5.4.11

Benfica - Porto: notas e reflexões do clássico

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Talvez tenha sido até mais interessante que o próprio jogo... Título no bolso, vitória na casa do rival, ponto alto de uma ainda curta carreira. No rescaldo desse momento, estranhamente, nem tudo era satisfação no discurso de Villas Boas. Para o treinador, havia uma pequena pedra no sapato que não o deixava totalmente confortável: o reconhecimento do valor estético de um estilo . O seu estilo.

“O futebol do Benfica é a vertigem da velocidade e nosso é a cultura da pausa, da temporização e da posse.”

Na verdade, o próprio o reconheceu: a discussão da qualidade não se faz pelo estilo, porque o estilo mais não é do que uma questão de gosto e, como diz o povo, “gostos não se discutem”. Mas estou completamente de acordo quando Villas Boas questiona o futebol do Benfica como sendo o “melhor”, numa ideia que entretanto se difundiu como verdade inquestionável. Precisamente, porque a qualidade não se define no estilo, e porque, dentro de estilos diferentes, foi o do Porto que revelou uma interpretação mais consistente e convergente para o sucesso. Portanto, se a discussão é sobre qualidade, não se discuta o estilo, mas sim, ela mesmo, a qualidade.


...vamos lá outra vez... o critério!
Não custa voltar ao tema: o que mais distingue, então, o futebol de Benfica e Porto? Critério. O Porto é criterioso, o Benfica é impulsivo. As implicações disto, porém, estão muito mais lá atrás do que lá à frente. Ou seja, o Porto não ganha pelo critério porque consegue melhores resultados ofensivos. Ganha, sim, porque o critério o protege muito mais de erros comprometedores que têm custos defensivos. Quer isto dizer que esta discussão, parecendo ser sobre “como atacar”, é, na realidade, muito mais sobre “como começar a defender”. E isso é o que é repetidamente ignorado.

O clássico como exemplo sintomático
O jogo não foi bom para nenhuma das equipas. “Menos mau” para o Porto, é certo, mas longe do que pode realmente fazer. Daria para dizer, até, que as equipas se equivaleram quase por completo. “Quase”... não fosse uma pequena “grande diferença” que tem a ver com aquilo que escrevi antes e, já agora, com a forma como este campeonato se decidiu.

A menor preocupação com o critério e com a segurança em posse coloca este Benfica à mercê das suas emoções. Quando está bem, é avassalador, mas quando começa a duvidar de si, torna-se uma verdadeira máquina suicida. Ofereceu um sem número de ocasiões de golo ao Porto e, com isso, é já um feito que se tenha mantido com vida até ao último instante. Pode-se discutir opções, estratégias ou até estilos, mas quando se erra, como o Benfica errou, não dá para esperar outra coisa que não seja a derrota. E assim foi.

Discordando de Villas Boas...
Continuando a aproveitar o rescaldo de Villas Boas, tenho de discordar com boa parte das suas apreciações ao jogo em si mesmo. Primeiro, sendo verdade que o Porto não foi eficaz perante as oportunidades que teve para “fechar” o jogo, também é um facto que o foi, e em pleno, ao concretizar as primeiras duas ocasiões que conseguiu. Depois, porque o próprio Benfica teve a sua dose de ineficácia.

Finalmente – e voltando à discussão sobre estilos e qualidade – é verdade que as abordagens do Benfica nem sempre foram as mais clarividentes, mas também nem sempre as do próprio Porto o foram. O curioso é que o Benfica conseguiu praticamente todas as suas ocasiões através de situações de ataque posicional, enquanto que o Porto se aproximou do golo partindo sobretudo de situações de transição, beneficiando da tal exposição ao erro do seu adversário. Ou seja – e a conclusão é óbvia – a qualidade não tem a ver com a preferência por um estilo, ou por uma especialização num momento táctico do jogo. Se o futebol tem 6 momentos, só se pode aspirar à excelência sendo forte em todos eles. O Porto, por mais que goste e valorize a posse e o ataque posicional, é apenas um exemplo desta evidência.


As opções: de Airton a Peixoto
Já expliquei como, para mim, falar de opções e estratégias é perfeitamente secundário face ao tipo de erros que o Benfica cometeu. Hoje, como sempre, é fácil falar de tudo o que poderia ter sido feito de forma diferente. Hoje, como sempre, é fácil apontar caminhos alternativos depois de se saber que o caminho escolhido não resultou. Seja como for... é verdade que Airton se revelou uma opção completamente falhada, e é verdade também que, com Peixoto ao lado de Javi, o meio campo não pareceu tão vulnerável. O Benfica não ganhou muito ofensivamente, mas perdeu menos defensivamente. Porque é que Jesus não optou por essa solução de inicio, sendo que havia ganho o jogo no Dragão com essa “fórmula”? Não tenho uma resposta 100% convicta, mas arriscaria que o treinador do Benfica estará a pensar em fazê-lo no jogo da Taça, não querendo, por ventura, denunciar essa intenção neste jogo. De todo o modo, quem acredita em “fórmulas” no futebol... engana-se.
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