2.7.10

Diário de 'Soccer City' (#21)

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Sexta Feira marca o inicio da recta final. 8 equipas discutem o lugar entre a elite, entre aqueles que jogam o número máximo de partidas no Mundial, e entre aqueles que ficam, pelo menos, a um pequeno passo do sonho. Sim, porque a partir das meias finais qualquer equipa pode sonhar com o lugar mais alto. Antes dos jogos, deixo uma pequena antevisão pessoal e, para apimentar a coisa, também um pequeno prognóstico sobre cada um dos jogos. Apenas uma brincadeira, não se trata de qualquer candidatura a “mestre Alves da blogosfera”...

Brasil – Holanda (Palpite: empate ao intervalo)
Conjuntamente com o Alemanha – Argentina, é o prato forte da ronda. Tudo somado, creio que o Brasil merece nesta altura honras de principal candidato ao título e, logo, também de favorito a seguir em frente. É-me mais fácil perceber o que vale o Brasil do que a Holanda, porque os brasileiros já vêm jogando da mesma forma há vários anos e porque a Holanda ainda não foi testada seriamente nesta prova. De qualquer modo, estas são duas das equipas que mais consistência revelaram na preparação para a prova. Se mais provas faltassem, bastaria evocar o tal pormenor discutido aqui há uns dias, da utilização de um 11 base, já previsto na própria numeração das camisolas.

Por tudo isto, não espero qualquer surpresa táctica por parte dos treinadores, mas antes um reforço de confiança nos respectivos modelos. Se tal acontecer, vamos ter um jogo fechado, focado nos equilíbrios tácticos e no controlo do espaço. Mas vamos ter, também, qualidade técnica de sobra, e possibilidade de desequilíbrios individuais. Especialmente em transição, ou na sequência de bolas paradas – cada vez mais um aspecto importante nesta fase decisiva. O primeiro golo valerá ouro, porque obrigará quem o sofrer a correr mais riscos e dar ao adversário a possibilidade de jogar como mais gosta. Ambos o sabem.

Uma palavra para dois “espalha brasas”. Dois jogadores que desprezam tudo isto, que não pesam duas vezes quando podem arriscar o desequilíbrio e que não têm qualquer receio da perda ou da consequente transição: Robben de um lado, Robinho do outro. Quem sabe um momento de magia de um dos 2?

Uruguai – Gana (Palpite: ambas as equipas marcarão no jogo)
É verdade que, um pouco na norma de todo o torneio, nenhuma das equipas participou num festival de golos. Desta vez, porém, acredito que possa acontecer um jogo com golos em ambas as balizas, e talvez mais do que um. É que – e também dentro daquilo que foi norma – Uruguai e Gana não são propriamente equipas fortes em termos de organização defensiva. Mesmo se ambas não hesitam em sobrepovoar-se no centro da defesa. Menos quantidade mas mais qualidade, têm as duas na frente. Asamoah, Boateng, Ayew e Gyan de um lado. O tridente Cavani, Suarez e Forlan do outro. No caso de Gyan e Forlan, uma grande exibição poderá lançar qualquer um dos casos para os destaques de qualquer livro de memórias deste Mundial.

Somadas todas as expectativas, torna-se difícil antever um vencedor, ou mesmo um claro favoritismo. Ambas as equipas darão oportunidades ao adversário e o aproveitamento das mesmas dependerá muito da inspiração dos intérpretes. Talvez os amantes da astrologia nos possam elucidar melhor quem estará mais favorecido pelo alinhamento das estrelas na noite de Sexta...

Argentina – Alemanha (Palpite: passa a Alemanha)
Nem sempre confiei nesse princípio – que não é, nem de perto, 100% seguro no futebol – mas o Mundial tem-lhe sido fiel. Falo do princípio de que quem é melhor ganha, e quem é pior paga a factura. Foi assim com os horríveis casos de França e Itália, eliminados mais pela lógica do jogo do que pelas projecções iniciais. Foi assim, também, em todos os duelos decisivos. Não houve surpresas, e quem foi melhor ganhou sempre. Se a tendência se repetir, seguirá em frente a Alemanha.

Já falei bastante das 2 equipas e perceber-se-á, no somatório dessas análises, que vejo este duelo como o confronto entre os dois candidatos que menos semelhanças em termos de virtudes. A Argentina é o talento puro, tão puro que a sua valia quase se resume à soma das suas individualidades. A Alemanha, pelo contrário, não deslumbra individualmente, mas consegue formar um colectivo muito competente em todos os momentos do jogo.

Dentro das 'nuances' que poderão definir a partida, começo por Messi. Maradona resolveu dar-lhe liberdade, diz-se, mas na verdade Messi joga longe da zona onde as suas decisões fazem mais sentido. Messi pensa no desequilíbrio porque é essa a sua vocação, e embora tenha capacidade para desequilibrar a partir de qualquer zona, não é na construção que se aconselha o risco. Por isso é que o papel de Messi pode ser um pau de dois bicos e um dilema para o próprio Low. É que a dupla de médios da Alemanha poderá ter alguma dificuldade em controlar o espaço entre linhas, e o corredor central, com Messi nesta posição, é aquele onde a Argentina consegue ser mais perigosa. Se Low encontrar forma de bloquear Messi, terá o jogo na mão. Não só porque bloqueará o jogo ofensivo do adversário, como porque usufruirá de várias transições perigosíssimas. Caso contrário, Messi, Tevez e o corredor central poderão ser um sarilho para a Alemanha que, neste cenário, só ganhará o jogo se tiver um dia francamente inspirado na frente.

Outras 'nuances' há, mas do lado Argentino. Como o risco em posse, como o desequilíbrio táctico – atenção ao lado direito! – ou como a forma como a sua defesa "afunda", abrindo o campo de ataque aos adversários. Estas 'nuances', porém, não levantam qualquer duvida porque Maradona nunca se importou minimamente com elas, e não é agora que o vai fazer. Ficará apenas por saber até que ponto os alemães as saberão aproveitar.

Paraguai – Espanha (Palpite: Espanha vence sem sofrer)
Depois do tropeção inicial e de algumas dificuldades na primeira hora frente a Portugal, parece-me agora muito complicado que a Espanha fique fora das meias finais. Salvo qualquer condicionante ou surpresa no jogo, creio, isso não acontecerá.

O Paraguai foi das selecções que menos fez para estar onde está. Ganhou apenas 1 jogo em todo o Mundial, empatou mesmo com a Nova Zelândia e precisou de ser feliz nos penaltis para ultrapassar o Japão. Frente à Espanha não veremos uma equipa tão inocente como foi o Chile, mas também não veremos grandes méritos defensivos. Mais quantidade do que qualidade é o que espero dos paraguaios em termos defensivos. Um jogo de sentido único e que não me parece que chegue, sequer, ao intervalo sem termos a Espanha em vantagem. Se assim for, dos paraguaios dependerá apenas a definição do “score” final, porque a Espanha irá dar prioridade ao controlo do jogo e da bola, muito mais do que arriscar o segundo golo.



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