciado, quer na sequência da revisão que fiz do campeonato argentino, quer no destaque feito ao Banfield. O destaque colectivo da sua equipa, aliás, tornou impossível que não se olhasse para ele. Dizer que James era o melhor do Banfield é no mínimo discutível, mas era, seguramente, o único jovem a brilhar naquela equipa que dominou o futebol argentino na última metade de 2009. Aqui ficam algumas notas sobre o jogador.

Pontos fortes: pé esquerdo e capacidade de trabalho
Se procurarem por James Rodriguez no youtube seguramente que vão encontrar a essência do seu ponto forte. O pé esquerdo. James é um jogador ainda em fase de crescimento e se foi projectado como um prodígio, muito se deve a alguns momentos que o seu pé esquerdo proporcionou. Em particular, a sua finalização é notável, quer dentro, quer fora da área, e isso faz dele um provável marcador de golos, mesmo não sendo dos mais jogava perto do golo.

Outro atributo do jovem é a sua capacidade de trabalho. Normalmente espera-se de um jovem talentoso, que seja também algo displicente na forma como encara o resto do jogo. Ou seja, o tempo em que não tem a bola. No Banfield, porém, James jogava como ala esquerda num 4-4-2 clássico e muito trabalho lhe era exigido no seu flanco. Não tem uma capacidade fisíca que lhe permita ganhar muitos duelos, mas tem uma atitude perante o jogo muito positiva para a sua idade.

Pontos fracos: Craque? Ainda não...
James pode ter um perfil promissor e até ter boas condições para vir, de facto, a ser um nome forte do futebol mundial, mas, para já, ainda está longe de o ser. Para além do capítulo decisional – normal na sua idade – James não é também um jogador invulgarmente criativo. O tempo e a sua evolução ditarão o patamar que poderá atingir, mas, para já, James é apenas um miúdo que o Banfield revelou como parte de uma equipa. Um jogador capaz de momentos de inspiração que valem jogos, mas sem verdadeiro o peso de um grande craque.

Antevisão: É importante saber esperar
O risco de James está na forma como foi contratado. Investimento elevado, equipa principal e grandes expectativas. James, no entanto, dificilmente conseguirá ganhar o lugar numa equipa que tem Hulk, Rodriguez, Varela, Mariano ou mesmo Ukra. Não é isso que se lhe deve pedir, e se for isso que dele se espera, então o mais provável é que acabe mal a sua experiência no Dragão.

James tem de ter um plano de evolução, uma estratégia para o fazer compreender melhor as alterações tácticas que irá experimentar e, ao mesmo tempo, evoluir nos outros capítulos do jogo. Para isso o melhor era jogar. Ou, pelo menos, também jogar. Mas não é liquido que aconteça.

Enfim, quando olho para o perfil de James, não é difícil classifica-lo como “interessante”. O que o torna invulgar, porém, é o bilhete de identidade: apenas 19 anos! E o melhor mesmo é que não se confundam as coisas...



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26.7.10

Sporting: A "Alemanha" de Paulo Sérgio

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Terminada a pré época do Sporting, trago aqui algumas notas do balanço, num exercício que repetirei para Benfica e Porto nos próximos dias. No caso do Sporting, apenas considerei os jogos da ‘tour’ americana, até porque foram os únicos que tive a oportunidade de observar. Feitas as contas,o balanço é relativamente positivo. “Positivo”, porque se perspectiva uma época mais sólida do que a anterior – o que não era difícil – havendo uma ideia de jogo a implementar, e com algumas boas novidades em termos individuais. “Relativamente”, porque há particularidades do modelo que deverão dificultar muito a vida a Paulo Sérgio, na obtenção de um modelo realmente forte em todos os pontos.

Colectivo: o modelo e o que de bom se viu
A ideia de Paulo Sérgio – embora acredite que venha a apresentar outros figurinos – é apresentar um 4-2-3-1, alicerçado na consistência do duplo-pivot, na boa circulação de bola, numa equipa alta. Uma equipa que gosta de ter a bola, portanto. Em traços gerais, é um modelo que não foge muito àquilo que o Braga de Domingos, por exemplo, tentava fazer. Ou – e se calhar há aqui influências – num caso mais recente e mediático, recupera muito do que a Alemanha fez no Mundial, com a diferença de apresentar um pressing e linhas defensivas mais altos.

A boa notícia é a circulação em construção. Contra o Man City, por exemplo, o Sporting conseguiu um registo anormalmente elevado de passes (quase 600!). Aliás, em todo o torneio a % de passe superou os 80%, com uma enorme certeza, quer nos centrais, laterais e – especialmente estes – duplo pivot do meio campo. Aqui, há uma boa movimentação da dupla de meio campo que consegue criar muitas soluções à construção e fazer a bola circular à largura do campo. A ideia é precisamente essa, manter a bola e fazê-la viajar rapidamente à procura do espaço de penetração. Quanto a este ponto – a primeira fase de construção – Paulo Sérgio tem grandes motivos para sorrir.


Colectivo: o pressing, a linha defensiva e o espaço entre linhas
Já havia falado aqui da importância de 2 aspectos na eficácia do modelo. O pressing e a linha defensiva. No primeiro caso, do pressing, o jogo com o Tottenham revelou grandes melhorias. É praticamente impossível uma equipa pensar em ganhar de forma consistente se não tiver uma recuperação alta que funcione e lhe permita explorar os momentos de desorganização adversário. Neste particular, o Sporting não esteve bem nos 2 primeiros jogos, mas frente aos Spurs, conseguiu boa parte dos seus desequilíbrios ofensivos a partir daquilo que o pressing produziu. Aqui, claro, não é coincidência a presença de Liedson.

Se o último jogo evidenciou o melhor do pressing, também expôs em grande escala as dificuldades da linha defensiva. Algo que para que já havia alertado frente ao Celtic, porque, embora não tivesse grandes problemas com esse plano, houve indicadores que claramente já denunciavam a carência. Aqui, trata-se sobretudo de um trabalho colectivo, que passa por uma grande coordenação e concentração dos 4 de trás, mas também de uma ligação com o que o meio campo faz. E aqui abro outro ponto.

Ora, entre o pressing e a linha defensiva – os dois “alicerces” que não estão devidamente limados – está o meio campo e a opção pelo duplo pivot. A escolha de Paulo Sérgio não o impede de ter um modelo “óptimo”, mas seguramente torna a coisa mais difícil. O comportamento defensivo do Sporting é bastante semelhante a um 4-4-2 clássico, com uma grande exposição espacial da dupla de meio campo. Os espaços entre linhas ficam mais difíceis de controlar e, quer os médios têm dificuldade em juntar-se aos da frente para pressionar, quer, depois, têm dificuldade em estar próximo do portador da bola, na hora do passe para as costas da defesa. Ou seja, o papel dos médios e o controlo que têm do corredor central é decisivo, também, quer para o pressing, quer para o conforto dos defesas em jogar alto.

Individual: à procura de um elo de ligação
Em primeiro lugar, quero deixar uma pequena nota explicativa sobre os dados do quadro. Os elementos apresentados foram “normalizados” para uma escala de 90 minutos, para permitir uma comparação jogador a jogador. Isto, porém, não deve ser descontextualizado do número de minutos de cada jogador. Ou seja, quanto mais tempo de utilização tiver o jogador, mais sólidas são as conclusões.

No modelo de Paulo Sérgio há, em termos individuais, uma grande satisfação com as soluções. Na defesa, a aquisição de João Pereira e Evaldo representa um grande “upgrade” para o colectivo. Um investimento seguro em qualquer dos casos, até porque os laterais têm bastante influência em quase todos os modelos do futebol moderno. Quanto a centrais, as soluções também são boas e o difícil será escolher. Na dupla de pivots, Pedro Mendes e Maniche são do que melhor se poderia pedir. Impressionantes, mesmo. E André Santos é também um reforço que garante muito mais qualidade do que Adrien. Nas alas e na frente também há opções de sobra para o treinador.

O grande problema de Paulo Sérgio é encontrar um elemento que faça a ligação entre a construção e a finalização. Pegando nos mesmos exemplos de outros modelos semelhantes – Braga e Alemanha – um Mossoró ou Ozil. Matias seria o nome mais óbvio, mas a sua qualidade com a bola nos pés, não é complementada com uma movimentação que lhe permita uma presença mais constante no jogo. E isso é um problema. Pongolle, embora em pouco tempo, também não deu boas indicações, e enquanto esperará para testar Izmailov, Paulo Sérgio parece ter em Postiga a solução de maior rendimento nesta altura. Pelo menos a julgar pelo que se viu, foi com Postiga nessa posição que a ligação foi mais fluída. Apenas uma primeira indicação, mas já uma bastante relevante.

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23.7.10

Notas do Sporting - Celtic

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Foi o primeiro jogo que tive a oportunidade de ver do Sporting em 10/11. Outros se seguirão, e conto complementar algumas ideias – para já ainda pouco vinculativas – com os próximos e derradeiros particulares dos “leões” antes do arranque competitivo. Na mesma linha do que já anunciei, ficam os comentários pessoais, complementados pela estatística e avaliação individual de cada jogador.

Notas colectivas
O jogo foi condicionado pelas dimensões reduzidas do terreno. Aliás, terá sido uma excelente oportunidade para treinar decisões rápidas em ambiente competitivo. O balanço final, no entanto, não é muito bom em termos colectivos. O Sporting apresentou um jogo que se distinguiu do Celtic pela maior quantidade e qualidade de circulação, mas nunca conseguiu transformar a maior qualidade em posse numa superioridade real no jogo. Não se pode dizer que tenha havido uma equipa superior no jogo, mas foi o Celtic quem conseguiu estar constantemente mais perto do golo.

Aqui, duas notas em relação ao jogo do Sporting. Quer na primeira, quer na segunda parte, a posse do Sporting foi rápida em zonas baixas, mas falhou no desdobramento para o último terço. E falhou porque não houve qualidade nas movimentações nessa zona. Ou pelo menos qualidade suficiente para criar mais soluções de passe. Na primeira parte, então, Saleiro raramente se envolveu no jogo. A segunda nota será até mais importante do que a primeira: o pressing. Se o Sporting conseguiu poucas situações de desequilíbrio, muito se deveu à sua incapacidade para actuar em transição. Já várias vezes expliquei a importância do momento em que se ganha a bola, muitas vezes muito mais do que a qualidade que se tem com esta nos pés. Ora, apesar de esse ser um pilar das equipas de Paulo Sérgio, a verdade é que o pressing produziu zero em termos de oportunidades de transição. E assim fica mais difícil.

Resta falar da vertente defensiva. Para além da tal incapacidade para roubar alto e colocar a construção do Celtic sobre “stress”, claro. Não foi um jogo muito problemático para o Sporting, que sofreu um golo de penalti, inocentemente cedido por Polga. Para além disso, algumas perdas em zona intermédia resultaram em transições que levaram algum perigo. Mas, mais importante do que isso é falar da linha defensiva. Tentou ser alta, mas não mostrou grandes resultados práticos. Não foi uma vantagem para o pressing, nem grande auxilio em jogadas mais próximas da área. Aliás, o Sporting sentiu grandes problemas em 2 ou 3 lançamentos para as costas, onde os britânicos são normalmente fortes. Outro alicerce das equipas de Paulo Sérgio que precisa de ser melhorado.

Notas individuais
Individualmente, há mais boas notícias do que más. O Sporting conseguiu uma percentagem de passe muito elevada, na ordem dos 78%, o que é sempre revelador de qualidade no desempenho individual. Curiosamente, mais eficácia e mais passes na primeira parte, mas menos recuperações, redundando num jogo mais inconsequente nos primeiros 45 minutos. Não era obrigatório, mas foi assim.

Na zona defensiva, ambos os laterais direitos estiveram bem, com Abel mais participativo, mas João Pereira com mais qualidade. Na esquerda, Evaldo não deslumbrou, mas esteve bem melhor do que Grimi em todos os parâmetros. No centro, e tendo em conta que ainda falta Carriço, são excelentes notícias para Paulo Sérgio. Os centrais do Sporting, no total tiveram uma percentagem de passe de 90%. Reflexo, primeiro, da pouca pressão do Celtic, mas também de uma saída em posse e que dava aos médios a primazia da condução. Mais certos e mais discretos Torsiglieri e Nuno André Coelho. Tonel foi o mais errático em todas as vertentes e Polga o mais interventivo. Aliás, só não foi o melhor dos 4 porque borrou a pintura no lance do golo.

No meio campo, 2 nomes prometem maravilhas na construção: Maniche e Pedro Mendes. Jogaram em fases distintas, mas a sua participação foi fantástica. Ambos muito interventivos e eficazes, com Pedro Mendes mais posicional e Maniche a dar uma enorme qualidade à circulação. Aliás, este Maniche tinha tudo para ter sido uma mais valia no Mundial, mas veremos como dá continuidade à sua temporada.

Na zona mais criativa, não há grandes motivos para euforias. Não houve exibições muito más, mas também ninguém teve o impacto que se pede nos desequilíbrios. A boa nova é Vukcevic. Jogou sobre a direita, esteve participativo e certo nas suas abordagem. Poderá ser um reforço se mantiver a atitude. Outra nota para Salomão, que jogou na segunda parte sobre a direita. Esteve bem, participando decisivamente no lance do golo e mostrando-se certo nas suas abordagens. Parece-me porém que deveria ser utilizado à esquerda. Paulo Sérgio parece gostar da ideia de alas “de pés trocados”, e pessoalmente concordo com a ideia. No caso de Salomão, no entanto, a sua maior virtude, parece-me ser o cruzamento e parece-me também que é à esquerda que os tira com mais facilidade e propósito.

Na frente, um nome mudou o jogo. Postiga. Não digo que mudasse o jogo tacticamente, mas a sua entrada em campo pareceu abençoada, quando ao primeiro toque encostou para o empate. Depois disso, e em apenas 10 minutos, criou mais um lance para Liedson e moveu-se muito bem nas costas do ponta de lança, culminando no período de maior dificuldade para o Celtic. Sobre Postiga, há um aspecto que não pode ser entregue ao acaso: o facto de marcar mais na pré época do que na longa época oficial. É um caso crónico de má reacção mental à pressão e isso retira-lhe a possibilidade de ser um excelente avançado, como tem tudo para poder ser. Uma solução poderá passar por tentar fazer dele um jogador menos dependente do golo, jogando mais longe da área.



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21.7.10

Guimarães - Benfica: notas colectivas e individuais

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Os últimos anos fizeram deste um clássico de pré época. A versão 2010 terá sido provavelmente a menos interessante de todas. Culpa do Vitória, claro, que só não evitou um enorme embaraço graças à gentileza de Roberto. Antes dos detalhes, porém, quero deixar uma nota introdutória sobre os dados estatísticos que apresento. Há algum tempo que venho acompanhando as minhas análises e observações com a recolha destes números. Não se trata de um mero capricho meu, mas antes de uma tentativa de obter, através de um tratamento coerente desta informação, uma importante ferramenta de análise qualitativa de equipas e jogadores. Para tal, criei uma pontuação ponderada e que apresento pela primeira vez. A ideia será fazer deste um indicador com presença constante, já durante a próxima época...

Benfica (colectivo)
Como se esperava, as férias não serão mais do que uma pausa no Benfica de Jesus. Retomados os trabalhos, e mantida a qualidade do plantel, voltou a qualidade. Para o Benfica, este Vitória foi pouco mais do que manteiga. O seu futebol está, nesta altura, noutra galáxia e nem sequer precisa de despir o pijama. Basta-lhe manter a organização e forçar alguns momentos de intensidade e logo aparecem as transições demolidoras, frutos de um pressing colectivo que é um dos principais alicerces do modelo. E já está. Mesmo com Roberto a complicar.

No Benfica, apenas uma reserva. Não é Roberto, porque mesmo que se confirme um fiasco, há sempre Julio César para garantir que não será na baliza que a equipa vai perder qualidade em relação ao passado. É sobre Aimar. No ano passado falei repetidamente do tema. Aimar ocupa a posição mais importante do modelo e ninguém garante a sua qualidade em todos os momentos do jogo. Se o argentino fosse fiável fisicamente, não haveria motivos para urgências, mas no meio de tantos milhões continua a fazer-me confusão como não se procura mais afincadamente uma alternativa para um jogador tão importante e que promete progressivamente perder minutos de utilização.

Benfica (individual)
O primeiro destaque individual vai para Kardec. Não pelos golos, embora eles sejam de importância óbvia. O detalhe é que o nível de participação e de qualidade no jogo foi bastante elevado e, sobretudo, bem melhor do que aquilo que Cardozo costuma apresentar. O paraguaio que se cuide.

Sobre Gaitan, nenhuma surpresa. Escrevi-o ainda antes de sequer se sonhar que seria reforço do Benfica. Tem semelhanças com Di Maria, sem lhe ficar em nada a dever na maioria dos aspectos. Pode ainda não ter revelado a mesma explosão, mas decide melhor, joga melhor em espaços interiores, é melhor na zona de finalização e nada inferior tecnicamente. Dificilmente Di Maria será um fantasma na Luz.

Também um jogador que não surpreende é Airton. Não fez uma exibição isenta de erros, mas voltou a confirmar a sua fiabilidade. Já agora, fica a informação porque não está no quadro: Javi Garcia foi o pior do Benfica, pontuando 4,8, consequência de 4 perdas de bola em apenas 45 minutos. Outro titular a precisar de se cuidar...

Menos fulgurantes estiveram Jara e Menezes. O primeiro marcou um grande golo, mas não conseguiu a presença que dele se pode exigir. O segundo jogou simples, mas nem acrescentou nada em termos criativos, nem ficou isento de erros. Assim será difícil...

Guimarães (colectivo)
Que mau! Primeiro fiquei com a sensação de que o Vitória teria recuado para os tempos de Vingada. Isto, pelas semelhanças em termos de elasticidade táctica e ausência de um modelo mais rotinado. Mas não. Com Vingada, nunca foi tão mau. Pela sua filosofia, nunca poderia esperar um crescimento com a chegada de Manuel Machado, e seguramente que só pode melhorar, mas, para já, os indícios não são nada bons para o futuro próximo do “professor”. Há que contar com a qualidade do adversário e considerar ainda que o trabalho está apenas no inicio, é certo, mas parece-me que o melhor é mesmo que o Vitória comece a arrepiar caminho na construção de um verdadeira equipa. Manuel Machado está como a sua filosofia: preso às referências individuais. Parece preocupado em encontrar a qualidade ideal para cada lugar, mas enquanto não o consegue a equipa demonstra um nível raramente baixo de qualidade organizacional, que combinou igualmente com uma boa dose de imprudência decisional. Como disse atrás, valeu Roberto.

Guimarães (individual)
O “caso” chama-se Faouzi. Impressionante qualidade técnica e impressionante eficácia de passe para quem joga na sua posição. O problema, porém, é que Faouzi não parece perceber a importância das zonas para a posse. As poucas bolas que não endossou correctamente resultaram em transições e uma delas esteve na origem de um golo. Alguém queira explicar-lhe melhor estes detalhes e podemos estar perante uma estrela emergente.

À margem de Faouzi – um caso especial – os reforços do Vitória não parecem ser o problema de tantos problemas colectivos. Pereirinha promete afirmar-se finalmente na posição onde tem mais probabilidades de sucesso. Ainda na defesa, mas do outro lado, Anderson Santana esteve bem melhor do que Bruno Teles. Na frente, e já conhecido, Edgar foi presença útil, embora não se perceba que possa ser uma grande mais valia em relação ao que foi Roberto, por exemplo. Nota, finalmente, para Bebe e Maranhão entre os reforços analisados. A confusão em relação a comum e onde devem ser utilizados diz muito sobre o estado de coisas no momento. Bebé parece ter caído nas graças dos adeptos, mas é Maranhão quem merece esperanças mais legítimas de qualidade.



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16.7.10

Reforços 10/11: Jaime Valdés

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Confesso que não o conhecia muito bem antes da chegada a Alvalade mas, como quase sempre, tive a curiosidade de o observar nas suas passagens anteriores. Jaime Valdés surpreendeu-me em alguns aspectos, onde creio ter uma qualidade inequívoca. Noutros, porém, não sou tão optimista, mas vamos a eles...

Pontos fortes: driblador nato
Paulo Sérgio retratou-o como um desequilibrador e, realmente, o chileno é exactamente isso. Normalmente joga a partir da esquerda e sempre que a bola lhe cola no pé direito, é o cabo dos trabalhos. Valdés é um driblador nato. Não é um artista, ou um velocista, é um driblador. Porque o digo desta forma? Porque a arte do drible, mais do que no espectáculo da gesto ou na velocidade do executante, está na capacidade de acelerar e mudar de ritmo no tempo certo. Messi é, nos tempos que correm, o grande exemplo disto mesmo, e Valdés, à sua escala evidentemente, é também um bom exemplo desta ideia. Não espanta, portanto, que não seja difícil encontrar montagens vistosas do jogador.

Pontos fracos: a intensidade
Fosse a bola um dado adquirido no futebol, e Valdés tinha sucesso garantido. Mas não é. Digo sempre que se contarmos o tempo que a maioria dos jogadores têm a bola num jogo inteiro, não encontrar muitos com mais do que 5 minutos em 90 jogados. Por isso é que insisto tanto naquilo que os jogadores fazem nos outros 85 minutos do seu tempo em jogo. Ora, é precisamente sobre o seu rendimentos nesse período que surgem as reticências sobre Valdés.

Na Atalanta, percebia-se, Valdés estava para fazer a diferença. Toda a equipa defendia e batalhava pela bola, mas ele podia confortavelmente aldrabar no pressing. No Sporting não será assim. Valdés necessitar de outra intensidade nos tais 85 minutos. Vai ter de pressionar a sério, porque o Sporting fará desse um dos seus mais importantes alicerces com Paulo Sérgio, e, também, vai ter de correr mais para encontrar espaço e tempo para receber a bola. Não lhe bastará esperar por ela no seu flanco, como até aqui. Resta saber, enfim, se perto da casa dos 30 este driblador nato está também pronto para essa mudança de exigência.

Antevisão: entre o drible e a intensidade
A explicação do que penso se poder esperar vem decalcada do que escrevi atrás. Entre o drible e a intensidade. Resta acrescentar que, se tudo irá passar muito pelo próprio Valdés, passará igualmente pelo modelo que o vai acolher e por quem o vai tentar passar para os jogadores. De novo o colectivo, portanto...



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Reforços 10/11: Marco Torsiglieri

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É, para mim pessoalmente, a grande surpresa do mercado. Há alguns meses deparei-me com Torsiglieri, nas utilizações que teve nas equipas alternativas apresentadas pelo Velez no Apertura 2009, enquanto poupava titulares para a Libertadores. A verdade é que Torsiglieri me impressionou na altura e, por isso, o mencionei aqui, mesmo não sendo primeira opção no seu clube. Entretanto, o papel do jovem central ganhou maior importância (e o seu preço também), e o Sporting resolveu apostar nele. Pelo preço a que foi adquirido, não será uma pechincha, até porque tem um caminho a percorrer, mas é, pelo menos, um bom sinal de mercado para o Sporting.

Pontos fortes: Presença
Torsiglieri não é um central que passe indiferente no jogo. É alto, forte e quando aborda um desarme que envolva contacto físico, dificilmente o perde. Ora, isto acontece com bastante frequência no jogo, porque embora um jogador posicional por natureza, Torsiglieri sente-se igualmente confiante para abordar alguns lances fora do seu habitat natural. Para isso, contribui também a boa leitura que normalmente faz dos lances, escolhendo normalmente bem os tempos para sair do seu espaço e interceptar as jogadas. Afinal, é precisamente isso que é mais difícil num central.

A estas características, juntamos o sempre relevante dado da estatura, e temos a razão do destaque merecido por Torsiglieri.

Pontos fracos: A agilidade e a questão da adaptação táctica
Aqui entramos nos pontos que podem colocar em causa o sucesso de Torsiglieri. Comecemos pelo mais importante: a adaptação à nova realidade.

No Velez a linha defensiva é baixa, não arrisca subir para fazer fora de jogo, e isso, mesmo que não seja um benefício para o colectivo, é sempre um conforto para os centrais, porque diminui a sua exposição ao erro. No Sporting de Paulo Sérgio, e mesmo não tendo visto ainda qualquer minuto da pré época, uma das mudanças mais claras será o comportamento da linha defensiva, que passará a jogar muito mais alto do que até aqui – particularmente na era Paulo Bento. Torsiglieri terá de passar por essa adaptação. O problema muitas vezes é reduzido a uma questão de velocidade, mas não faltam exemplos de que esse é só um pormenor. A adaptação depende da cultura posicional do próprio central e, claro, do trabalho da equipa técnica em termos colectivos.

Já que falamos em velocidade, podemos passar para o segundo ponto. Torsiglieri não é um central que tenha demonstrado muitos problemas com a velocidade propriamente dita, há que dizer. Como escrevi antes, raramente as iniciativas dos contrários saem do seu raio de acção, mas, sendo um jogador robusto, tem problemas em termos de agilidade e de velocidade de resposta a acelerações e mudanças de velocidade. Mais uma vez, este não é um problema raro em alguns dos melhores do mundo, e o colectivo determinará uma boa dose da sua capacidade para ultrapassar este risco.

Finalmente, o capítulo técnico. Canhoto, não é propriamente um jogador conhecido pela sua capacidade em posse. Gosta pouco de arriscar e isso já é uma virtude para quem joga na sua posição. Não será necessariamente um ponto fraco, mas não se espere de Torsiglieri grandes aventuras com a bola nos pés.

Antevisão: A dependência do colectivo
No Sporting, o sector defensivo foi amplamente reforçado nos últimos 6 meses. E muito bem reforçado, diga-se. No que toca a defender, no entanto, é ainda mais decisivo o trabalho colectivo, e com Torsiglieri não será excepção. Antes da aquisição de Nuno André Coelho, facilmente diria que o argentino tinha todas as condições para ser forte candidato a um lugar no onze, mas vejo no ex-Porto, e como já referi noutros textos, um jogador de potencial raro. Tal como Carriço, aliás. Com isto, se Paulo Sérgio tiver o mesmo entendimento do que eu, a vida de Torsiglieri não fica fácil. Fico, porém, com a certeza de que o Sporting tem uma boa alternativa a esta potencial dupla de portugueses. Ou, pelo menos, tem tudo para o ser, desde que o tal trabalho colectivo também corresponda. Para finalizar... não é lateral esquerdo, como se chegou a dizer.



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14.7.10

Reforços 10/11: Franco Jara

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Gaitan e Jara são, em termos de novidades, os nomes que mais expectativa estão a criar na Luz. Os dois já haviam sido anunciados com alguma antecedência, mas não antes de eu os ter observado no campeonato argentino. Sobre Gaitan já falei aqui e por isso não me vou repetir, mas também Jara merecera destaque há meio ano no talented football. Aqui fica uma antevisão pessoal do jogador, que não tem em conta os jogos já realizados de águia ao peito (até porque não os vi), mas sim a observação que fiz ainda no Arsenal de Sarandi.

Pontos fortes: Intensidade, o traço genético das Pampas
As virtudes de Jara não se esgotam aí, mas é na imagem de marca do típico avançado argentino que está a sua grande mais valia: a intensidade.

E qual a consequência dessa característica? Bom, o mais fácil de prever é que Jara seja um jogador muito mais útil nos momentos defensivos. Quer em organização, quer em transição. Esta pode parecer uma mais valia estranha para um avançado, mas quem visita este espaço já várias vezes se confrontou com a argumentação de que nenhum jogador está dispensado de ser competente apenas pelo facto da sua equipa não ter a bola. Bem pelo contrário. No caso do Benfica, aliás, o pressing é uma arma de elevada relevância ofensiva, e neste campo Jara leva milhas de avançado sobre Kardec e, sobretudo, Cardozo.

Mas a intensidade de Jara não se reflecte apenas no pressing. Jara é um jogador que gosta de procurar a bola, mesmo que isso implique baixar relativamente no campo. Aliás, ter a bola perante a pressão de contrários não é problema para Jara, que se sente bastante confortável nos duelos físicos.

Pontos fracos: Critério e o pé esquerdo, aos cuidados de Jesus
Jara é jovem e gosta de jogar. Tem “ganas” como se diz na sua terra. O problema é essa ânsia é-lhe várias vezes prejudicial. É ágil e tecnicamente dotado, mas nem sempre escolhe o melhor critério sobre onde deve ter a bola e, mais importante ainda, o que deve fazer quando a tem. Não é um caso perdido – longe disso – mas tem de ser trabalhado.

Outro aspecto facilmente identificável em Jara, é a sua dependência do pé direito. É certo que não faltam exemplos de avançados que jogam praticamente só com 1 pé, mas dá sempre jeito a quem joga perto das balizas saber resolver com qualquer dos 2.

Antevisão: Dependente da aposta e... do critério
Não é difícil perceber que Jara parte com algum atraso em relação à dupla Cardozo-Saviola, e que terá ainda de competir com Kardec e Weldon por uma presença de destaque entre as alternativas. Nesta luta, também me parece, Cardozo e Kardec tenderão a disputar um lugar, devido à sua estatura e à importância das primeiras bolas. Aqui, no entanto, estará o caminho para a possível intromissão de Jara. A estatura, sendo importante, não deve ser absolutamente determinante, especialmente quando, como no caso de Jara, a abordagem aos despiques físicos é tão agressiva e intensa. Jara tem, na minha opinião, mais características do que Cardozo ou Kardec para o modelo de Jesus, numa posição onde, creio, à excepção do seu bombástico pé esquerdo, Cardozo oferece pouco ao colectivo.

Jara é jovem e tem futuro, mas acredito pouco que o Benfica faça dele uma aposta de longo prazo. Mesmo que tenha sido essa a intenção inicial. Se conseguir adaptar-se rápido, se utilizar os méritos do modelo de Jesus para decidir melhor, e, claro, se o treinador apostar nele, Jara pode ter um lugar mais importante do que era previsto neste Benfica. Caso contrário, a sua vida na Luz não será fácil, tal como não foram para casos como Keirrison, Menezes ou Eder Luiz.

Com o risco de não ter visto os seus primeiros jogos de águia ao peito, e mesmo sabendo das dificuldades que encontrará, mesmo assim, arriscaria dar-lhe boas hipóteses de afirmação...



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13.7.10

O negócio Moutinho (Parte II)

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Feita a minha leitura do desenrolar do negócio, resta aquilo que será mais importante: as consequências do mesmo. Já se percebeu, pelo que escrevi anteriormente, que não tenho dúvidas que o Porto terá dado um excelente golpe de mercado. Mesmo tendo em conta os custos envolvidos. Ainda assim, e tentarei explicar porquê, nem tudo são rosas na “operação-Moutinho” para o lado portista.

Porto: Moutinho, um golpe duplo
Pinto da Costa já havia expresso a sua admiração pelas qualidades de Moutinho. De facto, o que me parece bizarro é que alguém consiga desvalorizar a qualidade de um jogador que faz tantos minutos, tantos jogos e sempre com uma qualidade tão constante como consegue Moutinho. Não é raro apenas em Portugal. É raro no mundo.

Moutinho é um jogador para todos os momentos do jogo. Forte em organização e forte em transição. Defensivamente e ofensivamente. A única critica que se pode fazer a Moutinho é no capítulo do desequilíbrio. Não é um jogador capaz de provocar roturas constantes, ou de ganhar jogos sozinho. Esse é o patamar que lhe falta para ser um dos melhores médios do futebol mundial. Muitos dirão que sempre foi assim e que nunca conseguirá ultrapassar essa lacuna. Mas Moutinho tem apenas 23 anos e a jogar com a frequência com que joga, parece-me, tem boas possibilidades de evoluir também nesse capítulo, tenha vontade e orientação para tal.

Tudo somado, o Porto garante um dos jogadores mais fiáveis que pode haver, garante-o com 10 anos de futebol pela frente, e a possibilidade, também, de o fazer evoluir para patamares ainda mais altos. A tudo isto, há ainda que somar o efeito de enfraquecimento de um adversário directo, algo que não seria possível se o reforço viesse de fora. É por tudo isto que a “operação Moutinho”, para o Porto, terá sido um excelente negócio, mesmo se não ficou leve em termos de esforço financeiro.

Sporting: a esperança... Nuno André Coelho!
Para o Sporting, face a tudo isto, o dinheiro encaixado por Moutinho será quase nada. Bem sei que o “quase” aqui é tudo menos irrelevante em termos financeiros. Para além de recuperar liquidez, fundamental para alguns negócios em curso, o Sporting alivia a sua folha salarial consideravelmente. O que perde e o que dá a ganhar, porém, está longe de ser compensatório.

Ao fundo do túnel, porém, no “negócio Moutinho”, eis que surge uma esperança. Nuno André Coelho. Foi uma espécie de gratificação portista para sair a bem do negócio mas, creio, tem potencial para ser muito mais do que uma parte simbólica das consequências.

De facto, estranho muito o trajecto de Nuno André Coelho no Porto. Foi um dos mistérios para que fui alertando na última época e que ainda estou para perceber. As indicações que deixou apontam para um grande potencial, com qualidade para assaltar rapidamente um lugar no onze portista, ou, agora, de formar uma dupla entusiasmante com Carriço. É um jogador rápido, com cultura posicional, alto e bom tecnicamente. Talvez uma utilização mais frequente me mostre o porquê de tão pouca confiança no seu potencial mas, para já, centrais com o potencial de Nuno André Coelho, não conheço muitos por aí...



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O negócio Moutinho (Parte I)

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Não sei quanto tempo vamos ter de esperar para ver algo igual no futebol português. Dois “grandes” entenderem-se pela transferência de um dos seus principais jogadores é algo que não está no programa emocional do adepto. É precisamente por essa invulgar característica desta transferência, que decidi separar o comentário sobre o negócio em 2 partes. A segunda terá mais a ver com a consequência do negócio, em termos técnicos e financeiros. Mas quero começar por falar um pouco do “making of” desta estranha e inesperada operação.

Sporting: incompetência que salta à vista
Porque é que o Sporting concretizou um negócio com um clube rival, de um jogador com um longo contrato pela frente e bem antes do fim do mercado? Esta foi a pergunta que Costinha e Bettencourt quiserem evitar na explicação que deram aos sócios. Óbvio. Nos dias seguintes ficou mais clara a resposta, com o noticiado pré acordo de venda entre o clube e o empresário do jogador. Um acordo que completa um puzzle à partida sem sentido e que expõe também uma enorme incompetência dos dirigentes do Sporting na salvaguarda dos seus interesses. O resultado, claro, foi a vulnerabilidade do clube e o desespero dos seus responsáveis. Crucificar Moutinho foi a forma fácil que encontraram para justificar a situação. Apela à sempre fácil reactividade emocional dos adeptos, mas... só acredita quem quer.

Moutinho: uma traição que não é explicação
Qual o interesse de Moutinho em trocar um clube do qual é capitão, joga há mais de 1 década e onde é um dos mais bem pagos, por um clube rival, da mesma liga e da mesma dimensão? A resposta “traidor”, aqui, não colhe minimamente. É preciso ir às motivações pessoais do jogador, que, como qualquer pessoa, só faz aquilo que entende ser melhor para si. Na minha leitura, só há 2 possibilidades que poderão ter motivado a opção de Moutinho. A primeira é financeira. Moutinho não poderá ganhar muito mais no Porto (o tecto salarial dos 2 clubes não é tão distante quanto isso) mas certamente terá recebido um avultado bónus com a mudança.

Até aqui, nada de mais natural, motivos financeiros que, afinal, estão no centro de grande parte das decisões profissionais de toda a gente. Mas, se Moutinho queria sair do Sporting, porque acabou por contrariar as pretensões do clube e assinou por um rival, em vez de esperar por outras oportunidades? A resposta mais provável tem a ver com uma má gestão da relação entre o clube e o jogador. A ida para o Porto não representa uma grande novidade para Moutinho. É certo que há mais possibilidade de beneficiar de melhor rendimento colectivo, mas também é certo que atrasa a sua probabilidade de fazer carreira no estrangeiro. Isto, para além do desgaste emocional que tem e terá uma transferência deste género. Por tudo isto, e porque faltava ainda muito para o término do mercado, não deveria ser difícil convencer Moutinho a esperar. Se não o conseguiu, de novo, o Sporting deverá olhar para as suas próprias responsabilidades. É fácil e gratuito levantar rótulos sobre a necessidade “formar homens”, mas é igualmente estúpido. Não me parece que os jogadores formados no Sporting ou noutro clube sejam diferentes uns dos outros. Se o Sporting tem mais problemas em gerir a sua relação com os jogadores do que os outros, então, o mais inteligente será perceber a origem do problema.

Porto: A investida perfeita
Se é o Sporting quem mais deverá reflectir sobre o sucedido, cabe de novo ao Porto o subtil papel de vencedor da operação. E que vencedor! Pode dizer-se que este foi um negócio que envolveu o acordo de 2 clubes, e que isso pode até ser saudável para uma racionalidade o futebol português, mas... não foi bem assim. O que terá acontecido, foi uma manobra inteligente dos portista, que aproveitaram a fragilidade do rival para garantirem o concurso de um dos seus mais importantes jogadores.

Mas a subtileza genial da manobra portista vem depois. Provavelmente, o Porto teria garantido a transferência com ou sem entendimento com o Sporting. Por isso mesmo ela se terá dado neste “timing”, nada conveniente para o Sporting. Pinto da Costa, porém, sabe bem por experiência própria que no mercado ninguém mata, nem ninguém morre, e que abrir uma guerra de mercado só poderia, afinal, trazer riscos a prazo. O entendimento, terá tido um custo imediato, mas salva o clube de um risco de represálias no curto prazo.



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12.7.10

Diário de 'Soccer City' (#26) - último

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No encerramento do “Diário de Soccer City”, que contará apenas com algumas notas de rodapé sobre a competição – a apreciação mais geral já foi feita durante a prova – quero começar da mesma forma que fiz no inicio do mundial. Ou seja, com um esclarecimento de como será o funcionamento do blogue nos próximos dias. Depois do Mundial, passarei directamente para o mercado, que me abstive de comentar no último mês. Assim, e aproveitando o conhecimento aprofundado que tenho de praticamente todos os reforços do futebol português, irei dedicar algum espaço para a análise de alguns dos mais importantes jogadores que marcaram o defeso até ao momento. Vamos então às últimas notas...

Espanha, o paradoxo do campeão
Não é difícil de perceber que a Espanha será um dos mais importantes campeões da história do futebol. Isto, porque ao contrário da generalidade das suas antecessoras, a Espanha ganha marcando uma diferença clara de estilo para todo o mundo. Um estilo que, como descrevi na antevisão, tem raízes históricas profundas e que é produto da ponte filosófica que se fez entre Amesterdão dos anos 70 e Barcelona da primeira década do milénio.

Mas há nisto tudo um dado paradoxal. É que se a Espanha se eternizou pelo seu estilo ofensivo, não pode deixar de ser notado que nenhum campeão mundial terá sido tão pobre em eficácia ofensiva como os espanhóis. E isto não é obra do acaso. Primeiro, porque a Espanha – ao contrário do Barcelona – não soube encontrar complemento colectivo às soluções que criava na primeira fase de construção. Por isso, os seus reduzidos golos são apenas a consequência natural de um jogo de poucas oportunidades. Depois, porque um jogo tão forte em posse tem um potencial defensivo talvez naturalmente maior do que ofensivo. Porquê? Porque no futebol só há uma bola e a melhor maneira de fazer o adversário atacar menos não é defender melhor, mas atacar melhor. Ou seja, se a bola está sempre do lado dos espanhóis, pode não ser certo que eles irão fazer golo com ela, mas é certo que não vão sofrer.

“O ataque é a melhor defesa”, não é uma frase nova, mas nenhuma equipa tinha explicado tão bem o que ela quer dizer como o Barcelona e, agora a outro nível, a selecção espanhola.

Del Bosque e o lugar certo
No banco do campeão estava já um homem que figura entre os mais bem sucedidos técnicos do futebol de clubes. Agora, com o título mundial, Del Bosque passa a ser provavelmente o técnico com o mais impressionante currículo da História do jogo. Fantástico, não é?

Se tivesse de fazer um ranking qualitativo de treinadores, teria muita dificuldade em posicionar Del Bosque. Na verdade, creio que ele foi mais um handicap para a Espanha do que outra coisa. Um handicap, porque quando se tem ao seu dispôs a estrutura base da melhor equipa do mundo, e se a desfaz para inventar outra disposição, mas com os mesmos jogadores, neste caso, só se pode estar a tornar a tarefa de vencer um pouco mais difícil. Foi isso que, na minha opinião, fez Del Bosque. Não era preciso ser genial para importar o meio campo do Barcelona, Busquets – Xavi – Iniesta, aproveitar a sua dinâmica da mesma forma que aproveitou a dinâmica da dupla de centrais, e juntar-lhe um trio de ataque com Pedro-Villa-Torres, por exemplo. Respeitar o 4-3-3 do Barça seria a solução óbvia, mas Del Bosque resolveu complicar, retirar uma unidade ofensiva para introduzir Xabi Alonso e mudar a estrutura. Complicou a sua própria vida, mas a herança era tão rica que mesmo assim... ganhou.

Enfim, Del Bosque pode ser o treinador mais bem sucedido da História, mas será também a prova de que mais importante do que ser bom, muitas vezes, é especialmente decisivo estar-se no lugar certo à hora certa.

De Forlan a Xavi
Forlan foi o melhor do Mundial. Concordo, por um lado. Pelo lado do desequilíbrio, do peso que uma unidade tem nos momentos decisivos. Nesse prisma, foi ele o melhor, sem dúvida. Acho, no entanto, que se o “tiki-taka” é o estilo dominante do futebol moderno, era tempo do mundo o perceber e reconhecer realmente. A posse infernal dos espanhóis não se faz, como é óbvio, com um só jogador, mas o seu potencial só é atingido pela qualidade excepcional de alguns dos seus intérpretes. Ora, se o futebol da Espanha não desequilibrou pelos dribles, ou pela capacidade de decisão no último terço. Se o desequilíbrio é a posse, o controlo e a envolvência, então talvez fosse hora de valorizar todos esses atributos também na eleição individual.

Como Cruyff foi a figura do “Futebol Total”, Xavi é a cara do “tiki taka”. Será que, mesmo com o mundo a seus pés, ninguém reconhecerá o verdadeiro impacto das suas virtudes?

O “caso Coentrão”
Um último comentário, bem à margem da final e das grandes decisões. Quero falar de Coentrão e do impacto que teve. Antes do Mundial, Coentrão era uma adaptação e um risco. Agora, é uma revelação e um dos melhores do mundo. Nós, que o vemos semana após semana não podemos acreditar que tenha passado a ser um jogador diferente. São 2 ideias que há muito venho defendendo e que talvez agora façam mais sentido para a generalidade: (1) é muito fácil criar laterais de topo a partir de extremos, tenham estes algumas características para a transição. Se não temos mais em Portugal, é porque houve falta de visão. (2) O nível dos laterais de topo em Portugal é muito elevado e a maioria deles jogaria em boa parte dos principais clubes mundiais.

Espero que o “caso Coentrão” sirva, finalmente, para que algumas conclusões sejam tiradas a este respeito. Que seja contextualizado com exemplos igualmente mediáticos como foram Miguel ou Bosingwa e, já agora, que não se volte a cometer o erro de deixar João Pereira para levar Paulo Ferreira. Ou, pior ainda, fazer jogar centrais, quando se tem nas laterais um dos pontos fortes do nosso jogo.

Para finalizar o tema, não evito recordar este post.



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9.7.10

Diário de 'Soccer City' (#25)

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Como é que se antevê uma final? José Mourinho um dia disse que as finais não são para jogar, que são para ganhar. Mais fácil dito que feito, até porque, como é óbvio, há tantos vencedores de finais como perdedores. Uma coisa é certa, seja épica, banal ou mesmo das piores de sempre, uma final de Mundial será sempre um jogo histórico, visto e revisto por milhares, mesmo décadas após a sua realização. E é essa relevância eterna que penetra no sistema nervoso dos jogadores e que, quem sabe, pode desfazer todas as lógicas. Seja para o bem ou para o mal. Enfim, pior do que prever a final, só mesmo... o jogo do 3º e 4º lugares. Isto para um alguém que não é molusco, claro...

Espanha – Holanda (Previsão: Espanha campeã do mundo)
Na ressaca da meia final com a Espanha, não faltaram especialistas a criticar a atitude alemã. Que foi demasiado defensiva, que não esteve à altura dos jogos anteriores, que isto, que aquilo. Desculpas de quem parece esperar que as equipas joguem sozinhas, ou então que no futebol existam 2 bolas. A Alemanha não foi capaz de se superiorizar frente à Espanha, não porque tenha tido um rendimento inferior aos jogos anteriores, mas porque teve um adversário que condicionou o jogo de forma diferente de todos os anteriores. E esse é o problema com que se deparará agora a Holanda.

É um problema curioso para os holandeses. Nenhum outro país importou com tanto afinco a filosofia do futebol holandês dos anos 70 como a Espanha. Não dá para dizer que a Espanha é uma versão do futebol de Mitchels, mas dá para dizer que é geneticamente descendente desses tempos. Cruyff cresceu com a ideia, desenvolveu-a e transmitiu-a no país que o acolheu. Recentemente, Guardiola, uma espécie de “neto” de Mitchels e “filho” Cruyff, terá dado um novo passo no desenvolvimento do jogo e o que vemos hoje na Espanha não tem nada a ver com Del Bosque, embora seja este quem se prepara para colher alguns louros históricos desta evolução. Del Bosque é uma espécie de barriga de aluguer de toda esta evolução filosófica. Ele, como já fora Aragonês.

Enfim, certo, certo, é que a Holanda tem o inventor da ideia, mas não tem nenhum inventor do antídoto da ideia. Por isso, e porque não tem futebol para contrapor na mesma moeda, Van Marwijk vai ter de fazer como os outros, e passar umas boas noites sem dormir para tentar encontrar solução para aquele que parece o grande enigma do futebol moderno: como tirar a bola a Xavi, Iniesta e companhia?

Lamento desiludir, mas não espero que no Domingo nos caia uma nova solução vestida de laranja. Ou seja, à Holanda restarão as mesmas alternativas dos outros. Esquecer a bola, controlar o espaço e tirar depois partido das suas unidades desequilibradoras para chegar às redes de Casillas. Em tudo isto, porém, há boas notícias para os holandeses. Podem ter um futebol colectivamente medíocre e até cometer vários erros defensivos – como já foi aqui diversas vezes escalpelizado – mas têm, como equipa, sentido de sacrifício e disponibilidade mental para estar bastante tempo sem bola. Mais importante ainda, têm unidades individuais capazes de ganhar um jogo em meia dúzia de jogadas, mais desequilibradoras do que qualquer adversário que a Espanha conheceu, não só nesta prova, mas nos últimos anos.

E é dentro disto que se definirá o jogo. De um lado, a organização espanhola, perante a qual Holanda precisa de se revelar mais capaz do que em outros jogos. Não bastará aglomerar jogadores, é preciso controlar espaços. Espaços como a zona entre linhas que custou o golo de Forlan, ou como as costas da linha defensiva, destroçada por Robinho. Do outro lado, a transição e a inspiração holandesas, depositadas nos ombros de Robben e Sneijder. Se a Espanha voltar a tardar em dar expressão à sua posse, poderá ter de se deparar com problemas como nunca experimentou até aqui. A Holanda não defende tão baixo como Portugal, Paraguai ou Alemanha e, se conseguir situações de transição, lançará o seu quarteto da frente a partir de zonas mais altas, ficando mais curto o caminho para a baliza de Casillas. Outra via para a Espanha poderá ser o pressing, já que, na sua primeira fase de construção, a Holanda será mais vulnerável do que Portugal ou Alemanha, por exemplo.

Enfim, diria que em 10 finais nas mesmas condições, a Espanha ganharia 7. Esta é a boa notícia para os espanhóis. A má, é que só há 1 final...

Uruguai – Alemanha (Palpite: Vence a Alemanha e marca mais do que 1 golo)
Muitos dizem que este jogo não deveria existir. Na realidade, porém, haverá assim tantas más memórias de experiências anteriores?! Os golos são quase sempre presença abundante e não poucas vezes tivemos desfechos inesperados. No que respeita a golos, espero novo festival, já quanto ao desfecho, dependerá muito da atitude das equipas. Como sempre, aliás.

Se o clima é de descompressão, parece-me que a Alemanha é quem tem mais probabilidades de manter a intensidade competitiva em níveis elevados. Somada esta expectativa ao facto dos alemães serem já de si melhores, talvez não seja de excluir a hipótese de uma nova goleada germânica.

Há quem veja o outro lado da moeda, e avance que a motivação alemã será menor pelo facto de serem a formação que mais expectativas tinha para estar na final e aquela que menos valoriza historicamente este jogo. Pessoalmente, creio muito mais na tese do parágrafo anterior, mas veremos.



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7.7.10

Diário de 'Soccer City' (#24)

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Sabe-se agora que não vai ganhar, e também já se sabia que, tudo somado, não era quem melhores probabilidades tinha para o fazer. Ainda assim, no dia em que foi afastada parece-me que é da mais inteira justiça que se comece por fazer uma vénia à Alemanha. Quando se falar de surpresas e sensações desta prova, nomes como Gana, Uruguai ou Holanda virão à baila. Os resultados tornam-no inevitável. Se falarmos de qualidade, porém, ninguém se compara aos alemães. Foram eles a grande lufada de ar fresco desta prova e quem mais se aproximou do seu máximo potencial. Por cá falou-se na importância das 3 semanas de treino antes do Mundial. Para meu desencanto, porém, tanto para Portugal como para a generalidade das formações, esse período serviu para pouco mais do que nada. As desculpas da mediocridade geral sofrem um grande revés quando se olha para o que conseguiu Low nesta Alemanha.

Fica o aviso para Portugal: se o objectivo for mesmo fazer coisas positivas no futuro, é bom que se comece a olhar para o exemplo germânico. Se, pelo contrário, for só para fazer "converseta" como nestes últimos 4 anos, então está tudo bem...


Uruguai – Holanda
Os 5 golos podem dar a sensação de um grande jogo. Mas não foi. O Uruguai pode dar a entender ter sido a revelação da prova. Mas não foi. A Holanda pode parecer ser mais pragmática do que no passado. Mas não é. Fora algumas individualidades – muitas no caso holandês – é tudo bastante medíocre. Isso sim.

O jogo não foi bom, porque nem o Uruguai foi capaz de se organizar suficientemente bem – isso sim, seria uma surpresa! – nem a Holanda teve a audácia para fazer uma exibição que estava perfeitamente ao seu alcance.

O Uruguai não é uma revelação da prova, porque se limitou, simplesmente, a aproveitar a sorte grande que foi o calendário que teve pela frente. Nunca se organizou bem e viveu apenas da qualidade individual de Forlan (que fantástico Mundial!) e Suarez para fazer a diferença em embates medíocres. Chegou à meia final, mas não conseguiu 1 único resultado surpreendente. E isto diz tudo.

A Holanda não é mais pragmática. A Holanda é, antes, mais incapaz. Se fosse pragmática, defendia bem, o que não é o caso. Defende com muitos, é um facto, e respeita equilíbrios tácticos importantes, mas é só. Depois, com as unidades que tem devia fazer muito mais em termos ofensivos, seja em organização, seja em transição. Teve um jogo feliz frente ao Brasil e o resto foi um passeio oferecido pelo calendário. Tudo somado, não vejo crédito suficiente para merecer uma final de campeonato do mundo.

Sobre o jogo, ganhou a Holanda, como se esperava. E ganhou, também como se esperava, apenas e só porque tem melhores jogadores. Mais nada.

Alemanha – Espanha
Sem surpresas, a Espanha confirmou que, por muito bom que fosse o trajecto alemão, o seu favoritismo era intocável. Tal como havia referido na antevisão, foi um jogo dominado pelos momentos de organização, e aí, embora ambos fossem fortes, a Espanha marcou uma esperada diferença. Esperada porque todos conhecemos a unicidade da posse espanhola, mas também porque há uma diferença entre as duas equipas em termos de pressing. E este ponto, embora normalmente desprezado, é fundamental para perceber o jogo.

É que o pressing espanhol é muito mais alto do que o alemão – sempre o foi durante a prova – e isso fez com que o jogo se disputasse muito mais no meio terreno ofensivo espanhol, porque a posse germânica raramente teve capacidade para empurrar as linhas espanholas até à sua área. Foi, portanto, uma parte por diferenças tácticas e outra por diferenças técnicas, que a Espanha se superiorizou. Tudo perfeitamente dentro do previsto, repito.

Para a Alemanha, porém, o facto da Espanha não ter grande capacidade de penetração no último terço poderia ser uma importante oportunidade. Com o passar do tempo, a emoção e ansiedade poderiam tornar o destino mais aleatório do que o jogo indicava em termos de domínio. A Espanha acelerou e em determinados momentos poderia ter conseguido o golo. Acabou por fazê-lo de bola parada, o que não deixa de ser duplamente irónico. Primeiro porque nas bolas paradas estava uma oportunidade mais evidente para os germânicos, e depois porque se a Espanha foi melhor, seguramente que não foi pelas bolas paradas...

Enfim, passou a Espanha, e passou bem. Simplesmente porque é melhor.



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6.7.10

Diário de 'Soccer City' (#23)

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A antevisão dos 2 jogos da meia final. Uma coisa é certa: o que vamos ver, será História...

Uruguai – Holanda (palpite: Vence a Holanda nos 90 minutos)
Não é difícil antever o favoritismo dos holandeses. O Uruguai pode ser a última esperança dos Sul Americanos para contrariar o poderio europeu, mas a sua presença nas meias finais está mais ligada a uma sequência feliz de situações do que a um grande mérito próprio. Basta dizer que em nenhuma ocasião os uruguaios bateram uma equipa que lhes fosse teoricamente superior. Ainda assim – e esta uma ideia que repito – em apenas 2 jogos, qualquer equipa pode sonhar com o título.


Olhando para trás, não espero um jogo muito aberto. O Uruguai jogará desfalcado de algumas unidades bem importantes e essa limitação só deverá servir para acentuar a tendência de Tabarez para optar pelos 3 centrais. O mesmo filme do nulo frente à França, logo no primeiro dia. Se assim for, a Holanda encontrará mais facilidades do que o esperado. O espaço entre linhas poderá ser um dado decisivo, e poderá até catapultar Sneijder para uma candidatura ainda mais séria a melhor jogador do mundial. A ele junta-se obviamente Robben, compondo um duo temível, não só pela qualidade individual como pela vocação que ambos têm para os grandes momentos.

Enfim, se este cenário se confirmar, só um grande Forlan poderá fazer do jogo algo que não seja um contra relógio para os holandeses. Será decisivo o “timing” do seu primeiro golo e se ele realmente surgir do lado laranja, então, aí sim, poderemos ter uma viragem no cariz do jogo. O Uruguai arriscará mais, expor-se-á mais a novo prejuízo mas também poderá ficar mais perto de marcar. É que do lado holandês, como já discuti, a eficácia defensiva não é propriamente um dado adquirido.

Este é o cenário que vejo como mais provável, mas está longe de ser o único possível. Numa meia final com esta importância, o peso emocional poderá provocar reacções tanto inesperadas como decisivas para qualquer dos lados...

Alemanha – Espanha (Palpite: passa a Espanha)
Influenciado pelo inevitável peso dos resultados, o mundo começou por desconfiar desta Alemanha nos 4-0 contra a Austrália. "Desconfiar", apenas, porque houve sempre quem dissesse que fora a Austrália a principal responsável por um resultado tão avolumado. A derrota frente à Sérvia foi gelo suficiente para arrefecer qualquer entusiasmo generalizado sobre a fase de grupos e poucos foram aqueles que apontaram o favoritismo dos alemães em alguma das 2 eliminatórias da fase decisiva. O que se passou, todos o sabemos: qualidade e, outra vez,“chapa 4” (desta vez, sem australianos para responsabilizar). Enfim, a Alemanha não é uma equipa diferente daquela que actuou no primeiro dia, mas apenas agora parece ser um candidato unânime. E logo agora, que defronta a Espanha.

De facto, mesmo com o mais fantástico trabalho colectivo da prova (já o escrevi há uns tempos, mas agora é capaz de ser mais consensual), não me parece que, desta vez, a Alemanha parta como favorita para o embate contra a Espanha. Seguramente será mais do que em 2008, quer porque está mais forte, quer porque a Espanha não entusiasma tanto, mas não ainda suficiente para partir na “pole position”. Os espanhóis – escrevi-o ainda ontem – beneficiam em demasia da qualidade individual e das rotinas do Barcelona e são, desde o inicio, a equipa mais forte.

Quanto ao jogo, juntam-se as duas equipas mais fortes em organização ofensiva. Nenhuma treme de medo ao primeiro esboço de pressing e ambas trabalham muito bem as soluções de passe. Defensivamente, a Espanha arrisca mais subir as linhas e a Alemanha – temendo a pouca presença numérica no miolo – encolhe-se mais. Talvez seja estranho dizê-lo depois da primeira frase deste parágrafo, mas talvez seja em transição que residirão as melhores hipóteses de ambas as equipas. Quem pressionar melhor e provocar mais erros no ponto forte do adversário poderá tirar partido para levar vantagem. Em 2008 não havia dúvidas de que seria a Espanha a fazê-lo, mas desta vez a parada prevê-se mais equilibrada.

Outro aspecto importante – como se viu nos quartos – serão as bolas paradas. Se no jogo corrido, a Espanha tem favoritismo, aqui serão os alemães a merece-lo. Não só porque são naturalmente fortes, mas porque os espanhóis defendem homem-a-homem, ao contrário do que a maioria dos seus jogadores estão habituados. E, já que estamos nos detalhes, junto os guarda redes como figuras igualmente importantes. Numa fase de tanta tensão e com a polémica Jabulani a ajudar, muito se pode decidir nas balizas. É que se um erro pode acontecer a qualquer um, também temos potencial para uma exibição memorável de algum dos lados.

Finalmente, falar da ausência de Muller. Normalmente não gosto muito de sobrevalorizar o peso de individualidades e, como já várias vezes expliquei, os nomes com mais relevância no jogo alemão são os nucleares Schweisteiger e Ozil, “pivots” da acção colectiva em todos os momentos do jogo. No caso, porém, Muller é uma ausência importante e que abre lugar a um potencial dilema para Low. O mesmo se passaria com Podolski, por exemplo, mesmo se os seus movimentos são manifestamente diferentes. É que os alas no modelo alemão são jogadores que na maioria dos modelos e equipas jogarão como avançados, partindo de zonas centrais. O objectivo, precisamente, é tirar partido dos seus movimentos diagonais e competência na zona de finalização. Sem estas características dificilmente teríamos tido tantos golos germânicos na competição. A questão é que não é fácil encontrar uma alternativa com as mesmas características e tentar fazê-lo pode acarretar alguns riscos. Low poderá utilizar um extremo mais clássico, como Marin, mas também poderá ser tentado a optar por um elemento mais vocacionado para apoiar Khedira e Schweinsteiger. A ver vamos...



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5.7.10

Diário de 'Soccer City' (#22)

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Embora tardiamente, não quero passar às meias finais, antes de deixar umas breves notas sobre os quartos de final. Na verdade, não há muito a acrescentar às antevisões que fiz, uma vez que os jogos corresponderam em quase tudo às expectativas que tinha. Antes do comentário jogo-a-jogo, porém, deixo uma nota sobre a actualidade extra-Mundial e o funcionamento do blogue. É certo que acabamos de assistir a uma das mais importantes transferências da história do futebol português e que, entretanto, também já outras definições foram conhecidas e concretizadas no mercado. Ainda assim, manterei o plano de me dedicar exclusivamente ao Mundial, prometendo a partir da próxima semana, aí sim, concentrar atenções no mercado e na preparação para a próxima época de clubes.


Brasil – Holanda
Foi o único jogo em que o palpite que deixei não se concretizou, mas, na verdade, o curso do jogo foi muito próximo do previsto. A única surpresa esteve, primeiro, na entrada algo permissiva dos holandês em termos defensivos e, depois, na eficácia laranja que conduziu à reviravolta.

O primeiro dado a merecer atenção é o que está por trás do golo brasileiro. Já aqui falei várias vezes das fragilidades individuais dos defensores holandeses e esse lance explica bem o que há de problemático no seu comportamento. Tudo está relacionado, parece-me, com uma carência na formação holandesa. A equipa tem preocupações tácticas correctas, mas individualmente os defensores holandeses são displicentes na forma como protegem as zonas mais importantes em termos defensivos e, noutros casos, assumem riscos excessivos em posse. Uma carência que se verifica semana após semana na liga interna e que explica também o evidente contraste entre o sucesso da escola holandesa em posições ofensivas e a modéstia revelada na zona mais recuada do campo. E assim, a Holanda se viu numa desvantagem potencialmente decisiva. Porque não cuidou as prioridades dos espaços, porque ignorou as referências zonais e colectivas e porque se deixou levar por aquilo que cada adversário, individualmente, ia fazendo.

Se a Holanda falhou no seu ponto fraco, deve à eficácia e a um capricho do destino o facto de não ter pago com a eliminação. Isto porque, e apesar de ter conseguido alguns períodos de domínio territorial, nunca foi capaz de por em perigo a baliza de Julio César. Aliás, até à reviravolta ter sido consumada, não se contabilizaram quaisquer oportunidades significativas de golo dos holandeses e, pode dizer-se, foi sempre o Brasil quem mais ameaçou.

Mas este foi um jogo de topo, decidido no pormenor. Pormenor das bolas paradas e pormenor da capacidade de reacção emocional às incidências do jogo. A Holanda foi eficaz e o Brasil perdeu a cabeça.

Uruguai – Gana
O jogo louco confirmou-se. De parte a parte, a qualidade individual dos atacantes superou em muito o rigor táctico de ambos lados. Erros em posse, espaço entre linhas e alguns desequilíbrios. O resultado, claro, foi um jogo entretido, bem ao gosto de quem tem no entretenimento o condimento favorito num jogo de futebol.

Do ponto de vista da análise, não há muito a dizer de um jogo destes. Porém, não quero deixar de comentar 2 detalhes em relação às grandes penalidades. Primeiro, sobre Gyan. Entre coragem e imprudência, não sei o que haverá mais naquele primeiro penalti da série decisiva que saiu ao ângulo. Depois, sobre Mensah. Para mim, é incompreensível como um profissional aponta um penalti com tão pouco balanço.

Alemanha – Argentina
E, de novo, o futebol foi respeitado. A qualidade colectiva superou o talento individual. Não tinha de ser assim, o jogo poderia ter conhecido outro caminho se fosse conhecendo outras condicionantes, mas, creio, seria difícil à Argentina durar muito mais tempo com tantas insuficiências.

Do lado argentino, confirmou-se o equívoco do posicionamento de Messi, demasiado longe da zona onde o seu futebol faz mais sentido. Confirmaram-se também todas as insuficiências tácticas, ao nível do equilíbrio e da preocupação com a transição ataque-defesa, bem como a exposição que havia alertado para o lado direito argentino, que acabou por ser o caminho para o sucesso na estratégia alemã.

Do lado alemão, confesso, a exibição nem sequer superou as minhas expectativas. Como esperava, teve repetidas oportunidades para actuar em transição e, também sem surpresas, fê-lo sempre com um entrosamento colectivo bastante elevado. No jogo alemão, porém, nem todas as fases foram óptimas e a equipa acabou por passar alguns períodos em que falhou demasiado no primeiro passe de transição e permitiu um domínio continuado dos argentinos que, se tivesse tido um momento de inspiração, poderia ter virado a face do jogo. O tempo, porém, acabou por tornar a vitória alemã num desfecho inevitável.

Individualmente, é difícil fazer destaques numa exibição que, como sempre, foi conseguida pelos méritos do colectivos. Ozil não esteve tão influente como nos últimos jogos mas Schweinsteiger confirmou novamente ser um dos grandes destaques deste mundial. Mais influentes estiveram Khedira e, sobretudo, Muller que, com Podolski, beneficiou muito do espaço em transição. Se colectivamente a Alemanha foi sempre melhor, fica-me a sensação que com uma definição individual mais constante, o jogo poderia ter sido decidido bem mais cedo.

Espanha – Paraguai
A Espanha acabou por vencer sem sofrer, como havia sugerido, mas este foi o jogo que menos se ajustou às projecções que fizera. Sobretudo pelo lado espanhol. O domínio e a qualidade da posse existiu, e a qualidade defensiva dos paraguaios também não foi melhor do que se pensava. O que aconteceu foi que a Espanha raramente deu nota de ter um plano para entrar na área paraguaia e, por isso, não só teve um número inesperadamente reduzido de oportunidades como deu oportunidades para que os paraguaios fossem crescendo em termos emotivos.

Os espanhóis, tudo somado, serão a melhor equipa entre os 4 semi finalistas, mas não me parece que seja uma equipa optimizada. Longe disso. Valem sobretudo pelas características das suas individualidades e pela importação de algumas rotinas do fantástico Barcelona. De resto, faz sentido ter Villa a descair sobre a esquerda e não há nada de errado com a mobilidade de Torres. O que não pode acontecer é a equipa utilizar os corredores para penetrar e depois não ter soluções de passe na zona interior. O trabalho de Del Bosque não podia ser mais fácil, mas ele parece querer complicá-lo. Se o Barcelona tem rotinado um modelo fantástico em 4-3-3, se Xavi, Iniesta e Busquets são tantas vezes os 3 do meio campo, para que é que é preciso mais um jogador?! Tudo seria bem mais fácil se estes 3 jogassem no meio e se a eles se juntasse um extremo direito (Navas ou Pedro), com Villa à esquerda e Torres ao meio. A Espanha não deixa de ser favorita para todos os jogos que fizer, mas não escolheu o caminho mais curto...



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2.7.10

Diário de 'Soccer City' (#21)

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Sexta Feira marca o inicio da recta final. 8 equipas discutem o lugar entre a elite, entre aqueles que jogam o número máximo de partidas no Mundial, e entre aqueles que ficam, pelo menos, a um pequeno passo do sonho. Sim, porque a partir das meias finais qualquer equipa pode sonhar com o lugar mais alto. Antes dos jogos, deixo uma pequena antevisão pessoal e, para apimentar a coisa, também um pequeno prognóstico sobre cada um dos jogos. Apenas uma brincadeira, não se trata de qualquer candidatura a “mestre Alves da blogosfera”...

Brasil – Holanda (Palpite: empate ao intervalo)
Conjuntamente com o Alemanha – Argentina, é o prato forte da ronda. Tudo somado, creio que o Brasil merece nesta altura honras de principal candidato ao título e, logo, também de favorito a seguir em frente. É-me mais fácil perceber o que vale o Brasil do que a Holanda, porque os brasileiros já vêm jogando da mesma forma há vários anos e porque a Holanda ainda não foi testada seriamente nesta prova. De qualquer modo, estas são duas das equipas que mais consistência revelaram na preparação para a prova. Se mais provas faltassem, bastaria evocar o tal pormenor discutido aqui há uns dias, da utilização de um 11 base, já previsto na própria numeração das camisolas.

Por tudo isto, não espero qualquer surpresa táctica por parte dos treinadores, mas antes um reforço de confiança nos respectivos modelos. Se tal acontecer, vamos ter um jogo fechado, focado nos equilíbrios tácticos e no controlo do espaço. Mas vamos ter, também, qualidade técnica de sobra, e possibilidade de desequilíbrios individuais. Especialmente em transição, ou na sequência de bolas paradas – cada vez mais um aspecto importante nesta fase decisiva. O primeiro golo valerá ouro, porque obrigará quem o sofrer a correr mais riscos e dar ao adversário a possibilidade de jogar como mais gosta. Ambos o sabem.

Uma palavra para dois “espalha brasas”. Dois jogadores que desprezam tudo isto, que não pesam duas vezes quando podem arriscar o desequilíbrio e que não têm qualquer receio da perda ou da consequente transição: Robben de um lado, Robinho do outro. Quem sabe um momento de magia de um dos 2?

Uruguai – Gana (Palpite: ambas as equipas marcarão no jogo)
É verdade que, um pouco na norma de todo o torneio, nenhuma das equipas participou num festival de golos. Desta vez, porém, acredito que possa acontecer um jogo com golos em ambas as balizas, e talvez mais do que um. É que – e também dentro daquilo que foi norma – Uruguai e Gana não são propriamente equipas fortes em termos de organização defensiva. Mesmo se ambas não hesitam em sobrepovoar-se no centro da defesa. Menos quantidade mas mais qualidade, têm as duas na frente. Asamoah, Boateng, Ayew e Gyan de um lado. O tridente Cavani, Suarez e Forlan do outro. No caso de Gyan e Forlan, uma grande exibição poderá lançar qualquer um dos casos para os destaques de qualquer livro de memórias deste Mundial.

Somadas todas as expectativas, torna-se difícil antever um vencedor, ou mesmo um claro favoritismo. Ambas as equipas darão oportunidades ao adversário e o aproveitamento das mesmas dependerá muito da inspiração dos intérpretes. Talvez os amantes da astrologia nos possam elucidar melhor quem estará mais favorecido pelo alinhamento das estrelas na noite de Sexta...

Argentina – Alemanha (Palpite: passa a Alemanha)
Nem sempre confiei nesse princípio – que não é, nem de perto, 100% seguro no futebol – mas o Mundial tem-lhe sido fiel. Falo do princípio de que quem é melhor ganha, e quem é pior paga a factura. Foi assim com os horríveis casos de França e Itália, eliminados mais pela lógica do jogo do que pelas projecções iniciais. Foi assim, também, em todos os duelos decisivos. Não houve surpresas, e quem foi melhor ganhou sempre. Se a tendência se repetir, seguirá em frente a Alemanha.

Já falei bastante das 2 equipas e perceber-se-á, no somatório dessas análises, que vejo este duelo como o confronto entre os dois candidatos que menos semelhanças em termos de virtudes. A Argentina é o talento puro, tão puro que a sua valia quase se resume à soma das suas individualidades. A Alemanha, pelo contrário, não deslumbra individualmente, mas consegue formar um colectivo muito competente em todos os momentos do jogo.

Dentro das 'nuances' que poderão definir a partida, começo por Messi. Maradona resolveu dar-lhe liberdade, diz-se, mas na verdade Messi joga longe da zona onde as suas decisões fazem mais sentido. Messi pensa no desequilíbrio porque é essa a sua vocação, e embora tenha capacidade para desequilibrar a partir de qualquer zona, não é na construção que se aconselha o risco. Por isso é que o papel de Messi pode ser um pau de dois bicos e um dilema para o próprio Low. É que a dupla de médios da Alemanha poderá ter alguma dificuldade em controlar o espaço entre linhas, e o corredor central, com Messi nesta posição, é aquele onde a Argentina consegue ser mais perigosa. Se Low encontrar forma de bloquear Messi, terá o jogo na mão. Não só porque bloqueará o jogo ofensivo do adversário, como porque usufruirá de várias transições perigosíssimas. Caso contrário, Messi, Tevez e o corredor central poderão ser um sarilho para a Alemanha que, neste cenário, só ganhará o jogo se tiver um dia francamente inspirado na frente.

Outras 'nuances' há, mas do lado Argentino. Como o risco em posse, como o desequilíbrio táctico – atenção ao lado direito! – ou como a forma como a sua defesa "afunda", abrindo o campo de ataque aos adversários. Estas 'nuances', porém, não levantam qualquer duvida porque Maradona nunca se importou minimamente com elas, e não é agora que o vai fazer. Ficará apenas por saber até que ponto os alemães as saberão aproveitar.

Paraguai – Espanha (Palpite: Espanha vence sem sofrer)
Depois do tropeção inicial e de algumas dificuldades na primeira hora frente a Portugal, parece-me agora muito complicado que a Espanha fique fora das meias finais. Salvo qualquer condicionante ou surpresa no jogo, creio, isso não acontecerá.

O Paraguai foi das selecções que menos fez para estar onde está. Ganhou apenas 1 jogo em todo o Mundial, empatou mesmo com a Nova Zelândia e precisou de ser feliz nos penaltis para ultrapassar o Japão. Frente à Espanha não veremos uma equipa tão inocente como foi o Chile, mas também não veremos grandes méritos defensivos. Mais quantidade do que qualidade é o que espero dos paraguaios em termos defensivos. Um jogo de sentido único e que não me parece que chegue, sequer, ao intervalo sem termos a Espanha em vantagem. Se assim for, dos paraguaios dependerá apenas a definição do “score” final, porque a Espanha irá dar prioridade ao controlo do jogo e da bola, muito mais do que arriscar o segundo golo.



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1.7.10

Diário de 'Soccer City' (#20)

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Quase 3 semanas depois, os 2 primeiros dias de pausa. Um período que, para além do descanso, pode servir também para reflectir sobre o que já vimos. Muito já tenho escrito sobre a competição, e outro tanto tem passado pela caixa de comentários. Ainda assim, porém, a prova chega agora a um ponto em que 3/4 das equipas já se viram afastadas do sonho, e quase 90% dos jogos já foram disputados. Ainda faltam todas as grandes decisões, é certo, mas há muitas conclusões que já podem ser tiradas. Aqui ficam algumas, resumidas em 3 tópicos...

Pouca qualidade colectiva
Comecei o Mundial a comentar a desilusão que fora o empate entre França e Uruguai e a projectar a dicotomia entre o potencial individual e a desorientação organizacional dos sul americanos. Na verdade, porém, não foram apenas as equipas sul americanas a mostrar carências ao nível da organização colectiva. Foi um pecado geralmente partilhado por todas as selecções e um choque para quem acaba de vir de uma época clubistica, onde a optimização dos processos colectivos não tem comparação possível. Provavelmente ninguém superará as catastróficas performances de França e Itália, mas o mal foi generalizado. De tal forma o foi, que me parece justo, um dia depois das criticas, referir que o nível colectivo de Portugal não foi, nem de perto, dos piores da competição. Apenas acho que se deve exigir bem mais do que aquilo que vimos.

Eclipse das estrelas
Por cá falamos muito de Ronaldo, mas nem Messi, nem Rooney, nem Ribery, nem Torres, nem Gerrard, nem Lampard têm estado ao melhor nível. Não será uma novidade, mas esta é uma competição ainda orfã de uma grande figura, e, vendo bem as coisas, é bem provável que as unidades mais importantes acabem por surgir de nomes pouco esperados. Ainda assim, creio, ainda vamos ter um dos “tubarões” a emergir na recta decisiva.

A importância do calendário
Competências e incompetências à parte, parece-me claro que o calendário faz mesmo muita diferença. O fiasco de candidatos como a França e Itália, abriu espaço a que Uruguai e Paraguai tivessem a vida facilitada no acesso às fases finais. Mas não foram casos únicos. O Gana, por exemplo, discutirá com os uruguaios um lugar no quarteto final, sem que alguma destas selecções tenha batido, sequer, um candidato ao título. O mesmo se pode dizer da Holanda, que tem o primeiro obstáculo realmente complicado apenas nos quartos de final. Caso inverso terá, por exemplo, a Alemanha. Depois do clássico com a Inglaterra, segue-se a Argentina e no caminho para a final ainda está um provável cruzamento com a Espanha. Tal como atrás, quero deixar uma nota sobre a selecção portuguesa e especular que com a sorte de outros, provavelmente chegaríamos bem mais longe. Mais uma vez, porém, as criticas têm muito mais a ver com uma exigência de qualidade do que com os resultados propriamente ditos.



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