12.1.11

Leiria - Benfica: Análise e números

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Dizer que foi um jogo muito confortável é sempre um exagero para uma partida que passou a maior parte do seu tempo num resultado tangencial. A verdade, porém, é que entre Benfica e Leiria houve sempre um grande diferença no que respeita à proximidade com o golo. E esse, a meu ver, é sempre o indicador mais importante em qualquer jogo de futebol: a proximidade com o golo. Tudo somado, é Jesus quem tem motivos para sorrir.

Notas colectivas
Na verdade, a superioridade do Benfica, facilmente observável, não resultou de um domínio territorial avassalador, nem, tão pouco, de uma exibição soberba em termos técnicos. Resultou, isso sim, de uma mais competente ocupação dos espaços, para além, claro, das evidentes mais valias individuais que a equipa possui. Ou seja, a União conseguiu dividir o jogo territorialmente em diversos momentos, mas teve muita dificuldade em controlar todos os espaços do campo, especialmente quando a bola viajava rapidamente de uma zona para a outra.

De notar, por exemplo, que várias das mais perigosas jogadas encarnadas resultam do mesmo tipo de lance. Com a bola a ser colocada rapidamente nas costas do meio campo leiriense e a causar muitos problemas de equilíbrio no extremo reduto contrário. Isto, porque o Leiria ficava com pouca gente atrás da linha da bola e incapaz de controlar a largura do campo. Por isso vimos tantas vezes Gaitan aparecer solto na esquerda a partir de jogadas deste tipo.

Ainda assim, nem sempre o jogo foi igual. Na segunda parte, por exemplo, observou-se uma reacção positiva do Leiria, com maior agressividade e maior proximidade entre os jogadores nas zonas de pressão. O Benfica teve mais dificuldades em dominar o jogo – essencialmente porque foi ineficaz no momento em que ganhava a bola – mas é curioso observar-se que não foi nesse período que o Leiria foi mais perigoso. Aliás, à parte de um pontapé de canto, não teve qualquer chegada sequer ameaçadora à área encarnada, ao contrário do primeiro tempo.
Porquê, então, ter o Leiria chegado com mais condições à área contrária no período em que menos conseguiu dividir o jogo? A resposta é óbvia e recorrente no Benfica 10/11: porque na primeira parte o Benfica perdeu 6 bolas em zonas recuadas e na segunda não perdeu nenhuma. O problema da transição defensiva do Benfica não é, nem nunca foi, a recuperação em si mesmo. Foi, isso sim, a zona de perda de bola. Foi, e é.

Outra constatação que foi tirada no final do jogo teve a ver com associação da entrada de Ruben Amorim com um melhor período do Benfica. É verdade que coincidiram, é verdade que Ruben entrou bem e que era uma aposta que se justificava, mas, até pelo que escrevi antes, não entendo que o problema do Benfica na segunda parte tivesse a ver com o que fazia sem bola. Aliás, se o Leiria nunca se aproximou com perigo da área do Benfica, acho difícil sustentar essa tese. Teve, isso sim, muito mais a ver com aquilo que o Benfica não conseguira fazer com bola depois do intervalo. E, aí, não se pode dissociar as oportunidades na recta final do jogo com o risco táctico assumido por Caixinha. Tal como a entrada de Amorim, coincide com o melhor período do Benfica no final do jogo, só que, parece-me, tem um correlação muito maior com a alteração de tendência observada.

Em relação ao Leiria, é uma equipa que vejo cometer muitos erros posicionais nos jogos com os grandes. Está a fazer um excelente campeonato e continua a ter bons jogadores, mesmo depois da saída de Carlão e Silas, mas não tenho a certeza de que terá o mesmo andamento depois destas perdas. Falando de Carlão, aliás, é uma perda importante para o futebol português. Estava a ser um dos melhores avançados do campeonato e, não tenho grandes dúvidas, tinha condições para merecer a aposta de um “grande”. Apesar de ter ido para muito longe, tem ainda tempo para que possamos ouvir falar dele...

Notas individuais
Coentrão – Voltou a fazer um grande jogo, sendo apenas de se lamentar 2 más entregas no primeiro tempo que colocaram em risco a equipa. De resto, muito bom, quer a defender quer a atacar. É um dos melhores defesas esquerdos do mundo.

Javi Garcia – É como um relógio, tanto em relação à sua compreensão dos equilíbrios tácticos, como em relação às perdas de bola que acumula em todos os jogos. Francamente, custa-me a entender como continua a ser dono inquestionável do lugar quando revela tantas dificuldades com bola.

Carlos Martins – Não conseguiu ser um jogador determinante em termos ofensivos – frequentemente é – mas foi, com alguma distância, o mais participativo em termos de posse. Fez, em termos de eficácia em posse, um jogo ao nível da equipa, perdendo 1 bola comprometedora na primeira parte. Defensivamente, é o habitual: não tem grande capacidade de trabalho mas mantém, tal como todos, um posicionamento base correcto.

Gaitan – Foi fácil este jogo. Devagar, sem grande agressividade nem grande inspiração e, mesmo assim, cumpriu posicionalmente e foi determinante ofensivamente. Porquê? Porque Gaitan compreende bem onde tem de estar, quer com bola, quer sem ela, e porque tem um pé esquerdo que cruza como poucos (provavelmente o melhor da liga como já venho alertando há algum tempo). Apareceu no espaço certo, a bola ia-lhe sendo colocada e ele cruzava. O resto, todos viram...

Salvio – Não foi uma exibição eufórica como frente ao Rio Ave, mas Salvio vem confirmando a característica que lhe venho descrevendo: ou seja que é um extremo forte em zonas de finalização e que por isso se encontra facilmente com o golo. Fez uma assistência, criou a jogada do segundo golo e ainda perdeu mais 2. Não dá para pedir mais...

Saviola – Começou por ser o grande destaque do jogo pela frequência com que apareceu a desequilibrar. A sua invulgar qualidade de movimentos sem bola continua a fazer mossa com uma regularidade incrível e se Saviola tivesse outro nível de aproveitamento seria um destaque ainda maior. Na segunda parte não apareceu tanto e decidiu pior, com a equipa a ressentir-se. Nota para a pouca eficiência em termos defensivos.

Cardozo – Foi, durante muito tempo, muito discreto e, pessoalmente, gosto pouco de ver jogadores a passar tanto tempo longe do jogo. No entanto, e ao contrário do que muitas vezes acontece, manteve sempre uma participação positiva a cada intervenção, acabando por emergir em grande plano na recta final do jogo.

Ruben Amorim – Como escrevi atrás, a sua entrada justificava-se e justificou-se. Ruben é um jogador muito completo e que dava, em relação a Gaitan, maior agressividade e presença ao jogo. Mesmo, se não tem o mesmo talento. Numa altura em que se aguarda para ver José Luis Fernandez, arrisco que Ruben será o único jogador com capacidade para discutir, realmente, um lugar no meio campo com Gaitan, Salvio e Martins, até porque tem mais valias diferentes.



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