Notas colectivas
Emocionalmente, o jogo teve períodos obviamente dispares. Na primeira parte, o Sporting conseguiu vantagem e foi sempre a equipa mais confiante e que esteve mais perto do golo. Na segunda, o contrário. Há, no entanto, um denominador que esteve sempre em bases comuns durante os 90 minutos. Nunca, em nenhum momento, o Sporting foi uma equipa dominadora. Ou seja, nunca – como fez em tantos outros jogos – conseguiu ter posse continuada, relegando a Académica para um jogo de expectativa. Nunca, por incapacidade própria, mas também por mérito da Briosa.É-me difícil quantificar o peso de certos factores na explicação desta inesperada tendência – como a ausência de Maniche, por exemplo – mas há outros que ficaram bem claros durante o jogo. Primeiro, o “pressing” sobre a primeira fase de construção. Não é de hoje que o digo, mas o Sporting tem este aspecto muito mal trabalhado em termos colectivos e em Coimbra isso foi bastante claro. A Académica conseguiu quase sempre sair a jogar em apoio, e a recuperação alta do Sporting produziu efeitos quase nulos. É curioso observar que, do outro lado, o mesmo não se passou. Ou seja, Carriço e Polga tiveram de bater mais vezes a bola por falta de apoios do que os centrais da Académica (Orlando e Berger fizeram mais passes e com muito maior % de sucesso do que Polga e Carriço). Portanto, nem o Sporting pressionou com qualidade suficiente, nem conseguiu uma circulação na primeira fase que lhe permitisse sair com mais qualidade a jogar. E isto desde o 1º minuto de jogo.
Houve no jogo uma 'nuance' curiosa, introduzida por Paulo Sérgio. Numa semana em que se falou muito da marcação individualizada movida a Hulk pelo Benfica, houve uma intenção estratégica de colocar 1 dos médios defensivos – normalmente Zapater – a jogar muito próximo de Evaldo, criando situações de 2x1 sobre Sougou, a grande ameaça em termos individuais na Académica. Ora, mesmo nem sempre revelando um posicionamento colectivo muito correcto, esta preocupação acabou por se revelar muito importante durante boa parte do jogo. Isto, porque a Académica insistiu quase sempre nesse flanco para atacar. Seria, mais tarde, quando apostou também no flanco esquerdo que os “estudantes” encontrariam situações de maior perigo para a baliza do Sporting. Aliás, exacerbando alguns detalhes decisivos do jogo, pode até dizer-se que o Sporting ganhou o jogo no corredor esquerdo.
Nota também sobre a Académica. É impressionante como as equipas espelham tão fielmente a mentalidade dos seus líderes e, nesse aspecto, há poucas lideranças tão características como a de Jorge Costa. As suas equipas nunca dão os jogos por perdidos, mas, por vezes, também os perdem quando os pareciam ter ganho. 2-2 é um empate característico de Jorge Costa e por pouco não acontecia de novo. Fora esta peculiaridade, importa dizer que a Académica fez um excelente jogo, impressionando especialmente (e surpreendendo-me, confesso) pela qualidade que revelou na sua circulação.
Notas individuais
Patrício – Fez uma defesa fantástica, esteticamente deliciosa. Não costumo comentar muito os guarda redes, porque há sempre grandes exageros na avaliação que é geralmente feita, ou pela positiva, ou pela negativa. Ou seja, não é pela exibição mas pela carreira que faço esta referência. Faço-o para dizer, fundamentalmente, que o Sporting fez uma aposta continuada e sólida num jovem e que tem hoje tudo para dar certo. Não há muitos guarda redes no mundo que na sua geração sejam melhores do que ele e se o Sporting o souber valorizar, poderá tirar frutos durante vários anos desta aposta.Polga – É um aspecto que se tornou claro quando comecei a fazer estatísticas individuais. Polga ganha mais bolas pelo seu posicionamento do que qualquer outro central no futebol português. De cabeça ou pelo ar. Importa também dizer que era ele quem marcava Miguel Fidalgo no lance do golo (ainda que não tenha sido o único a sentir dificuldades nesse lance).
Zapater – Fez provavelmente o melhor jogo desde que chegou ao Sporting. Não combina a qualidade e a intensidade de Maniche – mas isso, em Portugal, ninguém faz – mas apresentou um rendimento excelente, sendo o jogador da equipa que mais passes completou e o médio que mais recuperações conseguiu. O seu maior problema, a meu ver, é alguma vulnerabilidade em construção, o que o leva a ter perdas de bola perigosas com demasiada frequência. Mas, neste jogo, isso também não foi um problema.
Valdés – É impressionante a viragem deste jogador desde que começou a jogar no meio. Não é uma questão estética, mas objectiva. De rendimento. Valdés agradava mas em desequilíbrios concretos tinha uma participação quase nula. Agora, mais solto, desequilibra (esteve nos 4 da equipa!), assiste e marca. A lesão de Matias pode até ter sido a melhor coisa que lhe aconteceu na carreira...