16.11.10

Benfica - Naval: Análise e números

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“Foi um bom espectáculo”. A frase é empregue frequentemente mas nem sempre com a justiça com que este jogo a mereceu. Um “bom espectáculo” não quer dizer forçosamente que tenha sido um “bom jogo”, ou que o seu interesse tenha sido por aí além. Enfim, será mais uma questão de gosto do que outra coisa. A mim, pessoalmente, interessa-me mais o critério, a estratégia e racionalidade colectiva. Também gosto mais do espectáculo, claro, mas quando este resulta do mérito e não tanto de algum desleixo na abordagem que é feita ao jogo. E esse foi, a meu ver, um pouco o caso deste Benfica-Naval. Um “bom espectáculo”, muito mais do que um “bom jogo”. No fim, ganhou o Benfica e por larga diferença. Uma diferença que se justifica pelo volume ofensivo, mas que poderia ter sido atenuada com um golo que a Naval também não deixou de justificar.

Notas colectivas
Como se explica então o ritmo de parada e resposta que se viu durante muito tempo, nomeadamente na primeira parte? Sem tirar mérito – que o houve – às acções ofensivas, há que falar daquilo que as defensas não fizeram. Isto porque, se a Naval tem aspirações de retirar pontos a um “grande”, não pode cometer tantos erros na sua linha mais recuada e, por outro lado, o próprio Benfica não pode esperar deixar de passar por sobressaltos se não se acautelar melhor defensivamente.

Em relação ao Benfica, já acontecera a mesma situação com o Paços, que também conseguira um número de finalizações elevadíssimo na Luz. Desta vez a origem não é exactamente a mesma, porque o Paços conseguira impedir o Benfica de sair a jogar através de um pressing mais alto que forçou o Benfica a bater bolas longas e a disputar um jogo mais físico no meio campo. Desta vez, a origem não se repetiu mas o “meio” foi o mesmo.

Ou seja, o Benfica foi, é e continuará a ser uma tacticamente forte. Muito forte, mesmo. Posiciona-se muito bem em todos os momentos e reage rapidamente a todas as mudanças de situação no jogo. O problema é que o modelo de Jesus é bastante exigente porque arrisca sempre muito quando em posse da bola. Opta por uma circulação muito vertical e não hesita em colocar muita gente nos processos ofensivos. Neste sentido, o maior problema desta época – como várias, e várias vezes tentei explicar – está na segurança do passe na zona de construção. Ou seja, perdendo a bola em zona não muito alta, torna-se muito difícil lidar com a transição ataque-defesa, mesmo se a reacção colectiva me parece francamente boa após a perda. Foi isso que custou derrotas como as da Supertaça, de Guimarães, frente a Schalke ou Lyon.

Contra a Naval isso não aconteceu com especial frequência ou gravidade, mas houve alguma displicência na forma como a equipa defendeu, empregando pouca agressividade em duelos individuais que, sendo sucessivamente perdidos, abriram caminho às ocasiões que todos observamos na primeira parte do jogo.

Quanto à Naval, para além de ter permitido muitas ocasiões por parte do Benfica – normalmente uma goleada resulta de uma eficácia assinalável, mas este nem foi um desses casos – permitiu também que essas ocasiões fossem bastante claras. Para comprová-lo basta atentar a este dado: enquanto que no campeonato, o Benfica leva apenas, e média, 40% das suas finalizações à baliza, neste jogo 15 em 20 (75%) tiveram esse desfecho. De assinalar os inúmeros erros que a equipa cometeu no seu último terço, em particular na sua última linha defensiva.

Notas individuais
Coentrão – Não se pode dizer que tenha jogado mal, mas foi uma actuação francamente modesta e discreta para as suas potencialidades, e num jogo que tinha tudo para conseguir outro protagonismo. Pode ser coincidência, mas é impossível deixar de constatar que tal acontece no primeiro jogo após a hecatombe do Dragão.

David Luiz – Ao contrário do que aconteceu no Dragão, creio que a sua actuação deve ser censurada. A forma como abordou os duelos com Fábio Junior foi displicente e custou-lhe a perda de algumas situações proibidas e desnecessárias. Parece desleixo, e parece também estranho porque o aviso sobre a qualidade de Fábio Júnior já vinha do ano anterior.

Airton – Foi o jogador com mais passes completados, com mais intercepções e com maior % de passe da equipa. Um feito que Javi Garcia, nas 10 utilizações como titular nunca havia conseguido. Aliás, Garcia só por 2 vezes fez mais passes do que Airton neste jogo, e em nenhuma ocasião conseguiu tantas intercepções. O espanhol entenderá melhor o modelo e terá uma melhor noção posicional, mas não é, nem tão reactivo, nem tão forte nos duelos individuais, nem tão pouco tão certo no passe como Airton (apesar deste ter cometido 2 erros a este nível). Não digo que Airton só tenha vantagens, ou que o Benfica esteja mal servido com Javi, mas creio – já de há algum tempo, e com sucessivo reforço dessa ideia – que é o brasileiro quem garante melhor rendimento no desempenho do lugar.

Aimar – Fez provavelmente o seu melhor jogo no campeonato. Isto, porque o número de desequilíbrios que criou é incomparável com qualquer outra actuação na prova, ficando a dever a si próprio pelo menos 1 golo, que só por manifesta infelicidade não aconteceu. Ainda assim tenho uma critica a apontar-lhe. 60% de sequência em todas as posses que teve é muito pouco para quem joga ao longo de todo o corredor central. Aimar pode e deve trabalhar melhor o critério quando baixa para zonas onde o risco deve ser menor. E isso, assinale-se, já lhe custou, a ele e à equipa, alguns dissabores esta época.

Gaitan – Tivesse Gaitan outro nome e outra reputação e teria feito todas as manchetes do dia seguinte. Isto porque a sua exibição foi simplesmente estrondosa. Marcou 2 excelentes golos e ainda participou num total de 6(!) desequilíbrios da equipa. Para além disso, evitou erros que vinha comentendo em posse e teve um desempenho defensivo bastante bom, o melhor dos 5 jogadores mais ofensivos. Aliás, sobre isto importa dizer que Gaitan não é um jogador especialmente agressivo e, por exemplo, não consegue ser muito útil num pressing mais alto. Mas, por outro lado, é um jogador que se posiciona bem tacticamente e que tem esse sentido de responsabilidade colectivo. O seu maior problema, a meu ver, é a decisão em posse em zonas mais atrasadas, onde ainda arrisca demasiado e onde já perdeu demasiadas bolas nesta temporada.

Salvio – É mais agressivo do que Gaitan, está a melhorar claramente, mas sente mais dificuldades em termos tácticos. Porquê? Porque Salvio sempre foi um jogador de último terço, mais avançado do que médio, com menos responsabilidades tácticas e sem a necessidade de decidir com frequência a 50 metros da baliza. Nem na Argentina, nem no pouco tempo em que esteve no Atlético. Mas – repito – dê-se-lhe tempo...

Kardec – Marcou um golo e, mesmo se continuou ausente das dinâmicas da equipa, foi muito útil nas primeiras bolas, onde a Naval sentiu dificuldades. Para fazer o que Cardozo fez no campeonato até à lesão (derbi à parte) chega e sobra. Mas isso também não é propriamente um elogio...



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