26.7.10

Sporting: A "Alemanha" de Paulo Sérgio

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Terminada a pré época do Sporting, trago aqui algumas notas do balanço, num exercício que repetirei para Benfica e Porto nos próximos dias. No caso do Sporting, apenas considerei os jogos da ‘tour’ americana, até porque foram os únicos que tive a oportunidade de observar. Feitas as contas,o balanço é relativamente positivo. “Positivo”, porque se perspectiva uma época mais sólida do que a anterior – o que não era difícil – havendo uma ideia de jogo a implementar, e com algumas boas novidades em termos individuais. “Relativamente”, porque há particularidades do modelo que deverão dificultar muito a vida a Paulo Sérgio, na obtenção de um modelo realmente forte em todos os pontos.

Colectivo: o modelo e o que de bom se viu
A ideia de Paulo Sérgio – embora acredite que venha a apresentar outros figurinos – é apresentar um 4-2-3-1, alicerçado na consistência do duplo-pivot, na boa circulação de bola, numa equipa alta. Uma equipa que gosta de ter a bola, portanto. Em traços gerais, é um modelo que não foge muito àquilo que o Braga de Domingos, por exemplo, tentava fazer. Ou – e se calhar há aqui influências – num caso mais recente e mediático, recupera muito do que a Alemanha fez no Mundial, com a diferença de apresentar um pressing e linhas defensivas mais altos.

A boa notícia é a circulação em construção. Contra o Man City, por exemplo, o Sporting conseguiu um registo anormalmente elevado de passes (quase 600!). Aliás, em todo o torneio a % de passe superou os 80%, com uma enorme certeza, quer nos centrais, laterais e – especialmente estes – duplo pivot do meio campo. Aqui, há uma boa movimentação da dupla de meio campo que consegue criar muitas soluções à construção e fazer a bola circular à largura do campo. A ideia é precisamente essa, manter a bola e fazê-la viajar rapidamente à procura do espaço de penetração. Quanto a este ponto – a primeira fase de construção – Paulo Sérgio tem grandes motivos para sorrir.


Colectivo: o pressing, a linha defensiva e o espaço entre linhas
Já havia falado aqui da importância de 2 aspectos na eficácia do modelo. O pressing e a linha defensiva. No primeiro caso, do pressing, o jogo com o Tottenham revelou grandes melhorias. É praticamente impossível uma equipa pensar em ganhar de forma consistente se não tiver uma recuperação alta que funcione e lhe permita explorar os momentos de desorganização adversário. Neste particular, o Sporting não esteve bem nos 2 primeiros jogos, mas frente aos Spurs, conseguiu boa parte dos seus desequilíbrios ofensivos a partir daquilo que o pressing produziu. Aqui, claro, não é coincidência a presença de Liedson.

Se o último jogo evidenciou o melhor do pressing, também expôs em grande escala as dificuldades da linha defensiva. Algo que para que já havia alertado frente ao Celtic, porque, embora não tivesse grandes problemas com esse plano, houve indicadores que claramente já denunciavam a carência. Aqui, trata-se sobretudo de um trabalho colectivo, que passa por uma grande coordenação e concentração dos 4 de trás, mas também de uma ligação com o que o meio campo faz. E aqui abro outro ponto.

Ora, entre o pressing e a linha defensiva – os dois “alicerces” que não estão devidamente limados – está o meio campo e a opção pelo duplo pivot. A escolha de Paulo Sérgio não o impede de ter um modelo “óptimo”, mas seguramente torna a coisa mais difícil. O comportamento defensivo do Sporting é bastante semelhante a um 4-4-2 clássico, com uma grande exposição espacial da dupla de meio campo. Os espaços entre linhas ficam mais difíceis de controlar e, quer os médios têm dificuldade em juntar-se aos da frente para pressionar, quer, depois, têm dificuldade em estar próximo do portador da bola, na hora do passe para as costas da defesa. Ou seja, o papel dos médios e o controlo que têm do corredor central é decisivo, também, quer para o pressing, quer para o conforto dos defesas em jogar alto.

Individual: à procura de um elo de ligação
Em primeiro lugar, quero deixar uma pequena nota explicativa sobre os dados do quadro. Os elementos apresentados foram “normalizados” para uma escala de 90 minutos, para permitir uma comparação jogador a jogador. Isto, porém, não deve ser descontextualizado do número de minutos de cada jogador. Ou seja, quanto mais tempo de utilização tiver o jogador, mais sólidas são as conclusões.

No modelo de Paulo Sérgio há, em termos individuais, uma grande satisfação com as soluções. Na defesa, a aquisição de João Pereira e Evaldo representa um grande “upgrade” para o colectivo. Um investimento seguro em qualquer dos casos, até porque os laterais têm bastante influência em quase todos os modelos do futebol moderno. Quanto a centrais, as soluções também são boas e o difícil será escolher. Na dupla de pivots, Pedro Mendes e Maniche são do que melhor se poderia pedir. Impressionantes, mesmo. E André Santos é também um reforço que garante muito mais qualidade do que Adrien. Nas alas e na frente também há opções de sobra para o treinador.

O grande problema de Paulo Sérgio é encontrar um elemento que faça a ligação entre a construção e a finalização. Pegando nos mesmos exemplos de outros modelos semelhantes – Braga e Alemanha – um Mossoró ou Ozil. Matias seria o nome mais óbvio, mas a sua qualidade com a bola nos pés, não é complementada com uma movimentação que lhe permita uma presença mais constante no jogo. E isso é um problema. Pongolle, embora em pouco tempo, também não deu boas indicações, e enquanto esperará para testar Izmailov, Paulo Sérgio parece ter em Postiga a solução de maior rendimento nesta altura. Pelo menos a julgar pelo que se viu, foi com Postiga nessa posição que a ligação foi mais fluída. Apenas uma primeira indicação, mas já uma bastante relevante.

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