Tudo somado, o Benfica jogou mais, produziu menos e ofereceu... tudo!
Notas colectivas
“Erros não forçados”. Não é a primeira vez que recorro ao ténis para abordar a problemática em torno deste catastrófico inicio de época encarnado. Se, noutra altura, comparei o momento do Benfica ao de um jogador de ténis que perde os índices psicológicos após um momento triunfante, agora recorro a um termo técnico que normalmente denuncia essa quebra mental, na mesma modalidade.De facto, praticamente tudo que o Vitória construiu foi “oferecido” por abordagens evitáveis dos jogadores do Benfica. Os 2 golos, as melhores ocasiões e, ainda, alguns erros técnicos decisivos para condicionar lances potencialmente perigosos em termos ofensivos. É que, se defensivamente fica fácil de ver a consequência deste problema, há também ofensivamente um efeito importante a considerar. Para além da diferença de confiança que representa sentir-se, ou não, o controlo do jogo e do adversário, há ainda uma série de falhas técnicas no último terço que acabaram por determinar tão poucas oportunidades, apesar do domínio territorial.
Como contornar este problema? A questão passa muito pelo paradigma por trás do modelo. O Benfica continua a ser tacticamente a equipa mais forte em Portugal, mas tem um problema de gestão entre o critério e a velocidade. Quando a confiança é alta, o critério nunca é problema e a velocidade pode ser máxima. Quando, como é o caso, isso não acontece, é preciso reforçar-se a importância do critério, exigindo-se menos velocidade. É preciso, primeiro, garantir que o que se faz tem eficácia e segurança e, só depois, crescer em termos de exigência ao nível da velocidade de jogo e execução. Calibrar essa “dosagem” sempre aparentou ser uma lacuna de Jesus, e este período aparenta confirmar em absoluto essa ideia. Mas há ainda, e antes de tudo isto, outra coisa que ainda é mais fundamental neste processo de recuperação: perceber e reconhecer o problema.
Notas individuais
Primeiro ponto vai para os centrais do Benfica. Já houve jogos em que também eles – sobretudo David Luiz – se deixaram também levar na displicência generalizada. Mas não foi o caso. A reacção da linha defensiva do Benfica em transição defensiva é um dos pontos fortes da equipa e uma das coisas que o Benfica faz como muito poucas equipas no mundo. É, por isso, absurdo centrar-se as criticas sobre a parte final dos lances dos golos. Defender em recuperação, e perante um adversário especialmente forte nesse aspecto, é muito difícil. O problema, para mim, está a 100% no que aconteceu na origem dos lances.Entre todos os jogadores, há 2 de que quero falar. O primeiro é Aimar. Tem oscilado entre o bom e menos bom esta época e a equipa, logicamente, flutua com ele. Mesmo neste jogo houve oscilações na sua exibição – mais presente e inspirado no inicio da segunda parte – e isso voltou a reflectir-se também na própria equipa. Se é a galinha ou o ovo a nascer primeiro? É uma discussão que me parece pouco importante. O que me parece mesmo vital é estabilizar o rendimento de Pablo Aimar.
O outro jogador é Gaitan. Como o repeti diversas vezes, conhecia bem este jogador na Argentina e muitos dos comentários que sobre ele foram feitos eram, a meu ver, errados. Parece-me que hoje é mais claro que Gaitan é um jogador evoluído tacticamente e que não é um avançado ou médio criativo. O caminho de Gaitan passa pela confiança e pela compreensão das zonas de decisão. E este último ponto foi aquele que mais se sentiu no jogo. Fez um bom jogo em vários prismas, nota-se que se sente mais confiante e adaptado, mas decidiu mal e onde não devia. É que na Argentina, jogando solto na frente (mas sempre a partir das alas, repito!), ele podia decidir como queria. Por motivos tácticos e culturais.