9.7.10

Diário de 'Soccer City' (#25)

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Como é que se antevê uma final? José Mourinho um dia disse que as finais não são para jogar, que são para ganhar. Mais fácil dito que feito, até porque, como é óbvio, há tantos vencedores de finais como perdedores. Uma coisa é certa, seja épica, banal ou mesmo das piores de sempre, uma final de Mundial será sempre um jogo histórico, visto e revisto por milhares, mesmo décadas após a sua realização. E é essa relevância eterna que penetra no sistema nervoso dos jogadores e que, quem sabe, pode desfazer todas as lógicas. Seja para o bem ou para o mal. Enfim, pior do que prever a final, só mesmo... o jogo do 3º e 4º lugares. Isto para um alguém que não é molusco, claro...

Espanha – Holanda (Previsão: Espanha campeã do mundo)
Na ressaca da meia final com a Espanha, não faltaram especialistas a criticar a atitude alemã. Que foi demasiado defensiva, que não esteve à altura dos jogos anteriores, que isto, que aquilo. Desculpas de quem parece esperar que as equipas joguem sozinhas, ou então que no futebol existam 2 bolas. A Alemanha não foi capaz de se superiorizar frente à Espanha, não porque tenha tido um rendimento inferior aos jogos anteriores, mas porque teve um adversário que condicionou o jogo de forma diferente de todos os anteriores. E esse é o problema com que se deparará agora a Holanda.

É um problema curioso para os holandeses. Nenhum outro país importou com tanto afinco a filosofia do futebol holandês dos anos 70 como a Espanha. Não dá para dizer que a Espanha é uma versão do futebol de Mitchels, mas dá para dizer que é geneticamente descendente desses tempos. Cruyff cresceu com a ideia, desenvolveu-a e transmitiu-a no país que o acolheu. Recentemente, Guardiola, uma espécie de “neto” de Mitchels e “filho” Cruyff, terá dado um novo passo no desenvolvimento do jogo e o que vemos hoje na Espanha não tem nada a ver com Del Bosque, embora seja este quem se prepara para colher alguns louros históricos desta evolução. Del Bosque é uma espécie de barriga de aluguer de toda esta evolução filosófica. Ele, como já fora Aragonês.

Enfim, certo, certo, é que a Holanda tem o inventor da ideia, mas não tem nenhum inventor do antídoto da ideia. Por isso, e porque não tem futebol para contrapor na mesma moeda, Van Marwijk vai ter de fazer como os outros, e passar umas boas noites sem dormir para tentar encontrar solução para aquele que parece o grande enigma do futebol moderno: como tirar a bola a Xavi, Iniesta e companhia?

Lamento desiludir, mas não espero que no Domingo nos caia uma nova solução vestida de laranja. Ou seja, à Holanda restarão as mesmas alternativas dos outros. Esquecer a bola, controlar o espaço e tirar depois partido das suas unidades desequilibradoras para chegar às redes de Casillas. Em tudo isto, porém, há boas notícias para os holandeses. Podem ter um futebol colectivamente medíocre e até cometer vários erros defensivos – como já foi aqui diversas vezes escalpelizado – mas têm, como equipa, sentido de sacrifício e disponibilidade mental para estar bastante tempo sem bola. Mais importante ainda, têm unidades individuais capazes de ganhar um jogo em meia dúzia de jogadas, mais desequilibradoras do que qualquer adversário que a Espanha conheceu, não só nesta prova, mas nos últimos anos.

E é dentro disto que se definirá o jogo. De um lado, a organização espanhola, perante a qual Holanda precisa de se revelar mais capaz do que em outros jogos. Não bastará aglomerar jogadores, é preciso controlar espaços. Espaços como a zona entre linhas que custou o golo de Forlan, ou como as costas da linha defensiva, destroçada por Robinho. Do outro lado, a transição e a inspiração holandesas, depositadas nos ombros de Robben e Sneijder. Se a Espanha voltar a tardar em dar expressão à sua posse, poderá ter de se deparar com problemas como nunca experimentou até aqui. A Holanda não defende tão baixo como Portugal, Paraguai ou Alemanha e, se conseguir situações de transição, lançará o seu quarteto da frente a partir de zonas mais altas, ficando mais curto o caminho para a baliza de Casillas. Outra via para a Espanha poderá ser o pressing, já que, na sua primeira fase de construção, a Holanda será mais vulnerável do que Portugal ou Alemanha, por exemplo.

Enfim, diria que em 10 finais nas mesmas condições, a Espanha ganharia 7. Esta é a boa notícia para os espanhóis. A má, é que só há 1 final...

Uruguai – Alemanha (Palpite: Vence a Alemanha e marca mais do que 1 golo)
Muitos dizem que este jogo não deveria existir. Na realidade, porém, haverá assim tantas más memórias de experiências anteriores?! Os golos são quase sempre presença abundante e não poucas vezes tivemos desfechos inesperados. No que respeita a golos, espero novo festival, já quanto ao desfecho, dependerá muito da atitude das equipas. Como sempre, aliás.

Se o clima é de descompressão, parece-me que a Alemanha é quem tem mais probabilidades de manter a intensidade competitiva em níveis elevados. Somada esta expectativa ao facto dos alemães serem já de si melhores, talvez não seja de excluir a hipótese de uma nova goleada germânica.

Há quem veja o outro lado da moeda, e avance que a motivação alemã será menor pelo facto de serem a formação que mais expectativas tinha para estar na final e aquela que menos valoriza historicamente este jogo. Pessoalmente, creio muito mais na tese do parágrafo anterior, mas veremos.



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