8.9.10

Depois da incompetência... a negligência!

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Os melhores 45 minutos que vi na “era Queiroz” tiveram lugar na Escandinávia, faz precisamente 1 ano. Frente à Dinamarca, Portugal experimentou o losango na primeira parte, jogou bem, parecia ter encontrado finalmente um novo rumo para o seu futebol, mas... chegou ao intervalo a perder. Porque estou a falar disto agora? Porque na altura houve do banco uma atitude que contrasta radicalmente com a que se viu desta vez, na Noruega. Há 1 ano, e apesar de estar a jogar bem, Queiroz mexeu ao intervalo. Agora, e num jogo cujas circunstâncias se alteraram aos 20 minutos, Queiroz – ou seja quem for que estava a decidir em seu nome – demorou 70 minutos a alterar alguma coisa. Isto, perante um adversário em vantagem e com o controlo total sobre as incidências do jogo.

Onde quero chegar? Bom, ou a incompetência tem uma dimensão que transcende todos os limites – o que eu não acredito! – ou houve neste jogo, para além da mediocridade observada, desinteresse e negligência profissional de quem dirige e toma decisões. Queiroz afirmou que o que lhe interessa não é o dinheiro, mas sim a integridade da sua reputação. Pois, por mim, bem se pode começar a agarrar ao dinheiro, porque, depois do que tenho visto, a reputação já ninguém lha salva.


Notas colectivas
A complexidade do futebol enquanto jogo impede-me de conseguir explicar exactamente o porquê de certos fenómenos. Por exemplo: porque é que a estabilidade emocional dos jogadores é contagiada pela fragilidade de outros aspectos, como o técnico ou táctico? Não sei porquê, mas a verdade é que as coisas se parecem interrelacionar com uma velocidade vertiginosa, e o caso do erro de Eduardo não é mais do que um dos muitos contributos para esta estranha constatação.

Bom, esse momento foi obviamente decisivo no jogo que vimos. Foi-o porque, apesar de estar longe de impressionar, Portugal parecia tudo menos destinado à derrota até então. Tinha tido mais bola, criado uma óptima oportunidade e nem o jogo directo do adversário havia criado problemas. Depois do golo, porém, as circunstâncias do jogo mudaram. Mais do que na discussão do domínio, tudo se jogaria, agora, na capacidade que Portugal tivesse para pôr em causa o controlo norueguês. Ora, como todos vimos, nunca isso nunca aconteceu. Teve um domínio consentido, mais bola, mais passes e até mais remates, mas tudo a pelo menos 30 metros da baliza. Oportunidades construídas depois do 1-0? Zero.

Tacticamente, Queiroz (ou Agostinho Oliveira, ou alguém...), desfez o problemático “duplo pivot”, introduziu Tiago e formou um triângulo com Manuel Fernandes como unidade mais recuada e Meireles como elemento que se aproximava de Hugo Almeida sempre que a equipa ganhava a bola. Terá, com isto, corrigido alguns problemas de equilíbrio posicional na zona central e, sobretudo, devolvido à equipa um modelo em que esta efectivamente sabe jogar. Menos mau, mas profundamente insuficiente após o erro de Eduardo. Infelizmente, e como referi no inicio negligentemente, nada foi feito durante muito tempo e a derrota ficou traçada a 90% com o tal lance aos 20 minutos de jogo.

Uma palavra para a equipa da Noruega que demonstrou uma vulgaridade que me surpreendeu. Não fez absolutamente nada para ganhar. Não teve capacidade para criar, para contra atacar, nem sequer para usar o jogo directo, onde Manuel Fernandes era uma lacuna óbvia a explorar. Quando os recebermos, e se tivermos assentado a poeira nessa altura, vamos dar-lhes um belo troco. Palpita-me!

Notas individuais
Custa-me discordar da sua inclusão porque foi, para mim, o caso mais evidente de determinação e entrega. Ainda assim, que sentido faz incluir Hugo Almeida num jogo como este? Se os nórdicos são fortes no ar e se o ponta de lança está lá essencialmente para atacar, que sentido tem colocar uma unidade que vai de encontro ao perfil de quem defende? Será que era para defender? Colocamos um ponta de lança para defender nas bolas paradas?

Um pouco em sentido contrário, está Manuel Fernandes. Andamos uma enormidade de tempo a tentar encontrar “pivots” fortes no ar. Era uma crença de Queiroz que, podendo ou não concordar-se, tinha uma razão lógica de ser. A utilização de Manuel Fernandes nessa posição, contra este adversário, é uma enorme incoerência com o passado e, para mim, mais uma evidência do desinteresse total de quem dirige a equipa.

A verdade é que a capacidade aérea de Manuel Fernandes nunca fez falta e ele acaba, para mim, como a melhor notícia desta dupla tragédia da Selecção. O seu talento nunca foi dúvida, mas muitas vezes o vimos como um jogador inconsistente nas suas decisões. A verdade é que em 2 jogos, Manuel Fernandes foi o jogador que mais passes completou, conseguindo um nível de sucesso na ordem dos 90%, juntando os 2 jogos. Não sei se foi circunstancial, mas é seguramente relevante.

De resto, o jogo foi pautado por uma posse de bola fácil numa primeira fase e uma grande incapacidade colectiva no último terço, que condicionou, também, o destaque de jogadores mais ofensivos. Tudo de acordo com os interesses noruegueses. Na fase de criação nunca houve um jogo lúcido, fluído e apoiado que permitisse envolver e testar o bloco norueguês. Viveu-se – ou tentou viver-se – da inspiração dos extremos ou de um milagre de Hugo Almeida. Mas, nem Nani, nem Quaresma estiveram invulgarmente inspirados, nem Hugo Almeida é milagreiro ao ponto de transformar um dos vários e absurdos passes longos em ocasião de golo. Dentro disto, tudo normal portanto...



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