2.3.09

Porto - Sporting: Encaixados e... anulados

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Mais razão do que emoção - É curioso o facto de ambas as equipas não terem tido muito tempo de preparação para este jogo e terem protagonizado tão poucos erros. De resto, este foi um jogo de concentração, agressividade e organização, conduzindo a um equilíbrio que só um daqueles momentos de impacto emocional no jogo poderia desfazer. Como esses momentos foram raros e de pouca intensidade, o jogo raramente deixou de ser mais racional que emocional, numa toada que, com o tempo, tornava o nulo um resultado mais do que provável. Dito isto, é obrigatório perceber-se que o empate é o mais adequado dos resultados, mesmo se o Porto teve fases em que se tentou superiorizar ao adversário e mesmo se o Sporting teve ocasiões com qualidade suficiente para poder pensar que poderia ter feito um golo.

Porto – Jogando em casa contra um adversário fragilizado, quer no que respeita às suas ausências e limitações físicas, quer quanto ao desgaste mental da derrocada na Champions, o Porto tem de se lamentar de não ter feito mais. Jesualdo tentou desculpar essa incapacidade da sua equipa de se aproximar realmente da vitória, classificando o seu adversário de defensivo, mas nem foi esse o caso. Contrariamente ao que aconteceu com o Benfica, o Sporting apresentou-se no Dragão sem uma estratégia de concessão deliberada do domínio e tentativa de exploração dos espaços que o Porto pudesse dar com o seu adiantamento. Dividindo o jogo, o Sporting poderia ter dado ao Porto a oportunidade de se apresentar como mais gosta, com espaço. O problema foi que os portistas nunca conseguiram tirar partido dessa situação, primeiro porque o Sporting foi sempre muito competente e depois porque não houve, nem dinâmica, nem inspiração, nem rasgo para criar verdadeiros problemas junto à baliza contrária.
No jogo do Porto, destaco a pouca capacidade dos 2 médios, Lucho desgastado e Meireles desinspirado, para dar mais dinâmica ao jogo, quer nas saídas em transição, quer nos desequilíbrios no último terço. Depois, houve a pouca capacidade interventiva de Lisandro e a prova de que Hulk, sendo já um jogador fantástico, tem muito a melhorar perante defesas zonalmente mais fortes que o impedem de usufruir de situações de 1 contra 1. Junto, finalmente, o facto de Pedro Emanuel ter tornado “coxo” o apoio ao ataque do lado direito, para concluir que Rodriguez foi a única excepção de uma equipa sem chama para desmontar a defensiva contrária, pelo menos de bola corrida.

Sporting – Com condicionantes de ordem diversa, o Sporting fez uma exibição extremamente competente num campo muito complicado, faltando-lhe apenas um pouco mais de lucidez em algumas saídas para o ataque e, claro, maior capacidade no último terço, quer para ser mais incisivo, quer para ser mais eficaz no pouco que conseguiu criar.
Do ponto de vista estratégico, algumas notas interessantes. Primeiro, volto ao jogo com o Benfica. Desta vez o Sporting não apresentou um jogo tão directo como estratégia. A opção passou por, primeiro, apresentar um meio campo bem posicionado (destacando-se a importância dada à neutralização de Fernando como opção para o primeiro passe) e, depois, por uma atitude forte, quer ao nível da forma decidida como foram disputados os lances divididos, quer ao nível da concentração táctica e colectiva. Errar era proibido e penso que não terá sido por acaso que Paulo Bento “guardou” 3 defesas no jogo com o Bayern. Lucidez e concentração são aspectos fundamentais para não se errar e, mais do que fisicamente, a presença em jogos sucessivos de tanta importância, afecta o aspecto mental dos jogadores.
Individualmente há vários jogadores que se poderia destacar no Sporting, mas vou falar apenas de 2. Carriço, não por este jogo, mas pelo que vem mostrando, confirmando-se como um valor mais do que seguro, fruto de uma notável capacidade posicional e táctica. Carriço tem apenas a condicionante de não ser um jogador mais forte do ponto de vista físico, mas poderá fazer de Carvalho ou Cannavaro exemplos a seguir. Depois, Izmailov. Encostado à esquerda foi a referência do jogo ofensivo do Sporting, participando em quase todas as jogadas e sempre com grande qualidade. A sua saída tem (como foi confirmado por Paulo Bento) explicação nos problemas físicos sentidos e depois do seu abandono o Sporting deixou de ter a mesma capacidade ofensiva.
Uma nota final sobre a situação do Sporting no campeonato. A diferença para os rivais faz-se hoje pela má prestação nos clássicos da primeira volta e o Sporting está claramente na situação menos favorável para chegar ao título. Ainda assim, 4 pontos não são, a esta distância, uma barreira minimamente decisiva num campeonato onde ganhar tem sido quase sempre difícil para todos.

Qualidade ou emotividade – Foi um aspecto abordado na conferência de imprensa e ao qual quero fazer uma referência. Dizer que um jogo foi “mau” implica uma avaliação qualitativa. O problema não é de hoje, mas a maioria das pessoas confunde qualidade com entretenimento. Para ver um jogo com golos, ocasiões e incerteza no resultado, podemos ir a uma qualquer divisão secundária de um país nórdico ou sul americano. Para ver um jogo entre equipas bem organizadas colectivamente e sem um grande número de erros individuais já não será tão fácil. Não é a primeira vez que falo desta diferença e, perdoem-me, não é possível perceber do jogo se se confunde estes 2 conceitos.

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