7.7.10

Diário de 'Soccer City' (#24)

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Sabe-se agora que não vai ganhar, e também já se sabia que, tudo somado, não era quem melhores probabilidades tinha para o fazer. Ainda assim, no dia em que foi afastada parece-me que é da mais inteira justiça que se comece por fazer uma vénia à Alemanha. Quando se falar de surpresas e sensações desta prova, nomes como Gana, Uruguai ou Holanda virão à baila. Os resultados tornam-no inevitável. Se falarmos de qualidade, porém, ninguém se compara aos alemães. Foram eles a grande lufada de ar fresco desta prova e quem mais se aproximou do seu máximo potencial. Por cá falou-se na importância das 3 semanas de treino antes do Mundial. Para meu desencanto, porém, tanto para Portugal como para a generalidade das formações, esse período serviu para pouco mais do que nada. As desculpas da mediocridade geral sofrem um grande revés quando se olha para o que conseguiu Low nesta Alemanha.

Fica o aviso para Portugal: se o objectivo for mesmo fazer coisas positivas no futuro, é bom que se comece a olhar para o exemplo germânico. Se, pelo contrário, for só para fazer "converseta" como nestes últimos 4 anos, então está tudo bem...


Uruguai – Holanda
Os 5 golos podem dar a sensação de um grande jogo. Mas não foi. O Uruguai pode dar a entender ter sido a revelação da prova. Mas não foi. A Holanda pode parecer ser mais pragmática do que no passado. Mas não é. Fora algumas individualidades – muitas no caso holandês – é tudo bastante medíocre. Isso sim.

O jogo não foi bom, porque nem o Uruguai foi capaz de se organizar suficientemente bem – isso sim, seria uma surpresa! – nem a Holanda teve a audácia para fazer uma exibição que estava perfeitamente ao seu alcance.

O Uruguai não é uma revelação da prova, porque se limitou, simplesmente, a aproveitar a sorte grande que foi o calendário que teve pela frente. Nunca se organizou bem e viveu apenas da qualidade individual de Forlan (que fantástico Mundial!) e Suarez para fazer a diferença em embates medíocres. Chegou à meia final, mas não conseguiu 1 único resultado surpreendente. E isto diz tudo.

A Holanda não é mais pragmática. A Holanda é, antes, mais incapaz. Se fosse pragmática, defendia bem, o que não é o caso. Defende com muitos, é um facto, e respeita equilíbrios tácticos importantes, mas é só. Depois, com as unidades que tem devia fazer muito mais em termos ofensivos, seja em organização, seja em transição. Teve um jogo feliz frente ao Brasil e o resto foi um passeio oferecido pelo calendário. Tudo somado, não vejo crédito suficiente para merecer uma final de campeonato do mundo.

Sobre o jogo, ganhou a Holanda, como se esperava. E ganhou, também como se esperava, apenas e só porque tem melhores jogadores. Mais nada.

Alemanha – Espanha
Sem surpresas, a Espanha confirmou que, por muito bom que fosse o trajecto alemão, o seu favoritismo era intocável. Tal como havia referido na antevisão, foi um jogo dominado pelos momentos de organização, e aí, embora ambos fossem fortes, a Espanha marcou uma esperada diferença. Esperada porque todos conhecemos a unicidade da posse espanhola, mas também porque há uma diferença entre as duas equipas em termos de pressing. E este ponto, embora normalmente desprezado, é fundamental para perceber o jogo.

É que o pressing espanhol é muito mais alto do que o alemão – sempre o foi durante a prova – e isso fez com que o jogo se disputasse muito mais no meio terreno ofensivo espanhol, porque a posse germânica raramente teve capacidade para empurrar as linhas espanholas até à sua área. Foi, portanto, uma parte por diferenças tácticas e outra por diferenças técnicas, que a Espanha se superiorizou. Tudo perfeitamente dentro do previsto, repito.

Para a Alemanha, porém, o facto da Espanha não ter grande capacidade de penetração no último terço poderia ser uma importante oportunidade. Com o passar do tempo, a emoção e ansiedade poderiam tornar o destino mais aleatório do que o jogo indicava em termos de domínio. A Espanha acelerou e em determinados momentos poderia ter conseguido o golo. Acabou por fazê-lo de bola parada, o que não deixa de ser duplamente irónico. Primeiro porque nas bolas paradas estava uma oportunidade mais evidente para os germânicos, e depois porque se a Espanha foi melhor, seguramente que não foi pelas bolas paradas...

Enfim, passou a Espanha, e passou bem. Simplesmente porque é melhor.



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