11.1.11

Porto - Marítimo (Análise e números)

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Não se pode dizer que a resposta foi brusca, mas foi seguramente uma boa reacção à primeira derrota da época, numa exibição que foi ganhando qualidade e consistência, acabando por se saldar como muito positiva. Na verdade, jogando em casa, era um cenário que, como já havia escrito, se adivinhava. É que o Marítimo, tendo alguns bons jogadores, não tem andamento para repetir o prato do seu rival insular. Por mérito próprio e falta de competitividade interna, é de facto muito difícil uma equipa com a qualidade do Porto tropeçar 2 vezes seguidas.

Notas colectivas
Começando pelas opções de Villas Boas, houve alguma surpresa na adaptação de Hulk a uma posição central. Uma solução que, creio, tem muito mais a ver com a intenção de dar continuidade à aposta em James, mas que implicava algum risco. Não que Hulk não possa jogar a partir de posições centrais – já o fez no passado e com sucesso – mas porque o seu tipo de movimentação tem de ser muito diferente daquilo que acontece com Falcao, por exemplo. Implica não só maior mobilidade no trio ofensivo, mas sobretudo um relacionamento posicional diferente dos extremos, que habitualmente ligam muito mais os seus movimentos com laterais e médios mais próximos do que com o elemento mais central do ataque.

Não foi apenas por isto que o Porto sentiu algumas dificuldades numa etapa inicial, embora o crescimento da equipa tenha também coincidido com uma melhor relação de movimentos do trio ofensivo. Essencialmente, houve uma fase em que o Porto não conseguiu manter o jogo no meio campo adversário, como tanto gosta. Algo que resultou de uma qualidade e velocidade de circulação menos intensa, mas também de uma intenção do Marítimo de condicionar a saída de bola portista, obrigando a que se jogassem mais segundas bolas e tornando mais físico o jogo. Por incapacidade próprio ou por mérito portista, o facto é que o sucesso dessa intenção durou pouco.

Há um elogio que, não sendo novo, deve ser feito a esta equipa portista: a sua qualidade em organização ofensiva. A maior parte das equipas precisa de situações de ataque rápido e transição para atingir um grande número de jogadas de golo, mas o Porto parece ser capaz de jogar sempre perante adversários posicionados e organizados. O segredo, parece-me, está na combinação de 2 elementos: a qualidade de circulação e a tranquilidade com que aborda esse momento. Qualidade de circulação, pela velocidade e boa movimentação dos jogadores e da bola. Tranquilidade, pela forma como raramente se precipita neste processo, não caindo na tentação de uma verticalização imediata, mas procurando o melhor “timing” de entrada no bloco contrário. Este último aspecto talvez seja o mais raro em equipas que sentem muito a pressão de ter de chegar rapidamente ao golo.

Ainda dentro da qualidade de circulação, uma nota para o peso de Moutinho no inicio da construção. O Porto ganha muito mais quando é ele o protagonista do primeiro passe. Garante mais certeza e segurança do que Guarin, Belluschi ou Fernando, por exemplo.

Notas individuais
 Sapunaru – Normalmente gosto pouco de laterais ditos “defensivos”. Porque esse rótulo geralmente não resulta de um significativo acréscimo de fiabilidade defensiva, mas, antes sim, de uma substancial incapacidade para dar profundidade ao flanco onde jogam. O facto é que Sapunaru, dito “defensivo”, tem-no sido realmente. Muito certo nas suas acções com bola – sem grande capacidade de dar profundidade, é certo – e sobretudo muito forte no domínio que impõe na sua zona. Uma boa surpresa nesta temporada.

Emídio Rafael – Não repetiu, desta vez, a exibição errática frente ao Setúbal. Pode dizer-se que cumpriu, é verdade, mas também é um facto que foi tudo menos deslumbrante num jogo onde tinha boas condições para ser mais protagonista em termos ofensivos. Tem tido a sorte de ter boas oportunidades, mas ainda não se mostrou uma alternativa à altura de Álvaro Pereira.

Guarin – Foi o homem do jogo, conseguindo um protagonismo ofensivo raro para quem joga como “pivot”. Pode ter aumentado a dúvida sobre o titular do lugar nos próximos jogos, mas, se Guarin tem muito maior aptidão ofensiva do que Fernando, é também muito claro que não domina tão bem a posição como o seu rival pelo lugar.

Moutinho – Ao contrário do que muitas vezes se diz, não é sempre o jogador mais influente em termos quantitativos do meio campo portista. Mantém sempre uma bitola elevada e uma grande importância, mas não é sempre o mais influente. Desta vez, porém, foi-o claramente, protagonizando provavelmente a sua melhor exibição no campeonato. A única que rivalizará com esta será a que conseguiu na Madeira, frente ao Nacional. Foi o verdadeiro “dono do jogo” portista, batendo o seu recorde de passes e intercepções, e sendo ainda determinante em alguns lances ofensivos. Não marcou, nem assistiu, mas com este rendimento também não é preciso...

James – Percebe-se, pela idade e rendimento, tão declarada aposta. James correspondeu, aproveitando sobretudo bem a fase de maior exposição do Marítimo e acabou como um dos destaques do jogo. O seu rendimento, porém, não me parece ainda suficiente para que se possa esperar dele uma presença determinante sobretudo nas fases de definição do jogo. Veremos que tipo de confiança lhe trará o golo que marcou...

Hulk – Jogou a partir de posições mais centrais e teve dificuldade em ser tão influente como é hábito. Apareceu menos e com mais dificuldade de dar sequência às suas acções. Hulk, porém, está mesmo imparável e, mesmo assim, marcou um grande golo e fez uma assistência. Entre golos marcados e assistências, valeu 1,7 golos por jogo, em metade do campeonato. A equipa inteira do Sporting, por exemplo, só conseguiu 1,5!

Djalma – É um jogador a quem se projecta capacidade para mais altos voos. Correu muito e foi muitas vezes útil, mas foi, também, demasiadas vezes inconsequente com a bola nos pés. Para jogar a um nível mais elevado não são só precisas explosões, é preciso também critério nas decisões.



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