11.11.10

Sporting - Guimarães: Análise e números

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O jogo tem 90 minutos mas, neste caso, tudo se torna irrelevante perante aquilo a que assistimos no derradeiro quarto de hora. Para se ter uma noção, a probabilidade teórica de acontecer uma reviravolta como aquela que o Vitória protagonizou – mesmo considerando a inferioridade numérica do Sporting – seria de qualquer coisa como 0,3%. É cerca de 1 em mais de 300 jogos, 3 vezes menos provável do que o Porto bater o Benfica por 5 golos. É aquilo que Taleb apelidou de “Black Swan” (cisne preto), no seu livro com o mesmo nome. A pergunta que fica é se se tratou apenas de uma estranha coincidência ou se, como identifica o próprio Taleb na sua teoria, mais uma vez o factor humano deitou por terra os padrões expectáveis da “normalidade”. Adivinhem para qual das hipóteses eu me inclino mais...

Notas colectivas
De facto, e como referi no comentário “breve” que deixei depois do jogo, o curso da partida surpreendeu-me. Esperava um Vitória muito melhor e capaz de potenciar muito mais problemas. Esperava um bloco defensivo mais fechado e difícil de ultrapassar e uma transição defesa-ataque pronta a soltar muita gente em ataque rápido. O jogo típico das equipas de Machado neste tipo de embates.

Mas não aconteceu. O Sporting esteve bem, embora não começando de forma esplêndida. Teve Vukcevic e Valdés muito inspirados e um João Pereira eléctrico, acabando por conseguir um golo que começou a inclinar muito a balança do jogo. O Vitória sentiu o golpe, começou a decidir mal com bola e, sem ela, tornou-se estranhamente permeável às cavalgadas dos jogadores do Sporting que iam furando o bloco defensivo contrário. Com o 2-0 a coisa ainda se agravou mais e entendo que o pior momento do Vitória terá sido mesmo no quarto de hora final da primeira parte. A equipa ficou à deriva perante um Sporting muito confiante, mas que acabou por, também ele, ser benévolo. Isto é, não é que o Sporting tenha criado muitas oportunidades claras nesse período, mas teve um volume de jogo enorme, encontrando permanentes facilidades em chegar ao último terço. Justificava-se um pouco mais de acutilância para chegar a um golo que não aconteceu.

Depois, a segunda parte. Não era preciso muito para o Sporting confirmar os 3 pontos. Obviamente. Mas foi também nesse momento que se viu a pouca lucidez e capacidade da equipa para reagir de acordo com as diferentes situações com o jogo lhe oferece. Não que tivesse havido uma grande reacção do Vitória. A equipa de Machado apenas se recompôs emocionalmente ao intervalo, corrigindo o desnorte com que havia finalizado a primeira parte. O golo nunca esteve especialmente eminente por parte do Vitória, mas o Sporting permitiu sempre um jogo esticado e a um ritmo que só interessaria a quem precisava de ver mais golos no jogo. Isto, até ao tal quarto de hora final.

A expulsão de Maniche é apenas um dado a acrescentar àquele que considero ter sido verdadeiramente o catalisador do deslize leonino: o primeiro golo. Foi realmente a partir daí que o Sporting se perdeu por completo como equipa, permitindo logo de seguida o empate e ainda o impensável terceiro golo, numa transição, essa sim característica das equipas de Machado.

Sobre o Sporting, há 2 coisas a concluir da segunda parte. A primeira, em termos tácticos, é que esta equipa parece apenas preparada para jogar quando precisa de golos. Quando está numa situação favorável, não sabe gerir o jogo, não sabe utilizar o espaço em transição ou uma posse mais especulativa, baixando ritmos e tempos de jogo. A segunda conclusão é mais grave. Qualquer equipa precisa de ser forte psicologicamente, de ter confiança na sua proposta e nas suas potencialidades. É isso – não canso de repetir – que distingue as equipas de grande sucesso, das outras. O que aconteceu nos últimos 15 minutos foi a evidência de que a confiança desta equipa é tão sólida como qualquer castelo de cartas.

Sobre o Vitória, importa dizer que, embora continue sem deslumbrar ninguém, Machado está a fazer um excelente campeonato em termos pontuais e prepara-se realmente para discutir um lugar com o Sporting, possivelmente mesmo até ao fim da prova. O jogo com o Braga será mais uma etapa importante na afirmação do estatuto da equipa na tabela. Importa dizer que, se o Vitória não teve um grande desempenho na primeira parte e contou também com grande eficácia na parte final, também não lhe pode ser retirado qualquer mérito na reviravolta. É que, ao contrário do Sporting, o Vitória – por mérito de Machado – sabe bem interpretar as diferentes fases do jogo e reagir de acordo com aquilo que elas pedem à equipa. E isso é meio caminho andado.

Notas individuais
Centrais – A nota que quero deixar não tanto a ver com o rendimento dos 2 jogadores neste jogo, mas com a gestão que entendo dever ser feita. Ou seja, nesta altura já devia estar claro que os problemas do Sporting não passam por questões individuais. Mais importante do que descobrir quem é melhor do que quem, é potenciar o rendimento colectivo dos jogadores e para isso é preciso dar-lhes confiança. Paulo Sérgio, em minha opinião, ganharia em eleger 1 dupla de centrais e dar-lhe tempo. Tem um bom exemplo no Porto, onde a qualidade individual nesta posição não é, em meu entender, superior à do Sporting.

André Santos – Também não vou comentar especificamente este jogo, que não foi um dos seus melhores – embora tenha sido vitima do jogo pouco pensado da equipa, sendo que o Sporting fez muito menos passes do que normalmente faz. O ponto serve apenas para referir que André Santos, embora com alguns pontos onde pode e deve melhorar, é já uma aposta ganha do Sporting. Um jogador que garante melhor rendimento do que Zapater, por exemplo.

Maniche – Para além da expulsão estava a fazer um jogo abaixo do que lhe é habitual – com as mesmas atenuantes que André Santos. Ainda assim estava tudo menos a jogar mal. Maniche é agora o novo responsável pelos problemas do Sporting. O seu excesso de agressividade não é de hoje e não será no Sporting que ele se vai corrigir. Queira o Sporting que esse seja o seu único mal e que o seu rendimento se mantenha como até aqui. Queira, já agora, também que não se cometa o erro de agravar ainda mais o mal que está feito. Ou seja, se o Sporting decidir penalizar desportivamente Maniche poderá pagar caro por isso. Repito que Maniche é o melhor jogador do Sporting nesta época e com alguma distância e não tenho a certeza até que ponto a sua ausência pode mesmo ser decisiva. Vamos ver já em Coimbra.

João Pereira – Fez um jogo pleno de intensidade, correu quilómetros a uma intensidade tremenda, criou lances de golo, recuperou e deu quase sempre boa sequência às jogadas que passaram por ele. O problema é o “quase”. É que as (poucas) bolas que perdeu tiveram consequências...

Valdés – Paulo Sérgio pode ter aberto uma nova era na carreira de Valdés. E não me refiro apenas à sua passagem no Sporting. A sua capacidade técnica é invulgar, como é fácil de ver. O que aconteceu tantas vezes foi que o chileno, jogando na ala, pouca ou nenhuma consequência dava ao seu futebol. Jogando mais perto da baliza parece tornar-se muito mais perigoso. Primeiro, porque sendo difícil de lhe tirar a bola, quando a tem perto da baliza, o problema torna-se muito maior para quem defende. Depois, porque ao contrário do que acontece com a maioria dos extremos, Valdés revela uma notável capacidade para se mover ao longo de toda a largura do campo.



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