23.2.09

Sporting - Benfica: A atitude na origem de tanto desequilíbrio

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A produção das duas equipas foi tão dispar no segundo tempo que se torna quase dispensável referir a justiça do vencedor. De facto, é uma situação algo rara nestes jogos, normalmente pautados por grande equilíbrio e onde os lances decisivos são normalmente o tónico que marca a maior diferença entre os conjuntos. Neste campo, o dos lances decisivos, até se pode dizer que o Sporting foi mais feliz, ganhando vantagem na abertura das duas partes, mas a forma como reagiu a essa vantagem no segundo tempo (e ao contrário do primeiro) foi de tal forma avassaladora que torna, até, a vantagem minima uma penalização escassa para todas as dificuldades que o Benfica sentiu durante esse período. Uma das maiores curiosidades deste jogo foi, aliás, a forma tão diferente como as equipas reagiram em dois momentos diferentes à vantagem do Sporting.

O jogo directo e o resultadismo – Antes de mais volto ao jogo da primeira volta para referir um aspecto que, sendo previsivel, não deixa de ser curioso. É que na altura criticou-se muito o recurso a um jogo mais directo por parte do Sporting nessa partida. Pois bem, a abordagem directa foi desta vez, e de forma muito mais clara, uma estratégia deliberada do Sporting para contornar o pressing encarnado. Desta vez, no entanto, o resultado foi diferente e, como é hábito, as criticas também. Sobre esta estratégia do Sporting, referir que foi uma opção que Paulo Bento terá encontrado para correr menos riscos no jogo e, sobretudo, evitar a forma como o Benfica poderia aproveitar a sua posição no jogo para se fechar num bloco denso onde a posse de bola do Sporting fosse facilmente transformada em transições perigosas a partir de perdas. O objectivo era evitar os centrais e, por isso, explorar passes largos para as laterais do campo. Na primeira parte, mais por deficiência na interpretação do que por erro estratégico, não resultou bem, na segunda foi uma fonte de problemas para o Benfica, potenciando muitissimo o aproveitamento do espaço entre linhas em que o Benfica tem tantas dificuldades.

Sporting – Se me perguntarem qual terá sido a mais valia do Sporting no jogo, respondo, em primeiro lugar com as palavras determinação e agressividade. Essa foi sempre a grande vantagem do Sporting durante o jogo, a atitude. Começou por ser no inicio, valendo-lhe alguma superioridade mesmo no período pouco lúcido que antecedeu o 1-0 e voltou a se-lo, mas com muito maior qualidade de jogo a acompanhar na segunda parte e, mesmo, no final da primeira, depois do 1-1.
A primeira nota sobre o Sporting é negativa e vai para a forma como a equipa não soube gerir a vantagem que tão cedo conseguiu. O Benfica não teve, sequer, de sair muito do seu registo inicial para se superiorizar no jogo. Isto porque o Sporting foi sempre precipitado e algumas vezes despropositado na forma como geriu a posse de bola. A punição aconteceu, no entanto, por erro de avaliação de Polga que arriscou não resolver rapidamente uma segunda bola resultante de um pontapé de Moreira. O empate era, no entanto, uma penalização merecida.
O Sporting do segundo tempo foi outro. Novamente uma fortissima atitude inicial e, novamente, a recompensa com um golo. Desta vez, porém, outra lucidez, outra capacidade e, também, outro adversário para gerir. À atitude já elogiada, juntaram-se um pressing que impediu o Benfica de jogar e uma muito maior sapiência na gestão da bola, nunca abdicando, no entanto, de abordagens mais directas como recurso estratégico. À medida que o Benfica foi querendo subir no campo, o domínio acentuou-se porque o meio campo tornava-se cada vez mais distante da linha defensiva, aumentando o espaço entre linhas que os médios do Sporting transformaram numa autêntica via verde para o assalto ao cada vez mais impotente quarteto defensivo encarnado. O resultado foi apenas 1 golo mais, mas a superioridade conseguida justificava bem mais...

Benfica – Antes do jogo referi a pouca apetência de Quique para estratégias tácticas especificas e a previsibilidade da abordagem que faria o treinador espanhol. Tudo isso se confirmou e, em Alvalade, o Benfica tentou repetir exactamente o que fizera no Dragão. É verdade que o Benfica não teve a felicidade no timing em que sofreu os golos, mas é também evidente que a sua boa reacção no primeiro tempo teve mais a ver com uma menor inspiração do adversário do que num grande mérito dos encarnados. Como assim aconteceu, o Benfica terá ido para o intervalo provavelmente iludido sobre o seu conforto no jogo e isso terá, ainda mais, reforçado a diferença de atitude com que se reiniciou o jogo. Mais ainda, condicionaria depois uma resposta ao 2-1, com o Sporting, agora sim, a juntar qualidade à estratégia que tinha montado para a partida. De repente, o Benfica viu-se impotente para sair do colete de forças leonino, impedido de sair a jogar pelo pressing contrário e sendo recorrentemente penalizado pelo espaço que passava a conceder nas costas da sua linha média, sempre que esta tentava adiantar-se.

Liedson e David Luiz – Podia falar de vários nomes, mas vou apenas abordar os dois mais incontornáveis. Liedson, primeiro. O seu registo comprova-o, este foi apenas um clássico normal para Liedson e isso é uma evidencia só por si fantástica. Liedson consegue ser perturbador, ameaçador, incomodativo e, depois, altamente decisivo. A capacidade de aparecer nos grandes jogos é um atributo raro e que Liedson possui inegavelmente. Não precisava dele para ser um grande jogador, mas isto torna-o particularmente especial e garante ao seu nome uma lugar na memória bem para além da sua própria longividade futebolísitca.
É normal arranjar-se réus tal como heróis e, desta vez, coube a David Luiz a "fava". Da mesma forma que o referi, por exemplo, na derrocada frente ao Olimpiacos, parece-me um equívoco individualizar um problema que é claramente colectivo. Digo que o jogador não tem responsabilidade única em nenhum dos golos ( por exemplo, Polga teve um erro muito mais censurável) e aproveito para reafirmar aquilo que referiu Quique sobre as qualidades fantásticas deste jogador. David Luiz tem um potencial enorme pelas invulgares capacidades físicas e técnicas que possui e, mesmo não sendo a posição de lateral uma vocação, David Luiz tem sido bastante competente nessa função revelando também pela versatilidade a qualidade que tem. É sem dúvida o defesa com mais potencial do Benfica e não é por uma noite menos má que isso muda.

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