1.2.12

Gil Vicente - Porto: opinião e estatística

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- A introdução não varia muito daquilo que tantas vezes refiro: depois de vista, a derrota pode parecer uma fatalidade óbvia, mas essa conclusão terá mais a ver com a perspectiva do observador do que com o objecto de observação em si mesmo. O aspecto que me parece mais importante realçar, do ponto de vista do jogo portista, é o mesmo de jogos anteriores, e tem a ver com a dificuldade da equipa em criar situações de maior proximidade com o golo, independentemente do domínio territorial que consegue (ou lhe é concedido, como foi o caso). Isso já acontecera em jogos anteriores, mas desta vez houve dois factores que me parecem ter contribuído especialmente para que tudo se complicasse do ponto de vista do resultado. O primeiro tem a ver com a eficácia, com o Gil a ser perfeito no aproveitamento das situações ofensivas que criou (Helton não fez uma defesa, apesar dos 3 golos sofridos), e o segundo com a reacção da própria equipa, que revelou uma desinspiração generalizada nos seus jogadores (Belluschi e Varela serão as excepções). Creio que a relação entre dois pontos existe e que é de natureza não linear, o que agrava os seus efeitos. A ideia que me fica é que há uma forte potenciação do segundo (a desinspiração) através do primeiro (a eficácia do adversário), sendo que aqui volto ao ponto que realcei sobre o jogo do Benfica, relativamente à tendência de quem vai na frente ser capaz de reagir melhor às adversidades. E se houve desafio em que o Porto falhou em Barcelos, foi na reacção à adversidade (ao contrário do Benfica, na Vila da Feira, coincidentemente).

- Em relação à primeira parte, que é o período que me parece mais interessante de analisar, foi curioso ver como o Porto teve tantas dificuldades em ligar as suas fases ofensivas, sendo que nunca teve dificuldades numa primeira fase do seu jogo ofensivo, mas também praticamente nunca chegou a concluir qualquer das iniciativas iniciadas. Aqui, o papel dos médios ala do Gil revelou-se, surpreendentemente, avassalador para as investidas portistas. Em particular, a tendência do Porto para libertar Álvaro Pereira no corredor foi completamente anulada pela presença de Rodrigo Gallo, no apoio ao lateral. Álvaro Pereira, aliás, é um caso especial. Tem uma acção muito interventiva no jogo ofensivo da equipa e todos reconhecem o potencial das suas características, mas se a sua progressão ao longo do corredor for condicionada, muitas vezes acaba por não ter o contributo mais útil para a equipa. Em situações mais próximas da área, opta várias vezes por forçar o cruzamento em situações desfavoráveis, mas também em fases anteriores do jogo ofensivo se verifica uma tentativa frequente de ligar o jogo de forma mais directa, que poucas vezes tem uma sequência útil. Face a esta disposição do Gil, seria útil ao Porto especular as entradas pelos corredores laterais, aproveitando depois o espaço interior. No entanto, isso raramente aconteceu...

- Este caso do Porto, do contraste entre a sua facilidade em construir e posterior dificuldade em entrar, depois, de forma mais útil no último terço, parece-me realçar de forma evidente a importância de não fazer dos "meios", "fins". E o futebol, enquanto jogo, só tem um fim, que é o golo. Ou seja, podemos identificar certas zonas como zonas de elevado potencial, traçando cada equipa o objectivo de que o seu processo ofensivo possa fazer chegar a bola a essas zonas, e de forma útil - a zona "entrelinhas" ou as zonas próximas do vértice da área, por exemplo. No entanto, mesmo chegando repetidamente a essas zonas, o sucesso do processo ofensivo não fica garantido. É importante a última fase, conseguir criar roturas quando a bola chega "entrelinhas", ou ter uma solução de cruzamento que possa criar, com boa probabilidade, problemas de controlo ao adversário. Esta tem sido, na minha opinião, a principal lacuna do Porto após a alteração de estrutura promovida por Vitor Pereira.

- O Porto, tudo indica, partirá agora para uma nova fase. O peso da derrota, aliada às chegadas de Lucho e Janko deverá implicar algumas mudanças nos rostos que marcarão a próxima fase da equipa. Vitor Pereira começou por optar pela continuidade, mantendo praticamente todas as linhas do modelo do ano anterior. Depois, e particularmente depois da eliminação da taça, tivemos uma outra versão do Porto 2011/12. Não creio que possa haver uma inflexão dessa mudança, até porque Lucho e Janko parecem encaixar nas necessidades da equipa, nesta forma de jogar. Lucho porque é um jogador muito forte na movimentação sem bola e a aparecer nas zonas de finalização, sendo previsível que venha a fazer o papel que Defour ou Belluschi vinham desempenhando. Janko, porque é um jogador especialmente forte no jogo aéreo, algo que parece faltar como complemento aos inúmeros cruzamentos de Álvaro Pereira (ainda que não me pareça que seja apenas um problema de resposta individual no centro da área). Sobram ainda Maicon/Otamendi, outros candidatos previsíveis a sair da equipa base. Seja como for, o campeonato está realisticamente muito complicado para o Porto. Os 5 pontos não são muito se tivermos em conta que há um jogo decisivo, onde o Porto tem a oportunidade de recuperar 3. O problema é que, agora como antes deste jogo, não parece claro que seja mais provável ser o Porto a vencer esse jogo, ou o Benfica a perder mais pontos nos restantes jogos que ainda há por jogar. Pelo contrário, arrisco eu...
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