29.11.10

Porto - Sporting (Análise e números)

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Como balanço, dá para dizer que foi um jogo deveras interessante. Teve uma envolvente própria destes jogos, teve fases distintas que pareceram fazer o jogo pender para ambos os lados, e teve, também, variantes que obrigaram os dois treinadores a reagir. Não teve espectacularidade, muitas ocasiões de golo, nem, tão pouco, a carga de um jogo decisivo em termos pontuais. Mas teve, parece-me, o bastante para estar à altura de um jogo com estatuto de “clássico”. No final, quer Sporting, quer Porto, ficarão a pensar que poderiam ter ganho o jogo, mas também não vejo que algum dos lados guarde a sensação de que o empate foi curto ou imerecido para o balanceamento do jogo. E não foi, foi justo.

Notas colectivas: Sporting
Grande parte do interesse do jogo foi despoletado pela abordagem estratégica escolhida por Paulo Sérgio. O treinador conseguiu provocar um efeito surpresa e, na primeira parte, obrigar o Porto a jogar num cenário diferente daquele que provavelmente teria previsto. Foi eficaz e feliz o suficiente para retirar partido disso, também é verdade, mas não desmereceu a vantagem que levou para o intervalo. Com o que não posso concordar, porém, é com a exibição “tacticamente perfeita” reclamada pelo treinador leonino.

Em termos estratégicos, parece-me, a única parte que o Sporting alterou significativamente foi na forma como se posicionou sem bola, perante a organização do adversário. A estratégia passou por pressionar numa primeira fase, mas apenas com o tridente da frente. Depois, mal o Porto passasse essa barreira, o Sporting recorria a um pressing mais baixo, que esquecia a construção e se concentrava em absoluto na limitação da fase criativa portista. Com isto, Belluschi e Moutinho tiveram muito menos bola do que é costume e, tanto Varela como Hulk, nunca tiveram espaço para explodir individualmente.

Esta foi a parte que resultou, mesmo se a pressão não foi feita com especial mérito ou qualidade – Portugal, com muito menos tempo de treino, por exemplo, conseguiu um pressing muito mais bem feito frente aos espanhóis. O grande problema do Sporting esteve no momento seguinte, no desenvolvimento após ganhar a bola. O Porto errou e não poucas vezes, mas raras foram aquelas em que o Sporting conseguiu desdobrar os momentos de transição para ataques rápidos e apoiados. É certo que o Porto tem mérito pela forma como prepara e reage à perda, mas não hesito em atribuir muito mais demérito à transição do Sporting neste desaproveitamento ofensivo. Afinal, a falta de qualidade em transição é algo que é visível desde o inicio de época e isso penaliza imenso a equipa em termos ofensivos, como tantas vezes já referi. Muito mais do que o fado bolas ao poste, por exemplo.

Este problema – o da transição defesa-ataque – foi ganhando importância com o tempo. O Porto reagiu, passou a errar menos e a tornar-se mais agressivo na recuperação. O Sporting ganhava a bola no seu bloco baixo, mas não saía do aprisionamento territorial. Foi assim – em múltiplas insistências – que o Porto desenhou a jogada do empate, e seria assim, igualmente, que o Sporting se preparava para abordar os últimos 20 minutos de jogo. Valeu-lhe o pequeno “milagre” de Liedson.

Falar, por fim, de 2 aspectos. (1) O sistema, para dizer que o Sporting parece capaz de jogar em qualquer sistema, não porque seja bom em todos, mas porque não é especialista em nenhum. (2) Os minutos finais, para dizer que não dá para retirar Maniche e Pedro Mendes, colocar Vukcevic e Djalo e depois queixar-se da falta de qualidade de circulação da equipa.

Notas colectivas: Porto
Não creio, de facto, que a postura do Sporting estivesse nas primeiras previsões de Villas Boas. Talvez seja isso que justifique a dificuldade que a equipa teve para reagir às características do jogo, na primeira parte. Falou-se muito dos extremos, com Hulk à cabeça, mas mais importante parece-me ter sido a incapacidade da equipa para encontrar os seus médios no processo construtivo. Belluschi, por exemplo, tocou pela primeira vez na bola aos 9 minutos, quando isolou Falcao.

Ainda assim, a equipa voltou a mostrar, tanto a sua qualidade como a sua confiança, fruto de um trabalho continuado e consistente que vem desde o inicio de época. Viu-se isso na forma como procurou sempre jogar em apoio e como foi capaz de reagir sempre bem nos momentos sem bola. Quer imediatamente após a perda, quer no seu pressing em organização, que quase sempre obrigou o Sporting a jogar mal.

Há um aspecto que gostaria de realçar nesta equipa, que é a concentração com que está em campo. Isto vê-se, e sugiro que reparem, na velocidade com que a equipa reage, colectivamente, a todas as incidências do jogo. Por exemplo, sempre que há a posse de um guarda redes, quer de um lado quer do outro, a equipa é rapidíssima a reagir.

O Porto, e mesmo perante a surpresa que lhe foi preparada, só não terá ganho o jogo por 2 motivos. O primeiro tem a ver com alguns erros individuais em posse (provocados, diga-se). Aqui, Fernando e Maicon serão os principais réus, mas não os únicos. Depois, na resposta da dupla de centrais. A força do colectivo tem poupado grandes sobressaltos a Rolando e Maicon, mas, se esta era uma debilidade identificada na pré época, não é o bom percurso da equipa que a desfaz. Neste particular, a meu ver, o Porto está menos bem servido do que os rivais. Claramente.

Notas individuais: Sporting
João Pereira – Fez um jogo semelhante ao que conseguiu na Selecção. Excelente em termos defensivos, faltando-lhe apenas a parte ofensiva. É um grande lateral e não apenas para o futebol português. Uma ideia que defendi aquando da sua chegada ao clube, e que agora reforço.

Polga – É um jogador fortíssimo na leitura do jogo – repito-o – e Falcao sentiu-o sempre que apareceu na sua zona e tentou servir de apoio frontal. O jogo de Polga fica marcado pelo erro do golo. Já o escrevi, é inexplicável o que fez naquela situação. Um erro pouco notado mas que me parece o mais grave cometido por um central do Sporting nesta temporada. Para além disso, teve um jogo difícil em construção, muito por mérito do adversário.

Pedro Mendes – Ainda o vamos ver, assim a condição física o permita, a fazer jogos mais exuberantes. É um jogador com uma cultura posicional fantástica e uma segurança em posse igualmente rara. Já sem Maniche em campo, seria importante tê-lo nos últimos minutos para tentar um domínio mais sustentado.

André Santos – Foi muito destacado porque foi dos que mais apareceu ofensivamente, mas não foi dos que mais produziu em termos de trabalho colectivo, quer com bola, quer sem ela. Não serve isto para lhe fazer uma critica, antes para alertar para a forma como somos iludidos pelas percepções que o jogo oferece. O próprio Paulo Sérgio o pareceu não perceber ao mantê-lo em campo em vez dos outros 2 médios.

Maniche – Não fez o jogo que projectei, e terá sido mesmo um dos seus piores jogos na liga. Ainda assim, e enquanto esteve em campo, nenhum médio foi mais influente do que ele no jogo da equipa. Nunca o retiraria na fase terminal do encontro e esse parece-me ter sido o primeiro erro que impediu o Sporting de exercer maior domínio na fase terminal.

Valdés – Fantástica primeira parte! Não só pelo golo que marcou, mas por tudo aquilo que fez. Jogou quase menos meia hora do que Postiga, mas conseguiu produzir o mesmo em termos de intercepções e passes, do que o jogador que actuou numa posição simétrica. Voltou a jogar na ala, mas reforço que é um erro. Valdés deve jogar no meio e de preferência com liberdade de movimentos. Caso contrário, sou capaz de arriscar, a boa fase vai terminar.

Postiga – Fez um bom jogo, numa posição que não lhe é habitual. Lutou muito e foi útil, mesmo se essa não é de todo a sua especialidade. Deu boa sequência à maioria das jogadas, mas faltou-lhe capacidade desequilíbrio. Algo que os seus agora recorrentes remates de 30 metros raramente poderão dar.

Liedson – Incrível a sua capacidade de trabalho! Jogar isolado, numa equipa que não pressiona particularmente bem e que não solta muitos apoios em transição... a maioria dos jogadores teria feito um jogo nulo. Basta ver, por exemplo, como, jogando num sistema idêntico e com a equipa muito mais distante, foi muito mais influente do que Falcao. Liedson conseguiu uma quantidade enorme de intercepções, iniciou transições e provocou, até, uma expulsão vinda do nada. Para mais, deu quase sempre sequência às jogadas que passaram por si. À parte de uma má decisão na área, não é exagero dizer-se que valeu por 2 neste jogo.

Notas individuais: Porto
Emídio Rafael – é uma boa solução, mas, tal como defendi numa caixa de comentários recente, está longe de garantir, quer a intensidade, quer a profundidade de Álvaro Pereira. Por exemplo, o mínimo de intercepções que o uruguaio conseguiu num jogo da liga foram 12, precisamente o mesmo que Rafael na sua estreia na competição. Ainda assim, reforço, é um problema relativo – de comparação – e não absoluto.

Rolando – A sair a jogar garante uma qualidade muito elevada e dificilmente cometeria o erro de Maicon, mas Rolando tem de render mais para justificar o estatuto que lhe é atribuído. Apenas é dominador nas situações de bola parada, de resto, nem é forte em antecipação, nem agressivo nas primeiras bolas aéreas (como se viu no golo), nem sequer fica ausente de erros pontuais em situações posicionais. Na minha opinião, tem de produzir mais, até porque tem aptidões para isso.

Maicon – É muito mais agressivo e dominador do que Rolando, mas é também tecnicamente mais débil e isso custou-lhe a expulsão. No golo, como já disse, leu mal a jogada, mas divide responsabilidades com Rolando. Adivinha-se a perda da titularidade...

Fernando – Os seus erros toda a gente viu, mas há também que ver a coisa de uma perspectiva relativa. Fernando errou mais do que os outros, mas foi também aquele que, de longe, mais passes certos fez. Na segunda parte corrigiu a sua saída em posse e acabou por ser também muito influente na recuperação.

Moutinho – Terá sido um dos vencedores relativos do jogo, mas não fez uma grande exibição. Foi condicionado pelo jogo do Sporting, na primeira parte, mas acabou por estar envolvido na jogada do golo. Foi, enfim, mais uma exibição "à Moutinho". É um grande jogador, que é excepcionalmente regular, mas não regularmente excepcional. Desde que não se confunda isto, estou de acordo...

Falcao – Não se pode dizer que tenha sido muito influente ou que tenha ganho algum duelo em particular. Mas, a verdade é que as 3 grandes oportunidades do Porto são dele e é isso o que mais se pede a um jogador da sua posição. Primeiro, que “chame” o golo e depois que o marque. Foi isso o que fez Falcao.



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