4.3.09

O que conta nas contas semestrais dos 3 grandes

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Tornou-se, de repente, no tema da semana. Os anúncios das contas semestrais das SAD não trouxeram números famosos mas estão longe de surpreender quem quer que seja ou de representar uma novidade no que respeita à gestão de cada um dos emblemas. Sem perceber muito bem como, gerou-se o pânico, com uso do termo “falência técnica” como uma espécie de bomba sensacionalista, sem que se perceba o significado do termo ou o seu significado real para os clubes. Antes de mais, “falência técnica” é um termo técnico para as situações em que uma empresa tem capitais próprios negativos. Não significa que a empresa esteja falida ou implica forçosamente, sequer, essa ameaça. Para o caso, só a SAD do Sporting está nessa situação, ou seja com capitais próprios negativos, mas essa não é uma situação nova ou que coloque, por si só, o Sporting numa situação mais difícil que os outros 2 clubes.
A leitura dos relatórios e contas das SAD tem, na minha opinião, apenas interesse para se medir a gestão corrente do futebol. Ou seja, custos e proveitos operacionais. Isto porque as SAD não representam a totalidade do clube e apenas a sua gestão corrente no que respeita ao futebol. Assuntos ligados a situações acumuladas, activos e passivos totais são (infelizmente) bem mais dificeis de apurar, não sendo tão claramente divulgadas pelos clubes (que, note-se, só têm obrigação de divulgar informação relacionada com a actividade da SAD)
. Para o caso concreto destes 6 meses agora divulgados, deixo uma pequena análise comparativa dos números apresentados.

Porto
Os custos com o pessoal continuam a subir (subiram nos 3 clubes), com o Porto a ser aquele que mais gasta. Aqui, comparar com o Benfica pode ser enganador, porque os encarnados não estiveram nas mesmas competições, podendo haver discrepâncias importantes devido a prémios de performance (sobretudo liga dos campeões). A situação é, no entanto, comparável com o Sporting, sendo impressionante que o Porto gaste +66% em nesta rubrica do que o seu rival directo. No que respeita aos proveitos operacionais, importa realçar que o efeito da liga dos campeões não contabiliza ainda os prémios do apuramento para os oitavos da prova. Ainda assim, este valor mantém estável desde o ano anterior.
O risco da gestão do Porto está nos elevados valores ligados a transferências. As amortizações e proveitos representaram um volume total de cerca de 30 milhões de euros, sendo que o Porto está a gastar 11 milhões em amortizações de passes. Se tivermos em conta que o déficit entre custos e proveitos operacionais, mesmo com liga dos campeões foi de 4,8 milhões, conclui-se que o Porto precisa de gerar 16 milhões de euros em transferências para ter as suas contas equilibradas. Convém notar que estes números são trimestrais antes de sublinhar o risco enorme que aparenta ser uma eventual crise no mercado de transferências ou uma hipotética ausência da liga dos campeões. Este é, no entanto, um tipo de gestão que se prolonga há anos e a SAD tem pelo seu lado o facto de sempre ter sido capaz de gerar receitas que colmatassem este aparente desequilíbrio.


Sporting
O Sporting mantém-se como a SAD mais equilibrada. Ao nível dos custos com o pessoal houve um aumento significativo, fruto do aumento da carga salarial do plantel, mas também dos prémios da boa prestação na liga dos campeões. Ainda assim, mantém-se um nível de custos com o pessoal bem inferior aos seus rivais. O aspecto mais preocupante no que ao Sporting diz respeito tem a ver com os proveitos operacionais, fora transferências e prémios da liga dos campeões. O Sporting apresenta neste relatório já o valor do apuramento para os oitavos de final (contrariamente ao Porto), tendo, mesmo assim, um valor inferior ao conseguido pelos dragões. Ou seja, o Sporting consegue gerar cerca de 30% menos proveitos operacionais (excluindo transferências e prémios da liga dos campeões) do que Porto e Benfica. Isto tem a ver, sobretudo com receitas conseguidas através de comércio feito com sócios e adeptos. O facto de o Sporting conseguir menor rentabilidade da sua massa adepta impede o clube de poder atingir os mesmos níveis de despesa com o futebol de Porto e Benfica, sendo por isso uma condicionante importante para os resultados desportivos. Este é o ponto a que tantas vezes Soares Franco se referiu, confessando a sua frustração pela incapacidade de inverter a situação.

Outro aspecto de realce e que confirma a contenção da SAD em matéria de investimento é o valor das amortizações, cerca de metade dos rivais. Para o Sporting um ano sem receitas de liga dos campeões, sem transferências nem investimento no plantel será, à partida, um ano equilibrado e esta é uma situação que, comparativamente com os outros 2 grandes, torna o Sporting menos dependente de um efeito catastrófico da crise financeira (mais uma vez, reforço que estou a referir-me ao equilíbrio da gestão corrente e não a situações de juros e passivos acumulados).


Benfica
O investimento feito no futebol está à vista nestas contas. Os custos com o pessoal aumentaram, mesmo sem os prémios de liga dos campeões e as amortizações com passes de jogadores também. De um ano para o outro, o Benfica aumentou estas rubricas em cerca de 6 milhões de euros (a 6 meses), o que, para garantir o equilíbrio neste nível de despesa, implicará a necesidade de conseguir um aumento significativo dos proveitos, seja pela participação na liga dos campeões, seja por mais valias de vendas de passes.
A conclusão é que o Benfica terá tentado adoptar uma gestão de maior risco e dependência do aproveitamento desportivo, num modelo que se aproxima mais do que vem fazendo o Porto. O ‘timing’, esse, é que pode não ter sido o melhor, devido ao aparecimento da crise financeira. 7 milhões de perdas em 6 meses é um valor que deve preocupar, sabendo-se que este prejuizo poderá aumentar significativamente até final do ano. Caso tal aconteça, obviamente, a gestão desportiva será previsivelmente afectada no que respeita ao planeamento da próxima época.

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