11.4.12

Obrigado e até sempre!

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Há algumas semanas anunciei a minha intenção de encerrar o blogue no final da época, dando inicio a um outro, que teria uma análise mais centrada nos principais campeonatos europeus. Entretanto, porém, houve uma alteração nesse plano e no eixo de análise em que me centrarei no futuro, que será pouco compatível com o tipo de divulgação que caracteriza este meio, e não me deixará muito tempo para garantir o mesmo nível de fundamentação para as opiniões que venho formulando sobre a actualidade do futebol. Por essa incapacidade de manutenção do nível de fundamentação, e porque não pretendo vender algo que eu próprio não compro, encerro hoje o Jogo Directo, sem que esteja prevista qualquer substituição por um espaço de conteúdos semelhantes.

"A mind that follows ‘what you see is all there is’ will achieve high confidence much too easily by ignoring what it does not know. It is therefore not surprising that many of us are prone to have high confidence in unfounded intuitions."

Para não que não seja este apenas um post de despedida, aproveito a citação para sugerir a leitura do livro de Daniel Kahneman, "Pensando, rápido e devagar". Não podendo dizer que tenha sido uma inspiração (é uma leitura recente), é seguramente o livro que melhor explica o paradigma que venho tentando propor nos últimos anos do blogue, reflectindo tanto sobre a não trivialidade dos seus méritos como sobre o natureza contra intuitiva da sua aplicação (no fundo o motivo pelo qual não é facilmente entendido pela maioria das pessoas). Sem o abordar explicitamente, dirá mais sobre o futebol, do que a esmagadora maioria dos livros que a ele se dedicam directamente. Ou pelo menos, é esse o meu entendimento.

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Por fim, quero agradecer a todos quantos visitaram este espaço ao longo destes últimos 6 anos. Mais do que o número (e foram tantos!), realiza-me ter suscitado o interesse de várias pessoas por quem tenho o maior apreço intelectual. Não serão publicados mais comentários, mas manterei o email do blogue, pelo que estarei naturalmente disponível para quaisquer solicitações ou troca de ideias.

Um Abraço a Todos!

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29.3.12

Golos fora ou factor casa?

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O 0-0 numa primeira mão, é melhor para quem joga em casa ou para quem joga fora? A pergunta, no fundo, compara a vantagem entre o factor casa e a regra dos golos fora. Enfim, é uma dúvida que tem resolução simples, bastando ver o que aconteceu nas eliminatórias que terminaram com 0-0 ao fim dos primeiros 90 minutos. Não tenho a resposta, mas imagino que, como nenhum outro resultado, deixe tudo igual para a segunda mão.

Qualquer eliminatória que envolva o Barça, nos dias que correm, tem como principal ponto de interesse perceber que tipo de dificuldades poderá o seu adversário causar e, no limite, se haverá hipótese de surpresa. A questão da comparação qualitativa não se põe, pura e simplesmente. O Milan não é excepção, e nesse sentido não estranhará que, mesmo em San Siro, fosse sempre o Barça a estar mais perto da vitória, ainda que, em qualidade, as oportunidades tenham surgido para os dois lados.

Já me referi ao interesse desta competição, para além da qualidade, pela possibilidade de vermos em confronto culturas de jogo muito diferentes. E esta eliminatória, permite-nos isso mesmo, ver um choque de culturas em termos tácticos. Em especial, no Milan, sobressai a forma como corta a profundidade e junta à linha de quatro uma outra, de três. Não é uma estrutura muito comum, mas é altamente característica desta formação, sendo apresentada há já vários anos. O futebol italiano tem esta característica, de não arriscar muito na altura do seu posicionamento mas, por outro lado, de não trazer muita gente para trás da linha da bola. A linha de 3 do Milan pretende precisamente fazer o que a maioria das equipas faz com 4 ou 5 jogadores, reservando com isso mais gente para o golpe mortal da transição.

Se o jogo da fase de grupos for uma antecipação fiel daquilo que vamos ver na segunda mão, então não restam muitas esperanças ao Milan. É que apesar do empate final, o Barcelona foi avassalador nesse jogo. Em particular, nesse decisivo momento da transição defesa-ataque, o Milan foi incapaz de tirar partido dos homens que deixava à frente da bola, sendo encurralado por um Barcelona que se adaptou estruturalmente na reacção à perda, nomeadamente em relação à sua última linha, onde se mantiveram quase sempre 3 unidades, em vez de 2 como acontece na generalidade dos jogos da Liga espanhola. Depois, em relação à linha de 3 médios do Milan, as dificuldades de controlo da largura também emergiram, sendo o movimento de superioridade de Dani Alves aquele que naturalmente mais parece fragilizar esta estrutura dos italianos.

A decisão da eliminatória passará muito pela resposta das equipas a estas nuances, que não deverão manter as orientações base, ainda que me pareçam prováveis algumas diferenças...

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28.3.12

Fatalidades...

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Não será propriamente uma surpresa para quem vem lendo a minha visão sobre a incerteza do jogo, mas de facto não há nada que me pareça ter determinado que o desfecho negativo fosse uma fatalidade para o Benfica. Nem as opções iniciais, nem, muito menos, as substituições. É claro que sei, também, que os efeitos da tradicional emotividade pós jogo não fazem da minha posição algo muito consensual. Nem esta, nem outras. Ainda assim, reforço a opinião: fatalidade, mesmo, só vejo uma: a de que entre duas equipas a maior probabilidade de vitória esteja tendencialmente do lado daquela que tiver capacidade para a adquirir, a qualquer momento, qualquer jogador do seu adversário.

Quanto jogo propriamente dito, parece-me que ambos os treinadores tiveram uma abordagem clássica para uma primeira mão de uma eliminatória a este nível. Ou seja, risco mínimo e a noção de que qualquer pequena vantagem poderá rapidamente fazer toda a diferença. Jesus, com o seu "formato Champions", que usa Witsel mais próximo de Javi e Aimar na ligação entre estes dois e Cardozo. Di Matteo, com uma estratégia assumidamente cautelosa em relação aos riscos em posse, tanto pelas ligações directas para os corredores, como pela postura várias vezes especulativa na primeira fase de construção. Para os dois, a ideia era marcar, se possível, mas não sofrer, a todo custo. Aliás, terá sido precisamente nesse sentido que Jesus fez entrar Matic, reconhecendo que a 20 minutos do fim um golo sofrido poderia ter um custo praticamente impossível de corrigir. Deu-se mal, é um facto, e será fortemente punido pelo tradicional nexo de causalidade que se faz entre substituições e o que acontece a seguir. A justiça desse tipo de sentença é, a meu ver, tão boa como outras que, nas mesmas circunstâncias, foram favoráveis ao treinador encarnado. Ou seja, nenhuma.

Dentro do conservadorismo estratégico, o Benfica foi quem mais quis ganhar o jogo e, até, quem mais esteve próximo de o merecer. Mas um jogo equilibrado é assim mesmo, altamente refém da inspiração do momento. Ainda assim, é interessante notar como o plantel do Benfica tem um equilíbrio algo atípico nas suas soluções. Isto é, qualquer equipa, mesmo as melhores, tem mais dificuldade em encontrar jogadores que marquem a diferença pela sua capacidade de desequilíbrio ofensivo. Por isso, substituir um avançado ou um criativo pode ser uma dor de cabeça muito maior do que um médio defensivo ou um defensor. No Benfica, é ao contrário. Tem avançados e extremos de enorme qualidade, e todos de um nível muito semelhante. Substituir Gaitan, por exemplo, é muito menos problemático para o Benfica do que substituir Mata para o Chelsea. Lá atrás, e também às avessas do que é mais comum, é que o problema é maior. Neste jogo, por exemplo, parece-me que a ausência de Garay foi determinante, porque Torres foi um jogador sempre muito difícil de controlar, com Jardel a sentir enormes sempre que o espanhol o atraiu para fora da sua zona de conforto. Ora, se num jogo deste tipo os pormenores contam ainda mais, este é pormenor que, na minha óptica, contou bastante...

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26.3.12

Acidentes...

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E, mais uma vez, o futebol nos reserva uma boa dose de ironia. Uma jornada depois de, com alguma felicidade, se ter salvo de perder pontos na Madeira, o Porto escorrega em Paços sem que nada no jogo o fizesse prever. Trocados, exibições e resultados. Nunca ninguém o admite conscientemente, mas a verdade é que, seja lá qual for a exibição, um resultado nunca deixa nada igual. Nem estados de ânimo de protagonistas, nem balanços de adeptos e comunicação social. Sim, porque por muito acidental que seja o resultado, no fim é ele que determina sempre se o tema são os erros e opções do treinador, ou a qualidade e bom momento da equipa. Que repercussões tem esta irracionalidade generalizada no jogo seguinte? Pois isso, ninguém sabe...

De todo o modo, os acidentes acontecem no futebol. A todos. Do que o Porto se deve lamentar, seja lá o que a emotividade sugira depois do jogo, não é do acidente de Paços de Ferreira, mas da ausência de margem de manobra herdada de outros resultados bem menos acidentais e que foram acontecendo ao longo da época.

Os pontos do acidente de Paços podem determinar, para já, a perda da liderança e, eventualmente mesmo, a perda do próprio campeonato. Mas, e ao contrário do que a primeira volta sugeriu, há muito que este campeonato deixou de ser decidido apenas por acidentes e pormenores. Já todos perderam pontos por mais do que meras questões acidentais. Várias vezes. No fim, quem perder, não terá uma boa desculpa nos acidentes...

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24.3.12

Empatas...

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Um golo, como se sabe, não precisa de apresentações, mas se há nulos que se anunciam, este terá sido um deles. Isto, pela escassa proximidade que ambas as equipas mantiveram com o golo ao longo de toda a partida. O Benfica pode e deve lamentar-se de si próprio, claro, porque não fez o suficiente para se aproximar do seu objectivo. Pode, também, relativizar a frustração pelo contexto (ainda que isso lhe sirva de pouco). Pelo campo, aparentemente com poucas condições para promover uma boa circulação. Pelo adversário, que aparenta ter como nenhuma outra equipa, um culto do empate. Pelo desgaste da sequência de jogos que, apesar de tudo, ainda está no inicio. E abordo estes últimos dois pontos, o culto do empate do Olhanense, e o desgaste do Benfica...

Sobre a tendência para o empate do Olhanense, não terá a ver com os treinadores, já que esta é a equipa que nas últimas 3 épocas, e com diferentes lideranças, sempre averbou mais empates nos seus jogos. São 38 em 84 jogos desde que regressou ao primeiro escalão... Impressionante! Não tenho resposta para o porquê da tendência, mas há de facto equipas que tendem mais para o empate do que as outras, parecendo estimular-se sobretudo pela aversão à perda. Dois exemplos onde este fenómeno aparece exacerbado são a segunda liga portuguesa e o recente 4-4 entre Olhanense e Nacional, com o marcador a surgir sempre de forma alternada. Enfim, como sempre digo: o futebol constata-se, muito mais do que se explica.

Sobre a sobrecarga competitiva, não faltam exemplos de equipas que sentem dificuldades em manter níveis exibicionais quando jogam poucos dias após um grande desgaste emocional e físico. O próprio Jesus por várias vezes se referiu ao problema do "terceiro jogo", focando-se bastante na questão física. A minha dúvida, porém, tem mais a ver com a possibilidade de haver uma dificuldade de manutenção dos índices de concentração em ciclos competitivos apertados.

Para além de todas estas dúvidas, claro, está a questão do futuro imediato do Benfica, que não se afigura fácil. Este empate, surgindo antes de um ciclo absolutamente decisivo, vem acrescentar ainda mais pressão sobre a equipa. Não tarda muito para termos as respostas, mas todos percebem que um final feliz começa a afigurar-se como um cenário de cada vez menos probabilidade...

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23.3.12

A sina e o guarda redes

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Seria de esperar que o percurso ascensional do Braga nos últimos 10 anos lhe tivesse creditado mais finais no currículo. Já não digo títulos, embora também isso fosse provável, mas finais. Tem uma, por sinal a mais improvável, o que é muito pouco. Será sina? Há várias coisas cuja explicação nos escapa no futebol (e aí está, pelo menos para mim, o grande interesse deste jogo), mas este não é uma delas. Não há sina, nem explicação alguma, é apenas uma das hipóteses do destino. Ou seja, uma constatação factual sem causalidade que possa fazer antever repetições futuras. Porque, e muito embora sempre pareça, os factos não implicam forçosamente causalidade.

Não acreditando eu no determinismo do fado bracarense, há algo neste jogo que penso merecer reflexão. O Braga foi o mesmo dos últimos jogos, com um pouco menos de felicidade no inicio, mas suficientemente confiante para que um revés não beliscasse o seu potencial qualitativo. Assim, virou e poderia ter sentenciado a presença na tão desejada final. Se o tivesse feito, estaria aqui a dar maior ênfase ao facto de ser o Braga quem, nesta altura, resolve os seus jogos com mais ligeireza. Mas esse cenário não evitaria a mesma pergunta que deixo agora, porque é uma dúvida que tenho para mim em relação aos jogos decisivos que se aproximam: Revelando, jogo após jogo, condições para se equivaler em quase tudo aos rivais na luta pelo título, terá o Braga o que é preciso para se equivaler nos pormenores?

E aqui, vou aproveitar o erro de Quim (fazendo dele um pretexto, mas não uma motivação em si mesmo), para recordar a teoria de Artur Jorge e dos 6 pontos que valeria um bom guarda redes. Uma comparação implica sempre pelo menos duas avaliações, mas depois da observação mais detalhada que fiz aos guarda redes nesta temporada, há duas conclusões que retiro para mim: 1) Concordo com a grande importância dada por Artur Jorge na relação entre guarda redes e sucesso. 2) A dificuldade em encontrar um bom guarda redes tem muito mais a ver com a dificuldade que há em fazer uma avaliação correcta do desempenho deste tipo de jogadores, do que com a escassez de alternativas de qualidade.

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21.3.12

Rivalidade

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Estranheza. É sobretudo esse o meu sentimento ao ver este jogo. Não posso estar seguro de que não tenha a ver com o meu próprio condicionamento prévio, da ideia que já tinha de que a partida não seria abordado com a habitual intensidade emocional pelas duas equipas. Ainda assim, é a minha sensação ao ver 3 golos em tão pouco tempo e uma primeira parte tão oscilante e pouco consistente de ambas as partes. Venceu o Benfica, e talvez lhe fique melhor porque foi, de facto, quem mais oportunidades criou, sobretudo na recta final da primeira parte.

Interessante é a discussão sobre a importância que ambos deram, ou não, a este jogo e a esta competição. Há uma desvalorização deliberada e que não é de agora ou deste jogo, e que surge sobretudo do lado portista. Já escrevi sobre isso, mas parece-me um pouco como um comerciante fazer publicidade contra os seus próprios produtos. Enfim, não é novo que o futebol português se permite a estas e outras excentricidades, pelo que também não se pode estranhar muito. Seja como for, o facto é que não é preciso o discurso de seja quem for para que a competição seja, de facto, desvalorizada na prioridade dos treinadores. Todos o sabem, ninguém vai evocar a Taça da Liga como atenuante para a perda do campeonato e é essa prova que, no fim, definirá o último sorriso e, muito provavelmente, a manutenção de algumas cadeiras. Apesar disto, e porque a rivalidade é isso mesmo, ninguém queria perder, sendo esse o estimulo (a rivalidade) que terá evitado uma opção por uma quase plenitude de segundas linhas. Porque, e em face do que escrevi acima sobre a importância das competições, esse seria o cenário mais provável caso o sorteio não tivesse ditado estas sortes.

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20.3.12

A rever, porque não há muito mais a fazer....

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À primeira vista, as dificuldades do Sporting podem não fazer sentido algum, e em qualquer caso não eram seguramente provável, mas talvez não fosse também difícil antecipar as diferenças entre este jogo e aqueles que, recentemente, catapultaram o a equipa para novo estado de optimismo. De resto, já não é a primeira vez que me refiro a este aspecto. O tipo de oposição que colocou o Gil, estrategicamente mais baixo e expectante, não foi surpresa e recuperou um cenário em que o Sporting do passado recente teve sempre muitas dificuldades em ultrapassar.

O resultado não será o mais importante para a análise, até porque o resultado, num só jogo, está sempre refém de uma série variáveis pouco ou nada controláveis. Ainda assim, o resultado não pode também ser dissociado da imposição qualitativa de uma intenção de jogo. E precisamente por ser indissociável, talvez seja correcto referir o peso da eficácia na definição das condições do jogo. É que se o Sporting pouco se conseguiu aproximar do golo em 90 minutos, o Gil não teve de fazer muito para construir a sua vantagem.

Num plano mais táctico, creio que a circulação baixa do Sporting foi o aspecto que mais revisão justifica. A equipa traz muita gente para zonas baixas, aproximando dois médios dos centrais, recuando unidades móveis mais adiantadas e mantendo, inclusivamente, os laterais quase sempre em posição baixa. Várias vezes o Sporting manteve vários jogadores na mesma linha, e sobretudo não conseguiu criar boas condições para iniciar a progressão, na minha perspectiva por não fazer um bom uso da largura do campo. O Gil, mesmo não tendo muita gente na primeira linha de pressão, conseguia um condicionamento que facilitava a tarefa da segunda linha de pressão, de onde não passou grande parte do jogo do Sporting. Enfim, motivos para Sá Pinto reflectir...

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Entretanto, quem também jogou foi o Metalist, que teve melhor sorte do que o Sporting muito graças a um jogador a que tinha feito referência, Cristaldo. Que grande golo!

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17.3.12

Expectativas

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Não houve surpresas, mas não se pode dizer que tenha sido uma mera formalidade. Pelo menos, para o Porto, que teve um jogo de grande incerteza e muito pouco controlo. Mais um sinal de que o momento não faz antever um grande conforto na recta final, ao contrário do que aconteceu em boa parte da prova. Cumpre-se este fim de semana a 10ª jornada em 2012 e, mesmo descontando o jogo entre ambos, foram mais as jornadas em que pelo menos 1 dos dois perdeu pontos do que aquelas em que, como nesta semana, ambos conseguiram vencer. Veremos o que acontece à medida que a pressão aumenta...

Nem 20 dias passados, jogar-se-á outro Benfica-Porto. O lado mais interessante deste segundo jogo, pelo menos para mim, tem a ver com a diferença de contexto para o primeiro. Ou seja, no jogo para o campeonato, os 90 minutos eram encarados quase que como uma final do campeonato. E o campeonato, quer para um lado, quer para o outro, pode significar muito mais do que uma mera organização das festas de Maio. Pode ter implicações nas carreiras de muitos dos protagonistas, sobretudo dos treinadores. Agora, por outro lado, Benfica e Porto trocariam um resultado na meia final da Taça da Liga por 2 pontos ganhos em mais uma importante jornada (ambos jogam fora) que terá lugar alguns dias depois do reencontro na Luz. É claro que quando a bola começar a rolar, e estando vermelho e azul frente a frente, muito de tudo isto passa para segundo plano. Muito, mas não tudo...

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Já havia comentado sobre a importância do sorteio para as aspirações do Benfica no sonho da Champions. E a sorte não quis muito com o Benfica. Deixa espreitar para a meia final, mas por essa curta brecha mostra o Barcelona. As probabilidades de vitória do Benfica na prova são nesta altura estimadas em 1,5%. Pode parecer pouco, mas quantas vezes, desde que a Champions permite mais do que um clube por país, é que um clube português atingiu as meias finais?

Na Liga Europa, o Sporting teve melhor sorte (não que sejam comparáveis as hipóteses de um "bom sorteio"). O Metalist mantém o mesmo problema de 2008, quando calhou em sorte ao Benfica. É sempre subestimado. Trata-se da 3ª potência do futebol ucraniano, onde perde sobretudo por não ter tanta capacidade no mercado interno, e por isso não chega à Champions, onde entram equipas com bem menos qualidade. Mas na Liga Europa, está farto de surpreender quem deles duvida, inclusivamente o próprio Benfica nessa experiência de 2008. Entre os sul americanos, que conheço quase todos bem, destaco os argentinos Sebastian Blanco e Cristaldo, que aprecio bastante e gostaria de ter visto no futebol português. Há um outro pormenor a ter em conta no Metalist, é que ao contrário do que pode sugerir a proveniência longínqua, esta equipa tem um registo europeu estranhamente positivo nos jogos fora. E não é deste ano. Os espanhóis lideram o ranking das expectativas (eu acredito que a mentalidade do Bilbao pode fazer deles o principal candidato, nesta altura). Ao Sporting, é creditada uma probabilidade de 8% de erguer a Taça. É pouco, mas para o Sporting as baixas expectativas também não têm sido um problema...

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16.3.12

História

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A última meia hora retira algum brilho e a possibilidade de uma vitória que, a acontecer, teria sido uma das mais improváveis (aqui, probabilidade não é minha) da História do clube. Mas não retira o essencial, uma qualificação que será também ela histórica e certamente relembrada (há muito que o Sporting não eliminava um adversário deste calibre). Muito mérito durante 150 minutos e um súbito desnorte, que quase deitou tudo a perder, durante 30 minutos. Interessante o contraste, e a forma como durante tanto tempo o Sporting manteve o City relativamente longe do golo e, de repente, pareceu ser incapaz de passar 5 minutos sem um sobressalto. A importância que um golo teve na atitude dos jogadores! Sobre os minutos finais, em destaque a "oferta" de dois golos, o primeiro numa má abordagem no desarme, e o segundo num pontapé de canto onde o Sporting repetiu o erro algo básico de não sair para a linha da bola na sequência do canto. Já em Alvalade sofrera dois sobressaltos por lapsos semelhantes. E são lapsos, porque o posicionamento sugere exactamente esse comportamento. Recupero a dúvida hipotética, na sequência do que já deixara para o Benfica: o que precisa exactamente de fazer o Sporting nas restantes competições para "salvar" um eventual 4º ou 5º lugar na liga?

A hipótese que avançara no inicio desta fase a eliminar confirmou-se, e não foi preciso esperar muito. De novo, os favoritos mais mediáticos caem na Liga Europa. Por muito que Mancini o contrarie, e mesmo que o pense (deverá ter pensado mesmo, pela gestão que fez dos recursos), é muito difícil manter níveis de motivação quando os jogadores quereriam era estar na Champions, e por isso mesmo é que este "fenómeno" se continua a repetir. O único dos oito qualificados que mantém aspirações a um título interno é o AZ, e isso talvez seja mais contributo para que possa ser o mais desejado dos adversários.

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15.3.12

Goleadas tangenciais

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Stamford Bridge pode não ser o palco que mais memórias guarda no que respeita à história das competições europeias. Nos últimos anos, porém, tem assumido um protagonismo especial a esse nível, e esta terá sido mais uma noite a contribuir para isso. Talvez a primeira desta edição da Champions, mas certamente que não a última. O jogo foi bom, pela emoção e pela divisão permanente do ascendente. O Chelsea terá sido mais forte, mais experiente, ou apenas mais feliz, dependendo do ponto de vista. Eu, diria que foi sempre mais incisivo quando conseguiu entrar na área contrária e que isso foi, como não raras vezes acontece, decisivo. Mas, claramente, terá contado com o cinismo da eficácia, ou pelo menos eu não sou capaz de concordar com uma separação de 3 golos entre as equipas como resultado mais fiel daquilo que vi. E aqui, nos 3 golos de diferença, chego ao ponto que mais me interessa...

3 golos de diferença no marcador, mas dificilmente 3 golos de diferença na cabeça de quem quer que fosse. Adeptos e protagonistas. Todos o viram como um jogo de resultado tangencial. Viram e, mais importante, jogaram. Dos 5 golos marcados, nenhum foi conseguido em situação de vantagem. Ou seja, todos foram marcados como reacção a uma situação de necessidade. Ora, é certo que o jogo teve sempre uma boa atitude de ambos os lados, é certo também que se tratou apenas de um jogo, que não é representativo para conclusão alguma e que tudo pode ter sido apenas um acaso. Mas é também certo que este fenómeno da diferença de atitude em função do resultado está perfeitamente identificado, não só no futebol, mas no desporto em geral. Por regra, não se trata de algo voluntário ou consciente, não há - como tantas vezes reclama o desespero dos adeptos - uma atitude premeditada de treinadores ou jogadores. Simplesmente acontece e se alguém soubesse porquê, seria capaz de contrariar a tendência, o que não se verifica. O futebol é um jogo de humanos...

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14.3.12

Contrastes...

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- Quando o sorteio ditou o confronto entre Bayern e Basel (curiosamente, partilham a abreviatura FCB), imediatamente imaginei um passeio para os alemães. É que, para além da diferença evidente de valores, não havia qualquer contraste de estilos ou choque de culturas. Houve, no entanto, da minha parte uma subvalorização do Basileia actual. O seu momento é tremendo, pulverizando a liga interna e atingindo patamares de confiança que permitem a exacerbação do potencial colectivo, reflectido em feitos como foram, por exemplo, as vitórias caseiras frente a United e a este mesmo Bayern. O mais curioso é verificar o que pode acontecer quando o escudo da confiança é repentinamente retirado por um gigante insaciável como é, culturalmente, o Bayern. Não pode deixar de vir à memória o caso do Sporting em 2009 que, num episódio muito semelhante ao do Basileia (mas ainda mais penoso, porque teve direito a repetição), foi devorado por este mesmo adversário sem que houvesse qualquer relação com a consistência da equipa, quer no seu percurso europeu até aí, quer no próprio momento interno (as goleadas sofridas pelo Sporting coincidiram, paradoxalmente, com o arranque para um excelente ciclo de resultados internos). Não há grande lógica nisto, apenas Fragilidade.

- Do outro apurado do dia, não se pode traçar perfil mais contrastante com o do Bayern. Não tem grande explicação esta modéstia dos clubes franceses. São uma das potências económicas da Europa ocidental, têm dimensão, condições e formação para serem uma potência também ao nível de clubes. Mas não são, e vivem um bastante traumatizados por isso. Talvez a próxima década lhes seja mais favorável e Paris veja, finalmente, uma equipa corresponder à sua importância em todas as restantes áreas sociais e económicas. Refiro-me ao PSG, é claro. Para já, fica apenas o alerta para algo que venho repetindo: os franceses podem não ser uma potência, mas têm o seu valor também algo menosprezado. Porque desprezam a Liga Europa e não têm unhas para a Champions, acabam sempre longe das finais, parecendo por isso mais fracos do que realmente são. Mas, há muita qualidade e, atenção, porque ao contrário da Liga Europa, eles darão tudo por um brilharete na Champions.

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12.3.12

Ao sétimo dia...

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O nível de detalhe da minha informação não vai tão longe, mas duvido que o Benfica tenha tido na Liga um período tão difícil como os primeiros 10 minutos da segunda parte. O jogo teve tudo para ficar, se não resolvido, pelo menos a bom caminho desse destino. Terá havido um efeito de deslumbramento do Paços, perdendo o foco naquela que seria a sua prioridade para a segunda parte? Certezas nunca as teremos, mas a brevidade com que todo o cenário se inverteu, dá pelo menos para especular sobre essa hipótese. De todo o modo, excelente período de jogo, especialmente pela velocidade e oscilação que atingiu. Mérito para o Paços (algumas exibições individuais muito boas), demérito para o Benfica (transição defensiva e concentração com bola). Não deixa de ser interessante que Jesus tenha abdicado de Saviola e Nolito numa altura em que precisava de dar a volta ao resultado. Escrevo "interessante", porque é um luxo fazê-lo sem ter necessariamente de perder capacidade de desequilíbrio. Enfim, uma coisa parece-me clara: se o Benfica chegar ao título, este vertiginoso inicio de segunda parte merecerá um lugar de destaque entre os momentos mais decisivos...

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Números uso muito, mas sobre numerologia não sei praticamente nada. Sei, no entanto, que 7 é um número especial para muita gente e que provavelmente Sá Pinto será uma dessas pessoas. Ora bem, ao sétimo jogo, Sá Pinto viu o seu Sporting, finalmente, atingir os patamares que o próprio certamente idealizou. Não chegou aos 7 golos, mas nem precisava de chegar tão perto, porque toda a exibição denotou desde cedo um nível qualitativo muito superior ao que até aqui se vira (e desconsidero aqui a exibição com o City, que teve um contexto diferente das outras). Ora, a não ser que haja mesmo alguém com fé na numerologia, não me parece fácil arranjar-se explicações para este súbito acréscimo de rendimento, especialmente no culminar de uma semana de grande sobrecarga competitiva e que começou como começou. Sem querer estar eu próprio a entrar em dimensões explicativas que considero absurdas, devo sublinhar a importância da qualidade individual de que o Sporting dispôs. E aqui faço uma distinção dos jogadores que decidem, dos que aproximam a equipa do golo. De forma clara e sem sofismas. O Sporting, na minha opinião, tem dois que seriam, com Matias, as suas principais mais valias a esse nível tão relevante para o sucesso: Izmailov e Jeffren. Julgo que a diferença que qualquer um dois faz nesta equipa está à vista de todos, mas a pergunta que eu penso que se deve fazer não tem a ver com o potencial, mas com a fiabilidade. Será que têm condições para competir de forma contínua ao longo de uma época? Talvez seja esta, de novo, uma pergunta essencial no planeamento da próxima época.

Já agora, em relação ao jogo, fica a nota para a utilização de Elias e Schaars no inicio de construção. Não sei se Sá Pinto o equacionou estrategicamente, mas este Vitória teria uma postura previsivelmente diferente do outro, de Setúbal, com que o Sporting se deu mal. Este iria tomar a iniciativa de subir para pressionar e não apenas de esperar para o fazer. Fá-lo em qualquer parte, e fá-lo-ia com enorme probabilidade também em Alvalade. Ou seja, para o Sporting era decisivo sair de forma útil da primeira linha de pressão, não apenas pela óbvia questão da segurança, mas porque depois seria muito mais fácil encontrar espaços. Elias e Schaars parecem-me ter sido importantes neste detalhe, Izmailov e Matias agradeceram.

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11.3.12

A Liga que ninguém quer ganhar...

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"Demos 45 minutos de avanço!" O diagnóstico foi feito por Vitor Pereira, mas teria sempre eco em grande parte dos adeptos portistas. Na realidade este é, aliás, um dos comentários mais comuns entre os adeptos, seja de que clube for e, em geral, resulta de uma ilusão. É que o futebol tem, por norma, mais golos nas segundas partes do que nas primeiras, e as equipas tendem a convergir para os resultados que lhes interessa. Assim, é apenas normal que uma equipa favorita ataque mais numa segunda parte em que precisa de um resultado. Nem tem de ser necessariamente mau, lembro-me por exemplo do Chelsea de Mourinho, que durante algum tempo manteve essa característica de resolver os jogos nas segundas partes. Seja como for, no caso do Porto, é inequívoco que não é normal que a equipa acumule tantos jogos consecutivos em que entra na segunda parte sem ter ganho vantagem no marcador. Não é normal, sobretudo, porque os adversários são de uma valia muito inferior e a expectativa é que a sua resistência não chegue para tanto. Aqui, claramente, pensar em Feirense ou Leiria, não é o mesmo que pensar na Académica que, como já aqui deixei a opinião, é das equipas tacticamente mais interessantes do campeonato. De todo o modo, e mesmo que já não pareça nada depois do jogo, este era um dos jogos onde a perda de pontos seria menos provável...

O empate portista vem acentuar uma tendência estranha na Liga. Durante muito tempo este parecia ser um campeonato para ser decidido no pormenor, e com muito poucas perdas de pontos. De repente, eis que se sucedem resultados inesperados, primeiro de Benfica, e agora de Porto, para mais na condição de líderes, o que é ainda mais estranho porque o factor confiança - recorrentemente decisivo neste tipo de situações - deveria contar a favor. Dir-se-ia que esta é uma liga que ninguém quer ganhar. Se continuarem com tantas gentilezas, Benfica e Porto poderão continuar a lutar ponto a ponto... correm é o risco de não estar a lutar pelo lugar que pensavam...

Um pormenor no golo da Académica, que vem na sequência de algo que já escrevi aqui há algum tempo. Este tipo de cruzamentos, tirados ao segundo poste, tem a particularidade de tornar muito mais difícil a tarefa aos guarda redes (não conseguem definir o posicionamento ideal para a abordagem à finalização). Estranhamente, denoto pouca intencionalidade na procura deste tipo de movimento.

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9.3.12

A vantagem de não ter que dominar

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- A nível interno, não há muito para escolher em termos de opções estratégicas. Para os "grandes", o empate é uma derrota e por isso nada mais resta do que dominar, ou seja, tomar de assalto a bola e o espaço. Na Europa e nesta fase da competição, não é assim. Sabendo-se que realisticamente não poderia ter os dois, Sá Pinto podia escolher entre a bola e o espaço. É claro, todos estaremos conscientes do que se diria de Sá Pinto se as coisas tivessem corrido mal na sequência de uma estratégia especulativa, como aquela que escolheu (ou das substituições que fez, de resto). Não seria um argumento original. Mas o treinador está onde está para ganhar jogos, e não para preparar desculpas para as derrotas, e por isso a sua opção foi a mais acertada, quer tivesse ganho ou não. No campeonato, voltará a ter de atacar as vitórias pelo domínio total, pela bola e pelo espaço, e aí veremos como a equipa vai evoluir. Terei menosprezado as dificuldades que acabou por encontrar na imposição do futebol que idealiza, mas a atitude do treinador e a sua consciência do que é preciso para ganhar, tem correspondido à minha expectativa.

O City, creio, não esperava o Sporting fechado que lhe apareceu pela frente. Nem foi esse o Porto que teve (aliás, foi o City quem jogou no erro na eliminatória anterior), nem as suas observações do Sporting lhe terão dado essa indicação (a última vez que me lembro de algo semelhante, em Alvalade, foi frente ao Porto na época anterior). Por outro lado, parece-me que foi um cenário que trocou as voltas ao treinador italiano em termos de gestão do actual ciclo de jogos. Havia poupado Silva e Aguero para este jogo, e percebe-se pelo calendário que quereria resolver já a eliminatória, uma vez que a segunda mão está entre uma deslocação a Swansea e a recepção ao Chelsea, e a Premier League será sem dúvida a prioridade. São mais boas notícias para o Sporting!

Finalmente, uma nota para os centrais do Sporting, ultimamente muito em foco pela negativa mas que, de repente, aparecem em bom nível num jogo de maior grau de dificuldade. Parece contraditório, mas quando se joga mais baixo, mais protegido e sem trabalhos forçados em construção, é mais fácil não errar.

- No duelo mais interessante da ronda, logicamente que não se pode dizer que se esperava uma derrota do United, mas também nunca esperaria outra coisa que não fosse uma séria relativização do favoritismo dos ingleses. Há dois pontos que quero focar a este respeito. Uma, para o mérito do Bilbao de Bielsa. Trata-se, provavelmente, da grande novidade em termos tácticos das principais ligas deste ano. Uma equipa que consegue o sucesso através de uma abordagem comportamental profundamente atípica. Uma fuga ao paradigma actual, que mostra que no futebol a qualidade não tem de ser monótona. Entre todos, talvez o comportamento que mais espanto crie seja o uso de referências individuais como ponto de partida para o pressing em zonas mais afastadas da sua baliza.

O outro ponto tem a ver com algo que escrevi há algumas semanas, à cerca da Liga Europa e da forma como várias equipas abordam esta competição. Para o Bilbao será um feito eliminar o United, mas para os ingleses não vem grande mal ao mundo se saírem eliminados da prova. Quem sabe, com a ajuda do Sporting, não ficam já pelo caminho os dois gigantes da cidade?

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8.3.12

Dois mundos e uma sentença

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A propósito do Bayer-Barcelona da primeira mão, tive a oportunidade de ler uma antevisão de alguém que havia, alguns dias antes, antecipado dificuldades para os catalães na visita a Pamplona (contextualizando, o Barça perdera o jogo frente ao Osasuna no fim de semana anterior à primeira mão). Escrevia que apesar do mau momento do Barça ser evidente, tal não deveria ser suficiente para que uma vitória confortável estivesse em causa na Alemanha, que o potencial das duas equipas era demasiado dispar, que eram duas equipas de dois mundos completamente diferentes.

Ora, não é pela goleada numa segunda mão de uma eliminatória já resolvida, mas a diferença de valor entre Barça e Leverkusen será mais ou menos a mesma que a diferença entre um "grande" e uma equipa da II Divisao, em Portugal (sublinho que estou a comparar diferenças de valor e não o valor das equipas em si mesmo). São dois mundos completamente diferentes.

Não faltam exemplos que corroborem a ideia de que o sucesso de uma caminhada europeia pode depender muito de sorteios e eliminações surpreendentes. É o mesmo para as aspirações de equipas menos conceituadas (ou sobretudo destas) em taças domésticas, por exemplo. Neste sentido, e em relação ao sonho europeu que se vai reavivando no Benfica, a aleatoriedade do sorteio pode tornar inútil qualquer discussão sobre o assunto, mas não coloca, seguramente, em causa a relevância das sortes que serão tiradas antes dos quartos de final. Aliás, se nos centrarmos nos apurados de hoje, Barcelona e Apoel, o sorteio parecerá mais mesmo uma sentença.

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7.3.12

Enfim, um suspiro...

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O valor das equipas não faz desta uma vitória obrigatória ou banal, mas também nada mais do que normal. Por mérito do Benfica, para que não me interpretem mal. No entanto, o contexto torna-a especialmente relevante. Por interromper um terrível momento negativo e pela relevância da competição. Pode ser importante para uma equipa que, mais do que a maioria, tem na confiança um combustível essencial, dado o arrojo da sua proposta de jogo. Pode ser também um factor de distracção para o que resta do campeonato. Será que vai ser? A história do Benfica de Jesus sugere-nos que sim, mas logo se verá.

Não o referi na altura, mas a opção de Jesus que mais me surpreendeu no clássico de Sexta Feira foi a ausência de Bruno César. O Benfica é uma equipa que tem algumas características raras (o que a torna, em termos tácticos, muito interessante), e uma delas é a disposição que assume em construção, utilizando muitas vezes apenas 1 médio no corredor central. Ora, isto é naturalmente um condicionalismo para que o centro seja uma alternativa de progressão, e por isso vemos tantas vezes os corredores laterais a serem explorados no inicio das jogadas encarnadas. Outra implicação é a exigência de mobilidade de outros jogadores, nomeadamente pelo menos um dos avançados e os extremos. Ora, é aqui que entra Bruno César, já que (e já escrevi sobre isto há algum tempo..) o brasileiro é, com alguma distância, o extremo que mais fiabilidade oferece à posse, sendo essa uma característica que ganha relevo à medida que a zona de intervenção se torna mais central. A minha surpresa em relação à opção não se dá apenas por esta minha constatação, que no limite poderia ser apenas minha, mas pelo facto do próprio Jesus ter feito algumas referências no mesmo sentido, nomeadamente após o jogo da primeira volta, no Dragão. Ora, hoje Bruno César esteve inspirado e foi decisivo, mas mesmo que não o tivesse sido, na minha opinião, a sua utilização fazia sentido, como teria feito frente ao Porto, e fará quase sempre que o adversário seja de um nível qualitativo mais elevado. E essa capacidade viu-se também na fase de maior necessidade de gestão da posse por parte da equipa.

Outro jogador que faz sempre sentido neste Benfica, e um pouco pelos mesmos motivos, é Witsel. Impossível não ser seduzido pela sua forma de tratar a bola, de tal forma até que isso pode até levar a algumas conclusões menos rigorosas sobre a sua influência em termos de presença em posse (o que a meu ver acontece com compreensível frequência). Seja como for, Witsel tem a virtude de ser um jogador de pausa e valorização da posse, numa equipa viciada em aceleração e velocidade. Witsel, diria, acrescenta bom senso ao futebol do Benfica.

Voltando ao inicio, fica a dúvida e um mergulho na irracionalidade que envolve o jogo: até onde é que é preciso ir na Champions, para que se "salve" uma época em que se perde o campeonato?

- No outro jogo da noite, o Arsenal conseguiu o surpreendente feito de encostar a eliminatória em apenas 45 minutos. Por um lado, a ameaça de reviravolta sugere que o 4-0 da primeira mão não fora assim tão decisivo. Por outro, no entanto, essa é precisamente a vantagem decisiva de um 4-0, até dá para perder por 3!

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5.3.12

Sacked in the morning

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- Há já alguns meses que o "you're getting sacked in the morning" se ouvia nos jogos do Chelsea e, de tanta insistência, a profecia acabou mesmo por se concretizar. O ponto talvez mais curioso deste cântico popular nos estádios ingleses é que ele é utilizado para os treinadores adversários e muito raramente para os próprios. É interessante como um jogo é vivido com intensidade emocional idêntica, mas com uma abordagem em tantas coisas diferente. Enfim, o mais importante é que se vira uma página inesperadamente mal sucedida na carreira do treinador e do próprio Chelsea. As teorias que apontam para uma conspiração do grupo contra o treinador português terão nos próximos jogos um teste de fogo, pelo que mais útil do que especular, será mesmo esperar para ver. Quanto a Villas Boas, este nunca será um capítulo que deixe boas memórias, mas poderá ser sempre um experiência enriquecedora. Pessoalmente, não acredito na fórmula dos vencedores natos. Os casos de sucesso continuado desde o primeiro dia são famosos e, por isso, espectacularmente enfatizados, mas eu penso que serão também apenas excepções muito pontuais. O que acredito é que os mais vencedores se fazem, em regra, por uma maior capacidade de aprendizagem, nomeadamente por aquilo que sabem retirar dos maus momentos. Cá esperamos pelo seu novo desafio...

- Entretanto, parece confirmar-se uma luta a 3 no segundo patamar da tabela classificativa. O jogo foi mau e talvez nem 1 golo merecesse, mas o Vitória venceu, colocando-se assim numa posição que pode ser melhor do que aquilo que parece à primeira vista. É, aliás, algo para que já tinha alertado há algumas semanas. O jogo de Alvalade será importante, mas não creio que mesmo com uma derrota o Vitória deixe de poder ter aspirações a subir pelo menos 1 lugar na tabela. Nesse cenário, de derrota, poderá ficar a 9 pontos de Marítimo e Sporting, mas completará também um ciclo de jogos que lhe deixa um calendário de 8 jogos onde apenas defrontará adversários da parte de baixo da tabela. Veremos o que a próxima jornada nos traz...

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4.3.12

Negro!

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Mais pistas faltassem, a conferência de imprensa de Mota oferecê-las-ia. Recordando o jogo em que o agora treinador do Setúbal defrontou o Sporting, não seria difícil antever que estratégia teríamos para este jogo. E assim foi. Tivesse o Sporting segurança na sua construção e a estratégia faria o Setúbal aspirar, no máximo, ao zero zero. Sem segurança, tornou-se numa estratégia com outras potencialidades.

A expectativa que tinha de um bom inicio de Sá Pinto já se havia esfumado, como escrevi após o jogo com o Paços de Ferreira. O calendário sugeria-o, de facto, mas o meu optimismo ignorou o obstáculo que representaria mudar alguns comportamentos em pleno climax competitivo. Comportamentos que exigem outro contexto para poder evoluir. Poderia lá chegar por outra via, ganhando tempo através de vitórias alicerçadas no controlo e estabilidade defensivas, como sugeriram os 2 jogos anteriores, mas bastou o primeiro sobressalto para se perceber que a confiança neste momento tem a consistência de um castelo de cartas. Polga será o maior exemplo desta relação entre a falta de confiança e o descontrolo. Fez um inicio de época relativamente estável, com as suas virtudes e defeitos, mas desde que a equipa perdeu contacto com o seu principal objectivo, que acumula erros individuais, jogo após jogo. Mas não é apenas Polga, como bem se vê...

A meu ver, o Sporting teve fases bem diferentes, como de resto parece corroborar o gráfico que acompanha o texto. Um inicio de boa produção mas com grande ineficácia, que custou pontos relevantes, um segundo período de maior eficácia, onde manteve um rendimento bastante elevado, e uma queda abrupta após o jogo com a Académica, quando perdeu contacto com o objectivo de liderança. Actualmente, temos a fase mais preocupante, porque a produção de jogo da equipa está nos níveis mais baixos da época e sem um contexto de dificuldade que o justifique.

Tenho abordado aqui o tema da fragilidade do futebol, e essa ideia aplicada ao caso do Sporting atribui uma enorme incerteza sobre os limites negativos a que a equipa poderá chegar. Um cenário negro, mas que poderá não ser irreal se não for rapidamente invertido.

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3.3.12

Montanha russa

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- O jogo foi assim como o próprio momento do campeonato, uma montanha russa. Não posso dizer que não estivesse avisado - afinal, já escrevi sobre isso há muito - mas ainda assim, fui apanhado de surpresa por esta descida a pique do Benfica de Jesus. No jogo, como no campeonato. Está tudo em aberto? Pois está, mas para uns está menos do que para outros, e é bom não dar os primeiros 2 lugares como entregues. Enfim, o jogo ainda está demasiado fresco para se avançar a esse ponto, mas para o Benfica este pode ser um momento de viragem importante, mesmo para além desta época. Aguardemos os próximos capítulos. Agora, já se sabe, no futebol a emoção é dominante sobre a razão...

Precisamente, é o predomínio da emoção que faz deste um fenómeno em que o vencedor fica com tudo ("the winner takes it all", é a expressão que estou a adaptar). Neste momento, é o Porto que voltou a ter tudo na mão. O título, os sorrisos e a cabeça levantada. Sim, porque se durante meses Vitor Pereira foi quase que forçado a baixar os olhos perante o peso mediático de tantas criticas (é curioso, mas agora que penso nisso, acho que nunca ouvi ninguém dizer que gostava dele desde que se tornou treinador do Porto), hoje e enquanto estiver na frente, serão os outros que baixarão os olhos perante o treinador. Não há qualquer racionalidade nestes volte faces, mas esse é precisamente o ponto do fenómeno futebolístico, a emoção sobre a razão.

Não prometo voltar com mais pormenores sobre o jogo (não digo que não o farei, mas já uma vez prometi e não pude cumprir em tempo útil...), mas ficam algumas perguntas: O primeiro golo resultou de um remate sensacional, mas pode entrar por ali, naquele ângulo e àquela distância? E o último (independentemente da legalidade do lance), devia Artur ter chegado primeiro a uma bola que é disputada ainda na pequena área? Depois, a importância das bolas paradas, não apenas pelos golos directamente resultantes, mas por outros 2, que têm génese na transição após a cobrança de cantos. Não será o instante após os lances de bola parada o momento de maior desorganização e instabilidade táctica nos jogos? Face ao equilíbrio e dificuldade em desequilibrar nos outros 4 momentos, serão as bolas paradas o momento que actualmente mais define diferenças entre as equipas?

Finalmente, duas notas sobre o comportamento do Benfica. O primeiro para o risco em posse, que Jesus tanto pareceu querer controlar mas que o voltou a trair na hora da verdade. O Benfica sofre 2 golos após perdas (mérito de Fernando) em que a conservação da posse é fundamental para a manutenção do controlo. Principalmente o 2-2, pela situação de vantagem, que aconselhava risco mínimo, e pela própria ausência de necessidade da equipa se expor na situação concreta, já que acabara de concluir uma transição que terminou na área adversária, não exigindo perda de equilíbrio colectivo. É o outro lado da entusiasmante vertigem do futebol de Jesus, por vezes há um preço a pagar e não parece haver mesmo nada a fazer. A outra nota é sobre Cardozo. Com a derrota ninguém vai reparar muito, claro, mas marcou mais 2 em jogos "grandes". Ao fim de tantos anos, mantém melhor aproveitamento em jogos difíceis do que em jogos fáceis, o que não é apenas interessante, mas um perfeito contra senso. Lá está, o futebol não se explica, constata-se.

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28.2.12

A especificidade do Braga

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Não é a primeira vez que me refiro a ela mas, ainda assim, merece nova referência. A especificidade do jogo do Braga. Em organização, largura à direita, profundidade à esquerda. A ideia é começar sobre a esquerda, para onde cai Viana, como que esticando o campo, entre a bola e o destino preferencial da jogada, o corredor direito. Assim, é potenciada a construção longa de Viana e o extremo mais forte, Alan (ausente neste jogo, mas sem que o quadro geral se alterasse por isso). Lima aproxima à esquerda no inicio da jogada e assim beneficia também ele dos espaços laterais criados, para atacar a zona de finalização. Tudo isto em organização, onde a equipa actualmente se sente muito bem, pela confiança que foi acumulando, mas é em transição que Jardim reconhece maior potencial de desequilíbrio. Pelo espaço, pois claro. A equipa não teme baixar, e não teme também deixar alguns elementos mais adiantados, porque sabe que pode tirar partido disso se ganhar a bola. Lima na profundidade, naturalmente, mas também uma referência para o primeiro passe vertical - muitas vezes Mossoró - após a reconquista da bola. Um cenário que, quando sucede, recorda a Serie A.

No que ao jogo diz respeito, no entanto, só há momento relevante para explicar a definição do resultado: bolas paradas.

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27.2.12

James...

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- Há um bom tempo que não o imaginava possível, mas o clássico chega mesmo com tudo empatado. E, com um sorriso do destino, o Porto materializa a recuperação do atraso precisamente frente ao mesmo adversário contra quem começara a defini-lo. Do jogo emerge, mais uma vez, James. Realmente, não percebo muito bem que fique fora dos principais eleitos (por critério meramente técnico, isto é), se tivermos em conta o rendimento do colombiano. James é o jogador com maior influência directa nos golos marcados na liga, se considerarmos golos e assistências, descontando penaltis. A sua utilização foi um ponto de interesse das variações tácticas da equipa durante o ano, e não me parecendo que essa seja uma discussão fechada, também não vejo que a dimensão do seu talento e influência seja suficiente para que fique de fora. O que faltará a James, talvez, é mesmo uma exibição de grande nível num grande jogo. Ficaremos à espera para ver o que vai acontecer na Sexta...

Para curiosidade, deixo a lista dos 10 jogadores com mais golos e assistências na liga, excluindo penaltis:
James 15
Lima 14
Nolito 13
Danilo Dias 12
Hulk 12
Baba 12
Cardozo 11
Rodrigo 10
Toscano 9
Edgar 9


- Sobre o jogo do Sporting, posso aproveitar o caso de James para introduzir o de Izmailov, reflectindo sobre a falta que faz ao Sporting ter com regularidade talento do nível do russo. Isto é, ter regularmente jogadores que marquem realmente a diferença. Em relação ao jogo, e na sequência do que havia escrito, veio mais uma vitória alicerçada no controlo e por 1-0. É claro que para Sá Pinto o caminho é ainda muito longo e incerto. Desde a ameaça das lesões até à incerteza de como a equipa poderá reagir a um primeiro resultado negativo, passando pela sobrecarga competitiva (o que não o contexto ideal para quem quer desenvolver alguns conceitos novos). Escrevi, aquando da sua entrada, que não tinha grandes dúvidas de que Sá Pinto saberia bem o que era mais importante para criar uma dinâmica positiva e o treinador tem correspondido plenamente a essa expectativa, reforçando a importância de ganhar e de elevar os níveis de confiança, como motor de arranque para esse objectivo. Aliás, este tipo de sensibilidade é bastante comum em ex-jogadores, e não me parece um acaso. Enfim, apenas mais uma nota sobre o jogo do Sporting: uma das grandes carências da equipa do Sporting é a qualidade da sua circulação baixa, que me parece indiscutivelmente fraca. A equipa revelou nos últimos 2 jogos um crescimento ao nível da segurança no primeiro passe, o que é fundamental e parte da explicação para o maior controlo sobre o adversário (basta ver, por exemplo, como surgiram os principais lances do Paços). Agora, se quiser ser capaz de chamar o adversário sem ter invariavelmente de perder a bola, terá de ser também capaz de a circular muito melhor em zonas baixas, nomeadamente com um melhor uso do guarda redes.

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26.2.12

Eficácia e não só

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- Não há muita volta a dar... quem falha tantas ocasiões, tem sempre de olhar para a eficácia quando perde pontos e, ainda por cima, num empate a zero. Agora, será apenas da eficácia? Talvez não. Primeiro, o lado emocional. Já escrevi algumas vezes sobre a invulgar volatilidade das equipas de Jesus, algo que se constata em praticamente todas as épocas do treinador, e que vinha tendo esta temporada como principal excepção. Até agora. Depois das 2 derrotas, o terceiro jogo sem ganhar trouxe também a segunda vez em que Jesus regista dois jogos sem marcar. Tudo de repente, e de seguida. Essa inconstância pareceu ser o principal foco de Jesus para a nova época, quer pela forma como procurou encontrar uma solução mais equilibradora (Witsel), quer por algumas alterações nos comportamentos da equipa ao nível da gestão da posse. É claro que é impossível identificar com exactidão os motivos, e há que contar ainda com a importante contribuição da ausência de algumas unidades que vinham sendo nucleares na equipa. Ainda assim, é impossível dissociar esta quebra da tendência comportamental que anteriormente fora identificada. Seja como for, vêm aí jogos decisivos e mesmo se o Benfica permanece em boa posição, Jesus reaparece subitamente numa posição de exposição perante a critica... ou não fosse ele um treinador de futebol!

Já agora, sobre eficácia, fica o ranking segundo dados da liga (%Golos marcados por oportunidades criadas):

Marítimo 37%
Braga 36%
Guimarães 36%
Benfica 31%
Porto 30%
Gil Vicente 27%
Nacional 24%
Rio Ave 23%
Beira Mar 22%
Sporting 21%
Academica 20%
Olhanense 19%
Feirense 18%
Leiria 18%
Setúbal 16%


- Um caso interessante, é o da Académica. Há poucas equipas que tenha um modelo de jogo tão arrojado como a equipa de Pedro Emanuel. Aliás, parece-me discutível dizer que haja alguma. Risco em posse e risco na exposição pelo posicionamento defensivo. Ao mesmo tempo, porém, há muitas coisas que faz bem, como muito poucas equipas da Liga fazem. O resultado é uma época de grandes oscilações, com períodos de grande euforia e qualidade (fundamentalmente, quando se juntam confiança e especificidade), e outros bem difíceis, como o que atravessa desde o inicio do ano. Quem não parece estar a gostar do outro lado da moeda é Pedro Emanuel, e talvez por isso tenha adoptado uma postura mais conservadora para este jogo. É, mais uma vez, motivo de reflexão sobre a importância de dosear risco e segurança na definição das ideias de jogo que se querem para as equipas. Até porque, como defendi há dias, o futebol parece frágil.

- Uma nota para outro caso estranho, o 4-4 entre PSG e Lyon. Numa liga conhecida pelos poucos golos marcados, parece que os grandes jogos estão talhados para resultados volumosos e sempre muito equilibrados. Mais um fenómeno do futebol para o qual só os deuses deverão ter resposta.

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24.2.12

Controlo

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- "Prefiro jogar para ganhar 5-4, do que para ganhar 1-0!". A frase é comum e certamente sedutora numa primeira análise, mas como tantas coisas na opinião que se generaliza, não se vislumbra qualquer enquadramento prático no que à realidade do jogo diz respeito. Não há equipas que ganhem 5-4, 4-3 ou 3-2 por sistema. Mas há equipas - várias - que sustentam séries longas vitoriosas em resultados como 1-0 ou 2-1. Tudo isto para falar do controlo, a grande novidade no jogo do Sporting, frente ao Legia. Dificilmente alguém pode ter achado que a equipa alguma vez esteve próximo do golo, o que não constitui novidade face à trajectória recente, mas também não creio que alguma vez se tenha justificado o sentimento de ameaça perante a derrota. E, isto sim, é uma novidade nas exibições do Sporting. Tenho sublinhado (o próprio Sá Pinto o tem feito) a opinião de que é importante crescer nos planos emocionais, nomeadamente no que respeita à confiança. Ora, há uma discussão interessante sobre isto: quanto à necessidade de ganhar, estamos conversados, parece-me inequívoca. Agora, numa hipótese em que (ainda) não seja possível juntar as duas, o que pode beneficiar mais uma equipa? Sentir que não sofre, ou sentir que pode marcar? (repito, na hipótese de não se poder juntar as duas...). Recordo-me de Mourinho dizer a Maradona num documentário recente: "Uma coisa é teres uma equipa que sabes que se marcas ganhas. Outra coisa, é marcares um golo e mesmo assim não saberes o que te pode acontecer". Poderá ser discutível, mas tendo a concordar com esta última ideia, ou seja, de que o controlo é um alicerce fundamental para conseguir um crescimento colectivo sustentado.

- Nos outros jogos, não houve grandes surpresas. Aliás, para mim o que é surpresa, é precisamente não ter havido surpresas, mas a consequência é que teremos uns oitavos de final extremamente interessantes. Uma nota para um dos jogos com mais golos da noite: já se esperava que PSV e Trabzonspor pudessem oferecer um jogo farto em remates certeiros, porque é hábito em ambos os casos. O PSV fez uma série de boas aquisições no Verão, mas quem justifica esta minha referência é um jogador do Trabzonspor, Burak Yilmaz. É impressionante a época que está a realizar na Liga turca, não tanto pelos números absolutos, mas pelo enquadramento relativo dos mesmos. Ou seja, o Trabzonspor tem o melhor ataque da prova, mas só Yilmaz é responsável por mais de 55% dos golos da equipa (contabilidade sem penaltis). Sem entrar em paralelismos, mas tentando fazer perceber a dimensão relativa do feito, seria o equivalente, por exemplo, a Benfica ou Porto terem nesta altura um jogador com 23-24 golos, ou, noutro caso, Real Madrid ou Barcelona terem um jogador com 37-38 golos já concretizados, ambos sem penaltis.

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22.2.12

Do City of Manchester para a Luz

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- Há equipas contra quem lançar a toalha não acaba com o sofrimento, apenas o agrava. Não há muitas, mas nos tempos que correm, o City é uma delas. Há duas formas de ver as coisas: uma é pensar que os erros individuais determinaram uma eliminatória que até poderia ter sido equilibrada. A outra, é pensar que se o incidente do segundo golo tivesse surgido mais cedo, a coisa poderia ter acabado de forma ainda mais embaraçosa.

A fase da temporada, porém, não justifica que se perca muito tempo a olhar para trás. Em breve jogar-se-á tudo e não há outro remédio que não seja concentrar todas as atenções nos embates decisivos que se aproximam, particularmente o da Luz. O clássico ainda não começou, mas já se joga. Começou a jogar-se com a derrota do Benfica em Guimarães, que aumenta a pressão sobre os encarnados. Continuará a jogar-se na próxima jornada, especialmente e de novo, para o Benfica que tem uma deslocação teoricamente mais complicada. Mas poderá também ter tido hoje um dado novo, não pela eliminação, mas pela volumetria da derrota. Perder por 4 pode não fazer diferença na sentença da eliminatória, mas não é liquido que não faça na confiança dos jogadores.

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A identidade napolitana

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- Não sei se será da má fase, mas Villas Boas quase que antecipou a derrota antes da mesma, ao dizer na antevisão da primeira mão que a eliminatória poderia ser invertida na segunda. E pode, pelo que convém não dar as coisas como terminadas. Ainda assim, é sobre o Nápoles que quero escrever, coisa que já estive para fazer, mas que por falta de oportunidade acabou por não acontecer.

Não pode ser nunca um candidato, claro, porque não tem potencial para isso, mas parece-me ter todas as características para ser um perigoso "outsider". Porque tem uma filosofia de jogo muito ajustada ao tipo de jogos da competição, porque é fortíssimo dentro da sua proposta e porque beneficia, depois, de um ambiente muito favorável quando joga em sua casa. O Nápoles não me espanta tanto pela capacidade ofensiva, mas antes pela forma como a consegue. Ao contrário da generalidade das equipas ainda em prova, que procuram vencer "aos pontos", o Nápoles joga tudo no "KO". Ou seja, não procura atacar pela quantidade e, por vezes, parece até que o sofrimento faz parte da estratégia, tal a facilidade com que baixa o bloco enquanto espera pacientemente pelo momento certo para atacar, esticando o jogo de forma tremendamente eficaz, quer em organização, quer em transição. Mais espantoso do que tudo, pelo menos para mim, é a identidade. Seria de esperar que a frieza da sua proposta se desfizesse quando se vê em desvantagem, mas não... O Nápoles permanece impávido e, mesmo a perder, continua a esperar pacientemente pelo momento certo de atacar, e a verdade é que esta reviravolta está longe de ser caso único no currículo da equipa.

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20.2.12

Jesus e o Vitória

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Tentarei trazer algo especifico sobre o jogo, assim que o analisar com mais pormenor, mas para já partilho apenas duas reflexões...

- Jesus. Perder 2 vezes seguidas no Benfica só lhe tinha acontecido no pesadelo do inicio de época da época passada. Podem ser duas derrotas irrelevantes no balanço final da época, e até é provável que o sejam. O Benfica pode, obviamente, ultrapassar o Zenit, e embora tenha perdido agora uma margem importante, continua a ter uma situação muito favorável para recuperar o título. Mas perdeu margem, isso é claro. A minha reflexão sobre Jesus tem a ver com o "timing" da sua entrada no Benfica, que me parece ter sido perfeito, quer para ele, quer para o próprio clube. Isto porque Jesus chegou depois do clube ter recuperado a vários níveis, nomeadamente tendo sido capaz de investir continuadamente, durante vários anos, na equipa principal. Ou seja, quando chegou tinha todos os recursos para vencer. Não menos importante, Jesus chega ao Benfica quando a própria gestão desportiva parece ganhar muito maior consistência nas suas decisões, por ter sido capaz de assumir alguns erros anteriores. Nomeadamente, não me parece muito improvável que Jesus tivesse chegado a esta época se Vieira não tivesse aprendido com o erro do despedimento de Fernando Santos. O Benfica teve cerca de 15 anos num patamar claramente inferior ao do Porto, mas hoje parece-me claro que subiu um importante degrau e que é muito mais improvável que o clube esteja muito tempo sem ganhar títulos. Fruto de um crescimento continuado da sua estrutura, que culminou com o acerto da aposta (continuada) no actual treinador.

- Sobre o Vitória, escrevi após o jogo com o Porto que era provável que a equipa fizesse uma segunda volta em crescendo, para chegar a níveis pontuais próximos daqueles que atingiu nos anos anteriores. Agora, com este inesperado triunfo, esse deixa de ser um cenário provável, para ser o cenário "mais" provável. É interessante como, com os diversos treinadores, há coisas que nunca mudaram nos últimos anos desta equipa, praticamente desde Paulo Sérgio. Nomeadamente, a agressividade no pressing e o recurso a um muito alicerçado nas características da sua principal referência ofensiva (sempre com jogadores fortes no jogo aéreo). Não diria que foi um crescimento brilhante, mas, lá está, com confiança e estabilidade, Rui Vitória deve acabar por levar o seu barco a bom porto e o 5º lugar não é um objectivo irreal.

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Dúvidas sobre cabeceadores...

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- Sem competitividade, é mais difícil ter interesse. E quando uma equipa tão superior dobra a vantagem aos 25 minutos, dissolve-se toda a competitividade que um jogo poderia ter. O Porto e Vitor Pereira é que não devem ter sentido falta do interesse ou da competitividade. Aliás, até os devem ter temido quando Meyong reduziu. Enfim, a minha principal nota do jogo vai para mais um golo de Janko. Para aqueles que, como eu, viveram os anos do seu domínio no futebol português, qualquer golo de cabeça marcado com uma facilidade inverosímil nas costas dos centrais, traz imediatamente à memória a figura de Mario Jardel. Acho que da mesma maneira que gerações anteriores ficaram marcadas pelos "golos à Eusébio", a minha tem os "golos à Jardel" sempre prontos a saltar da memória. Ou então sou só eu. Enfim, a questão que tenho é: que grandes cabeceadores há (ou houve) que actuassem exclusivamente com movimentos ao 1ºposte? Muitas equipas, especialmente as que utilizam apenas 1 avançado mais fixo, pedem quase sempre um movimento ao primeiro poste, para abrir espaço para as entradas dos médios e do extremo do lado oposto. Aquilo que me parece é que este tipo de movimentos, por regra, "queima" o avançado, que normalmente é também o jogador mais forte na reacção ao cruzamento. Por exemplo, Falcao, que é fortíssimo ao primeiro poste, tem também a capacidade de atacar outras zonas em situações de maior densidade. Janko também ataca muitas vezes o primeiro poste, mas tenho dúvidas se não será mais forte quando lhe é dada liberdade para jogar com o lado cego dos centrais. Uma questão para continuar a reflectir...

- Em Alvalade, Sá Pinto não trocaria os pontos por uma melhor exibição, mas mais do que boa ou má, acho que foi uma performance decepcionante. Pelo menos para mim, que esperava outra capacidade com o regresso a casa e, sobretudo, com o regresso de várias unidades importantes e que raramente jogaram juntas nos últimos meses. Evidente que não é minimamente honesto ligar as dificuldades ao novo treinador e às suas novas intenções, mas as coisas são o que são e se é verdade que ganhar é importante para potenciar a confiança (como o próprio Sá Pinto não se cansa de referir), tenho dúvidas que essa mesma confiança aumente muito quando a situação no campeonato se manteve (por mérito da concorrência) e ainda por cima se absorve a insatisfação vinda das bancadas. Sá Pinto já deu alguma ideia de algumas alterações que pretende introduzir, nomeadamente baixando os médios que tinham uma postura assumidamente mais profunda com Domingos. Tinha a convicção de que o Sporting iria crescer nos próximos tempos, com a série de jogos caseiros e os regressos de alguns jogadores. A primeira sensação que me fica com este jogo, e perante o caminho que ainda parece existir em relação à adaptação às novas dinâmicas, é que esse crescimento poderá não ser tão evidente. Mas frente ao Légia teremos outra ideia, até porque o jogo não será tão fechado como este. Aliás, sobre o Paços notar o conservadorismo da sua proposta que, apesar disso, pode perfeitamente lamentar a eficácia como factor decisivo na definição do resultado. Não lhe sobra um calendário fácil, mas a verdade é que Calisto (que regresso mais improvável!) já fez o mais difícil.

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19.2.12

Fragilidade...

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- A situação do Chelsea de Villas Boas pode ser um bom exemplo da não linearidade das consequências no futebol. Ok, vamos assumir que as circunstâncias não foram favoráveis e que algo (para o efeito, não interessa precisar) correu mal. Que consequências teríamos? Numa hipótese de linearidade, não creio que qualquer circunstância fosse suficiente para vermos um Chelsea tão vulnerável como aquele que temos visto. Não faltam exemplos, semelhantes, ocorrendo-me de forma clara o caso do Feyenoord no ano anterior. Para quem está familiarizado com as reflexões de Nassim Taleb (a figura tem essa proveniência), diria que o futebol é seguramente Frágil.

- Ainda no Chelsea, é curioso como Villas Boas e Domingos, partilharam o climax das suas ainda curtas carreiras na final de Dublin, se encontraram também na queda que inesperadamente se deu a seguir. Vários pontos em comum (e outros, necessariamente, diferentes). O treinador, é factual, não foi solução suficiente, mas daí até ser ele próprio parte dos problemas (ou, de forma mais drástica "o" problema), vai uma grande distância. Será que é? Não interessa muito a opinião de cada um, o futuro falará por si (ainda que possa não dar forçosamente respostas lineares sobre a questão), mas interessa que conclusões serão retiradas por quem tem responsabilidades de as tirar. E este é o ponto central, porque se se confundir problemas com soluções, o que se fará é perpetuar os problemas. Não é uma questão simples, e não tem apenas a ver com a competência (que não está em causa) dos treinadores. No caso do Chelsea, claro, tudo se pode limitar ao número de cheques que Abramovic terá de passar, e se for assim o problema será resumido a uma questão de tempo.

- Quem não usa muito a técnica dos cheques, é o Arsenal. Uma semana negra, concluída com a eliminação da Taça. Pode ser a pior época em muitos anos, o que vendo bem, não constitui grande surpresa. O Arsenal é um caso provavelmente sem par na Premier League, no que respeita à potenciação dos recursos existentes. Isto, no entanto, não faz tanto do Arsenal um caso de sucesso, mas mais um exemplo claro de como no futebol, e para os adeptos, não há prémios de performance relativa. O que interessa é ganhar e de forma absoluta, porque no fim do dia, poucos dão alguma importância ao preço da vitória.

- O Braga. Para quem quer exemplo (mais um) de uma equipa potenciada de forma crescente, tem no Minho, outra vez, uma boa resposta. A equipa não era assim tão forte no inicio, mas foi crescendo de forma progressiva e segura. Não é uma coisa evidente, claro, mas como quase sempre não se trata tanto de fazer coisas deslumbrantes, mas muito mais de ir melhorando progressivamente a qualidade das coisas que se podem fazer. Confiança e especificidade. Confiança, vem com as vitórias. Especificidade, vem com a estabilidade das peças fundamentais. Como o futebol é jogado por homens e não por máquinas, é quase (quase...) sempre assim que acontece, pela confiança e especificidade, e nenhuma fotografia será mais paradigmática do que a do primeiro golo. Jogo longo de Viana, recepção e cruzamento no tempo certo de Alan, e movimento de Lima, em diagonal nas costas do primeiro central. Três acções marcadamente características dos protagonistas (especificidade), executadas com qualidade perfeita (confiança). É claro que os contratempos do Gil também ajudaram, mas não há que retirar mérito, e o segundo lugar está longe de ser impossível.

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17.2.12

É outro campeonato...

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- Muito semelhante o jogo do Sporting, em relação ao do Benfica, 24 horas antes. A diferença maior será mesmo o golo que o Benfica ofereceu quando parecia ter já extraído empate tão generoso como o que o Sporting agarrou. É claro que o Zenit não é o Legia, e as dificuldades do Sporting parecem ter como explicação uma abordagem menos ajustada da equipa, em relação à do próprio Benfica. Afinal, que tempo teve a nova equipa técnica para preparar este jogo? Ver um Sporting a parecer fazer uma aprendizagem "on the job", com todos os riscos que isso tem, voltou a fazer-me coçar a cabeça sobre o timing desta mudança técnica: Na situação do Sporting, foi quase como mudar de equipa técnica a 3 dias de uma final: foi mesmo só por questões técnicas?! A irracionalidade pode chegar a este ponto?! Sobre o futuro imediato do Sporting, o resultado acaba por importar bem mais do que a exibição. Sobre Sá Pinto e o seu futuro imediato, mantenho o mesmo prognóstico, que não é muito diferente daquele que faria caso Domingos tivesse permanecido. Ou seja, adivinha-se um contexto favorável à evolução da equipa, com o regresso de alguns jogadores e uma série de jogos caseiros onde a probabilidade de vitória é grande. Eu penso que as melhorias virão rapidamente, já quanto aos pormenores, ainda vamos ter de esperar mais um pouco para saber, porque ainda não houve tempo para nada...

- No Dragão, o Porto perdeu quando parecia ter feito o mais difícil para ganhar. O que salta à vista para quem está habituado a ver o Porto jogar semana após semana para o campeonato, é a diferença de resposta a cada duelo individual. Uma diferença que marcou, em grande parte, o destino do jogo. No primeiro caso, Álvaro Pereira faz tudo bem, antecipa a diagonal de Balotelli nas costas dos centrais, ganha-lhe a frente e impede-o de chegar à bola. O problema é que quando se encostou ao italiano para o afastar definitivamente... foi ele quem voltou para trás. Quantos avançados da nossa liga teriam a mesma capacidade física? Se calhar, nenhum. Depois, uma, duas, três, ..., inúmeras vezes vemos o Porto forçar a saída em posse a partir de zonas baixas. Com Moutinho, então, parece sempre infalível. Desta vez, não foi. O problema é que quando se tem Aguero, Nasri e Touré nas costas, uma vez pode ser tudo o que é preciso. São outros campeonatos...

- Quando me pedem projecções sobre a Liga Europa, quase sempre a conversa encerra na volatilidade dos favoritos. Para a maioria das equipas das 5 principais ligas, esta prova é assim como que uma espécie de Taça da Liga Europeia, e por isso é que raramente os favoritos a ganham, ao contrário do que acontece, por exemplo, na Champions. Este ano a Europa tem os olhos colocados nos gigantes de Manchester, mas não daria como definitivo que seja assim tão simples. Para já, não houve grandes surpresas (os 2 ingleses não jogam no fim de semana), mas vamos ter de esperar pelas eliminatórias em que os jogos sejam intercalados com a fase decisiva das principais ligas, onde todos os pontos contam para definir campeões ou apuramentos para a Champions League. É capaz de ser um frete para muitas destas equipas... Redknapp e os franceses que o digam!

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16.2.12

Factor casa

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- O factor casa... Por vezes é ingenuamente desprezado nos discursos, mas raramente o é no campo de jogo. Desta vez, havia mais do que factores psicológicos a condicionar as aspirações do Benfica. Foi um jogo terrível, de sucessivos duelos, acelerações repentinas e uma fluidez quase nula. Tudo isto, claro, perante um adversário muito mais adaptado. 3-2 não é um bom resultado, mas dadas as incidências foi tudo menos mau. Na Luz, claro, tudo será diferente, não querendo isto dizer que forçosamente venha a correr bem. Impressionante o caso de Cardozo: não tem a agressividade exigível, não dá sequência a praticamente nenhum lance que passa por si, mas, depois, é ele que está nos lances decisivos. Não foi a primeira, nem será a última vez, e por isso Jesus não abdica dele.

- Numa das eliminatórias, à partida, mais interessantes, tudo parece ter ficado muito rapidamente resolvido. Porque sucumbiu de forma tão clara o Arsenal? Porque é que as equipas que têm melhores jogadores ficam quase sempre à frente das outras? Não tem de ser uma questão de dinheiro, mas é seguramente uma questão de qualidade.

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14.2.12

O regresso da Europa

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- Não é uma fase final de Champions que levante grandes expectativas. Antes dos oitavos de final, 66% do favoritismo era reservado para os dois grandes de Espanha, e dificilmente alguém imaginará um cenário distinto desse. O aliciante especial neste ano está em perceber se o Barça será capaz de fazer aquilo que nenhuma equipa conseguiu desde que a Champions é "Champions", ou seja, ganhar por dois anos consecutivos. Seria, no fundo, a materialização em termos de títulos de um feito condizente com aquilo que a equipa representa para os anos que passaram. Tudo parece óbvio, mas é só quem tiver muita falta de memória poderá menosprezar os caprichos em que o futebol é fértil em provas destas características.

- Entretanto, na Liga Europa, começou o curioso duelo entre Braga e Besiktas. É interessante perceber como os feitos recentes dos bracarenses lhe creditaram algum favoritismo (ainda que tangencial) para esta eliminatória. É algo que não faz muito sentido, se considerarmos que o Besiktas tem uma série de jogadores com que o Braga não pode sonhar. Para já, o Besiktas conseguiu uma vantagem praticamente decisiva e só um jogo perfeito em Istambul pode inverter esta tendência. Algumas notas sobre alguns protagonistas: Leonardo Jardim, que apesar da derrota volta a fazer uma época excelente, sendo mais um treinador que aparece com um trajecto quase perfeito e já com algum tempo de carreira. Manuel Fernandes, cujo talento sempre me entusiasmou e que parece ter ganho alguma consistência nos últimos meses, sendo aparentemente uma solução a considerar para a Selecção. Finalmente, Carvalhal que tal como tinha antecipado aquando da sua partida para Istambul, abriu para si uma oportunidade interessantíssima num clube de enorme dimensão e num país em que o futebol está em franco crescimento (tem sido a sétima liga da Europa que mais investimento fez nos últimos 3 anos).

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Domingos por Sá Pinto

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A decisão...
O divórcio não era um cenário que colocasse de parte, mas com a iniciativa a partir sempre do lado de Domingos, que era, a meu ver, quem mais perdia com o actual estado da ligação. Estranho que parta da direcção do Sporting a decisão, por um lado porque na divisão de responsabilidades é uma decisão que expõe mais quem dirige do que o próprio treinador, e, por outro, porque não faz qualquer sentido alguém escolher um treinador para meia época depois colocar em causa a sua competência. Percebe-se que a emotividade dos adeptos leve à volatilidade de opiniões, em que o mesmo treinador passa de competente a incompetente em função da onda de resultados ou empatias, já não se pode dizer o mesmo de quem tem a responsabilidade de ver o futebol em bases minimamente racionais. É que não há treinador cuja competência se faça ou desfaça num tão curto espaço de tempo. E é precisamente por isso que se torna difícil que a decisão tenha sido tomada puramente em bases técnicas. Seria como que um duplo auto atestado de incompetência.


O balanço
Já escrevi alguma coisa sobre isto, e não me quero alongar muito mais. De facto, a experiência de Domingos no Sporting ficou obviamente aquém das minhas expectativas, mas o que se passou não é minimamente suficiente para que seja o treinador o principal responsável ou, como escrevi acima, para que a competência mais ou menos inquestionada aquando da sua chegada possa agora ser posta em causa. Como pecados principais, aponto algumas opções técnicas anunciadamente erradas e que custaram pontos fundamentais no inicio de época, e a forma como substituiu Rinaudo (ainda que a questão de André Santos possa não estar totalmente contada). De resto, parece-me claro que houve bastantes erros na formulação do plantel, bem atestados pela necessidade constante do clube em voltar ao mercado e pela absurda falta de fiabilidade física de alguns jogadores nucleares. Na verdade, as lesões não foram sempre um factor impeditivo para que o Sporting pudesse manter uma qualidade de jogo dentro do exigível, mas quando esse factor combinou com a quebra anímica de ver frustrada a tentativa de recuperação no campeonato (após o jogo da Luz), tudo se complicou. Não é novidade, o futebol é fértil neste tipo de situações em que o lado anímico se torna avassalador sobre equipas até bem mais competentes do que este Sporting. Como exemplos recentes temos o Benfica do ano anterior, o Chelsea de Villas Boas ou, num caso ainda breve, a inesperada crise interna do Super-Barcelona. Embora o continue a ver sempre tratado como tal, estou cada vez mais convencido de que o futebol não é um fenómeno de consequências lineares...

O futuro
Não é difícil olhar para este caso e lembrar outros, que marcaram negativamente a história do Sporting (Robson, Mourinho ou mesmo Villas Boas). Estaremos perante mais um desses casos? Honestamente, não o catalogaria do mesmo modo, mesmo que Domingos venha a ter sucesso num rival nos próximos anos. O motivo é simples: se em casos como o de Robson ou de Mourinho, o treinador poderia ter sido suficiente para marcar diferenças de domínio em determinadas eras do futebol português, hoje parece-me que o Sporting tem já um diferencial de condições para os rivais que é demasiado acentuado para que um treinador, por muito determinante que seja, possa marcar tanta diferença. Não que pense que a diferença seja inultrapassável, mas creio que só com uma equipa invulgarmente estável (ao nível das primeiras linhas) e potenciada do ponto de vista colectivo é que o Sporting pode manter um ritmo como o que Porto e Benfica têm mantido nos últimos anos. As más notícias para o Sporting podem não ficar por aqui, porque se este ano foram investidos 30 milhões (sem mais valias de vendas), nem é provável que esse valor seja mantido, nem se sabe ainda com certeza que implicações do ponto de vista financeiro poderão existir para um clube que dá prejuízos elevados em tempos em que o crédito não é de fácil acesso. A direcção do clube parece tranquila, mas só o futuro dirá se o esforço recente terá, ou não, consequências...

Do ponto de vista de Domingos, a sua passagem pelo Sporting deixar-lhe-á muito poucas marcas negativas na reputação (especialmente no estrangeiro, onde a percepção da decepção da campanha interna será praticamente nula). Resta saber onde dará continuidade à sua carreira, mas esta continuará a ser um ponto de interesse seja qual for o destino...

Resta Sá Pinto. É-me impossível fazer qualquer projecção de expectativas com bases seguras, mas à excepção dos descontrolos temperamentais que todos conhecem, tenho boa impressão do ex-jogador do Sporting. Não tenho dúvidas que saberá o que uma equipa precisa nesta situação, que procurará criar uma base estável para que a sua ideia de jogo possa ser potenciada e bem sucedida (mais uma vez, é importante ter presente a relação de reciproca dependência entre vitórias e bom futebol). A conjuntura pode ser-lhe favorável, porque o calendário imediato ajudará no arranque e porque as expectativas serão automaticamente revistas com esta mudança no comando técnico. Haverá outras condicionantes, claro, mas não me surpreenderá se tiver uns bons meses até final da temporada. O seu grande desafio, porém, está apenas reservado para a próxima época...
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13.2.12

A circulação baixa do Marítimo

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Terá sido, aos meus olhos, o aspecto mais marcante do ponto de vista táctico, no jogo. O que define o resultado é uma discussão menos trivial, sendo impossível de rivalizar, por exemplo, com o peso fatídico de lapsos pontuais, como o erro de Patrício, ou a escorregadela de Xandão, mas no que respeita à definição do balanceamento do jogo, ao que marcou o ascendente do Marítimo e as dificuldades de imposição do Sporting, nenhuma fase do jogo terá contribuído tanto como a circulação baixa dos insulares.

Foi uma situação que se repetiu sucessivamente no inicio do jogo e que estaria, inclusivamente, na origem do lance do segundo golo, mesmo numa altura em que a resposta das equipas era já bastante diferente daquilo que acontecera na primeira parte. Há, aqui, algum contraste com aquilo que tem acontecido na generalidade dos jogos do Sporting, nomeadamente na abordagem que é feita pelos seus adversários. O Marítimo, desta vez, assumiu o risco de promover uma circulação baixa, tentando chamar e envolver o Sporting, antes de explorar os espaços mais adiantados. Foi uma situação de risco, sobretudo porque confrontou a intencionalidade do Sporting de subir o bloco e potenciar o erro no meio campo contrário. Por mérito de uns e demérito de outros, foi o Marítimo quem saiu repetidamente por cima deste confronto e, por isso, quem ficou desde logo mais próximo das zonas que definiu como essenciais para criar vantagem.

Aqui ficam alguns pontos de opinião sobre esta situação:

- intencionalidade/mérito do Marítimo: Nada foi um acaso. Centrais abertos, laterais profundos, uso do guarda redes e apoio dos médios, como solução de passe no corredor central. Não creio que haja a intenção de fazer uma ligação muito apoiada entre as diferentes fases, mas há pelo menos o objectivo de criar a dúvida no posicionamento do bloco contrário, atraindo as linhas mais adiantadas para depois explorar alguma abertura do bloco, quer através de uma circulação mais larga, quer através de um jogo mais directo. Para além da intencionalidade e de alguma qualidade, penso que se deve destacar, porque não é muito comum a este nível, a tranquilidade e confiança com que os jogadores do Marítimo o fizeram.

- presença pressionante do Sporting: Domingos juntou Matias a Van Wolfswinkel, o que não é uma surpresa. O pressing do Sporting pretende ter um impacto vertical imediato e não tanto uma acção orientadora da sua primeira linha, e para isso é quase inevitável a utilização de dois jogadores no inicio de pressão. Mas as dificuldades surgiram, a meu ver, por dois factores. O primeiro tem a ver com o controlo da acção dos médios (Roberto Sousa/Rafael Miranda) no corredor central, que nunca foi bem conseguida pelos elementos da segunda linha, sempre algo distantes dos dois elementos mais adiantados. Depois, mesmo quando conseguiu criar dificuldades, o Sporting não as materializou, devido a uma aparente incapacidade ao nível da agressividade. Finalmente, nem sempre se verificou uma boa prioridade na acção pressionante dos elementos da primeira linha, sendo um excelente exemplo o lance do segundo golo, quando o Sporting consegue fechar o Marítimo num lado do campo, mas depois Van Wolfswinkel é batido numa tentativa de desarme, quando a prioridade deveria ser não deixar a bola sair do corredor. O Sporting fica assim exposto, porque a sua equipa está balanceada para um lado do campo e a bola circula rapidamente par o lado oposto, aumentando a abertura lateral da equipa (basta reparar na distância de Arias para os centrais na fase terminal do lance).

- última linha: quase sempre a última linha é a mais visada, porque são sempre estes os protagonistas da fotografia final. Mas, como bem retrata o lance do segundo golo, raramente a questão se pode resumir de uma forma assim tão simples. Neste jogo, por exemplo, não sou da opinião que a última linha do Sporting tenha feito um mau jogo, apesar de ter sido muito exposta pela perda de presença pressionante sobre o portador da bola. Aqui, na reacção da última linha a este tipo de situação, reside uma das questões mais difíceis de responder pela generalidade das principais equipas do futebol actual. O que fazer quando há perda de presença pressionante sobre o portador da bola? Bom, cada equipa/treinador definirá o que pretende, mas o que se vê é que a generalidade das linhas defensivas mantém o posicionamento nestas situações, aumentando ainda que instantaneamente o risco de exposição do espaço nas suas costas. Pessoalmente, penso que o ideal é que se corte a profundidade, mesmo que se aumente o espaço entre sectores. Parece-me preferível baixar, aguentar e reorganizar do que correr o risco.

- guarda redes: não é novidade que o guarda redes ganha importância com a postura pressionante das equipas. De um lado, quando em posse de bola, porque tem de ser parte da circulação. Do outro, em situação defensiva, porque tem de estar preparado para cortar o espaço nas costas da sua linha defensiva. Neste jogo, Peçanha foi fundamental na circulação e Patrício no auxilio ao controlo da profundidade. O caso de Patrício, porém, não merece grandes elogios apesar do bom desempenho neste jogo (a este nível). Para além do seu já conhecido jogo de pés, muito aquém do que se exige nos dias de hoje, tem revelado dificuldades comprometedoras na decisão de sair da baliza. Já havia sido decisivo em Braga, valendo um golo aos bracarenses, e voltou a sê-lo a meio da semana, quando não reagiu a cruzamento feito na linha média e que acabou com uma finalização de cabeça perto da marca de penalti, perante a imobilidade do guarda redes. Preocupante!
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1.2.12

Gil Vicente - Porto: opinião e estatística

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- A introdução não varia muito daquilo que tantas vezes refiro: depois de vista, a derrota pode parecer uma fatalidade óbvia, mas essa conclusão terá mais a ver com a perspectiva do observador do que com o objecto de observação em si mesmo. O aspecto que me parece mais importante realçar, do ponto de vista do jogo portista, é o mesmo de jogos anteriores, e tem a ver com a dificuldade da equipa em criar situações de maior proximidade com o golo, independentemente do domínio territorial que consegue (ou lhe é concedido, como foi o caso). Isso já acontecera em jogos anteriores, mas desta vez houve dois factores que me parecem ter contribuído especialmente para que tudo se complicasse do ponto de vista do resultado. O primeiro tem a ver com a eficácia, com o Gil a ser perfeito no aproveitamento das situações ofensivas que criou (Helton não fez uma defesa, apesar dos 3 golos sofridos), e o segundo com a reacção da própria equipa, que revelou uma desinspiração generalizada nos seus jogadores (Belluschi e Varela serão as excepções). Creio que a relação entre dois pontos existe e que é de natureza não linear, o que agrava os seus efeitos. A ideia que me fica é que há uma forte potenciação do segundo (a desinspiração) através do primeiro (a eficácia do adversário), sendo que aqui volto ao ponto que realcei sobre o jogo do Benfica, relativamente à tendência de quem vai na frente ser capaz de reagir melhor às adversidades. E se houve desafio em que o Porto falhou em Barcelos, foi na reacção à adversidade (ao contrário do Benfica, na Vila da Feira, coincidentemente).

- Em relação à primeira parte, que é o período que me parece mais interessante de analisar, foi curioso ver como o Porto teve tantas dificuldades em ligar as suas fases ofensivas, sendo que nunca teve dificuldades numa primeira fase do seu jogo ofensivo, mas também praticamente nunca chegou a concluir qualquer das iniciativas iniciadas. Aqui, o papel dos médios ala do Gil revelou-se, surpreendentemente, avassalador para as investidas portistas. Em particular, a tendência do Porto para libertar Álvaro Pereira no corredor foi completamente anulada pela presença de Rodrigo Gallo, no apoio ao lateral. Álvaro Pereira, aliás, é um caso especial. Tem uma acção muito interventiva no jogo ofensivo da equipa e todos reconhecem o potencial das suas características, mas se a sua progressão ao longo do corredor for condicionada, muitas vezes acaba por não ter o contributo mais útil para a equipa. Em situações mais próximas da área, opta várias vezes por forçar o cruzamento em situações desfavoráveis, mas também em fases anteriores do jogo ofensivo se verifica uma tentativa frequente de ligar o jogo de forma mais directa, que poucas vezes tem uma sequência útil. Face a esta disposição do Gil, seria útil ao Porto especular as entradas pelos corredores laterais, aproveitando depois o espaço interior. No entanto, isso raramente aconteceu...

- Este caso do Porto, do contraste entre a sua facilidade em construir e posterior dificuldade em entrar, depois, de forma mais útil no último terço, parece-me realçar de forma evidente a importância de não fazer dos "meios", "fins". E o futebol, enquanto jogo, só tem um fim, que é o golo. Ou seja, podemos identificar certas zonas como zonas de elevado potencial, traçando cada equipa o objectivo de que o seu processo ofensivo possa fazer chegar a bola a essas zonas, e de forma útil - a zona "entrelinhas" ou as zonas próximas do vértice da área, por exemplo. No entanto, mesmo chegando repetidamente a essas zonas, o sucesso do processo ofensivo não fica garantido. É importante a última fase, conseguir criar roturas quando a bola chega "entrelinhas", ou ter uma solução de cruzamento que possa criar, com boa probabilidade, problemas de controlo ao adversário. Esta tem sido, na minha opinião, a principal lacuna do Porto após a alteração de estrutura promovida por Vitor Pereira.

- O Porto, tudo indica, partirá agora para uma nova fase. O peso da derrota, aliada às chegadas de Lucho e Janko deverá implicar algumas mudanças nos rostos que marcarão a próxima fase da equipa. Vitor Pereira começou por optar pela continuidade, mantendo praticamente todas as linhas do modelo do ano anterior. Depois, e particularmente depois da eliminação da taça, tivemos uma outra versão do Porto 2011/12. Não creio que possa haver uma inflexão dessa mudança, até porque Lucho e Janko parecem encaixar nas necessidades da equipa, nesta forma de jogar. Lucho porque é um jogador muito forte na movimentação sem bola e a aparecer nas zonas de finalização, sendo previsível que venha a fazer o papel que Defour ou Belluschi vinham desempenhando. Janko, porque é um jogador especialmente forte no jogo aéreo, algo que parece faltar como complemento aos inúmeros cruzamentos de Álvaro Pereira (ainda que não me pareça que seja apenas um problema de resposta individual no centro da área). Sobram ainda Maicon/Otamendi, outros candidatos previsíveis a sair da equipa base. Seja como for, o campeonato está realisticamente muito complicado para o Porto. Os 5 pontos não são muito se tivermos em conta que há um jogo decisivo, onde o Porto tem a oportunidade de recuperar 3. O problema é que, agora como antes deste jogo, não parece claro que seja mais provável ser o Porto a vencer esse jogo, ou o Benfica a perder mais pontos nos restantes jogos que ainda há por jogar. Pelo contrário, arrisco eu...
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30.1.12

Feirense - Benfica: opinião e estatística

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- Antes de ir ao jogo propriamente dito, acho interessante comentar a situação da tabela classificativa. O Benfica tinha duas vantagens, que garantiu na primeira metade do campeonato: 2 pontos de avanço e a perspectiva de disputar em casa o jogo que se adivinha com maior potencial decisivo. Quanto à segunda vantagem, não há muito a acrescentar para além do óbvio, mas parece haver mais importância na liderança do que a mera diferença pontual. Ano após ano e de país para país parece verificar-se uma tendência para que as equipas que vão atrás tenham mais dificuldade em reagir às adversidades. Um problema de confiança, seguramente, mas todos sabemos como a confiança pode ser tudo no futebol (e o Benfica de Jesus que o diga!). Não é uma verdade absoluta, obviamente, mas será uma tendência geral, que explica, por exemplo, porque é que 24 dos últimos 30 campeões já lideravam ao fim de apenas 1/3 do campeonato, quando esse não parece ser um período suficientemente longo para que o factor aleatório tenha sido isolado. Seja como for, esta jornada tivemos um passo potencialmente decisivo para a definição do campeonato, onde a reacção à adversidade dos dois primeiros foi totalmente distinta. Neste mesmo sentido, o Feirense poderá vir a ser uma equipa chave na corrida ao título, não tanto por este jogo, mas pelo facto de ter sido inesperadamente frente a este adversário que o Porto perdeu a sua vantagem na fase inicial da prova.

- A perspectiva de um jogo algo diferente do habitual, confirmou-se. O Feirense forçou o Benfica a disputar um jogo de futebol muito verticalizado e pouco tempo para pensar. A resposta do Benfica foi sempre boa, mas demorou até que a equipa conseguisse realmente dominar o jogo. Acabou por fazê-lo com a evolução do tempo, havendo também a coincidência de isso ter acontecido após a passagem de Rodrigo para uma zona mais central, com Witsel a ocupar uma posição mais descaída para a direita, sobretudo em situação defensiva. Esta organização criou alguns problemas de controlo a Maxi (frequentemente o ajustamento posicional de Witsel não chegava a tempo de bloquear o corredor), mas a verdade é que o Benfica pareceu ganhar com a mudança, sobretudo pela maior presença de Rodrigo em zona central e pela amplitude de acção de Witsel, que libertou Aimar. Já contra o Marítimo, o Benfica se dera bem com a alteração, e embora não seja liquido que tal tenha sempre um efeito positivo (nomeadamente, porque aumenta o risco de perda em posse), a verdade é que tem tido precisamente esse efeito.

- Recentemente, destaquei o papel importante da abordagem do Benfica ao mercado, com muito investimento, mas com apostas muito certeiras. Hoje, e neste jogo em particular, quero realçar outro ponto importante na construção do plantel e nas opções do treinador. É que, provavelmente como poucos, Jesus sabe bem que jogadores quer para a sua equipa. Por exemplo, a estatura é essencial em pelo menos 4 unidades da sua equipa. O guarda redes, os centrais e o pivot são sempre altos nas equipas de Jesus, e quando não são passam a ser (no caso da dispensa de Quim, por exemplo, parece ter sido decisivo). Do mesmo modo, um dos avançados tem tendencialmente essa característica, sendo que para esta posição o treinador confia naquilo que o faz ganhar, os golos. Por isso, Cardozo é discutível para quase todos, mas não para Jesus. Estas prioridades do treinador conferem ao Benfica uma grande adaptabilidade, nomeadamente sendo capaz de responder de forma muito forte num jogo com estas características. Obviamente, não quer isto dizer que todos os treinadores e todas as equipas devam repetir a fórmula (mais uma vez a importância da especificidade...), mas parece-me indiscutível a utilidade de se saber o que se quer, fazendo convergir as características individuais para os objectivos colectivos. Ainda no capítulo individual, destaque para Rodrigo, Cardozo (grande jogo, de utilidade cirúrgica para aquilo que foi o jogo) e Artur. O guarda redes merece aqui uma referência especial, porque não foi pelo que Artur defendeu que foi importante, mas pelas suas reposições, nomeadamente com os pés. Esse é outro ponto onde o Benfica evoluiu nesta época, e duvido que de agora em diante Jesus passe também a não dispensar um bom jogo de pés nos seus guarda redes...

- Nota, finalmente, para algumas dinâmicas colectivas do Benfica. Na saída em construção, o Feirense tentou forçar o pontapé longo de Artur, mas o guarda redes forçou até ao limite a saída em posse, normalmente por Garay, e muitas vezes com um passe praticamente paralelo à linha final. A opção pelo argentino é intencional, porque é o jogador com maior qualidade de passe nos elementos mais recuados, e mesmo que a saída curta do guarda redes não tenha tido como consequência constante a progressão em apoio (várias vezes não teve), sempre que o Benfica tentou a construção longa conseguiu criar muitas dificuldades de controlo ao Feirense, tendo Cardozo um papel essencial como referência para o jogo directo. Outra dinâmica em evidência e que causou dificuldades ao Feirense, aconteceu em situações de progressão mais apoiada, com a bola a ter como destino quase constante o corredor oposto àquele onde a jogada havia começado. Aqui, o Benfica aproveita a mobilidade de Aimar e a boa abertura da sua estrutura para provocar dificuldades de controlo ao bloco adversário.
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