17.1.11

Sporting - Paços: Análise e números

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O jogo abriu com uma ocasião, logo na primeira jogada, e esse acabou por revelar-se um pronuncio do entretenimento que a partida viria a oferecer. Os efeitos da estratégia do Paços já haviam sido explicados no jogo que fizera na Luz, onde conseguiu um elevado número de remates. Desta vez, porém, os “castores” foram mais longe e acabaram por juntar a sua própria eficácia com a complacência do adversário. É que se a estratégia do Paços estava anunciada, o Sporting nunca se mostrou preparado para ela, agravando a situação com a péssima reacção que foi tendo ao longo do jogo. Ao intervalo ainda dava para reconhecer que a desvantagem era penalizadora para o Sporting, mas o mesmo não se pode dizer do segundo tempo. Tudo somado: sem desculpas!

Notas colectivas
A intenção do Paços era óbvia: quando o Sporting tinha a bola, provocar o erro e, se possível, impedir a saída em futebol apoiado, através de uma primeira linha de pressão mais alta. Quando conseguia ganhar a bola, utilizar sempre um futebol rectilíneo, seja através de saídas verticais em ataque rápido ou, caso tal não fosse possível, uma abordagem mais directa em ataque posicional.

Perante este cenário, o Sporting tinha um papel muito fácil de entender. O segredo estaria na qualidade em organização e em ataque posicional. Ter a inteligência para perceber o perigo de errar em zonas baixas, e a audácia para ultrapassar, com bola, a primeira linha de pressing do Paços. Se isso fosse conseguido, o Sporting poderia aproveitar o maior espaço dentro do bloco pacense e empurrar o adversário para um posicionamento mais baixo, que não lhe permitiria impor as características do seu jogo.

O problema é que, não só o Sporting fez um dos jogos mais erráticos da temporada (também por mérito do Paços), como a sua circulação nunca foi capaz de fazer a bola chegar com eficácia à zona de criação. O problema, aqui, está nas dinâmicas que a equipa não tem para o que sobra da primeira fase de construção. Com Maniche (e Pedro Mendes, quando está disponível), a bola circula sempre bem, com segurança e velocidade, mas o que vem depois é um enorme deserto de ideias. Os extremos não fazem movimentos interiores, e quando aparecem é sempre para resolver individualmente nos corredores. Os laterais, só aparecem ofensivamente em situações pontuais e circunstanciais do jogo. O avançado parece ter como única função esperar por uma situação de finalização na área. Sobra o improviso do 10, e – repito a ideia – Paulo Sérgio bem pode agradecer à sorte a lesão de Matías Fernandez.

Com todos estes problemas, o Sporting não estava a fazer um bom jogo, mas também é facto que foi criando oportunidades em bom número através das inspirações de Valdés. A agravante surge depois, ironicamente entre os 2 golos da segunda parte. Aos 61’ o Sporting empatou, mas essa foi a sua derradeira ocasião clara no jogo. Culpa principal do seu treinador que forçou uma alteração, de todo, absurda. Não só alterou a estrutura, perdendo presença num meio campo já de si mal ligado, como retirou a sua unidade de maior influência no jogo. É óbvio que existe um preconceito geral em relação a Maniche e que isso impede adeptos e muita comunicação social de lhe fazer uma análise justa do seu óptimo rendimento. O que não é aceitável é que o próprio treinador não seja capaz de ir além deste registo. Não é aceitável, e isso paga-se.

Por fim, nota sobre o Paços. Já elogiei a prestação dos “castores”, pelo arrojo da sua estratégia que dá aos jogos uma característica pouco comum neste tipo de confrontos. Se é a melhor maneira? Parece-me discutível, mas o Paços tem-se dado bem. Há também alguns jogadores interessantes nesta equipa. Os laterais, digo eu, merecem uma revisão por parte de clubes de maior dimensão. São ofensivos e agressivos, ficando por averiguar a sua consistência e fiabilidade defensiva (coisa que ainda não fiz). Numa altura em que se procuram tantos laterais, se calhar vale a pena dar uma olhada. Depois, destaque para os centrais e para a dinâmica do meio campo ofensivo, com Pizzi e David Simão em destaque também pela sua juventude.

Notas individuais
Evaldo – O mesmo problema já realçado noutras ocasiões. Está lá sempre, mas sempre em níveis mínimos. Raramente compromete, mas não tem capacidade interventiva que se permita afirmar ser uma mais valia, ou sequer que lá chegue perto. Obviamente que esta constatação não justifica a sua troca por Grimi na altura em que aconteceu...

Polga – Erra com alguma – por vezes demasiada! – frequência, mas volto a fazer um elogio à sua capacidade de ler o jogo e de antecipação. Por isso, e mesmo não sendo forte fisicamente, é o jogador que mais intercepções faz entre os 3 “grandes". É uma característica que não lhe é muito reconhecida, mas com a qual a equipa ganha muito. Não foi por ele que o Sporting perdeu, seguramente.

Carriço – Carriço distingue-se, entre os subaproveitados centrais do Sporting, por ser aquele que menos erros comete. Desta vez foi mais humano e esteve, por culpa própria, bem na origem da derrota.

André Santos – Continuo a fazer notar que, sendo um bom jogador, se está a exagerar sobre as suas capacidades actuais e que isso pode não ser benéfico na sua evolução. Em relação a Zapater, ainda é discutível a sua mais valia, mas com o regresso de Maniche voltou a ser apenas uma sombra do seu parceiro de sector. Claro, quando lhe tiraram Maniche, a coisa complicou-se.

Maniche – É espantoso o que joga e o que dele se diz. Grande primeira parte, sendo, outra vez, a unidade mais influente, quer em termos de circulação, quer em termos de trabalho defensivo. É certo que estava a aparecer menos na segunda parte, mas nada justifica a sua saída, quando, por exemplo, o seu rendimento era, a anos luz, superior ao de André Santos. A incompetência da decisão pagou-se com aquilo que se viu depois do 2-2.

Salomão – É curioso porque apareceu melhor na pior fase da equipa. É possível que seja um jogador mais forte se não estiver tão isolado na linha. Tem boa capacidade de decisão, mas muitas vezes faltam-lhe apoios. Tem boa capacidade de trabalho, mas está muitas vezes muito longe das jogadas. Tudo somado, fez um bom jogo, mas esse é o principal destaque que lhe vi nesta partida, quando jogou mais por dentro: talvez ainda exista um melhor Salomão do que aquele que já vimos. Mas, para ter a certeza, teremos de esperar por outro Sporting.

Vukcevic – Voltou a ser pouco produtivo em termos de trabalho e uma espécie de ilha amarrada à direita. É claro que pode sempre decidir com o seu talento, mas quando, como foi o caso, isso não acontece, fica difícil de perceber para serviu no jogo...

Valdes – Voltou a fazer um jogo espantoso em termos de proximidade com o golo. A sua liberdade em zona criativa é uma enorme fonte de problemas para os adversários, mas convém não confundir as zonas em que deve ser potenciado. Se o objectivo é potenciar Valdes, é preciso dar-lhe mais jogo na zona criativa e não fazer baixar o jogador para a construção, onde o seu perfil de decisão é inadequado. A sua não planeada adaptação a 10 tornou-o num dos melhores reforços do Sporting nos últimos anos. Isto, ao mesmo tempo que se continua a dizer que a equipa não luta pelo título porque não tem jogadores para isso.

David Simão – Já observara este médio emprestado pelo Benfica na Selecção de esperanças e fiquei com melhor impressão do que o crédito que lhe foi dado na altura. É um jogador com grande qualidade técnica, que dá boa sequência a grande parte das bolas que por si passam e que tem, também, uma boa capacidade de trabalho. No entanto, não lhe vejo, para já, nenhuma característica extraordinária, sendo que joga numa posição muito exigente e de difícil afirmação. Fez um grande jogo, mas preciso de ver mais...



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