O divórcio não era um cenário que colocasse de parte, mas com a iniciativa a partir sempre do lado de Domingos, que era, a meu ver, quem mais perdia com o actual estado da ligação. Estranho que parta da direcção do Sporting a decisão, por um lado porque na divisão de responsabilidades é uma decisão que expõe mais quem dirige do que o próprio treinador, e, por outro, porque não faz qualquer sentido alguém escolher um treinador para meia época depois colocar em causa a sua competência. Percebe-se que a emotividade dos adeptos leve à volatilidade de opiniões, em que o mesmo treinador passa de competente a incompetente em função da onda de resultados ou empatias, já não se pode dizer o mesmo de quem tem a responsabilidade de ver o futebol em bases minimamente racionais. É que não há treinador cuja competência se faça ou desfaça num tão curto espaço de tempo. E é precisamente por isso que se torna difícil que a decisão tenha sido tomada puramente em bases técnicas. Seria como que um duplo auto atestado de incompetência.
O balanço
Já escrevi alguma coisa sobre isto, e não me quero alongar muito mais. De facto, a experiência de Domingos no Sporting ficou obviamente aquém das minhas expectativas, mas o que se passou não é minimamente suficiente para que seja o treinador o principal responsável ou, como escrevi acima, para que a competência mais ou menos inquestionada aquando da sua chegada possa agora ser posta em causa. Como pecados principais, aponto algumas opções técnicas anunciadamente erradas e que custaram pontos fundamentais no inicio de época, e a forma como substituiu Rinaudo (ainda que a questão de André Santos possa não estar totalmente contada). De resto, parece-me claro que houve bastantes erros na formulação do plantel, bem atestados pela necessidade constante do clube em voltar ao mercado e pela absurda falta de fiabilidade física de alguns jogadores nucleares. Na verdade, as lesões não foram sempre um factor impeditivo para que o Sporting pudesse manter uma qualidade de jogo dentro do exigível, mas quando esse factor combinou com a quebra anímica de ver frustrada a tentativa de recuperação no campeonato (após o jogo da Luz), tudo se complicou. Não é novidade, o futebol é fértil neste tipo de situações em que o lado anímico se torna avassalador sobre equipas até bem mais competentes do que este Sporting. Como exemplos recentes temos o Benfica do ano anterior, o Chelsea de Villas Boas ou, num caso ainda breve, a inesperada crise interna do Super-Barcelona. Embora o continue a ver sempre tratado como tal, estou cada vez mais convencido de que o futebol não é um fenómeno de consequências lineares...
O futuro
Não é difícil olhar para este caso e lembrar outros, que marcaram negativamente a história do Sporting (Robson, Mourinho ou mesmo Villas Boas). Estaremos perante mais um desses casos? Honestamente, não o catalogaria do mesmo modo, mesmo que Domingos venha a ter sucesso num rival nos próximos anos. O motivo é simples: se em casos como o de Robson ou de Mourinho, o treinador poderia ter sido suficiente para marcar diferenças de domínio em determinadas eras do futebol português, hoje parece-me que o Sporting tem já um diferencial de condições para os rivais que é demasiado acentuado para que um treinador, por muito determinante que seja, possa marcar tanta diferença. Não que pense que a diferença seja inultrapassável, mas creio que só com uma equipa invulgarmente estável (ao nível das primeiras linhas) e potenciada do ponto de vista colectivo é que o Sporting pode manter um ritmo como o que Porto e Benfica têm mantido nos últimos anos. As más notícias para o Sporting podem não ficar por aqui, porque se este ano foram investidos 30 milhões (sem mais valias de vendas), nem é provável que esse valor seja mantido, nem se sabe ainda com certeza que implicações do ponto de vista financeiro poderão existir para um clube que dá prejuízos elevados em tempos em que o crédito não é de fácil acesso. A direcção do clube parece tranquila, mas só o futuro dirá se o esforço recente terá, ou não, consequências...
Do ponto de vista de Domingos, a sua passagem pelo Sporting deixar-lhe-á muito poucas marcas negativas na reputação (especialmente no estrangeiro, onde a percepção da decepção da campanha interna será praticamente nula). Resta saber onde dará continuidade à sua carreira, mas esta continuará a ser um ponto de interesse seja qual for o destino...
Resta Sá Pinto. É-me impossível fazer qualquer projecção de expectativas com bases seguras, mas à excepção dos descontrolos temperamentais que todos conhecem, tenho boa impressão do ex-jogador do Sporting. Não tenho dúvidas que saberá o que uma equipa precisa nesta situação, que procurará criar uma base estável para que a sua ideia de jogo possa ser potenciada e bem sucedida (mais uma vez, é importante ter presente a relação de reciproca dependência entre vitórias e bom futebol). A conjuntura pode ser-lhe favorável, porque o calendário imediato ajudará no arranque e porque as expectativas serão automaticamente revistas com esta mudança no comando técnico. Haverá outras condicionantes, claro, mas não me surpreenderá se tiver uns bons meses até final da temporada. O seu grande desafio, porém, está apenas reservado para a próxima época...
Já escrevi alguma coisa sobre isto, e não me quero alongar muito mais. De facto, a experiência de Domingos no Sporting ficou obviamente aquém das minhas expectativas, mas o que se passou não é minimamente suficiente para que seja o treinador o principal responsável ou, como escrevi acima, para que a competência mais ou menos inquestionada aquando da sua chegada possa agora ser posta em causa. Como pecados principais, aponto algumas opções técnicas anunciadamente erradas e que custaram pontos fundamentais no inicio de época, e a forma como substituiu Rinaudo (ainda que a questão de André Santos possa não estar totalmente contada). De resto, parece-me claro que houve bastantes erros na formulação do plantel, bem atestados pela necessidade constante do clube em voltar ao mercado e pela absurda falta de fiabilidade física de alguns jogadores nucleares. Na verdade, as lesões não foram sempre um factor impeditivo para que o Sporting pudesse manter uma qualidade de jogo dentro do exigível, mas quando esse factor combinou com a quebra anímica de ver frustrada a tentativa de recuperação no campeonato (após o jogo da Luz), tudo se complicou. Não é novidade, o futebol é fértil neste tipo de situações em que o lado anímico se torna avassalador sobre equipas até bem mais competentes do que este Sporting. Como exemplos recentes temos o Benfica do ano anterior, o Chelsea de Villas Boas ou, num caso ainda breve, a inesperada crise interna do Super-Barcelona. Embora o continue a ver sempre tratado como tal, estou cada vez mais convencido de que o futebol não é um fenómeno de consequências lineares...
O futuro
Não é difícil olhar para este caso e lembrar outros, que marcaram negativamente a história do Sporting (Robson, Mourinho ou mesmo Villas Boas). Estaremos perante mais um desses casos? Honestamente, não o catalogaria do mesmo modo, mesmo que Domingos venha a ter sucesso num rival nos próximos anos. O motivo é simples: se em casos como o de Robson ou de Mourinho, o treinador poderia ter sido suficiente para marcar diferenças de domínio em determinadas eras do futebol português, hoje parece-me que o Sporting tem já um diferencial de condições para os rivais que é demasiado acentuado para que um treinador, por muito determinante que seja, possa marcar tanta diferença. Não que pense que a diferença seja inultrapassável, mas creio que só com uma equipa invulgarmente estável (ao nível das primeiras linhas) e potenciada do ponto de vista colectivo é que o Sporting pode manter um ritmo como o que Porto e Benfica têm mantido nos últimos anos. As más notícias para o Sporting podem não ficar por aqui, porque se este ano foram investidos 30 milhões (sem mais valias de vendas), nem é provável que esse valor seja mantido, nem se sabe ainda com certeza que implicações do ponto de vista financeiro poderão existir para um clube que dá prejuízos elevados em tempos em que o crédito não é de fácil acesso. A direcção do clube parece tranquila, mas só o futuro dirá se o esforço recente terá, ou não, consequências...
Do ponto de vista de Domingos, a sua passagem pelo Sporting deixar-lhe-á muito poucas marcas negativas na reputação (especialmente no estrangeiro, onde a percepção da decepção da campanha interna será praticamente nula). Resta saber onde dará continuidade à sua carreira, mas esta continuará a ser um ponto de interesse seja qual for o destino...
Resta Sá Pinto. É-me impossível fazer qualquer projecção de expectativas com bases seguras, mas à excepção dos descontrolos temperamentais que todos conhecem, tenho boa impressão do ex-jogador do Sporting. Não tenho dúvidas que saberá o que uma equipa precisa nesta situação, que procurará criar uma base estável para que a sua ideia de jogo possa ser potenciada e bem sucedida (mais uma vez, é importante ter presente a relação de reciproca dependência entre vitórias e bom futebol). A conjuntura pode ser-lhe favorável, porque o calendário imediato ajudará no arranque e porque as expectativas serão automaticamente revistas com esta mudança no comando técnico. Haverá outras condicionantes, claro, mas não me surpreenderá se tiver uns bons meses até final da temporada. O seu grande desafio, porém, está apenas reservado para a próxima época...