28.4.11

R.Madrid - Barcelona: Estatística e algumas notas

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1- Como já referira ontem, este foi, na minha opinião, o pior dos três duelos já disputados entre as equipas. O pior, de parte a parte. Do lado do Barcelona, justifica-se a perda de qualidade pelas ausências de Iniesta e Adriano (ou mesmo Maxwell). Esse, aliás, era um ponto a explorar pelo Real Madrid, que não pode ter nas baixas de Khedira e Carvalho explicação suficiente para o jogo menos conseguido em relação aos anteriores. Particularmente, a primeira parte. Como constatação fundamental fica a convergência do jogo em que o Barcelona menos erros cometeu (ou foi forçado a cometer) em posse, e aquele onde o Real menos perigo criou. Sublinho "convergência", para que não se confunda com "coincidência".

2- Começando por essa "nuance", das ausências de Iniesta e Adriano, e num detalhe que gostaria de aprofundar com imagens (mas não sei se haverá oportunidade), creio que Mourinho terá perdido uma oportunidade de ouro para condicionar, melhor e de outra forma, a posse do Barça. Sobretudo, a presença de Puyol à esquerda, e tendo em conta a qualidade dos restantes pontos de saída de bola, devia ter sido explorada, possivelmente libertando o lateral e forçando deliberadamente que a bola entrasse por esse corredor. A ausência de Iniesta era o complemento ideal, porque Keita não é, nem de perto, uma solução tão ameaçadora como o habitual camisola 8. Nada disto foi feito, porém. Puyol foi aquele que menos jogou dos elementos de construção, e teve uma actuação isenta de erros comprometedores, com uma % de sequência em posse próxima dos 90%. Keita, por seu lado, teve cerca de metade da influência em posse de Iniesta na primeira partida, mas sem que isso representasse um problema de segurança em posse para o Barcelona.


3- Na análise ao último jogo, trouxe aqui a importância do aprisionamento dos laterais aos corredores para o sucesso da posse do Barça. Pois bem, Guardiola terá reparado também nisso e, desta vez, abriu claramente Pedro e Villa, impedindo Arbeloa e Marcelo de auxiliar os médios em zonas mais interiores. Este pormenor é importantíssimo para o desconforto do Real no pressing do primeiro tempo. Sobretudo à esquerda, Ozil revelou-se pouco agressivo e útil (também já tinha escrito sobre esta condicionante na utilização criativo alemão), e Lass andou perdido entre a decisão de pressionar a zona de Busquets ou manter a posição na zona de Keita. O resultado foi um notório desconforto do Real no pressing, e um número muito menor de erros em posse do Barcelona. Uma das soluções poderia passar por aproximar mais claramente um dos centrais no espaço entre linhas, ou, como expliquei, "desprezar" deliberadamente a protecção zonal a Puyol.

4- Estes duelos ficam marcados, em termos tácticos, pela adaptação defensiva de Mourinho à fantástica capacidade de posse e circulação do Barça. O que é igualmente importante notar, é que a adaptação faz-se também em relação à capacidade defensiva do Barça. Ou seja, o Real, quando tem a bola, não joga da mesma forma que faz durante toda a época. Tenta soluções mais directas, e os seus jogadores sentem-se muito pouco confiantes com a bola nos pés, como que aterrorizados com a possibilidade da perda. Pode (e deve, a meu ver) discutir-se até que ponto é justificado tamanho respeito, mas o ponto nesta altura mais importante a relevar (e não me canso de o repetir) é que a "revolução Guardiola" dá-se muito pela qualidade transversal que o treinador introduziu na equipa, e que anteriormente não existia. Isto é, o Barcelona não é a melhor equipa do mundo apenas pela sua capacidade em posse, ou pela genialidade de Messi. É, também (e na minha opinião), a equipa que melhor defende no mundo.

5- Importante notar que, apesar da justiça inequívoca da vitória, pouco indiciava que esta fosse tão fácil para o Barça como acabou por acontecer. Ou seja, até à expulsão o jogo distinguiu-se sobretudo pela ausência de oportunidades, tendo havido apenas uma para o Barça, em 60 minutos. Aliás, o Real teve o seu melhor momento precisamente no primeiro quarto de hora do segundo tempo, com a entrada de Adebayor a produzir notórios efeitos, seja pela maior agressividade do togolês, seja pelo acréscimo de clarividência colectiva do Real com essa alteração. Ninguém sabe o que daria o jogo em igualdade numérica, mas sabe-se que, e ao contrário do que acontecera no jogo para o campeonato, foi apenas perante a situação de superioridade numérica que o Barcelona acabou por justificar verdadeiramente o triunfo.

6- Em termos individuais, quero acrescentar algumas notas. Para Piqué, porque quando se fala do "melhor central do mundo", não se pode nunca deixá-lo de fora. Para Pepe, porque a sua utilização à frente do "pivot" voltou a não ser tão produtiva como havia sido no primeiro jogo, onde jogou como elemento mais recuado do meio campo. Para Ronaldo, que tendo feito o jogo mais desinspirado da série, deu um exemplo de entrega, sendo o jogador que mais intercepções conseguiu na sua equipa (notável, para um avançado!), e apenas superado por Piqué, no jogo. Para Messi, que não teve, a meu ver, uma exibição tão boa como noutros jogos, mas que acabou por emergir nos momentos certos, ficando na "fotografia" uma exibição histórica. Para Afellay, sobre quem escrevi algum tempo antes de se transferir para a Catalunha. A sua versatilidade e qualidade permite-lhe jogar em várias posições, mas continuo a pensar que é em zonas de construção que está o seu potencial.

7- Duas notas sobre as peripécias destes duelos (e não só, já agora). Primeiro, para realçar que, ao contrário do que em certos momentos se quis fazer passar, não há equipas mais "nobres" do que outras. Ou, pelo menos, não a este nível. O jogo teatral e de pressão sobre os árbitros em contexto de jogo (e estou a referir-me apenas aos jogadores), é uma "arte" de especialidade latina, mas que acontece em todos os lados e em todos os desportos. O motivo resume-se ao simples facto de os jogadores quererem ganhar e estarem dispostos a fazer tudo o que está ao seu alcance para tal. O ponto deste meu comentário, é que o Barcelona, tal como qualquer equipa, joga essencialmente para ganhar. A sua realização/frustração depende do resultado e não de outras métricas. Não perceber isso, é não perceber boa parte da natureza e mentalidade desta fantástica equipa. Segunda nota, para referir que se adeptos e público não se revêem nos jogos de simulações e pressões sucessivas dos jogadores, então devem censurar quem define as regras do jogo, muito mais do que os jogadores. Os jogadores, como qualquer um de nós, só querem o melhor para eles. E o melhor para eles, hipocrisias à parte, resume-se numa simples palavra: ganhar.

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