14.9.10

Porto - Braga: Análise e números

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Há algo de paradoxal no espectáculo do Dragão. Como é que um jogo entre as duas equipas mais calculistas do campeonato acaba com 5 golos? Um acidente. Esta seria, intuitivamente, a minha resposta, mas, para ser sincero, não estou muito certo dela. De um lado, já vi demasiadas vezes inspirações excepcionais deste Braga e, do outro... havia Hulk. Mesmo assim, não posso deixar de considerar que vimos algo improvável. Porquê? Porque tivemos 1 golo no primeiro remate à baliza, porque ambas as equipas conseguiram errar sempre pouco e porque nenhuma delas assumiu alguma vez grandes riscos no jogo. Esse é, afinal, o seu código genético. Fica também a nota para que se repare como um jogo fechado e de risco mínimo pode acabar tão elogiado pelo adepto mais comum. A razão é simples: emoção!

Notas colectivas
Foi, de facto, um jogo abordado com grandes cautelas e há um indicador colectivo que é particularmente sintomático da preocupação de ambas equipas em não assumir muitos riscos: as perdas de bola. Foram reduzidas em ambos os conjuntos.

Num jogo destas características, manda a lógica que o primeiro golo tenha um impacto especialmente grande, maior do que a evidência do marcador. E tinha tudo para ser assim, depois de Luis Aguiar se ter inspirado na sequência de um raro erro do meio campo portista. Na verdade, o Braga beneficiou com o momento e é, a meu ver, uma hipocrisia desfazermo-nos em elogios à reacção portista nesse primeiro momento de desvantagem. O Braga ficou mais confiante e o Porto errou mais do que nunca em todo o jogo. Aí, valeu um nome: Hulk.

É impossível analisar o jogo sem passar pela influência de Hulk e julgo mesmo não ser um exagero dizer que, sem ele, muito dificilmente o Porto teria tido a capacidade para recuperar perante o Braga que vimos. É uma suposição que obviamente nunca poderei testar, mas é a sensação que me fica. É que nem sequer houve muitas condições para desequilibrar. Momentos de transição e 1x1 foram muito reduzidos e condicionados e há da parte do camisola 12 um mérito fantástico, só possível num jogador verdadeiramente excepcional.

Na segunda parte o jogo foi um pouco mais “azul”. Com o 1-1, as coordenadas eram as mesmas, mas a maior proximidade do final do jogo forçou o Porto a uma atitude mais agressiva na zona intermédia, valendo-lhe a imposição de uma postura mais dominadora em termos territoriais. De novo, e agora ainda com mais injustiça, foi o Braga a inspirar-se e a chegar à vantagem. O que se deu a seguir estava longe de ser imaginável por Domingos. Em vantagem e a 30 minutos do fim, o Braga perdeu tudo em menos de 10 minutos. O treinador queixou-se de erros individuais, e fez bem por uma questão de exigência, mas há que dizer que o que aconteceu teve, por um lado, muito mérito portista e, por outro, também uma boa dose de capricho do destino. O mesmo que, sem nada que o fizesse prever, havia dado vantagem ao Braga uns minutos antes.

Em relação ao Porto de Villas Boas, fica de novo a sensação a mesma sensação de uma dependência das individualidades para a produtividade ofensiva. Talvez seja tempo, porém, de riscar a o termo “dependência” e começar a falar em “consciência”. É que com talento deste calibre, porque é que se haveria de correr mais riscos? Este foi um óptimo teste à capacidade mental da equipa e o Porto passou-o. Continua a ser engraçado ver a empatia das bancadas com um futebol colectivamente mais cauteloso e menos entusiasmante do que aquele que tanto criticou. Mas isso é um defeito dos adeptos e não da equipa.

Quanto ao Braga, também confirmou de novo aquilo que é. Forte em termos de organização, lúcida do quer do jogo, e um caso raro de capacidade mental. Aliás, mesmo se é improvável a repetição da pontuação, parece-me que esta é uma equipa ainda mais forte mentalmente do aquela que vimos no ano anterior. Tenho, no entanto, uma critica a fazer a Domingos. É normalmente um treinador que mexe bem na equipa, mas desta vez não creio que o tenha feito. Trocou Elderson por Miguel Garcia, provavelmente pela exposição do primeiro. A verdade é que não considero que estivesse a ser demérito seu, e duvido que houvesse muitos a fazer melhor. Miguel Garcia não era seguramente, e isso viu-se. Depois, Lima por Matheus também não me pareceu acertado. Primeiro porque o golo que acabara de marcar poderia ser um mote mental importante para os minutos finais de Lima e, depois, porque havia um Luis Aguiar demasiado errático no jogo. Obviamente que é bem mais fácil dizer isto depois de analisar cautelosamente o jogo...

Notas individuais
Em primeiro lugar, chamo a atenção para a diferença entre os níveis de participação de laterais e centrais do Braga. Diz isto muito do ‘forcing’ que o Porto fez nas alas e, por outro lado, da capacidade que o Braga teve em evitar uma exposição da sua zona central.

No lado do Braga, destaco a boa prova de competência dada por Silvio, mostrando-se consistente e competente, apesar de não ser um entusiasmo em termos ofensivos. Tivesse o Braga outro como ele e provavelmente não teria perdido. No centro da defesa, Rodriguez foi excelente na leitura e antecipação dos lances. Mais à frente, a referência negativa vai para a pouca eficácia de Luis Aguiar no jogo corrido, sendo incapaz de dar sequência à maior parte dos lances que passaram pelos seu pés.

No Porto, e à margem de Hulk, Varela esteve de novo nos momentos certos, encerrando um inicio de liga pouco inspirado. Atrás, Rolando foi o melhor, e, no meio campo, Moutinho terá feito o seu melhor jogo no campeonato, mesmo continuando a não ser deslumbrante. Quem continua a mostrar-se influente em todos os aspectos, é Belluschi. O melhor médio da liga até agora não foi, desta vez, decisivo ou desequilibrador, mas teve o seu jogo mais “sério” na prova ao nível do critério de passe. E este pode ser mais um óptimo indicador para o que se segue.



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