31.12.14

Destaques individuais do campeonato argentino 2014

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Para concluir o ano partilho alguns dados individuais sobre o recente Torneo Transicion argentino, numa análise com contornos e critérios idênticos aos que já apresentara para as duas principais ligas brasileiras. Convém esclarecer, até porque é importante para efeitos de interpretação da análise, que o tempo de observação neste caso é bastante inferior ao que foi considerado para as ligas brasileiras (cerca de metade), o que torna os resultados menos conclusivos e mais susceptíveis a efeitos de aleatoriedade.

A realidade do primeiro escalão argentino actualmente (e o seu formato irá mudar consideravelmente em 2015), e quando comparamos com as principais ligas europeias, é de um grande equilíbrio. Há, nestas listas, alguns nomes improváveis e de muito pouca projecção mediática, mas que ainda assim tiveram um rendimento de grande destaque dentro dos parâmetros da liga, o que os torna particularmente interessantes de seguir. Em particular, destacaria a quantidade de avançados móveis e com boa qualidade que existe actualmente no futebol deste país. Para destacar alguns, começaria por Silvio Romero, um avançado paraguaio, com muito boa qualidade de movimentos, que actuou sobretudo a partir do corredor direito. Depois, Maxi Rodriguez, o conhecido internacional argentino que no Newells desempenhou um papel mais ofensivo, e que terá sido na minha opinião o jogador com mais qualidade neste campeonato. Entre as revelações, destaque para Gustavo Bou e Lucas Albertengo. O primeiro, um avançado de muita potência, que foi dispensado pelo River e que surpreendeu toda a gente pela frequência com que desequilibrou nesta prova. O segundo, um jogador de uma equipa menor (Atl Rafaela), mas que provavelmente rumará a um clube de maior dimensão, dada a qualidade do seu envolvimento, nomeadamente procurando muito a mobilidade pelas alas e espaços interiores. Outros casos interessantes são os dos uruguaios Washington Camacho e Brahian Aleman, ambos médios ala esquerdinos. O caso de Aleman é bastante mais mediatizado, pelos golos que marcou e pela qualidade do seu pé esquerdo, tendo atraído o interesse de vários clubes de maior dimensão. Camacho é um caso mais discreto mas nem por isso menos eficiente, fazendo-se valer de características menos vistosas como a capacidade para aparecer com propósito em zonas de finalização. Nota ainda para os casos dos jogadores mais criativos, Mancuello e Zelarrayan, que também estarão numa fase ascensional da sua carreira e poderão merecer oportunidades noutros patamares.

Entre os guarda redes, a primeira nota vai para o facto de me parecer que a qualidade não é tão grande como no Brasil, relativamente a esta posição específica. Ainda assim, uma nota incontornável para o desempenho extraordinário de Monetti, mais um caso de um jogador muito pouco mediatizado mas cujo rendimento (à luz desta análise, claro) provavelmente justificará uma atenção especial.



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27.12.14

Destaques individuais do Brasileirão Serie A

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Tal como havia anunciado, deixo aqui os destaques individuais da análise feita para o campeonato brasileiro Série A, depois de já o ter também feito para a Série B. Nos próximos dias, conto também apresentar o mesmo exercício para o campeonato argentino, que também terminou neste mês de Dezembro.

Relativamente aos destaques, e indo para além daquilo que a lista já apresenta, gostaria de fazer dois destaques. Primeiro, os jogadores mais jovens a conseguir entrar nesta lista, começando pelo caso de Gabriel, que é notável dado ter apenas 18 anos, mas também Erik, que para além da juventude conseguiu teve ainda o handicap de ter actuado num clube de menor dimensão, e Luciano, que conseguiu uma notável produção apesar dos poucos minutos a que teve direito. Num outro foco, destacaria os jogadores com mais ocasiões criadas, sendo que no topo dessa lista aparece Everton Ribeiro, figura incontornável do campeão Cruzeiro. Aqui detectar-se-á também alguma diferença do futebol brasileiro para o europeu, já que a generalidade dos jogadores com mais ocasiões criadas são médios criativos e com uma acção móvel, enquanto que na generalidade dos campeonatos europeus, a tendência é para que encontremos extremos a assumir maior protagonismo ao nível das ocasiões criadas.


Talvez a grande surpresa nos destaques entre os guarda redes seja a ausência daquele que é, nos dias que correm, o mais reputado dos candidatos, Jefferson. Na verdade, não há muitos reparos a fazer ao desempenho do actual titular do 'escrete', mas o facto é, que segundo esta análise, haverá outros jogadores com um desempenho bem mais determinante ao longo da época, onde de resto o Botafogo acabou por descer de divisão. De resto, na minha opinião a liga brasileira conta com um número assinalável guarda redes de elevada qualidade.

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23.12.14

Bruno de Carvalho vs Marco Silva

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O jogo frente ao Nacional
Começando pelo jogo da Choupana, diria que o Sporting fez uma exibição globalmente conseguida, acima até das expectativas, em especial na segunda parte. No primeiro tempo, as dificuldades foram maiores sobretudo pela estratégia do Nacional, que assentava em dois pilares fundamentais. O primeiro, as reposições longas, que tinham Suk como referência para a primeira bola, mas que contavam depois com a verticalidade de Marco Matias e Rondon, quase sempre bem preparados para tirar dividendos imediatos das segundas bolas. O segundo, vinha do momento de transição, onde de novo a verticalidade dos extremos era a consequência prevista para as bolas que o Sporting perdesse nas suas primeiras fases ofensivas. As dificuldades do Sporting resultaram fundamentalmente deste segundo ponto, com a fase de construção a não ter a segurança ideal, sublinhando-se as dificuldades dos médios para se impor a esse nível. No entanto, ofensivamente o Sporting foi sempre perigoso e o golo, que apareceu cedo na segunda parte, mudou boa parte das coordenadas do jogo, nomeadamente forçando o Nacional a assumir mais o jogo, o que contribuiu para um melhor controlo defensivo do Sporting até à expulsão, período onde teve boas condições para conseguir duplicar a vantagem.

Há um último ponto que me merece um comentário, servindo também para entrar na novela que têm protagonizado presidente e treinador do clube. Refiro-me à ideia, deixada por Marco Silva, de que a equipa teria jogado sobre pressão, ficando supostamente afectada por isso. Este é um tema que entra num domínio conjectural e por isso a opinião de cada um valerá apenas isso, mas ainda assim parece-me muito pouco provável que o desempenho dos jogadores fique especialmente afectado por desavenças de terceiros. Se assim fosse, que efeitos devastadores não poderiam ter aspectos que afectassem directamente os jogadores, nomeadamente de ordem pessoal? Enfim, se é indiscutível (e factual) que há aspectos de ordem psicológica que afectam significativamente jogadores e equipas, parece-me abusiva e inverosímil a hipótese de que o  seu rendimento seja assim tão sensível a tudo o que se passa em seu redor.

Bruno de Carvalho vs Marco Silva
Passando então ao choque entre Bruno de Carvalho e Marco Silva, começo por comentar as expectativas do presidente do clube. A minha leitura é que o primeiro erro da gestão do Sporting 14/15 terá passado pelas conclusões retiradas da época anterior, nomeadamente caindo no comum equívoco de estabelecer uma relação linear entre resultados e competências. Este é um ponto sobre o qual escrevi expressamente no final da época passada, já que este era um erro anunciado, pelo menos entre adeptos e generalidade da imprensa. Ou seja, o facto de uma equipa terminar num determinado lugar não significa, ao contrário do que quase sempre se faz crer, que essa equipa seja pior do que todas as que terminaram à sua frente e melhor do que todas as que terminaram atrás de si. O futebol tem uma componente aleatória muito forte e com um peso muito mais largo do que o intervalo que separa o sucesso e insucesso das equipas.

No entanto, à luz deste raciocínio linear, que concluía que o Sporting era a segunda melhor equipa em Portugal, é fácil de perceber as expectativas de Bruno de Carvalho e sua gestão. Mantendo a equipa, o Sporting aspiraria pelo menos a repetir o desempenho do ano anterior, contando ainda com o facto do Benfica ter perdido um número importante de jogadores titulares no defeso, o que aproximaria significativamente o Sporting da ambicionada luta pelo título. Para mais, o Sporting beneficiou ainda com o improvável bónus de poder contar com Nani, numa troca com Rojo que desportivamente foi indiscutivelmente muito favorável ao clube. É fácil, portanto, perceber a insatisfação de Bruno de Carvalho em face das expectativas que, na minha leitura e equivocadamente, poderá ter criado. Mas há mais. É que para além do desempenho pontual abaixo do esperado, o esforço de não vender poderá ter tido custos ainda mais acentuados e que afectam directamente as contas da SAD. É que, de repente, vários jogadores têm tido um rendimento individual muito abaixo do ano anterior, quando a expectativa seria que estivessem numa trajectória ascendente e não descendente. O caso mais claro será o de William Carvalho, o activo mais valioso do clube no Verão, mas com um rendimento muito inferior desde então, o que influenciará certamente o preço que o Sporting poderá vir a pedir por ele, caso necessite de encaixar algum dinheiro num futuro próximo. E aqui é onde penso que poderá fazer mais sentido a insatisfação de Bruno de Carvalho, já que não me parece lógico que aceite de braços cruzados a muito mediatizada teoria de que o Sporting é vitima de uma insuficiência qualitativa no seu sector defensivo, quando apenas saiu um jogador (entretanto muito bem substituído por Paulo Oliveira, note-se) e muitos outros vêm tendo um rendimento individual claramente inferior ao que tinham no passado. E aqui, sem dúvida, tem lógica que as explicações do treinador precedam a requisição de reforços.

Mas, se os desencontros entre treinador e presidente serão normais, o que torna esta situação verdadeiramente sui generis nos tempos actuais é a forma como ela foi passada para a praça pública. Se em termos de conteúdo, o presidente não estará isento de equívocos, terá sido na forma que Bruno de Carvalho mais terá errado neste processo. Ao tornar públicos os seus argumentos, inclusivamente aventurando-se em considerações técnicas que deveriam ultrapassar as suas competências, o presidente passa uma imagem de uma gestão anacrónica e pouco profissional, nomeadamente pela celeridade com que desfez a confiança num treinador com quem apenas há 6 meses havia assinado um contrato de 4 épocas, e pela facilidade com que aparentemente se imiscui nos domínios técnicos da gestão da equipa. Ora, se há 20-30 anos isto era relativamente normal no futebol português, hoje não o é, e mais do grave do que perder o treinador actual é a hipótese de que Bruno de Carvalho tenha denegrido a sua própria imagem enquanto gestor desportivo com esta rábula, nomeadamente servindo de aviso para futuros candidatos ao cargo de treinador principal da equipa do Sporting. Atrair os melhores poderá passar a ser ainda mais difícil para o Sporting, e a não ser que Bruno de Carvalho pense assumir, ele próprio, o cargo de treinador, isso será um problema incontornável tanto para o futuro próximo do Sporting, como para a sua longevidade enquanto presidente do clube.

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19.12.14

Notas do Benfica-Braga

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Diz o ditado que "com quem ferro mata, com ferro morre!". Em boa verdade será abusivo aplicá-lo aos dois últimos jogos do Benfica, no sentido em que ao contrário do que sugere o ditado não há qualquer nexo de causalidade entre uma partida e outra, mas não se pode deixar de notar a ironia naquilo que foi o contraste entre o curso e o desfecho de ambos os jogos. Isto é, primeiro o Benfica vence um importante jogo beneficiando de um improvável e acentuado desnível de eficácia, e alguns dias depois a equipa torna-se ela própria vitima do mesmo tipo de fatalidade, ficando afastada da taça. Pode parecer uma espécie de justiça poética, mas na realidade não acredito que seja mais do que um capricho da aleatoriedade, e um bom exemplo da influência que esta pode ter no desfecho dos jogos.

No Benfica, e olhando mais para o futuro do que para este jogo, há alguns temas que me parecem importantes de abordar. Primeiro, a consequência da eliminação, que atribui ainda mais peso ao campeonato. Resumidamente, ou a época será um sucesso (porque conquistar o campeonato determina sempre que o seja), ou será um enorme fracasso, com eliminações precoces quer na Europa, quer na Taça. Não haverá meio termo ou atenuante, e o campeonato tudo. Depois, o tema do primeiro médio. É estranho que o Benfica se tenha dado sucessivamente bem com um determinado perfil, desde Javi Garcia até Fejsa, e que de repente tenha apostado tudo em dois jogadores com características muito diferentes para essa posição, Samaris e Cristante. Há um raciocínio que me parece importante e que gostaria de partilhar, e que tem a ver com a ideia da evolução táctica dos jogadores com Jesus. Essa é uma expectativa legítima a ter, já que têm sido vários os exemplos de progressão positiva e rápida nesse sentido. No entanto, não se pode partir do princípio de que isso seja suficiente para que os jogadores tenham um rendimento óptimo no desempenho das suas funções. Concretamente no que respeita aos aspectos defensivos, o posicionamento e trabalho táctico é obviamente fundamental, mas está longe de ser tudo, parecendo-me ser relativamente fácil desconstruir esse sofisma. É que se a noção táctica e posicional fosse tudo para um defensor, então encontraríamos vários candidatos improváveis ao desempenho óptimo dessas funções. Desde jogadores mais veteranos, que têm uma noção posicional mais apurada, até aos próprios treinadores, que devem saber melhor do que ninguém qual o posicionamento a ter em cada situação, já para não falar no crescente conjunto de curiosos que a partir de fora não se cansam de analisar e rectificar minuciosamente o posicionamento de equipas e jogadores. Ora, o problema é que de facto o posicionamento e trabalho táctico, sendo fundamentais para optimizar o rendimento dos jogadores, estão longe de definir em absoluto o seu rendimento defensivo, e no caso do Benfica 14/15 isto tem sido muito claro relativamente aos seus médios mais defensivos. Se estes continuarem a não ter capacidade de intervenção e agressividade para vencer os duelos na sua zona de acção, o trabalho táctico não deixará de continuar a ser importante, mas apenas servirá para atenuar a inevitável permeabilidade da equipa naquela zona.
Depois, para o Benfica abre-se também a incerteza do mercado e a importância decisiva de alguns jogadores. A perda de Salvio, ainda que apenas por tempo determinado, é um primeiro revés, e pode seguir-se também a de Enzo Perez, essa sim definitiva. A propósito disso, gostaria de escrever sobre Joaquin Correa, que foi dado como certo no Benfica até há alguns dias, mas que entretanto foi confirmado na Sampdoria. Conheço razoavelmente o jogador, e tinha uma grande expectativa para o ver evoluir em Portugal e no Benfica. Trata-se de um jogador jovem, com uma capacidade técnica excepcional, que combina com uma maturidade decisional muito acima daquilo que é comum na sua idade. Na Argentina jogava como ala, mas o seu perfil tinha tudo para que pudesse evoluir favoravelmente na posição que hoje é de Enzo Perez no Benfica, já que a sua vocação passa muito mais pelo envolvimento na construção do que na criação de desequilíbrios no último terço (ainda que tenha também essa capacidade). Não posso estar certo do seu impacto, como é evidente, mas é minha convicção de que o seu potencial seria suficiente para vingar no curto prazo no futebol português, e até para chegar rapidamente à selecção argentina, onde não abundam hoje jogadores com o seu perfil. A sua não vinda para o Benfica parece-me ter sido uma perda para todos...

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16.12.14

Porto - Benfica (II): análise individual

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Porto
Fabiano - Num jogo com muito pouco trabalho, não só sofreu dois golos como ainda sobram dúvidas sobre o seu desempenho em ambos os lances. São duas situações diferentes, na primeira o facto de ser um lançamento e por isso não haver o perigo da bola sair ao segundo poste, talvez se justificasse estar mais próximo dos jogadores à sua frente, precisamente para poder intervir se a bola fosse para aquela zona. No segundo, fica também a ideia de que poderia fazer melhor, dada a distância e previsibilidade do remate, no entanto também é possível que não tivesse a melhor visão, dado o posicionamento de Danilo. De resto, foi muito solicitado para jogar com os pés, tendo respondido bem e com a curiosidade de ter completado mais passes do que qualquer jogador do Benfica!

Danilo - Está nos dois lances de golo do Benfica, onde poderia ter respondido de forma mais intensa, o que manifestamente não é a sua especialidade. Ainda assim, e num registo que nele não é garantido, ganhou claramente vantagem nos duelos que travou no seu corredor, contando com a ajuda da boa organização colectiva, que condicionou a abordagem técnica dos jogadores do Benfica que apareceram na sua zona (particularmente, Gaitan). Com bola, foi dos mais irregulares na presença em posse, o que não é invulgar, mas não conseguiu desta vez fazer valer o seu ponto forte, que é capacidade para desequilibrar no último terço.

Alex Sandro - Um jogo globalmente muito positivo, ganhando claramente o confronto com Salvio. Defensivamente, dominou a sua zona, tendo-se destacado especialmente no momento de transição ataque-defesa, onde fez 9 intercepções, um registo igualado apenas por Casemiro. Com bola, esteve regular em termos de eficácia em posse, e conseguiu ainda participação importante em dois dos desequilíbrios da equipa, o primeiro num lançamento para Oliver, e o segundo numa jogada individual que terminou com a finalização de Jackson, na cara de Júlio César. Não foi certamente pelo seu desempenho que se justificou a sua substituição.

Martins Indi - Os indícios que havia descrito no jogo de Alvalade (e que globalmente passaram despercebidos) confirmaram-se em pleno nesta nova observação mais detalhada. Ou seja, a generalidade das suas abordagens são acertadas, sem dúvida, mas é um jogador que se protege muito de intervenções de maior grau de dificuldade, nomeadamente intervindo e antecipando muito pouco no espaço á sua frente. Isto reflecte-se claramente no número de duelos/intercepções que conseguiu, que é muito baixo e incomparavelmente inferior ao de Marcano. Com bola, esteve bastante activo na fase de construção (foi o jogador com mais passes completados no jogo), e esteve globalmente bem, apesar de ter sido protagonista da perda de bola que deu origem à transição mais perigosa do Benfica no jogo, para além dos golos.

Marcano - Voltou a aparecer a titular num jogo grande em que o Porto perde, e claramente em termos mediáticos a sua reputação voltará a não ganhar com isso. No entanto, não só não me surpreende a sua titularidade, em face dos sinais que Lopetegui vinha dando, como concordo completamente com ela, parecendo-me Marcano claramente o melhor central portista nesta temporada, em sentido inverso do que me parece ser a apreciação geral. Com bola, não é um jogador muito arrojado em termos de presença posse, preferindo manter um perfil sóbrio e de pouco risco (que é totalmente ajustado à posição que ocupa, diga-se), o que não o impede de dar boa sequência a quase todas as jogadas que por si passam. Sem bola, e ao contrário de Martins Indi, tem uma excelente capacidade de intervenção, antecipando com frequência no espaço à sua frente, e mantém também um posicionamento que me parece correcto e de acordo com as orientações colectivas. Destaque para o seu papel no controlo do momento de transição, e no contributo que deu para que o Benfica não conseguisse sair a jogar a partir de reposições longas, como era intenção de Jesus.

Casemiro - Não podia ser mais radical a diferença do seu desempenho, nos planos defensivo e ofensivo. Defensivamente, foi o jogador com mais intervenções, num registo bastante impressionante no controlo e domínio da sua zona. Parte, geralmente, de uma zona muito próxima dos centrais, o que ajuda a controlar o espaço entrelinhas, e aparece depois a criar superioridade nos corredores, ajudando a encurralar os adversários junto à linha, que é algo que o Porto faz bem. Com uma boa organização colectiva, a sua capacidade de intervenção permite-lhe depois ganhar um número muito grande de duelos, sendo também ele um dos motivos pelos quais o Benfica jogou tão pouco. Com bola, e em sentido completamente oposto, dificilmente o Porto poderia ter um jogador que oferecesse tão pouco à sua fase de construção. Na sua posição, pedia-se não só que fosse um jogador com mais capacidade de intervenção na posse da equipa, como que fosse capaz de garantir maior eficácia nas suas aparições com bola. Infelizmente, os seus números falam por si, e não só não interveio com a regularidade esperada, como foi o jogador da equipa que mais passes perdeu, o que para um jogador de fase de construção é no mínimo estranho. Parece-me que o problema terá sobretudo a ver com a forma questionável como decide, especialmente quando é colocado sobre pressão.

Herrera - Na primeira parte conseguiu um bom impacto, tirando partido do espaço que o Benfica dava e dando alguns problemas de controlo a Samaris, nos seus habituais movimentos na profundidade. Para além disso, ainda foi protagonista da finalização, na primeira ocasião do jogo. No entanto, com o recuar das linhas do Benfica passou a ter menos espaço e a sua presença na profundidade a ser anulada de forma relativamente fácil.

Oliver - Na minha opinião, fez um jogo muito bom e completo. Ofensivamente, começou por criar problemas ao Benfica, com movimentos na profundidade que estavam claramente trabalhados. Depois, e tal como Herrera, a sua vida ficou mais difícil com o recuar das linhas do Benfica, mas ainda assim manteve-se mais solícito do que o mexicano no envolvimento colectivo, e geralmente com qualidade. Mas foi no capítulo defensivo que a sua exibição terá sido mais surpreendente, pela positiva. Definiu muito bem o seu posicionamento, e fechou com grande propósito junto de Casemiro, contribuindo também para o domínio portista nas bolas divididas sobre a zona central. Em destaque, também, o seu bom contributo no momento de transição ataque-defesa.

Brahimi - Foi, diria, um jogo de grande esforço mas pouca utilidade objectiva. Maxi tentou condicioná-lo sempre no momento da recepção, e é verdade que o argelino não se escondeu nunca do jogo, aparecendo com bastante frequência e conseguindo até um bom desempenho em termos de sequência em posse. Aliás, à excepção dos centrais, foi o jogador que mais passes completou e com melhor % de acerto. No entanto, a acção de Maxi produziu os seus frutos, afastando muito as acções de Brahimi das zonas terminais do terreno, o que as tornou globalmente inofensivas.

Tello - Foi o protagonista do primeiro rasgo ofensivo do jogo e, com André Almeida condicionado com o amarelo desde o primeiro minuto, poderia pensar-se que estaria nele uma das chaves da partida. Puro engano. Não só interveio pouco, mantendo-se sempre muito agarrado à linha, como as suas poucas aparições no jogo acabaram por ter um impacto practicamente nulo. Parece muito dependente do espaço e da ausência de coberturas defensivas por parte dos adversários.

Jackson -  Fica associado ao jogo como tendo sido protagonista das principais ocasiões que equipa teve para marcar. Como sempre, e mesmo não marcando, vejo nisso um indicador bem mais positivo do que negativo, por muito que com mais eficácia da sua parte o destino do jogo pudesse ter sido outro. De resto, fez um bom jogo nos mais variados planos, mantendo-se disponível para o jogo e batendo-se bem nos duelos que travou com os centrais contrários.

Benfica
Júlio César - Na verdade, só fez uma intervenção decisiva, mas é impossível não achar que com ele o Benfica tem muito a ganhar em relação a Artur, naquela que me parecia uma lacuna importante da equipa. Noutro plano, fez várias reposições longas no jogo, mas quase todas elas tiveram um destino favorável ao Porto, sendo que neste facto encontro poucas responsabilidades da sua parte.

Maxi - A sua missão no jogo foi, quase exclusivamente, condicionar Brahimi. Aparentemente a sua ideia passou por evitar que o argelino enquadrasse, e nesse aspecto a verdade é que a sua acção produziu bons resultados, nomeadamente forçando Brahimi a baixar muito no terreno para ter a bola. No entanto, esta foi uma exibição anormalmente sóbria do ponto de vista ofensivo, sendo o jogador com menos participação com bola, entre os que iniciaram o jogo. Nota incontornável para o lançamento longo, na origem do primeiro golo.

André Almeida - Tudo indicava que passaria por problemas, ao ver um amarelo tão cedo, mas a verdade é que se aguentou bastante bem, sendo importante assinalar que tal só foi possível pela ajuda que teve da boa organização colectiva, nomeadamente das coberturas que lhe foram sendo feitas nos duelos com Tello. Mais tarde, teve mais dificuldades perante Quaresma, que diversificou bem mais as suas soluções. Com bola, e de acordo com a exibição da equipa, apareceu muito pouco.

Jardel - Foi o jogador com mais duelos/intercepções ganhos da equipa. Como quase todos, beneficiou com o recuar das linhas da equipa, sentindo-se bem mais confortável com menos espaço para controlar. Apesar destas notas positivas, não evitou alguns erros potencialmente comprometedores, e que nele acontece com alguma regularidade. Em destaque, uma intercepção falhada numa zona fundamental e com Jackson nas costas, e também ao nível do passe onde se mostrou intranquilo, mesmo num jogo com tão poucas solicitações a esse nível.

Luisão - Travou um duelo interessante com Jackson na primeira parte, em que me pareceu sair por cima. Depois, manteve-se sóbrio e eficaz mas foi perdendo capacidade de intervenção, o que provavelmente estará ligado com os problemas físicos que determinaram a sua substituição.

Samaris - O jogo não começou por ser fácil para ele, nomeadamente com dificuldades em controlar os movimentos de Herrera e em definir o posicionamento numa zona em que frequentemente o Porto conseguia superioridade numérica. Com o recuar da equipa, porém, arrancou definitivamente para uma exibição bastante positiva do ponto de vista defensivo, destacando-se não só a sua acção na linha média, mas também a sua interacção com os elementos da linha defensiva, ajudando a equipa a estar sempre bem posicionada nessa zona. Com bola, teve um jogo complicado tal como toda a equipa.

Enzo Perez - Não foi o tipo de jogo que retirasse o melhor do que tem para oferecer. Nomeadamente ao nível da presença em posse, não teve oportunidade para pegar no jogo como é seu hábito, em face de uma estratégia que tentava jogar a partir de reposições longas e segundas bolas. Bateu-se bem, sem surpresa, mas não o suficiente para empurrar a equipa para a frente, como aconteceu noutras ocasiões.

Gaitan - Jogo de grande entrega e disponibilidade, sendo o jogador da equipa com mais intervenções com bola. Infelizmente, porém, não teve a eficácia correspondente, sobretudo pelo condicionamento que o Porto conseguiu fazer, mas possivelmente também por alguma tendência para jogar por vezes depressa de mais. Ainda assim, não deixou de evidenciar a sua qualidade em alguns lances. Sem bola, e como é seu hábito, esteve bastante bem, bastante disciplinado posicionalmente e com boa entrega aos diversos lances divididos que o jogo teve.

Salvio - Se todos os jogadores sentiram dificuldades na presença com bola, nenhum sentiu mais do que Salvio. De facto, pouca participação e pouca eficácia, sendo que aqui há sobretudo muito mérito do Porto e de quem jogou na sua zona. Tinha a expectativa de que pudesse ser uma arma ofensiva nas acções de transição, dada sua verticalidade, mas a equipa acabou por ser praticamente inexistente a esse nível, anulando-lhe também essa oportunidade. Salvou-se a sua entrega e bom contributo defensivo, o que é obviamente muito pouco.

Talisca - Estou em crer que os centímetros terão pesado muito para a sua inclusão no onze, dada a estratégia com que Jesus abordou o jogo, com grande enfoque nas reposições longas. A verdade é que nesse plano, o Porto anulou completamente as intenções do treinador do Benfica. Ainda assim, Talisca voltou a mostrar que é um jogador bastante dotado tecnicamente, sendo o jogador com melhor % de acerto em posse, apesar de jogar numa zona densa e difícil. O problema de Talisca, e tal como já escrevi, parece-me ser o seu envolvimento no jogo, acabando por não conseguir criar espaços para ser mais vezes solução, e não tendo do ponto de vista defensivo a intensidade e a leitura táctica para oferecer também um melhor contributo nos duelos que se travaram na sua zona. A sua principal marca no jogo foi, claro, o remate que antecede o golo de Lima.

Lima - Já tinha escrito que a questão da eficácia é demasiado volátil e aleatória para ser tão valorizada, como é, no curto prazo. O que melhor define a probabilidade de um jogador vir a fazer golos no futuro não são os golos que marcou, mas as ocasiões de que usufruiu, e nesse sentido Lima continua a ser o jogador com maior probabilidade de fazer golos na equipa (talvez a par de Jonas). Este seu arranque de época, e aquilo que dele se tem dito e escrito sobre ele, faz-me lembrar um pouco a situação de Rodrigo há um ano atrás. Para além dos golos - que são o mais importante, obviamente - teve um contributo importante, tanto no envolvimento com bola como ao nível da sua entrega e duelos que travou.

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15.12.14

Porto - Benfica (I): performance colectiva

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Como comentário geral ao jogo, e antes de abordar especificamente cada uma das equipas, diria que a partida não fugiu muito da expectativa que partilhei na antevisão. Ou seja, foi um jogo de poucas chegadas às zonas de finalização, o que sugere um melhor desempenho defensivo do que ofensivo de ambas as equipas. O que não esperava, e sobretudo na primeira parte, era que fosse apenas o Porto a conseguir ameaçar o último reduto contrário, tendo conseguido inclusivamente tirar bom partido das poucas vezes em que conseguiu chegar de forma útil à área de Júlio César. E por aqui se verá que, na minha leitura, o resultado e a vitória do Benfica tiveram sobretudo a ver com um desnível acentuado de eficácia no aproveitamento dos principais lances criados.

Porto - Sinais repetidos (melhor a defender do que a atacar)
No final, Lopetegui tentou contrariar a sentença dos números reclamando para a sua equipa a superioridade no jogo. Não estou totalmente certo da utilidade deste discurso em termos mediáticos, mas não posso deixar de conceder alguma razão à leitura do treinador basco. Mas, vamos por partes...
O melhor da exibição portista, a meu ver, está no capítulo defensivo, indo de encontro a outros sinais já dados nesta temporada, nomeadamente nos jogos fora para Champions. Se contarmos o número de vezes que o Benfica chegou ao último terço portista vamos chegar a valores muito baixos e invulgares para uma equipa com a qualidade dos encarnados. Haverá algum demérito do Benfica (mais abaixo darei a minha visão sobre isso), mas entre peso do mérito de uns e demérito de outros penso que é justo enaltecer sobretudo os créditos portistas, até porque não creio que muitas equipas conseguissem este registo. É claro que o resultado e os dois golos sofridos sugerirão uma análise diferente, que procure até à minúcia explicações causais que possam sugerir alguma lógica ao destino verificado. Se o recurso a esta perspectiva indutiva de raciocínio normalmente não traz bons resultados, neste caso parece-me que só pode mesmo conduzir a conclusões forçadas e de pouco significado lógico. É que nem os golos resultaram de lances onde houvesse um grande descontrolo defensivo, nem o Benfica conseguiu ao longo dos 90 minutos expor o último reduto portista, seja nas costas ou na frente da sua defesa. É claro que haverá reparos individuais a fazer, mas nada que na minha opinião sirva para deixar de concluir sobre o bom controlo defensivo do Porto, apesar do resultado e dos dois golos sofridos.
Menos bem, e também numa repetição indícios anteriores, pareceu-me estar a prestação ofensiva da equipa. É certo que a equipa conseguiu um número importante de ocasiões claras de golo, mas isso terá resultado mais de um bom aproveitamento das chegadas ao último terço, do que propriamente de uma grande capacidade para criar problemas sistemáticos de controlo defensivo ao Benfica, no fundo que correspondessem ao tempo de posse de bola que a equipa teve. Aqui, convém distinguir a primeira da segunda parte, e muito pela postura defensiva do Benfica. Na primeira parte, o Porto conseguiu tirar partido de uma das situações que tinha abordado na antevisão, que eram os movimentos na profundidade dos seus médios, aproveitando a tentativa do Benfica jogar com a sua linha defensiva mais alta. Foi sobretudo pelas dificuldades de controlo do meio campo do Benfica que o Porto criou problemas ao seu adversário nesse período, tendo-se esfumado essa oportunidade quando Jesus baixou as suas linhas, na segunda parte. Aqui, há um ponto que gostaria de abordar particularmente, que tem a ver com a superioridade numérica de que o Porto usufruía no centro do campo, mas que em geral não aproveitou bem. Particularmente, quando a equipa conseguia atrair Lima e Talisca para pressionar os centrais, fazendo também uso do guarda-redes, deixava Enzo e Samaris para controlar Casemiro, Herrera e Oliver, uma vantagem que na primeira parte esteve na origem dos principais problemas defensivos do Benfica, mas que me pareceu ainda assim subaproveitada. Primeiro, por causa de Casemiro, que continua a ter um desempenho com bola muito fraco (defensivamente será o oposto, mas mais sobre isso na análise individual). Justificava-se que o médio jogasse sempre dentro do bloco do Benfica e não que baixasse para a linha dos centrais (o que o retirava da tal zona onde podia criar superioridade), e justificava-se também que tivesse mais capacidade para assumir o jogo com bola, nas costas dos avançados do Benfica, o que não aconteceu. Depois, porque na segunda parte, Oliver e Herrera mantiveram-se demasiado profundos e pouco móveis, o que deixava de fazer sentido quando a linha do Benfica deixou de oferecer os espaços que tinham sido aproveitados na primeira parte. Como nada disto aconteceu, à excepção dos tais movimentos de Oliver e Herrera o Porto voltou a ser fundamentalmente uma equipa de jogo exterior e relativamente previsível, apesar de todo o talento dos seus jogadores.

Benfica - Vitória importante, exibição preocupante
O Benfica pode ter ganho o jogo e possivelmente uma vantagem decisiva na corrida ao título, mas na minha opinião não deixou de fazer no Dragão um jogo bastante medíocre para os seus pergaminhos.
Começando pelo capítulo defensivo, a equipa esteve claramente melhor na segunda parte, quando baixou as suas linhas, depois de ter tido bastantes problemas quando tentou defender em zonas mais amplas do terreno. A ideia de Jesus era usar Lima e Talisca para pressionar os centrais e o pivot, mas frequentemente estes eram atraídos e libertavam Casemiro, valendo ao Benfica a pouca capacidade o médio portista para aproveitar esse facto. Depois, mais atrás, surgiu sobretudo um problema de encaixe, em termos de referências individuais nos médios do Porto. A ideia era que os movimentos dos médios do Porto fossem acompanhados, ora por um dos centrais, ora por um dos médios, mas esse ajuste só foi realmente bem conseguido na segunda parte, quando a equipa passou a defender numa zona mais baixa, e também mais curta, do terreno. Aqui, nota para a diferença na exibição de Samaris, que ganhou muito quando a equipa encostou atrás. De resto, o Benfica foi, como é habitualmente, uma equipa organizada e solidária, com bom relacionamento intersectorial, o que lhe permitiu, com alguma felicidade à mistura é certo, sobreviver sem sofrer golos, num jogo onde passou a maior parte do tempo sem bola e no seu meio campo.
Se defensivamente, e apesar de alguns problemas, a equipa teve um bom desempenho, já com bola não se pode dizer manifestamente o mesmo. O Benfica não conseguiu gerir o jogo com bola, nem tão pouco fazer uso do espaço que o Porto oferecia pela exposição espacial decorrente do facto de estar constantemente em acção ofensiva. Marcou dois golos, é verdade, mas na minha opinião tal resulta essencialmente de um excelente aproveitamente circunstancial daquilo que produziu ofensivamente, e não de uma tradução que corresponda fielmente à seu desempenho ofensivo no jogo. Aqui, temos de separar dois temas, um tem a ver com a incapacidade da equipa se afirmar com bola, o outro com a sua incapacidade de ter mais profundidade nas suas acções ofensivas. Relativamente às dificuldades para ter bola, penso que tal tem que ver com a estratégia de Jesus, que claramente optou por iniciar o jogo através de reposições longas e não assumir o risco de tentar sair desde trás. Percebe-se que tenha tido esse receio, porque o Benfica de hoje não revela grande vocação para envolver o pressing adversário, como fazia no passado, e provavelmente se o tivesse tentado, a equipa acabaria por passar por problemas ao nível da sua segurança em posse. Sucede, porém, que este Benfica também não me parece especialmente vocacionado para jogar a partir de bolas divididas, e a verdade é que perdeu a maioria delas. Talisca pode ter centímetros de sobra mas não é um jogador especialmente forte nos duelos aéreos, e Enzo e Samaris não têm uma presença defensiva tão forte que possa compensar essa lacuna nas segundas bolas. Ou seja, urge que Jesus resolva esta situação e que encontre uma alternativa a partir da qual a equipa possa ser mais eficaz e se consiga assumir perante adversários mais fortes. É certo que sem Europa não sobram muitos embates dessa dimensão, mas convém não menosprezar o campeonato a esta distância do final, até porque não há muito mais a que se agarrar. A minha convicção é que se não evoluir, e tal como aconteceu em Braga e agora no Dragão, o Benfica passará por dificuldades para se impor com bola, sempre que defrontar adversários mais exigentes. Depois, relativamente à pouca profundidade do jogo da equipa, parece-me que o Porto chamará a si boa parte do mérito. Tendo pouca bola, a oportunidade abria-se sobretudo no momento de transição, mas o facto é que o Benfica conseguiu poucas recuperações no corredor central, o que dificultava o desdobramento ofensivo, e contou também quase sempre com uma boa reacção à perda por parte do Porto, cujas qualidades defensivas já elogiei acima.

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12.12.14

Porto - Benfica: antevisão do clássico

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Como qualquer jogo, este poderá ter alguns contornos surpreendentes, seja pelo efeito de um golo, por uma nuance estratégica inesperada ou, claro, por uma formulação errada das expectativas. Ainda assim, valerá a pena o exercício de antecipar o que poderá acontecer no jogo, que aliás me parece intelectualmente bem mais interessante do que a análise à posteriori, ainda que esta possa ser bem mais recompensadora para o ego. Assim sendo, em traços gerais diria que este me parece um embate com probabilidade para ter um bom controlo defensivo de ambos os lados, ainda que com o Porto a assumir mais tempo de presença em posse, pelo menos enquanto não estiver em vantagem. Entre estas duas ideias, a segunda (Porto a assumir mais tempo de posse de bola) parece-me mais segura de se verificar, mas passo a explicar mais detalhadamente a minha leitura sobre o que poderá acontecer...

Organização ofensiva, Porto / Transição ofensiva, Benfica
A tendência, de facto, parece-me apontar para que o jogo se instale mais no momento de organização ofensiva portista. Não porque o Benfica venha a conceder que assim seja, já que provavelmente não deixará de pressionar como sempre faz, mas porque é o Porto quem tem mais tendência para valorizar a sua posse, e jogando em casa essa característica provavelmente acentuar-se-á. Ainda assim, a minha perspectiva não aponta para que existam grandes problemas de controlo defensivo do Benfica. Isto porque, não jogando Quintero, o Porto deverá repetir a sua pouca capacidade de penetração pelo corredor central, apostando mais na sua habitual circulação lateral e na ligação de corredores. Se este cenário se confirmar, o sucesso das iniciativas ofensivas portistas neste momento táctico poderá depender sobretudo dos duelos individuais travados entre os jogadores que actuam junto às linhas, sendo que o Benfica habitualmente consegue um bom apoio defensivo dos seus dois extremos em embates deste tipo. A outra solução para a abordagem portista ao último terço será a exploração da profundidade, mas aí a linha defensiva do Benfica parece-me difícil de bater, desde que o seu meio campo mantenha uma boa presença pressionante, evidentemente. Uma eventual vulnerabilidade encarnada poderá passar pela resposta de Samaris aos movimentos na profundidade de Herrera, já que Jesus costuma pedir aos seus médios para fazer o acompanhamento correspondente, mas o grego tem dado sinais preocupantes ao nível da sua capacidade de resposta.
Outra questão determinante para o jogo será o que se vai passar nas fases iniciais do processo ofensivo portista. Na verdade, a equipa de Lopetegui tem uma % acima da média de ocasiões consentidas no momento de transição ataque-defesa, e muito desse problema passará pelo elevado número de perdas de bola que a equipa acumulou em fase de construção. Aqui, penso que Lopetegui e o Porto se apresentarão bastante avessos ao risco, pelo menos no arranque do jogo, e isso poderá ser importante para que a equipa consiga alguma estabilidade. Ainda assim, é impossível não identificar as fragilidades de vários jogadores, com Casemiro a denotar dificuldades em lidar com o pressing dentro do bloco contrário, com Herrera e Oliver a assumir níveis de risco em posse por vezes desproporcionados quando baixam para perto da primeira linha e com jogadores como Danilo e Maicon também a serem bastante irregulares na sua segurança em posse. Aspectos que, certamente, Jesus e o Benfica tentarão explorar...

Organização ofensiva, Benfica / Transição ofensiva, Porto
Uma das principais dúvidas que tenho passa por perceber que abordagem terá Jesus para a sua fase de construção. O Benfica de hoje é mais frágil a construir desde trás, perdendo muito com a saída de Garay e não tendo ainda em Samaris uma unidade muito fiável sobretudo ao nível da segurança em posse, mas não tem também uma unidade ofensiva como Cardozo, que durante muito tempo permitiu a Jesus apostar numa construção mais longa e menos arriscada em jogos de maior grau de dificuldade. A este nível, os centímetros poderão oferecer a Talisca alguma vantagem sobre Lima na corrida pela titularidade, caso Jesus pretenda ter uma opção estratégica para sair mais longo. A este propósito, já agora, penso que Lima seria globalmente uma melhor solução do que Talisca. Seja como for, não será fácil o papel do Benfica no seu momento de organização, porque o Porto tem revelado uma grande eficácia no seu desempenho perante o ataque posicional dos adversários, com um bloco alto mas geralmente muito compacto. É provável que o Benfica aposte bastante na presença interior de Gaitan, na mobilidade de Jonas, mas também na profundidade de Salvio que poderá causar alguns estragos caso o Benfica consiga a difícil tarefa de provocar a linha defensiva do Porto. Mas, reitero, não me parece fácil que isso aconteça, sobretudo enquanto as equipas conservarem a prudência com que penso abordarão o jogo.
Um dos grandes desafios para o Benfica, no meu entender, estará na capacidade de resposta dos seus médios, em particular de Samaris. Sobretudo se o número de duelos interiores se acentuar (neste ponto, a propensão portista para jogar por fora é uma boa notícia para o Benfica). Pegando no que aconteceu em Braga, por exemplo, vemos que esse foi um ponto decisivo para que o Benfica perdesse o controlo do jogo, e em particular do seu momento de transição ataque-defesa. Com jogadores como Tello e Brahimi à espera de ser lançados no espaço, será fundamental que o Benfica não permita que o Porto faça dos duelos dos médios um ponto de partida para conseguir ter, em transição, o que não terá em organização: espaço.

Quanto vale o clássico na corrida para o título?
Recuperando um exercício que partilhei e expliquei recentemente (e que, por isso, me escuso de o repetir), diria que o clássico terá um potencial para fazer variar as possibilidades de cada uma das equipas se sagrar campeã em cerca de 35% a 40%. Ou seja, se o Porto vencer, passará a ser o favorito, mas se for o Benfica a levar a melhor então a sua vantagem passará a ser bastante substancial e nada fácil de anular (na ordem dos 80%, segundo este modelo de previsão). Ou seja, se formos pelo seu significado literal, talvez seja excessivo apelidar este jogo de decisivo, mas não se poderá ignorar a sua importância na corrida para o título. Como nota final, recordar que estas estimativas têm por base o pressuposto de que Benfica e Porto têm um valor exactamente idêntico, o que obviamente é uma suposição subjectiva. 

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11.12.14

Notas da Champions #6

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Chelsea - Sporting
Se a soma das improbabilidades de Chelsea e Schalke vencerem ofereciam ao Sporting uma boa hipótese de qualificação, rapidamente essas aspirações ficaram reduzidas ao que se passasse na Eslovénia. E aqui reside o principal ponto de critica em relação à performance da equipa, porque se podemos reconhecer que o adversário e o contexto (jogar fora) não eram os mais favoráveis, também teremos de convir que uma equipa que pretende atingir as fases finais de uma prova deste nível deverá ser capaz de oferecer mais resistência perante um adversário que, por muito forte que seja, jogava claramente em clima de descompressão. E, seja por má fortuna de circunstância (o Chelsea chegou ao 2-0 nas suas primeiras duas ocasiões), ou por alguma culpa própria (o Sporting não deveria ter permitido dois lances de golo em tão curto espaço de tempo), a verdade inescapável é que o Sporting não teve essa capacidade.

Algumas notas individuais sobre a equipa do Sporting, e não apenas por este jogo. Primeiro, Nani. Escrevi-o aquando das suas primeiras aparições após o regresso e penso que esta ideia se irá confirmar também na sua ausência. Ou seja, parece-me que sem Nani o Sporting é uma equipa muito mais previsível ofensivamente, nomeadamente pela capacidade do jogador para explorar o jogo interior, e que mais nenhum extremo do plantel oferece. Não direi que o Sporting ficará tão dependente do jogo exterior como foi na época anterior, porque entretanto apareceu também João Mário, que relativamente a André Martins oferece outra capacidade de envolvimento, mas parece-me que ficará certamente mais próximo desse cenário. E, a confirmar-se esta ideia, o alerta ficará também para o que acontecerá na era pós-Nani, porque se em 13/14 a equipa era essencialmente equilibrada entre as suas performances defensiva e ofensiva, com Marco Silva as aspirações colectivas têm sido essencialmente sustentadas pela vertente ofensiva.

Depois, William Carvalho, que vem repetindo exibições que me parecem francamente mediocres, combinando uma assinalável instabilidade ao nível do passe com enormes dificuldades no desempenho defensivo, parecendo claramente pouco vocacionado para defender numa área tão extensa de terreno. Entrando no domínio mais conjectural, pergunto-me o que seria de William se tivesse aparecido apenas este ano na equipa principal e não tivesse já sobre si o estatuto conquistado em 13/14? Inclino-me para pensar que dificilmente teria a titularidade assegurada. Enfim, não sei o que o Sporting e Marco Silva poderão ganhar no futuro com aquilo que estão a pedir a William, mas parece-me que a cada jogo que passa o Sporting está a perder o valor seguro que parecia ter conquistado em 13/14, com prejuízos para o jogador e para o clube.

Finalmente, Paulo Oliveira. No meio do consenso que parece haver em relação às limitações individuais dos defensores do Sporting, o ex-Vitória tem-se afirmado progressivamente com grande segurança e eficácia. Aliás, voltando a um domínio mais conjectural, duvido muito que Rojo fosse capaz de oferecer os mesmos índices de segurança e regularidade, porque o argentino sempre foi um jogador com uma razoável propensão para o risco e para o erro, e nesta temporada o nível de exposição que os centrais do Sporting tem sido assinalável e muito maior do que em 13/14. Ou seja, não estou seguro de que o Sporting tenha ficado a perder com a troca de Rojo por Paulo Oliveira, e também não vejo como provável que a equipa venha a resolver os seus problemas defensivos com a chegada de novos defesas centrais no mercado de Janeiro, naquilo que me parece um evidente retrocesso ao paradigma anterior (como já expliquei noutro texto). Mas o futuro se encarregará de esclarecer isto, num sentido ou noutro...

Outras notas finais sobre a fase de grupos
- Uma nota sobre a performance do Mónaco e de Leonardo Jardim que conseguiu vencer um grupo onde provavelmente seria o menos favorito. O grande destaque, claro, vai para o registo defensivo da equipa, com apenas 1 golo sofrido, o que não sendo inédito parece-me que já não acontecia há muito tempo numa fase de grupos. É claro que há muito de circunstancial neste registo defensivo (como, alíás, mostra o quadro de ocasiões), mas não deixa de mostrar como foi pela via da organização e equilíbrio colectivo que o treinador português conseguiu este feito improvável. Aliás, normalmente é essa a via para potenciar as hipóteses de sucesso de quem não tem do seu lado a vantagem do talento individual.

- Sem grandes surpresas nesta fase, será já possível equacionar grandes embates para os oitavos de final, aparecendo equipas como Arsenal, Man City, Juventus e PSG entre o grupo de segundos classificados. Pessoalmente, saúdo a perspectiva de grandes jogos já a partir da próxima fase...

- Sobre os jogos de Benfica e Porto vou dispensar os habituais comentários, dada a sua insignificância competitiva. Em breve, conto escrever sobre o que realmente estava na cabeça dos dois clubes nesta jornada europeia: o clássico do fim de semana.

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4.12.14

Destaques individuais do Brasileirão Serie B

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Não será, certamente, uma análise que diga muito a muita gente, dado o anonimato da generalidade destes jogadores para a maioria dos adeptos. Ainda assim, arrisco partilhá-la, sobretudo por ter uma base factual bastante significativa (ou seja, os destaques não resultam da minha opinião sobre os jogadores mas antes dos dados recolhidos nos jogos realizados). Na minha análise, a maioria destes jogadores dificilmente teria capacidade para se afirmar num clube grande português, mas por outro lado quase todos eles seriam sem grandes dúvidas mais valias potenciais para a generalidade das equipas da liga portuguesa (que, infelizmente e por outro lado, não deverão ter grandes hipóteses financeiras para conseguir atrair estes jogadores). No entanto, todos eles tiveram um rendimento objectivamente muito elevado ao longo de um período considerável de competição, o que sugere um potencial que a meu será um erro desprezar. Dentro de algumas semanas, deixarei o mesmo tipo de análise para a série A do Brasileirão e também para o campeonato argentino, onde surgirão certamente figuras de maior potencial. Deixo alguns destaques, esclarecendo que esta análise se foca sobretudo nos jogadores que são protagonistas frequentes nas principais jogadas de golo das equipas, e por isso deixa de fora defensores e boa parte dos médios deste campeonato. 
No topo desta tabela, surgem Rodrigo Pimpão e Magno Alves, e ambos são merecedores de uma atenção especial, por motivos diferentes. Rodrigo Pimpão porque consegue este destaque absoluto numa equipa que desceu de divisão, o que é notável. Magno Alves, porque fez um campeonato fantástico e muito desgastante aos 38 anos, ficando claramente a ideia que a sua carreira podia ter tido outra notoriedade (apesar de tudo, foi internacional brasileiro) se tivesse tido outras opções na sua carreira, tendo passado muito tempo no continente asiático e nenhum na europa. Entre os outros jogadores, destacaria os casos de: Junior Viçosa, que esteve ausente muito tempo devido a lesão, mas que conseguiu ainda assim um rendimento elevado; Na mesma categoria estarão jogadores como Rafael Costa, Edgar, Jael, Pimentinha, Thalles e Mancini (ex-Roma e Inter). Fernando Karanga e Tomas, do Boa, que são duas das principais revelações da prova e que provavelmente terão ofertas financeiramente atractivas nesta altura, provavelmente para paragens longínquas; Anderson Lopes, Edigar Junio, Jorginho e Cafu por serem dos poucos jogadores nesta lista com idade inferior a 25 anos.
Entre os guarda redes, nota para a presença de Marcos entre os destaques, ele que já havia deixado muito boa impressão na sua passagem por Portugal ao serviço do Marítimo.


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2.12.14

Notas da jornada 11

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Sporting - V.Setúbal
Se frente ao Maribor o Sporting havia tido uma exibição de grande superioridade, imposta tanto no plano defensivo como ofensivo, frente ao Vitória esse registo ainda foi mais acentuado. Aliás, a comparação desses dois jogos dará também mais um bom exemplo de como no futebol o marcador está longe de ter uma correspondência lógica e directa com aquilo que as equipas fazem em campo. Frente ao Maribor, o Sporting fez 3 golos em pouco mais de um hora de jogo, mas desperdiçou depois a hipótese da goleada na fase onde lhe foi mais fácil criar ocasiões. Frente ao Vitória, e em sentido inverso, foi no arranque do jogo que o Sporting foi mais forte e acumulou mais ocasiões claras para marcar, mas foi na fase em que o seu futebol foi menos expressivo que o resultado se definiu. Evidentemente que é mais provável marcar-se nos períodos em que se fica mais próximo do golo, mas no futebol a aleatoriedade tem papel muito relevante, jogo a jogo.

No Sporting, nota para a opção pela utilização simultânea de Montero e Slimani. Esta é uma solução sobre a qual já havia escrito fazer sentido, sobretudo antes do aparecimento de João Mário entre as principais opções. E fará sentido, porque é relevante ter jogadores com boa capacidade de movimentação no último terço e que se tornem mais dificeis de controlar nas zonas mais próximas da baliza. Aqui, porém, há que ressalvar que Montero não tem, nem a capacidade de envolvimento de João Mário nas fases mais precoces do jogo ofensivo da equipa (basta comparar o grau de participação de ambos), nem tão pouco tem a mesma eficácia nas suas presenças em posse (basta comparar a % de perdas de bola de ambos), destacando-se aqui o seu perfil de decisão que é pouco ajustado a um envolvimento nas primeiras fases do jogo ofensivo da equipa, podendo acrescentar bastante risco ao equilíbrio posicional da equipa. Ou seja, diria que a inclusão de Montero neste registo faz sentido, mas provavelmente apenas em jogos onde o Sporting consiga resolver sem dificuldades de maior o problema da primeira fase de construção, como foi o caso deste jogo.

Uma nota sobre o Setúbal que repetiu nova exibição de grande incapacidade, depois de o ter feito também frente ao Benfica. A subida da linha defensiva tem como pressuposto lógico o encurtamento de espaços por forma a conseguir maior capacidade de pressão no espaço interior, mas no caso do Setúbal isso não acontece e, como tal, a subida da linha defensiva resulta apenas numa transferência de risco de exposição, do espaço entrelinhas para as costas da defesa, o que aumenta obviamente as possibilidades de sofrer dissabores. Se Domingos não corrigir alguns aspectos desta equipa, dificilmente se salvará de um campeonato que, na melhor das hipóteses, será sofrível.

Académica - Benfica
Este jogo marca o inicio do resto da época do Benfica, depois da eliminação europeia. Para já, pode dizer-se que a resposta foi positiva, num jogo que não foi brilhante mas que foi bem conseguido do ponto de vista do controlo defensivo, ajudando muito a eficácia que a equipa conseguiu nas primeiras ocasiões de golo criadas, o que lhe permitiu rapidamente a possibilidade de gerir o jogo. Olhando retrospectivamente para o ciclo do Benfica sob o comando de Jesus, vemos que as suas equipas se deram quase sempre muito bem quando não tiveram de dividir atenções entre campeonato e europa, e se esse dado não servirá para garantir seja o que for, serve pelo menos de indicio para a expectativa que podemos formar em relação à resposta que o Benfica virá a dar nas competições que lhe restam disputar esta temporada.

Uma nota sobre a aposta na dupla Jonas-Talisca. Se quanto a Jonas creio que não restam dúvidas a praticamente ninguém, já relativamente a Talisca eu mantenho as minhas reticências. Aliás, diria que Lima e Talisca tiveram arranques de temporada radicalmente diferentes. Isto é, enquanto que Talisca teve um aproveitamento pleno das ocasiões de que desfrutou, Lima teve uma eficácia muito baixa, mas isso não quer dizer que Lima tenha contribuído menos do que Talisca para os desequilíbrios que a equipa criou, antes pelo contrário de acordo com algumas análises que já partilhei. Neste sentido, o facto de Talisca ter marcado mais do que Lima não implica que Talisca tenha maior probabilidade de marcar do que Lima, sendo que me parece que entre os dois é Lima que mais condições tem para fazer uma boa parceria com Jonas, já que sendo um jogador de maior profundidade pode libertar Jonas para um papel mais móvel, que manifestamente me parece assentar-lhe melhor.

Porto - Rio Ave
Se acima escrevi que o futebol pode ser muitas vezes pouco lógico na forma como o resultado se define, este é mais um jogo a servir de exemplo para essa ideia. Isto, porque estou de acordo com a ideia de Lopetegui, de que foi na primeira parte que a equipa melhor esteve, mesmo se a diferença entre o resultado das duas metades não podia sugerir de forma mais clara a ideia contrária. De facto, parece-me que o Porto teve uma boa entrada em jogo, criando bastantes problemas ao Rio Ave, e que acabou por fazer uns 25-30 minutos sofríveis na segunda parte, onde teve essencialmente a felicidade que não havia tido nos primeiros minutos.

Duas notas sobre a exibição portista. Primeiro, para voltar a referir-me ao controlo defensivo da equipa, que não passou por um número muito grande de sobressaltos, é verdade, mas que permitiu que o Rio Ave chegasse com uma assinalável regularidade até ao último terço, algo que já havia acontecido na recepção ao Nacional, e que estranhamente contrasta com o registo bem mais seguro que a equipa teve nos últimos dois jogos europeus. Um dado atípico e que importa continuar a acompanhar. A segunda nota vai para o regresso de Quintero às segundas opções, o que volta a retirar ao Porto grande parte da capacidade de extrair qualquer coisa do seu jogo interior. Isto porque, e como já escrevi, continua a não me parecer haver grande foco colectivo para a exploração dessa via, sendo Quintero provavelmente a melhor forma de individualmente ajudar a colmatar essa lacuna. Aliás, como se viu na maravilhosa assistência que realizou. Uma nota também para o Rio Ave, que fez um jogo bastante competente em vários aspectos, mas que acabou penalizado por perdas de bola em zona de construção, com 3 dos 5 golos a ter como ponto de partida esse problema. Pode-se ter equipas boas nos mais variadissimos aspectos, mas na minha opinião não dá para construir uma equipa fiável sem garantir segurança a este nível.

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27.11.14

Notas da Champions #5

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Bate - Porto
O contexto era diferente, o valor do adversário também, mas o produto final da exibição portista neste jogo foi muito semelhante àquele realizado no país basco, frente ao Athletic. Ou seja, uma equipa bem organizada nos seus momentos defensivos, com um controlo praticamente perfeito do adversário, mas sem grande capacidade para ser incisivo no último terço. Neste sentido, parece-me, a vitória portista não merece contestação, mas o seu registo ofensivo resulta sobretudo de um aproveitamento pleno das ocasiões criadas e não tanto de uma grande capacidade para criar situações de golo. Este, de resto, continua a ser o grande problema do Porto de Lopetegui, não tanto a nível europeu, mas com repercussões sobretudo no registo interno, onde a sua produção ofensiva tem estado abaixo do esperado. E, novamente também, o défice de jogo interior surge como principal candidato a factor explicativo deste fenómeno do futebol portista actual. No paralelismo entre o que a equipa tem feito interna e externamente, de resto, sobra também uma nota de reflexão em relação ao controlo defensivo, já que as recentes exibições europeias tiveram um controlo defensivo substancialmente superior àquele registado nos confrontos contra Nacional e Estoril, o que não se pode deixar de estranhar em face do grau de dificuldade de cada um destes desafios. Um problema que, na minha leitura, tem a ver com os níveis de risco assumidos nos dois planos competitivos, interno e externo, sendo que internamente o Porto se tem exposto mais, provavelmente pela consciência da necessidade imperiosa de fazer golos e da pouca confiança que terá na sua própria capacidade de resposta a esse nível.
Uma nota a nível individual para Marcano e para a questão dos centrais. Primeiro, sobre o tema de se ter dois centrais canhotos, que aparentemente será um problema para o Porto, a julgar por algumas análises que vi. A minha questão é porque é que ninguém levanta o mesmo tipo de problema quando, numa qualquer equipa, jogam dois centrais destros, como tantas vezes acontece? Não percebo... Depois, mais concretamente sobre Marcano, que ao que me parece é visto de forma quase unânime como o pior central do Porto. Já o escrevi, e mesmo se o tempo de observação ainda é curto, este jogo voltou a reforçar a minha opinião, de que o espanhol tem sido a solução que melhor rendimento tem dado à posição. Relativamente a Maicon, tem revelado uma propensão para o erro muito menor, e relativamente a Indi parece-me ter uma capacidade de intervenção defensiva substancialmente superior. Dá-me a ideia que ficou mediaticamente penalizado pelo facto de ter jogado em alguns jogos colectivamente pouco conseguidos nesta temporada (nomeadamente frente ao Sporting), mas na minha avaliação (que, reconheço, relativamente a centrais é tudo menos consensual!) isso não implica que individualmente as suas exibições tivessem sido más. No caso, muito pelo contrário.

Sporting - Maribor
Um jogo de grande superioridade do Sporting, confesso até para além das minhas próprias expectativas. A vitória é incontestável, e o resultado pecará até por escasso, sobretudo tendo em conta aquilo que foram os 20 minutos do jogo. Que hipóteses tem o Sporting agora de se apurar? Bom, digamos que o desfecho mais provável dos dois jogos finais é que o Schalke vença na Eslovénia e que o Sporting perca em Londres, mas que isso não impede que as hipóteses de apuramento sejam claramente favoráveis ao Sporting, diria na ordem dos 65%. Pode parecer paradoxal, mas não é...
Uma nota sobre o registo defensivo da equipa, que voltou a ser abordado no final do jogo. O Sporting tem tido de facto problemas graves a esse nível, e sobre os quais tenho escrito repetidamente. Neste jogo, porém, não os teve. O Maribor atacou, sim, e até marcou um golo, mas isso não quer dizer que tenha sido especialmente ameaçador durante os 90 minutos, e a realidade é que não o foi. De resto, tomara o Sporting ter tido a mesma capacidade de controlo defensivo que teve neste jogo nas recepções recentes, a Marítimo e Paços de Ferreira, e parece-me importante que haja a capacidade de distinguir as situações, porque não se pode desvalorizar o que se passou em muitos dos jogos recentes para vir depois sobrevalorizar uma reacção como a que teve o Maribor, sob pena de não se saber se a equipa está ou não a produzir aquilo que dela se exige.
Uma nota incontornável no plano individual, para Nani. Não pelo lado estético da sua performance mas, e como sempre tento fazer, mantendo o foco na produção objectiva do jogador. À excepção do primeiro golo, foi o denominador comum de todas as principais ocasiões da equipa, tendo estas sido em quantidade substancial. Uma exibição fantástica, muito difícil de igualar e que revela a importância que a chegada de Nani teve para o Sporting e para Marco Silva.

Zenit - Benfica
O cenário da eliminação europeia estava desenhado desde a segunda jornada. Não era uma inevitabilidade, claro, mas quem perde dois jogos num grupo tão equilibrado como este, nunca pode deixar de ignorar a probabilidade desse destino. Na minha opinião, a má campanha europeia do Benfica justifica-se sobretudo por esses dois jogos e não por aquilo que se passou a seguir, e muito concretamente não por este jogo. É fácil pegar nos resultados, na carga emocional que eles acarretam, e fazer análises que partem do efeito para as causas, fazendo tudo parecer uma inevitabilidade, mas esse é um oportunismo que neste caso me parece intelectualmente reles e que por isso rejeito. O Benfica perdeu o jogo, é certo, mas perdeu-o frente a um adversário de potencial idêntico ao seu, jogando fora, e num jogo que discutiu de igual para igual, tendo sido em minha opinião até ligeiramente superior em diversos momentos. O jogo, por isso, não me parece merecedor de grandes reparos ou motivos de preocupação, por muito que o resultado e a eliminação consequente possam trazer consigo uma carga emocional negativa e difícil de ignorar. O mesmo não se poderá dizer dos tais dois primeiros jogos desta fase de grupos, mas sobre eles é bom que o Benfica já tenha retirado as ilações devidas. Resta à equipa agora continuar a evoluir colectivamente, tendo como conforto a noção de que internamente a sua situação é bastante favorável, tendo por isso boas condições para repetir os sucessos internos do ano anterior.

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25.11.14

Os principais desequilibradores da Liga 14/15

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Partilho a lista dos principais desequilibradores da liga portuguesa até à 14/15, de acordo com o tipo de análise que venho mantendo. De forma breve, deixo alguns destaques (com foco assumidamente centrado nos "grandes"), fazendo notar que o tempo de utilização é ainda curto para que se possam tirar grandes conclusões. Primeiro, obviamente, para Deyverson que está a fazer um inicio de temporada assombroso, aparecendo no topo deste ranking, o que é fantástico para um jogador que actua numa equipa com o volume ofensivo do Belenenses. No Porto, e apesar da modéstia da prestação ofensiva da equipa, Jackson volta a surgir como uma figura incontornável de destaque, o que volta a sustentar a qualidade do colombiano. O outro nome portista nesta lista é Brahimi, de quem provavelmente se esperaria maior destaque dentro desta lista. A verdade, porém, é que o argelino tem conseguido ser bem mais contundente na Champions do que na Liga, sendo ainda assim provável que o tempo venha a atenuar essas diferenças. No Benfica, Gaitan mantém-se como o jogador com mais presença criativa nas ocasiões de golo da Liga, tal como foi na época transacta. Mas no Benfica, há outros nomes a sublinhar, como o de Talisca, que vem marcando a diferença mais pela eficácia do que pela frequência com que desequilibra (já tenho escrito bastante sobre isto), Lima,  que é um caso inverso ao de Talisca, e Salvio, que vem mantendo uma regularidade desequilibradora significativamente acima daquilo que Markovic havia feito na sua ausência no ano anterior. No Sporting, Nani surge sem surpresa entre os destaques, mas também Carrillo surge num nível de rendimento muito elevado a este nível, o que poderá ser mais surpreendente. No que respeita aos avançados, Slimani e Montero dividiram o tempo de utilização e por isso se percebe que nenhum dos dois possa estar mais próximo do topo desta lista. Ambos mantiveram uma boa presença nas principais situações de golo da equipa, mas o caso do argelino é claramente aquele que merece maior destaque, já que apesar do pouco tempo de utilização foi o segundo jogador com mais presença em situações de finalização em toda a competição. Uma constatação que, como já tenho escrito, me parece definir claramente a mais valia que o argelino pode representar para Marco Silva.

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20.11.14

As probabilidades do campeonato

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É o que os adeptos querem saber e anseiam por descobrir ao longo da época, se o seu clube se vai sagrar campeão! Naturalmente, ninguém tem uma bola de cristal que possa matar essa ansiedade, e neste sentido não haverá alternativa a esperar para ver o que vai acontecer, mas talvez seja possível ter uma ideia razoável das probabilidades de cada equipa. E é precisamente esse exercício que venho propor e partilhar.

Metodologia
A ideia é estabelecer um valor arbitrário para cada equipa e, a partir daí, obter as probabilidades de vitória, empate e derrota em cada um dos jogos que faltam, somando aos pontos daí resultantes aqueles que já foram conquistados. Se simularmos isto uma única vez, claro, vamos obter um resultado fortemente influenciado pela aleatoriedade, e que por isso nos vai dizer pouco. Mas, se a simulação for repetida um número considerável de vezes, então poderemos isolar com bastante segurança o ruído que vem do factor aleatório e ficar com expectativas resultantes apenas do desempenho esperado das equipas (o método "montecarlo", para quem estiver familiarizado). Assim, a tabela que apresento representa o resultado de 500 simulações do campeonato.

Importa, claro, perceber também o ranking pré definido para as equipas. Tentando ir de encontro àquela que será, parece-me, a visão mais comum, considerei Benfica e Porto com igual valia, o Sporting entre estes dois e o Braga, seguindo-se as restantes equipas.

O peso da aleatoriedade, mesmo numa prova de longo prazo
Para além das probabilidades e expectativas obtidas, parece-me haver algumas reflexões interessantes que decorrem deste exercício. Em particular, o desprezo que existe pela possibilidade do factor aleatório determinar posicionamentos inesperados. Explicando melhor, todas as simulações são feitas sob os mesmos pressupostos, que se mantêm sempre constantes, mas isso não impede que tenhamos pontuações e classificações finais bastante variáveis e algumas que consideramos surpreendentes. Por exemplo, Benfica e Porto têm respectivamente 4% e 12% de ficar fora dos 2 primeiros lugares, mesmo mantendo-se como as duas melhores equipas ao longo de todo o campeonato, assim como o Sporting terá 22% de hipóteses de ficar fora dos 3 primeiros lugares, mesmo num exercício que o considera constantemente e de forma bastante clara como a terceira melhor equipa. Ou seja, mesmo numa prova de longa duração como é um campeonato o factor aleatório por si só tem a capacidade de nos proporcionar resultados pouco consentâneos com o valor das equipas. Ora, em abstracto isto até pode parecer racional e pouco surpreendente, mas na realidade emotiva do futebol nunca vemos alguém explicar classificações invulgares dando grande relevância ao factor aleatório. A cultura passa por, diria quase sem excepções, extrair conclusões sobre o mérito e o demérito dos protagonistas, atribuindo aos resultados e classificações uma significância de carácter insofismável. E aqui, devo ainda ressalvar que existe um positivismo exacerbado nesta análise, porque raramente o valor das equipas se mantém constante ao longo de um campeonato como aqui é suposto, e sobretudo porque há a tal irresistível tentação de reagir aos resultados, alterando muitas vezes coisas sem critério e justificação (treinadores, jogadores, etc). Ou seja, o efeito real da aleatoriedade pode ser ainda mais perverso do que aquele que é aqui apresentado, nomeadamente por precipitar actos de gestão que não raramente acabam por ser prejudiciais. A conclusão de tudo isto, e na minha análise, não é que não se deve ter métricas objectivas para o trabalho que é realizado nas equipas (usar métricas arbitrarias como às vezes vejo sugerido será provavelmente ainda mais perigoso), mas antes que será fundamental encontrar indicadores igualmente objectivos mas não tão dependentes da componente aleatória, não ficando assim apenas centrado nos resultados.

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17.11.14

Notas do Portugal - Arménia

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- Penso que é perfeitamente possível fazer um paralelismo entre esta exibição e a que terminou com a derrota frente à Albânia. O volume de jogo conseguido pela Selecção foi semelhante, assim como as ocasiões claras criadas. Na verdade, parece-me até que a Arménia foi mais perigosa do que a Albânia, sendo que a diferença esteve, e de forma clara, na eficácia. Uma evidência (à luz desta análise, evidentemente...) de como no futebol os aplausos e os lenços brancos estão frequentemente muito mais dependentes de factores incontroláveis do que aquilo que à posteriori nos parece.

- Fernando Santos optou por alterar a sua estrutura, e tenho algumas dúvidas sobre a utilidade dessa opção. Em parte porque pareceu pouco natural o ajuste dado aos jogadores da frente, mas sobretudo porque se perdeu a oportunidade de desenvolver a ideia que o treinador em princípio utilizará nos jogos mais importantes e que, no fundo, deverão acabar por definir o sucesso ou insucesso na campanha para o Euro 2016. Era possível manter a estrutura, dando-lhe uma dinâmica diferente, sobretudo com uma missão menos posicional nos 3 médios, relativamente ao que acontecera frente à França e Dinamarca. Em termos de ajuste específico às características dos jogadores, parece-me que Portugal teria a ganhar em continuar a oferecer liberdade a jogadores como Danny e Nani.

- No que respeita à exibição da equipa portuguesa, destacaria de forma breve dois pontos menos positivos. Em termos ofensivos, pareceu-me haver alguma dificuldade na criação de dinâmicas de penetração no último terço, em especial no inicio da segunda parte onde me pareceu ter sido dado maior enfoque ao corredor central, mas sem que a equipa tivesse revelado a dinâmica suficiente para fazer essa ligação com qualidade e de forma mais apoiada, acabando por verticalizar muito e de forma previsível, perante uma linha defensiva muito baixa e por isso pouco vulnerável na exploração da profundidade. O outro ponto menos positivo diz respeito ao momento de transição defensiva, sendo verdade que a Arménia não se soltou ofensivamente com grande frequência ao longo do jogo, mas sendo também evidente a constante necessidade dos jogadores portugueses em recorrer à falta para evitar males maiores, o que resultou num invulgar número de faltas e cartões amarelos para os jogadores mais defensivos. Um aspecto a rever e corrigir, já que perante formações mais fortes, o preço a pagar será previsivelmente maior.

- Interessante o caso de Postiga, que não é único mas é muito comum. Ou seja, frequentemente discute-se o que os avançados podem trazer à equipa, mas quase sempre as conclusões reflectem mais a ideia pré concebida que é tida sobre cada um dos jogadores, do que propriamente aquilo que, na prática, realmente se observa no terreno de jogo. Postiga é um exemplo (há outros, como escrevi) disto porque constantemente se diz que traz maior capacidade de envolvimento e de ligação com os jogadores de linhas anteriores, mas a verdade é que invariavelmente a sua participação no jogo é extremamente reduzida e não especialmente eficaz. Frente à Arménia, Postiga completou 7 passes em 55 minutos, um registo quase desprezível numa partida com este volume de jogo e, comparativamente com outras opções, 3 vezes inferior ao de Eder nos 35 minutos que jogou, e igualmente muito menos participativo do que foram qualquer dos atacantes portugueses no jogo da Dinamarca, onde o volume de jogo colectivo foi muito inferior. Isto não quer dizer que Postiga não possa trazer mais valias à Selecção, sendo um jogador obviamente evoluído do ponto de vista técnico (o equívoco, creio, resulta daqui) e na minha opinião aquele que mais qualidade de finalização garante, relativamente a Eder e Hugo Almeida (embora, me pareça que Portugal deve contemplar a hipótese de actuar sem um referência mais fixa). O que não penso é que a sua inclusão deva ser considerada com base em expectativas equivocadas. 

- Ainda no capítulo individual, nota para a exibição de Moutinho. Assumiu, com Tiago, uma função mais posicional, mas destacou-se claramente nesse papel. Também ao nível do passe, onde esteve perto da centena de ligações bem sucedidas, mas sobretudo pela espectacular exibição defensiva, no momento de transição ataque-defesa. Foi protagonista de 23 acções defensivas neste momento táctico,  mais do dobro do segundo jogador com mais interventivo da equipa em transição defensiva.

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11.11.14

Notas do fim de semana

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Nacional - Benfica
Se o triunfo, pela sua importância, arrancará certamente sorrisos entre a generalidade dos adeptos encarnados, já a exibição não parece agregar o mesmo entusiasmo, a começar pelo próprio treinador. A minha opinião, relativamente à performance da equipa, é de que a recta final do jogo foi de facto pouco conseguida, havendo alguns aspectos a rever, mas de todo não concordo com a ideia de que os 3 pontos tenham sido a única coisa boa que o Benfica tem para extrair desta visita à Choupana.
Começando pelos aspectos positivos, destacaria essencialmente a primeira parte. Aí, o Benfica conseguiu sempre um bom controlo do jogo e do adversário e teve, junto da baliza contrária, uma proximidade significativa com o golo. É verdade que nunca conseguiu impor uma grande fluidez na sua posse, mas num jogo de bastantes bolas divididas, o Benfica conseguiu sempre desdobrar-se bem em ataques rápidos a partir desse tipo de situações, não concedendo por outro lado que o Nacional fizesse o mesmo. A outra nota positiva do jogo vai para Jonas, que definitivamente se parece confirmar como uma grande mais valia para o Benfica 14/15: baixa para oferecer linhas de passe no corredor central, entra nas costas dos extremos aproveitando o arrastamento do lateral (neste particular, combinou especialmente bem com Salvio), e aparece depois com propósito na zona de finalização. Muito bom!
Do outro lado da moeda, está a segunda parte, em especial os últimos 15-20 minutos do jogo. Primeiro, o Benfica perdeu profundidade ofensiva mas foi mantendo o controlo do adversário. Depois, na tal fase final de maior risco por parte do Nacional, perdeu também boa parte do controlo defensivo que até aí havia tido, não recuperando quer a capacidade para controlar o jogo com bola (que nunca teve), nem tão pouco a profundidade ofensiva (mesmo numa fase de maior risco e exposição por parte do Nacional, o que se estranha). Haverá várias explicações e motivos que contribuirão para este mau bocado que o Benfica passou, mas não posso deixar de destacar o pouco impacto que teve a introdução de Samaris, cuja entrada em campo tinha como objectivo acrescentar precisamente segurança numa fase que se previa de maior risco por parte do adversário. Acontece que Samaris, de facto, não parece muito vocacionado para a posição 6. Com bola, tem qualidade técnica, mas não tem o critério adequado para a posição que ocupa, como se viu na forma como geriu algumas intervenções no jogo, e que serviram de mote para a reacção final do Nacional. Sem bola, não parece ter agressividade nem capacidade de intervenção para que possa dominar uma zona tão fulcral como a que lhe é confiada. Confesso que estranho a aposta num jogador com estas características, tendo em conta o acerto que Jesus havia revelado nas suas escolhas anteriores para esta posição, mas o que é certo é que o Benfica se encontra realmente com um problema por resolver e que provavelmente assim continuará até à recuperação de Fejsa.

Sporting - Paços
A análise ao jogo foi dividida, por quase todos, em duas partes. Os primeiros e os segundos 45 minutos (na verdade, a partição de Marco Silva apontou para 30-60). Eu talvez preferisse 3 divisões, para melhor explicar o jogo...
1- Os primeiros 30 minutos - Notável entrada no jogo do Paços, contando com o contributo do Sporting que foi, na melhor das hipóteses, negligente. Paulo Fonseca voltou a definir uma equipa com as mesmas características, ou seja oferecendo grande incidência ao jogo interior e ao corredor central. A equipa tenta sair a jogar a partir de trás, e fê-lo mesmo perante o pressing do Sporting, sendo que para isso envolve os dois médios na primeira fase de construção, criando mais apoios nessa zona e atraindo o pressing contrário. O papel do duplo pivot é depois também muito importante para a reacção à perda, que me pareceu bastante boa por parte do Paços. Mais à frente, os alas têm uma grande vocação interior, sendo a largura normalmente garantida pelos laterais. Perante isto, o Sporting subiu as suas linhas para pressionar, como quase sempre faz, mas acabou sistematicamente exposto nas costas da sua linha média, numa sucessão de jogadas que expuseram a linha defensiva e que só por alguma falta de inspiração dos jogadores do Paços não terminaram num número significativo de ocasiões de golo. Aqui, e do ponto de vista do Sporting, destacaria a baixa intensidade revelada por alguns jogadores, pouco concentrados com bola, e pouco reactivos defensivamente. Em particular, na minha opinião, Carrillo e William, de resto os dois que Marco Silva deixou nos balneários. O caso de William, de resto, começa a ser flagrante, dada a pouca vocação que o jogador tem para defender numa área tão extensa do terreno. Com os dois médios a subir em simultâneo para pressionar, é importante que exista uma boa capacidade de recuperação destes jogadores, assim que a bola entre nas suas costas, como tantas vezes aconteceu neste jogo. Só que William não tem essa capacidade, e neste como noutros jogos, sempre que a bola entrou nas suas costas, só muito dificilmente o médio do Sporting voltou a intervir defensivamente na jogada. Tendo a ver o caso de William da mesma forma que vejo o dos defensores (à excepção de Sarr, como já escrevi). Ou seja, o problema das suas dificuldades relativamente ao ano anterior não me parecem tanto resultar de uma alteração súbita do rendimento individual, mas antes de uma alteração do contexto colectivo, que hoje é muito menos ajustado às suas características individuais. Uma nota final, relativamente a este período, para Paulo Fonseca. O ex-treinador do Porto foi mediaticamente devastado na época passada, mas a verdade é que esta segunda vida em Paços está a evidenciar que a sua rápida ascensão até ao topo do futebol português não terá sido um acidente. Equipas da dimensão do Paços, a jogar como o Paços? Não haverá muitas...
2- do golo do Paços, até à expulsão - Não é uma ideia que pareça muito racional, mas é um facto que o jogo é dominado por reacções emocionais dos jogadores às circunstâncias do jogo. Por isso, por exemplo, temos significativamente mais golos nos minutos finais das partidas. No caso deste jogo, o Sporting - e tal como referiu Marco Silva - reagiu de facto ao golo sofrido, e não o fez apenas na segunda parte. A equipa tornou-se essencialmente mais agressiva e intensa, e isso fez com que tivesse assumido definitivamente as rédeas de um jogo que até aí havia sido claramente dominado pelo seu adversário. Mas há duas coisas a dizer sobre este período, e que o distanciam dos minutos finais. Primeiro, que apesar da maior iniciativa e de algumas boas chegadas ao último terço, o Sporting criou muito poucos lances de perigo efectivo até à expulsão, sendo de alguma forma feliz pela improvável eficácia do remate exterior de Montero. Segundo, que neste período o Paços foi obrigado a uma maior presença defensiva, mas não deixou de expor defensivamente o Sporting, em especial o seu espaço entrelinhas, continuando por isso ameaçador.
3- depois da expulsão - Se até aqui o Sporting havia tido, no máximo, um ascendente sem grandes consequências objectivas ao nível da proximidade real com o golo, após a expulsão a equipa aproximou-se finalmente daquele que era o seu objectivo inicial, a vitória. E é este período, que, afinal, permite alguma divisão de perspectivas. Por um lado, poder-se-á dizer que, pelas ocasiões que perdeu neste período, o Sporting foi infeliz em não ter ficado com os 3 pontos. Por outro, argumentar-se-á que ao demorar tanto tempo para impor a superioridade o Sporting potenciou o seu próprio risco de insucesso no jogo. As duas ideias parecem-me válidas, assim como me continua a parecer evidente que para ter a consistência de resultados que pretende, o Sporting precisará também de ter uma consistência organizacional que no campo continua a não ter.

Estoril - Porto
O Porto regressou ao campeonato, e regressou também ao padrão que havia marcado o seu arranque de temporada. Ou seja, muito domínio territorial, tanto por vontade própria como por cedência estratégica do seu adversário, mas paradoxalmente e apesar de todo o talento que a equipa tinha em campo, também sem um número correspondente de ocasiões claras de golo. Aliás, é surpreendente como no final de uma partida como esta, o Estoril acaba por ter um número equivalente de jogadas de grande potencial ofensivo, mesmo com tanta submissão territorial. Mas, como referi, este não é um cenário novo na época portista, assim como não são as dificuldades de utilização do corredor central ou a dependência da circulação lateral e das iniciativas individuais dos extremos no último terço ofensivo do Porto.
A critica do pós-jogo vai para a inclusão de Adrian ao lado de Jackson, numa opção que já estava conotada com o insucesso, na sequência do jogo da Taça. Pessoalmente, não faço esse tipo de associações, que estou seguro tão apelativas como falaciosas, nem tão pouco compro a critica da "rotatividade" tal como a tenho visto apresentada, mas também penso que as coisas precisam de uma lógica, e neste caso confesso que não consigo desvendar nesta opção de Lopetegui. Ou seja, se a equipa havia denotado melhorias com opções que lhe trouxessem outra capacidade no jogo interior, particularmente perante equipas previsivelmente mais fechadas, então fazia sentido que Lopetegui voltasse a insistir nessa opção. E mesmo não podendo ter Quintero de inicio, o treinador tinha Oliver como solução para esta linha de raciocínio. Se a rotatividade de Lopetegui for uma gestão de recursos em função do desgaste e da estratégia competitiva, então há uma lógica que me parece fazer sentido e não vejo problema com ela, ou evidência concreta de que seja uma opção menos virtuosa do que a sistematização de um onze. Mas há também a hipótese de Lopetegui estar a utilizar a rotatividade fundamentalmente para distribuir minutos pelos diversos jogadores, e sem privilégio da componente estratégica. Se frente ao Sporting, e por muito que essa estratégia não tenha resultado, se percebeu a intensão de colocar Adrian ao lado de Jackson, desta vez ficou apenas a sensação de que se tratou de mera rotatividade, pela rotatividade...
Uma nota para o jogo do Estoril, que adoptou uma estratégia defensiva essencialmente assente na densidade numérica, com especial nota para a introdução de Esiti, como uma espécie de "joker" defensivo, entre as linhas defensiva e média, com o objectivo de garantir mais presença numérica na zona da bola, sempre e apenas quando esta entrava no último terço. Não foi uma opção brilhante, a de Couceiro, mas é indiscutível que produziu os resultados pretendidos, porque nem o Porto teve muitas ocasiões claras para marcar, nem o Estoril deixou de ter as suas. Mas há outro pormenor a focar aqui e que tem a ver com as exibições individuais dos defensores do Estoril. É que defendendo desta forma, muito baixo e com muita gente, cada jogador fica com uma área muito pouco extensa para controlar, o que facilita de sobremaneira a tarefa individual de cada jogador no seu espaço. Não estou com isto a querer menorizar as exibições individuais dos jogadores do Estoril, mas como tenho defendido parece-me fundamental considerar o contexto nas apreciações individuais...

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6.11.14

Notas da Champions #4

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Benfica - Mónaco
Uma jornada muito importante para o Benfica, abrindo repentinamente as hipóteses de apuramento, quando estas pareciam já muito complicadas. A vitória foi, obviamente, a componente mais importante para esta inversão de cenário, mas também o resultado de São Petersburgo veio ajudar muito as aspirações encarnadas para as duas jornadas finais. Isto, porque existe agora uma forte hipótese do Leverkusen visitar a Luz com o primeiro lugar garantido, na última jornada, o que poderá vir a ser um factor decisivo para um apuramento que se disputará em apenas 2 jogos, qualquer deles muito complicado para as equipas envolvidas. Logo veremos se este cenário se confirma...

Relativamente ao jogo, diria que foi uma vitória feliz do Benfica, uma vez que me parece que no essencial as equipas se equivaleram nos 90 minutos. Aliás, na minha opinião foi inclusivamente no período em que o Mónaco mais se conseguiu impor - segunda parte - que o Benfica conseguiu resgatar os ambicionados 3 pontos. Isto, depois de uma primeira parte onde a equipa de Jardim conseguiu neutralizar relativamente bem o ascendente do Benfica, mas onde fora também muito curta em termos ofensivos. Na segunda parte, porém, as dificuldades do Benfica foram maiores, em parte por mérito do próprio Mónaco que encontrou melhor enquadramento para as suas iniciativas atacantes, nomeadamente explorando a vantagem no duelo entre Ferreira Carrasco com André Almeida, mas também por alguma ansiedade do próprio Benfica que, pela urgência de conseguir um golo, passou a verticalizar muito mais, partindo o jogo e perdendo também alguma presença e qualidade em posse. Se o Benfica levou a melhor neste período, foi sobretudo por um capricho de eficácia. Bem mais positiva, do meu ponto de vista, foi a gestão que a equipa fez do jogo após o golo, não oferecendo qualquer margem de reacção ao Mónaco.

No capítulo individual, uma nota sobre Talisca, sobre quem havia escrito que dificilmente poderia continuar a marcar com a mesma assiduidade por muito tempo. O brasileiro parece determinado em contrariar a minha projecção, e tenho de reconhecer que é de facto um notável executante, que vem crescendo notoriamente em confiança. O problema poderá não ser tão simples como havia formulado, mas mantenho no essencial a minha perspectiva. Ou seja, continua a não me parecer muito provável que Talisca possa perpetuar a veia goleadora (ao ponto de discutir o título de melhor marcador do campeonato, por exemplo, uma vez que não desfruta de um número suficientemente elevado de ocasiões), e continua-me também a parecer um jogador muito mais forte em termos técnicos do que em termos de movimentações sem bola, ficando notoriamente mais confortável nas acções de ataque rápido ou contra ataque, onde o espaço é maior.

Sporting - Schalke 
Tal como para o Benfica, esta foi uma jornada muito importante, tanto por mérito próprio como pelo resultado do outro jogo do grupo, que garante que o Chelsea não possa abordar a visita a Gelsenkirchen sob um cenário de apuramento garantido. Se o Sporting vencer o Maribor - o que não é um dado adquirido, note-se - disputará o apuramento na última jornada e terá cumprido o essencial das expectativas relativamente a esta competição, onde foi vitima de dois episódios atípicos nos minutos finais de duas partidas e que acabaram por condicionar muito as suas aspirações relativamente ao apuramento.

Quanto ao jogo, foi mais um festival de golos entre estas duas equipas, mas devo também assinalar que nestes dois duelos entre Sporting e Schalke, o número de golos tem mais que ver com a elevada eficácia das equipas do que com uma quantidade desproporcionada de ocasiões desfrutadas. Em especial relativamente ao jogo de Gelsenkirschen, já que este teve um número superior de ocasiões para ambos os lados. De facto, e sem pôr aqui em causa o mérito que o Sporting teve na vitória que conseguiu, ficaram mais uma vez patentes as dificuldades de controlo defensivo da equipa. Há vários pontos que no meu entender justificam revisão no comportamento colectivo, mas destacaria o que se passou na etapa final do jogo, em particular após 2-1. O Sporting baixou declaradamente a sua linha média, protegendo-se mais no espaço entre sectores, mas nem por isso deixou de ser sucessivamente exposto pelas ofensivas alemãs, que de forma algo repetitiva foram encontrando espaços no último reduto do Sporting. A jogada que caracterizou este período foi a abertura larga, do meio para as costas dos laterais do Sporting, potenciando depois os espaços dentro da linha defensiva do Sporting - em particular entre lateral e central - com movimentos de jogadores alemães vindos de trás e quase sempre sem controlo por parte da linha média. Foi assim que o Schalke marcou o segundo golo, e foi assim também que potenciou outras situações de cruzamento algo perigosas. Sobre isto, duas notas. A primeira tem a ver com a preparação estratégica do Sporting, já que esta forma de atacar foi tão repetitiva que sugere ser recorrente no jogo do Schalke e, logo, possivelmente deveria ter havido uma resposta específica por parte do Sporting (sublinho que não conheço a equipa ao ponto de poder a afirmar que era, de facto, antecipável, mas ficou toda a ideia de que se tratou de um movimento recorrente, pela frequência com que foi tentado). A segunda tem a ver com a má relação intersectorial do bloco defensivo do Sporting, isto é com a capacidade da linha média reagir quando a bola entra no espaço da última linha, nomeadamente com movimentos de jogadores vindos de trás, e por isso criando superioridade nesse espaço.

A título individual, nota para dois casos. Primeiro, o de Jefferson que tal como já havia escrito me parece realmente uma solução superior a Jonathan. O argentino, e ao contrário do que vi ser sugerido, não me parece garantir maior segurança defensiva do que Jefferson, e não oferece de forma alguma o mesmo potencial de execução técnica do brasileiro. Nomeadamente, ao nível das bolas paradas, isso poderá fazer alguma diferença, não tendo o Sporting outro canhoto com a mesma qualidade de execução. A segunda nota vai para Slimani e para o último golo, que poupou boa parte da aceleração cardíaca que se antecipava para os últimos minutos. Normalmente, os treinadores têm tendência para substituir os avançados, quase que por defeito, em algum período da segunda parte. Marco Silva não o fez, e a meu ver muito bem, já que duvido que Montero tivesse a mesma capacidade para atacar o espaço com aquela profundidade. Montero terá mais qualidade técnica, não discuto, mas não se envolve no jogo com a mesma frequência do argelino, que ganha ainda mais vantagem neste confronto quando o jogo oferece espaços para atacar, como foi o caso dos minutos finais. Já o referi, e volto a sublinhar, Slimani parece-me um valor indiscutível e do qual o Sporting poderá vir a retirar muitos proveitos (desportivos, não me entendam mal), e vejo como uma óptima notícia que Marco Silva também pense da mesma maneira.

Ath Bilbao - Porto
Poderia usar um dos habituais "clichés" para este tipo de exibição, do tipo "equipa adulta" ou "exibição personalizada", mas vou tentar ser mais concreto na minha apreciação ao jogo e à performance da equipa de Lopetegui. Assim, sobretudo, esta foi uma exibição muito conseguida do ponto de vista defensivo, não apenas pelo número reduzido de ocasiões consentidas, mas sobretudo pela escassez com que o Bilbao foi autorizado a ameaçar a última linha portista, num registo semelhante ao que tipicamente se encontra num vulgar jogo no Dragão, para o campeonato (por exemplo, o Nacional foi neste aspecto bem mais ameaçador no Dragão do que o Athletic, em Bilbao). E isto sem que a equipa o tivesse feito através de uma grande presença com bola, o que por um lado é negativo porque obviamente seria melhor que o tivesse conseguido, mas que vem também realçar a qualidade do desempenho defensivo, já que é bem mais complicado neutralizar desta forma um adversário quando não se tem uma grande superioridade em termos de presença em posse. E, com isto faço também um elogio ao treinador, já que se tendo Brahimi ou Jackson se pode pensar sempre em fazer golos, cabe ao treinador garantir que a equipa tenha também a organização para poder capitalizar esse talento individual e não desperdiça-lo com sobressaltos e golos sofridos do outro lado do campo. Assim, e com esta capacidade defensiva, o Porto será sempre uma equipa muito complicada de ultrapassar, seja qual for o adversário.

Menos positiva parece-me ser a exibição do ponto de vista ofensivo, com o Porto também a não conseguir uma grande eloquência da sua posse, isto apesar de ter criado um número considerável de ocasiões, o que não resultou tanto da frequência com que ameaçou o último reduto do Bilbao, como seria desejável, mas mais por um bom aproveitament circunstancial de lances de bola parada e rasgos individuais. A este respeito, nota para a estratégia da equipa, claramente avessa a assumir grandes riscos na sua circulação baixa, e perante um adversário que previsivelmente seria muito agressivo na pressão mais alta. Lopetegui, possivelmente escaldado depois de tantos erros a tentar sair de forma apoiada, preferiu chamar os bascos e depois solicitar a qualidade de Jackson, actuando como "pivot", nas costas dos médios contrários. A equipa deu-se bem e não estou a questionar esta opção perante as dificuldades recentemente verificadas, mas se defensivamente a equipa deu um excelente sinal, parece continuar a haver algum trabalho a realizar no que diz respeito ao jogo interior.

Como notas individuais, realço dois casos. Primeiro, Casemiro. Têm sido frequentes os reparos à agressividade do jogador, mas eu pessoalmente não vejo nenhum problema nisso. Pelo contrário, porque se para quem ataca é muito importante conseguir enquadrar em linhas mais adiantadas, para quem defende é fundamental evitar que isso aconteça e para isso torna-se decisiva a capacidade de imposição dos defesas e médios defensivos nos duelos que travam. Desde que essa agressividade seja usada com critério, será sempre benéfica para as aspirações da equipa, mesmo que custe alguns amarelos ao jogador (se existem 3 substituições, será também para este tipo de situações e não, digo eu, para trocar extremo por extremo ou avançado por avançado!). Ou seja, Casemiro parece-me bastante bem defensivamente, e precisamente pela agressividade e capacidade de intervenção que tem revelado no espaço que se pede que controle. Menos positivo, por outro lado, é o seu contributo para a posse da equipa, parecendo-me um jogador muito inseguro ao nível do passe, e tendo muita dificuldade em jogar dentro do bloco contrário. Ora, isto não vem facilitar em nada a missão de Lopetegui, que provavelmente terá de equacionar cada vez mais a hipótese de baixar Casemiro para a primeira linha, na fase de construção, e trabalhar outras alternativas para a sua saída de bola. O outro caso que gostaria de abordar é do Quintero. O colombiano tinha conquistado a titularidade nos últimos jogos, e tinha a curiosidade de perceber se Lopetegui manteria essa opção para este jogo, o que previsivelmente não aconteceu. Ou seja, Lopetegui parece estar de acordo com a minha perspectiva de que Quintero oferece um potencial enorme ao jogo ofensivo da equipa, mas não terá ainda conseguido integrar essa mais valia ao ponto de lhe fazer confiança em todo e qualquer jogo. Esse continua a ser, na minha opinião, um dos maiores e mais valiosos desafios que o treinador tem pela frente.

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