29.11.13

Análise jogadas (Golos do Anderlecht e Sporting)

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1º golo Anderlecht - Voltando ao Anderlecht-Benfica, e em particular aos golos dos belgas, parece-me que ambos resultam de um mau posicionamento circunstancial da zona defensiva do Benfica. Neste primeiro caso, o golo resulta de uma insistência após a bola ter saído da área. A primeira preocupação dos defensores é sair para a linha de área, não havendo por isso a possibilidade de ajustar imediatamente as distâncias laterais entre os jogadores, e é precisamente por aí que o desequilíbrio acontece. Sendo previsível que a bola ia ser recolocada na área e não havendo uma distância ideal entre Luisão e André Almeida, a decisão de Matic em abandonar aquela zona é, no mínimo, imprudente. E acaba por ser por aí que Benfica é exposto.

2º golo Anderlecht - No caso do 2º golo, começo por dizer, o movimento do Anderlecht é muito bem conseguido, sendo justo destacar em primeiro lugar o mérito dos belgas nesta jogada. De todo o modo, a defesa do Benfica não fica isenta de responsabilidades, nomeadamente no que respeita ao ajuste posicional que é feito quando a bola entra no lateral direito do Anderlecht. Como é visível, apenas Sulejmani se aproxima do portador da bola, saindo em contenção, mas sem que qualquer dos outros jogadores o acompanhasse no sentido de fazer a cobertura. O instinto, tanto de André Almeida como de Matic é aproximar de uma zona central já suficientemente povoada por defensores do Benfica. Matic percebe o erro e reage, mas não a tempo de controlar o movimento interior do lateral belga. Note-se que já no jogo com o PSG, o primeiro golo surge de uma movimentação semelhante, em que também não há uma reacção suficientemente rápida dos médios e onde o lateral (Siqueira nesse caso) fica atraído pelo extremo e não faz a cobertura. Tal como nesse lance de Paris, aliás, há a tentação de responsabilizar o extremo (agora Sulejmani, na altura Gaitan), que me parece incorrecta. Uma última nota para a forma como Luisão está a travar o duelo individual com Mitrovic no centro (é mais evidente numa repetição que não está no vídeo), ficando atrás da linha defensiva e retirando qualquer dúvida em relação a um possível fora-de-jogo no momento do passe.

Sporting e o espaço entrelinhas - Recupero algumas jogadas do jogo de Guimarães, onde é notório, por um lado, a exposição do Vitória em termos de espaço entrelinhas, com o adiantamento dos dois médios e atracção do pivot para zonas laterais, e por outro o instinto colectivo do Sporting que praticamente ignora a possibilidade de explorar esse espaço, mesmo quando ele se torna tão evidente como acontece nestas jogadas. Trata-se sobretudo de uma questão de identidade, sendo trivial que qualquer equipa perde quando não é capaz de explorar um determinado movimento ou espaço do campo, mas não subscrevendo eu a teoria de que os cruzamentos são um recurso menor no futebol comparativamente com o corredor central, como é um pouco moda hoje em dia defender. Essa é uma teoria que, a meu ver, ignora vários pontos de vista relevantes, desde logo a segurança que existe em atacar pelos corredores laterais em termos de reacção à perda, e o potencial que representa o cruzamento enquanto arma ofensiva (basta que alguém se dê ao trabalho de analisar a % de golos que resulta de cruzamentos). Desde logo o caso do Sporting é um exemplo do potencial que pode representar atacar pelos corredores laterais, sendo a equipa com melhor ataque do campeonato e tendo alicerçado essa diferença no facto de ser, comparativamente com os outros dois "grandes", aquela que mais golos conseguiu através de cruzamentos. Isto, é claro, não invalida que a "cegueira" relativamente ao espaço entrelinhas seja uma lacuna a corrigir.

 Dormund - Bayern - Era minha intenção incluir algumas jogadas deste jogo, assim como do Man City - Tottenham, mas isso não me foi possível. Ainda assim, deixo algumas notas sobre estes dois jogos. No grande jogo da Bundesliga, o resultado parece-me algo enganador, porque as dificuldades do Bayern foram assinaláveis na primeira parte, onde inclusivamente foi o Dortmund quem melhor tirou partido da estratégia que levou para o jogo. De todo o modo, o interesse do jogo a meu ver, está na equipa de Guardiola. Estrategicamente, foi algo estranha a forma como abordou o jogo, parecendo abdicar da progressão em apoio relativamente ao que é hábito e procurando forçar muito as aberturas longas, procurando as costas da linha defensiva amarela, ou a presença invariavelmente aberta de Mandzukic (movimento que já comentei aqui). Depois, foi também curioso observar as sucessivas alterações promovidas por Guardiola ao longo do jogo, sendo que a equipa pareceu ir ganhando com isso. Primeiro, o papel de Javi Martinez, que começou por se posicionar muito próximo dos avançados, passando depois para primeiro pivot e até para central. Finalmente, o tema de jogar, ou não, com um 9 clássico. Naturalmente que o ideal é poder explorar as duas soluções em função das circunstâncias, até pela diferença no tipo de problemas que pode levantar a quem defende, mas parece também evidente que a tendência passará por afirmar um modelo que utilize um jogador mais móvel nessa função ("falso 9"), já que tem sido assim que a equipa se tem encontrado melhor (nos jogos que vi, ressalvo).

Man City - Tottenham - Já aqui tinha destacado alguns problemas defensivos do Tottenham, e pelos jogos que fui vendo (não foram muitos) o facto de ser a melhor defesa do campeonato não encaixava com essas indicações. Mesmo assim, porém, estava longe de projectar a performance da equipa frente ao City. É claro que há muito mérito da qualidade individual da equipa de Pellegrini, mas também tem de ser dito que o que se passou não foi um acaso, com o Tottenham a cometer erros sucessivos e a ser constantemente exposto no seu último reduto. E isto, tanto em organização (com enfoque no mau ajuste posicional de várias unidades) como em transição (aqui, sobretudo realce para a exposição posicional, com o adiantamento dos laterais e pouco controlo sobre a referência para o primeiro passe vertical do City). Enfim, muito trabalho para Villas Boas.

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28.11.13

Anderlecht - Benfica: Opinião e estatística

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Desta vez, melhor o resultado - Não que tenha sido uma má exibição, mas não foi seguramente uma vitória construída ao lado de uma imagem de controlo e superioridade sobre o adversário. Sem entrar muito nos pormenores, parece-me que o Benfica foi penalizado pelo desaproveitamento de 3 pontos essenciais no seu jogo: 1) a facilidade com que sofreu o primeiro golo, bastando ao Anderlecht chegar praticamente 1 vez à área do Benfica para que se pusesse em vantagem; 2) a dificuldade que a equipa teve, no momento de organização ofensiva, em traduzir a sua posse de bola em proximidade real com o golo, destacando-se o pouco uso dos corredores laterais; 3) a má gestão do jogo em situação de vantagem, numa fase em que o Anderlecht arriscava muito e em que para além de ser rigoroso defensivamente era essencial ser também contundente no aproveitamento dos espaços que eram oferecidos pela exposição do adversário, coisa que o Benfica teve muita dificuldade em conseguir.

O sistema, 4-4-2 ou 4-3-3? Um bocado dos dois!- Confesso que ainda não percebi bem porque é que as pessoas querem tanto o 4-3-3. Isto é, se é pelo que a equipa faz com bola, ou se é pelo que a equipa faz sem ela? Assim, não fiquei a perceber se Jesus fez, ou não, o que dele tanto pedem, porque desta vez o treinador apresentou uma versão que incluiu, durante a esmagadora maioria do tempo, uma parte do 4-4-2, e outra do 4-3-3. Ou seja, sem bola o Benfica apresentou uma estrutura idêntica à habitual, 4-4-2, com Enzo e Markovic a trocarem de posição da primeira para a segunda parte. Com bola, porém, o Benfica recuperou a mesma ideia apresentada frente a Olympiakos e Sporting, mantendo Markovic próximo do avançado, e incluindo Enzo Perez no corredor central, à frente de Fejsa e ao lado de Matic. A meu ver, parece-me que faz algum sentido esta opção defensiva, mantendo uma estrutura em que a equipa se apresenta muito mais rotinada. Em particular, é complicado para o Benfica manter a intenção de pressionar alto - uma ideia fundamental do modelo de Jesus - com apenas 1 jogador na primeira linha de pressão.

Individualidades (Benfica)
Artur - Algumas boas intervenções, é certo, nomeadamente uma defesa vistosa na primeira parte e uma boa saída a um cruzamento, na segunda. No entanto, foram também dois golos concedidos sem que o adversário tivesse de criar muito para o conseguir, e sobretudo um erro comprometedor numa saída a um pontapé-de-canto, e que só por felicidade não resultou em golo.

Maxi - Fez um jogo regular - apesar de se deixar levar com facilidade pelas movimentações do extremo do seu lado - com boa capacidade de intervenção defensiva, mas também sem capacidade de envolvimento no último terço ofensivo, algo que seria importante ter conseguido porque a equipa jogou praticamente sempre sem extremo no seu corredor.

André Almeida - Exibição de utilidade semelhante à de Maxi, embora sejam jogadores de perfil bem diferente.

Luisão - Defensivamente, esteve bem melhor na segunda do que na primeira parte, onde havia sentido algumas dificuldades para definir o seu timing de intervenção. No aspecto defensivo, aliás, não foi dos seus melhores jogos muito devido a esse problema. No entanto, conseguiu ser também um protagonista em termos ofensivos, ganhando alguns duelos na área adversária, um deles culminando numa boa ocasião para marcar.

Garay - Comparativamente com Luisão, esteve muito mais capaz do ponto de vista defensivo, realizando um jogo muito bom em termos de capacidade de intervenção e domínio da sua zona de acção. Com bola, cometeu 1 erro potencialmente comprometedor e não teve também a mesma capacidade de envolvimento ofensivo do seu parceiro de sector.

Fejsa - Regressou para deixar a mesma imagem, ou seja, que o Benfica tem nele, e ao que tudo indica, um valor muito seguro. Voltei a gostar da sua percepção posicional - nomeadamente na relação com a última linha - também da sua capacidade de intervenção defensiva e ainda do critério em posse, que me parece bem mais ajustado à posição do que, por exemplo, o de Matic. Ainda assim, creio que teve mais dificuldades na segunda parte.

Matic - Voltou a uma posição diferente, sobretudo com bola, sendo-lhe dada mais liberdade ofensiva, mas também exigindo-se-lhe outro tipo de movimentação para aparecer no jogo. Matic tem atributos extraordinários, nomeadamente a sua capacidade de intervenção defensiva e também a sua capacidade de passe. No entanto, continua a ser o principal protagonista em termos de perdas potencialmente perigosas (e a equipa já sofreu alguns golos por isso), mantendo um critério que parece mais ajustado a um criativo do que a um jogador de primeira fase de construção. Para além disso, está a meu ver ligado aos dois golos sofridos, saindo precipitadamente da linha defensiva no 1º golo, e demorando demasiado tempo a posicionar-se para fazer cobertura a Sulejmani, no 2º. Apesar destes pontos negativos, é claro, marcou um golo, e foi também dos jogadores mais influentes, quer em posse, quer em termos de intervenção defensiva.

Enzo Perez - Tal como Markovic, teve uma função diferente com e sem bola. Com bola, porém, apresentou-se sempre com grande liberdade, o que aproveitou para garantir um grande envolvimento no jogo ofensivo da equipa, tal como Fejsa e Matic. A sua entrega e presença nos diferentes momentos do jogo são já uma imagem forte da equipa e com o envolvimento nos dois primeiros golos acaba por justificar, a meu ver, o principal destaque entre todas as exibições individuais da equipa.

Gaitan - Teve uma acção decisiva no segundo golo e obviamente que a sua qualidade não passou despercebida também noutras ocasiões do jogo. No entanto, não me parece ter sido das exibições mais conseguidas nos últimos tempos, primeiro porque tardou em conseguir entrar no jogo, mas sobretudo pela forma como perdeu concentração e critério assim que a equipa ganhou vantagem no marcador. Creio mesmo que terá sido por essa perda intensidade e lucidez decisional que Jesus terá optado pela sua substituição. Mesmo reconhecendo esta fragilidade do jogador, tenho dúvidas sobre essa decisão.

Markovic - Em Nápoles, e na sequência de uma grande pré-época que vinha fazendo, espantou-me a forma como subitamente teve tantas dificuldades em entrar no jogo, parecendo uma peça quase aparte da restante equipa. Por isso, o que sucedeu desta vez não foi para mim tão surpreendente, e mostra como apesar de todo o talento, Markovic é ainda um jogador em formação. Ganhou muito quando na segunda parte Jesus o encostou à direita, não que isso tivesse implicado um grande protagonismo no jogo, mas simplesmente porque a partir dessa posição conseguiu uma integração colectiva lógica e não apenas correndo quase sempre sem sentido.

Lima - Teve uma actuação díspar em termos de zona de intervenção. Conseguiu utilidade e eficácia quando se ofereceu como apoio em fases mais atrasadas do jogo ofensivo, e perdeu inspiração e lucidez quando o teve de fazer mais próximo da área adversária. O problema é que é neste segundo capítulo que a equipa verdadeiramente precisa dele. Têm sido muitas as criticas à sua falta de golos (a meu ver precipitadas, como venho escrevendo, até porque ignoram o contributo que já deu em termos de assistências) e isso pode estar a afectar a sua confiança. Apesar dessa presença modesta no último terço, acabou por ter uma participação decisiva no golo de Rodrigo, sendo a sua antecipação no jogo aéreo que cria o desequilíbrio na defesa belga.

Sulejmani - Teve um impacto decisivo no jogo, com a assistência para o último golo, e já antes havia proporcionado a Luisão uma finalização em zona privilegiada. No entanto, e à margem deste "totobola de 2ªfeira", acho muito questionável que se opte por Sulejmani em vez de Gaitan num jogo desta importância. No segundo golo do Anderlecht, poderia ter tido outra resposta defensiva, mas acho excessivo que seja responsabilidade numa situação onde foi deixado bastante isolado perante o lateral direito belga.

Rodrigo - Depois do golo na Madeira (1ªjornada), desperdiçou 7 ocasiões claras de golo, o que como sempre é fatal em termos de crítica para um avançado. À oitava foi de vez e Rodrigo voltou a marcar. Parece-me importante - e repito esta ideia - que seja capaz de ser protagonista com tanta frequência neste tipo de ocasiões, porque a eficácia acabará mais tarde ou mais cedo também por favorecê-lo e quando isso acontecer, Rodrigo voltará a ser uma figura importante na capacidade concretizadora da equipa.

Ivan - Pouco tempo em campo.

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27.11.13

Porto - O mau momento e suas responsabilidades

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Talvez não seja o 'timing' mais justo para os lenços - O empate na recepção ao Austria Viena é, obviamente, mais do que um mau resultado, um resultado proibido em função da situação do clube na competição. Ainda assim, não me parece que seja o jogo mais justo para questionar o rendimento da equipa. Aliás, se compararmos com as restantes exibições do Porto nesta temporada, este terá sido até dos jogos onde a equipa mais conseguiu produzir e onde foi mais traída pelo aproveitamento das ocasiões criadas, quer numa baliza quer na outra. O Porto terá perdido uma oportunidade soberana para sair de uma posição comprometedora, é certo, mas se chegou até ela foi porque não se conseguiu impor perante adversários directos na luta pelo apuramento. Seja como for, não há aqui da minha parte uma censura em relação aos apupos e lenços brancos mostrados à equipa no final do jogo. As manifestações de apoio/protesto resultam sempre de reacções emocionais, pelo que são sempre genuínas e bem fundamentadas desse ponto de vista. Absurdo seria esperar delas uma grande dose de racionalidade e ponderação.

As responsabilidades de Paulo Fonseca - O treinador, e no caso do Porto especialmente, é sempre o primeiro alvo, e é sobre ele que nesta altura mais apontam as criticas. Até que ponto será justo? Na minha leitura, Paulo Fonseca terá a responsabilidade de alguns escolhas individuais que me pareceram equivocadas, mas não mais do que isso. Na aposta em soluções para os corredores laterais (extremos) que teriam uma possibilidade de sucesso muito duvidosa a este nível (e escrevi-o na sequência das análises de pré-época, por isso não se trata de uma constatação à posteriori), e na forma como reagiu passivamente aos erros individuais que se iam repetindo e que são, a meu ver, o grande motivo da recente onda de maus resultados, já que o rendimento ofensivo da equipa vem sendo medíocre praticamente desde as primeiras jornadas. Concretizando, parece-me que deveria ter feito outra aposta nos extremos, e que deveria ter sido mais reactivo a mexer na dupla de centrais, que foi acumulando erros jogo após jogo, sem ser alterada.
Mas, na minha leitura as responsabilidades do treinador ficam por aqui, e não podem entrar no plano táctico. É um hábito que não é exclusivo do Porto, mas sempre que uma equipa passa por uma crise de resultados, surge imediatamente a pressão para que se mude de 'táctica', dando como certo que com outra 'táctica' a equipa teria um rendimento radicalmente diferente (e por 'táctica', entenda-se sistema táctico, porque é raro que este tipo de observação incida com pertinência sobre dinâmicas ou comportamentos colectivos, frequentemente bem mais relevantes do que o sistema em si mesmo). Ora, no caso de Paulo Fonseca e do Porto, nem me parece que o modelo de jogo seja assim tão desajustado às características dos jogadores que tem ao seu dispor. Analisando, o facto é que tem conseguido retirar bom partido dos laterais, de Lucho e de Jackson e que para além destes, convenhamos, não sobram muitas unidades que se possam afirmar estar longe do potencial que lhes é reconhecido. É possível - admito - que com um triângulo invertido (um pivot e dois médios interiores), o Porto pudesse envolver mais gente nas alas, ajudando a contornar o ponto fraco da equipa em termos ofensivos, mas tudo isso são apenas conjecturas que estão longe de poderem ser dadas como adquiridas. O ponto principal sobre Paul Fonseca e o seu modelo, porém, tem a ver com o facto de ele ser o mesmo que o treinador subir todos os degraus até à porta do Dragão. Ou seja, quem contratou Paulo Fonseca, contratou implicitamente este modelo e estas ideias de jogo, não fazendo sentido algum estar agora a pedir que o treinador jogasse de outra maneira ao fim de 3 ou 4 meses.
É curioso como, em abstracto, se ouve sempre dizer que os treinadores devem acreditar nas suas ideias e não mudar em função dos resultados, mas depois quando as coisas acontecem quase ninguém sugere outra coisa que não seja a mudança.

As responsabilidades da 'estrutura' - No futebol, invariavelmente se aponta a 'estrutura' como o factor mais decisivo para o sucesso. Confesso que quase nunca fico a saber exactamente do que é que se está a falar quando alguém se refere à 'estrutura', mas aqui vou-me referir à 'estrutura' como a quem tem poderes para tomar decisões técnicas na contratação de treinadores e jogadores, porque este é no meu entendimento o factor verdadeiramente decisivo para o sucesso desportivo a prazo (e, já agora, aquele que explica o domínio do Porto no futebol português nos últimos 20 anos).
Aqui, parece-me que a responsabilidade da 'estrutura' é bem maior do que a do treinador - desde logo porque foi quem decidiu a contratação do treinador, para o bem e para o mal.
Se o Porto tem uma fragilidade facilmente identificável nos extremos, é muito questionável a forma como o seu recrutamento tem lidado com essa posição, historicamente determinante no sucesso do modelo do Porto. Vejamos, há 2 temporadas o Porto tinha Hulk, James e Varela. Hoje, Varela é provavelmente o extremo que garante melhor rendimento entre todas as soluções disponíveis. Se o Porto sempre foi um clube vendedor, também é um facto que foi sempre um clube capaz de substituir à altura as suas principais mais valias, e isso é o que justifica o sucesso continuado apesar de tantas vendas. Nos últimos dois anos, e no que respeita a extremos, isso simplesmente não aconteceu.
Depois, há que questionar - e não sou certamente eu o primeiro a fazê-lo - o recente critério de aquisições do Porto, em particular a incidência do investimento em termos de posição do terreno. Os grandes negócios do Porto, historicamente, foram em posições defensivas. Fernando Couto, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Pepe, Bosingwa, Cissokho e Paulo Ferreira não foram apenas grandes vendas, mas foram sobretudo jogadores de elevado rendimento que surgiram directamente da formação ou de 'achados' em clubes de dimensão inferior. Ora, nos últimos anos o Porto inverteu essa estratégia e passou a canalizar grande parte do seu investimento para posições defensivas. Se é verdade que Danilo, Alex Sandro, Otamendi e Mangala são jogadores de indiscutível valor, convém também perceber que para os ter o Porto teve de pagar quantias que faltaram depois para investir noutras posições agora carenciadas, sendo que no passado o clube havia sido capaz de manter idêntica qualidade no sector defensivo, mas com um investimento incomparavelmente mais reduzido. Ou seja, a famosa formação de defesas do Porto foi - aparentemente por motivos estratégicos - abruptamente interrompida, com todos os prejuízos que daí resultam.
Enfim, algo está diferente na política de contratações do Porto, e esta não é uma constatação que resulte do último defeso e das vendas de Moutinho e James, mas antes de uma linha de actuação continuada e que culminou nas fragilidades que facilmente se identificam actualmente no plantel portista. E é por isso que é a 'estrutura' - muito mais do que o treinador - quem me parece ser quem tem mais responsabilidades no menor rendimento presente da equipa.

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25.11.13

Guimarães - Sporting: Opinião e Estatística

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Candidato? Não digas porque dá azar! - A discussão já tem meses, e durará enquanto o Sporting se mantiver próximo do primeiro lugar. Já escrevi sobre o tema nas primeiras jornadas e não tenho muito a acrescentar sobre as possibilidades reais do Sporting ser campeão - que são maiores nesta altura - e da relação entre o seu estatuto de 'grande' e a ambição pelo título. No entanto, confesso que este tema me entretém bastante, sobretudo pela importância que as pessoas dão ao que se diz, ou nãom à frente dos microfones. Isto é, é óbvio para todos que o Sporting ambiciona ser campeão. Independentemente de não ter o mesmo investimento e qualidade dos seus rivais, é com o título que todos sonham, porque 1) todos percebem que esse objectivo não é de todo uma impossibilidade e 2) porque é essa a ambição natural de um clube e de uma massa adepta como a do Sporting. Admite-se, portanto, que o Sporting assuma internamente essa ambição, mas por outro lado - e é este o ponto interessante de tudo isto - entende-se como proibitivo que se assuma publicamente o que todos pensam, porque supostamente isso irá ter efeitos directamente negativos nas possibilidades desportivas da equipa. Ora, talvez seja uma limitação minha, mas confesso que tenho alguma dificuldade em ver com tanta clareza a lógica deste raciocínio. Reconheço que a envolvente influencia o jogo, mas daí até se dar este tipo de importância ao que se diz à frente ou atrás dos microfones, vai uma grande - enorme! - distância . É, no fundo, um pouco como fazer uma fé plena na ideia de que "somos candidatos, mas não digas porque dá azar!"

Entretanto, e passando para o que se viu no jogo, no campo o Sporting vai dando todos os indícios de sonhar de facto com o título. Durante todo o jogo, o Sporting fez subir 5 unidades à área contrária para a disputa dos pontapés de canto. Nos últimos 5 minutos, e por duas vezes, aumentou essa presença para 6 elementos. 1 ponto em Guimarães só não é bom para quem luta por algo mais do que a Europa, e se o Sporting arriscou perder esse ponto numa deslocação tão complicada como é o Afonso Henriques, não foi certamente por ter o 3º lugar em mente.

Jogo tacticamente complicado - O Sporting resgatou - com muita felicidade, diga-se - os 3 pontos, mas este foi notoriamente um jogo complicado onde a equipa teve sempre muitas dificuldades em aproximar-se do golo e da vitória. Tacticamente, e olhando às características das equipas, era previsível que o Sporting encontrasse no Vitória um adversário difícil de ultrapassar. É que a formação de Guimarães tem no corredor central e no espaço entrelinhas a sua principal fragilidade, e sucede que o Sporting - tal como se viu em várias ocasiões no jogo - tem uma falta de afinidade quase genética com essa zona do terreno, preferindo invariavelmente entrar pelos corredores laterais. Assim, o Vitória abria um buraco à frente dos centrais, enquanto que o Sporting insistia em entrar pelos flancos. Depois, no outro sentido do jogo, o Vitória também encaixava pouco na estratégia de Jardim, porque à intenção de pressionar alto do Sporting, os vimaranenses respondiam com uma forte presença sobre a última linha defensiva do Sporting (com os extremos sempre muito projectados), e com os dois médios (André Santos e André André) a aparecer nas costas da linha média do Sporting. Assim, enquanto o Sporting tentava subir para pressionar, rapidamente via a bola ser colocada sobre a sua linha defensiva, havendo uma presença numérica várias vezes favorável ao Vitória, valendo ao Sporting o bom controlo sobre a acção de Maazou, que se apresentava aqui como elemento chave na ligação do jogo ofensivo da equipa de Rui Vitória. O Sporting sentiu algumas dificuldades também neste plano, mas foi conseguindo um melhor controlo do adversário com o decorrer do jogo, o que tem muito a ver com a forma como Maurício se foi sentindo cada vez mais confortável no duelo com Maazou.

Individualidades (Sporting) 
Rui Patrício - Um guarda-redes só pode actuar reactivamente, e Patrício respondeu sempre bem ao que lhe foi exigido. Sem reparos.

Cedric -  O Sporting forçou muito a entrada pelo seu corredor, sobretudo na primeira parte, o que explica a sua elevada presença no jogo ofensivo da equipa. Sem que a equipa tivesse tirado grande partido prático disso, deu sempre boa resposta individual ao seu envolvimento. Defensivamente, foi um jogo algo atípico, sendo menos chamado a intervir em duelos de 1x1, mas mais solicitado no controlo do jogo aéreo e a fechar em zonas interiores. Também nesse capítulo deu uma boa resposta. Tudo somado, foi o jogador com mais passes completados, com maior % de sequência em posse e também o protagonista da melhor situação do Sporting até ao golo. Sem ser uma exibição excepcional, terá sido provavelmente a unidade de maior rendimento da equipa neste jogo.

Jefferson - Não teve a mesma envolvência de Cedric, nem tão pouco a mesma eficácia nas suas acções. Acabou por ser o protagonista do canto que dá origem ao golo, o que disfarça uma exibição não muito conseguida.

E.Dier - Começou por ter, a meu ver, algumas responsabilidades na forma como se posicionou no lance que termina com a finalização de Maazou ao poste. Depois, e em termos defensivos, conseguiu um bom jogo, sendo uma presença útil na área e tirando partido da sua estatura num jogo de muitos duelos aéreos e trajectórias largas. Com bola, não foi um jogo onde se exigisse grande presença, mas mesmo assim voltou pontualmente a dar sinais de um critério muito questionável em posse, assumindo um risco pouco ajustado às suas características, nomeadamente tentando forçar o seu envolvimento ofensivo sem que apresente depois uma eficácia/qualidade que compense o risco que essas acções trazem para a equipa.

Maurício - Foi uma peça chave da equipa pela importância que tinha Maazou para o jogo ofensivo do Vitória, e pela presença dominadora que Maurício conseguiu nesse duelo. Com bola, teve um envolvimento reduzido para o que é normal (tem a ver com o tipo de jogo e não tanto com o jogador), embora mantendo uma boa eficácia e repetindo um critério lúcido e ajustado ao seu perfil.

William - Na primeira parte foi, diria, irreconhecível no seu envolvimento com bola, nomeadamente com uma (in)eficácia que não lhe é comum. Na segunda, e também porque a equipa se impôs mais colectivamente, conseguiu finalmente entrar num registo mais habitual, fazendo a equipa jogar e conseguindo também um melhor desempenho defensivo, tirando partido sobretudo da sua presença em termos posicionais para ganhar várias segundas bolas. Repito a ideia: o fundamental para William é que consiga manter o tipo de presença com bola, fazendo a equipa jogar e assumindo um critério ajustado à sua posição, ou seja privilegiando a segurança na circulação. Os holofotes trarão a tentação de tentar assumir maior protagonismo individual, introduzindo mais risco ao seu jogo. É bom, para seu bem e sobretudo da equipa, que saiba resistir.

Adrien - Com bola, jogou numa linha mais perto de William relativamente ao que é habitual, oferecendo uma presença mais útil para fazer a bola circular por fora do bloco do Vitória, do que propriamente por dentro deste. De resto, mais uma vez teve dificuldades em se impor com bola num jogo de maior dimensão física, acabando por registar um envolvimento em posse algo reduzido, e não conseguindo também fazer a diferença pela via criativa. É uma limitação que se repete. É a sua acção sem bola, porém, que justifica maiores elogios. Novamente com uma entrega notável, e também com uma capacidade de intervenção assinalável, destacando-se o número de duelos/intercepções que realizou, 17, sendo apenas superado por Maurício.

André Martins - É discutível que se diga que foi "médio". Jogou sempre a partir de um posicionamento profundo e descaído para a direita, tentando oferecer uma presença extra a esse corredor, quase como um avançado móvel, numa dinâmica que o Sporting forçou muito sobretudo na primeira parte. Repito o mesmo tipo de crítica que escrevi sobre a exibição de Adrien - e que nele também é recorrente - sendo que no caso de André Martins seja mais natural que a sua presença em posse seja mais reduzida e menos eficaz tendo em conta que se reservou mais para fases adiantadas do jogo ofensivo. Também é no capítulo defensivo onde mais elogios me parece justificar. Pela entrega e presença, ganhando inclusivamente alguns duelos aéreos. Também aqui, note-se, a sua presença posicional é mais próxima de um avançado do que de um médio, mas esse é um comportamento que não constitui novidade no modelo de Leonardo Jardim.

Carrillo - Assumiu grande protagonismo na primeira parte, conseguindo um bom envolvimento no corredor direito, apesar de uma ou outra decisão mais questionável. É verdade que não foi suficiente para aproximar verdadeiramente a equipa do golo, mas se alguém foi capaz de causar problemas ao extremo reduto do Vitória, na primeira parte, essa alguém foi Carrillo. Na segunda parte, começou à esquerda, depois voltou à direita e estava a perder eficácia e discernimento quando foi substituído.

Capel - Jogando à esquerda e com o jogo muito balanceado para a direita, acabou por ser um protagonista menor na primeira parte. Como não teve um grande envolvimento, restava-lhe ser capaz de acrescentar capacidade de desequilíbrio nas suas aparições no último terço, algo que também não conseguiu - nem ele, nem ninguém, diga-se.

Montero - Nestes jogos em que o Sporting tem mais dificuldade em assumir um domínio territorial do jogo, fazia falta uma presença mais forte no jogo aéreo, nomeadamente para oferecer outro potencial à construção longa. Montero não é esse jogador, como se viu agora, no Dragão ou na Luz. O seu envolvimento é muito bom, mas para isso é preciso que a bola lhe chegue no pé, e a sua dificuldade em aparecer tem a ver com os problemas da própria equipa no jogo. Apesar disso, ainda foi a tempo de ser protagonista no melhor lance de ataque da equipa, antes do golo.

Mané - Não conseguiu o protagonismo do jogo da Luz, e continua a não ser tempo suficiente para que se retirem grandes conclusões.

Salomão - É uma solução diferente dentro dos extremos do Sporting, que até me parece poder ser utilizado como elemento mais interior. Teve maior presença do que Mané, mas igualmente sem conseguir grande protagonismo.

Slimani - O futebol por vezes reserva-nos estes casos difíceis de explicar. Se noutras ocasiões até se pode destacar o mérito do seu jogo aéreo, desta vez trata-se de mera "fezada". Podia ter sido qualquer um dos outros 5/6 jogadores na área do Guimarães a beneficiar de um ressalto decisivo, mas foi Slimani, precisamente aquele que mais acreditava que isso lhe pudesse acontecer. É curioso, sem dúvida, mas será um erro retirar daqui ensinamentos ou conclusões. Noutro ponto, desta vez a sua entrada parecia-me fazer mais sentido do que noutras ocasiões. Não tanto por ele, mas pela implicação de libertar Montero no espaço entrelinhas, o que poderia ajudar a equipa a aproveitar mais o tal espaço que o Vitória tinha tendência a oferecer e que o Sporting nunca aproveitou. Também é verdade que essa seria sempre uma jogada de risco porque por outro lado o Sporting perderia presença numérica no meio-campo, e talvez por isso Jardim tenha tardado em tentar essa variante. Foi a minha leitura, mas o facto do Sporting ter chegado ao golo dentro desta estrutura não é suficiente para que se conclua sobre a sua validade em termos práticos. Tenho para mim que, no futebol, a cada golo sucede um sofisma. Um mau hábito que eu me esforçarei por não alimentar.

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21.11.13

Suécia - Portugal (II) - Análise individual

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Rui Patrício - Teve uma intervenção decisiva e sofreu dois golos, o que juntando a uma outra defesa importante na primeira mão, perfazendo uma eficácia de 50% nas ocasiões claras de golo que foram à baliza durante o playoff. Um aproveitamento positivo e dentro do que vem realizando no campeonato. A crítica, no entanto, surge no lance do segundo golo sueco, o livre de Ibrahimovic. Pessoalmente, parece-me que apesar de ser um remate violento e a uma curta distância, o guarda-redes poderia de facto ter feito melhor. Primeiro, porque reage mal, tentando chegar com a mão a uma bola baixa. Depois, porque se a barreira terá tido uma influência negativa, quem faz a barreira é precisamente o guarda-redes, sendo pouco perceptível o porquê do posicionamento de Moutinho uma vez que não há na sua zona qualquer adversário. Aliás, este é o terceiro golo sofrido de livre directo por Rui Patrício num espaço de tempo muito curto, e se esta estatística dificilmente se pode prolongará, também é verdade que justifica alguma reflexão. Por exemplo, no caso do golo sofrido no livre Cardozo, também me parece que o facto da barreira ter saltado foi uma má decisão, pouco ajustada ao perfil do marcador, que raramente opta por bater em jeito. Enfim, situações a corrigir...

João Pereira - Fez, a meu ver, o seu melhor jogo ao serviço da Selecção, e terá sido provavelmente a exibição mais subestimada em termos de mediáticos. Defensivamente, quase sempre bem posicionado, tal como no primeiro jogo aliás, o que lhe valeu algumas intercepções importantes já dentro da área. Aliás, só foi batido por Pepe no número de intercepções/duelos ganhos, o que é notável para um jogador com as suas características e num jogo onde o plano físico era tão relevante. Depois, em posse, foi "apenas" o segundo jogador mais influente, apenas superado por Moutinho. Realce, aqui, para a sua importância no inicio da transição, tendo completado 10 passes nesse momento táctico do jogo (mais uma vez, só Moutinho o superou, com 14). Finalmente, esteve envolvido nas 2 principais ocasiões da equipa na primeira parte, cruzando para uma finalização de Ronaldo e lançando ainda o mesmo Ronaldo no lance que seria mal concluído por Hugo Almeida.

Fábio Coentrão - Não dá para dizer que fez um mau jogo, mas se na primeira mão havia estado mais discreto do que é hábito, desta vez ter-se-ão notado ainda mais as suas limitações físicas. Alguma dificuldade nos duelos e mesmo no envolvimento em posse, raramente projectando-se na profundidade, abdicando de um espaço e de um movimento que normalmente faz dele uma arma ofensiva importante.

Pepe - Foi o jogador mais interventivo em termos defensivos, sendo dominador como é normalmente em todos os capítulos do jogo. No entanto, e sem que lhe possam ser apontados reparos de maior, também não foi um jogo onde tivesse conseguido um protagonismo excepcional, tendo em conta aquilo que normalmente consegue, que é quase sempre muito.

Bruno Alves - A sua exibição fica naturalmente marcada pela forma como abordou o lance do primeiro golo. Deixou-se envolver no confronto físico com Ibrahimovic e esqueceu a trajectória da bola, acabando por ficar no chão a ver o seu adversário cabecear. De resto, teve uma prestação positiva, sem que tivesse sido tão dominadora como no primeiro jogo, ganhando uns duelos e perdendo também outros. Foi dele o primeiro aviso, num lance onde era praticamente impossível fazer melhor.

Veloso - A meu ver, a avaliação dos médios defensivos é geralmente pouco rigorosa em muitos aspectos e parece-me que Veloso poderá estar a ganhar com isso, porque vem tendo prestações pouco conseguidas em diversas áreas. Se no primeiro jogo havia conseguido alguma eficácia na missão específica de auxiliar os centrais na neutralização de Ibrahimovic, desta vez isso não foi minimamente repetido. Teve dificuldades sempre que Ibra baixou e cometeu ainda um erro potencialmente decisivo no inicio da segunda parte. No total, conseguiu apenas 9 acções defensivas, o que é quase ridículo para quem joga na sua posição e num jogo deste tipo. Depois, a sua presença em posse voltou a ser também muito escassa, completando por exemplo menos de metade dos passes de Moutinho. É verdade que está normalmente bem posicionado e que tem reconhecidamente uma notável capacidade técnica, mas isso por si só parece-me de todo insuficiente, sendo preciso muito mais eficácia nas acções defensivas e também muito mais capacidade de envolvimento em posse. De que adianta estar bem posicionado se não se neutralizam as jogadas que entram na sua zona? De que adianta ter boa capacidade de passe, se não é capaz de se envolver no jogo?

Meireles - Não será um caso tão flagrante como o de Veloso, embora em termos mediáticos seja sempre mais destacado, mas é mais um jogador com grandes dificuldades em se impor no jogo. Tem boas aparições, claro, porque tem muita qualidade, mas a sua influência é muito descontinuada, sobretudo por não se conseguir envolver mais em posse. É um dos casos - com Coentrão, Veloso e Nani - cuja recuperação do momento ideal de forma me parece decisivo para que Portugal possa realisticamente sonhar com um Mundial ao nível do Europeu que fez.

Moutinho - A disparidade exibicional é de tal ordem que fica a dúvida se é ele que é tão extraordinário ou se são os outros dois médios que estão mesmo num momento tão mau. O seu nível de envolvimento e capacidade de intervenção defensiva não têm nada a ver com as de Veloso e Meireles. É verdade que Moutinho tem uma posição diferente - e que não é nova, assinale-se - nomeadamente sem bola, começando a defender em zonas mais adiantadas, mas isso até devia ser uma limitação, porque é muito mais difícil ser-se interventivo defensivamente jogando aí do que em zonas mais baixas e densas, onde estiveram Meireles e sobretudo Veloso. O facto é que Moutinho, sozinho, completou mais passes do que os outros dois médios, juntos, e praticamente conseguiu a mesmo protagonismo ao nível das intervenções defensivas, comparando com o somatório de Veloso e Meireles. Não é normal. Depois, claro, o que todos vimos, com dois passes decisivos. Ambos são bons, mas penso que o do terceiro golo é especialmente bem conseguido. Enfim, tudo somado, lavou a face do meio campo português, com uma grande exibição, também uma das melhores de sempre ao serviço da Selecção.

Nani - Defensivamente teve um papel meritório, conseguindo também ele uma boa capacidade de intervenção defensiva, embora não isenta de erros em algumas abordagens. Não dá, igualmente, para dizer que tivesse comprometido a equipa com bola, mesmo se se identificaram alguns lances onde a sua decisão não terá sido a melhor. Mas... Nani não é só isto! Nani é - e esperemos que o volte a ser - um jogador criativo, com uma grande capacidade de desequilíbrio e que normalmente quando lhe dão espaço torna-se num protagonista quase inevitável dos jogos. É esse jogador que faz hoje muita falta a esta equipa e que acentua ainda mais a dependência de Ronaldo na capacidade de desequilíbrio da Selecção. Não foi capaz de se envolver numa única ocasião clara de golo da equipa nestes dois jogos, o que é preocupante.

Ronaldo - Todos viram, todos estão fartos de falar, e por isso é redundante escrever seja o que for sobre o mérito, importância e excelência da sua exibição. A sua melhor de sempre pela Selecção? É possível, sobrando-me apenas a dúvida perante o jogo frente à Holanda, no Euro'2012. Uma nota apenas sobre Ronaldo: diz-se que tem muitas dificuldades quando não tem espaço. É verdade que Ronaldo se torna praticamente imbatível quando tem espaço, mas isso é uma característica comum a todos os desequilibradores. Conhecem algum desequilibrador que não sinta mais dificuldades quando não tem espaço? Eu não. Passar desta trivialidade à conclusão de que Ronaldo não rende quando não tem espaço é, normalmente, um instante. Um instante e um sofisma facilmente desmontável. Porque nem Ronaldo, nem nenhum desequilibrador sobrevive em equipas "grandes" se só render com espaço. Porque as equipas "grandes" passam a esmagadora maioria do tempo a jogar perante equipas fechadas, cujo objectivo principal é precisamente reduzir o espaço, e não a actuar em transição ou contra-ataque, como tantas vezes é sugerido. Portanto, Ronaldo não é um grande jogador por ser bom quando lhe dão espaço. É um grande jogador porque é bom - invulgarmente bom! - em todas as circunstâncias de jogo, sendo que - trivialmente, repito - quando tem espaço torna-se ainda mais fácil para ele desequilibrar. E isto é tanto válido para Ronaldo, como para Messi, Neymar, Bale, Ribery, Robben, Hazard, etc etc. Todos eles são muito mais perigosos com espaço, mas todos eles só são o que são, e estão onde estão, por serem extraordinários em todos os momentos tácticos do jogo. Por isso, esta conversa do espaço e do rendimento de Ronaldo não me parece mais do que uma "lapalissada", afinal algo comum em muitas conversas sobre futebol.

Hugo Almeida - Começo por falar da sua inclusão. Parece-me acertada a escolha, porque me parece que este seria um jogo onde Postiga previsivelmente não encaixaria (recordo, por exemplo, as dificuldade que teve em Copenhaga, no apuramento para o Euro'2012). Já tinha abordado isto na última análise, mas o posicionamento de Hugo Almeida não é normalmente idêntico ao de Postiga, havendo uma relação mais directa com Ronaldo, com Hugo Almeida a apresentar-se várias vezes sobre a esquerda, onde tem uma presença defensiva inclusivamente mais intensa do que o capitão da Selecção. Penso que foi nisso que Paulo Bento pensou e, também, na circunstância de Portugal ir previsivelmente construir de forma longa em caso de pressing sueco, sendo que o desempenho de Hugo Almeida e Postiga é obviamente muito diferente na resposta a este recurso. As bolas paradas, que é normalmente o aspecto mais comentado, é na minha leitura apenas um terceiro factor para esta opção.
No que respeita à sua exibição, digamos que assistência lhe salvou a face, porque se a aposta me parece acertada do ponto de vista estratégico, o desempenho de Hugo Almeida esteve longe de ser o melhor. Sentiu dificuldades no desempenho técnico (sobretudo nos primeiros minutos, tornando-se mais regular no decorrer do jogo), mas é noutros aspectos que mais merece reparo. Primeiro, claro, o trauma da baliza, com mais um golo incrível desperdiçado e que provavelmente (digo eu...) não o falharia com a camisola do Besiktas. Depois, os fora-de-jogo. Já escrevi que tem uma relação quase autista com esta regra do jogo, e parece-me absurdo que não corrija alguns dos seus comportamentos, tão flagrantes neste particular. Para fazer golos, reconheço, pode não ser tão fácil recuperar a confiança, mas para evitar ser apanhado em tantas situações de fora-de-jogo basta estar um pouco mais concentrado.

Antunes - Não entrou, de facto, numa altura fácil. Acabou por cumprir com regularidade e eficácia o seu papel, e no fim ainda lançou aquilo que foi o "quase-poker" de Ronaldo.

William - Entrou bem, para uma missão muito posicional, e conseguiu em pouco tempo fazer bem melhor do que Veloso. Aliás, se Veloso mantiver o andamento, é mais do que natural que acabe por justificar a titularidade. Agora, isto não serve também para que saltemos logo para o extremo oposto e concluirmos que teve uma acção extraordinária no jogo. Era lhe pedida uma função especifica e ele cumpriu-a bem, sendo que é importante também notar que do ponto de vista do posicionamento táctico colectivo não houve alterações relevantes com a sua entrada.

Ricardo Costa - A sua entrada fez bem à equipa, oferecendo-lhe melhor equilíbrio táctico perante a natureza do jogo e do adversário. Talvez tenha a ver também com o esvaziar do balão de esperança sueco, após o 2-3, mas a verdade é que me pareceu resultar. E aqui, até nem atribuo grande mérito individual ao jogador, sem tempo suficiente para grandes feitos.

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20.11.13

Suécia - Portugal (I): Aspectos tácticos

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O declive táctico da 2ª parte - Não me entendam mal! O que se passou na 2ªparte do jogo de Estocolmo foi algo épico, que certamente ficará gravado na memória de quem o viu, e assim o é pela emoção que o jogo transmitiu nesse período. O campo emocional, repito, é o ponto dominante deste desporto, aquele que explica a sua dimensão de fenómeno social e também grande parte do que se passa dentro do campo. Porque não é esse o foco deste espaço, "salto" um pouco esse avassalador lado emocional do jogo, mas não quer isso dizer que o ignore. Porque não é possível perceber verdadeiramente o jogo sem primeiro o sentir.

Enfim, cometendo então a afronta de "saltar" o lado emocional do jogo, parece-me também de grande interesse perceber, do ponto de vista táctico, o que esteve por detrás de tanta agitação num período tão curto e que paradoxalmente surgiu na sequência de 135 minutos de grande conservadorismo táctico. Para quem gosta de analisar o lado táctico do jogo, não há nada melhor do que estas roturas com o que é convencional, e que nos oferecem a possibilidade de observar, ainda que por alguns minutos, cenários várias vezes teorizados mas que raramente há coragem para os experimentar.

Comecemos pelo lado sueco, que foi quem teve a iniciativa. Na 2ªparte a Suécia passou a fixar praticamente os extremos sobre a linha defensiva portuguesa, o que juntando aos dois avançados (Elmander mais fixo e Zlatan mais móvel) obrigou Portugal a fixar praticamente 5 unidades sem capacidade de intervenção interior. A primeira implicação disto foi o jogo partido e, muito importante, a criação de mais espaço para jogar nas primeiras fases do jogo ofensivo sueco. Depois, a Suécia projectou os laterais ofensivamente, tentando dar largura a um jogo que visava sempre fazer chegar a bola à zona de finalização através de cruzamentos largos. Ou seja, para se aventurar no resgate da qualificação, a Suécia passou a ter apenas 3-4 jogadores em condição de reagir à perda de bola, sendo que assumiu sempre apenas 2 elementos na última linha desta estrutura de equilíbrio.

Não menos interessante é ver o que fez Portugal. A equipa portuguesa não alterou praticamente nada relativamente à sua intenção inicial. É verdade que foi empurrada para junto da sua área e também que com bola deixou de ser capaz de circular perante a pressão impulsiva dos suecos (um aspecto a merecer critica, mas que não vou abordar aqui), mas isso aconteceu sobretudo por imposição do seu adversário e não por uma cedência deliberada. É que Portugal manteve a intenção de pressionar a primeira fase de construção sueca praticamente a todo o campo, o que contribuiu para o espaço criado na zona intermédia, e manteve também a sua estratégia defensiva com Ronaldo à esquerda, mais ou menos a fazer de conta que defendia o lateral sueco mas verdadeiramente à espera pela oportunidade da transição.

Tenho dúvidas que esta tivesse sido a melhor forma de reagir ao novo cenário no jogo, sobretudo depois do 0-1. Do ponto de vista defensivo, talvez fosse mais recomendável utilizar linhas mais juntas, mesmo que para isso tivesse de assumir um bloco mais baixo, tentando depois sair em contra-ataque, possivelmente deixando Ronaldo sozinho na frente. De resto, Portugal conseguiu um equilíbrio muito melhor em termos defensivos após a entrada de Ricardo Costa, sendo também certo que nunca saberemos exactamente qual o peso que teve o facto de este ter entrado quando o jogo já estava em 2-3 e com o capital de entusiasmo sueco completamente esfumado.

É verdade que a Suécia não criou muitas ocasiões para construir os seus golos e que estes surgiram de bola parada, mas também o é que nesse período Portugal teve muitas dificuldades para controlar o assalto ofensivo adversário, tanto pelo menor ajuste posicional defensivo, como também pelo controlo que não conseguiu fazer do jogo com bola. Por outro lado, é claro, os golos de Portugal surgem todos com Ronaldo a aproveitar as costas do lateral no momento de transição, algo que tem a ver com a qualidade excepcional do extremo mas também com a estratégia que Paulo Bento define ao assumir deliberadamente o risco de manter Ronaldo como falso defensor.

O conservadorismo no onze - Um dos aspectos mais usados para criticar Paulo Bento tem sido a sua repetição do onze inicial, quase como se não existissem mais soluções. Confesso que me parecem absolutamente forçadas essas críticas. Primeiro, porque de facto, e mesmo nas posições de menor rendimento, é bastante discutível se, no campo estritamente individual, haverá melhores soluções disponíveis. Depois, porque não se pode tratar a Selecção como uma espécie de 'fantasy league' ou 'equipa da semana', em que se escolhe o melhor onze do momento. A equipa portuguesa tem - felizmente! - uma ideia de jogo que vem do Euro'2012 e que dificilmente pode ser trabalhada durante o período de qualificação. Parece-me, por isso, lógico que haja alguma relutância em lançar impulsivamente unidades com pouco tempo de trabalho na Selecção. Paulo Bento, na minha leitura, deu a oportunidade a alguns jogadores durante o trajecto da qualificação, como Vieirinha, Micael ou Neto, mas por motivos diferentes todos eles não foram capazes de agarrar esse estatuto. Em parte, isso revela o grande problema por detrás desta discussão que é falta de soluções de qualidade que neste momento existe na Selecção. Seguir-se-á agora um período diferente, em que se poderá trabalhar mais os aspectos colectivos e incluir aí novos protagonistas. Se em Junho, tudo estiver na mesma havendo unidades a justificar outra oportunidade, aí sim, as críticas poderão fazer mais sentido.

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18.11.13

Portugal - Suécia (III) - análise de jogadas

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5' - A primeira ocasião portuguesa no jogo. Infelizmente, foi um tipo de solução pouco explorada durante o jogo, onde se sucederam os cruzamentos perante uma equipa sueca quase sempre bem posicionada. É claro que não é evidente conseguir ser bem sucedido entrando apenas pelo corredor central, muito poucas equipas o conseguem fazer com eficácia constante e seria falacioso da minha parte estar a usar 1 lance isolado para defender o contrário. Aliás, o sucesso deste movimento só é possível por uma série de factores dificilmente conciliáveis: 1) O facto de ser Ronaldo quem inicia a jogada, o que aumenta a preocupação do jogador que está a fazer a cobertura e liberta Meireles. 2) a qualidade e apetência de Meireles para este tipo de jogada, antecipando a oportunidade (inclusivamente pedindo a bola) e executando de primeira. 3) o movimento de rotura de Moutinho, que acaba por ter um timing perfeito com tudo o resto, algo que é muito difícil de repetir intensionalmente.
Ainda que este lance deva ser usado com alguma cautela, parece-me claro que Portugal poderia e deveria ter envolvido mais o seu jogo no último terço, criando dificuldades de posicionamento à linha defensiva sueca e não se limitando a cruzar repetidamente, como quase sempre sucedeu.

6' - Talvez a melhor ocasião da Suécia, numa jogada que resulta, primeiro, do risco natural de quem tenta pressionar para recuperar a bola e não o consegue e, depois, do problema mais fácil de identificar na equipa portuguesa: o controlo do lateral que joga do lado de Ronaldo. Aqui, é preciso notar que a ausência de acompanhamento de Ronaldo é intencional na equipa portuguesa, por forma a potenciar depois a sua qualidade no momento de transição. Portugal consegue colmatar essa ausência de forma razoável em situações em que a bola entra directamente nesse corredor, porque a linha média consegue ajustar o seu posicionamento e fechar junto de Coentrão. O problema torna-se quase sempre mais grave quando a bola entra primeiro no corredor oposto, fazendo a equipa portuguesa 'bascular' para esse lado, e circulando depois para o corredor oposto, aproveitando o espaço criado nas costas de Ronaldo. Algo que, por exemplo, a Dinamarca soube aproveitar muito bem no Euro'2012 e que a meu ver deve ser trabalhado futuramente (no tempo que Portugal irá ter antes do Mundial, caso se qualifique). Talvez deva ser pedido a Ronaldo outra resposta defensiva em situações deste tipo, onde previsivelmente é mais difícil aos médios fechar no seu corredor.

29' - Uma jogada semelhante à primeira aqui abordada, embora com muito menos probabilidade de sucesso. A nota aqui vai para o instinto dos dois protagonistas da jogada, Meireles e Ronaldo. Meireles, de novo, a revelar a rapidez com que antecipa este tipo de movimento, recebendo e executando imediatamente. É uma qualidade importante no médio porque este tipo de movimento tem geralmente muito potencial uma vez que a linha defensiva está normalmente a ajustar-se posicionalmente à circulação lateral da bola e não necessariamente a controlar a profundidade. Mais à frente, também Ronaldo antecipa a oportunidade, posicionando-se para o movimento de rotura mesmo antes da bola chegar a Meireles. Os jogadores não têm muitas oportunidades por acaso, e Ronaldo tem-nas fundamentalmente porque, para além do capítulo técnico, é também muito forte a movimentar-se sem bola. Aqui, o sucesso acaba por não acontecer porque a linha defensiva sueca se expôs pouco e não cometeu o erro de se adiantar muito numa situação em que a linha média não tinha condições para pressionar o portador da bola.

49' - Uma das melhores ocasiões de Portugal no jogo, num cruzamento que até nem acontece numa posição muito favorável mas que conta com o detalhe de ser antecedido por uma mudança de corredor. Este facto explica a menor preparação da linha defensiva sueca para a resposta a este lance, mesmo tendo uma forte presença numérica dentro da área. Mais uma vez, reforço a ideia sobre a importância de não tornar previsível a situação do cruzamento, o que pode ser decisivo mesmo perante uma grande presença numérica do adversário.

62' - Mais uma excepção áquilo que foi a regra do jogo português no último terço, desta vez com uma penetração interior que resulta da opção de circular por dentro em vez de forçar o cruzamento a partir do corredor lateral. Ainda para mais, parece-me que Portugal tem vários jogadores fortes neste tipo de movimento, quer ao nível do passe, quer ao nível das movimentações de rotura.

82' - O grande destaque no golo português é, a meu ver, a acção de Hugo Almeida e Veloso. Não há nenhum golpe de génio escondido nisto, apenas a simplicidade trivial da rapidez com que ambos reagiram ao lançamento lateral. Sobretudo Hugo Almeida, que sai inclusivamente da zona onde era mais expectável ele estar para criar uma vantagem instantânea no corredor lateral. O facto de se reagir mais rápido em situações "mortas", como lançamentos laterais, faltas ou mesmo pontapés de baliza pode transformar um lance aparentemente inocente em vantagens potencialmente decisivas num jogo que se define tantas e tantas vezes nos pormenores. É também por aqui que se mede a "intensidade" com que os jogadores estão no jogo, e se Portugal construiu esta jogada foi precisamente por se ter mantido intenso no jogo.

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17.11.13

Portugal - Suécia (II): Análise individual

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Rui Patrício - Não se pode dizer que tenha sido uma grande exibição perante tão pouco trabalho, mas não é preciso fazer um grande exercício de memória para ter exemplos de como pode ser importante ser o papel do guarda-redes mesmo em jogos deste tipo. Depois do deslize frente a Israel (cujas implicações nunca saberemos quantificar), respondeu de forma competente, inclusivamente com uma defesa importante.

João Pereira - Portugal encontrou nele, e na facilidade com que o conseguia fazer entrar em jogo, uma solução evidente e muito solicitada no seu jogo ofensivo. João Pereira esteve bem até ao momento da definição, com uma série de cruzamentos perdidos, o que não é novidade porque não é um jogador especialmente eficaz na exploração desse recurso. Aqui, a principal critica vai para o critério de decisão no último terço, porque Portugal ganhou normalmente mais quando a sua opção passou por tentar o envolvimento interior em vez do cruzamento. E ele é bastante mais forte no envolvimento interior. Defensivamente, muito bem em termos posicionais, mantendo-se próximo dos centrais de forma a garantir maior presença na resposta às segundas bolas.

Coentrão - Com um envolvimento menos continuado do que João Pereira, relativamente à influência no último terço. Acabou, por outro lado, por ter maior participação na fase de construção, onde foi regular na resposta que deu. Defensivamente também não foi tão interventivo quanto o lateral do lado oposto. Normalmente imprime maior intensidade ao corredor, mas provavelmente por limitações físicas, esse protagonismo foi desta vez mais intermitente.

Bruno Alves - É possível que tenha festejado o sorteio, porque é frente a estes adversários que invariavelmente melhor se dá. Jogo aéreo, trajectórias longas e sem o incómodo de ter de controlar jogador mais ágeis e rápidos do que ele. O resultado foi, outra vez, um grande jogo, onde para além dos inúmeros duelos que venceu ainda acrescentou a sua competência na execução técnica, com uma boa presença na primeira fase de construção e um cruzamento que por pouco não deu em golo.

Pepe - Não fez um jogo tão bom como Bruno Alves, mas não andou longe. Aliás, se para o seu companheiro de defesa é decisivo o tipo de adversário que encontra, para Pepe é mais ou menos indiferente. Consegue impor-se perante qualquer estilo, provavelmente como poucos centrais do futebol actual, e mais uma vez o mostrou.

Veloso - Acabou por ser decisivo ofensivamente, com o cruzamento para o golo de Ronaldo. No entanto, não foi no capítulo ofensivo que mais se evidenciou ao longo do jogo. Pelo contrário. Sem bola, teve um papel importante, quer no mais tradicional equilíbrio posicional em posse, quer - e sobretudo - na missão mais específica de se aproximar dos centrais de forma a ajudar a controlar o jogo directo dos suecos. Um posicionamento que normalmente não é o seu, mas que o foi desta vez por motivos estratégicos e que produziu grandes resultados colectivos. Com bola, por outro lado, deixou-se eclipsar por Elmander (como mostram os seus números de participação em posse, de resto), cujo objectivo era neutralizar a acção do pivot português. Não é a primeira vez que isto acontece, e se Veloso pode acrescentar bastante ao jogo em termos de desempenho técnico, também é verdade que se torna muito fácil neutralizá-lo.

Meireles - Também não foi das suas melhores exibições, apesar do contributo positivo em vários aspectos. Não apareceu muito no jogo, cedendo maior protagonismo para Moutinho, o que não é incomum. Talvez a maior critica vá para a ausência de envolvimento nos corredores laterais, particularmente à esquerda onde se espera que abra mais vezes, dando apoio a Coentrão e permitindo que Ronaldo se integre em zonas interiores. Não aconteceu. Por outro lado, tem sempre um excelente instinto relativamente aos passes de rotura, sendo célere a perceber a oportunidade de explorar a profundidade a partir do corredor central, quando a linha defensiva contrária está a subir. Foi assim, por exemplo, que isolou Moutinho para a primeira oportunidade do jogo.

Moutinho - Começou por ser o protagonista da primeira ocasião portuguesa, num papel de finalizador que foi sempre o seu ponto mais débil. Depois assumiu o protagonismo habitual, sendo o médio mais influente no jogo e estando competente em praticamente todos os domínios do jogo. Ainda assim, há que destacar o seu constante envolvimento sobre o corredor direito, onde também ele deixou a desejar em termos de decisão no último terço, optando demasiadas vezes por forçar o cruzamento perante uma defensiva sueca invariavelmente preparada para responder a essa alternativa.

Nani - É um jogador irreconhecível, parecendo não ser capaz de extrair o potencial que se escondeu na sombra de um horrível momento de confiança - provavelmente o pior da carreira. O melhor, a meu ver, seria simplificar o mais possível e deixar que a confiança se fosse instalando aos poucos, mas estará provavelmente demasiado ansioso em fazer bem para que tenha essa paciência. Possivelmente também não terá ajudado uma presença posicional errática, demasiado tempo escondido do jogo e demasiado tempo fora do seu corredor habitual, do lado direito. É preocupante porque não há alternativa para a qualidade que pode acrescentar.

Ronaldo - Foi o herói do jogo e por pouco não foi mesmo suficiente para deixar tudo muito próximo de estar resolvido. Mas não foi um grande jogo para o seu patamar exibicional. Pareceu ansioso em intervir no jogo, e a própria equipa em solicitá-lo. Não é um bom sinal, até porque raramente algo forçado produz os mesmos resultados do que quando acontece naturalmente. A sua mobilidade é uma mais valia e deve ser potenciada, mas não ao ponto de se abdicar da ordem colectiva ou de o retirar da zona de definição, como por vezes aconteceu. Mas, lá está, há jogadores e jogadores, e para Ronaldo um dia menos bom não deixa de ser um dia onde consegue ser decisivo.

Postiga - Com Paulo Bento encontrou constância na sua utilidade na Selecção. Curiosamente, não dentro do perfil que durante tanto tempo lhe atribuíram, mas fundamentalmente como elemento de finalização, já que a sua participação nas restantes fases do jogo é invariavelmente escassa. Como é um bom executante, tem conseguido um bom aproveitamento das ocasiões de que vem desfrutando. O problema é que nem sempre lhe é fácil encontrar ocasiões e desta vez teve apenas uma, na sequência de um pontapé de canto. 

Hugo Almeida - Tem um perfil normalmente diferente do de Postiga, oferecendo maior dinâmica ao jogo ofensivo da equipa, nomeadamente por trocar várias vezes de lugar com Ronaldo. Algo que acabou por ser decisivo neste caso, já que foi com ele à esquerda e Ronaldo ao meio que Portugal construiu as suas melhores ocasiões. Paradoxalmente, o grande problema de Hugo Almeida tem sido a resposta na sua zona natural, onde para além de ter uma eficiência significativamente inferior à de Postiga revela alguma relação quase autista com a regra do fora-de-jogo.

Josué - Entrou para o lugar de Meireles e assumiu uma presença mais constante na primeira fase de construção, envolvendo-se menos nas dinâmicas em fases mais ofensivas do jogo. Algo que se pode considerar normal face ao pouco tempo que tem na equipa. Surge como mais uma solução para uma posição onde a meu ver não abundam alternativas de grande qualidade no futebol português actual. Estará nele a resposta? Até é possível que assim venha a ser, mas não sou da opinião de que já o seja.

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16.11.13

Portugal - Suécia (I): Aspectos Colectivos

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O melhor de Portugal - Concentração, controlo e a abordagem estratégica defensiva. Não que a Suécia tivesse ficado completamente em branco em termos de oportunidades para marcar, mas mesmo considerando essas excepções foi muito boa a resposta portuguesa no controlo do adversário. Em particular, sublinhar o enfoque estratégico no controlo do jogo directo, com a preocupação de aproximar os laterais dos centrais nas reposições longas e de manter o pivot (Veloso) mais próximo dos centrais, relativamente ao que é costume. Naturalmente, o sucesso do desempenho português neste particular tem muito a ver com a eficácia dos jogadores, e aí há que destacar a forma como mantiveram os níveis de concentração ao longo dos 90', e também a qualidade de jogadores como Pepe e Bruno Alves na resposta aos duelos aéreos. Também nota para o controlo da transição defensiva, onde o bom desempenho português já é mais habitual e não necessitou de uma abordagem estratégica tão específica. Sem sofrer, também fica mais fácil ganhar.

O pior de Portugal - Falta de lucidez no último terço. Paulo Bento lamentou-se - e vem-se lamentando - da falta de eficácia face ao domínio territorial que a equipa exerce. O facto é que a esse domínio não vem correspondendo um grande volume de ocasiões claras de golo. Sobretudo, e a meu ver, há que reflectir sobre a forma como a equipa decidiu no último terço. Portugal encontrou com grande facilidade espaço para progredir no corredor direito, aproveitando a projecção de João Pereira nas costas do extremo sueco. O problema é que, depois, se limitou a embater contra o muro sueco, que é como quem diz, a cruzar para uma zona onde os suecos estavam invariavelmente bem posicionados. E aqui, há que realçar também o mérito do adversário, que de facto se posicionou quase sempre bem para a resposta a este tipo de lance. Do lado português, a minha critica vai para a pouca tendência para trabalhar mais o jogo ofensivo, optando por tentar entrar através de combinações interiores, ou tentando desfazer o posicionamento da defesa antes do cruzamento. João Pereira e João Moutinho serão os principais visados aqui, já que foram os jogadores que mais forçaram cruzamentos em situações menos favoráveis, para mais qualquer dos dois esteve pouco feliz no desempenho técnico dos cruzamentos, o que também ajuda ao insucesso. Outra nota critica para o jogo ofensivo português vai para as movimentações de Meireles, Nani e Ronaldo. Meireles por não ter integrado a habitual dinâmica ao longo do corredor esquerdo, isolando em demasia Coentrão. Nani por ter andado sempre distante da direita, acabando por contribuir muito pouco para a capacidade criativa da equipa. Ronaldo por alguma ansiedade em intervir no jogo, acabando por forçar alguns movimentos pouco coerentes para ordem colectiva e, sobretudo, que o distanciavam excessivamente da zona de finalização. Nesse sentido, acabou por ser positiva a entrada de Hugo Almeida, já que foi com Almeida à esquerda e Ronaldo no centro que Portugal conseguiu as suas melhores ocasiões e, inclusivamente, o golo.

E agora? - A vitória foi muito importante, 1-0 é um bom resultado, mas tudo está, obviamente, longe de estar resolvido. A questão que coloco é que diferenças poderá acrescentar a Suécia no segundo jogo? Não conhecendo bem a equipa nórdica, é-me difícil responder convictamente a essa questão. Se repetir a insistência quase exclusiva no jogo directo, as hipóteses portuguesas são boas, já que a equipa parece muito bem preparada para responder a essa solução. Também é certo que a equipa sueca acabará por assumir outros riscos no jogo, o que trará a Portugal mais ameaças mas também a possibilidade de ter o espaço que lhe faltou nesta primeira mão. Apesar de tudo, e por aquilo que conheço da mentalidade nórdica, não me parece provável que assuma grande exposição desde o primeiro minuto, talvez esperando pela segunda parte para o fazer. No meio de todas estas incertezas, há pelo menos uma coisa que para mim é muito clara e tem a ver com a abordagem mental da equipa sueca, jogando perante o seu público. No passado recente, tivemos jogos muito complicados em terras nórdicas, nomeadamente na Noruega e na Dinamarca, onde nos demos muito mal com a intensidade do jogo adversário e onde o factor casa acabou por ter um peso muito relevante no desempenho das equipas. Não tenho dúvidas de que essas condições se vão repetir, mas esperemos que desta vez possamos ter também outra resposta da equipa portuguesa.

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14.11.13

Benfica: São os cruzamentos, estúpido!

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Começo por sublinhar que o título nem tem destinatário concreto, nem muito menos pretende ser insultuoso para quem quer que seja. A ideia é apenas recuperar a famosa frase de Bill Clinton, adaptando-a ao recente problema do Benfica.
Que há algo de estranho no registo defensivo do Benfica, já o percebemos há muito tempo. Particularmente, o problema da estrondosa eficácia dos seus adversários, é algo que já venho destacando desde a pré temporada. Recentemente, ganhou notoriedade o problema das bolas paradas, que como já escrevi estará possivelmente a ser sobrevalorizado. Uma análise comparativa com os rivais, aliás, desmente que o Benfica sofra proporcionalmente muito mais golos de bola parada do que Porto e Sporting. O problema, no caso do Benfica, está mais na forma como foi sucessivamente batido em pontapés de canto e de uma forma directa (isto é com finalização após o primeiro cruzamento), e não nas bolas paradas como um todo.

Mas, se nos distanciarmos da origem da jogada e nos concentrarmos apenas na origem da finalização, numa análise que separa remates, situações de 1x1 com o guarda-redes, cruzamentos e penáltis, aí sim chegamos a um valor verdadeiramente desproporcionado no registo defensivo do Benfica, quando comparado com os seus rivais. Os cruzamentos! 11 dos 15 golos tiveram origem em cruzamentos, sendo que aqui estão incluídos os 6 de bola parada. O que também emerge desta análise é o extraordinário aproveitamento dos adversários do Benfica quando conseguem finalizar por esta via. 11 das 16 ocasiões terminaram em golo, sendo que Artur apenas por 1 vez (frente ao Anderlecht) conseguiu impedir um golo numa ocasião clara finalizada após cruzamento. Se compararmos com os guarda-redes dos rivais, Patrício e Hélton já conseguiram 3 defesas cada, em ocasiões de golo finalizadas após cruzamento, sendo que ambos também partilham o número de golos sofridos por esta via, 4. Para concluir a análise, de referir que já na pré época, e nos 8 jogos analisados, o Benfica havia sofrido 8 dos 13 golos na sequência de cruzamentos. O que, tudo somado, talvez já seja mesmo demasiada coincidência...

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13.11.13

Guimarães - Porto: Estatística e opinião

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Promessa não cumprida - A primeira parte prometeu uma exibição de outro nível do Porto. Com o Vitória a ter muitas dificuldades em controlar alguns espaços fundamentais e também com alguma exposição no momento de transição, todos os sinais apontavam para que tudo culminasse numa das exibições mais expressivas do Porto em termos de domínio e proximidade com o golo. Surpreendentemente não foi isso que aconteceu, e a primeira parte serviu apenas para resolver o jogo e a eliminatória. Um "apenas" que, obviamente, era o mais importante, mas que acaba por saber a pouco face à expectativa criada. Na segunda parte, o Vitória apareceu com maior agressividade, mas também com mais risco em termos de exposição dos espaços. O Porto, estranhamente, encolheu-se, deixando de se impor pela posse, perdendo ligação no seu jogo e recorrendo cada vez mais a uma construção directa, o que favoreceu claramente o Vitória.

Sinais repetidos na dinâmica com bola - Já o havia referido a partir do jogo de São Petersburgo e o Porto repetiu sinais de uma tendência para alicerçar o seu jogo na projecção dos laterais, com Josué mais claramente numa posição interior, próximo de Lucho, e sem complexos na afirmação do duplo-pivot, algo que pareceu ser um problema para Paulo Fonseca até aqui. É uma dinâmica que, como já escrevi, me parece ajustada ao perfil das características individuais dos jogadores ao dispor do treinador, restando saber como tudo evolui, até porque não é hoje em dia uma solução muito comum. Outra expectativa passa por ver Quintero no lugar de Josué, numa missão marcadamente mais interior, mas sem que isso implique abdicar da mais valia que representa Lucho naquela zona.

Desajuste táctico do Vitória - A meu ver, a forma como o Vitória abordou o jogo não favoreceu muito os seus objectivos. Fundamentalmente, pelo comportamento do seu meio campo. O Porto fez baixar Defour e Fernando para a fase de construção, e exacerbou a presença entrelinhas, com Josué a juntar-se a Lucho. Ora, o Vitória apresentou-se com três médios, com um mais recuado, mas com os outros dois muito adiantados, atraídos pelo tal baixar do duplo pivot portista, e aumentando assim a distância para o pivot, que ficava sozinho numa zona onde repetidamente apareciam duas unidades, Lucho e Josué. Foi uma situação que penalizou muito a equipa na primeira parte, acabando por ser esse período suficiente para que a eliminatória ficasse resolvida.

Individualidades (Porto)
Fabiano - Um jogo diz sempre pouco, e se for sobre um guarda redes, diz ainda menos. Ainda assim, foi uma exibição muito boa de Fabiano, sempre bem em praticamente todos os lances que teve para resolver e também bastante eficiente nas reposições longas do jogo, algo que nem sempre é fácil para os guarda redes.

Danilo - Está normalmente dependente do seu impacto no último terço, porque no resto raramente ultrapassa a modéstia. E assim se explica o menor fulgor relativamente a exibições recentes.

Alex Sandro - Ao contrário de Danilo, costuma ser impressionante em praticamente todos os capítulos do jogo. Nesse sentido, e sobretudo na gestão da posse onde esteve desconcentrado e pouco consequente, esta foi uma das exibições mais vulgares de que tenho memória.

Otamendi - Pelo menos não repetiu as perdas de bola dos últimos jogos, e isso já é um factor muito positivo. Mas ainda assim, não escondeu a fase de alguma instabilidade em alguns momentos, nomeadamente no lance que perdeu para Maazou.

Mangala - Acabou expulso, mas não creio até que tivesse sido das suas exibições menos conseguidas do passado recente. Aliás, até estava a ser o mais interventivo defensivamente quando saiu, o que ao contrário da imagem que passa não é assim tão comum nele.

Fernando - Sem dúvida o melhor em campo, e provavelmente a exibição globalmente mais conseguida em toda a temporada. Foi o jogador mais presente em posse, onde fez jogar a equipa com segurança. Foi, como sempre, uma presença importante em termos de capacidade de intervenção defensiva na linha média. E foi, finalmente, uma das unidades mais influentes também em termos ofensivos, estando presente em 2 das 4 ocasiões da equipa, uma das quais resultou em golo (acidental, mas que também conta).

Defour - Não teve a exuberância de Fernando, mas esteve também ele muito bem no papel que lhe foi confiado. Voltando a mostrar, aliás, que é um dos valores seguros do plantel e que colocar os holofotes na sua posição, face a outros problemas da equipa, é algo que não faz sentido algum. Muito boa a presença defensiva, e muito bom o passe para Lucho no segundo golo.

Lucho - O habitual, sem destoar em nenhum sentido e mantendo a bitola alta. Muito forte na movimentação entrelinhas e muito competente nas tarefas defensivas, fruto do notável sentido posicional que tem, tanto a defender como atacar.

Josué - É evidente a sua qualidade técnica e teoricamente a liberdade que lhe é dada para aparecer no corredor central poderia beneficiá-lo. O facto é que é para que a ideia de ter maior presença entrelinhas tenha verdadeira utilidade, é preciso que os jogadores tenham a capacidade de ser consequentes no último terço, aproximando a equipa do golo. E neste particular, Josué ainda não deu mostras de ser uma solução consistente.

Varela - Nem a equipa o procurou, nem ele próprio se mostrou suficientemente inspirado para representar uma mais-valia em termos ofensivos. Também é verdade que saiu muito cedo e numa fase em que o jogo prometia oferecer mais espaço.

Jackson - Voltou aos golos - a meu ver um disparate estar a fazer disso um tema, perante o rendimento que tem tido - voltou a dar sinais da mais valia excepcional que representa em praticamente todos os capítulos do jogo, mas nem por isso foi uma exibição inspirada. Aliás, pelo contrário.

Kelvin - Paulo Fonseca deu-lhe minutos e face ao actual panorama entre os extremos do plantel, é bem provável que Kelvin não volte a ter uma oportunidade de afirmação como tem pelo menos até ao mercado de Janeiro. Nesse particular, foram 31 minutos desperdiçados.

Carlos Eduardo - Face ao que fez na pré época e às soluções do plantel, é até questionável se justifica a presença no plantel. Não vai ser fácil inverter o cenário, porque teria de mostrar muito no pouco tempo que previsivelmente lhe será concedido.

Maicon - A meu ver faria todo o sentido ter-lhe sido dada uma oportunidade. Não é difícil perceber que, para além do capítulo técnico, há um interesse em valorizar duas unidades que ambicionarão estar presentes no Mundial e duas selecções tão importantes como a Argentina e a França. E é fundamentalmente por isso que dificilmente terá muito tempo de utilização nas principais competições. A primeira excepção está aberta com a expulsão de Mangala.


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12.11.13

7 lances decisivos do derbi

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10' - Ao primeiro lance de algum desequilíbrio no jogo corresponde a jogada que antecede o livre que dá origem ao 1º golo. O lance é interessante porque aproveita o espaço criado pela presença interior de Markovic, muito próximo de Cardozo, o que atrai Jefferson para junto da última linha. Este comportamento cria um espaço no corredor direito e sabia-se de antemão que seria importante para o Sporting controlar a acção de André Almeida neste tipo de situação. O que sucede é que Capel arrisca uma intercepção interior e acaba por desguarnecer o tal espaço criado pela dinâmica da estrutura do Benfica. De notar, finalmente, que este foi um caso excepcional porque enquanto o Benfica manteve Markovic com este comportamento, o jogo raramente se disputou no corredor direito.

14' - Já em vantagem, o Benfica cria uma boa situação de finalização onde se realçam três pontos: 1) a capacidade de Cardozo nos duelos com os centrais; 2) a boa presença de Enzo Perez no aproveitamento dos espaços; 3) a excepcional qualidade do pé esquerdo de Cardozo. 3 pontos que não foram apenas importantes neste lance, mas também decisivos na definição do jogo.

37' - No lance do 1º golo do Sporting sobressai o movimento interior de Montero. A indefinição de Luisão é decisiva porque permite ao avançado virar-se, o que seria desde logo indesejável para quem defende. Esta hesitação tem a ver sobretudo com o facto de Garay estar também fora da sua posição, o que abriria um buraco importante na zona central (provavelmente, Sílvio deveria ter fechado mais por dentro perante a saída de Garay). Depois, há uma grande indefinição na linha média do Benfica, o que resulta numa passividade perante a acção de Montero. Finalmente, e mais uma vez, não há preocupação da linha média em compensar a saída de Luisão, o que acaba por condicionar a resposta ao cruzamento. Isto, mesmo sendo complicado afirmar que se essa compensação tivesse existido, o lance seria posteriormente controlado, porque o cruzamento sai para uma zona muito perto da baliza, sendo inclusivamente finalizado já dentro da pequena área, por Capel. E, desta última constatação surge a dúvida se Artur não poderia ter interceptado o cruzamento?

41' - O lance do 2º golo do Benfica também me parece ser interessante, porque mostra um pouco daquilo que foi o jogo, sobretudo na primeira parte. Boa presença pressionante do Sporting, a dificultar muito a capacidade do Benfica em ter bola e construir o seu jogo através da circulação. A bola acaba por ser recuada para Artur que recorre depois ao pontapé longo, sempre em busca de Cardozo. E aqui começa a fragilidade da estratégia do Sporting. Markovic junta-se a Cardozo, criando uma boa presença junto dos centrais e com alguma distância para os dois médios mais defensivos do Sporting (Adrien e William), "encaixados" no meio campo do Benfica. Depois, o já várias vezes destacado mérito de Cardozo neste tipo de duelos e, finalmente, também a antecipação de Enzo sobre Adrien no ataque à 2ª bola. Quando Enzo ganha a bola, o desequilíbrio já está praticamente criado, porque o Sporting fica com a sua linha defensiva muito exposta. No entanto, ainda seria possível controlar o cruzamento, o que não acontece porque toda a gente se esqueceu de Cardozo, que fica para trás por ter caído no inicio do lance. Maurício tem de sair sobre Enzo, num primeiro momento, e fica fora da zona central, com Rojo e Jefferson a preencher esse espaço. Jefferson é atraído pela presença de Markovic, e como este ataca o primeiro poste, onde está Rojo, o lateral acaba praticamente encostado ao central. Nas suas costas, entretanto, sobra Cardozo, que passou em claro quer a Jefferson, quer a Adrien. E aqui, novamente um caso em que perante a saída de um elemento da última linha, os médios se revelam completamente indiferentes ao equilíbrio na zona fundamental da sua defesa. O Sporting aborda o cruzamento com 2 unidades na primeira linha à frente de Patrício, e nem William nem Adrien revelam em algum momento qualquer preocupação com o que se passa no sector mais atrasado. Uma insensibilidade intersectorial dos médios que não é exclusiva do Sporting e que já tem sido comentada em vários casos aqui abordados.

44' - O 3º golo do Benfica resulta da exploração do momento de transição. A origem do desequilíbrio é óbvia e não tem tanto a ver com o primeiro passe perdido por William, que acontece numa zona já adiantada do terreno e sendo inclusivamente interceptada pela última linha do Benfica. O que sucede, em primeiro lugar, é que o Sporting se encontra demasiado exposto em termos posicionais para reagir a uma eventual perda. O lateral (Piris) está envolvido ofensivamente, assim como os dois médios interiores (Adrien e A.Martins), ambos à frente da linha da bola. Sobrando apenas William e os dois centrais, já que o próprio Jefferson está muito aberto. Normalmente, com a posse nesta zona do terreno, as equipas devem ter a preocupação de manter no mínimo 4 a 5 jogadores em condições de recuperar em caso de perda, até para que se possam garantir também linhas de passe na zona da bola e não obrigar o portador da bola a verticalizar o jogo, que é o que sucede. Ainda assim, o erro de William surge na sua incapacidade de interceptar o passe vertical para Gaitan, o que estava ao seu alcance. A partir desse momento, e mesmo com tanta distância para a baliza, esta seria sempre uma situação difícil de controlar, face à exposição numérica do Sporting. Sobra ainda sublinhar 3 aspectos decisivos no desfecho da jogada: 1) A dificuldade de recuperação de William, que parte na mesma linha de Amorim (que nem é um jogador particularmente rápido), mas não consegue ser útil no remedeio da situação; 2) o bom movimento ofensivo do Benfica, especialmente de Ruben Amorim, que imediatamente abre a sua trajectória de forma a potenciar a exposição de uma linha defensiva já reduzida a apenas 2 unidades, mas também de Gaitan, a conduzir de forma a obrigar que um dos elementos da linha defensiva saísse sobre si para depois soltar a bola; 3) mais uma vez, a finalização de Cardozo, que sendo em boa posição está longe de ser um lance evidente, já que a progressão da jogada foi bem condicionada pela última linha do Sporting, que aguentou até ao limite da área e não caiu em tentação de sair precipitadamente em contenção.

84' - Uma soberana oportunidade para o Sporting empatar, já na recta final do período regulamentar. O que sobressai deste lance é alguma desorganização na linha média do Benfica, em termos de ajuste posicional. A equipa é atraída para o lado direito, revelando depois alguma dificuldade em ajustar o posicionamento à circulação lateral do Sporting e verificando-se também alguma falta de coerência no comportamento dos diferentes jogadores. Por exemplo, Gaitan faz um acompanhamento individual a Piris, enquanto que o outro extremo, Ivan Cavaleiro, acaba no corredor central, inclusivamente atrás dos restantes médios. Algo que terá muito de circunstancial, mas que terá também a ver com alguma ausência de coordenação da equipa dentro de uma estrutura de 3 médios. O que resulta é que apesar do Sporting ter nesta altura desvantagem teórica no meio campo, William fica livre para receber, virar e solicitar a boa presença numérica da equipa junto dos centrais contrários, com Montero e Slimani nesta altura em simultâneo. Depois, mérito para Montero, sobretudo, e também para Mané no movimento interior. Demérito, novamente, para a linha média do Benfica que depois de perder controlo sobre William, também não chega a tempo de auxiliar os centrais no controlo da jogada.

112' - Provavelmente a ocasião mais flagrante dos 120' de jogo. O lance tem origem num lançamento lateral, ainda muito distante da baliza de Patrício, mas que vai ser muito mal abordado pelo Sporting. Primeiro, a acção de Cardozo, que tira partido da diferença de estatura com Jefferson (provavelmente, o Sporting deveria ter feito uma troca com Rojo para a abordagem a este lance). Depois, o mérito de Lima e o demérito de Rojo. Começando pelo central do Sporting, que se deixa antecipar num primeiro momento e que depois aborda mal o lance, acabando por ver a sua equipa exposta. Quanto a Lima, toda a sua acção é muito bem conseguida, saindo da marcação a Rojo e fazendo depois um passe também ele excelente para a entrada de Ivan Cavaleiro. Vale ao Sporting a igualmente notável reacção de Patrício e o desacerto posterior de André Gomes.

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11.11.13

Benfica - Sporting: Estatística e opinião

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Bom e justo - Começando com uma apreciação mais geral, o derbi foi bom e justo. Bom - ou mais do que isso - pelos trambolhões emocionais, que nos fazem recordar a verdadeira razão deste jogo ser tão cativante para tanta gente. Mas também, bom, porque foi bem jogado, tendo o volume de golos mais a ver com o mérito de quem ataca do que com o demérito de quem defende. Isto, apesar dos dedos se estenderem sempre no mesmo sentido acusatório. Justo, porque foi o Benfica quem mereceu mais ficar com os louros finais. Mais sobre isso em seguida...

Benfica mais objectivo, mas sem repetir o Pireu - De facto, na minha opinião, o Benfica justificou o triunfo, mas justificou-o fundamentalmente pela maior proximidade com o golo. Aqui, há que destacar evidentemente uma unidade, Cardozo. Pelos golos, claro, pelas oportunidades que chamou a si, mas também por ter sido importante num aspecto específico do jogo - as primeiras bolas aéreas - que se revelou muito importante para que o Benfica contornasse os problemas que o Sporting causou à sua circulação baixa. E, aqui, entro na apreciação ao balanceamento do jogo, onde o Sporting não foi inferior ao Benfica. Antes pelo contrário, o Sporting conseguiu lidar sempre muito melhor com o pressing do Benfica do que o contrário, acabando por promover mais circulação, sobretudo durante o tempo regulamentar.

Aqui, duas notas importantes de ambos os lados. Do lado do Benfica, a dificuldade da equipa em ser mais agressiva sobre a primeira fase de construção do Sporting quando perde presença junto de Cardozo. Jesus tentou aproximar Markovic do corredor central para o fazer, mas rapidamente isso deixou de ser possível, acabando o sérvio por ter de se fixar mais na ala. É uma situação que denota alguma falta de ajustamento da dinâmica pretendida (pressing alto) à nova estrutura implementada (4-3-3). Do lado do Sporting, a capacidade de condicionar o jogo em posse do Benfica - tal e qual havia feito no jogo do campeonato - mas depois dificuldades em lidar com a primeira bola na construção longa do Benfica, algo que já havia sucedido frente ao Porto e que voltou a acontecer agora, mesmo se o Benfica nem sempre explorou devidamente essa alternativa.

Em suma, o Benfica foi melhor essencialmente por ter conseguido maior objectividade no seu jogo, retirando partido do papel de Cardozo e também do momento de transição. Mas não se repetiu, de maneira nenhuma, o filme do Pireu. Aliás, nem era de esperar...

Bolas paradas - Uma nota para o problema das bolas paradas do Benfica. É evidente que a equipa tem sido demasiado batida neste tipo de lances e que isso justifica obviamente uma revisão do estado de coisas. Mas há a meu ver algum exagero na forma como se aborda o tema. Aqui ficam dois pontos de opinião sobre o tema: 1) não há nenhuma equipa que seja imune a este tipo de situação, e o factor aleatório também conta muito na percepção que é tida, porque bastam 2 ou 3 lances menos conseguidos para que se questione tudo (o que não invalida, repito, que o Benfica deva de facto rever o problema). 2) o tema de zona vs hxh é abordado de forma absurda pelos defensores de ambos os métodos. Ninguém concretiza uma análise que mostre objectivamente que um método é mais eficaz do que o outro, e o que fazem é esgrimir argumentos que servem, ora a uns, ora a outros, em função da situação. O Benfica defende à zona, tem condições (estatura) para o fazer, e não vejo nenhum motivo para que mude Aliás, muito pelo contrário.

Individualidades (Benfica)
Artur - Continua a não ter responsabilidades nos golos. Continua com uma eficácia horrível nas ocasiões de golo que vão à baliza.

André Almeida - A forma como o Benfica começou o jogo, sem um jogador fixo sobre a direita, dava-lhe alguma responsabilidade e exposição. Paradoxalmente, foi nesse período que esteve melhor. Porque começou por ser ele a causar o desequilíbrio que deu origem ao livre do 1 golo, e porque na primeira parte o jogo se inclinou exageradamente para o outro corredor. Na segunda parte, e quando o Sporting passou a forçar a saída pela esquerda, aí sim, teve mais problemas, não estando isento de alguns erros.

Sílvio - Ao contrário do A.Almeida, foi na 1 parte que teve mais trabalho. Mas é precisamente nesse registo que se torna mais útil e deu-se bem. Ofensivamente, tem dificuldades naturais em dar profundidade ao corredor.

Luisão - Houve uma grande assimetria no protagonismo com Garay. Luisão teve muito menos bola (estratégico?), sentindo nesse aspecto muitas dificuldades perante a pressão do Sporting. A defender, interveio sobretudo em organização, estando bem sobretudo em trajectórias mais largas, mas tendo algumas dificuldades perante os movimentos interiores de Montero. Se não fosse o golo, seria um jogo modesto.

Garay - Bem mais interventivo do que Luisão com bola e também com mais trabalho, sobretudo pela forma como o jogo se instalou no seu lado na primeira parte. Acabou por fazer um jogo regular em quase todos os planos, embora também ele tenha tido dificuldades perante a presença interior de Montero.

Matic - Foi provavelmente o melhor jogo que lhe vi esta temporada naquilo que deve ser o seu papel. É muito forte a intervir à frente da defesa e tem qualidade para acrescentar algo com bola. O problema de Matic tem sido a perda de critério, talvez deslumbrado pela sua própria capacidade, e acabando por perder eficácia naquilo que realmente é a sua missão. Não foi dos mais vistosos, mas a meu ver foi dos mais importantes no sucesso da equipa.

Ruben Amorim - De novo, tal como frente ao Olympiakos, com excelente critério com bola, acrescentando a simplicidade que tantas vezes falta às primeiras fases ofensivas da equipa. Ainda complementou com 1 assistência, uma exibição que do ponto de vista defensivo não conseguiu grande eficácia em termos de intervenção directa.

Enzo Perez - Jogo de grande entrega, como sempre, correndo muito o que nem sempre é algo positivo. O grande mérito da sua presença foi a transversalidade das suas acções, conseguindo ser útil e eficaz em praticamente todos os capítulos. Defensivamente, em posse e em termos de influência criativa.

Gaitan - Fantástico! A capacidade criativa já é esperada, tendo estado em 4 ocasiões da equipa. Depois, passou por vários papeis, emprestando sempre a sua qualidade com bola. Defensivamente, o lado do seu jogo onde é francamente subestimado, apenas foi superado em termos de intervenções defensivas por Matic e André Almeida, o que para um extremo é tremendo. Apenas peca por algum deslumbramento com bola, especialmente em fases mais adiantadas dos jogos, onde o excesso de confiança, e provavelmente o cansaço, o faz procurar lances para a plateia mas que objectivamente tendem a prejudicar a equipa.

Markovic - Pensei que pudesse ter outro impacto, mas não o teve. A ideia de o projectar na profundidade, como frente ao Olympiakos, não poderia resultar perante uma defesa mais baixa como é a do Sporting. Tem um potencial tremendo, mas ainda não sabe como explorá-lo, perdendo-se várias vezes nos jogos. É um desafio para ele e para Jesus e que fará toda a diferença na sua carreira.

Cardozo - Já escrevi muito sobre ele. Foi o jogador decisivo do jogo, com uma importância que vai para além dos golos e que tem a ver com a forma como cria problemas nos duelos com os centrais adversários. Depois, é verdade que a sua influência em termos de envolvimento no jogo (quantidade) é baixa, e que isso é um ponto negativo.

Ivan - A sua oportunidade está aí, com minutos em praticamente todos os jogos. A sua intermitência sugere que possa não ser fácil agarrar o estatuto.

André Gomes - Tem um óptimo critério, mas faltam-lhe outras características para o levar até patamares mais elevados. Cumpre quase sempre, mas apenas isso, e o tempo dirá se será capaz ou não de evoluir para outro nível.

Lima - Continuo a sublinhar que se valoriza excessivamente o aproveitamento em termos de finalização. Não que esse aproveitamento não seja relevante, mas porque no curto prazo não é conclusivo sobre o valor do jogador. Mais uma vez, Lima precisou de pouco tempo para causar estragos, e é um valor seguríssimo desta equipa.

Individualidades (Sporting)
Patrício - Fez um grande jogo, manchado pelo golo decisivo. Este será dos erros mais embaraçosos em termos mediáticos, mas parece-me ser dos que mais atenuantes têm para o guarda redes. Podia, e provavelmente devia, ter feito melhor, mas é um lance totalmente imprevisível, com um ressalto improvável a uma distância muito curta. Já cometei erros bem mais censuráveis, a meu ver...

Piris - Grande jogo do lateral, repetindo uma grande eficácia defensiva, quer nos duelos, quer em termos posicionais. E não era um jogo fácil, porque tinha Gaitan pela sua frente. Ofensivamente não deu para mostrar mais, mas fica claramente reforçada a sua candidatura à titularidade.

Jefferson - Perante um extremo falso, teve dificuldades em ser útil defensivamente, e realizou um jogo modesto a esse nível. A partir da segunda parte passou a ter outra utilidade em termos de envolvimento ofensivo, que é afinal o seu ponto forte. Mas desta vez não conseguiu ser determinante.

Maurício - Teve dificuldades perante Cardozo, ganhando uns duelos e perdendo também vários. Mas aí o mérito é mais do avançado, tendo Maurício feito um jogo em crescendo nesse particular. Como sempre, o dedo está virado para os centrais quando se sofrem tantos golos, mas não concordo em nada com essa responsabilização no caso do Sporting. Com bola, manteve um critério sóbrio, ajustado ao seu perfil e à sua função, o que é sempre o mais importante. Com o golo que marcou, parece-me que fica composta uma exibição bastante positiva.

Rojo - Em grande parte a análise é semelhante à de Maurício, embora no caso de Rojo tenha havido alguns lances onde me parece que a sua abordagem não terá sido a melhor, o que num jogo de pormenores faz muita diferença. Mas, repito a ideia, não foi pelos centrais que o Sporting perdeu.

William - Um dos jogos menos conseguidos que lhe vi. Mais dificuldades em posse, embora tenha mantido uma presença globalmente bastante positiva. E dificuldades também em termos defensivos, o que não é tanto uma novidade. Particularmente, e para além das suas limitações mais naturais, tem de ser mais contundente nas primeira bolas aéreas, onde perdeu alguns duelos onde tinha vantagem. Esteve no inicio da transição que dá origem ao terceiro golo.

Adrien - Jogo de grande entrega, conseguindo ser protagonista no livre que dá o 3-3. Aparece no jogo com uns pormenores que lhe dão muito destaque, mas era preferível que tivesse uma presença mais constante em termos de qualidade e influência em posse, coisa que não tem e que o impede de ser realmente uma mais valia para a equipa.

André Martins - O seu trabalho sem bola, nomeadamente na 1 linha do pressing é meritório, mas tem muitas dificuldades em ser uma presença mais influente no jogo da equipa a partir desta posição. Na primeira parte, com o jogo a ser canalisado muito pelo seu lado, não foi capaz de se afirmar, e na segunda passou a intervir em zonas mais baixas, o que o fez finalmente aparecer com mais frequência. Foi, no entanto, precisamente nessa altura que saiu.

Capel - Marcou o golo e pouco mais vezes tocou na bola na primeira parte, com o jogo muito concentrado no flanco oposto. Na segunda trocou de lado, mas o Sporting também passou a jogar mais pela esquerda, o que de novo lhe retirou protagonismo. A ideia, parece-me, era inclui-lo em posições mais interiores, baixando Martins para intervir mais na construção. Uma solução que não estava a desagradar, mas que foi testada durante pouco tempo.

Wilson - Mantém uma presença muito boa em termos de desequilíbrios ofensivos, com mais uma assistência. Em parte isso deve-se ao facto de Wilson ser um bom executante, especialmente com o seu pé direito. O problema é que não é Wilson que leva a equipa para essas situações e, ao invés, tem de ser a equipa a leva-lo a ele. E isso às vezes não chega.

Montero - Na comparação com Cardozo fica a perder e não apenas com os golos. Tal como no Dragão, fez falta ao Sporting uma referência mais forte para as primeiras bolas, num jogo onde às vezes não é fácil progredir de forma apoiada desde trás. Quando a bola lhe chega pelo chão, aí sim, Montero torna-se útil, e foi-o novamente neste jogo apesar de não ter marcado.

Carrillo - Deu outra dinâmica à esquerda, voltando a revelar que é o extremo que melhor se entende com Jefferson. O envolvimento foi bom, mas não o suficiente para provocar estragos na defesa do Benfica, e isso é sempre o mais importante.

Slimani - Novamente, parece-me que a sua entrada no jogo aconteceu cedo demais, numa fase em que a equipa estava por cima no jogo e com Slimani a ter dificuldades previsíveis em se envolver no jogo. O facto é que, também novamente, Jardim ganhou a aposta, com Slimani a ter uma presença muito importante nos lances decisivos e num curto espaço de tempo.

Mané - Um pouco à imagem de Slimani teve um impacto positivo no jogo. O que, no entanto, ainda quer dizer pouco relativamente ao seu potencial.

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