13.7.10

O negócio Moutinho (Parte I)

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Não sei quanto tempo vamos ter de esperar para ver algo igual no futebol português. Dois “grandes” entenderem-se pela transferência de um dos seus principais jogadores é algo que não está no programa emocional do adepto. É precisamente por essa invulgar característica desta transferência, que decidi separar o comentário sobre o negócio em 2 partes. A segunda terá mais a ver com a consequência do negócio, em termos técnicos e financeiros. Mas quero começar por falar um pouco do “making of” desta estranha e inesperada operação.

Sporting: incompetência que salta à vista
Porque é que o Sporting concretizou um negócio com um clube rival, de um jogador com um longo contrato pela frente e bem antes do fim do mercado? Esta foi a pergunta que Costinha e Bettencourt quiserem evitar na explicação que deram aos sócios. Óbvio. Nos dias seguintes ficou mais clara a resposta, com o noticiado pré acordo de venda entre o clube e o empresário do jogador. Um acordo que completa um puzzle à partida sem sentido e que expõe também uma enorme incompetência dos dirigentes do Sporting na salvaguarda dos seus interesses. O resultado, claro, foi a vulnerabilidade do clube e o desespero dos seus responsáveis. Crucificar Moutinho foi a forma fácil que encontraram para justificar a situação. Apela à sempre fácil reactividade emocional dos adeptos, mas... só acredita quem quer.

Moutinho: uma traição que não é explicação
Qual o interesse de Moutinho em trocar um clube do qual é capitão, joga há mais de 1 década e onde é um dos mais bem pagos, por um clube rival, da mesma liga e da mesma dimensão? A resposta “traidor”, aqui, não colhe minimamente. É preciso ir às motivações pessoais do jogador, que, como qualquer pessoa, só faz aquilo que entende ser melhor para si. Na minha leitura, só há 2 possibilidades que poderão ter motivado a opção de Moutinho. A primeira é financeira. Moutinho não poderá ganhar muito mais no Porto (o tecto salarial dos 2 clubes não é tão distante quanto isso) mas certamente terá recebido um avultado bónus com a mudança.

Até aqui, nada de mais natural, motivos financeiros que, afinal, estão no centro de grande parte das decisões profissionais de toda a gente. Mas, se Moutinho queria sair do Sporting, porque acabou por contrariar as pretensões do clube e assinou por um rival, em vez de esperar por outras oportunidades? A resposta mais provável tem a ver com uma má gestão da relação entre o clube e o jogador. A ida para o Porto não representa uma grande novidade para Moutinho. É certo que há mais possibilidade de beneficiar de melhor rendimento colectivo, mas também é certo que atrasa a sua probabilidade de fazer carreira no estrangeiro. Isto, para além do desgaste emocional que tem e terá uma transferência deste género. Por tudo isto, e porque faltava ainda muito para o término do mercado, não deveria ser difícil convencer Moutinho a esperar. Se não o conseguiu, de novo, o Sporting deverá olhar para as suas próprias responsabilidades. É fácil e gratuito levantar rótulos sobre a necessidade “formar homens”, mas é igualmente estúpido. Não me parece que os jogadores formados no Sporting ou noutro clube sejam diferentes uns dos outros. Se o Sporting tem mais problemas em gerir a sua relação com os jogadores do que os outros, então, o mais inteligente será perceber a origem do problema.

Porto: A investida perfeita
Se é o Sporting quem mais deverá reflectir sobre o sucedido, cabe de novo ao Porto o subtil papel de vencedor da operação. E que vencedor! Pode dizer-se que este foi um negócio que envolveu o acordo de 2 clubes, e que isso pode até ser saudável para uma racionalidade o futebol português, mas... não foi bem assim. O que terá acontecido, foi uma manobra inteligente dos portista, que aproveitaram a fragilidade do rival para garantirem o concurso de um dos seus mais importantes jogadores.

Mas a subtileza genial da manobra portista vem depois. Provavelmente, o Porto teria garantido a transferência com ou sem entendimento com o Sporting. Por isso mesmo ela se terá dado neste “timing”, nada conveniente para o Sporting. Pinto da Costa, porém, sabe bem por experiência própria que no mercado ninguém mata, nem ninguém morre, e que abrir uma guerra de mercado só poderia, afinal, trazer riscos a prazo. O entendimento, terá tido um custo imediato, mas salva o clube de um risco de represálias no curto prazo.



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