18.4.11

Real Madrid - Barcelona: Estatística e algumas notas

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Real Madrid: A “ceder da posse” ou “racionalizar a recuperação”
Na realidade, creio que a “cedência da posse” nunca é uma boa estratégia. O que pode acontecer é um reconhecimento das dificuldades de recuperação da bola e, por consequência, uma racionalização da acção defensiva. Quando se confunde “ceder a posse” com “racionalizar a recuperação”, e mesmo se os dois conceitos possam muitas vezes parecer a mesma coisa, está-se normalmente a dar um passo gigante na direcção da derrota. O que o Real fez foi, precisamente, racionalizar a sua recuperação de bola, assumindo e reconhecendo a força extraordinária que tem a posse e circulação do Barça, mas não abdicando de a tentar condicionar. Sobre as diferenças entre estes dois conceitos, “ceder a posse” e “racionalizar a recuperação”, importa notar que o objectivo do Real não era, nem nunca foi (mesmo com 10), jogar num bloco baixo ou aglomerar-se junto da sua área. Era, isso sim, tentar condicionar a circulação contrária e, se possível, provocar a perda em zona de construção. O ponto é este: perante equipas fortes na posse e reacção à perda, recuperar em cima da área torna praticamente impossível a transição.


Barcelona: o dilema do efeito Messi
Há, a meu ver, um acréscimo de qualidade e dificuldade para os adversários no Barcelona “pós-Ibrahimovic”. Com a passagem de Messi para a zona central, a equipa torna-se ainda mais forte na construção, criando uma dilema terrível para as defensivas contrárias. Ou seja, por um lado, o avançado (Messi) baixa criando superioridade numérica na zona de construção/criação. Por outro, a zona central da linha defensiva é sempre aquela que é mais importante proteger, pelo que retirar-lhe presença em qualquer instante é assumir uma vulnerabilidade extrema em termos de segurança defensiva. Isto, claro, para além da qualidade absurda do próprio Messi.

A grande dificuldade de controlo do bloco do Real teve a ver com esta particularidade. Normalmente, haveria uma situação de 3x3 no corredor central, mas com o efeito Messi, o Barça tinha sempre uma unidade a mais. O Real estava obviamente preparado e manteve Benzema mais contido e próximo de Busquets, para que nenhum dos outros médios tivesse de sair ao primeiro apoio e fragilizasse, depois, o controlo no espaço entre linhas. Nem sempre foi conseguido, muito pela acção de Piquet, mas foi pelo menos relativizado.

Pepe: a arma defensiva de Mourinho
A resposta de Mourinho ao efeito Messi passou muito pela utilização das características extraordinárias de Pepe. Ou seja, a sua reactividade no espaço é enorme e, prevendo a tal dificuldade do Real em manter equilíbrios numéricos no corredor central, Pepe garantia maior capacidade de reagir e recuperar rapidamente. Assim foi. O outro lado da sua utilização teve a ver com as primeiras bolas aéreas. Ou seja, em situações de falta em zona recuada, Pepe subia para próximo de Benzema, para disputar a primeira bola e dar, nesse particular, boas possibilidades ao Real para sair a jogar a partir da segunda bola. Tanto num como noutro plano, Pepe correspondeu.

É habitual ouvir-se e ler-se criticas a Pepe. Haverá várias criticas justificadas, sem dúvida, mas a generalidade resulta de uma repetitiva dificuldade em perceber que no futebol não existem decisões ou abordagens certas ou erradas, por definição ou convenção. Que a complexidade (termo muito em voga, mas raramente percebido) do jogador implica precisamente que qualquer componente é relevante e influencia todas as outras, inclusive a decisional. Ou seja, que se Pepe tem mais valias extraordinárias em termos físicos, isso lhe permite ter formas de jogar diferentes de jogadores mais limitados em certas características e que isso não representa um defeito, mas, no mínimo, uma mais valia potencial.

Há que constatar, já agora, que durante épocas o Real investiu sucessivamente em centrais de potencial, mas que o único que se afirmou nessa condição foi precisamente Pepe, e não apenas com um treinador. Mais inteligente do que negar a realidade, é tentar percebe-la. Para já, e não tendo dois Pepe disponíveis, é mais do que provável que Mourinho continue a fazer do central uma opção estratégica no controlo de meio campo.

Balanço do jogo
Começando pelos aspectos estatísticos, de notar alguns dados absolutamente invulgares, para além da já esperada avalanche de posse de bola e passes do Barcelona. Esta característica do jogo do Barça quase que absorve tudo o resto. Ou seja, houve muito menos intercepções, finalizações ou passes da outra equipa do que é habitual. Jogadores como Carvalho e Albiol (enquanto esteve em campo) raramente tocaram na bola, fosse para defender ou atacar.

De resto, o resultado parece-me justo, embora não se estranhasse se qualquer das equipas pudesse ter vencido o jogo, com o Barcelona ligeiramente mais próximo desse objectivo. O Barcelona, como é seu hábito, focalizou-se em absoluto nas situações de organização, chegando através dessa via a todos os seus desequilíbrios, destacando-se a forma como conseguiu, nesses momentos, chegar a situações de finalização através do corredor central. Já o Real, embora tivesse apostado tudo no momento de transição, conseguiu aproximar-se do golo sobretudo de bola parada, com Ronaldo, Di Maria e Sérgio Ramos em destaque.

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