27.9.11

Sporting - Setúbal: opinião

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- Foi, acima de tudo, bom para o ego. Ganhar confortavelmente, resolvendo cedo, criou as condições para um clima desanuviado, longe dos dramas que vinham caracterizando quase todos os jogos em Alvalade. Isso e, claro, o entusiasmo que a própria equipa transmitiu de dentro para fora do campo, contagiando de forma constante as bancadas. Não é um aspecto que desvalorize, aliás, pelo contrário e como já escrevi diversas vezes, a confiança parece-me decisiva para o potenciar do crescimento das equipas. Do ponto de vista da análise, porém, este cenário não conduziu a um jogo muito útil. De todo o modo, e sintetizando, não dá para concluir que teremos um Sporting permanentemente entusiasmante, da mesma forma, de resto, que os primeiros resultados da época não tinham como base indícios para o pessimismo que foi gerado. O futebol é mesmo assim, orientado por emoções e resultados...

- Começo pelos aspectos defensivos, particularmente pelo comportamento em organização defensiva. No jogo com o Rio Ave tinha notado alguma indefinição nos comportamentos na primeira linha de pressão, nomeadamente na relação de simetria entre Schaars e Elias. Desta vez, não vislumbrei o mesmo dilema, mas continuam a ver-se problemas de controlo de espaços e equilíbrio posicional, dentro do bloco. Nota-se uma intenção de agressividade pressionante dos médios, mas ainda com pouco critério ao nível desse comportamento. A agressividade é essencial, mas é-o também que existam prioridades na cobertura de zonas e uma noção colectiva dos comportamentos. Nomeadamente, em algumas circunstâncias notou-se um desguarnecimento da zona à frente da defesa, que culminou, por exemplo, nas acções de finalização de Zé Pedro, na segunda parte. Aqui, parece-me existir também uma perda de agressividade da linha defensiva, mais propensa a proteger-se da profundidade e aparentemente menos disponível para encurtar espaços, jogando alto e sendo pressionante dentro do bloco. Esta, aliás, parece-me ser a grande diferença entre aquilo que vemos hoje e que aconteceu na pré época, onde o posicionamento e atitude da linha defensiva parecia ser mais agressivo e pressionante.

- Depois, em transição ataque-defesa, nota igualmente para a importância da definição das prioridades do equilíbrio posicional na primeira linha de reacção à perda. Já havia escrito sobre isto no último jogo e é um aspecto a continuar a acompanhar, no entanto, queria abordar um aspecto especifico, que são as acções de rotura de Rinaudo. É excelente que o pivot possa ter essa capacidade (desde que decida bem, claro), fundamentalmente porque gera incerteza em quem defende. O ponto aqui vai para a necessidade deste comportamento ter uma correspondência ao nível do tal equilíbrio na primeira linha de reacção. Divagando um pouco, uma ideia poderia passar por ter menos gente à frente da linha da bola, atraindo a marcação para fora e dando mais liberdade a quem decide. De todo o modo, o que quero salientar é a importância de se englobar todas as acções num contexto colectivo, e que quem toma a decisão o faça não só em função do que pode extrair ofensivamente, mas que considere também o risco defensivo.

- Ofensivamente, a equipa combina já bem duas intenções do seu jogo, circular à largura num segundo momento ofensivo, ligando corredores, e promover boas situações de apoio na dinâmica das alas. O grande problema estará, continuo a acreditar, na primeira fase de construção, o que, a confirmar-se, poderá implicar duas coisas: a primeira, é uma maior dependência de um inicio de construção longa, usando o avançado como referência (escrevo mais sobre isto, a baixo...). A segunda, é a necessidade da equipa fazer do seu pressing um elemento decisivo para conseguir impor-se em certos jogos, não tendo de começar sucessivamente na construção. Este jogo foi um bom exemplo disso, com várias bolas a serem recuperadas.

- Antes de duas notas individuais, queria dizer algo sobre o Setúbal. É uma equipa que se destaca pela qualidade técnica do seu meio campo. Na verdade, não estou certo de que isso seja uma virtude. Pelo menos, na redundância de características dos seus médios. Defensivamente, é óbvio que a equipa tem vários problemas, quer ao nível da agressividade dentro do bloco, quer no próprio comportamento da linha defensiva, que baixa facilmente (no segundo golo, por exemplo, Wolfswinkel poderia ter sido colocado em fora de jogo, sem grande dificuldade). Mas, muitos dos problemas da equipa vêm do seu comportamento com bola. Quer em organização, quer em transição se verificam demasiadas perdas, que conduzem a desequilíbrios junto da própria baliza - neste jogo não faltam exemplos. Não escrevi sobre a visita ao Dragão, mas houve situações onde a equipa tinha possibilidade de potenciar situações de igualdade numérica sobre a última linha portista, na saída em transição, mas em que optou por voltar para trás, facilitando, não só a reorganização defensiva do adversário, como a própria recuperação de bola nos instantes subsequentes. No fundo, de que serve ter qualidade e maturidade para sair de zonas de pressão, se depois se permite que o adversário as volte a regenerar sucessivamente? De novo, a minha convicção de que deve ser sempre a bola, o meio, e o espaço, o objectivo, e não o contrário...

- Individualmente, primeiro Van Wolswinkel. A sua fase de concretização é muito boa, sem dúvida. Pessoalmente mantenho a avaliação que fiz no inicio de temporada, neste, como em todos os aspectos. Ou seja, no que respeita à capacidade de finalização, a sua qualidade técnica é forte, e com os dois pés, não é isso que está em causa. O problema que antecipei tem a ver com a sua necessidade em fugir de situações de maior contacto, o que nem sempre será possível. De todo o modo, neste aspecto (eficácia na finalização) não há muito a discutir e o tempo falará por si, quer confirmando os indícios que deixou no Utrecht (na minha leitura), quer confirmando o bom momento que indiscutivelmente atravessa. Para mim, neste plano, não há lugar a sofismas, no médio-longo prazo são os números que ditam lei. O que me motiva mais falar sobre Wolfswinkel, porém, tem a ver com outros aspectos, extra finalização. E, aqui, penso que realmente se revela uma mais valia. Quer pela mobilidade que tem, quer pela capacidade de trabalho defensivo e, sobretudo, pela enorme mais valia que vem oferecer em relação a Postiga ao nível da presença como referência para as primeiras bolas. Frequentemente é um aspecto subvalorizado, mas que tem, a meu ver, grande relevância, para as equipas que utilizam, nem que pontualmente, a saída longa como solução. Já agora, em relação às soluções do plantel para a posição (Bojinov e Rubio), e pelo que conheço, parece-me que Wolfswinkel é quem tem maior capacidade de dar amplitude ao seu jogo, seja na mobilidade que oferece em zonas exteriores, seja na intensidade defensiva. Neste ponto, Bojinov será o caso mais limitado, por não ter grande intensidade nas acções defensivas e necessitar, a meu ver, de estar confinado a acções em zonas mais centrais. Isto, apesar da ser talvez o melhor executante, entre os três.

- Finalmente, falar do jogo de pés de Rui Patrício. O seu momento de menor confiança passará inevitavelmente com o tempo, e a experiência ajudará igualmente o guarda redes a lidar cada vez melhor com estas fases. A questão é que o jogo de pés é mesmo indispensável para que possa atingir outros patamares. Hoje e, estou convicto, cada vez mais no futuro, os guarda redes têm de ser capazes de ser também uma solução para o jogo de posse da equipa. O Barcelona será o caso mais evidente, mas também o Manchester United e muitas outras equipas de topo utilizam esse recurso como parte integrante e importante do seu jogo. Em Portugal, o Porto também o faz com grande intenção e qualidade, com Helton, e o próprio Benfica tem tentado evoluir a esse nível. É normal e desejável que também o Sporting o faça (parece-me que tem tentado trabalhar esse aspecto, e daí, talvez, a maior pressão sobre Patrício), mas, sobretudo para a carreira do próprio guarda redes, é decisivo que consiga evoluir a esse nível.

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26.9.11

Porto - Benfica: opinião

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- Escrevi sobre o assunto aqui, e não é tema novo nestes clássicos. Parece-me, de facto, que o jogo teve um percurso mais equilibrado do que as reacções finais sugeriram, que não houve grandes mudanças do ponto de vista daquilo que as substituições acrescentaram ou retiram à tendência do jogo, e que, apesar do jogo não ter sido de facto sempre igual, são os golos, e os resultados parciais das duas metades do jogo, que mais induzem tais conclusões finais.

- O Porto foi realmente mais forte na primeira parte. Teve mais bola e mais domínio territorial, mas, para além do golo de bola parada, apenas por 1 vez conseguiu traduzir esse ascendente em proximidade real com o golo, pelo que a primeira ressalva a fazer em relação aos primeiros 45 minutos, é que, apesar do domínio territorial, nunca houve uma ameaça constante ao controlo defensivo do Benfica.


- Porquê que o Porto foi melhor na primeira parte? A minha opinião centra-se fundamentalmente na diferença de resposta das equipas na primeira fase de construção. Primeiro, o Benfica nunca jogou, e essa será, talvez, a principal parte da resposta. Em construção, o Porto condicionou sempre bem o lado de saída da bola (normalmente a esquerda, com Garay), e a ligação do primeiro passe foi sempre muito difícil, retirando possibilidade de chegar sustentadamente ao último terço, com bola. O recurso às saídas directas para Cardozo, acabaram por ser as melhores soluções para este momento, nesta fase do jogo, mas mesmo essas não tiveram grande sucesso. Depois, e ainda no Benfica, parece-me importante a falta de capacidade da equipa na resposta em transição defesa-ataque. Pareceu-me haver uma exagerada tentativa de verticalizar, o que não permitiu à equipa ter o melhor critério, acabando por não sair da teia territorial montada pelo Porto. Há, aqui, um jogador que poderia ter sido melhor aproveitado, que é Witsel. Teve uma percentagem de sequência em posse que rondou os 90%, o que é extraordinário num jogo destes e para um jogador que actua em zonas interiores. A sua “imunidade” ao pressing poderia ter dado mais critério à posse do Benfica, ajudando a equipa a sair da tal teia territorial em que se viu metida. O belga tem também alguma culpa na sua menor presença, porque não é um jogador que trabalhe especialmente bem a criação de soluções de apoio.

- Relativamente ao Porto, e à sua construção, há também aspectos muito interessantes a explorar. A equipa preferiu sempre o corredor esquerdo para sair. Seria estratégico? É possível. O facto é que era pelo lado esquerdo que existia uma "nuance" a explorar, porque, mesmo com Witsel mais próximo de Javi, o Benfica tinha uma diferença numérica na zona central, uma vez que Aimar pressionava na mesma linha de Cardozo. Ou seja, com a presença de Aimar na primeira linha, Witsel e Javi ficavam com Moutinho, Guarin e Fernando na sua zona. O que sucedeu? Witsel foi o protagonista da aproximação à zona de Fernando, havendo a possibilidade de explorar o espaço que ficava nas suas costas. A verdade, é que apesar do Porto ter saído pelo lado esquerdo, de ter atraído esse movimento do médio belga, nunca conseguiu tirar partido dessa vantagem. Em particular, há que destacar o papel de Álvaro Pereira e a sua baixíssima percentagem de sucesso na ligação em construção (perdeu 22 das 49 tentativas, em organização ofensiva), destacando-se aqui, claro, a tentativa falhada de potenciar Hulk através de ligações mais directas. O camisola 12 revelou-se até bem inspirado, se pensarmos, por exemplo, que das poucas ligações bem feitas que lhe chegaram resultou a melhor ocasião de golo da equipa, posteriormente desperdiçada por Fucile. Nunca saberemos o que sucederia se Hulk tivesse sido solicitado de outra forma, mas sabemos que, assim, Emerson se tornou no elemento defensivamente mais dominador no jogo, ganhando 24 duelos em organização.

- E a segunda parte? Bom, é verdade que houve uma perda de qualidade do Porto, sobretudo, a meu ver, em organização defensiva, onde deixou de condicionar tão bem a saída de bola do Benfica, facilitando depois a sequência após o primeiro passe. Mas, aqui, há também que considerar o impacto emocional do inicio louco, com 2 golos num espaço de tempo muito curto. De todo o modo, tal como o Porto não fora especialmente ameaçador na primeira parte, apesar do domínio territorial, também na segunda o Benfica não o foi, desperdiçando apenas uma oportunidade de golo, num lance que resulta de uma saída rápida, após canto no lado oposto do campo. Conseguiu, sim, dividir o domínio territorial e a posse, mas não muito mais do que isso. Do lado do Porto, e para além da tal oscilação na resposta em organização defensiva, houve também uma perda de lucidez na saída de bola, contribuindo assim também para a maior capacidade do Benfica em dividir o jogo (apesar de não o ter referido, há um mérito óbvio da qualidade do jogo do Benfica).

- Sobre as substituições, de facto, não creio que tenham sido a chave do jogo (do ponto de vista do balanceamento, porque há o evidente impacto do momento de inspiração de Saviola). Do lado do Porto, talvez se justificasse uma saída de Varela mais cedo, mas vejo como normal a opção de Belluschi por Guarin, até porque não a entendo minimamente como uma substituição de risco, ou, como se sabe, que Belluschi ofereça pior resposta defensiva. Para refrescar o trio de meio campo, teria de ser seguramente por Guarin. Do mesmo modo, do lado do Benfica não entendo ter havido grande impacto nas trocas realizadas. Bruno César teve o mérito de oferecer mais soluções de saída ao primeiro passe de construção, coisa que Nolito não faz com qualidade, e se é possível dizer que isso acrescentou alguns problemas de controlo à linha média do Porto, não creio que tenha sido suficiente para ser considerado decisivo. Decisivos, foram, isso sim, os detalhes...

- Finalmente, sobre os pormenores nos lances decisivos. No primeiro golo, o desencontro de estatura entre Maxi e Kléber, numa tentativa que me parece intencional de potenciar esse desequilíbrio na zona defensiva. No segundo golo portista, a minha nota vai para o facto de Emerson não ter saído para deixar Varela em fora de jogo. É um comportamento previsto na zona defensiva encarnada e, parece-me, poderia ter sido fácil conseguir, uma vez que a linha defensiva tinha o controlo visual completo sobre o posicionamento de Varela. Algo que, com alguma probabilidade, Jesus não terá gostado de ver. Finalmente, nos golos do Benfica, por 2 vezes os laterais aparecem demasiado distantes do central mais próximo. Também o Porto costuma dar grande ênfase a este espaço, pelo que se torna menos tolerável o erro num contexto tão decisivo e, em ambos os casos, em situações de vantagem, onde qualquer risco não se justificava. Os jogos grandes são, pelo equilíbrio que normalmente implicam, muito dependentes destes detalhes, e esta não foi uma excepção.


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21.9.11

Rio Ave - Sporting: opinião

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- E, de novo, permanece a curiosidade em torno do trajecto do Sporting no campeonato. Particularmente, o contraste dos níveis de eficácia ofensiva, das primeiras 2 jornadas para as 2 mais recentes, é quase radical. Tudo somado, temos um registo de eficácia ofensiva acumulada já dentro dos parâmetros normais e superior ao da própria equipa na época anterior, por exemplo. O problema, ao nível dos indicadores de performance, centra-se agora a 2 níveis. Primeiro, e talvez mais importante, deve preocupar a perda de capacidade para criar um maior número de desequilíbrios e, do outro lado do campo, a enorme percentagem de eficácia das equipas contrárias, que se encontra em níveis insustentáveis (O Sporting sofreu 1 golo a cada 1,75 oportunidades dos seus adversários, contra 1 em 2,2 do Benfica - também elevado - e 1 em 3,7 do Porto).

- Relativamente ao jogo, há vários aspectos a abordar, mas vou começar pelos mais positivos, a dinâmica nos corredores e a transição defesa-ataque. Relativamente aos corredores, o problema destacado após o jogo de Paços de Ferreira, das dinâmicas restritas a 2 jogadores, foi claramente corrigido, com Schaars a aproximar-se mais de Insua e Capel, e, do outro lado, Elias a fazer o mesmo. Aliás, o corredor direito promete muito com este papel do brasileiro. A direita foi, outra vez mas melhor, o "motor" da equipa, e falta-lhe apenas alguma melhor definição e acréscimo de criatividade quando chega próximo da área. Não tenho dúvidas de que vai surgir em breve. O outro ponto, a transição defesa-ataque, foi novidade até porque anteriormente o tipo de jogos não havia permitido a exploração desse momento. De novo, Elias teve um impacto muito positivo neste plano. São dois pontos relevantes.

- Agora, os problemas. Em organização defensiva, parece-me haver alguma indefinição no papel dos médios, na pressão sobre a construção contrária. A equipa aproxima o médio interior direito (Elias e, depois, André Santos) do avançado, num comportamento próximo do que é característico no 4-2-3-1. Mas é Schaars quem sai sobre a bola do lado esquerdo, ficando Rinaudo "entrelinhas". Ou seja, quando, Schaars faz este movimento e a bola volta ao central do lado oposto, Elias fica longe da jogada (por estar próximo de Wolswinkel) e é Rinaudo quem tem de se aproximar, abrindo o espaço nas suas costas. Este não foi um problema com consequências no jogo, até porque esta variação do ponto de saída de bola, por parte do Rio Ave, raramente existiu. É apenas um pormenor de observação, faltando-me perceber a sua origem, se é intencional ou se foi apenas pontual. De todo o modo, parece-me claro que há a necessidade de clarificar os papeis dos médios neste momento (organização defensiva), e em várias fases. Por exemplo, vemos pontualmente jogadores (Rinaudo e Schaars) a fazer acções de pressão instintivas, que acabam por conduzir o adversário no sentido contrário ao interesse colectivo. Não creio que seja essa a intenção. Outra questão é o porquê do Sporting ter deixado de definir zonas de pressão mais altas? Não estou a discutir se o deve ou não fazer, apenas a questionar-me sobre a relação entre o bloco médio-baixo que vemos e a tal indefinição que ainda me parece existir no papel dos médios perante a construção contrária. É que para pressionar mais alto, é preciso ter claro quais os jogadores que se juntam avançado na primeira linha. Enfim, também pode ser estratégico...

- Outro ponto, e aqui entro naqueles que me pareceram os motivos para o menor domínio do Sporting em boa parte do jogo, tem a ver com a construção. É muito difícil o Sporting ter uma boa circulação baixa com os centrais que tem. Por exemplo, com Polga a bola raramente entrava directamente no lateral, com Onyewu, entra quase sempre. Qual é o problema? Com esta dependência, facilmente o adversário anula as soluções de passe na primeira linha (4 jogadores), com apenas 2 unidades, podendo depois fechar o campo no corredor. Ao Sporting, valeu o bom jogo de posse dos jogadores desse lado (direito), mas foi ainda assim limitativo. Não só a equipa foi incapaz de usar a circulação como forma de gerir o jogo, como esse factor condicionou outro momento, o da transição ataque-defesa, quando a bola não entrava no último terço...

- Sobre a transição ataque-defesa, volto aos médios, e a um em particular, Schaars. A amplitude de acção que é exigida à sua posição é enorme. Tem de dar apoio ao corredor, de oferecer soluções de passe ao centro, de fazer movimentos de profundidade e de aparecer ao lado do avançado para finalizar. Mas tem, também, de defender. Mais difícil do que saber o que fazer, é ser-se capaz de fazer tanta coisa, e Schaars tem problemas evidentes ao nível da resposta defensiva, e o seu papel não pode ser o mesmo de Elias, por exemplo. Não estou, obviamente, a colocar todas as responsabilidades nos ombros do holandês, mas parece-me um caso que deve ser melhor considerado, nomeadamente a gestão das acções ofensivas dos médios e o consequente equilíbrio em transição. O facto é que o Sporting teve alguns problemas para controlar este momento, quando a perda acontecia à entrada do último terço, em zonas onde são os médios/extremos a fazer a primeira reacção. Claro, também contribuiu o amarelo a Rinaudo, que impediu o argentino de manter a mesma agressividade na contenção, a partir desse momento. Ainda assim, e como sempre, o argentino voltou a estar fantástico na resposta dada a este nível.

- Finalmente, comentar dois casos individuais, Rui Patrício e Onyewu. O guarda redes teve um jogo horrível e grande parte da reacção do Rio Ave deve-se a ele. Porque foi de um erro seu que saiu o primeiro motivo de crença para os vilacondenses, numa saída aérea desastrada, e porque o 1-2 é decisivo para o crescimento motivacional do Rio Ave, sendo um golo absolutamente proibitivo de sofrer. Os problemas a outros níveis não têm a ver com ele, obviamente, mas o guarda redes é decisivo na definição dos resultados e a tal diferença de eficácia defensiva para os rivais não pode ser dissociada da má fase de Patrício neste inicio de temporada. Sobre Onyewu, é um caso interessante... Estamos perante um jogador que, a meu ver claramente, não tem qualidade para jogar a este nível, nos 4 momentos tácticos do jogo, sendo uma condicionante óbvia tê-lo em campo. Mas... e as bolas paradas? O Sporting tem um histórico terrível neste detalhe, quer no plano ofensivo, quer no plano defensivo, e o americano tem-se revelado uma mais valia clara a esse nível. 5 das 12 intervenções defensivas em lances desse género, foram dele, e em 2 jogos igualou o registo acumulado de golos na Liga de Polga e Carriço. Juntos e em mais de 250 jogos! Se fosse Andebol, tinha solução, assim, é mais difícil...
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20.9.11

Benfica - Académica: opinião

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- Vou começar pelo fim, e pelo jogo de Sexta Feira. Desta vez, será mais claro o que irá fazer Jesus em termos de estrutura, mas restam algumas dúvidas no que respeita à estratégia. Irá assumir um jogo de construção, ou usar Cardozo, para diminuir o risco de perda perante o pressing contrário? Do mesmo modo, questiono-me sobre se da parte do Porto haverá uma estratégia especifica, se tentará condicionar o lado de saída da bola do adversário, por exemplo? Enfim, alguns pontos de interesse para um clássico que já não tarda. Mais uma vez, uma nota importante para o lado mental. Recuperar dois pontos em "cima" do jogo pode ser benéfico para o Benfica, mas o grande obstáculo mental está longe de ter a ver com a época em curso. É muito mais profundo do que isso...

- Sobre o jogo, começo por falar da característica algo invulgar a que o jogo foi forçado. Menos passes, menos certeza em posse, menos circulação, do que é habitual. Porquê? Tem a ver com aquilo que a Académica se propõe fazer. É uma equipa que tenta condicionar o jogo adversário pelo encurtamento de espaços através de uma postura agressiva (subida) da sua linha mais recuada. Neste cenário, o jogo definir-se-ia em dois sentidos possíveis: ou com muito risco para o Benfica, caso a entrada no bloco 'estudante' não fosse bem conseguida, ou grandes dificuldades de controlo nas costas da defesa, caso o Benfica conseguisse sair em boas condições do primeiro passe vertical. Claramente, foi o segundo caso que se constatou. O porquê, a divisão entre mérito e demérito, é que será mais discutível...

- Primeiro, há obviamente grande mérito na circulação do Benfica, com Garay a ganhar grande protagonismo, e pela positiva, no papel que teve no primeiro passe. Mas, também Bruno César protagonizou movimentos muito bem conseguidos, que permitiram combinar bem com Emerson, ao longo do corredor esquerdo. E foi assim, fundamentalmente, que o Benfica se aproximou do golo na primeira parte, surgindo o invulgar dado de não termos qualquer ocasião encarnada através dos lances de bola parada. Uma raridade, especialmente nos jogos da Luz.

- Mas, do lado da Académica, também há lugar a alguns reparos, ressalvando-se obviamente o contexto e grau de dificuldade que tinha pela frente. Nomeadamente, parece-me que não houve capacidade para ser pressionante sobre o primeiro jogador que recebia o passe de penetração, permitindo que este pudesse enquadrar e controlar o tempo sobre o segundo passe. Ora, com uma defesa tão alta, isto iria implicar uma dificuldade de controlo sobre o espaço que estrategicamente era oferecido nas costas. Aqui, parece-me importante a reactividade e capacidade de antecipação que os jogadores dentro do bloco não tiveram, mas também o descontrolo sobre o ponto de saída de construção do Benfica. Isto, porque se a bola circula lateralmente antes do primeiro passe, será sempre mais difícil estar perto do receptor, quando não foi ainda feito o ajuste posicional à largura. Nomeadamente, à esquerda Emerson pareceu receber sempre com bastante liberdade e com condições para ameaçar a profundidade. Na segunda parte, a Académica melhorou neste plano, conseguiu controlar muito melhor o Benfica neste momento, acabando no entanto por ter de se expor progressivamente, em função do resultado.

- Ainda na Académica, é uma equipa interessante, que apresenta, provavelmente, a postura posicional com mais exposição da Liga (novamente, altura da linha defensiva). Interessante foi o movimento do golo, com o extremo a vir para dentro e a encontrar o médio oposto, no espaço "entrelinhas". Parece-me muito claro que é um movimento intencional da equipa, o que não espanta tendo em conta a proveniência do seu treinador.

- Relativamente ao Benfica, uma nota para o papel dos seus extremos. De facto, uma grande variedade de soluções, todas com boa capacidade de trabalho e uma enorme facilidade para decidir, seja finalizando (Nolito e Bruno César), seja assistindo (Gaitan). Não é por acaso que "ter golo" se paga no mercado, é que vale mesmo muito. Resta Perez, que também tem muita qualidade, mas que tem uma característica algo diferente destes, sendo fundamentalmente mais consistente em zonas interiores e distantes da baliza.

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19.9.11

Feirense - Porto: opinião

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- Começo com uma pequena reflexão, que é aquela que mais me sobra da exibição portista... A natureza complexa do futebol torna muito difícil podermos ser concretos e objectivos sobre a utilidade de várias coisas. Normalmente, usamos a percepção, forçamos relações de causalidade, mas, também, recorremos com frequência a regras, pequenos dogmas, sobre o que é "jogar bem", sem que, de facto, tenhamos certezas objectivas sobre essas considerações. No caso do Porto, há várias perguntas a sobressair do que se viu em Aveiro, numa exibição que, muito claramente, foi intencionalmente arrojada na inovação em relação àquilo que foram comportamentos e rotinas de jogo desta equipa, ao longo dos últimos 15 meses:

 Qual a utilidade real do exacerbar dos movimentos interiores de James? Será benéfico fazer a equipa orientar-se de forma tão marcada para o corredor central, e espaço "entrelinhas"? O "falso 9", que efeitos práticos realmente tem? Qual o impacto da perda de um elemento deliberadamente mais posicional ao nível dos equilíbrios na zona mais recuada?

... tudo isto me faz voltar a sublinhar a necessidade da centralização na dúvida como método, e no objectivo do jogo, o golo, como único foco fundamental para o que é, ou não, "jogar bem". E, se nos centrarmos na dúvida, facilmente concluímos que pode ser um risco a aceleração de um processo de inovação sobre uma equipa que, com grande certeza, vinha sendo muito competente.


- Entrando no campo mais específico, há algo de estranho no que se observou. Vitor Pereira abdicou do médio posicional, entre Fernando e Souza, escolheu Moutinho, e a equipa tirou frutos dessa situação. Tirou frutos, porque conseguiu aquilo que raramente se vê, que é construir com segurança pelo corredor central. Não teve de ligar com os extremos, ou sair pelos laterais. Não, a dinâmica dos três médios chegava para fazer a bola chegar, com elevada fluidez, à segunda linha de construção. O "estranho", é que este factor costuma ser suficiente para vermos as equipas encurralar territorialmente os adversários e, inevitavelmente, ir acumulando ocasiões de golo. Ora, o Porto, na primeira parte, teve 1 ocasião. Ou seja, algo de errado se passou no "assalto" à área do Feirense. O que se viu foi uma grande confluência de jogadores no corredor central. James nunca abriu, e jogou mesmo como elemento livre, aproximando-se de Kleber, ou indo mesmo para próximo de Cristian Rodriguez. Por outro lado, esta centralização do extremo não teve complemento em termos de largura. Tanto os médios permaneceram centrados nas dinâmicas interiores, como os próprios laterais fizeram frequentemente movimentos por dentro. Ora, e mantendo-me no campo da dúvida, não é certo ou impossível que esta centralização sobre o corredor central torne as coisas mais difíceis. Pode haver uma grande capacidade especifica de criar soluções de rotura dentro destes comportamentos. Pode, mas não é, em teoria, muito provável. Centralizar as acções é diminuir o campo de ataque, reduzir espaços e, logicamente, tornar mais fácil a tarefa de quem defende. E foi precisamente isso que aconteceu...

- Sobre James, o protagonista principal deste processo de centralização do jogo, entendo que, de facto, pode e deve ser potenciado pela sua capacidade em posse, mas que isso não deve acontecer em terrenos muito próximos do avançado. Porque, a sua presença mais constante nesse espaço retira imprevisibilidade à exploração do espaço "entrelinhas", e porque para o próprio se torna mais difícil executar a partir de espaços tão fechados. Ou seja, o que me parece é que a sua especificidade pode ser útil para criar focos de atracção em zonas mais baixas (sobretudo quando joga à direita), mas que a sua qualidade é também potenciada em acções mais à largura (sobretudo à esquerda).

- Na segunda parte, o jogo alterou-se ligeiramente. O Porto piorou na sua construção, tornou-se mais ansioso e cometeu mais erros, mas também se aproximou mais do golo, fundamentalmente porque teve mais largura, e porque foi mais reactivo às incidências do jogo, aproveitando pequenos momentos de desorganização no adversário. Mas também se expôs em demasia, nomeadamente apresentando-se mais desorganizado e invulgarmente desequilibrado na recta final do jogo. Aqui, uma reflexão para notar a importância de ter um elemento mais posicional no meio campo. A mobilidade dos médios trouxe benefícios em termos de dinâmica de construção, mas fez com que se perdesse também essa noção constante da necessidade de manter equilíbrios junto da última linha. O Porto não sofreu, mas dificilmente manterá esse registo defensivo se repetir alguns erros. Nota, ainda no mesmo âmbito, para o efeito das sucessivas alterações estruturais na segunda parte. É um risco que se vê frequentemente, que se percebe, mas que raramente é um risco verdadeiramente calculado. Mexer muito, destrói referências, distorce tendências e acrescenta ruído. O ideal, é controlar tendências e não ficar vulnerável ao ruído.

- Sobre o "falso 9", protagonizado na segunda parte por James, importa também reflectir. O futebol tem mais de 100 anos e, ao longo desse tempo, os finalizadores tiveram sempre uma relação estreita com o sucesso colectivo. Parece-me perigoso desvalorizar repentinamente a relevância dessa função sem uma forte base de sustentação. O exemplo que inspira esta iniciativa, todos sabemos, é o do Barcelona. Mas, no Barcelona, para além da excelência técnica dos seus intervenientes, há uma enormidade de movimentos que potenciam a fase de finalização. Movimentos muito difíceis de repetir, mas que acabam por fazer com que o "falso 9" (Messi) marque 30% dos golos da equipa. Ou seja, na prática, jogue mais à frente ou mais atrás, o finalizador mantém-se. Talvez seja mais realista, neste processo de inspiração, olhar para a Roma, que tem uma excelente fase de construção, um "falso 9" (Totti), mas fez apenas 2 golos em 4 jogos oficiais. Ou seja, parece-me uma solução possível mas de enquadramento muito complicado, sobretudo quando não está Hulk.

- Finalmente, sobre o Feirense, curiosamente não destaco muito os méritos defensivos da equipa, porque não  me pareceu muito capaz de filtrar a construção portista, o que, normalmente, ser-lhe-ia fatal. Mas destaco as boas combinações no flanco direito, colocando por vezes 4 jogadores nesse processo e construindo muito boas situações de cruzamento. Outra nota, para as situações de transição a partir de lances de bola parada defensiva. É outro tema em que se invocam frequentemente certezas onde elas não existem: é melhor defender zona ou homem a homem? Uma resposta generalizável, ninguém tem. O que se conhecem são as potencialidades que cada método oferece e, entre elas, está a possibilidade de, defendo hxh, deixar mais gente na frente. Foi a partir dessa característica que o Feirense se aventurou até à sua melhor ocasião no jogo. Nota para Rabiola, que justifica acompanhamento (Mangala que o diga...).

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14.9.11

Benfica - Man Utd (breves)

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Estes jogos têm um interesse especial porque permitem cruzar realidades que nos habituamos a observar, mas que evoluem em contextos paralelos. Já havia escrito sobre a ameaça que podia representar o tipo de movimentos de construção do United, mas o Benfica reagiu muito bem para a situação, com Jesus a preparar estrategicamente essa circunstância, destacando os papeis de Witsel, Aimar e Amorim. Em particular, fica-me a dúvida se, sem Aimar, a equipa poderia ter conseguido tão boa resposta perante a construção dos ingleses. A outro nível, também se percebeu a preocupação da linha média em auxiliar a zona central nas situações de cruzamento, uma vez que o Manchester tem como outro ponto forte a capacidade de fazer aparecer muita gente em zona de finalização. Pena o golo de Giggs, porque já se antecipava que houvesse mais dificuldades de controlo na segunda parte. Não apenas pelo potencial que havia no banco, mas porque, como se confirmou, o United iria seguramente construir de outra forma após o intervalo.

Outra nota, tem a ver com a capacidade de adaptação de Ferguson. Incrível como este United, com orientações de jogo tão actuais, tem o mesmo treinador há 25 anos. Este sim, é o maior exemplo a seguir. Porque acreditar no seu próprio trabalho, todos acreditam. Encontrar quem saiba duvidar, é que é mais difícil. E é por isso, por ter sabido duvidar, que foi sempre evoluindo.

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13.9.11

Paços - Sporting: opinião

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- Começo pela ironia do futebol... Este foi o jogo, para o campeonato, em que o Sporting menos se aproximou do golo, mas aquele em que mais marcou. A questão da eficácia, já o tinha escrito, vinha sendo excepcionalmente baixa. Do mesmo modo, desta vez foi mais alta do que é normal. Ou seja, da mesma forma que, conseguindo o ascendente e as oportunidades que conseguiu nos 2 primeiros jogos, o Sporting iria (e irá, se o repetir) inevitavelmente ganhar, se voltar a repetir as dificuldades que sentiu na Mata Real para ser objectivo, dificilmente o fará. Para já, a vitória, mesmo com vários pontos a reflectir, traz uma novidade importante: alguma confiança.

- Relativamente ao jogo, passo primeiro pelos aspectos defensivos. É outra tendência negativa, mas que, ao contrário da eficácia, se vem acentuando com o decorrer da época. Estou a falar da propensão para o desastre. Vejamos bem este jogo... Foi o jogo com maior domínio de posse de bola que qualquer equipa teve na liga, o Paços praticamente não atacou em organização, e pouquíssimas vezes foi capaz de estender no campo, em transição. Ainda assim, conseguiu... 2 golos e 5 ocasiões. Tantas como o Sporting. Entre estas, só 1 não nasce de um "tiro no pé" do Sporting, a finalização de Michel depois de tirar Rodriguez, já depois do 2-0. De resto, para além dos 2 golos, o Paços teve mais 2 ocasiões, sempre por Michel, ambas resultantes de maus alívios de defensores, em situações que poderiam e deveriam ter sido facilmente evitadas.

- Já agora, aproveito o ponto anterior para abordar o Paços: dificilmente o Sporting terá um adversário tão débil no que resta da época. Quem tem Michel na última linha e tanto espaço para o lançar, arrisca-se sempre a marcar, mas, fora o seu avançado e as ofertas do Sporting, o Paços foi inexistente, limitando-se a defender muito baixo e aproveitar a incapacidade do Sporting no último terço. Por exemplo, não é uma expulsão que pode justificar tão rápido descalabro a partir de um resultado de 2-0...

- Voltando ao Sporting, a grande reflexão deste jogo vem, claramente, do que a equipa fez (ou não fez) no último terço. Construir foi fácil, a equipa ligou bem corredores, mas limitou-se a tentar entrar pelas alas e com dinâmicas restritas a 2 jogadores. Não é a primeira vez que escrevo sobre isto, mas o Sporting parece precisar de ser capaz de incluir pelo menos mais um jogador nestas acções, sob pena de estar permanentemente a convergir para cruzamentos largos, fáceis de defender, e sem qualquer ajuste às características dos seus jogadores. Foi isso que se viu repetidamente durante grande parte do jogo, e daí tão pouca produtividade para tanto domínio. Embora não tenha sido o caso, dada a pouca capacidade do Paços em construir fosse o que fosse, a verdade é que estas situações de apenas 2 jogadores na zona da bola são também um problema potencial para o controlo da transição ataque-defesa, em caso de perda, já que há pouca presença na zona da bola. Um exemplo do que pode ganhar o Sporting com a inclusão de pelo menos 1 jogador nestas dinâmicas, vem do lance que deu origem à expulsão, com Rubio a juntar-se a João Pereira e Izmailov. Na primeira parte, nunca aconteceu...

- Não havendo muito mais para tratar, num jogo quase absolutamente monocórdico, parto para algumas características individuais. Sobre Bojinov, dizer que é no corredor central e nas acções perto da área que melhor se sente. Não é, nem rápido, nem forte nos duelos aéreos para ser solução perante o tipo de jogo que lhe foi proporcionado, mas é muito inteligente e bom executante em zona frontal. Um exemplo? O lance em que isola Elias na primeira parte, numa das pouquíssimas vezes em que o Sporting entrou pelo meio. Sobre Elias, referir que, sem surpresa, o Sporting ganha muito com este jogador. É, finalmente, um médio à medida do que o Sporting precisa para aquele sector, seguro em posse, agressivo defensivamente, e com grande capacidade de movimentos verticais. Se Domingos encontrar equilíbrio entre ele e Rinaudo, poderá bem jogar apenas com os 2. Sobre o argentino, é difícil adjectivar sobre a dimensão e o impacto da sua presença (continuo a não perceber como passou 2 jogos no banco!!). Pereirinha esteve bem, não creio que excepcionalmente bem, mas bem, dentro do valor real que tem. Acabou por ser vitima da tal pouca presença no seu corredor, e do estatuto, porque não estava a dar menos do que Capel. Aliás, o espanhol é um problema para Domingos, que deverá encontrar formas de potenciar melhor o seu futebol e evitar tanta tendência para o transporte de bola, sem que isso tenha uma consequência prevista. De resto, não concordo com a dimensão das criticas a Rodriguez nos aspectos defensivos, e parece-me óbvio que o Sporting terá de repensar a sua construção se insistir nesta dupla, porque é muito fraca a sair a jogar. O Paços ignorou isso, mas outros seguramente que não o farão...
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12.9.11

Benfica - Guimarães: opinião

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- Talvez o ponto mais interessante do jogo, do ponto de vista do Benfica, tenha sido a troca de Aimar por Saviola. Não porque seja "interessante" ver Aimar no banco, mas porque permitiu estabelecer diferenças. Em primeiro lugar, do ponto de vista dos comportamentos, pareceu-me haver uma diferença entre o posicionamento em organização defensiva. Witsel, que vinha pressionando na mesma linha de Javi, desta vez defendeu mais à frente, num posicionamento semelhante ao de Aimar, no 4-2-3-1 que marcou grande parte da "era Jesus". Essa foi a primeira diferença, embora tenha sido pouco relevante, porque o Vitória, estrategicamente, raramente construiu a partir de zonas baixas, preferindo iniciar os lances de forma directa

- Aproveitando a deixa, passo para aquilo que o Vitória fez. Ou tentou fazer, para ser mais correcto. A ideia passou, parece-me, por forçar que todas as jogadas, começassem elas do seu lado, ou do lado do Benfica, se iniciassem com um pontapé longo. Não surpreende a tentativa, já que com o Paços sempre foi essa a estratégia de Rui Vitória, trazer ruído ao inicio das jogadas. Faz todo o sentido, diga-se, frente a equipas tecnicamente mais fortes. Mas, ao Vitória, e ao porquê de entender que as suas intenções não foram bem sucedidas, voltarei mais à frente...

- Regressando ao Benfica, e passando agora ao momento de organização ofensiva. Jesus criticou o desempenho da equipa, apontando responsabilidades para Witsel, mas creio que foi injusto na sua apreciação. O Benfica trabalhou bem o ponto de saída e conseguiu, apesar dos esforços do Vitória para o evitar, criar boas condições para um primeiro passe de entrada no bloco contrário. De novo, e tal como o fiz em análises a jogos recentes, passo a estabelecer diferenças entre corredores. Do lado esquerdo, mais dificuldades. As dificuldades já identificadas, no fundo, que têm a ver com as diferenças de perfil dos diversos jogadores, para mais quase todos novos do lado esquerdo. Do lado direito, uma importância crescente dada à capacidade de rompimento de Maxi ao longo do corredor, notando-se também uma importância crescente dos movimentos interiores de Gaitan, reflectida uma maior frequência da ligação entre Luisão e o argentino, no primeiro passe. Finalmente - e aqui vem a grande diferença, a meu ver - o corredor central. Witsel não é um jogador de movimentos bruscos, que permitam abrir repentinamente metros para receber a bola, em construção. Nem, tão pouco, é um jogador com apetência para esse trabalho. A sua boa capacidade vem da aptidão para jogar sob pressão e para oferecer apoios com qualidade ao longo do processo ofensivo, e seja em que zona for. Ora, com Aimar, há uma movimentação mais ampla, com o 10 a procurar zonas mais recuadas e a conseguir complementaridade com Witsel, retirando o melhor do belga, e soltando-o para as acções sem bola, onde também é muito forte. Com Saviola, os movimentos tiveram uma amplitude mais curta, e restrita ao último terço, não havendo complementaridade com Witsel. Ou seja, o Benfica encontrou situações para ter um bom primeiro passe de construção (já volto a isto...), mas a única solução de ligação que encontrou foram as acções de Maxi e Gaitan, no corredor direito, levando a equipa para zonas demasiado laterais, e acabando dependente das situações de bola parada que conseguisse conquistar...

- Voltando mais atrás na construção, à criação de condições para o primeiro passe. Pareceu-me que o Vitória tentou o que entendo poder vir a ser uma estratégia óbvia: fechar o Benfica no seu corredor esquerdo. Não o conseguiu, porque a sua pressão lateral nunca foi capaz de controlar, em simultâneo as linhas de passe para Javi e Luisão. Aqui, parece-me que Javi pode ser um bom isco para quem pressiona o Benfica de forma lateral. O espanhol tem bastante dificuldade neste momento do jogo, e facilmente é levado a fechar os apoios, impedindo que a bola saia do corredor. Com uma presença especulativa na sua zona, é possível que Javi se sinta constrangido a fechar o jogo e não seja uma solução para inverter o ponto de saída do jogo. Interessante, quer sobre isto, quer sobre a forma como a equipa pressiona, será o teste frente ao Manchester. Se o Benfica pressionar em 3 linhas, poderá ter dificuldades com os movimentos de Anderson, na saída, e Rooney, "entrelinhas", porque os ingleses estão mais do que habituados a criar anticorpos para esse tipo de atitude pressionante. A verificar...

- Antes do Vitória, 2 notas individuais. A primeira para Cardozo. Participa pouco e normalmente de forma inconsequente, é verdade. Esta questão dos avançados, e da sua utilidade para além da finalização, tem sido algo a que venho prestando grande atenção. No caso de Cardozo, há algo que o torna extremamente útil, por serem acções potencialmente decisivas: a presença que tem na área, nos vários lançamentos laterais que a equipa conquistou. Depois, e de novo, Witsel, mas agora para falar do seu desempenho em termos de controlo das primeiras bolas. É mais uma mais valia que o belga acrescenta, porque o Vitória tentou, penso que intencionalmente, tirar a bola da zona de Javi/Luisão... Witsel, se não as ganhou todas, foi porque me escapou alguma. Já agora, neste plano, há que realçar as dificuldades de Garay, muito mal batido (ele e Artur, claro) no lance do golo.

- Finalmente, sobre o Vitória, referir que não me parece ter feito um bom jogo, e que acabou por ser feliz em discutir o resultado até final. Não é difícil projectar um crescimento grande desta equipa, que terá boas condições para fazer um campeonato melhor do que na época anterior. Porque Rui Vitória deverá fazer evoluir a equipa para outros desempenhos ao nível do pressing e transição (relativamente ao que se viu neste jogo), e porque tem Nuno Assis, Urreta, Pedro Mendes e Soudani(?) ainda na porta de entrada da equipa. É curioso o perfil de alguns jogadores desta equipa, que reflectem o tipo de abordagem ao mercado que foi escolhida. Faouzi, Barrientos e N'Diaye são, todos, jogadores de excelentes características brutas, mas sem o 'pedigree' que serem mais valias a este nível. Se haverá margem para lhes dar essa evolução, não sei, mas sei que, assim, tê-los em campo é sempre um acréscimo de descontrolo e imprevisibilidade, em todos os sentidos...
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7.9.11

Leiria - Porto: opinião

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- Jogar num campo tão irregular devia ser uma condicionante tremenda para o Porto. Porque, como assume, é pela posse que se gosta de impor, mas, também, porque é na condução em velocidade que o seu elemento mais desequilibrador, Hulk, mais se torna difícil de controlar. Devia, mas não foi. Estranhamente, não foi. O Porto acabou por se impor em organização, apenas depois do 1-3, mas não sem que, nesse período de espera, tivesse sido esmagador no que mais deve contar na avaliação das equipas: a proximidade com o golo. E porquê? Simplesmente, porque houve um diferencial enorme naquilo que ambas as equipas fizeram no momento de transição. Há, nesta perspectiva, e na minha opinião, um grande demérito do Leiria. Tentar discutir o domínio territorial, quando se pode jogar com o espaço e com o estado do relvado?! Tenho para mim que qualquer ideia não é boa ou má por convenção, que precisa de um contexto, de um enquadramento. Se se tratou de uma deficiência estratégica, ou de simples incapacidade? Só Caixinha saberá...

- Há vários pontos interessantes sobre este jogo, mas tenho, realmente, de começar por aquele que o definiu: o momento de transição. Já tenho escrito sobre isso, e penso que é, realmente, um ponto de pormenor, difícil de detectar (provavelmente desinteressante para a maioria dos que me estão a ler), mas de uma importância tremenda. O destino do jogo foi desvendado, a meu ver, no primeiro contra ataque de Hulk, que só não terá sido convertido, provavelmente, pela vantagem que o Leiria ignorou na sua estratégia: o relvado. Isto é, foi desvendado, porque o problema se revelou crónico, e não circunstancial. A bola é recuperada pelo Porto no seu extremo reduto, bem na profundidade, que é onde as equipas devem sentir mais facilidade em "asfixiar", através da reacção à perda. O Leiria apresentou, nesse lance, bem como na generalidade dos subsequentes, 2 linhas de cobertura. Normalmente, 2+3. A primeira linha, para além de muito distante da zona onde a reacção deveria acontecer, cometeu erros de abordagem individual, e foi sempre incapaz de evitar a saída da zona de pressão, pelo lado aberto. Depois, a segunda linha estava também normalmente distante, incapaz de antecipar e passar de uma postura posicional, para uma contenção mais activa. Tudo isto, contra uma equipa que, como é o caso do Porto, sai rápido, com gente e com muita qualidade, é pé e meio para lá do precipício.

- A esta vantagem, da enorme diferença no comportamento em transição, o Porto juntou uma outra, que se agigantou com a chegada do primeiro golo. O tal impacto emocional, que tantas vezes emerge no meio dos jogos, trouxe instabilidade ao Leiria, que, não só não fez o aproveitamento do relvado para capitalizar erros alheios, como, subitamente, passou a ser ela própria a predispor-se perante o erro em posse. O Porto, competentemente, mais uma vez agradeceu. Toda esta tendência foi intervalada por um golo contra a corrente, uma espécie de prémio de consolação para tantos cantos e livres conquistados, e por um apagão. Com o 1-3, porém, o sonho leiriense desfez-se definitivamente, emergindo, de novo, o capítulo emocional. Pela primeira vez, o Porto passou a dominar pela posse, acrescentando, por essa via, mais uma série de oportunidades. Note-se, aliás, que poucos serão os jogos nesta liga em que qualquer equipa venha a desfrutar de tantas ocasiões, como conseguiu o Porto.

- Interessante, no jogo portista, a entrada de James e Álvaro. Perceberam-se dinâmicas diferentes, não se distinguindo, porém, se tem mais a ver com um, ou com o outro. Em organização, uma intenção notória de fazer a bola circular da direita para a esquerda. Talvez para aproveitar a boa capacidade de cruzamento de Álvaro? Talvez, para trazer James para o espaço "entrelinhas"? Talvez, as duas coisas. Na segunda parte, após a saída de Hulk, o mais interessante (na minha opinião, claro)... James foi para a direita, mas passou a jogar numa posição declaradamente interior, como que atraindo o jogo para essa zona, e fazendo-o, depois, circular até ao extremo oposto, onde o esperavam, Varela e Kléber. Muito parecido com o que se vê regularmente em Camp Nau. Aliás, parece-me evidente a inspiração. Importa referir que tudo isto aconteceu numa fase de maior descompressão, e que esse facto aconselha prudência às conclusões sobre o que se viu. Esperam-se outros contextos...

- Duas notas individuais. Uma, óbvia, para James. Que exibição! Outra, para Belluschi. Quem acompanha o que escrevo, sabe como aprecio este jogador, e, em particular, a sua reactividade defensiva. Considero-o, aliás, superior a Guarin no plano defensivo, apenas não rivalizando com Moutinho no aspecto posicional. Roubou para o segundo golo, mas foi também a sua reactividade que permitiu que a bola se mantivesse no último terço, na jogada do terceiro golo. Estatisticamente, foram 7 duelos/antecipações conseguidos em transição ataque-defesa, que comparam, por exemplo, com apenas 2 conseguidos entre Moutinho e Defour, nos 90 minutos. Fantástico!
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5.9.11

Chipre - Portugal: opinião

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- Começo pelo cenário que se vai definir após o Dinamarca-Noruega. É um jogo que vai marcar, forçosamente, um desempate no aproveitamento pontos/jogos, nas 3 selecções que lideram o grupo de Portugal. Entre todos os resultados possíveis, diria que o melhor para as nossas cores será a vitória da Dinamarca. Dando força ao provável (não certo) cenário de que as 3 equipas vencem os seus jogos frente às restantes equipas do grupo, esse seria o enquadramento que permitiria a Portugal, salvo uma impensável catástrofe, garantir pelo menos 1 lugar no play-off. O empate será o resultado mais perigoso, porque põe Portugal com risco de ficar de fora dos 2 primeiros, em caso de derrota na Dinamarca. Se a Noruega vencer, por outro lado, Portugal mantém o risco de perder 1 dos 2 primeiros lugares, caso perca na Dinamarca por 2-0, por exemplo, e pode ver-se obrigado a vencer em Copenhaga para garantir o primeiro lugar. O meu palpite vai para a vitória da Dinamarca, no jogo com os noruegueses, com um último jogo onde se discutirá a utilidade do empate para as 2 equipas, já que há uma forte hipótese deste grupo vir a ser o “premiado” com o acesso directo do melhor segundo. Veremos...

- Entrando no jogo, começo por falar na oposição, e no grau de dificuldade que Portugal teve pela frente. Esta selecção do Chipre não me parece tão fraca tecnicamente quanto os seus resultados sugerem. Aliás, pelo que se viu, pode considerar-se a expulsão como muito importante, já que o Chipre acabou por se ver sem forças, num período em que Portugal deu boas condições para ser surpreendido. Mas, o que me parece que facilitou realmente o jogo português, foi a má organização defensiva dos cipriotas, particularmente na sua incapacidade para manter um bloco mais agressivo sobre a primeira linha de construção portuguesa, permitindo que Portugal entrasse facilmente, com bola, no meio campo contrário, assim que mudava o ponto de saída. Isto não garantiu a Portugal uma grande proximidade com o golo, mas permitiu-lhe diminuir o risco da perda, e instalar-se confortavelmente no meio campo contrário.

- Parece-me haver, na fase de construção, algum trabalho a fazer. Sobretudo, e porque neste jogo o Chipre facilitou o primeiro passe, a ligação com o último terço. Parece-me ter havido, da parte de Portugal uma tentativa de utilizar duas abordagens distintas. Enquanto que na primeira parte, os médios tiveram uma presença mais próxima mais constante na segunda fase, deixando o inicio de construção mais a cargo de centrais e laterais, na segunda, pareceu-me haver uma tentativa de trazer os médios deliberadamente para a construção, lançando os laterais para posições mais profundas e pedindo deles uma influência maior numa segunda fase. Esta tentativa (que, repito, é uma interpretação pessoal), associada a uma falta de capacidade para introduzir movimentos que ligassem o jogo, acabou por ser prejudicial. Ao baixar os médios, a selecção atraiu também o bloco cipriota para zonas um pouco mais altas. Se tivesse sido bem sucedida nos tais movimentos de ligação, isto poderia ter sido benéfico para encontrar espaços. Assim, como não houve, acabou apenas por dificultar ainda mais a progressão da equipa nacional. O que valeu, a certa altura, foi o facto do Chipre se ter, entretanto, acumulado em zonas demasiado baixas para que pudesse representar qualquer ameaça em transição. Mas, noutro cenário, o risco poderia ter sido outro.

- Mantenho-me na fase de construção, e nesta questão das dinâmicas para iniciar algumas reflexões. Portugal tem todas as condições para ter uma presença forte em posse. Tem a capacidade de passe de Bruno Alves, a atractividade com bola que Pepe não tem receio de fazer, a dinâmica notável dos 2 laterais, a ameaça dos extremos na segunda linha, e as característica do critério, forte em quase todos os médios. Dentro de tantas soluções, a única coisa que é preciso, é escolher uma via, porque não se pode ter todas ao mesmo tempo. Parece-me claro que Moutinho, sendo um jogador mais forte em construção do que numa segunda fase, pode perfeitamente baixar para receber, como faz actualmente no Porto. Do mesmo modo, quer João Pereira, quer Coentrão são armas fortíssimas, mas sobretudo numa segunda fase da construção. Ou seja, parece-me fazer sentido lança-los mais na profundidade, aproveitando movimentos internos dos extremos. Mas é preciso que estes movimentos saiam melhor do que têm saído.

- Passo para a questão dos médios. Sou da opinião de que Micael será a melhor alternativa dentro das soluções apresentadas. Mas, ainda assim, gostaria de ver Meireles noutra linha. Porque o seu jogo tem maior amplitude, sendo muito forte nos movimentos sem bola que consegue no último terço. Muito mais forte do que Micael ou Moutinho, jogadores de “bola no pé”. O problema é que Veloso como “pivot” retira uma capacidade de recuperação enorme, nomeadamente em transição, como, a meu ver, se notou a partir da sua entrada. O ideal seria ter 2 Meireles, como não há, Paulo Bento terá de encontrar, ou outras soluções individuais, ou (e este é o caminho mais inteligente) uma melhor definição colectiva, que potencie as características de cada um.

- Há, no jogo de Portugal, um espaço que me pareceu desprezado em relação à intencionalidade de aproveitamento. O espaço “entrelinhas”. Dir-se-á, e é óbvio, que não simples explorar esse espaço, normalmente “super povoado” pelas defesas contrárias. O ponto é que não me pareceu haver sequer intencionalidade de fazer esse aproveitamento, sendo, até, algo contra producente os movimentos de Postiga pelo corredor central, acabando por atrair gente para essa zona, em vez de a libertar. E passo, precisamente, para a questão do avançado...

- Paulo Bento insiste em Postiga, e percebeu-se a sua intenção em procurar que este jogador fosse parte da solução para a construção, através de movimentos de aproximação ao longo do corredor central. É algo que tenho discutido e reparado nos últimos tempos, e parece-me que este tipo de movimento pode não trazer grande benefício à equipa, se não tiver o enquadramento correcto. Primeiro, porque exige muito do avançado, e Postiga não apresenta um grande aproveitamento nessa tarefa. Depois, porque sem movimentos complementares nas costas, acabam por ser movimentos que promovem densidade no espaço entrelinhas. Ou seja, no final de contas, não se vislumbra grande proveito prático. Depois, e em relação a Postiga, sou da opinião que a sua utilidade é muito escassa no corredor central, seja baixando, seja na frente de área. Onde os seus movimentos me parecem, de facto, fortes, é nos corredores laterais, criando apoios que ajudam a equipa a vir para dentro e não ficar presa à solução do cruzamento largo. O problema, é que Paulo Bento não lhe pede esses movimentos, por ser o único avançado do modelo, perdendo assim aquela que me parece ser a característica mais forte do jogador. Se não é para potenciar esta característica de Postiga, a meu ver, não se justifica a sua presença. Sou da opinião que mais valia, ou restrigir a acção do ponta de lança a zonas mais curtas e de maior contacto, usando Almeida, ou dar-lhe largura, criando um falso “9”, usando Danny, por exemplo. A solução de Almeida é, claro, aquela que é mais fácil de implementar.
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2.9.11

Marinho Peres e a influência de Cruyff

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Foi meio por acaso que me cruzei com esta entrevista. Ou "bate papo", para me situar melhor. A minha primeira expectativa de interesse era ver Marinho falar de Portugal, mas não para portugueses. É sempre mais honesto esse contexto. No entanto, fui surpreendido com muito mais do que esperava. A conversa encaminhou-se para o Mundial de 1974, onde esteve Marinho, e daí para a Holanda de Michels, e toda a escola que deu origem ao estilo que mais influencia o futebol no momento presente. Nunca me tinha ocorrido, mas Marinho Peres, que treinou em Portugal durante tanto tempo, foi fortemente influenciado pela doutrina holandesa, já que privou no Barcelona, com Michels e Cruyff.

Deixo o vídeo, destacando a reflexão sobre a linha defensiva, que muita gente desconhece ter sido parte essencial do 'Futebol Total' (escrevi sobre isso, quando revi esse mundial), e, em particular, o facto do objectivo ser pressionar e não aumentar a estatística dos fora de jogo. Daí, a importância de ter centrais que saibam ler e antecipar no espaço, talvez mais do que centrais rápidos. Outro ponto interessante, é a influência do clima, quer na evolução técnica do jogo, nos mais diversos pontos do planeta, quer das implicações desse factor nos comportamentos colectivos.

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